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CENTRO UNIVERSITÁRIO IESB
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE BRASÍLIA - IESB
NATÁLIA RAMALHO GREVE
AS INFLEXÕES DA POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA NO
GOVERNO LULA E SUA INFLUÊNCIA NO PROCESSO DE
INTERNACIONALIZAÇÃO DO BANCO DO BRASIL
BRASÍLIA - DF
2012
NATÁLIA RAMALHO GREVE
AS INFLEXÕES DA POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA NO
GOVERNO LULA E SUA INFLUÊNCIA NO PROCESSO DE
INTERNACIONALIZAÇÃO DO BANCO DO BRASIL
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Relações Internacionais do Centro Universitário IESB como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Relações Internacionais. Orientador: Prof. Msc. Ricardo Mendes Pereira
BRASÍLIA - DF
2012
NATÁLIA RAMALHO GREVE
AS INFLEXÕES DA POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA NO GOVERNO LULA E
SUA INFLUÊNCIA NO PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO DO BANCO
DO BRASIL
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Relações Internacionais do Centro Universitário IESB como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Relações Internacionais. Orientador: Prof. Msc. Ricardo Mendes Pereira
Brasília, DF 25 de junho de 2012
Banca Examinadora
_______________________________
Prof. Msc. Ricardo Mendes Pereira
_______________________________
Prof. Dr. Jacques Ibáñez de Novion
______________________________
Prof.Msc. Macleuler Costa Lima
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos familiares e amigos a quem eu deixei de ver em virtude
dele, e que tão carinhosamente entenderam minha ausência.
Dedico também à minha querida Cleidinha, que presenciou a conclusão de muitos
outros trabalhos e fases da minha vida, que já sofreu com minhas neuras e irritações, e que já
me ensinou muito mais do que imagina.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, agradeço aos meus pais, responsáveis por cada sucesso obtido e cada
degrau avançado pro resto da minha vida. Vocês foram exemplo de força e de perseverança e
serão sempre meu maior porto seguro, meu exemplo de vitória. Obrigada por participarem
comigo dessa caminhada, me ajudando a construir os alicerces de um futuro que começa
agora.
Agradeço à Nessa pela companhia, pela ajuda, pelo carinho, pela paciência e pelos
momentos de descontração no meio das horas difíceis. Ao melhor amigo que tive durante esse
ultimo ano, Luis, agradeço o carinho, o incentivo e por acreditar no meu potencial em todos
os momentos.
Agradeço à Tia Nininha, minha madrinha linda, pela grande ajuda bibliográfica e
pelo apoio de sempre.
Aos meus amigos mais que especiais agradeço pelo apoio e a presença, não só nesta
etapa da minha vida acadêmica mas em toda ela.
Agradeço a alguns dos grandes professores que já tive em minha vida, em especial,
por terem influenciado minha formação e meu comportamento acadêmico mais do que
imaginam: Professor Nilton, Professor Norton, Professor J. Messias e Professor Creomar.
Agradeço também em especial ao Professor Ricardo, meu orientador, pelo apoio, pela
compreensão e por aguentar minhas neuras e exageros.
Por fim, agradeço a todos que de alguma forma participaram da produção deste
trabalho.
Toute réussite déguise une abdication
Simone de Beauvoir
RESUMO
O presente trabalho busca analisar o processo de internacionalização do Banco do Brasil à
época do Governo Lula, sob a hipótese do predomínio da vertente política em detrimento da
comercial em sua estratégia de internacionalização. Para tanto, são apresentados modelos e
teorias de internacionalização de empresas e internacionalização bancária, os impactos do
investimento externo direto – tanto para os países de origem das empresas quanto para os
países anfitriões –, um breve histórico do processo de internacionalização do sistema bancário
brasileiro, bem como o histórico da atuação internacional do Banco do Brasil. Por fim, há
exposição de aspectos-chave na política externa do Governo Lula e uma comparação com a
estratégia de internacionalização do Banco do Brasil nesse período. No trabalho, em geral, são
utilizados livros, dissertações e teses, e, na parte analítica, são utilizadas principalmente
notícias de jornais e revistas e relatórios eletrônicos disponíveis. Conclui-se que, embora as
diretrizes do governo não tenham sido as únicas motivações do processo de
internacionalização do Banco do Brasil, elas certamente foram fundamentais para a atuação
internacional do mesmo.
Palavras-chave: Internacionalização. Banco do Brasil. Política Externa Brasileira. Governo
Lula.
ABSTRACT
This paper analyzes the internationalization process of Banco do Brasil at Lula’s government
period under the hypothesis of a predominance of a political dimension instead of a
commercial one in its internationalization strategy. For so, there are stated company’s and
bank’s internationalization models and theories, the impacts of a external direct investment –
as for the companies’ origin countries as for the hostess countries -, a brief historic of the
Brazilian banking system internationalization process, as well as a historic of Banco do
Brasil’s international acting. Lastly, there is an exposition of the key aspects on Lula’s
government external policy and a parallel with Banco do Brasil’s internationalization strategy
at this period. This paper, in general, used books, dissertations and thesis, and in the analytical
part are used, mainly, news, magazines and available electronic reports. The conclusion is that
although the government guidelines haven’t been the only motivation on the process of Banco
do Brasil’s internationalization, they certainly were essential for its international acting.
Key words: Internationalization. Banco do Brasil. Brazilian External Policy. Lula’s
Government.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO...........................................................................................................10
2 A INTERNACIONALIZAÇÃO BANCÁRIA..........................................................13
2.1 TEORIAS DE INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS...................................14
2.2 INTERNACIONALIZAÇÃO BANCÁRIA.................................................................17
2.3 IMPACTOS DO IED FINANCEIRO PARA O PAÍS DE ORIGEM...........................20
2.4 IMPACTOS DO IED FINANCEIRO PARA O PAÍS ANFITRIÃO...........................21
2.5 CONSIDERAÇÕES PARCIAIS...................................................................................22
3 INTERNACIONALIZAÇÃO BANCÁRIA BRASILEIRA E O BB......................24
3.1 A INTERNACIONALIZAÇÃO DO SISTEMA BANCÁRIO BRASILEIRO............25
3.2 O BANCO DO BRASIL E SUA ATUAÇÃO NO EXTERIOR..................................29
3.3 CONSIDERAÇÕES PARCIAIS...................................................................................33
4 A INTERNACIONALIZAÇÃO DO BB NO GOVERNO LULA..........................35
4.1 O ESTADO LOGÍSTICO DE LULA E A ATUAÇÃO DO BB..................................36
4.2 A AMÉRICA DO SUL.................................................................................................43
4.3 O CONTINENTE AFRICANO....................................................................................43
4.4 A ÁSIA..........................................................................................................................44
4.5 EUROPA E AMÉRICA DO NORTE...........................................................................45
4.6 CONSIDERAÇÕES PARCIAIS...................................................................................45
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................47
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................49
10
1 INTRODUÇÃO
O processo de internacionalização diz respeito à forma como as empresas se
organizam internamente ou com outras empresas para aumentarem sua competitividade e
conquistarem mercados externos. Internacionalização é uma das tendências mais
significativas observadas nos últimos anos. A seleção e a implementação das parcerias mais
adequadas são essenciais para este processo.
O governo Lula visou ao desenvolvimento nacional e à inserção comercial do Brasil
para fortalecê-lo no sistema internacional. Durante sua gestão, o processo de
internacionalização de empresas ganhou ênfase e veio como instrumento facilitador da
inserção internacional do Brasil. Para isso, o governo buscou implementar programas de
incentivo às exportações e ao desenvolvimento interno brasileiro, bem como o apoio à
internacionalização. O Banco do Brasil teve um papel importante como parceiro do governo
na realização dessas políticas de incentivo e apoio.
O debate acerca do processo de internacionalização do Banco do Brasil durante o
governo Lula se faz importante no campo das Relações Internacionais pelo fato de as
economias emergentes estarem ganhando um papel cada vez mais ativo no cenário
internacional, e por serem donas de uma porcentagem cada vez maior nos fluxos de
investimento externo direto. Além disso, ao relacionar a internacionalização bancária à
política externa, o tema faz-se atual e peculiar.
Ademais, o tema deste trabalho se justifica porque, apesar da existência de muitos
estudos literários sobre a internacionalização de empresas, de suas motivações e de suas
consequências, a literatura que trata da internacionalização de bancos é ainda incipiente, e a
que trata de internacionalização bancária em países em desenvolvimento é quase inexistente.
O tema também é importante por suscitar discussões, pela possibilidade de gerar estudos
acadêmicos aprofundados e pela contribuição para uma análise da realidade nacional.
A participação acionária do Estado no Banco do Brasil foi diminuída, em 2006, com
sua adesão ao Novo Mercado da Bovespa, que exigia um mínimo de 25% de ações em
circulação. Somado a este fato, evidencia-se que o Banco do Brasil transformou-se em
conglomerado financeiro de modo a competir com bancos privados, o que fortaleceu uma
base de estratégia comercial em sua atuação.
Tendo em vista o exposto, sugere-se como problema o questionamento acerca da
dicotomia existente na atuação do Banco do Brasil pelo seu caráter de sociedade de economia
11
mista. Analisando-se sua atuação internacional, questiona-se se ela ocorre mais pela função
comercial de banco que precisa dar retorno aos seus acionistas ou se ocorre fundamentada em
diretrizes governamentais. Dessa forma, a hipótese que aqui se procura verificar encontra-se
na predominância de seu caráter público sobre seu caráter comercial, em relação à sua atuação
internacional, isto é, a atuação internacional do Banco do Brasil ocorreu, no governo Lula,
essencialmente por diretrizes de política externa e não por motivações comerciais.
Assim, o objetivo geral deste trabalho é apontar como se deu a atuação internacional
do Banco do Brasil, em especial durante o governo Lula, a fim de identificar uma relação
entre a estratégia de internacionalização do Banco e as diretrizes de política externa de Lula.
Para que se atinja esse objetivo se faz necessário o tratamento de alguns objetivos específicos:
expor as teorias sobre a internacionalização bancária; apresentar um histórico da
internacionalização bancária brasileira e, mais especificamente, da atuação internacional do
Banco do Brasil; demonstrar a sinergia existente entre a atuação internacional do Banco do
Brasil e as principais diretrizes de política externa do governo Lula.
Para testar a hipótese apresentada e alcançar os objetivos propostos, o trabalho se
estrutura da seguinte forma: no primeiro capítulo, são apresentados o conceito de
internacionalização, as teorias de internacionalização de empresas, base para os estudos
focados na internacionalização bancária, e os impactos do investimento externo direto, tanto
para o país de origem da empresa quanto para o país anfitrião. Dessa forma, é possível
evidenciar as principais motivações para as estratégias de internacionalização bancária e
diferenciar essas motivações e estratégias de países desenvolvidos e países em
desenvolvimento.
O segundo capítulo trata do histórico do processo de internacionalização do sistema
bancário brasileiro até o fim da década de 1990 – de forma a contextualizar o fenômeno e
apontar suas principais causas – e do histórico da atuação internacional do Banco do Brasil, a
fim de evidenciar a influência das diretrizes governamentais nessa atuação desde seu estágio
inicial. O conteúdo deste capítulo permite comparar o comportamento do Banco do Brasil
com os apresentados nos estudos de internacionalização bancária expostos no primeiro
capítulo.
Por sua vez, o terceiro capítulo versa sobre os aspectos-chave da política externa do
governo Lula e sobre a estratégia de internacionalização do Banco do Brasil durante esse
período. O embasamento deste capítulo é feito por notícias e documentos eletrônicos, como
relatórios do próprio Banco e do Ministério de Relações Exteriores. Neste capítulo
transparece a importância do Banco do Brasil como parceiro do governo no suporte ao
12
desenvolvimento e à estabilidade financeira, bem como na promoção das relações comerciais
brasileiras. Ainda, o capítulo apresenta a convergência entre os principais eixos de política
externa do governo Lula e a atuação internacional do Banco do Brasil no período. Assim, é
possível confirmar uma sinergia entre os dois.
13
2 A INTERNACIONALIZAÇÃO BANCÁRIA
As perspectivas teóricas a respeito da internacionalização de empresas e as visões
sobre como essas empresas operam e se comportam em mercados externos existem há mais
de 40 anos. No entanto, a internacionalização tem sua origem ainda mais antiga, de forma que
as discussões existentes sobre o conceito se pautam em modelos empíricos, costumadamente
de empresas oriundas de países desenvolvidos. Contudo, o fenômeno da internacionalização
vem se tornando cada vez mais relevante, dada a crescente integração econômica mundial,
que traz consigo o acirramento da concorrência entre as empresas. Estas, para não ter sua
sobrevivência ameaçada, precisam sempre procurar novas formas de se impor no mercado
internacional. Por esse motivo, a internacionalização de empresas tem sido um tema comum
nas atuais discussões sobre negócios internacionais. Todavia, as discussões sobre
internacionalização em empresas dos países em desenvolvimento, e em especial sobre a
internacionalização bancária desses países, ainda são muito incipientes.
