AS DONAS DA HISTÓRIA 4C -...

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0 AS DONAS DA HISTÓRIA Capítulo 4. Novela de Renan Fernandes. Escrita por Renan Fernandes. Personagens deste capítulo: Antônio Sônia Malu Jaqueline Cláudia Gene Secretária Residente Júlia Sérvia Lucas Renée Recepcionista

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AS DONAS DA HISTÓRIA

Capítulo 4.

Novela de Renan Fernandes.

Escrita por Renan Fernandes.

Personagens deste capítulo:

Antônio Sônia Malu

Jaqueline Cláudia Gene

Secretária

Residente Júlia Sérvia Lucas Renée

Recepcionista

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 04

CENA 1. CASA DE JAQUELINE. SALA. INT. DIA.

Continuação imediata da última cena do capítulo anterior.

Clima tenso entre mãe e filha.

CLÁUDIA — É só isso o que está me faltando... Ter provas

concretas de que o Antônio é esse monstro que

vocês tanto dizem!

Música de suspense. Jaqueline não tem mais paciência.

JAQUELINE — O que você ta fazendo comigo e com os seus

amigos é muito injusto, Cláudia. Você ta duvidando

da nossa confiança/

CLÁUDIA — Eu só to querendo a verdade, entendeu? E

vamos parar com essa conversa fiada, porque eu já

cansei de tanta ladainha.

JAQUELINE — Vamos parar sim! Mas só quando você esquecer

desse safado, definitivamente.

Agitada, Cláudia começa a andar por todos os lados da sala, até voltar à sua

mãe e começar uma nova troca de ofensas.

CLÁUDIA — De repente você começou a se preocupar tanto

com a minha vida sentimental. Tudo isso foi só

porque o André encheu a tua cabeça de que o meu

namorado não presta? Ou será que isso diz

respeito a um trauma do passado... Um amor mal-

interpretado/

JAQUELINE — O que é isso, filha? O que você ta pretendendo

com essa conversa?

CLÁUDIA — Ué? Nós não estamos discutindo as relações

conturbadas...

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 04

... De uma filhinha rebelde e inconseqüente? Nesse

caso, sendo eu, é claro. Então por que a gente não

pode começar a falar um pouco mais sobre o meu

pai, hein?

JAQUELINE — Não mencione o nome dessa pessoa, por favor/

CLÁUDIA — Mas eu faço questão de falar sobre ele! Não se

esqueça que eu sou uma filha que não teve nenhum

tipo de embasamento paternal... Por isso mesmo,

eu estou curiosa em saber o motivo de ele ter

sumido do mundo quando você engravidou.

(insinuando) Será que por acaso você quis dar o

golpe da barriga?

Enfurecida, Jaqueline pega Cláudia pelo colarinho.

JAQUELINE — Fica quieta, sua retardada! Você nunca mais

repita uma coisa dessas/

CLÁUDIA — Será que dá pra você me soltar/

Enlouquecida de raiva, Jaqueline empurra a sua filha com tudo no sofá.

JAQUELINE — Eu não vou admitir que você humilhe as pessoas

que querem o seu bem, e continue projetando

aquele médico desgraçado como um homem ideal. O

que é? Você acha mesmo que eu seria capaz de

fazer uma coisa dessas com o seu pai?

CLÁUDIA — Eu só fiz uma pergunta/

JAQUELINE — Uma pergunta? Você insinuou uma coisa

horrenda que eu nem sequer cogitei. E sabe por

que eu nunca seria capaz de fazer isso? Porque eu

era assim, que nem você...

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 04

... Eu amava loucamente o seu pai! Eu só pensava

nele, no amor que eu poderia oferecer, em

absolutamente tudo que envolvesse o fato dele ser

recíproco comigo. Só que aí eu descobri que estava

cega e extremamente doente. Doente sim! Doente

no sentido de que eu estava obcecada...

Completamente fixada por ele.

Cláudia levanta-se do sofá e aproxima-se sutilmente de sua mãe, que

controla o seu choro.

CLÁUDIA — Então quer dizer que ele te abandonou por que

não prestava?

JAQUELINE — Porque ele era um imaturo. Ele não queria

nenhuma responsabilidade. (nostálgica) Só de

pensar que eu preferi ficar com ele do que com o

Humberto...

CLÁUDIA — Humberto?!

