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    AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSAmile DurkheinINTRODUOOBJETO DA PESUISA !Sociologia religiosa e teoria do conhecimento.

    Propomo-nos estudar neste livro a religio mais primitiva e mais simples

    atualmente conhecida, fazer sua anlise e tentar sua explicao. Dizemos de um sistemareligioso que ele o mais primitivo que nos dado oservar, quando preenche as duascondi!es seguintes" em primeiro lugar, que se encontre em sociedades cu#a organizaono ultrapassada por nenhuma outra em simplicidade$% preciso, alm disso, que se#a

    poss&vel explic-lo sem fazer intervir nenhum elemento tomado de uma religioanterior.

    'aremos o esforo de descrever a economia desse sistema com a exatido e afidelidade de um etn(grafo ou de um historiador. )as nossa tarefa no se limitar a isso.* sociologia coloca-se prolemas diferentes daqueles da hist(ria ou da etnografia. +lano usca conhecer as formas extintas da civilizao com o nico o#etivo de conhec-las e reconstitu&-ias. omo toda cincia positiva, tem por o#eto, acima de tudo, explicar

    uma realidade atual, pr(xima de n(s, capaz, portanto de afetar nossas idias e nossosatos" essa realidade o homem e, mais especialmente, o homem de ho#e, poisestudaremos a religio arcaica que iremos aordar, pelo simples prazer de contar suasextravag/ncias e singularidades. 0e a tomamos como o#eto de nossa pesquisa que nos

    pareceu mais apta que outra qualquer para fazer entender a natureza religiosa dohomem, isto , para nos revelar um aspecto essencial e permanente da humanidade.

    )as essa proposio no deixa de provocar fortes o#e!es. onsidera-seestranho que, para chegar a conhecer a humanidade presente, se#a preciso comear porafastar-se dela e transportar-se aos comeos da hist(ria. +ssa maneira de procederafigura-se como particularmente paradoxal na questo que nos ocupa. De fato,costumam-se atriuir 1s religi!es um valor e uma dignidade desiguais% diz-se,geralmente, que nem todas contm a mesma parte de verdade. Parece, pois, que no se

    pode comparar as formas mais elevadas do pensamento religioso, com as maisinferiores sem reaixar as primeiras ao n&vel das segundas. *dmitir que os cultosgrosseiros das trios australianas podem a#udar-nos a compreender o cristianismo, porexemplo, no supor que este procede da mesma mentalidade, ou se#a, que feito dasmesmas supersti!es e repousa sore os mesmos erros2 +is a& como a import/nciate(rica algumas vezes atriu&da 1s religi!es primitivas p3de passar por &ndice de umairreligio-sidade sistemtica que, ao pre#ulgar os resultados da pesquisa, os viciava deantemo. 4o cae examinar aqui se houve realmente estudiosos que mereceram essacr&tica e que fizeram da hist(ria e da etnografia religiosa uma mquina de guerra contra

    a religio.+m todo caso, esse no poderia ser o ponto de vista de um soci(logo. omefeito, um postulado essencial da sociologia que uma instituio humana no poderepousar sore o erro e a mentira, caso contrrio no pode durar. 0e no estivessefundada na natureza das coisas, ela teria encontrado nas coisas resistncias insuperveis.*ssim, quando aordamos o estudo das religi!es primitivas com a certeza de que elas

    pertencem ao real e o exprimem% veremos esse princ&pio retomar a todo momento aolongo das anlises e das discuss!es a.seguir, e o que censuraremos nas escolas das quaisnos separamos precisamente hav-lo desconhecido. ertamente, quando se consideraapenas a letra das f(rmulas, essas crenas e prticas religiosas parecem, 1s vezes,desconcertantes, e podemos ser tentados a atriu&-5as a uma espcie de aerrao

    intr&nseca. )as, deaixo do s&molo, preciso saer atingir a realidade que ele figura elhe d sua significao verdadeira. 6s ritos mais raros ou os mais extravagantes, os

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    mitos mais estranhos traduzem alguma necessidade humana, algum aspecto da vida,se#a individual ou social. *s raz!es que o fiel concede a si pr(prio para #ustific-los

    podem ser - e muitas vezes, de fato, so - err3neas% mas as raz!es verdadeiras nodeixam de existir% compete 1 cincia descori-las.

    4o fundo, portanto, no h religi!es falsas. 7odas so verdadeiras a seu modo"

    todas correspondem, ainda que de maneiras diferentes, a condi!es dadas da existnciahumana. ertamente no imposs&vel disp3-las segundo uma ordem hierrquica. 8maspodem ser superiores a outras, no sentido de empregarem fun!es mentais maiselevadas, de serem mais ricas em idias e em sentimentos, de nelas haver maisconceitos, menos sensa!es e imagens, e de sua sistematizao ser mais elaorada. )as,

    por reais que se#am essa complexidade maior e essa mais alta idealidade, elas no sosuficientes para classificar as religi!es correspondentes em gneros separados. 7odasso igualmente religi!es, como todos os seres vivos so igualmente vivos, dos maishumildes plast&dios ao homem. Portanto, se nos dirigimos 1s religi!es primitivas, no com a idia de depreciar a religio de uma maneira geral% pois essas religi!es no somenos respeitveis que as outras% desempenham o mesmo papel% dependem das mesmas

    causas% portanto, podem servir muito em para manifestar a natureza da vida religiosae,conseq9entemente, para resolver o prolema que dese#amos tratar.

    )as por que conceder-lhes uma espcie de prerrogativa2 Por que. escolh-las depreferncia a todas as demais como o#eto de nosso estudo2 5sso se deve unicamente araz!es de mtodo. +m primeiro lugar, no podemos chegar a compreender as religi!esmais recentes a no ser acompanhando na hist(ria a maneira como elas

    progressivamente se compuseram. * hist(ria, com efeito, o nico mtodo de anliseexplicativa que poss&vel aplicar-lhes. 0( ela nos permite decompor uma instituio emseus elementos constitutivos, uma vez que nos mostra esses elementos nascendo notempo uns ap(s os outros. Por outro lado, ao situar cada um deles no con#unto decircunst/ncias em que se originou, ela nos proporciona o nico meio capaz dedeterminar 1s causas que o suscitaram. 7oda vez, portanto, que empreendemos explicaruma coisa humana, tomada num momento determinado do tempo - quer se trate de umacrena religiosa, de uma regra moral, de um preceito #ur&dico, de uma tcnica esttica,ou de um regime econ3mico -, preciso comear por remontar 1 sua forma maissimples e primitiva, procurar explicar os caracteres atravs dos quais ela se define nesse

    per&odo de sua existncia, fazendo ver, depois, de que maneira ela gradativamente sedesenvolveu e complicou, de que maneira tomou-se o que no momento considerado.

    6ra, concee-se sem dificuldade a import/ncia, para essa srie de explica!esprogressivas, da determinao do ponto de partida do qual elas dependem. +ra umprinc&pio cartesiano que, no encadeamento das verdades cient&ficas, o primeiro elo

    desempenha um papel preponderante. laro que no se trata de colocar na ase dacincia das religi!es uma noo elaorada 1 maneira cartesiana, isto , um conceitol(gico, um puro poss&vel, constru&do pelas foras do esp&rito. 6 que devemos encontrar uma realidade concreta que s( a oservao hist(rica e etnogrfica capaz de nosrevelar. )as, emora essa concepo fundamental deva ser otida por procedimentosdiferentes, continua sendo verdadeiro que ela chamada a ter uma influnciaconsidervel sore toda a srie de proposi!es que a cincia estaelece. * evoluo

    iol(gica foi conceida de forma completamente diferente a partir do momento em quese soue da existncia de seres monocelulares. *ssim tamm, o detalhe dos fatosreligiosos explicado diferentemente, conforme se ponha na origem da evoluo onaturismo, o animismo ou alguma outra forma religiosa. )esmo os estudiosos mais

    especializados, se no pretendem limitar-se a uma tarefa de pura erudio, se dese#amexplicar os fatos que analisam, so origados a escolher uma dessas hip(teses e nela se

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    inspirar. ;ueiram ou no, as quest!es que eles se colocam adquirem necessariamente aseguinte forma" de que maneira o naturismo ou o animismo foram determinados aadotar, aqui ou acol, tal aspecto particular, a enriquecer-se ou a emporecer-se deste oudaquele modo2 8ma vez que no se pode evitar tomar um partido sore esse prolemainicial, e uma vez que a soluo que lhe dada est destinada a afetar o con#unto da

    cincia, convm aord-lo frontalmente. < o que nos propomos fazer.*lis, inclusive sem considerar essas repercuss!es indiretas, o estudo dasreligi!es primitivas tem, por si mesmo, um interesse imediato que de primeiraimport/ncia. 0e, de fato, til saer em que consiste esta ou aquela religio particular,importa ainda mais examinar o que a religio de uma maneira geral. < o prolemaque, em todas as pocas, tentou a curiosidade dos fil(sofos, e no sem razo, pois eleinteressa 1 humanidade inteira. 5nfelizmente, o mtodo que eles costumam empregar

    para resolv-lo puramente dialtico" limitam-se a analisar a idia que fazem dareligio, quando muito ilustrando os resultados dessa anlise com exemplos tomadosdas religi!es que realizam melhor seu ideal. )as, se esse mtodo deve ser aandonado,o prolema permanece de p e o grande servio que a filosofia prestou foi impedir que

    ele fosse prescrito pelo desdm dos eruditos. 6ra, tal prolema pode ser retomado poroutras vias. omo todas as religi!es so comparveis, e como todas so espcies de ummesmo gnero, h necessariamente elementos essenciais que lhes so comuns.