As definições do conceito de internacionalização, ainda que variem a ênfase de
acordo com o autor ou com o caso a ser estudado, em geral convergem e têm como base a
adaptação da estratégia de uma empresa para se integrar ao mercado internacional e aumentar
sua capacidade competitiva. Em um termo de referência lançado em 2009 pela Câmara de
Comércio Exterior e pela Secretaria de Comércio Exterior, foi definida a internacionalização
da produção como “[...] quando residentes de determinado país obtêm acesso a bens e
serviços com origem em outro.”1 Para Mayor Filho, a internacionalização está dentro do
processo estratégico da empresa ou é consequência do processo estratégico, mas não é em si
toda a estratégia. Calof e Beamish definem o fenômeno como a adaptação de todas as
operações dentro da empresa ao ambiente internacional. Numa análise mais abrangente, a
internacionalização pode ser classificada, segundo Cyrino e Penido, como “a expansão da
empresa além das fronteiras do país de origem.”2
Conhecer a essência do conceito se torna a chave para entender as teorias a respeito
do fenômeno da internacionalização, suas causas, suas consequências e os modos de entrada
das empresas no mercado internacional.
1 CAMEX – Câmara de Comércio Exterior. Termo de referência: internacionalização de empresas brasileiras. 2009. p. 7 Disponível em <www.mdic.gov.br/arquivos/dwnl_1260377495.pdf> Acesso em 29 fev. 2012 2 MACHADO, Fernanda Nedwed. Estratégias de internacionalização e seus resultados: um caso sul rio-grandense. 2009. p. 17-19. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Administração: Escola de Administração, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2009.
14
O presente capítulo expõe as principais teorias de internacionalização de empresas,
base para os posteriores estudos focados especificamente na internacionalização bancária, e
traz os principais impactos do investimento externo direto para o país de origem da empresa e
para o país anfitrião.
2.1 Teorias de internacionalização de empresas
Por ter variações em seu conceito, o fenômeno da internacionalização é analisado e
interpretado por teorias diversas e com abordagens diferentes. As teorias tradicionais a esse
respeito são divididas de acordo com o enfoque e são consideradas econômicas ou
comportamentais. A corrente econômica tem como trabalhos principais a Teoria do Poder de
Mercado, de Hymer, a Teoria da Internalização, de Buckley e Casson, e o Paradigma Eclético
da Produção Internacional, de Dunning. Na corrente comportamental destacam-se as análises
do Modelo de Uppsala, a Perspectiva de Networks e o Empreendedorismo Internacional,
desenvolvidos pela Escola Nórdica.
Segundo a Teoria do Poder de Mercado, uma empresa busca lucros, aumento do
poder de mercado e de sua concentração industrial por meio do processo de fusões e
aquisições dentro do próprio mercado de origem. Dessa forma, o mercado interno fica
enxugado, existindo uma quantidade bem menor de empresas do que a inicial, e tornando
difícil qualquer nova extensão de capacidade das empresas que sobraram. A solução tomada
pelas empresas, então, é a de investir o lucro ganho no mercado externo, buscando aumentar
ainda mais sua concentração.3
É importante destacar uma distinção entre investimento de portfólio e investimento
externo direto, também apontada por Hymer em seu trabalho. Sendo o fluxo de investimento
externo direto o principal instrumento das estratégias de internacionalização das empresas, se
faz necessário apontar as diferenças conceituais entre os dois fenômenos: um guiado por
questões produtivas e o outro guiado por questões financeiras.4 O contraste principal entre os
dois conceitos se mostra no grau de controle que o investidor pretende ter sobre a empresa na
qual investirá. Se o investidor desejar ter influência na administração da empresa, seu
investimento será o direto. Se o investimento desejado é apenas de aporte de capital na
empresa, sem participações na administração da empresa, será considerado de portfólio.
3 Ibidem, p. 23
4 SCHERER, André Luís Forti. As raízes financeiras do investimento direto estrangeiro: notas sobre a experiência brasileira recente. Revista Ensaios FEE, Porto Alegre, v.20, n. 2, p. 81-128, 1999
15
Para o país receptor, o IDE representa uma modificação durável em sua estrutura de oferta de bens e serviços, alterando as condições internas de concorrência, com implicações sobre a absorção de tecnologia e sobre a estrutura da balança comercial (tanto quantitativa quanto qualitativamente). 5
O investimento de portfólio encontra sua base nas taxas de juros, considerando a
preferência dos investidores pelos locais em que os retornos sejam maiores. Portanto, para se
analisar o processo de internacionalização, há que se considerar o investimento externo direto,
e não o de portfólio.
Complementar à Teoria do Poder de Mercado, a Teoria da Internalização argumenta
que, quando os custos de se aplicar no mercado externo forem menores do que os respectivos
custos para o mercado doméstico, passa a ser vantajoso para as empresas internalizarem suas
atividades em outro país, utilizando o investimento direto. Para os defensores dessa teoria, o
padrão de crescimento da firma se inicia pela exportação, passando pelos licenciamentos –
aqui quando a tecnologia de produção não é uma vantagem competitiva, ou quando a proteção
das vantagens deixa de ser muito relevante – para enfim chegar ao investimento direto.6
O Paradigma Eclético da Produção Internacional, segundo o próprio autor, não chega
a ser uma teoria, mas permite a análise da produção internacional. O argumento apresentado é
de que uma empresa, para ser capaz de competir no mercado internacional, deve possuir
alguma vantagem diferencial sobre seus concorrentes.7 O padrão da produção internacional é,
então, determinado pelo conjunto de três vantagens, ou benefícios econômicos: a vantagem de
propriedade (posse de um ativo específico como alta tecnologia), a vantagem de localização
(localização de recursos ou mercados afetam custos e a exploração da vantagem de
propriedade) e a vantagem de internalização (a internalização torna-se útil para um melhor
uso da vantagem de propriedade).8 Dunning identifica ainda as motivações econômicas
básicas para a expansão da atividade de uma empresa para o mercado internacional:
“(i) a busca por novos mercados (market seeking); (ii) a busca por novas fontes de recursos (resource seeking); (iii) a ênfase na eficiência dos mercados globais (efficiency seeking); e (iv) a busca de ativos estratégicos (strategic asset seeking). As
5 Ibidem, p. 101
6 HEMAIS, Carlos A,; HILAL, Adriana. Teorias, paradigma e tendências em negócios internacionais: de Hymer ao Empreendedorismo. p. 25. In: HEMAIS, Carlos A. (org). O desafio dos mercados externos: teoria e prática na internacionalização da firma. 7 Ibidem, p. 26
8 OLIVEIRA, João Batista Morais. Internalização e Internacionalização: Estudo de casos múltiplos. 2008. p. 19-20. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração e Economia: Faculdade de Economia e Finanças Ibmec, Rio de Janeiro, 2008.
16
duas primeiras são motivos para iniciar o processo de internacionalização. As duas últimas são maneiras de gerir os mercados, os riscos e os ativos internacionais..”9
Tratando a internacionalização sob a ótica comportamental, o Modelo de Uppsala
traz a ideia de um processo gradual ou sequencial na dinâmica de internacionalização de uma
empresa. Para o Modelo, o principal obstáculo à internacionalização é a falta de
conhecimento. Uma empresa que tenha seu mercado interno saturado e que busque solução na
internacionalização tende a se expandir para países semelhantes ao de sua origem, que tem um
grau de incerteza menor. O grau de incerteza, ou distância psíquica, corresponde a fatores que
dificultam o aprendizado sobre mercados externos e operações. Assim, quanto maior for a
distância psíquica, mais a estratégia da empresa terá que ser adaptada. A firma, quando
conseguisse conhecimento suficiente em países semelhantes, passaria gradativamente a lidar
com países pouco semelhantes, países nem semelhantes nem diferentes, um pouco diferentes,
e diferentes.10
A Perspectiva de Networks (redes de relacionamento) afirma que o processo de
internacionalização, além de ser intraorganizacional, é também interorganizacional. Essa
teoria considera o relacionamento formado entre atores que se envolvem em relações de
negócios. As empresas se utilizam de suas redes de relacionamento para aprender novas
técnicas, melhorar suas posições estratégicas e facilitar o acesso a recursos. A perspectiva
sugere que o processo de internacionalização de uma empresa influencia e é influenciado pelo
desenvolvimento da rede em que ela se encontra. Por exemplo, uma empresa com o grau de
internacionalização baixo numa rede com grau de internacionalização alto é considerada
atrasada, ao passo em que uma empresa com grau de internacionalização alto numa rede com
grau de internacionalização baixo é considerada solitária. O processo de internacionalização
depende da capacidade empresarial de organizar suas atividades dentro da rede de
relacionamento em que já está inserida e da capacidade de se inserir ou formar novas redes de
relacionamento.11
A perspectiva do Empreendedorismo Internacional, por considerar que o fenômeno
da internacionalização deveria levar em consideração outros fatores, inclui a figura do
empreendedor, que é o responsável pela busca de novos mercados e pela estratégia de
9 TANURE; CYRINO; PENIDO, 2007 apud MACHADO, op. cit., p. 24-25.
10 AMAL, Mohammed; FREITAG, Alexandre Rocha; MIRANDA, Cristina Maria Schmitt. Algumas evidências
sobre o papel das redes de relacionamento e empreendedorismo na internacionalização das pequenas e médias empresas. Revista de Administração Faces Journal, Minas Gerais, v. 7, p. 63-80, jan./mar. 2008. p. 66. Disponível em: <http://redalyc.uaemex.mx/src/inicio/ArtPdfRed.jsp?iCve=194016882005>. Acesso em 03 mai 2012 11
Idem, p. 66-67
17
internacionalização de uma empresa. A teoria defende que o indivíduo é fator fundamental na
análise sobre internacionalização, seja no processo da escolha de um novo mercado, seja na
determinação do modo de entrada nesse mercado.12
As teorias a respeito de internacionalização tiveram sua origem no estudo de
empresas industriais, pelo fato de setores como o de automóveis já terem sua presença
bastante elevada e evidente no mercado internacional. O setor de serviços tem em sua
internacionalização uma abrangência menor e tem características únicas – como sua
intangibilidade e o fato de a produção e o consumo serem simultâneos – que dificultam a
extensão das teorias a esse setor, que inclui a indústria bancária.13
2.2 Internacionalização Bancária
Estudos sobre investimento externo direto bancário indicam a existência de três
ondas de internacionalização bancária: a primeira data do século XIX, nos anos 1830; a
segunda, dos anos 1960; e a terceira, dos anos 1990. A primeira onda foi liderada inicialmente
por bancos britânicos, aos quais se uniram posteriormente outros bancos europeus. O
relacionamento imperial foi o fator impulsionador da primeira onda: os bancos europeus
aumentaram suas redes de agências para os territórios coloniais. A segunda onda foi liderada
por bancos dos Estados Unidos, embora anos depois a participação de bancos japoneses no
mercado externo tenha se elevado. Os bancos estabeleceram filiais em centros financeiros
internacionais, desde o nascimento do mercado de euro-dólares em 1950 até o crescimento do
mercado de dólar asiático, em 1970. Os bancos dos Estados Unidos estabeleceram-se no
Oeste Europeu, ao passo em que bancos europeus e japoneses investiram nos Estados Unidos.
A terceira onda, por sua vez, foi liderada por bancos europeus, especialmente espanhóis. Os
bancos expandiram sua rede de agências para o sul da Ásia, para a própria Europa central e
oriental e, principalmente, para a América Latina.14
Os estudos iniciais a respeito da internacionalização bancária são das décadas de
1970 e 1980. Antes desses trabalhos, os bancos eram comparados a empresas multinacionais
não financeiras, sem que fosse feita uma distinção. No entanto, os bancos encaram uma
regulamentação e uma supervisão mais rígida, por causa dos riscos que o setor pode vir a 12
HEMAIS; HILAL, op. cit., p. 32 13
ALEXANDRE, Paulo Manuel Monteiro. Contribuição para o estudo das motivações e estratégias de actuação da banca espanhola de média dimensão em Portugal. 2004. p. 19. Dissertação (Mestrado) – Instituto Superior de Economia e Gestão, Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa, 2004. 14
PAULA, Luis Fernando de. Banking Internationalisation and the expansion strategies of European Banks to Brazil during the 1990s. Société Universitaire Européene de Recherchers Financières, Viena, 2002, p. 9.
