AS NOÇÕES DE RETEXTUALIZAÇÃO E DIALOGISMO: ONDE UMA TERMINA E A OUTRA COMEÇA?

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AS NOÇÕES DE RETEXTUALIZAÇÃO E DIALOGISMO: ONDE UMA TERMINA E A OUTRA COMEÇA? Maria Lourdilene Vieira Doutoranda em Estudos Linguísticos – UFMG Professora de Língua Portuguesa – UFMA/São Bernardo

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AS NOÇÕES DE RETEXTUALIZAÇÃO E DIALOGISMO: ONDE UMA TERMINA E A

OUTRA COMEÇA?

Maria Lourdilene VieiraDoutoranda em Estudos Linguísticos – UFMG

Professora de Língua Portuguesa – UFMA/São Bernardo

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Retextualizar, o que significa isso?

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• “envolve operações complexas que interferem tanto no código como no sentido”

• “é a refacção ou a reescrita de um texto para outro”

• “um processo de transformação de uma modalidade textual em outra, envolvendo operações específicas de acordo com o

funcionamento da linguagem”

• (Dell’Isola, 2007, p. 36)

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A noção de dialogismo

• Bakhtin/Volochínov (1988)

• Fiorin (2008)

• “Cada enunciado é um elo na corrente complexamente organizada de outros enunciados” (Bakhtin, 2003, p. 272)

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• Notícia:

• Veicula informações novas

X• Informações oriundas de outros textos

(orais e escritos)

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• Ao mesmo tempo que dialoga com

outros textos, retextualiza outros textos

• O problema é:

O que podemos considerar retextualização

propriamente e em que isso se difere do princípio de todo texto ser dialógico

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• Uma série de reflexões surgem acerca do que de fato abranja cada uma das noções: em se tratando de uma, o que estaremos

considerando da outra

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• Primeira consideração:

• Todo texto é dialógico, mas nem todo texto é

retextualizado

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Análise...

• Trouxemos dois textos:

• 1. Depoimento policial• 2. Notícia que informa sobre o conteúdo

do depoimento policial

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• Menor diz em depoimento que ossos de Eliza Samudio foram concretados

• Jovem disse que ouviu goleiro pedir para 'resolverem o problema'. Ele disse ter visto mão de ex-namorada de

Bruno ser jogada a cães.

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Depoimento policial

• Que como já foi dito no primeiro depoimento, o declarante no início do mês de junho, em uma data que o declarante não sabe precisar, foi convidado por um funcionário de seu primo BRUNO DE SOUSA, o qual é goleiro do Flamengo, conhecido pelo apelido de MACARRÃO, que na realidade se chama LUIZ HENRIQUE, para ajudá-lo a levar uma ex-namorada de BRUNO de nome ELIZA para Belo Horizonte; Que MACARRÃO já havia planejado tudo, pedindo ao declarante que ficasse de posse de uma arma escondido no porta-malas do carro que iriam utilizar;

Notícia

• O Jornal Nacional teve acesso com exclusividade ao depoimento que provocou uma reviravolta no caso Bruno. Em quatro folhas, o menor apreendido na terça-feira (6) na casa do goleiro do Flamengo conta sua versão dos fatos. Ele disse que foi convidado por Luiz Henrique Ferreira Romão, o amigo de Bruno conhecido como Macarrão, a levar Eliza Samudio ao sítio do goleiro em Minas Gerais. Macarrão já tinha planejado tudo e mandou o adolescente se esconder no porta-malas do carro.

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Depoimento policial

• Que MACARRÃO tomou direção da praia, e que após alguns minutos do carro em movimento, o declarante que se encontrava na mala do veículo, porém com a tampa aberta, levantou-se e pulou para o banco de trás do veículo com arma em punho, rendendo ELIZA e falando “PERDEU, ELIZA”; Que ELIZA tomou um susto, chegando a dar um tapa na arma sendo que a arma caiu e ELIZA apanhou a arma; Que o declarante anteriormente havia retirado o carregador da pistola, portanto a mesma estava desmuniciada; Que ELIZA, ao pegar a arma, tentou efetuar disparos contra o declarante, porém como já foi dito, a arma estava desmuniciada; Que em ato contínuo o declarante tomou a arma de ELIZA e lhe deu três coronhadas na cabeça;

Notícia

• Já com o carro em movimento, o menor conta que estava na mala do veículo e pulou para o banco de trás com a arma em punho, rendendo Eliza e dizendo: "perdeu Eliza"

• Segundo o adolescente, Eliza conseguiu pegar a arma e atirou contra o menor, mas a arma estava sem munição. O adolescente conseguiu recuperar a arma e deu três coronhadas na cabeça de Eliza.