    om isso, no nos referimos simplesmente aos caracteres exteriores e vis&veisque todas apresentam igualmente e que lhes permitem dar, desde o in&cio da pesquisa,uma definio provis(ria% a descoerta desses signos aparentes relativamente fcil,

    pois a oservao que exige no precisa ir alm da superf&cie das coisas. )as assemelhanas exteriores sup!em outras, que so profundas. 4a ase de todos os sistemasde crenas e de todos os cultos, deve necessariamente haver um certo nmero derepresenta!es fundamentais e de atitudes rituais que, apesar da diversidade de formasque tanto umas como outras puderam revestir, tm sempre a mesma significaoo#etiva e desempenham por toda parte as mesmas fun!es. 0o esses elementos

    permanentes que constituem o que h de eterno e de humano na religio% eles so ocontedo o#etivo da idia que se exprime quando se fala da religio em geral. De quemaneira, portanto, poss&vel atingi-los2 .

    4o, certamente, oservando as religi!es complexas que aparecem na seq9nciada hist(ria. ada uma formada de tal variedade de elementos, que muito dif&cildistinguir nelas o secundrio do principal e o essencial do acess(rio. ;ue se pense emreligi!es como as do +gito, da =ndia ou da *ntiguidade clssica> < uma trama espessade cultos mltiplos, variveis com as localidades, com os templos, com as gera!es, asdinastias, as invas!es, etc. 4elas, as supersti!es populares esto mescladas aos dogmas

    mais refinados. 4em o pensamento, nem a atividade religiosa encontram-se igualmentedistriu&dos na massa dos fiis% conforme os homens, os meios, as circunst/ncias, tantoas crenas como os ritos so experimentados de formas diferentes. *qui, so sacerdotes,ali, monges% alhures, leigos% h m&sticos e racionalistas, te(logos e profetas, etc. +m taiscondi!es, dif&cil perceer o que comum a todos. laro que se pode encontrar omeio de estudar proveitosamente, atravs de um ou outro desses sistemas, este ouaquele fato particular que neles se acha especial-mente desenvolvido, como o sacrif&cioou o profetismo, a vida monstica ou os mistrios% mas como descorir o fundo comumda vida religiosa so a luxuriante vegetao que a recore2 omo, so o choque dasteologias, das varia!es dos rituais, da multiplicidade dos grupos, da diversidade dosindiv&duos, encontrar os estados fundamentais caracter&sticos da mentalidade religiosa

    em geral2

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    *lgo em diferente ocorre nas sociedades inferiores. 6 menor desenvolvimento dasindividualidades, a menor extenso do grupo, a homogeneidade das circunst/nciasexteriores, tudo contriui para reduzir as diferenas e as varia!es ao m&nimo. 6 gruporealiza, de maneira regular, uma uniformidade intelectual e moral cu#o exemplo s(raramente se encontra nas sociedades mais avanadas. 7udo comum a todos.

    6s movimentos so estereotipados% todos executam os mesmos nas mesmascircunst/ncias, e esse conformismo da conduta no faz seno traduzir o do pensamento.0endo todas as conscincias arrastadas nos mesmos turilh!es, o tipo individual

    praticamente se confunde com o tipo genrico. *o mesmo tempo em que tudo uniforme, tudo simples. 4ada mais tosco que esses mitos compostos de um mesmo enico tema que se repete sem cessar, que esses ritos feitos de um pequeno nmero degestos recomeados interminavelmente. * imaginao popular ou sacerdotal no teveainda tempo nem meios de reafirmar e transformar a matria-prima das idias e prticasreligiosas% esta se mostra, portanto, nua e se oferece espontaneamente 1 oservao, queno precisa mais que um pequeno esforo para descori-la. 6 acess(rio, o secundrio,os desenvolvimentos de luxo no vieram ainda ocultar o principal:.

    7udo reduzido ao indispensvel, 1quilo sem o que no poderia haver religio.)as o indispensvel tamm o essencial, ou se#a, o que acima de tudo nos importaconhecer..@ As civiliza!es primitivas constituem, portanto, casos privilegiados, porserem casos simples. +is por que, em todas as ordens de fatos, as oserva!es dosetn(grafos foram com freq9ncia verdadeiras revela!es que renovaram o estudo dasinstitui!es humanas. Por exemplo, antes da metade do sculo A5A, todos estavamconvencidos de que o pai era o elemento essencial da fam&lia% no se conceia sequerque pudesse haver uma organizao familiar cu#a pedra angular no fosse o poder

    paterno.* descoerta de Bachofen veio derruar essa velha concepo. *t tempos em

    recentes, considerava-se evidente que as rela!es morais e #ur&dicas que constituem oparentesco fossem apenas um outro aspecto das rela!es fisiol(gicas que resultam dacomunidade de descendncia% Bachofen e seus sucessores, )ac Cennan, )organ emuitos outros, estavam ainda so a influncia desse preconceito. Desde queconhecemos a natureza do cl primitivo, saemos, ao contrrio, que o parentesco no

    poderia ser definido pela consang9inidade. Para voltarmos 1s religi!es, a simplesconsiderao das formas religiosas que nos so mais familiares fez acreditar durantemuito tempo que a noo de deus era caracter&stica de tudo o que religioso. 6ra, areligio que estudaremos mais adiante , em grande parte, estranha a toda idia dedivindade% as foras 1s quais se dirigem seus ritos so muito diferentes daquelas queocupam o primeiro lugar em nossas religi!es modernas% no ostante, elas nos a#udaro

    a melhor compreender estas ltimas. *ssim, nada mais in#usto que o desdm que muitoshistoriadores conservam ainda pelos traalhos dos etn(grafos. < certo, ao contrrio, quea etnografia determinou muitas vezes, nos diferentes ramos da sociologia, as maisfecundas revolu!es. *lis, pela mesma razo que a descoerta dos seresmonocelulares, de que falvamos h pouco, transformou a idia que se faziacorrentemente da vida. omo nos seres muito simples a vida se reduz a seus traosessenciais, estes dificilmente podem ser ignorados. ..

    )as as religi!es primitivas no permitem apenas destacar os elementosconstitutivos da religio% tm tamm a grande vantagem de facilitar sua explicao.Posto que nelas os fatos so mais simples, as rela!es entre os fatos so tamm maisevidentes. As raz!es pelas quais os homens explicam seus atos no foram ainda

    elaoradas e desnaturadas por uma reflexo erudita% esto mais pr(ximas, maischegadas 1s motiva!es que realmente determinaram esses atos. Para compreender em

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    um del&rio e poder aplicar-lhe o tratamento mais apropriado, o mdico tem necessidadede saer qual foi seu ponto de partida. 6ra, esse acontecimento tanto mais fcil dediscernir quanto mais se puder oservar tal del&rio num per&odo pr(ximo de seu comeo.*o contrrio, quanto mais a doena se desenvolve no tempo, mais ela se furta 1oservao" que, pelo caminho, uma srie de interpreta!es intervieram, tendendo a

    recalcar no inconsciente o estado original e a sustitu&-lo por outros, atravs dos quais dif&cil 1s vezes reencontrar o primeiro. +ntre um del&rio sis tematizado e as impress!esprimeiras que lhe deram origem, a dist/ncia geralmente considervel.

    6 mesmo vale para o pensamento religioso. F medida que ele progride nahist(ria, as causas que o chamaram 1 existncia, emora sempre permanecendo ativas,no so mais perceidas, seno atravs de um vasto sistema de interpreta!es que asdeformam.As mitologias populares e as sutis teologias fizeram sua ora" sorepuseramaos sentimentos primitivos sentimentos muito diferentes que, emora ligados aos

    primeiros, dos quais so a forma elaorada, s( imperfeitamente deixam transparecer suanatureza verdadeira. * dist/ncia psicol(gica entre a causa e o efeito, entre a causaaparente e a causa efetiva, tomou-se mais considervel e mais dif&cil de percorrer para o

    esp&rito. 6 desenvolvimento desta ora ser uma ilustrao e uma verificao dessaoservao metodol(gica. Geremos de que maneira, nas religi!es primitivas, o fatoreligioso traz ainda vis&vel a marca de suas$H origens" em mais dif&cil nos teria sidoinferi-las com ase na simples considerao das religi!es mais desenvolvidas.