18
enfrentar e dos efeitos que pode gerar no sistema financeiro.15 Os primeiros trabalhos que
fazem essa diferenciação associam a internacionalização bancária diretamente ao
investimento estrangeiro direto (IED), argumentando que o desenvolvimento da
internacionalização bancária se dá com o aumento dos investimentos no exterior.16
Os primeiros teóricos afirmavam que os bancos se internacionalizam para seguir seus
clientes, como as empresas multinacionais, e que encontram nessa prestação de serviços uma
vantagem comparativa em relação a outros bancos, por já possuir informações necessárias
para a concessão de crédito àquelas empresas. Esse comportamento é visto como defensivo,
para assegurar a continuação do relacionamento existente - com a matriz no país de origem –
com as subsidiárias no exterior.17 Ainda como motivos tem-se a diversificação dos riscos e a
oportunidade de obtenção de crédito mais barato.18 Assim, uma das principais motivações
apontadas pelos teóricos para a internacionalização bancária é seguir os clientes. No entanto,
O padrão da participação bancária internacional acompanhou o da integração econômica entre os países: os bancos estenderam suas atividades ao mercado internacional para prestar serviços a clientes de seu país de origem em transações internacionais; depois, com uma compreensão maior do mercado externo (principalmente dos aspectos regulatórios e institucionais) e uma rede mais desenvolvida de relacionamento com instituições financeiras locais, alguns bancos foram induzidos a aumentar o alcance de suas operações e fornecer serviços também para a população local. Embora essa explicação seja relativamente correta (...) hoje o padrão real da internacionalização bancária depende de uma gama mais ampla de fatores do que apenas o grau de integração econômica entre os países.19
Com a flexibilização ou, em alguns casos, a abolição de restrições à entrada de
bancos estrangeiros nos mercados locais de países desenvolvidos e em desenvolvimento,
houve o surgimento de uma nova onda de internacionalização bancária. Assim, os bancos
buscam uma maior integração com o mercado do país hospedeiro e da ampliação de suas
atividades, principalmente por meio de fusões e aquisições.20
Os atuais trabalhos destacam como causa principal da internacionalização bancária a
concorrência no mercado doméstico. A maior parte das instituições financeiras se encontra em 15
ROCHA apud TELES, Andrea Sequeira. Banking Internationalization in Latin America: The Brazilian case, 1997-2007 a panel analysis. 2011. p. 13. Dissertação (Mestrado) – Instituto Superior de Economia e Gestão, Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa, 2011. 16
GELEILATE, José Mauricio Galli. O processo de internacionalização dos bancos brasileiros: motivações e estratégias. 2011. p. 34. Dissertação (Mestrado) – Fundação Edson Queiroz, Universidade de Fortaleza, Fortaleza, 2011. 17
PAULA, op.cit., p. 11. 18
GRUBEL apud GELEILATE, op. cit., p. 36. 19
FOCARELLI; POZZOLO apud PAULA, op. cit., p. 12. (tradução nossa). 20
PAULA, op. cit., p. 12-13.
19
países com economias maduras e, portanto, encaram um baixo potencial de crescimento.
Dessa forma, alguns bancos, para aumentar seu poder competitivo, procuram diversificação
em mercados que ofereçam um possível grau de crescimento maior ou maiores taxas de
juros.21
Estudos a respeito do desempenho de bancos no mercado externo consideraram a
eficiência de instituições estrangeiras e domésticas em um mercado, para então compará-las.
Foi evidenciado que apenas bancos oriundos de países mais desenvolvidos, com um mercado
eficiente e um setor bancário rentável são os que têm vantagem sobre bancos locais, e são os
mais propensos a desenvolver suas atividades no exterior. É destacada, portanto, a
importância das oportunidades inerentes ao mercado no país alvo – maior taxa esperada de
crescimento econômico, ambiente econômico estável e ineficiência de bancos locais – como
pontos críticos para a decisão da estratégia de internacionalização bancária.22
A literatura atual identifica dois aspectos motivacionais como os principais
relacionados à internacionalização: a busca por ativos e a busca por mercados. O primeiro é
caracterizado como a busca de recursos no mercado externo que a empresa não possui, como
tecnologia, marca e know-how. O segundo se define como a motivação para buscar novas
oportunidades de mercado com base nas vantagens competitivas locais da empresa. Os bancos
de países emergentes têm presença internacional menor do que os de países em
desenvolvimento avançado, e sua motivação prioritária é a busca por ativos. Esses bancos em
geral seguem seus clientes no mercado externo e suas entradas se dão com menor
comprometimento devido a suas baixas capacidades. Bancos de países em desenvolvimento
avançado e de países desenvolvidos, por causa da saturação do mercado interno, procuram
conseguir novos mercados, e utilizam como forma de entrada as fusões e aquisições, para
superar possíveis desvantagens.23
Os bancos de países desenvolvidos possuem vantagem competitiva por combinarem
novos empreendimentos estrangeiros à sua rede de relacionamento. Essa vantagem se dá pela
capacidade de atualização constante de know-how e de transferência de capacidades dentro da
rede de relacionamentos. Dessa forma, é possível melhorar a customização, o
desenvolvimento de novos produtos e a gestão do risco. Bancos de países em
desenvolvimento não possuem esse tipo de vantagem por falta de operações internacionais
mais ambiciosas, de forma que a eles é possível aplicar o Modelo de Uppsala: os bancos 21
Ibidem, p. 13. 22
BERGER ET. AL e FOCARELLI; POZZOLO, apud PAULA, op. cit., p. 14. 23
PETROU, Andreas. Internationalization Strategies of Banks from Emerging Countries: A Comparative Study. Cyprus International Institute of Management. p. 6.
20
entram no mercado estrangeiro com menor comprometimento, apenas para garantir seus
clientes e obter acesso a know-how e legitimidade perante o sistema internacional.24
A respeito da escolha do mercado de entrada, a literatura sugere novamente
diferenciações entre bancos de países emergentes, países em desenvolvimento avançado e
países desenvolvidos. Seguindo o Modelo de Uppsala, as empresas de países emergentes
escolhem como mercados de entrada países com uma distância psíquica menor, geralmente os
países vizinhos. Por terem como motivação seguir seus clientes, os bancos de mercados
emergentes possuem também essa característica.25
Empresas de países em desenvolvimento avançado procuram competir com empresas
internacionais maiores e, portanto, buscam clientes em mercados mais avançados. Sua
estratégia de internacionalização é focada em países que provavelmente não se encontram em
uma região geográfica próxima. Já bancos de países desenvolvidos, por procurarem mercados
que ofereçam mais oportunidades de exploração de suas vantagens competitivas, costumam
focar sua estratégia em países em desenvolvimento.26
A internacionalização bancária gera impactos tanto no país de origem da empresa a
se internacionalizar quanto no país anfitrião. Para este estudo é importante avaliar esses
impactos nas duas perspectivas, tendo como foco, porém, países emergentes.
2.3 Impactos do investimento externo direto financeiro na perspectiva do
país de origem
Os efeitos do IED sobre a economia do país de origem são classificados em três
grupos: financeiro, de produção e emprego, e estrutural. Os efeitos financeiros dizem respeito
à possibilidade de o investimento no exterior substituir o investimento doméstico. Se o custo
de capital de uma empresa não for constante, projetos domésticos e internacionais competirão
pelo uso de fundos baratos e escassos gerados internamente. Os bancos internacionais
possuem grandes possibilidades de financiamento, inclusive no país anfitrião, que podem
24
Ibidem, p. 10. 25
Ibidem, p. 13 26
Ibidem, p. 15.
21
limitar os impactos de sua expansão em termos financeiros no país de origem. Essa situação
pode mudar no caso de crise no país anfitrião que tenha importância sistêmica para o banco.27
Sobre a produção, os efeitos podem se dar na distribuição geográfica de atividades
produtivas e de emprego. No caso de empresas não financeiras, analisa-se a relação entre
exportação e produção estrangeira, e a possível substituição de uma pela outra. No caso de
empresas financeiras, são comparados os empréstimos transfronteiriços e a atividade local
num país estrangeiro. Essa relação é fraca, especialmente para bancos de varejo. Em relação
ao emprego, é analisada a potencial redução de emprego doméstico devido a expansões para
países de baixos salários. Não há evidências do impacto do IED financeiro sobre o emprego
no país de origem.28
Afetando a estrutura econômica, o investimento externo direto pode afetar a
composição das exportações, ainda que não haja substituição, e alterar a procura e demanda
de emprego no país de origem. Bancos que operam no exterior terão que aumentar a
participação de mão de obra qualificada, porque são estes os enviados para filiais no exterior.
No entanto, esse efeito pode ser modesto, principalmente em casos que os bancos a se
internacionalizar adquirem bancos já existentes e mantêm a gestão local. Os efeitos do IED
nos países de origem, portanto, de uma forma geral costumam ser fracos.29
2.4 Impactos do investimento externo direto financeiro na perspectiva do
país anfitrião
A entrada de bancos estrangeiros costuma trazer benefícios para o sistema financeiro
e a economia dos países hospedeiros. Há ganhos de eficiência por causa de novas tecnologias,
produtos e técnicas de gestão trazidos. Além disso, há aumento na competição por causa dos
novos bancos. Esses bancos trazem também novo capital e a supervisão de suas autoridades
do país de origem. No entanto, autoridades reguladoras no país anfitrião podem ser
prejudicadas pela complexidade associada à supervisão de instituições financeiras muito
27
HERRERO, Alicia García; SIMÓN, Daniel Navia. Determinants and impact of financial sector FDI to emerging economies: a home country’s perspective. Documento Ocasional n. 0308. Banco de España, Madrid: 2003. p. 22. 28
Ibidem, p. 22-23. 29
Ibidem, p. 23-24.
22
grandes e complexas, e pela possível dificuldade de coordenação com órgãos homólogos
localizados no país de origem ou em outros países anfitriões.30
A presença de bancos estrangeiros pode promover a eficiência e o desenvolvimento
do mercado financeiro doméstico aumentando o número de produtos disponíveis para os
clientes, por meio de tecnologias e know-how importados. Outro ponto analisado se dá pelo
fato de os acontecimentos em um mercado afetarem rapidamente outros. As subsidiárias de
um banco estrangeiro podem ser fonte de estabilidade, por serem partes de entidades
globalmente diversificadas, ou de contágio, por servirem como mecanismos de transmissão
das políticas adotadas pelos acionistas como resposta a choques ocorridos no país de origem
ou em outros lugares onde têm investimentos.31
É possível ainda que haja estabilidade da base de depósitos, com os depositantes
nacionais se voltando para serviços de maior qualidade. No entanto, quando a propriedade de
um sistema bancário pertence em sua maioria a somente um país estrangeiro, um choque
nesse país pode se lançar sobre a economia do país anfitrião. Porém, se o IED for proveniente
de diversos países, o resultado será um sistema bancário com benefícios correspondentes aos
da diversificação de risco. Além disso, decisões estratégicas tomadas pelos bancos
estrangeiros podem ter consequências graves na economia do país anfitrião. 32
2.5 Considerações Parciais
Para fins deste trabalho, será considerado o critério de extensão quantitativa da rede
externa adotado pelo Centro de Corporação Transnacional das Nações Unidas33, que classifica
como banco internacional aquele que capta depósitos e concede empréstimos – por intermédio
de filiais ou subsidiárias de controle majoritário ou integral – em cinco ou mais países ou
territórios.
Ainda que as teorias a respeito da internacionalização não tenham considerado o
setor bancário separadamente e tenham se focado no estudo de empresas industriais, é
possível encaixar a teoria de internacionalização bancária dentro das tradicionais: no
30
CÁRDENAS, Juan; GRAF, Juan Pablo; O’DOGHERTY, Pascual. Foreign banks entry in emerging market economies: a host country perspective. Committee on the Global Financial System: 2003. p. 2-3. 31
Ibidem, p. 4. 32
Ibidem, p. 6-7. 33 CTC, 1981 apud FREITAS, Maria Cristina Penido. A internacionalização do sistema bancário brasileiro. Texto para discussão 1566, IPEA. Brasília: 2011, p.12
23
Paradigma Eclético de Dunning, na corrente econômica; e no Modelo de Uppsala, na corrente
comportamental.
Assim, tem-se que a opção estratégica de internacionalização de um banco se dá
principalmente por causa da concorrência no mercado doméstico e para seguir clientes que
aumentem sua rede de atuação para o meio internacional. Há ainda outros dois aspectos
motivacionais – a busca por ativos e a busca por mercados –, pelos quais é possível
diferenciar estratégias de internacionalização de bancos de países desenvolvidos e de países
em desenvolvimento.