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Depoimento policial

• Que ao chegar em Minas Gerais, se dirigiram até o sítio de propriedade de seu primo Bruno; Que chegaram na parte da madrugada; Que o declarante dormiu em um quarto sozinho. MACARRÃO dormiu em outro quarto e ELIZA ficou com seu filho em outro quarto; Que neste dia também havia uma empregada doméstica;

Notícia

• O jovem diz que a viagem continuou até o sítio de Bruno. O rapaz dormiu em um quarto. Macarrão em outro. E Eliza, com o filho, dormiu em um terceiro quarto. Havia também uma empregada doméstica.

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Depoimento policial

• Que logo em seguida, NÉNEM pegou ELIZA, amarrou seus braços com uma corda e logo em seguida, deu uma “gravata” em ELIZA, sufocando-a; Que neste momento, NENÉM pediu que o declarante, MACARRÃO e SÉRGIO saíssem do local; Que todos saíram e SÉRGIO estava carregando o filho de ELIZA em seus braços; Que logo depois, NENÉM passou carregando um saco e seguia em direção de um canil; Que neste canil estavam quatro Rotweillers; Que o declarante, MACARRÃO e SÉRGIO viram no momento em que NENÉM retirou a mão de ELIZA e arremessou para dentro do canil;

Notícia

• Vem então a parte mais forte do depoimento: segundo o menor, Neném pegou Eliza, amarrou os braços dela com uma corda e deu uma gravata, sufocando-a. Neném pediu que todos deixassem o local. Sérgio carregava o filho de Eliza.

• Logo depois, segundo o jovem, Neném passou carregando um saco e seguiu em direção a um canil, onde havia quatro rotweillers. O adolescente viu o momento em que Neném retirou a mão de Eliza e arremessou para os cães.

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Depoimento policial

• (...) que presenciou MACARRÃO ligar para NENÉM e perguntar se o mesmo havia ocultado o corpo de ELIZA, que NENÉM respondeu que havia dado pedaços do corpo de ELIZA para os cachorros e o restante dos ossos havia concretado no mesmo terreno onde ELIZA foi morta;

Notícia

• O adolescente disse que os ossos de Eliza foram concretados no mesmo terreno em que ela foi morta. Ele inocentou a mulher de Bruno, Dayane Rodrigues, de participação no assassinato de Eliza.

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Depoimento policial

• Que ao chegar no RJ, não contou nada para BRUNO, mas acredita que MACARRÃO tenha contado tudo para o goleiro BRUNO;

Notícia

• O adolescente disse ainda que não falou com Bruno sobre o que aconteceu com Eliza, mas acredita que Macarrão tenha contado o desfecho do sequestro.

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Trechos do depoimento policial

• Inquirido, Disse:

• Que ciente de suas garantias constitucionais, dentre as quais a de ficar em silêncio, após permanecer na sala com o seu tio, ---, seu representante legal, refletiu sobre o depoimento inicialmente prestado e, na presença deste, deseja esclarecer que está muito arrependido dos fatos e deseja que todo o ocorrido seja esclarecido;

• Que o declarante foi se surpreendendo com os fatos a medida em que os dias se passavam, pois percebeu que determinadas decisões fugiam do seu poder de controle; Que embora estivesse surpreso, participou na medida do que era solicitado por MACARRÃO, SÉRGIO e NENÉM; E nada mais disse.

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• Conclusões???

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Ao tratar de retextualização e de dialogismo...

• Estamos em planos teóricos até certo ponto distintos

• O princípio constitutivo do enunciado - Dialogismo

• Um processo textual – Retextualização

• Ambas abarcam uma série de operações específicas que têm em vista o funcionamento da linguagem

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• Dialogismo: GERAL• Retextualização: ESPECÍFICA

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Obrigada!