    6 estudo que empreendemos , portanto, uma maneira de retomar, mas emcondi!es novas, o velho prolema da origem das religi!es. 0e, por origem, entende-seum primeiro comeo asoluto, por certo a questo nada tem de cient&fica e deve serresolutamente descartada. 4o h um instante radical em que a religio tenha comeadoa existir, e no se trata de encontrar um expediente que nos permita transportar-nos a eleem pensamento. omo toda instituio humana, a religio no comea em parte alguma.*ssim, todas as especula!es desse gnero so #ustamente desacreditadas% s( podemconsistir em constru!es su#etivas e aritrrias que no comportam controle de espciealguma.

    Bem diferente o prolema que colocamos. Iostar&amos de encontrar um meiode discernir as causas, sempre presentes, de que dependem as formas mais essenciais do

    pensamento e da prtica religiosa. 6ra, pelas raz!es que acaam de ser expostas, essascausas so mais facilmente oservveis quando as sociedades em que as oservamosso menos complicadas. +is por que uscamos nos aproximar das origens ? . 4o que

    pretendamos atriuir 1s religi!es inferiores virtudes particulares. Pelo contrrio, elas sorudimentares e grosseiras% no o caso, portanto, de fazer delas modelos que asreligi!es posteriores apenas teriam reproduzido. )as seu pr(prio aspecto grosseiro as

    torna instrutivas, pois, deste modo, elas constituem experincias c3modas em que osfatos e suas rela!es so mais fceis de perceer. 6 f&sico, para descorir as leis dosfen3menos que estuda, procura simplificar esses ltimos, desemara-los de seuscaracteres secundrios. 4o que concerne 1s institui!es, a natureza faz espontaneamentesimplifica!es do mesmo tipo no in&cio da hist(ria.

    ;ueremos apenas tirar proveito delas. + claro que s( poderemos atingir, por essemtodo, fatos muito elementares. ;uando, na medida do poss&vel,.$$ os tivermosatingido, ainda assim no estaro explicadas as novidades de todo tipo que se

    produziram na seq9ncia da evoluo. )as, se no pensamos em negar a import/nciados prolemas que elas colocam, #ulgamos que tais prolemas ganham em ser tratadosna sua devida hora, e que h interesse em aord-los somente depois daqueles cu#o

    estudo iremos empreender.

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    55 - )as nossa pesquisa no interessa apenas 1 cincia das religi!es. 7odareligio, com efeito, tem um lado pelo qual vai alm do c&rculo das idias propriamentereligiosas e, sendo assim, o estudo dos fen3menos religiosos fornece um meio derenovar prolemas que at agora s( foram deatidos entre fil(sofos.

    K muito se sae que os primeiros sistemas de representa!es que o homem

    produziu do mundo e de si pr(prio so de origem religiosa. 4o h religio que no se#auma cosmologia ao mesmo tempo que uma especulao sore o divino. 0e a filosofia eas cincias nasceram da religio, que a pr(pria religio comeou por fazer as vezes decincias e de filosofia. )as o que foi menos notado que ela no se limitou a enriquecercom um certo nmero de idias um esp&rito humano previamente formado% tammcontriuiu para formar esse esp&rito. 6s homens no lhe devem apenas, em partenotvel, a matria de seus conhecimentos, mas igualmente a forma segundo a qual essesconhecimentos so elaorados.

    4a raiz de nossos #ulgamentos, h um certo nmero de no!es essenciais quedominam toda a nossa vida intelectual% so aquelas que os$: fil(sofos, desde*rist(teles, chamam de categorias do entendimento" no!es de tempo, de espao E , de

    gnero, de nmero, de causa, de sust/ncia, de personalidade, etc. +las correspondem 1spropriedades mais universais das coisas. 0o como quadros s(lidos que encerram opensamento% este no parece poder liertar-se deles sem se destruir, pois tudo indica queno podemos pensar o#etos que no este#am no tempo ou no espao, que no se#amnumerveis, etc. *s outras no!es so contingentes e m(veis% conceemos que possamfaltar a um homem, a uma sociedade, a uma poca, enquanto aquelas nos parecem quaseinseparveis do funcionamento normal do esp&rito. 0o como a os satura da inteligncia.

    6ra, quando analisamos metodicamente as crenas religiosas primitivas,encontramos naturalmente em nosso caminho as principais dessas categorias. +lasnasceram na religio e da religio, so um produto do pensamento religioso. < umaconstatao que haveremos de fazer vrias vezes ao longo desta ora. +ssa oservao

    possui # um interesse por si pr(pria% mas eis o que lhe confere seu verdadeiro alcance.* concluso geral do livro que se ir ler que a religio uma coisa

    eminentemente social. *s representa!es religiosas so representa!es coletivas queexprimem realidades coletivas% os ritos so maneiras de agir que s( surgem no interiorde grupos coordenados e se destinam a suscitar, manter ou refazer alguns estadosmentais desses grupos. )as, ento, se as categorias so de origem religiosa, elas devem

    participar da natureza comum a todos os fatos religiosos" tamm elas devem ser coisassociais, produtos do pensamento coletivo. omo, no estado atual de nossosconhecimentos desses assuntos, devemos evitar toda tese radical e exclusiva, pelomenos leg&timo supor que se#am ricas em elementos sociais. *lis, o que se pode,

    desde #, entrever para algumas delas. ;ue se tente, por exemplo, imaginar o que seria anoo de tempo, se$? pusssemos de lado os procedimentos pelos quais o dividimos, omedimos, o exprimi mos atravs de marcas o#etivas, um tempo que no seria umasucesso de anos, meses, semanas, dias e horas> 0eria algo mais ou menos impensvel.0( podemos conceer o tempo se nele distinguirmos momentos diferentes. 6ra, qual aorigem dessa diferenciao2 ertamente os estados de conscincia que #experimentamos podem reproduzir-se em n(s, na mesma ordem em que sedesenrolaram primitivamente% e, assim, por!es de nosso passado voltam a nos ser

    presentes, emora distinguindo-se espontaneamente do presente.)as, por importante que se#a essa distino para nossa experincia privada, ela

    est longe de astar para constituir a noo ou categoria de tempo. +sta no consiste

    simplesmente numa comemorao, parcial ou integral, de nossa vida transcorrida. < umquadro astrato e impessoal que envolve no apenas nossa existncia individual, mas a

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    da humanidade. < como um painel ilimitado, em que toda a durao se mostra so oolhar do esp&rito e em que todos os acontecimentos poss&veis podem ser situados emrelao a pontos de referncia fixos e determinados. 4o o meu tempo que est assimorganizado% o tempo tal como o#etivamente pensado por todos os homens de umamesma civilizao. *penas isso # suficiente para fazer entrever que uma tal

    organizao deve ser coletiva. +, de fato, a oservao estaelece que esses pontos dereferncia indispensveis, em relao aos quais todas as coisas se classificamtemporalmente, so tomados da vida social.

    *s divis!es em dias, semanas, meses, anos, etc., correspondem 1 periodicidadedos ritos, das festas, das cerim3nias plicas J . 8m calendrio exprime o ritmo daatividade coletiva, ao mesmo tempo que tem por funo assegurar sua regularidade L .6 mesmo acontece com o espao. omo demonstrou Kamelin M , o espao no essemeio vago e indeterminado que Nant havia imaginado" puramente e asolutamentehomogneo, ele no serviria para nada e sequer$E daria ense#o ao pensamento. *representao espacial consiste essencialmente numa primeira coordenao introduzidaentre os dados da experincia sens&vel. )as essa coordenao seria imposs&vel se as

    partes do espao se equivalessem qualitativamente, se fossem realmente intercamiveisumas pelas outras. Para poder dispor espacialmente as coisas, preciso poder situ-lasdiferentemente" colocar umas 1 direita, outras 1 esquerda, estas em cima, aquelasemaixo, ao norte ou ao sul, a leste ou a oeste, etc., do mesmo modo que, para disportemporalmente os estados da conscincia, cumpre poder localiz-los em datasdeterminadas. Gale dizer que o espao no poderia ser ele pr(prio se, assim como otempo, no fosse dividido e diferenciado. )as essas divis!es, que lhe so essenciais, deonde provm2 Para o espao mesmo, no h direita nem esquerda, nem alto nem aixo,nem norte nem sul. 7odas essas distin!es provm, evidentemente, de terem sidoatriu&dos valores afetivos diferentes 1s regi!es. +, como todos os homens de umamesma civilizao representam-se o espao da mesma maneira, preciso,evidentemente, que esses valores afetivos e as distin!es que deles dependem lhesse#am igualmente comuns% o que implica quase necessariamente que tais valores edistin!es so de origem sociais @ .