Bancos de países emergentes encontram na busca por ativos sua motivação
prioritária e suas entradas em outros países se dão com baixo nível de comprometimento.
Bancos de países em desenvolvimento avançado e de países desenvolvidos costumam
procurar novos mercados e suas entradas têm um nível maior de comprometimento, pois
geralmente se dão por meio de fusões e aquisições.
24
3 A INTERNACIONALIZAÇÃO BANCÁRIA BRASILEIRA E O
BANCO DO BRASIL
A estratégia de internacionalização tem sido amplamente difundida nas diretrizes de
modernização e desenvolvimento bancários. O primeiro modelo de internacionalização
bancária, no entanto, tem origem na época colonial: bancos europeus, em sua maioria
britânicos, instalaram agências em suas colônias para receber as contribuições dos
colonizadores e promover o desenvolvimento local. No início do século XX já havia mais de
2.000 bancos espalhados mundialmente.34
No caso brasileiro, a consolidação do sistema bancário ocorreu nos primeiros trinta
anos do século passado, com a instalação de bancos estrangeiros e a ampliação do número de
bancos e casas bancárias.35 O setor bancário privado do Rio de Janeiro e de São Paulo era
dominado por bancos estrangeiros, atraídos pela expansão da economia cafeeira e pelo
aumento das exportações do café brasileiro. Em 1912, os bancos estrangeiros eram
responsáveis por 35% do total de depósitos no Brasil, perdendo apenas para o Banco do
Brasil. Esse fato se justifica por três motivos: o número de imigrantes no país era muito
grande, os brasileiros estavam encontrando seu lugar no comércio exterior com as exportações
de café, e os próprios brasileiros tinham mais confiança em bancos estrangeiros do que nos
nacionais, que ainda eram novos e pequenos.36 Esse quadro começou a se reverter com a
reforma bancária de 1921, que trouxe uma série de regulamentações e restrições à entrada de
bancos estrangeiros no país. Segundo Yttrio da Costa Neto,
a fim de receber autorização para operar no Brasil, um banco estrangeiro era obrigado a capitalizar um montante mínimo de 9.000 contos de réis e não podia iniciar sua operação até que 50% de seu capital fosse depositado no BB ou no Tesouro. Adicionalmente, a instituição teria que iniciar suas atividades dentro de um ano a partir da autorização e realizar 2/3 de seu capital dentro de dois anos.37
34 SLAGER, Alfred. Internationalization of Banks: strategic patterns and performance. The European Money and Finance Forum. Vienna, 2005, p. 23. 35 LOPES, C. F.; CARVALHO, R. A. A. Diálogos culturais no Banco do Brasil/Regional MG: uma abordagem psicossociológica. Biblioteca Digital: UFMG, 2006. Disponível em: <www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/1843/VCSA-6W9R9C/2/cultura_organizacional_e_trabalho_caso_bbrasil.pdf>. Acesso 10 mar 2012. 36 COSTA NETO, Yttrio Corrêa da. Bancos Oficiais do Brasil: origem e aspectos de seu desenvolvimento. Brasília: Banco Central do Brasil, 2004, p.31. Disponível em: <www.bcb.gov.br/?BANOFIC>. Acesso em 27 mar 2012 37 Ibidem, p. 47.
25
A crise de 1929 foi o fator determinante para a diminuição da participação de capital
estrangeiro no sistema bancário nacional. A partir daí, surgiram políticas de nacionalização de
bancos estrangeiros e uma atuação que pretendia defender o setor bancário da presença desses
bancos.
Essa contextualização favorece o entendimento tanto da posterior abertura do setor
bancário brasileiro ao capital estrangeiro quanto do processo de internacionalização bancária
que se deu nos anos 1990 e, em mais peso, na virada do século.
Este capítulo apresenta um histórico do processo de internacionalização do sistema
bancário brasileiro até o fim da década de 1990, de forma a contextualizar o fenômeno e
apontar suas principais causas e, posteriormente, o histórico da atuação internacional do
Banco do Brasil.
3.1 A internacionalização do sistema bancário brasileiro
Do fim da Segunda Guerra Mundial até a década de 1960, os bancos internacionais
passaram a gozar de livre acesso ao sistema bancário nacional, em razão de a Constituição de
1946 ter se omitido em relação à nacionalização de bancos estrangeiros e à distinção entre
estrangeiros e nacionais. No entanto, a Lei de Capitais Estrangeiros de 1962 e a reforma
financeira de 1964-67 restringiram a participação do capital bancário estrangeiro no Brasil por
meio do princípio da reciprocidade, que autorizava somente a entrada de bancos cujos países
autorizassem também o ingresso de bancos brasileiros em seu setor bancário, e pela distinção
entre os capitais bancários doméstico e externo, exigindo um decreto do Poder Executivo para
a instalação de um banco estrangeiro e somente uma autorização do Banco Central para a
criação de um banco brasileiro.38 Nessa época houve também a Reforma Campos-Bulhões,
promovida pelo governo militar, que impulsionou a especialização do sistema bancário em
setores, em que cada instituição praticava um número restrito de operações, baseado no
modelo norte-americano fordista de divisão do sistema financeiro.39
A reversão do acordo de Bretton Woods na década de 1970 iniciou um movimento
de desregulamentação financeira mundial, seguindo o raciocínio de que o estabelecimento de
um mercado financeiro livre permitiria maior eficiência e menor risco. Essa condição, somada
38 ROCHA, Fernando Alberto Sampaio. Desnacionalização Bancária no Brasil (1997-2000). 2002. p. 15. Dissertação (Mestrado) – Instituto de Economia, Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, Campinas, 2002. 39
SANTOS, Elson Rodrigo de Souza. Internacionalização dos bancos estatais brasileiros: legado do Governo Lula: 2003-2010. 2011. p. 44. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Econoômico, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2011.
26
aos avanços tecnológicos, integrou ainda mais o sistema bancário mundial.40A partir daí, o
número de bancos no mercado financeiro brasileiro cresceu, o que aumentou a concorrência.
Como consequência, novamente foram tomadas decisões a fim de estabelecer limites para a
participação estrangeira em instituições e no sistema financeiro brasileiro. Para diminuir o
excedente bancário, o governo passou a induzir as fusões, incorporações e aquisições
bancárias. Os limites ao capital estrangeiro vieram para manter o sistema bancário sob
controle. Embora houvesse essas decisões restritivas, a aplicação do princípio da
reciprocidade permitiu autorizações específicas, e a presença de bancos estrangeiros passou a
crescer.41 O princípio também foi o que permitiu a expansão internacional de alguns bancos
brasileiros, como o Banco do Brasil, o Banco Real e o Banespa.42
Nessa época, os bancos brasileiros moldaram suas estratégias “(...) não mais para
financiar a expansão produtiva, mas para refinanciar a crescente dívida externa”.43 As
instituições bancárias brasileiras seguiram a tendência global de atração para a expansão
internacional em paraísos fiscais.44
A crise mundial da década de 1980 interrompeu o ciclo de crescimento da economia
do país e instalou um processo de estagflação.45 Depois da promulgação da Constituição de
1988, a configuração do Sistema Financeiro Nacional sofreu mudanças: o traçado de um
sistema especializado em setores da época militar passou a contar com instituições que
poderiam oferecer todos os serviços financeiros – os bancos múltiplos.46 A Constituição
também proibiu o aumento do percentual de participação de capital estrangeiro em
instituições bancárias brasileiras, salvo se fosse por interesse nacional, em razão do princípio
da reciprocidade ou por causa de acordos internacionais. A questão do interesse nacional
favoreceu a permissão do acesso de alguns bancos estrangeiros, com o discurso de que novas
tecnologias eram necessárias para conseguir maior eficiência e mais competitividade.47 É
importante ressaltar que
40 Ibidem, p. 45. 41
CORAZZA, Gentil; OLIVEIRA; Reci. Os bancos nacionais face à internacionalização do sistema bancário brasileiro. Revista Análise Econômica UFRGS, Porto Alegre, n. 47, mar. 2007. p. 155. 42
COSTA NETO, op. cit., p. 146 43
BAER, Monica. apud BURLE, Lauro Lobo. A internacionalização do sistema financeiro: 1990-1992. Revista Análise Econômica, Porto Alegre, v.12, n. 2, p.3-18, 1995, p. 7. 44
GELEILATE, op. cit., p. 42. 45
HIRATUKA, Célio; SARTI, Fernando. Investimento direto e internacionalização de empresas brasileiras no período recente. Texto para discussão 1610, IPEA: Brasília, 2011. p. 12. 46
BCB. Bancos brasileiros após a Resolução 1524, de 21.09.1988. Disponível em <http://www.bcb.gov.br/htms/deorf/e88-2000/texto.asp?idpai=relsfn19882000> Acesso em 30 mar 2012. 47
CORAZZA; OLIVEIRA, op. cit., p. 156.
27
A partir de 1989, o sistema financeiro brasileiro passou por um processo de modificação de sua estrutura. O quadro inflacionário, presente na economia brasileira desde a década de 60, foi extremamente favorável ao sistema bancário, que se adaptou bem a ele em seu processo de desenvolvimento. Elevadas taxas de inflação contribuíram para alavancar a participação do setor financeiro na renda nacional. As instituições financeiras brasileiras obtiveram êxito na implementação de inovações e no aproveitamento de oportunidades regulatórias, o que lhes permitiu não apenas sobreviver, em um contexto que aparentemente seria hostil à atividade econômica e ao sistema financeiro, mas também acumular capital, desenvolver-se tecnologicamente e crescer, absorvendo parte considerável do imposto inflacionário gerado.48
As mudanças ocorridas na década de 1990 formam um dos pilares da
internacionalização bancária brasileira dos anos subsequentes. Logo no começo da década
foram adotadas políticas voltadas à abertura comercial, à estabilização da economia com a
contenção da inflação e à diminuição da participação do Estado na economia, sugeridas pelo
Consenso de Washington. Entre as reformas sugeridas pelo Consenso estavam disciplina
fiscal, taxa de juros positiva, liberalização comercial, liberalização de fluxos de investimento
externo direto, desregulamentação e privatização.
Outra mudança estrutural que marca a década de 1990 é o Plano Real de 1994, que
veio intensificar as mudanças de estabilização econômica e combate à inflação. O Plano criou
uma moeda nacional de câmbio atrelada ao dólar e, posteriormente, substituiu a antiga moeda
pelo Real. A política de estímulo às importações e aos ingressos de capital estrangeiro,
combinada com as altas taxas de juros e a adoção do regime de âncora cambial em que se
fundamentou o Plano Real foram características marcantes da estabilização na época. A
inflação sob controle e a atração de investimento estrangeiro, porém, fizeram com que
houvesse valorização da taxa de câmbio real49 e um consequente déficit nas transações
correntes com o exterior, o que agravou a dependência brasileira de capital externo.
Para que a demanda agregada e o crédito não aumentassem ainda mais depois da
estabilização econômica, o Banco Central teve que restringir e encarecer a oferta de crédito,
evitando assim pressões inflacionárias e protegendo o aumento da entrada de capital externo.
Essas medidas adotadas pelo Banco Central em relação ao crédito aumentaram os riscos de
inadimplência.50 O Banco Central ainda adotou mais medidas restritivas depois da Crise do
México, no final de 1994, como o aumento de juros e da taxa SELIC, agravando a
48
BCB. Bancos brasileiros após a Resolução 1524, de 21.09.1988. Disponível em <http://www.bcb.gov.br/htms/deorf/e88-2000/texto.asp?idpai=relsfn19882000> Acesso em 30 mar 2012. 49
Taxa de câmbio nominal é o preço do dólar em reais; taxa de câmbio real reflete o poder de compra da moeda nacional. 50
FREITAS, 2000 apud ROCHA, op.cit., p. 91.
28
inadimplência e, consequentemente, a insolvência bancária51. A situação de insolvência
atingiu pequenos bancos no momento inicial, levando-os à falência. Mas ficou claro que havia
uma crise bancária quando foram necessárias intervenções em dois dos maiores bancos da
época: o Banco Econômico e o Nacional.52
Para evitar o agravamento da Crise, o governo editou, entre outras medidas, o
Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional
– Proer, como solução para facilitar a compra ou incorporação de bancos insolventes, desde
que atendidas as regras estipuladas pelo Banco Central. Segundo o presidente do Banco
Central à época, Gustavo Loyola, o Proer tinha caráter preventivo. “Não estamos beneficiando
o banqueiro A ou B”, disse Loyola, “a preocupação não é favorecer os bancos, mas preservar
o sistema e a economia como um todo”.53 O Programa tinha como diretrizes preservar o
sistema de pagamentos e punir práticas bancárias não adequadas. Para isso, estipulou que o
controle acionário dos bancos que seriam socorridos deveria ser transferido e que os bancos
compradores deveriam assumir os custos e débitos que o banco falido tinha com a sociedade.