JAQUELINE — Um grande amigo meu, que era apaixonado por

mim na adolescência. Por ironias da vida, ele é o

dono da clínica onde o seu futuro ex trabalha.

CLÁUDIA — Futuro ex não. Não começa. Aliás, agora eu to

entendendo porque você faz tanta questão de que

o meu relacionamento dê errado.

JAQUELINE — (chocada) Como é que é?

CLÁUDIA — (iludida) Claro! Você só ta fazendo isso porque

tem medo que o que aconteceu com você se repita

comigo. Mas pode apostar que praga de mãe não

vai funcionar em mim, entendeu bem?

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 04

JAQUELINE — Você ta completamente louca, Cláudia!

CLÁUDIA — Eu to com raiva de vocês, isso sim! De você, do

Lucas e do André, aquele invejoso. Só que eu

cansei de tanta perseguição. Eu vou sair porque eu

quero distância de vocês.

Logo, Cláudia sai e Jaqueline tenta a impedir.

JAQUELINE — Volta aqui, filha. Onde você está indo?

Som de suspense. Jaqueline fica preocupada com a saída repentina dela.

CENA 2. MANSÃO DE ANTÔNIO. SALA. INT. DIA.

Sônia e Antônio encontram-se sentados no sofá, por onde ela faz um carinho

no curativo do rosto dele.

SÔNIA — Ai Antônio... Você tem que tomar mais cuidado

da próxima vez.

ANTÔNIO — Você tem razão, meu amor. O piso tava molhado,

as moças da limpeza estavam dedetizando a

clínica... Foi o maior mico que eu já passei na minha

vida.

Logo, Sônia cai na gargalhada e Antônio ri, discretamente.

ANTÔNIO — Muito engraçado, né?

SÔNIA — Ah, você me perdoe. Mas essas coisas são tão

hilárias. Puro humor pastelão.

ANTÔNIO — Mas eu vou me prevenir na próxima vez. Evitar

esses tipos de cenas vexatórias. (muda de

assunto) Agora, eu tenho que ir.

SÔNIA — Tudo bem. E eu vou ficar por aqui mesmo.

ANTÔNIO — E o livro? Deu certo? Foi aprovado?

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 04

SÔNIA — A editora ainda vai fazer uma última revisão.

Mas eu to menos pessimista. Descobri que

pensamento atrai.

ANTÔNIO — (ri) É verdade!

Antônio a beija e se direciona para a porta de saída. Ela se acomoda no sofá

e olha para o teto, pensativa.

SÔNIA — (p/si/insatisfeita) Traduzir livros de outros

autores... É o que me resta agora.

CENA 3. MANSÃO DE ANTÔNIO. QUINTAL DA FRENTE. EXT. DIA.

Quando está indo para o carro, Antônio ouve um barulho de mensagem do

seu celular. Ao mesmo tempo que vai tirando a chave da bolsa da calça e

abrindo a porta de motorista, com a mão esquerda ele verifica que Cláudia

mandou 6 mensagens iguais para ele, dizendo: “Te liguei um monte. Me

retorne quando puder. Beijos!”. Enfurecido, ele apaga todas as mensagens.

ANTÔNIO — (p/si) Retornar... Retornar nada, sua “fedelha”!

Você já me trouxe problemas demais. E olha que

você não valia tanto esforço assim. Muito pegajosa

e intragável.

Som de suspense. CAM foca na expressão debochada dele, que entra no

carro e acelera. Corta para...

CENA 4. BAIRRO CENTRO. ESTAÇÃO TUBO DA AVENIDA. EXT.

DIA.

CAM foca, no meio do aglomerado de pedestres, Cláudia andando na calçada

da Avenida Marechal Floriano e subindo até a estação tubo de ônibus.

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 04

Ela paga a passagem para o cobrador, e espera o ônibus biarticulado,

apreensiva, sem deixar de observar o seu celular.

CLÁUDIA — (resmungando) O Antônio não me responde. Que

droga! Será que a minha mãe ofendeu ele tanto

assim? Essa gente frustrada... Que aproveita pra

descontar nos outros... Mas se ela pegou pesado

com ele, eu vou ter que pedir desculpas. Senão o

Antônio nunca mais vai querer ouvir falar de mim.

Finalmente o biarticulado chega e Cláudia entra. Algumas pessoas que

estavam no tubo, debocham dela.