    Por sinal, h casos em que esse carter social tornou-se manifesto. +xistemsociedades na *ustrlia ou na *mrica do 4orte em que o espao. conceido so aforma de um c&rculo imenso, porque o pr(prio acampamento tem uma forma circular ,e o c&rculo espacial exatamente dividido como o c&rculo trial e 1 imagem desteltimo. Distinguem-se tantas regi!es quantos so os cls da trio, e o lugar ocupado

    pelos cls no interior do acampamento que determina a orientao das regi!es. adaregio define-se pelo totem do cl ao qual ela destinada. +ntre os zuni, por exemplo, o

    pueblo compreende sete quarteir!es% cada um deles um grupo de cls que teve suaunidade" com toda a certeza, havia$J primitivamente um nico cl que depois sesudividiu. 6ra, o espao compreende igualmente sete regi!es e cada um desses se tequarteir!es do mundo est em &ntima relao com um quarteiro dopueblo, isto , comum grupo de cls $H . O*ssim, diz ushing, uma diviso deve estar em relao com onorte% uma outra representa o oeste, uma terceira o sul $$ , etc.O ada quarteiro do

    pueblo tem sua cor caracter&stica que o simoliza% cada regio do espao tem a sua, que exatamente a do quarteiro correspondente. *o longo da hist(ria, o nmero de clsfundamentais variou% o nmero de regi!es variou da mesma maneira. *ssim, aorganizao social foi o modelo da organizao espacial, que uma espcie de decalqueda primeira. *t mesmo a distino de direita e esquerda, longe de estar implicada na

    natureza do homem em geral, muito provavelmente o produto de representa!esreligiosas, portanto coletivas $: . )ais adiante sero encontradas provas anlogas

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    relativas 1s no!es de gnero, de fora, de personalidade, de eficcia. Pode-se mesmoperguntar se a noo de contradio no depende, tamm ela, de condi!es sociais.

    6 que leva a pensar assim que a influncia que ela exerceu sore o pensamentovariou segundo as pocas e as sociedades. 6 princ&pio de identidade domina ho#e o

    pensamento cient&fico% mas h vastos sistemas de representa!es que desempenharam

    na hist(ria das idias um papel considervel e nos quais ele freq9entemente ignorado"so as mitologias, desde as mais grosseiras at as mais elaoradas $? . +las tratam semparar de seres que tm simultaneamente os atriutos mais contradit(rios, que so aomesmo tempo unos e mltiplos, materiais e espirituais, que podem sudividir-seindefinidamente sem nada perder daquilo que os constitui em mitologia, um axioma a

    parte equivaler ao todo. +ssas varia!es a que se sumeteu na hist(ria a regra queparece governar nossa l(gica atual provam que, longe de estar inscrita desde toda aeternidade na constituio mental do homem, essa regra depende, pelo menos em parte,de fatores $L hist(ricos, e portanto sociais. 4o saemos exatamente que fatores soesses, mas podemos presumir que existem $E . 8ma vez admitida essa hip(tese, o

    prolema do conhecimento coloca-se em novos termos. *t o presente, duas doutrinas

    apenas haviam se defrontado. Para uns, as categorias no podem ser derivadas daexperincia" so logicamente anteriores a ela e a condicionam.

    0o representadas como dados simples, irredut&veis, imanentes ao esp&ritohumano em virtude de sua constituio natural. Por isso se diz dessas categorias queelas so a priori. Para outros, ao contrrio, elas seriam constru&das, feitas de peas e

    pedaos, e o indiv&duo que seria o operrio dessa construo $J . )as amas assolu!es levantam graves dificuldades. *dotaremos a tese empirista2 +nto, cumpreretirar das categorias todas as suas propriedades caracter&sticas. om efeito, elas sedistinguem de todos os outros conhecimentos por sua universalidade e sua necessidade.+las so os conceitos mais gerais que existem, # que se aplicam a todo o real e, mesmono estando ligadas a algum o#eto particular, so independentes de todo su#eitoindividual" so o lugar-comum em que se encontram todos os esp&ritos. )ais" estes seencontram necessariamente a&, pois a razo, que no outra coisa seno o con#unto dascategorias fundamentais, investida de uma autoridade 1 qual no podemos nos furtar 1vontade. ;uando tentamos insurgir-nos contra ela, liertar-nos de algumas dessasno!es essenciais, deparamo-nos com fortes resistncias. Portanto, elas no apenas nodependem de n(s, como tamm se imp!em a n(s. 6ra, os dados emp&ricos apresentamcaracter&sticas diametralmente opostas. 8ma sensao, uma imagem se relacionamsempre a um o#eto determinado ou a uma coleo de o#etos desse gnero e exprimemo estado moment/neo de uma conscincia particular" elas so essencialmenteindividuais e su#etivas. *ssim, podemos.$M dispor, com relativa lierdade, das

    representa!es que tm essa origem. < claro que, quando nossas sensa!es so atuais,elas se imp!em a n(s de fato. )as, de direito, temos o poder de conce-las de maneiradiferente do que so, de represent-las como se transcorressem numa ordem distintadaquela na qual se produziram. Diante delas, nada nos prende, enquanto considera!esde um outro gnero no intervierem.

    +is, portanto, dois tipos de conhecimentos que se encontram como que nos doisp(los contrrios da inteligncia. 4essas condi!es, sumeter a razo 1 experincia faz-a desaparecer, pois reduzir a universalidade e a necessidade que a caracterizam aserem apenas puras aparncias, ilus!es que, na prtica, podem ser c3modas, mas que anada correspondem nas coisas% conseq9entemente, recusar toda realidade o#etiva 1vida l(gica que as categorias tm por funo regular e organizar. 6 empirismo clssico

    conduz ao irracionalismo% talvez at se#a por esse ltimo nome que convenha design-lo.

    @

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    6s aprioristas, apesar do sentido ordinariamente associado 1s denomina!es, somais respeitosos com os fatos. que no admitem como verdade evidente que ascategorias so feitas dos mesmos elementos que nossas representa!es sens&veis, elesno so origados a emporec-las sistematicamente, a esvazi-as de todo contedoreal, a reduzi-5as a ser apenas artif&cios verais. *o contrrio, conservam todas as

    caracter&sticas espec&ficas delas. 6s aprioristas so racionalistas% crem que o mundotem um aspecto l(gico que a razo exprime eminentemente. )as, para isso, precisamatriuir ao esp&rito um certo poder de ultrapassar a experincia, de acrescentar algo aoque lhe imediatamente dado% ora, desse poder singular, eles no do explicao nem

    #ustificao. Pois no explicar dizer apenas que esse poder inerente 1 natureza dainteligncia humana. 0eria preciso fazer entender de onde tiramos essa surpreendente

    prerrogativa e de que maneira podemos ver, nas coisas, rela!es que o $@ espetculo dascoisas no poderia nos revelar. Dizer que a pr(pria experincia s( poss&vel com essacondio, talvez deslocar o prolema, no resolv-lo. Pois se trata precisamente desaer por que a experincia no se asta, mas sup!e condi!es que lhe so exteriores eanteriores, e de que maneira essas condi!es so realizadas quando e como convm.

    Para responder a essas quest!es, imaginou-se 1s vezes, por cima das raz!es individuais,uma razo superior e perfeita da qual as primeiras emanariam e na qual conservariam,

    por uma espcie de participao m&stica, sua maravilhosa faculdade" a razo divina.)as essa hip(tese tem, no m&nimo, o grave inconveniente de sutrair-se a todo controleexperimental% no satisfaz, portanto, 1s condi!es requeridas de uma hip(tese cient&fica.*lm disso, as categorias do pensamento humano #amais so fixadas de uma formadefinida% elas se fazem, se desfazem, se refazem permanentemente% mudam conforme oslugares e as pocas. * razo divina, ao contrrio, imutvel. De que modo essaimutailidade poderia explicar essa incessante variailidade2

    7ais so as duas concep!es que h sculos se chocam uma contra a outra% e, seo deate se eterniza, que na verdade os argumentos trocados se equivalemsensivelmente. 0e a razo apenas uma forma da experincia individual, no existemais razo. Por outro lado, se reconhecemos os poderes que ela se atriui, mas sem

    #ustific-los, parece que a colocamos fora da natureza e da cincia. +m presena dessaso#e!es opostas, o esp&rito permanece incerto. )as, se admitirmos a origem social dascategorias, uma nova atitude torna-se poss&vel, atitude que permitiria, acreditamos n(s,escapar a essas dificuldades contrrias.