Em 1996 também foi editado o Programa de Incentivo à Redução do Setor Público Estadual
na Atividade Bancária – Proes, que incentivou a privatização de bancos estatais, pra evitar
falências, já que também haviam sido atingidos pela reestruturação bancária.
Como consequência das medidas governamentais dessa época, o número de bancos
no país foi bastante reduzido, aumentando a concentração bancária e acirrando a
concorrência. As instituições que conseguiram passar pelo processo de reestruturação sem
serem atingidas pelas ações do Proer se fortaleceram e mudaram diversos pontos em sua
estratégia de administração e inserção no mercado. Os bancos públicos múltiplos passaram a
atuar de forma mais parecida com bancos privados, buscando lucro e solidez.54
Cabe destacar que, à época, os mercados bancários dos Estados Unidos e da Europa
já se encontravam saturados e que, em razão disso, as instituições buscaram investir no
exterior. O mercado alvo em princípio foi o Sudeste Asiático, mas com a crise dos tigres em
1997, as empresas que haviam investido na região tiveram que procurar novos mercados e se
voltaram para a América Latina, que já contava com atrativos para o ingresso de empresas
51
ROCHA, op. cit., p. 91. 52
CORAZZA; OLIVEIRA; op. cit., p. 157. 53
BCB. Proer – Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional. Disponível em <http://www.bcb.gov.br/?PROER> Acesso em 03 abr. 2012. 54
SANTOS, op. cit., p. 57.
29
estrangeiras, como o bom retorno que tinha a atividade financeira, a queda da inflação e a
estabilização econômica.55
A justificativa da abertura do sistema financeiro brasileiro ao capital externo era a de
que o ingresso de investimento traria novas tecnologias e melhoria na qualidade da prestação
dos serviços. Além disso,
O capital estrangeiro desempenha importante papel na condução do relacionamento da economia brasileira com o resto do mundo, na medida em que a presença de sócio estrangeiro cria condições mais favoráveis ao processo de captação de recursos no exterior. Assim, a entrada dos bancos estrangeiros torna-se importante à medida que agiliza as operações internacionais e viabiliza a colocação no exterior de papéis das empresas locais que, por serem muitas vezes clientes do banco, contam com a recomendação da instituição aos investidores externos e, também, transferem tecnologias de produtos e outras inovações.56
Seguindo este breve histórico, cabe apresentar também, em particular, um histórico
da atuação internacional do Banco do Brasil.
3.2 O Banco do Brasil e sua atuação no exterior
O Banco do Brasil foi fundado em 1808, sendo o primeiro banco a operar no país. O
Banco do Brasil dos dias atuais não é o mesmo que foi criado com a vinda da Coroa
Portuguesa ao Brasil. Nos seus mais de 200 anos de história, passou por diversas mudanças
institucionais, inclusive por um processo de extinção (1830 – 1853) em que o país ficou sem
aparato algum de um banco estatal. No entanto, os pesquisadores da história do Banco dão
importância e costumam narrar suas atividades desde a criação do primeiro Banco do Brasil,
que funcionou como um embrião do atual. O segundo, criado em 1853 por iniciativa do
governo, foi resultado da fusão do homônimo criado pelo Barão de Mauá em 1851 com o
Banco Comercial. O Banco do Brasil sofreu uma reforma em 1893, com a fusão com o Banco
da República dos Estados Unidos do Brasil, passando a se chamar Banco da República do
Brasil, e por outra em 1905, quando voltou a ser denominado Banco do Brasil e tomou forma
semelhante à atual. A despeito dessas reformas, o Banco não sofreu solução de
continuidade.57
55
CORAZZA; OLIVEIRA, op. cit., p. 164. 56
Ibidem, p. 165. 57
OLIVEIRA, Wilson Rodrigues de. Banco do Brasil: dois séculos de história. Petrópolis: Portal Literário, 2008. p. 21.
30
Antes de haver um banco central no Brasil, as funções que esse banco teria eram
cumpridas pela Superintendência da Moeda e do Crédito (Sumoc), pelo Tesouro Nacional e
pelo Banco do Brasil. O Banco do Brasil era autoridade monetária na época, e detinha sob
poder a Carteira de Redescontos e a Carteira de Mobilização Bancária, que socorriam bancos
em situação ilíquida e forneciam redescontos seletivos e de liquidez. O Banco também era
guardião das reservas voluntárias dos outros bancos e realizava a compensação de cheques.
Era também agente financeiro do Tesouro. Em 1964, a reforma financeira transformou a
Sumoc em Banco Central e seu antigo conselho em Conselho Monetário Nacional. O Banco
do Brasil perdeu algumas de suas funções de autoridade monetária, mantendo, porém, a de
agente financeiro do Tesouro Nacional como arrecadador e pagador, caixa disponível para o
Tesouro e principal instrumento executor da política financeira.58
Na segunda metade da década de 1980, o Banco do Brasil pôs em prática um projeto
de transformação em banco múltiplo, com a criação da BB Financeira S.A., do BB Leasing
S.A., da BB Corretora de Seguros e Administradora de Bens S.A., e da BB Administradora de
Cartões de Crédito S.A. A reforma bancária de 1988 retirou a função de caixa do Tesouro
Nacional do Banco, o que o fez ir se tornando mais capaz de competir com bancos privados,
apesar de manter linhas de crédito e opções de negócios vinculadas às políticas econômicas
do Estado.59
Depois das mudanças ocorridas em consequência do Plano Real de 1994, o Banco do
Brasil passou por uma reestruturação para aumentar sua capacidade competitiva frente aos
bancos privados. Foi necessário incluir critérios de gestão de risco mais rígidos e aumentar a
transparência, oferecer uma gama maior de produtos e serviços. Essas mudanças
possibilitaram a conquista, em 1998, do certificado ISSO 9002. O Banco recebeu o rating
nacional máximo da Atlantic Rating, “AAA”, e foi classificado como instituição da melhor
qualidade.60
Em relação à atuação internacional, as primeiras experiências do Banco do Brasil
aconteceram em 1922, com a instalação de uma filial em Buenos Aires e logo a seguir, em
Montevidéu. No entanto, essas agências tiveram vida muito curta e foram extintas em 1924,
motivo pelo qual não se costuma considerar essa como a primeira investida do Banco no
58
BANCO DO BRASIL. Banco do Brasil: 200 anos. Belo Horizonte: Del Rey, Fazenda Comunicação & Marketing, 2010, p. 29. 59
SANTOS, Elson Rodrigo de Souza. Internacionalização dos bancos estatais brasileiros - legado do Governo Lula: 2003-2010. UFPR: 2011 60
BB. Conheça o BB: história. Disponível em <http://www.bb.com.br/portalbb/page3,136,7310,0,0,1,8.bb?codigoNoticia=1092&codigoMenu=204&codigoRet=1498&bread=2_3> Acesso em 06 abr.2012
31
mercado internacional, registrando-se como o início das atividades internacionais a
inauguração da Agência de Assunção, no Paraguai, em 1941. Nesse caso, a atuação do Banco
foi em conformidade com as orientações do governo de melhoria nas relações comerciais com
os países vizinhos. Ainda sob essa lógica, o Banco abriu outra agência em 1945, em
Montevidéu.61 Ainda nessa época, com a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial,
o Banco do Brasil abriu escritórios de representação em Roma, Nápoles e Pistóia
(posteriormente transferido para Gênova), acompanhando os pracinhas e tendo como missão
pagar as tropas e atender embaixadas e consulados brasileiros.62
Ainda seguindo as orientações do governo, no período entre 1960 e 1967, o Banco
do Brasil instalou agências em países da então Associação Latino-Americana de Livre
Comércio – ALALC, para dar suporte à integração. Foram criadas filiais em Buenos Aires,
Santiago, La Paz e Santa Cruz de la Sierra.63
Em 1967, houve uma mudança na direção da instituição e, com isso, uma
reformulação na estratégia de internacionalização do Banco, que passou a ser “o mais
importante ponto de suporte do País para atrair investimentos e financiamentos externos e
estimular as exportações brasileiras com vista ao equilíbrio do balanço de pagamentos.”64 Na
gestão imediatamente anterior, o Banco tinha o objetivo básico de incrementar as relações
comerciais, em especial com os países vizinhos. Cabe ressaltar que em ambas as situações, as
estratégias atendiam orientações governamentais, e não um objetivo puramente empresarial.
Assim, o Banco do Brasil, além de manter as agências já existentes nos países vizinhos, abriu
também em países que, embora não fossem próximos geograficamente, também eram
importantes parceiros comerciais do Brasil.
A exemplo disso, em abril de 1969 foi inaugurada a Agência de Nova York, na 5ª
avenida, o que representou o efetivo ingresso brasileiro na comunidade financeira
internacional. No ano seguinte, o Banco entrou no mercado financeiro Europeu, com a
instalação de uma agência em Hamburgo, na Alemanha, que ocupava, à época, o segundo
lugar em transações comerciais com o Brasil. Ainda em 1970, foram inaugurados Escritórios
de Representação no México, em Londres e em Tóquio.65
Além de objetivar o prestígio no mercado internacional, a presença do Banco do
Brasil nos grandes centros financeiros favoreceu a concentração de recursos em moedas fortes
61
OLIVEIRA, op. cit., p. 319. 62
SANTOS, op. cit., p. 87 63
OLIVEIRA, op. cit., p. 320. 64
Ibidem, p. 320. 65
Ibidem, p. 320-321.
32
para o financiamento de projetos de interesse nacional e, ao ativar o intercâmbio comercial, o
fortalecimento das reservas cambiais brasileiras. Os resultados da estratégia de
internacionalização do Banco foram consideráveis: em 7 anos, as 6 agências existentes
somente na América do Sul passaram a fazer parte de um número de 25 filiais em outros
continentes. É importante evidenciar que, embora essas agências tivessem seu foco voltado
para o relacionamento com outras nações, conforme regia a política governamental, suas
atividades compreendiam todas as operações bancárias que a legislação do país onde estavam
situadas permitia, ou seja, atuavam como bancos autônomos.66
O Banco do Brasil ainda incorporou em sua estratégia as participações acionárias em
instituições financeiras internacionais: começando pela Compañia Paraguaya de Desarrollo
S.A. – COMDESA, em 1970; associando-se a quatro grandes instituições financeiras para
criar a empresa de investimentos European Brazilian Bank Ltd., com sede em Londres, em
1971; participando da formação da Compagnie Árabe et Internationale d’Investissement e do
Banque Arabe et Internationale d’Investissement, com sedes em Luxemburgo e Paris,
respectivamente, em 1973; participando da criação do Euro-Latinamerican Bank Ltd., em
1974; e tomando participação na Kuwait Pacific Finance Company Ltd. – KPFC, em 1975.
Além disso, mantinha sob seu controle duas subsidiárias: uma em Grand Cayman – Brazilian
American Merchant Bank – e uma em Toronto – Brazilian Finance and Investment
Corporation.67
Na segunda metade dos anos 70, o Banco do Brasil abriu escritórios de representação
na Austrália e na Nigéria (Sydney e Lagos). Durante toda a década, expandiu sua rede externa
de maneira estratégica. O Banco, como agente importante da política externa do Brasil,
buscava para o país novas oportunidades de negócio para a atração de capitais de risco e o
incremento do intercâmbio comercial brasileiro. Nesse sentido, a abertura de agências no
exterior foi importante pelo papel por elas exercido ao promover contato entre empresários
brasileiros e empresários dos países onde estavam instaladas.
A partir de 1977, o Banco do Brasil reformulou sua estratégia, voltando-se mais
fortemente para o mercado interno, em razão de vários fatores, como a mudança da alta
administração do Banco, o choque da segunda crise do petróleo e a consequente
desaceleração da economia. Entendeu-se a necessidade de reestruturação do Banco,
desativando agências e escritórios de representação, encerrando atividades de
superintendências regionais e de subsidiárias, desativando escritórios e reduzindo o
66
Ibidem, p. 321. 67
BANCO DO BRASIL, op. cit., p. 40-41.
33
contingente de empregados no exterior. “Em 1987, a rede externa passava para 46 unidades,
65% do que havia sido três anos antes.”68
O então presidente do Banco do Brasil afirmou, no Relatório Anual de Atividades de
1985, que
Na área externa, definimos novas linhas de atuação da empresa, com o objetivo de transformá-la em autêntico banco internacional. Com a mudança da filosofia operacional, a tônica deslocou-se para as operações financeiras e de comércio exterior. Ajustamo-nos à realidade do mercado mundial ao fechar filiais que, nas atuais circunstâncias, seriam inadequadas à política adotada. A desativação de 18 dependências propiciará ao Banco a concentração de esforços e recursos em áreas prioritárias.”69
No entanto, a instituição ainda manteve importância no apoio a exportações e
importações e na troca de ativos da dívida externa do Brasil.