    * proposio fundamental do apriorismo que o conhecimento formado deduas espcies de elementos irredut&veis um ao outro e como que de duas camadasdistintas e superpostas $L . 4ossa hip(tese mantm integralmente esse princ&pio. Defato, os conhecimentos que chamamos$ emp&ricos, os nicos que os te(ricos do

    empirismo utilizaram para construir a razo, so aqueles que a ao direta dos o#etossuscita em nossos esp&ritos. 0o, portanto, estados individuais, que se explicaminteiramente 5M pela natureza ps&quica do indiv&duo. *o contrrio, se as categorias so,como pensamos, representa!es essencialmente coletivas, elas traduzem antes de tudoestados da coletividade" dependem da maneira como esta constitu&da e organizada, desua morfologia, de suas institui!es religiosas, morais, econ3micas, etc. K, portanto,entre essas duas espcies de representa!es toda a dist/ncia que separa o individual dosocial, e no se pode mais derivar as segundas das primeiras, como tampouco se podededuzir a sociedade do indiv&duo, o todo da parte, o complexo do simples $@ . *sociedade uma realidade sui generis; tem suas caracter&sticas pr(prias que no seencontram, ou que no se encontram da mesma forma, no resto do universo. *s

    representa!es que a exprimem tm, portanto, um contedo completamente distinto dasrepresenta!es puramente individuais, e podemos estar certos de antemo de que as

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    primeiras acrescentam algo 1s segundas. * maneira como amas se formam acaa pordiferenci-las. *s representa!es coletivas so o produto de uma imensa cooperao quese estende no apenas no espao, mas no tempo% para cri-las, uma multido de esp&ritosdiversos associou, misturou, cominou suas idias e seus sentimentos% longas sries degera!es nelas acumularam sua experincia e seu saer. 8ma intelectualidade muito

    particular infinitamente mais rica e mais complexa que a do indiv&duo, encontra-se,portanto como que concentrada a&. ompreende-se, assim, de que maneira a razo tem opoder de ultrapassar o alcance dos conhecimentos emp&ricos. 4o deve isso a umavirtude misteriosa qualquer, mas simplesmente ao fato de que, segundo uma f(rmulaconhecida, o homem duplo. K dois seres nele" um ser individual, que tem sua ase noorganismo e cu#o c&rculo de ao.:H se acha, por isso mesmo, estreitamente limitado, eum ser social, que representa em n(s a mais elevada realidade, na ordem intelectual emoral, que podemos conhecer pela oservao, quero dizer, a sociedade. +ssa dualidadede nossa natureza tem por conseq9ncia, na ordem prtica, a irredutiilidade do idealmoral ao m(il utilitrio, e, na ordem do pensamento, a irredutiilidade da razo 1experincia individual. 4a medida em que participa da sociedade.- 6 indiv&duo

    naturalmente ultrapassa a si mesmo, se#a quando pensa, se#a quando age. +sse mesmocarter social permite compreender de onde vem a necessidade das categorias. Diz-se deuma idia que ela necessria quando, por uma espcie de virtude interna, imp!e-se aoesp&rito sem ser acompanhada de nenhuma prova. K, portanto, nela, algo que origa ainteligncia, que conquista a adeso, sem exame prvio. +ssa eficcia singular, oapriorismo a postula, mas sem se dar conta disso, pois dizer que as categorias sonecessrias por serem indispensveis ao funcionamento do pensamento, simplesmenterepetir que so necessrias. )as se elas tm a origem que lhes atriu&mos, no h nadamais que surpreenda em sua autoridade. om efeito, elas exprimem as rela!es maisgerais que existem entre as coisas% ultrapassando em extenso todas as nossas outrasno!es, dominam todo detalhe de nossa vida intelectual. 0e, portanto, a cada momentodo tempo, os homens no se entendessem acerca dessas idias essenciais, se notivessem uma concepo homognea do tempo, do espao, da causa, do nmero, etc.,toda concord/ncia se tomaria imposs&vel entre as inteligncias e, por conseguinte, todavida em comum. *ssim, a sociedade no pode aandonar as categorias ao livre ar&triodos particulares sem se aandonar ela pr(pria. Para poder viver, ela no necessitaapenas de um suficiente conformismo moral" h um m&nimo de conformismo l(gicosem o qual ela tamm no pode passar. Por essa razo, ela pesa com toda a suaautoridade sore seus.:$ memros a fim de prevenir as dissidncias. 0e um esp&ritoinfringe ostensivamente essas normas do pensamento, ela no o considera mais umesp&rito humano no sentido pleno da palavra, e trata-o em conformidade. Por isso,

    quando tentamos, mesmo em nosso foro interior, liertar-nos dessas no!esfundamentais, sentimos que no somos completamente livres, que algo resiste a n(s,dentro e fora de n(s. 'ora de n(s, h a opinio que nos #ulga% mas, alm disso, como asociedade tamm representada em n(s, ela se op!e desde dentro de n(s a essasveleidades revolucionrias% temos a impresso de no podermos nos entregar a elas semque nosso pensamento deixe de ser um pensamento verdadeiramente humano. 7al

    parece ser a origem da autoridade muito especial inerente 1 razo e que nos faz aceitarcom confiana suas sugest!es. < a autoridade da sociedade mesma $ , comunicando-sea certas maneiras de pensar que so como as condi!es indispensveis de toda aocomum. * necessidade com que as categorias se imp!em a n(s no , portanto, o efeitode simples hitos de cu#o dom&nio poder&amos nos desvencilhar com um pouco de

    esforo% no tamm uma necessidade f&sica ou metaf&sica, # que as categoriasmudam conforme os lugares e as pocas" uma espcie particular de necessidade moral

    $H

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    que est para a vida intelectual assim como a origao moral est para a vontade :H.)as, se as categorias no traduzem originalmente seno estados sociais, no se segueda& que elas s( podem aplicar-se ao resto da natureza a t&tulo de metforas2 0e elas sofeitas unicamente para exprimir coisas sociais, parece que no poderiam ser estendidasaos outros reinos a no ser por conveno. *ssim, na medida em que nos servem para

    pensar o mundo f&sico ou iol(gico, s( poderiam ter o valor de s&molos artificiais,talvez teis na prtica, mas sem relao com a realidade. Portanto retornar&amos, poroutra via, ao nominalismo e ao empirismo. )as interpretar dessa maneira uma teoriasociol(gica do.:: conhecimento esquecer que, se a sociedade uma realidadeespec&fica, ela no , porm, um imprio dentro de um imprio" ela faz parte danatureza, sua manifestao mais elevada. 6 reino social um reino natural que nodifere dos outros, a no ser por sua maior complexidade. 6ra, imposs&vel que anatureza, no que tem de mais essencial, se#a radicalmente diferente de si. mesma aqui eali.As rela!es fundamentais que existem entre as coisas - #ustamente aquelas que ascategorias tm por funo exprimir - no poderiam, portanto, ser essencialmentedessemelhantes conforme os reinos. 0e, por raz!es que teremos de investigar :$ , elas

    soressaem de forma mais evidente no mundo social, imposs&vel que no seencontrem alhures, ainda que so formas mais encoertas. * sociedade as torna maismanifestas, mas ela no tem esse privilgio. +is a& como no!es que foram elaoradascom ase no modelo das coisas sociais podem a#udar-nos a pensar coisas de outranatureza. 0e essas no!es, quando assim desviadas de sua significao primeira,desempenham num certo sentido o papel de s&molos, so s&molos em-fundados. 0e,

    pelo simples fato de serem conceitos constru&dos, h a& um artif&cio, um artif&cio quesegue de perto a natureza e que se esfora por aproximar-se dela cada vez mais :: .Portanto, do fato de as idias de tempo, de espao, de gnero, de causa, de

    personalidade serem constru&das com elementos sociais, no se deve concluir que se#amdesprovidas de todo valor o#etivo. Pelo contrrio, sua origem social faz antes supor quetenham fundamento na natureza das coisas :? . *ssim renovada, a teoria doconhecimento parece destinada a reunir as vantagens contrrias das duas teorias rivais,sem seus inconvenientes. +la conserva todos os princ&pios essenciais do apriorismo%mas, ao mesmo tempo, inspira-se nesse esp&rito de positividade que o empirismo

    procurava satisfazer. onserva o poder espec&fico da razo, mas #ustifica-o, e sem sairdo mundo oservvel. *firma como real a dualidade de nossa vida.:? intelectual, masexplica-a, e mediante causas naturais. *s categorias deixam de ser consideradas fatos

    primeiros e no analisveis% no entanto, permanecem de uma complexidade que anlisessimplistas como aquelas com que se contentava o empirismo no poderiam vencer. Poiselas aparecem, ento, no mais como no!es muito simples que qualquer um capaz de

    extrair de suas oserva!es pessoais e que a imaginao popular desastradamente teriacomplicado, mas, ao contrrio, como heis instrumentos de pensamento, que os gruposhumanos laoriosamente for#aram ao longo dos sculos e nos quais acumularam omelhor deseu capital intelectual :E . 7oda uma parte da hist(ria da humanidade nelas seencontra como que resumida. Gale dizer que, para chegar a compreend-las e #ulg-las,cumpre recorrer a outros procedimentos que no aqueles utilizados at o presente. Parasaer de que so feitas essas concep!es que no foram criadas por n(s mesmos, no

    poderia ser suficiente interrogar nossa conscincia" para fora de n(s que devemosolhar, a hist(ria que devemos oservar, toda uma cincia que preciso instituir,cincia complexa, que s( pode avanar lentamente, por um traalho coletivo, e para aqual a presente ora traz, a t&tulo de ensaio, algumas contriui!es fragmentrias. 0e

    fazer dessas quest!es o o#eto direto de nosso estudo aproveitaremos toda ocasio quese oferecer para capta emseu nascimento pelo menos algumas dessas no!es, as quais,

    $$

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    emora religiosas por suas origens, haveriam de permanecer na ase da mentalidadehumana. :ELIVRO IUEST"ES PRELIMINARES#AP$TULO I

    DEFINI O DO FEN%MENO RELIGIOSO E DA RELIGIO &Para saer qual a religio mais primitiva e mais simples que a oservao nospermite conhecer, preciso primeiro definir o que convm entender por religio, casocontrrio correr&amos o risco de chamar de religio um sistema de idias e de prticasque nada teria de religioso, ou de deixar de lado fatos religiosos sem perceer suaverdadeira natureza. 6 que mostra em que o perigo nada tem de imaginrio e que demodo nenhum se trata de um vo formalismo metodol(gico que, por no havertomado essa precauo, um estudioso, a quem no ostante a cincia comparada dasreligi!es deve muito, o 0r. 'razer, no soue reconhecer o carter profundamentereligioso das crenas e dos ritos que sero estudados mais adiante e que, para n(s,constituem o germe inicial da vida religiosa da humanidade. K a&, portanto, uma

    questo que precede o #ulgamento e que deve ser tratada, antes de qualquer outra. 4oque possamos pensar em atingir desde # as caracter&sticas profundas e verdadeiramenteexplicativas da religio" elas s( podem ser determinadas ao trmino da pesquisa. )as oque necessrio e poss&vel indicar um certo nmero de sinais exteriores, facilmente

    percept&veis, que permitem reconhecer os fen3menos religiosos onde quer que seencontrem, e que impedem que os confundamos com :J outros. < a essa operao

    preliminar que iremos proceder.)as para que ela d os resultados esperados, devemos comear por liertar

    nosso esp&rito de toda idia preconceida. 6s homens foram origados a criar para siuma. noo do que a religio, em antes que a cincia das religi!es pudesse instituirsuas compara!es met(dicas. As necessidades da existncia nos origam a todos,crentes e incrdulos, a representar de alguma maneira as coisas no meio das quaisvivemos, sore as quais a todo momento emitimos #u&zos e que precisamos levar emconta em nossa conduta. )as como essas pr-no!es se formaram sem mtodo, segundoos acasos e as circunst/ncias da vida, elas no tm direito a crdito e devem sermantidas rigorosamente 1 dist/ncia do exame que iremos empreender. 4o a nossos

    preconceitos, a nossas paix!es, a nossos hitos que devem ser solicitados os elementosda definio que necessitamos% a realidade mesma que se trata de definir. oloquemo-nos, pois, diante dessa realidade. Deixando de lado toda concepo da religio em geral,consideremos as religi!es em sua realidade concreta e procuremos destacar o que elas

    podem ter em comum% pois a religio s( pode ser definida em funo das caracter&sticas

    que se encontram por toda parte onde houver religio. 5ntroduziremos portanto nessacomparao todos os sistemas religiosos que podemos conhecer, os do presente e os dopassado, os mais simples e primitivos assim como os mais recentes e refinados, pois notemos nenhum direito e nenhum meio l(gico de excluir .uns para s( reter os outros. Paraaquele que v na religio uma manifestao natural da atividade humana, todas asreligi!es so instrutivas, sem exceo, pois todas exprimem o homem 1 sua maneira e

    podem assim a#udar a compreender melhor esse aspecto de nossa natureza. *lis, vimoso quanto falta para que a melhor forma de estudar a religio se#a consider-la de

    preferncia so a forma que apresenta nos povos mais civilizados : ..:L)as, para a#udar o esp&rito a liertar-se dessas concep!es usuais que, por seu

    prest&gio, podem impedi-lo de ver as coisas tais como so, convm, antes de aordar a

    questo por nossa conta, examinar algumas das defini!es mais correntes nas quaisesses preconceitos vieram se exprimir.

    $:

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    5 - 8ma noo tida geralmente como caracter&stica de tudo o que religioso ade sorenatural. +ntende-se por isso toda ordem de coisas que ultrapassa o alcance denosso entendimento% o sorenatural o mundo do mistrio, do incognosc&vel, doincompreens&vel. * religio seria, portanto, uma espcie de especulao sore tudo oque escapa 1 cincia e, de maneira mais geral, ao pensamento claro. O*s religi!es, diz

    0pencer, diametralmente opostas por seus dogmas, concordam em reconhecertacitamente que o mundo, com tudo que contm e tudo que o cerca, um mistrio quepede uma explicaoO% portanto, ele as faz consistir essencialmente na Ocrena naonipresena de alguma coisa que vai alm da intelignciaO? . Do mesmo modo, )ax)9ller via em toda religio Oum esforo para conceer o inconce&vel, para exprimir oinexprim&vel, uma aspirao ao infinitoOE .

    < certo que o sentimento do mistrio no deixou de desempenhar um papelimportante em certas religi!es, especialmente no cristianismo. )as preciso acrescentarque a import/ncia desse papel variou singularmente nos diferentes momentos da hist(riacrist. K per&odos em que essa noo passa ao segundo plano e se apaga. Para oshomens do sculo AG55, por exemplo, o dogma nada tinha de perturador para a razo%

    a f conciliava-se sem dificuldade com a cincia e a filosofia, e pensadores comoPascal, que sentiam com intensidade o que h de profundamente oscuro nas :M coisas,estavam em to pouca harmonia com sua poca que permaneceram incompreendidos

    por seus contempor/neos J . Portanto, poderia ser precipitado fazer, de urna idia su#eitaa tais eclipses, o elemento essencial ainda que apenas da religio crist.

    +m todo caso, o que certo que essa noo s( aparece muito tarde na hist(riadas religi!es% ela totalmente estranha no somente aos povos chamados primitivos,mas tamm a todos os que no atingiram um certo grau de cultura intelectual. 0oretudo por causa dasimpress!es muito vagas que deixa na mem(ria, da pr(pria rapidez com quese apaga da lemrana" + como surpreendente, portanto, que um homemde uma inteligncia to rudimentar tenha despendido tantos esforos paraencontrar sua explicao> De suas duas existncias sucessivas, a diurna e anoturna, a primeira que devia interess-lo mais. 4o estranho que a

    segunda tenha cativado suficientemente sua ateno para que fizesse dela aase de todo um sistema de idias complicadas e destinadas a ter sore seupensamento e sua conduta uma influncia to profunda2.L@7udo tende a provar, portanto, que a teoria animista da alma, apesar docrdito que ainda desfruta, deve ser revisada. laro que, ho#e, o pr(prio

    primitivo atriui seus sonhos, ou alguns deles, 1s movimenta!es de seuduplo. )as isso no quer dizer que o sonho forneceu efetivamente oselementos com os quais a idia de duplo ou de alma foi constru&da% poisela pode ter sido aplicada posteriormente aos fen3menos do sonho, doxtase e da possesso, sem no entanto derivar deles. < freq9ente que umaidia, uma vez constitu&da, se#a empregada para coordenar ou esclarecer,com uma luz 1s vezes mais aparente que real, fatos com os quais ela

    primitivamente no se relacionava e que no podiam, por si pr(prios,sugeri-5a. Ko#e, prova-se correntemente Deus e a imortalidade da almamostrando que essas crenas decorrem dos princ&pios fundamentais damoral% em realidade, elas tm uma origem em diferente. * hist(ria do

    pensamento religioso poderia fornecer numerosos exemplos dessas#ustifica!es retrospectivas que nada podem nos ensinar sore a maneiracomo se formaram as idias nem sore os elementos que as comp!em.*lis, provvel que o primitivo distinga entre seus sonhos e noexplique todos da mesma forma... +m nossas sociedades europias, mesmo

    as pessoas, muitas ainda, para quem o sono uma espcie de estadomgico-religioso, no qual o esp&rito, aliviado parcialmente do corpo, temuma acuidade de viso que no possui durante a vig&lia, no chegam ao

    ponto de considerar todos os seus sonhos como intui!es m&sticas" muitopelo contrrio, vem na maior parte deles, como todo o mundo, apenasestados profanos, #ogos de imagens insignificantes, simples alucina!es. igion oftbeemites, :i ed., pp. :LE-:LJU. *lis, ao distinguir deste mo doa magia dareligio, no queremos estaelecer entre elas uma soluo de continuidade. *s fronteirasentre osdois dom& nios so, com freq9ncia, indecisas..@ML?. 6DR54I764, in 1rans. a 9roc. 6o. oe. of ictoria, AG5, p. $?L.LE. 4+IR568,Jei :enii presso i 6omani.LJ. < a concluso a que chega 0pencer em -cclesiastical nstitutions Qcap. AG5U. igion d/apres a pscbologie etl/bistoire, e detoda a escola 1 qual pertence.LL. +m muitos povos ind&genas da *mrica do 4orte, particularmente.LM. +ssa constatao de fato no resolve, alis, a questo de saer se a religio exterior e

    plica no apenas o desenvolvimento de uma religio interior e pessoal que seria o fato primitivo,

    ou se, aocontrrio, a segunda no seria o prolongamento da primeira no interior das conscinciasindividuais.6 prolema ser diretamente aordado mais adiante Qlivro $$, cap. 5G, X :. f. o mesmolivro, cap.G5 e G55, X $U. Por enquanto, limitamo -nos a assinalar que o culto individual apresenta-se aooservador como um elemento e uma dependncia do culto coletivo.L@. < deste modo que nossa definio atual aproxima-se da que propusemos outrora em