Na década de 1990, novamente foi dada menos ênfase ao foco internacional em
detrimento do nacional, com a reestruturação do Banco para a estratégia de aprofundamento
da transformação em conglomerado financeiro. No entanto, nos anos 2000, para se efetivar
como um conglomerado financeiro internacional, na agenda do Banco do Brasil voltou a ter
prioridade a atuação no exterior.
3.3 Considerações Parciais
A atuação internacional do Banco do Brasil foi bastante moldada por diretrizes
governamentais. As diversas motivações para aberturas de agências e escritórios de
representação no exterior – como melhoria nas relações comerciais com os países vizinhos;
apoiar brasileiros que estavam no exterior por causa da Guerra; atender embaixadas e
consulados brasileiros; oferecer suporte à integração regional; atração de investimentos e
financiamentos externos e estímulo às exportações brasileiras; concentração de recursos em
moedas fortes e o financiamento de projetos de interesse nacional – apresentam uma
motivação diversa daquela vista em teorias a respeito da internacionalização bancária, vistas
no capítulo 1.
Além das motivações, a estratégia de inserção internacional foi diferente da apontada
em teorias, pois o Banco, em seu estágio inicial de atuação internacional, em que se espera
68
SANTOS, op. cit., p. 90. 69
BANCO DO BRASIL, op. cit., p. 82.
34
que a estratégia vise a instalação de filiais em países vizinhos e culturalmente próximos,
instalou agências e escritórios de representação em países distantes, sempre seguindo
orientações do Governo. O Banco atuava então, como importante instrumento da política
externa do Brasil.
É interessante notar, então, que as teorias não abarcam bancos estatais, que possuem
comportamento bem diverso dos que costumam ser estudados. Isso acontece, talvez, pelo fato
de não existir uma quantidade significativa de bancos estatais que incorporem a
internacionalização à sua estratégia. Percebe-se então, uma característica diferenciada do
Banco do Brasil.
A partir da década de 1990, no entanto, com a estratégia de aprofundamento da
transformação em conglomerado financeiro e as reformas para conseguir competir com
bancos privados, foi dada menos ênfase à atuação internacional do Banco do Brasil, que se
distanciou um pouco das diretrizes governamentais.
35
4 A INTERNACIONALIZAÇÃO DO BANCO DO BRASIL NO
GOVERNO LULA
Com a abertura econômica brasileira da década de 1990, transpareceu a visão de que
as empresas de capital nacional deveriam buscar se tornar mais competitivas, mantendo sua
participação no mercado interno e ao mesmo tempo buscando uma expansão internacional.
Dessa forma, o número de empregos na economia se elevaria. Se, no entanto, uma empresa
não internacionalizada não conseguisse concorrer com empresas do exterior no mercado
doméstico, o número de empregos diminuiria.70 Além disso,
[...] em um ambiente de acirrada concorrência internacional, o desempenho do próprio país depende da competitividade das firmas nacionais em mercados estrangeiros. Assim, a internacionalização das empresas nacionais torna-se fator fundamental para incrementar a competitividade internacional e para promover o desenvolvimento do país, facilitando o acesso a recursos e mercados.71
Em relação à atividade bancária, entre os anos de 1994 e 2001, o número de bancos
estrangeiros no Brasil passou de 38 para 72. O processo de entrada de capital estrangeiro
nessa época se deu em grande parte por autorizações para a transferência do controle das
instituições nacionais a grupos estrangeiros, tendo como consequências uma diminuição no
número de bancos de capital nacional e de bancos nacionais que tinham participação
minoritária estrangeira.72 O aumento da concorrência nesse setor também gerou uma busca
por estratégias de concorrência mais fortes.
A partir dessa percepção, foram intensificados, no Governo Lula, instrumentos e
ações de apoio à internacionalização de empresas brasileiras.
O presente capítulo estrutura-se na exposição de aspectos-chave da política externa
do governo Lula e na estratégia de internacionalização do Banco do Brasil durante esse
período. Ademais, pretende demonstrar o predomínio da vertente política em detrimento da
econômica na estratégia de internacionalização do Banco, embasando-se em notícias que
demonstram o interesse governamental na expansão do Banco do Brasil, bem como em
relatórios anuais do próprio Banco.
70
MACADAR, Beky Moron. Os investimentos diretos no exterior dos países em desenvolvimento e a experiência brasileira recente. Indicadores Econômicos FEE, v. 35, p. 29-36, 2008. p. 1. 71
Ibidem, p. 3. 72
FREITAS, op. cit., p. 13.
36
Em 2003, o Tesouro Nacional representava o maior acionista do Banco do Brasil,
com quase 80% das ações. Em 2010, esse percentual passou para 59,1%. A grande mudança
ocorreu em 2006, quando o Banco aderiu ao Novo Mercado, da Bovespa, onde assumiu o
compromisso de aumentar o percentual de ações em circulação.73 Apesar de ter sua
participação acionária diminuída, o Estado continua sendo o acionista majoritário.
4.1 O Estado Logístico de Lula e a atuação do Banco do Brasil
Ao assumir a Presidência da República, em 2003, Lula da Silva adotou o padrão do
paradigma logístico de política exterior, ensaiado nos anos finais da presidência de Fernando
Henrique Cardoso, com vistas à inserção interdependente do Brasil. O Estado Logístico de
Lula exerceu um papel intermediário entre os interesses dos diversos segmentos sociais e sua
ação externa, tendo sido o governo convertido em agente de apoio logístico. As
responsabilidades do Estado empresário são transferidas para a sociedade. O Estado se
compromete a garantir a estabilidade econômica e também apoia a sociedade na realização
dos seus interesses. Assim, fornece apoio logístico aos empreendimentos, tanto públicos
quanto privados, para que estes possam competir no âmbito internacional.74
A ideologia subjacente ao paradigma do Estado logístico associa um elemento externo, o liberalismo, a outro interno, o desenvolvimentismo. Funde a doutrina clássica do capitalismo com o estruturalismo latino-americano. Admite, portanto, operar na ordem do sistema ocidental, recentemente globalizado.75
O governo Lula deu continuidade à característica marcante da política externa
brasileira das últimas décadas – a busca pelo desenvolvimento nacional – ao seguir com os
projetos de cooperação sul-sul e de integração regional da América do Sul, já iniciados no
governo Fernando Henrique. Além disso, o governo forneceu apoio à inserção comercial do
73
BB. Relatórios anuais do Banco do Brasil. Disponíveis em <http://www.bb.com.br/portalbb/> Acesso em 30 mai. 2012 74
CERVO, Amado. Inserção global no século XXI: a estratégia do Estado Logístico. In: CERVO, Amado Luiz; BUENO, Clodoaldo. História da política exterior do Brasil. 4ª edição. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2011. p. 526. 75
CERVO, Amado, 2008 apud. RISTOFF, Taís. A internacionalização das empresas brasileiras no Governo Lula: o BNDES como instrumento de política externa. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH: São Paulo, 2011. p. 2.
37
país. Deste modo, o Estado logístico objetiva o fortalecimento do Brasil no sistema
internacional.76
O governo buscou implementar programas de incentivo às exportações e ao
desenvolvimento interno brasileiro. No plano interno, pode-se destacar o Programa de
Aceleração do Crescimento (PAC) e a Política de Desenvolvimento Produtivo (PDC). O
primeiro, com o objetivo de aceleração do crescimento econômico, estabeleceu medidas
destinadas a incentivar o investimento privado, ao aumento do investimento público em
infraestrutura e à remoção de obstáculos ao investimento.77 A segunda tendo como metas o
aumento da taxa de investimento e a ampliação da participação das exportações brasileiras no
comércio mundial.78
Em relação à inserção comercial do país, o governo disponibiliza como linhas de
financiamento às exportações o BNDES-Exim, apoio do BNDES na exportação de bens e
serviços nacionais, e o Proex (Programa de Financiamento às Exportações), gerido pelo
Banco do Brasil no papel de agente financeiro da União.79 Além do Proex, o Banco do Brasil,
juntamente com a Caixa Econômica Federal, operacionaliza o Proger Exportação, que
financia, em moeda nacional, a produção de bens e mercadorias destinados à exportação e as
despesas com promoção comercial.80
Neste contexto, destaca-se a importância do Banco do Brasil como parceiro do
governo no financiamento à exportação: o Banco atua no exterior na captação de recursos e na
facilitação de negócios com o Brasil, por meio do apoio às operações de comércio exterior das
empresas brasileiras e da conquista de novos mercados.81
O Banco do Brasil exerce um papel de grande relevância para a expansão do comércio exterior brasileiro, participando ativamente dos esforços governamentais e empresariais para aumentar as trocas comerciais com outros países, diversificar a pauta de produtos e ampliar a base exportadora. Este é, portanto, um dos negócios
76
VALDEZ, Robson Coelho Cardoch. A internacionalização do BNDES no governo Lula. 2011. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2011. p. 35. 77
BRASIL. PAC2. Disponível em <http://www.brasil.gov.br/pac>. Acesso em 04 jun. 2012 78
MDIC. Política de Desenvolvimento Produtivo. Disponível em <http://www.mdic.gov.br/pdp/>. Acesso em 04 jun. 2012 79
MDIC. Financiamento e garantia às exportações. Disponível em <http://www.mdic.gov.br/sitio/interna/interna.php?area=1&menu=1021&refr=438>. Acesso em 04 jun. 2012 80
VALDEZ, op. cit., p. 93. 81
BB. Relatório Anual 2004. Disponível em <http://www.bb.com.br/portalbb/page3,136,3433,0,0,1,8.bb?codigoMenu=198&codigoNoticia=10805&codigoRet=214&bread=1> Acesso em 21 mai. 2012
38
mais estratégicos para o BB. Das 19,4 mil empresas exportadoras de 2005, cerca de 85% têm alguma relação com o Banco do Brasil.82
Uma das ações do Banco do Brasil que pode ser destacada nesse sentido foi a
assinatura do convênio com o Korea-Eximbank – The Export-Import Bank of Korea, em
2005, para financiar as empresas brasileiras que mantém relacionamento comercial com
empresas coreanas.83
Outro ponto de destaque foi o incremento da balança comercial brasileira pela
diversificação de parceiros comerciais. O Brasil, que exportava principalmente para os
Estados Unidos, a América do Sul e a Europa, aumentou seus fluxos comerciais com o
mercado asiático e, em menor, porém, significativo grau, com o mercado africano. “Isto criou,
na avaliação do Banco do Brasil, boas oportunidades de negócios.”84
A diplomacia do governo Lula, buscando incentivar a inserção comercial brasileira
no sistema internacional, se utilizou da atuação em fóruns multilaterais para promover o
desenvolvimento do comércio entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. As relações
internacionais brasileiras se expandiram com o objetivo de projetar o Brasil como potência
econômica e política global. A política externa brasileira buscava expansão das relações tanto
com as economias industrializadas quanto com as emergentes.85
[...] esse é o caminho que o Brasil começou a trilhar. Primeiramente, combinando os seus mercados locais com os mundiais por meio de uma inserção soberana. E, em segundo lugar, mediante a aposta na capitalização da região. Um exemplo neste sentido é a crescente internacionalização das empresas brasileiras.86
Na conduta logística do Estado, a política exterior brasileira agregou à sua estratégia
de atuação externa a internacionalização de empresas. O objetivo do governo era formar
empresas fortes que pudessem competir em escala global, contando com o apoio logístico e
82
BB. Relatório Anual 2005. Disponível em <http://www.bb.com.br/portalbb/page3,136,3433,0,0,1,8.bb?codigoMenu=198&codigoNoticia=10805&codigoRet=214&bread=1> Acesso em 21 mai. 2012 83
GUIMARÃES, Andréa. Imigrante nos EUA ganha novos caixas. Valor Econômico Edição Especial. Out 2008. p. 12-14. Disponível em <http://www.revistavalor.com.br/home.aspx?pub=28&edicao=1> Acesso em 25 mai. 2012. 84
ROMERO, Cristiano. BB negocia banco com 14 agências. Valor Econômico Online. 17 dez. 2009. Disponível em <http://www.valor.com.br/arquivo/799943/bb-negocia-banco-com-14-agencias > Acesso em 05 jun. 2012 85
GRANJA, Lorena; PINHO, Carlos Eduardo. O gigante regional no contexto mundial: Brasil e sua política neo-desenvolvimentista. p. 12. 86
GRANJA; PINHO, op. cit., p. 13.