    @ /Annesociologi%ue. 4esse ltimo traalho, defin&amos exclusivamente as crenas religiosas

    por seu carter

    JH

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    origat(rio% mas essa origao advm evidentemente, como mostrvamos, do fato deque essascrenas pertencem a um grupo que as imp!e a seus memros. *s duas defini!es,

    portanto,sorep!em-se em parte. 0e #ulgamos dever propor uma nova, que a primeira era

    demasiado formale negligencia va por demais o contedo das representa!es religiosas. Gere mos, nasdiscuss!es quese seguem, que interesse havia em evidenciar de imediato o que esse contedo tem decaracter&stico.*lm disso, emora se#a realmente um trao distintivo das crenas religiosas, essecarterimperativo comporta um nmero de graus infinito% conseq9entemente, h casos em queno facil-mente

    percept&vel. Da& as dificuldades e emaraos que evitamos ao sustituir esse critrio poraquele que agora empregamos.Captulo 11$. Deixamos de lado, aqui, as teorias que, na totalidade ou em parte, fazem intervirdados supra-experimentais.< o caso soretudo da que *ndreV C*4I exp3s em seu livro 1be a=ing of

    6eligion e que P. 0K)5D7 retomou, com varia!es de detalhe, numa srie de artigossore@/orgine de l/ide de Jieu 0Antbropos, $H@, $HU. Cang no re#eita completamente oanimismonem o naturismo, mas, em ltima anlise, admite um sentido, uma intuio direta dodivino. *lis,se #ulgamos no dever expor e discutir essa concepo no presente cap&tulo, noqueremos silenciarsore ela% mais adiante a reencontraremos, quando n(s mesmos tivermos de explicar osfatos emque se ap(ia Qlivro $$, cap. 5A, X EU.:. < o caso, por exemplo, de '807+C D+ 68l.*4I+0 que aceita as duas concep!escon#untamenteQv. ?it anti%ue, livros 5 e 555, cap. 55U..?. *ssim, evons, emora criticando o animismo tal como 7Slor o exp3s, aceita suasteorias sore a

    gnese da idia de alma, sore o instinto antropom(rfico do homem. 5nversamente,80+4+R, em:!tternamen, mesmo re#eitando certas hip(teses de )ax )9ller que sero expostasmais adiante,admite os principais postulados do naturismo.". a ci$ilisation primiti$e, cap. A5-AG555.J. Ger9rincipes de sociologie,partes 5 e G5.L. < a palavra de que se serve 7Slor. +la tem o inconveniente de parecer implicar queexistem homensno sentido pr(prio do termo antes de haver uma civilizao. Por sinal, no h termoadequado para

    exprimir essa idia. 6 termo primitivo, que utilizamos preferencialmente na falta demelhor, est

    J$

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    longe, como dissemos, de ser satisfat(rio.M. 7`C6R, op. cit., 5, p. J:.@. Ger 0P+4+R,9rncipes de sociologie, 5, pp. :HJ ss. QParis, *lcanU e 7`C6R, op.cit., 5, pp. JH,J$M.

    . 7`C6R, $$, pp. $E? ss.54. bid.,pp. ?:L, JJJ..@@$$.9rncipes de sociologie, 5, p. [email protected]. 9rncipes de sociologie,pp. EMM ss.53. lbid.,p. JHE.5". bid.,pp. EM@ e J:@.$J. Ger mais adiante, livro $$, cap. G555.$L. f. 0P+4+R e I5CC+4, 1be Nati$e 1ribes of ?entral AustraFia, pp. $:?-$:M%07R+KC6[,Jie

    Aranda und @oritja tmme in >entral Australien, $$, pp. J: ss.52. be elanesians,pp. :E-:JH.

    $@. K6[l7f,be Nati$e 1rbes of outb*-ast Australia,p. ?J@ Qconforme I*064U.$. K6[575, ibid.,pp. E?E-EE:.:H. 6s negros da Iuin meridional, diz 7Slor, tm Odurante o sono quase tantos contatoscom os mortosquantos durante a vig&lia com os vivosO 0?i$ilisation primiti$e, 5, p. J$JU. 6 mesmoautor cita, a

    prop(sito desses povos, esta nota de um oservador" O+les consideram todos os seussonhos visitasdos esp&ritos de seus amigos mortosO 0ibid., p. J$EU. * expresso certamenteexagerada, mas maisuma prova da freq9ncia dos sonhos m&sticos entre os primitivos. < o que tende tamma confirmara etimologia que 07R+KC6[ prop!e da palavra arunta altijererema, que significasonhar. +la seriacomposta de aFtjira que 0trehloV traduz por deus, e rama, que significa ver. 6 sonhoseria portanto omomento em que o homem est em contato com os seres sagrados 0Jie Aranda und

    @ortja*tmme,5, p. :U.:$. *ndreV C*4I, que tamm se recusa a admitir que a idia de alma foi sugerida

    pela experincia do

    sonho, #ulgou poder deriv-la de outros dados experimentais" os fatos de espiritismoQtelepatia, viso1 dist/ncia, etc.U. 4o achamos que convenha discutir sua teoria, tal como a exp3s emseu livro 1be

    a=ing of 6eligion. om efeito, ela se aseia na hip(tese de que o espiritismo um fatodeoservao constante, de que a viso 1 dist/ncia uma faculdade real do homem ou,

    pelo menos, decertos homens, e saemos o quanto esse postulado cientificamente contestado. 6 que maiscontestvel ainda que os fatos de espiritismo se#am to evidentes e de uma freq9ncia

    suficiente

    J:

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    para terem podido servir de ase a todas as crenas e a todas as prticas religiosasrelacionadas 1salmas e aos esp&ritos. 6 exame dessas quest!es nos afastaria demasiadamente do o#etode nossoestudo. *lis, tanto menos necessrio dedicar-nos a esse exame na medida em que a

    teoria de Cangest exposta a vrias das o#e!es que iremos fazer 1 de 7Slor nos pargrafos seguintes.::. +G640 faz uma oservao anloga. omo 7Slor, ele admite que a idia de almavem do sonho eque, uma vez criada essa idia, o homem a pro#etou nas coisas. )as, acrescenta ele, ofato de anatureza ter sido conceida como animada 1 imagem do homem no explica que elatenha setomado o#eto de um culto. ODo fato de o homem ver na rvore que se agita, naoscilao daschamas, um ser vivo como ele, de modo nenhum resulta que amas se#am consideradas

    como seressorenaturais% muito pelo contrrio, na medida em que se assemelham a ele, nada

    podem ter desorenatural a seus olhosO 0ntroduction to tbe Distor of 6eligion,p. JJU.:?. Ger 0P+4+R e I5CC+4,Nort'. 1r.,p. JHL, eNat. 1r.,p.J$::E. < esse o tema ritual e m&stico que 'R*Y+R estuda em seu. :oFden 7oug'.HI. 1'e eFanesians,p. $$.H!. bid.,p. $:J.:M. Parece que, 1s vezes, h at mesmo oferendas funerrias Qver R67K, O0uperstition,)agic and)edicineO, inN. Kueensland -tbnog., Bull. 4\ J, L, c., e OBurial ustomsO,N. Ku.

    -t'n., Bull, n\$H, in6ecordL of tbe AustraFian useum, G5, ng J, p. ?JU. )as essas oferendas noso peri(dicas.:@. Ger 0P+4+R e I5CC+4, Nati$e 1ribes of ?entral AustraFia, pp. J?@, JJ?, e

    Nortbern 1ribes,pp.EL?, JE?, JEM.:. Ger especialmente 0P+4+R e I5CC+4,NortberrM 1ribes,ap. G5, G55, 5A...@?4. 1'e 6eligions of 9rimiti$e 9eopFes,pp. EM ss.?$.t'es, cuFtes et religions,p. JH.?:.@es reFigions ds peupFes non ci$iliss, 55, oncluso.