39
financeiro de instituições estatais, como o BNDES e o Banco do Brasil.87 No Fórum
Econômico Global de Davos, em 2005, Lula afirmou:
Uma coisa que eu tenho provocado sistematicamente nos empresários brasileiros é que eles não devem ter medo de fazer investimentos em outros países, até porque isso seria muito bom para o Brasil.88
A busca por novos mercados para os produtos brasileiros, aliada à estratégia de
projeção internacional do país, consolidou a relação das grandes empresas brasileiras com a
postura do país no exterior, principalmente no continente sul-americano. A despeito de a
América Latina, em especial a América do Sul, ter se consolidado como área preferencial para
a inserção internacional de empresas brasileiras, outros mercados também ocupam posição
estratégica na atuação internacional dessas empresas.89
Ainda que, como visto no primeiro capítulo, as empresas de países em
desenvolvimento, nos seus estágios iniciais, montem sua estratégia de internacionalização a
partir de motivações culturais e geográficas, é possível perceber também como explicação a
tentativa do Brasil de se tornar líder regional na América Latina. Pode-se apontar como
exemplo do incentivo promovido por Lula ao processo de integração da região a ampliação de
espaços de discussão como o Fórum Estratégico Empresarial Brasil-México, cujo objetivo
consiste em promover alianças estratégicas entre esses dois países.90
Em relação ao comércio com os países latino-americanos, a estratégia governamental
evidenciou-se em um discurso de Lula a empresários do setor automobilístico. Segundo ele,
“Nós precisamos trabalhar sob a perspectiva de atingir o máximo. Eu sou fissurado para que o
Brasil ocupe um lugar de destaque”.91
Os incentivos do Governo Lula à internacionalização de empresas surtiram efeitos. O
processo de internacionalização de empresas se intensificou nos anos de seu governo. Isso
provocou nas empresas financeiras estímulos para adotarem a mesma estratégia. Os bancos
nacionais, para atender as necessidades específicas de prestação bancária de seus clientes nos
países em que estavam instalados, passaram a segui-los. Além disso, o crescente número de
87
CERVO, op. cit., p. 545. 88
CERVO, op. cit., p. 545. 89
VALDEZ, op. cit., p. 43. 90
RAMSEY, J.; BARAKAT, L.; CRUZ, L.; CRETOIU, S. Repensando as estratégias globais: Internacionalização em tempos de incertezas econômicas mundiais. Fundação Dom Cabral, 2010. p. 11. 91
AGÊNCIA ESTADO. Lula quer produto brasileiro na América Latina e na África. Época Negócios Online. Disponível em: <http://epocanegocios.globo.com/Revista/Common/0,,EMI124858-16357,00-LULA+QUER+PRODUTO+BRASILEIRO+NA+AMERICA+LATINA+E+AFRICA.html> Acesso em 01 jun. 2012
40
pessoas físicas em outros países requer a atuação de um banco internacional. Sob essa
perspectiva, o Banco do Brasil procurou trabalhar a manutenção de seu papel de destaque nos
negócios internacionais. Assim, a atuação internacional do Banco do Brasil está pautada na
ampliação de sua rede externa.92
Sobre a entrada de bancos estrangeiros, no governo Lula, não houve modificação na
política direcionada a investimentos estrangeiros no sistema financeiro nacional em relação ao
governo anterior. Diversas instituições bancárias estrangeiras foram autorizadas a operar no
Brasil por decretos presidenciais de reconhecimento de interesse do governo brasileiro. A
diferença se encontra apenas no número de decretos: enquanto foram promulgados 130 no
governo de Fernando Henrique, no governo Lula esse número diminuiu para 43. Entretanto,
houve diretrizes para a atuação internacional dos bancos públicos, o que pode ser observado
com a ampliação da rede externa do Banco do Brasil e da instalação de dependências no
exterior da Caixa Econômica Federal e do BNDES.93
O Banco do Brasil, no início do governo Lula, assumiu o compromisso de “tornar o
Banco do Brasil empresa ainda mais competitiva e comprometida com a sociedade brasileira”.
Para cumprir o estabelecido, o banco procurou aprimorar as práticas de governança
corporativa, sem enfraquecer o seu papel de agente de políticas públicas.94
Essa ênfase no comprometimento com a sociedade brasileira ao cumprir papel-chave como agente de políticas públicas seria a maior novidade face ao modelo empresarial antes predominante. Mas já alertava que a disputa por liderança no mercado, nos anos vindouros, seria mais ferrenha.95
O Banco do Brasil trabalhou com três vetores em sua estratégia de expansão
internacional: a existência de comunidades de brasileiros no exterior, a transnacionalização de
grandes companhias e a expansão das relações comerciais do país com o mundo.96
O ciclo de expansão do crédito bancário, iniciado em 2003, mas mais notável no
período de 2004 a 2007, aumentou tanto o interesse de bancos estrangeiros pelo mercado
brasileiro quanto os negócios dos bancos brasileiros no exterior. Como o cenário internacional
se encontrava favorável, os bancos brasileiros faziam uso de suas filiais no exterior para
92
BB. Relatório Anual 2010. Disponível em <http://www.bb.com.br/portalbb/page3,136,3433,0,0,1,8.bb?codigoMenu=198&codigoNoticia=10805&codigoRet=214&bread=1> Acesso em 22 mai. 2010 93
FREITAS, op. cit., p. 37. 94
BANCO DO BRASIL, op. cit., p. 164. 95
BANCO DO BRASIL, op. cit., p. 164. 96
IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. A internacionalização dos bancos brasileiros. In: Inserção internacional brasileira: temas de economia internacional. Brasília: IPEA, 2010. p. 324.
41
captar recursos a custos mais baixos do que os dos disponíveis no mercado brasileiro. Esse
ciclo de expansão do crédito e de liquidez nos mercados financeiros internacionais foi
interrompido em 2007, com o agravamento da crise financeira iniciada no mercado
americano.97
Os bancos estrangeiros encontraram no Brasil uma resistência maior às suas
estratégias concorrenciais de conquista de mercados. Os grandes bancos brasileiros, tanto
públicos quanto privados, possuem grandes redes de agências bancárias e tecnologias
sofisticadas de transferência eletrônica de fundos e gestão de recursos, desenvolvidas no
período de alta inflação, que os ajudaram a conservar seus clientes. Além disso, como nas
últimas décadas o sistema bancário brasileiro não sofreu nenhuma crise profunda, os bancos
brasileiros encontram aí mais uma vantagem. Portanto, instituições bancárias locais não são
vistas com desconfiança pelos brasileiros. Os bancos públicos é que costumam atrair clientes
de bancos privados em momentos de fragilidade financeira.98
Bancos privados nacionais e os bancos estrangeiros apresentam comportamento pró-
cíclico:
[...] em momentos de crise, em particular, na fase de baixa dos ciclos de liquidez
internacional, o crédito bancário privado tende a apresentar maior volatilidade. Os
países que não contam com fortes bancos públicos tendem a sofrer grave contração
do crédito, com sérias consequências para a atividade econômica.99
Ademais, como visto no primeiro capítulo, uma presença estrangeira forte expõe o
país anfitrião às alterações estratégicas da matriz dos bancos estrangeiros, que podem
restringir o crédito em contextos de aversão ao risco e, assim, compelir a economia para a
recessão. No caso da crise financeira de 2008, os impactos na economia brasileira teriam sido
mais intensos, não fosse a atuação anticíclica dos bancos públicos, que expandiram as
operações de crédito.100
A variação do crescimento do crédito bancário no país, entre janeiro de 2008 e
janeiro de 2009, demonstra o papel crucial do crédito público em momentos de fuga
97
FREITAS, op. cit., p. 20. 98
Ibidem, p. 21. 99
IPEA, op. cit., p. 314. 100
FREITAS, op. cit., 54.
42
de capitais e de quebra de confiança no sistema financeiro. (...) os agentes públicos
entram em cena para manter os mercados funcionando.101
Em situações de crise financeira, os bancos públicos têm o papel de resguardar os
interesses do país. Em alguns momentos de sua história, como em sua transformação em
banco múltiplo, questionou-se o papel do Banco do Brasil como agente público No entanto, a
expansão do crédito pelo Banco em 2008 foi um dos marcos do resgate de suas atribuições de
banco público. 102
Aldemir Bendine, presidente do Banco do Brasil, disse à época que o banco, ao
longo da história, aprendeu a lidar com a aparente dicotomia entre agente público e banco
comercial. Disse ainda que é possível combinar bons resultados com a execução de políticas
públicas como o destravamento do crédito e um apoio maior ao comércio exterior.103
O BB tem que ser um banco eficiente e rentável e dar retorno ao capital empregado aqui como qualquer um dos seus concorrentes privados. Não tenho dúvida de que essa ideia está internalizada na instituição. Agora, eu penso também que o BB tem uma função pública e um papel no desenvolvimento do país que sempre teve ao longo da história. Estávamos vivendo um momento em que o banco tinha deixado isso de lado. Agora, houve um resgate muito forte disso. O BB tinha virado um banco só comercial, com capital público. Eu canso de dizer que, se era pra ser só isso, seria melhor o governo privatizar o BB. Não tem necessidade de ter um banco desse. O banco tem uma missão pública a cumprir.104
A partir do segundo semestre de 2009, os bancos brasileiros viram novas
oportunidades de negócios no exterior, com a recuperação da economia mundial sob a
liderança dos países periféricos e a retomada do crescimento da economia brasileira. Diversos
bancos revelaram estratégias de ampliação da atuação internacional.105 Um deles foi o Banco
do Brasil.
O Banco, como foi demonstrado neste capítulo, teve importância fundamental para a
consecução de políticas do governo Lula, como o apoio à internacionalização de empresas e
101
NOVOA, Luis Fernando. O Brasil e seu “desbordamento”: o papel central do BNDES na expansão das empresas transnacionais na América do Sul. In: Empresas transnacionais brasileiras na América Latina: um debate necessário. São Paulo Expressão Popular, 2009. p. 201. 102
BANCO DO BRASIL. Há dois séculos ajudando a construir o futuro do comércio exterior brasileiro. Revista Comércio Exterior Informe BB. Ed. 75, ano 16, 2008. Edição Especial. 103
BACOCCINA, Denise. BB acelera o crédito. Istoé Dinheiro Online. Ed. 604, mai. 2009. Disponível em <http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/1048_BB+ACELERA+O+CREDITO> Acesso em 13 mai. 2012. 104
TRAVAGLINI, Fernando; ROMERO, Cristiano. BB negocia uma sociedade para banco hipotecário. Valor Econômico. Ago 2010. Disponível em <http://www.valor.com.br/arquivo/843967/bb-negocia-uma-sociedade-para-banco-hipotecario> Acesso em 13 mai. 2012 105
IPEA, op. cit., p. 324.
43
às exportações. Dessa forma, se torna importante, para este trabalho, apresentar a
convergência entre os principais eixos de política externa do governo Lula e a atuação
internacional do Banco do Brasil no período.
4.2 A América do Sul
A América do Sul foi o eixo prioritário da política externa do governo Lula, que
procurou intensificar as relações comerciais com o subcontinente e o processo de integração
via Mercosul. O continente serviu para a expansão da produção das empresas brasileiras, pelo
desenvolvimento de acordos comerciais e marcos regulatórios que favorecem os
investimentos brasileiros, bem como a circulação de bens, serviços e mercadorias nessa
região. 106
Em abril de 2010, o Banco do Brasil realizou um de seus mais importantes
movimentos de atuação internacional: adquiriu o controle acionário do Banco Patagônia, na
Argentina, visando a “ampliação da parceria com empresas brasileiras e argentinas, a
diversificação do portfólio de produtos e serviços buscando potencializar o atendimento aos
clientes e a atuação junto à cadeia de valor do segmento de Pessoas Jurídicas”.107
4.3 O continente africano
Outra vertente de política externa foi a aproximação com a África, que “se coaduna
com a prioridade conferida ao Sul pela ação diplomática do Governo”. Uma das conquistas
dessa aproximação foi a ampliação do intercâmbio comercial, que de 2002 para 2008 se
quintuplicou.108
Nesse continente, o Banco do Brasil já tinha instalado um escritório em Angola, e em
2010, iniciou negociações com o Banco Espírito Santo (BES), de Portugal, para possível
106
MRE. Resumo Executivo: Balanço de política externa 2003/2010. Disponível em <http://www.itamaraty.gov.br/temas/balanco-de-politica-externa-2003-2010/resumo-executivo/view > Acesso em 07 jun. 2012 107
BB. Relatório Anual 2010. Disponível em <http://www.bb.com.br/portalbb/page3,136,3433,0,0,1,8.bb?codigoMenu=198&codigoNoticia=10805&codigoRet=214&bread=1> Acesso em 22 mai. 2010 108
MRE. Resumo Executivo: Balanço de política externa 2003/2010. Disponível em <http://www.itamaraty.gov.br/temas/balanco-de-politica-externa-2003-2010/resumo-executivo/view > Acesso em 07 jun. 2012
44
participação financeira nos negócios do banco português no mercado africano, já presentes em
Cabo Verde, Angola, Egito, Marrocos, Moçambique e Argélia.109
Quando perguntado sobre a rentabilidade do Banco na África e se essa operação no
continente vinha com o intuito de atender aos objetivos da política externa brasileira, Bendine
respondeu:
A rentabilidade do setor bancário no continente africano é, em média, de 45%. Agora, é verdade: nossa expansão na África coincide com o fato de o governo brasileiro ter um interesse forte na intensificação do relacionamento com o continente africano. Isso é nítido e sabido.110
Assim, é possível perceber uma interação entre as diretrizes de política externa do
governo Lula e a atuação internacional do Banco do Brasil na África.
4.4 A Ásia
A diversificação dos parceiros comerciais do Brasil e o estreitamento de relações
com países do Sul foram prioridades do governo brasileiro. Nesse sentido, foram realizadas
diversas iniciativas de promoção das relações econômico-comerciais do Brasil com a Ásia,
em especial com a China, que ascendeu à posição de principal sócio comercial do Brasil e
maior mercado de exportações em 2009.111
No período do Governo Lula, o Banco do Brasil concentrou esforços no Japão e na
China. No primeiro, a atuação do Banco estava direcionada para a área de varejo, com o
objetivo de apoiar e ampliar negócios com a comunidade brasileira naquele país e também
aumentar a sua base de clientes. No segundo, o Banco estava instalado em Hong Kong e
Xangai. A atuação do Banco em Hong Kong é voltada para o relacionamento com instituições
financeiras e para a representação institucional. Em Xangai, está direcionada para o apoio às
empresas brasileiras nas operações comerciais de exportação e importação.112
109
BB. Relatório Anual 2010. Disponível em <http://www.bb.com.br/portalbb/page3,136,3433,0,0,1,8.bb?codigoMenu=198&codigoNoticia=10805&codigoRet=214&bread=1> Acesso em 22 mai. 2010 110
TRAVAGLINI, Fernando; ROMERO, Cristiano. BB negocia uma sociedade para banco hipotecário. Valor Econômico. Ago/2010. Disponível em <http://www.valor.com.br/arquivo/843967/bb-negocia-uma-sociedade-para-banco-hipotecario> Acesso em 13 mai. 2012 111
MRE. Resumo Executivo: Balanço de política externa 2003/2010. Disponível em <http://www.itamaraty.gov.br/temas/balanco-de-politica-externa-2003-2010/resumo-executivo/view > Acesso em 07 jun. 2012 112
BB. Relatório Anual 2010. Disponível em <http://www.bb.com.br/portalbb/page3,136,3433,0,0,1,8.bb?codigoMenu=198&codigoNoticia=10805&codigoRet=214&bread=1> Acesso em 22 mai. 2010
45
4.5 Europa e América do Norte
Essas áreas permaneceram como parceiros relevantes para o Brasil, pois já tinham
uma vinculação política econômica e cultural com o país.113
Nos Estados Unidos, o Banco do Brasil reorganizou sua rede para melhorar a
produtividade e reduzir custos. Além disso, Em abril de 2010, o Banco do Brasil recebeu
autorização do Banco Central Americano para adquirir instituições financeiras nos EUA e
ampliar sua atuação no mercado de capitais local. Em julho do mesmo ano, o Banco do Brasil
em Miami recebeu autorização para operar também com residentes dos Estados Unidos.114
Na Europa, o Banco já estava presente nos principais centros financeiros e atuava
com foco na captação de recursos e na realização de negócios, visando prioritariamente o
financiamento do comércio exterior brasileiro e o atendimento aos clientes com vínculo com o
Brasil. Além disso, ao longo do governo Lula, abriu duas subagências em Portugal.115
4.6 Considerações Parciais
No Governo Lula, a participação acionária do Estado no Banco do Brasil diminuiu,
em virtude da adesão do Banco ao Novo Mercado da Bovespa. No entanto, o Banco, que
havia se distanciado um pouco das diretrizes governamentais, procurou retomar um papel
mais ativo como agente de políticas públicas. Isso pode ser percebido no apoio do Banco às
exportações e à internacionalização de empresas, mas principalmente em suas atividades no
exterior.
Ainda que a estratégia para instalação de filiais tenha principalmente sido a mesma
de bancos privados – instalação em países em que haja empresas brasileiras
internacionalizadas –, é possível ainda apontar a política externa como um agente
impulsionador desse movimento no Banco do Brasil. As atividades desenvolvidas pelo Banco
nos países em que se instalou foram de apoio às relações comerciais desses países com o
113
MRE. Resumo Executivo. Balanço de política externa 2003/2010. Disponível em <http://www.itamaraty.gov.br/temas/balanco-de-politica-externa-2003-2010/resumo-executivo/view > Acesso em 07 jun. 2012 114
BB. Relatório Anual 2010. Disponível em <http://www.bb.com.br/portalbb/page3,136,3433,0,0,1,8.bb?codigoMenu=198&codigoNoticia=10805&codigoRet=214&bread=1> Acesso em 22 mai. 2010 115
BB. Relatório Anual 2006. Disponível em <http://www.bb.com.br/portalbb/page3,136,3433,0,0,1,8.bb?codigoMenu=198&codigoNoticia=10805&codigoRet=214&bread=1> Acesso em 04 jun. 2010
46
Brasil. O Banco do Brasil procurou conciliar a eficiência e o retorno de capital esperados por
seus acionistas privados com sua função pública. Percebe-se que a aparente dicotomia não
funciona como um trade-off, em que é necessário escolher uma função à outra, mas sim que é
possível exercer sua função pública e ao mesmo tempo trazer os resultados esperados pelos
acionistas privados, como é possível perceber no lucro auferido pelo Banco no período de
2003 a 2010. No primeiro ano do governo Lula, o lucro do Banco foi de 2,381 bilhões de
reais, mantendo-se numa linha crescente até o ano de 2006. No ano seguinte, o Banco
apresentou uma diminuição no lucro, que voltou a crescer a partir de 2008 e chegou a 11,703
bilhões de reais em 2010.116
É possível notar sua importância como parceiro do governo tanto no plano interno
como no externo. No interno, o Banco serviu como um dos instrumentos de suporte ao
desenvolvimento e à estabilidade financeira, e pode-se apontar seu papel de destaque na
expansão do crédito durante a crise de 2008. No plano externo, o Banco trabalhou na
promoção das relações comerciais brasileiras e no apoio a pessoas físicas e jurídicas,
brasileiras e não brasileiras.
Cabe apontar também, que já no fim do Governo Lula, a inserção internacional do
Banco do Brasil deixou de ocorrer somente por meio da instalação de filiais. Como foi visto,
o Banco assumiu um comprometimento maior nos Estados Unidos e na Argentina, passando a
operar também com residentes desses países. Na Argentina, a aquisição do Banco Patagônia
permite comparar o comportamento do Banco do Brasil como o de um banco de um país
desenvolvido, se encaixado nas teorias estudadas no primeiro capítulo. Isso mostra um banco
que trabalha também na imagem de um país de economia consolidada e que pretende
competir com bancos grandes de países desenvolvidos.
Dessa forma, é possível evidenciar uma sinergia entre a atuação internacional do
Banco e a política externa do governo Lula.
116
BB. Relatório Anual 2010. Disponível em <http://www.bb.com.br/portalbb/page3,136,3433,0,0,1,8.bb?codigoMenu=198&codigoNoticia=10805&codigoRet=214&bread=1> Acesso em 22 mai. 2010
47
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho permitiu ampliar o conhecimento sobre internacionalização bancária e
sobre o impacto das diretrizes de governo em empresas estatais. Foi possível demonstrar que a
internacionalização do Banco do Brasil é um processo peculiar, pois se diferencia de casos
evidenciados nos estudos de internacionalização bancária. Se a atuação internacional do
Banco do Brasil se desse conforme a teoria, seria esperado que em seu estágio inicial fossem
instaladas filiais em países próximos geográfica e culturalmente. No entanto, o Banco instalou
agências e escritórios de representação em países distantes, seguindo orientações do Governo,
como o apoio a brasileiros que estavam no exterior devido à Guerra, o estímulo às
exportações brasileiras e o atendimento a embaixadas e consulados. É possível afirmar que o
Banco atuava como importante instrumento de política externa brasileiro.
Foi apontado que no fim da década de 1990 o banco passou por transformações para
o aprofundamento de sua transmutação em conglomerado financeiro. Esse fato, somado a
outras reformas ocorridas de modo a se melhorar a competitividade para concorrer com
bancos privados maiores ou bancos internacionais, resultaram num distanciamento do Banco
das diretrizes governamentais e de sua atuação internacional. A ênfase em sua missão pública
foi resgatada no governo Lula, que deu mais importância aos processos de internacionalização
de empresas como forma de inserção brasileira no mercado internacional.
No governo Lula, embora possa ser apontada uma similaridade entre a estratégia de
atuação internacional do Banco do Brasil e a de bancos privados, em relação à motivação –
instalação em países em que haja empresas brasileiras internacionalizadas –, é possível
evidenciar também a política externa como agente impulsionador desse processo. Como foi
demonstrado no terceiro capítulo, o Banco agiu como importante parceiro do governo no
suporte ao desenvolvimento nacional e à estabilidade financeira, e na promoção das relações
comerciais do Brasil. Também foi possível observar, neste capítulo, que novamente a atuação
internacional do Banco do Brasil se diferiu da teoria à medida em que assumiu maior
comprometimento, passando a operar com residentes, em países como os Estados Unidos e a
Argentina. Esse comportamento é, segundo a teoria, típico de um banco de país desenvolvido.
Ressalta-se, então, a importância e a peculiaridade do processo de internacionalização do
Banco do Brasil.
Ainda é interessante destacar que a reorganização da rede do Banco do Brasil nos
Estados Unidos, a autorização que o Banco recebeu do Banco Central Americano para
48
aquisição de instituições financeiras locais e ampliação de sua atuação no mercado de capitais
local e autorização para operar com residentes vieram logo depois da crise financeira de 2008,
num período de falta de credibilidade no sistema bancário dos Estados Unidos. Esse fato deu
margem para a entrada de um banco do mundo emergente que vem apresentando lucros
robustos nos últimos anos e uma solidez consequente de um sistema financeiro e de uma
economia consolidados. Dessa forma, o Banco ainda passa a imagem de um país de economia
consolidada e que pretende competir com bancos grandes de países desenvolvidos.
O Banco do Brasil procurou conciliar a eficiência e o retorno de capital esperados por
seus acionistas privados com sua função pública. Demonstrou-se que a aparente dicotomia
não funciona como um trade-off, em que é necessário escolher uma função à outra, mas sim
que é possível exercer sua função pública e ao mesmo tempo trazer os resultados esperados
pelos acionistas privados, como foi possível perceber nos lucros auferidos pelo Banco no
período de 2003 a 2010.
Foram apresentados, ainda, movimentos convergentes entre a atuação internacional
do Banco e as diretrizes da política externa brasileira. Conclui-se, depois do exposto, que
ainda que a função pública do Banco não tenha sido a única motivação ou o único
impulsionador do movimento internacional do Banco, ela certamente foi substancial. O estudo
possibilita, então, destacar a existência de uma sinergia entre os dois.
O principal objetivo exposto no trabalho foi alcançado, pois foi apresentada a
atuação internacional do Banco do Brasil no governo Lula e foi demonstrada a convergência
entre esta e as diretrizes de política externa do governo nesse período. A pesquisa apresentou
as principais formas de internacionalização dos bancos, bem como suas principais
motivações. Também expôs o histórico de internacionalização do sistema financeiro brasileiro
para em seguida trazer o histórico de atuação internacional do Banco do Brasil. Por fim, a
atuação internacional do Banco foi confrontada com a política externa do governo Lula.
Portanto, os objetivos específicos também foram alcançados.
Embora tenha-se chegado a essa conclusão, o assunto não só não se esgota aqui,
como permite que se abra um leque de opções para estudos direcionados ao tema principal.
Sugere-se ainda, a partir desta pesquisa, que outras sejam desenvolvidas para aprofundar o
tema, ou para avaliação de retorno financeiro do processo de internacionalização para um
banco estatal, ou de verificação da necessidade de empresas públicas para a consecução de
políticas governamentais.
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6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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