    ?3. 1'e 6eFigion of tbe emites, :^ ed., pp. $:L, $?:.?E.

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    ?. D6R0+`, O* 0tudS of 0iouan ultsO, in Ot' AnnuaF 6eport of tbe 7ureau of Amer.-tnolog,pp. E?ss. epassim.E4. a reFigion des peupFes non ci$iFiss, 5, p. :[email protected]$. Ger [. D+ Gl00+R,Je :raecorum diis non referentibus speciem bumanam. f. P.

    P+RDR5Y+7,7ulletin de correspondance bellni%ue, $@@, p. L?J.E:. 0egundo 0P+4+R, porm, haveria na crena nos esp&ritos um germe de verdade" aidia de que Oo

    poder que se ma nifesta na conscincia uma outra forma do poder que se manifestafora da conscinciaO0-cclesiastical lnstitutions, X LJU. 0pencer quer dizer com isso que a noo de fora emgeral osentimento da fora que estendemos ao universo inteiro% ora, o que o animismo admiteimplicitamentequando povoa a natureza de esp&ritos semelhantes ao nosso. )as, ainda que essa

    hip(tese sore amaneira como se formou a idia de fora fosse verdadeira Qe ela pass&vel de muitasreservas quefaremos no livro 555, cap. 555, X ?U, ela no possui, por si pr(pria, nada de religioso, noevoca nenhumculto. Portanto, o sistema dos s&molos religiosos e dos ritos, a classificao das coisasem sagradas e

    profanas, tudo o que h de propriamente religioso na religio continuaria no tendonenhumacorrespondncia no real. *lis, esse germe de verdade tamm, e soretudo, umgerme de erro% pois, se verdade que as foras da natureza e da conscincia tm parentesco, elas so tamm

    profundamentedistintas, e identific-las era expor-se a singulares equvocos.AS

    FORMAS EEME!"ARES #A $%#A RE%&%OSAmile DurkheinINTRODUOOBJETO DA PESUISA - S!"i!l!#i$ reli#i!s$ e %e!ri$ &! "!nhe"imen%!

    Pr!'!m!-n!s es%u&$r nes%e livr! $ reli#i(! m$is 'rimi%iv$ e m$is sim'les$%u$lmen%e "!nhe"i&$, )$*er su$ $n+lise e %en%$r su$ e'li"$(!. Di*em!s &e

    um sis%em$ reli#i!s! /ue ele 0 ! m$is 'rimi%iv! /ue n!s 0 &$&! !1serv$r,/u$n&! 'reen"he $s &u$s "!n&i2es se#uin%es3 em 'rimeir! lu#$r, /ue seen"!n%re em s!"ie&$&es "u4$ !r#$ni*$(! n(! 0 ul%r$'$ss$&$ '!r nenhum$!u%r$ em sim'li"i&$&e56 0 're"is!, $l0m &iss!, /ue se4$ '!ss7vel e'li"+-l! sem)$*er in%ervir nenhum elemen%! %!m$&! &e um$ reli#i(! $n%eri!r.

    8$rem!s ! es)!r! &e &es"rever $ e"!n!mi$ &esse sis%em$ "!m $e$%i&(! e $ )i&eli&$&e &e um e%n9#r$)! !u &e um his%!ri$&!r. :$s n!ss$ %$re)$n(! se limi%$r+ $ iss!. A s!"i!l!#i$ "!l!"$-se 'r!1lem$s &i)eren%es &$/ueles &$his%9ri$ !u &$ e%n!#r$)i$. El$ n(! 1us"$ "!nhe"er $s )!rm$s e%in%$s &$"ivili*$(! "!m ! ;ni"! !14e%iv! &e "!nhe"-l$s e re"!ns%i%u7-I$s.

    'r9im$ &e n9s, "$'$*, '!r%$n%! &e $)e%$r n!ss$s i&0i$s e n!ss!s $%!s3 ess$re$li&$&e 0 ! h!mem e, m$is es'e"i$lmen%e, ! h!mem &e h!4e, '!is

    JE

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    T!&$s s(! i#u$lmen%e reli#i2es, "!m! %!&!s !s seres viv!s s(!i#u$lmen%e viv!s, &!s m$is humil&es 'l$s%7&i!s $! h!mem. P!r%$n%!, se n!s&iri#im!s >s reli#i2es 'rimi%iv$s, n(! 0 "!m $ i&0i$ &e &e're"i$r $ reli#i(! &eum$ m$neir$ #er$l6 '!is ess$s reli#i2es n(! s(! men!s res'ei%+veis /ue $s!u%r$s6 &esem'enh$m ! mesm! '$'el6 &e'en&em &$s mesm$s "$us$s6

    '!r%$n%!, '!&em servir mui%! 1em '$r$ m$ni)es%$r $ n$%ure*$ &$ vi&$ reli#i!s$e, "!nse/en%emen%e, '$r$ res!lver ! 'r!1lem$ /ue &ese4$m!s %r$%$r.:$s '!r /ue "!n"e&er-lhes um$ es'0"ie &e 'rerr!#$%iv$? P!r /ue

    es"!lh-l$s &e 're)ern"i$ $ %!&$s $s &em$is "!m! !14e%! &e n!ss! es%u&!?Iss! se &eve uni"$men%e $ r$*2es &e m0%!&!.Em 'rimeir! lu#$r, n(! '!&em!s "he#$r $ "!m'reen&er $s reli#i2esm$is re"en%es $ n(! ser $"!m'$nh$n&! n$ his%9ri$ $ m$neir$ "!m! el$s'r!#ressiv$men%e se "!m'user$m. A his%9ri$, "!m e)ei%!, 0 ! ;ni"! m0%!&!&e $n+lise e'li"$%iv$ /ue 0 '!ss7vel $'li"$r-lhes. S9 el$ n!s 'ermi%e

    &e"!m'!r um$ ins%i%ui(! em seus elemen%!s "!ns%i%u%iv!s, um$ ve* /uen!s m!s%r$ esses elemen%!s n$s"en&! n! %em'! uns $'9s !s !u%r!s. P!r!u%r! l$&!, $! si%u$r "$&$ um &eles n! "!n4un%! &e "ir"uns%=n"i$s em /uese !ri#in!u, el$ n!s 'r!'!r"i!n$ ! ;ni"! mei! "$'$* &e &e%ermin$r >s"$us$s /ue ! sus"i%$r$m. T!&$ ve*, '!r%$n%!, /ue em'reen&em!s e'li"$rum$ "!is$ hum$n$, %!m$&$ num m!men%! &e%ermin$&! &! %em'! - /uer se%r$%e &e um$ "ren$ reli#i!s$, &e um$ re#r$ m!r$l, &e um 're"ei%! 4ur7&i"!,&e um$ %0"ni"$ es%0%i"$, !u &e um re#ime e"!n@mi"! -, 0 're"is! "!me$r'!r rem!n%$r > su$ )!rm$ m$is sim'les e 'rimi%iv$, 'r!"ur$r e'li"$r !s"$r$"%eres $%r$v0s &!s /u$is el$ se &e)ine nesse 'er7!&! &e su$ eis%n"i$,)$*en&! ver, &e'!is, &e /ue m$neir$ el$ #r$&$%iv$men%e se &esenv!lveu e"!m'li"!u, &e /ue m$neir$ %!m!u-se ! /ue 0 n! m!men%! "!nsi&er$&!.Or$, "!n"e1e-se sem &i)i"ul&$&e $ im'!r%=n"i$, '$r$ ess$ s0rie &ee'li"$2es 'r!#ressiv$s, &$ &e%ermin$(! &! '!n%! &e '$r%i&$ &! /u$l el$s&e'en&em. Er$ um 'rin"7'i! "$r%esi$n! /ue, n! en"$&e$men%! &$sver&$&es "ien%7)i"$s, ! 'rimeir! el! &esem'enh$ um '$'el 're'!n&er$n%e. m$neir$ "$r%esi$n$, is%! 0, um "!n"ei%! l9#i"!, um 'ur!'!ss7vel, "!ns%ru7&! 'el$s )!r$s &! es'7ri%!. O /ue &evem!s en"!n%r$r 0um$ re$li&$&e "!n"re%$ /ue s9 $ !1serv$(! his%9ri"$ e e%n!#r+)i"$ 0 "$'$*&e n!s revel$r. :$s, em1!r$ ess$ "!n"e'(! )un&$men%$l &ev$ ser !1%i&$

    '!r 'r!"e&imen%!s &i)eren%es, "!n%inu$ sen&! ver&$&eir! /ue el$ 0"h$m$&$ $ %er um$ in)lun"i$ "!nsi&er+vel s!1re %!&$ $ s0rie &e

    JL