SENHORA — Aquela lá deve ser alguma doente recém fugida

de um sanatório.

VELHA — Eu também acho um absurdo essa gente sem um

pingo de noção. Loucura contagia!

SENHORA — (preocupada) Cruzes. Nem fale uma coisa

dessas!

Por fim, CAM focaliza, aereamente, o ônibus gigante caminhando pela

avenida, ao som de uma música de tensão. Corta para...

CENA 5. RUA DO APART DE ANTÔNIO. ESTACIONAMENTOS. EXT.

DIA.

CAM subjetiva vai mostrando um carro se preparando para estacionar em

uma vaga da rua em que se situa o apart de Antônio. Quando estaciona, CAM

revela que se trata de Malu, que se direciona até a entrada do recinto.

CENA 6. APART DE ANTÔNIO. PORTARIA. INT. DIA.

Malu vai até o porteiro.

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 04

MALU — Oi, bom dia!

PORTEIRO — Olá, em que eu posso ajudá-la?

MALU — Então, eu sou a namorada do Antônio, o morador

do 302.

PORTEIRO — Namorada? Sei... E como você se chama?

MALU — Me chamo Malu.

Música de suspense. Ele a encara com cinismo, lembrando-se imediatamente

da cena 8 do capítulo 3, em que Antônio lhe avisou que uma de suas amantes

se chamava Malu, e esta não poderia se deparar com a outra, justamente a

Cláudia. Voltando ao presente, ele fica meio desatento.

MALU — Oi? Aconteceu alguma coisa?

PORTEIRO — Não... É... Você disse que é namorada do

Antônio, não é? Eu tava justamente querendo

lembrar de quem se tratava. São muitos

moradores aqui, e aí eu me confundo.

MALU — Não tem problema. E ele está?

PORTEIRO — Olha. Ele ainda não chegou.

MALU — É que a gente marcou de se encontrar por aqui.

PORTEIRO — Se quiser pode ficar esperando na portaria

mesmo.

MALU — Sim. É isso o que eu vou fazer. Com licença.

PORTEIRO — Toda.

Malu se afasta e vai até um enfileirado de cadeirinhas, sentando-se por lá e

folheando umas revistas que estavam no criado-mudo. O porteiro, por sua

vez, continua a observando com cara de deboche, virando-se para o lado e

sorrindo.

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 04

PORTEIRO — (resmungando) Coitada... Essa aí nem imagina a

cilada em que está metida.

Som de suspense. CAM abre para todo o local, focalizando tanto o porteiro

a olhando disfarçadamente, quanto Malu na sua, lendo atenciosamente a

revista.

CENA 7. RUA DO APART DE ANTÔNIO. ESTACIONAMENTOS. EXT.

DIA.

Música de suspense. CAM foca o carro de Antônio atravessando um sinaleiro

da rua, no sentido contrário de onde Malu veio. Ele se prepara para frear

quase na frente da fachada do apart, desce do veículo e vai para a calçada.

Enquanto ele sobe os pequenos degraus da entrada, CAM foca Cláudia

chegando, do mesmo lado que Malu veio. Aquela fica animada ao vê-lo.

CLÁUDIA — (p/si/eufórica) Que sorte que ele ainda não foi

trabalhar... Eu acho que dessa vez Deus me deu

uma ajudinha pra esse encontro.

Nisso, ela anda rapidamente para a entrada do apart, mas, de repente, ela

recua ao chegar na porta transparente do recinto. Pois observa, pelo vidro

embaçado, Antônio aos beijos com uma mulher morena, cabelos longos e

lisos. Estarrecida, ela vira para frente, coloca a mão sobre a boca, mas volta

a observar a cena. Dessa vez, a mesma vê Antônio colocando a mão sobre os

ombros da mulher e a direcionando para o elevador. DETALHE: Malu sempre

fica de costas para Cláudia. Chorando, esta começa a lembrar de todas as

cenas em que André, Lucas e Jaqueline insistiram que Antônio não prestava.

Confusa, o passado e o presente invadem a sua mente de uma forma

perturbadora. Segundos depois, Cláudia anda pelas ruas próximas do apart,

até chegar à praça Rui Barbosa, que fica há umas 4 quadras de lá.

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 04

Sentando em um dos bancos, ela tenta botar a cabeça no lugar, colocando as

mãos sobre o rosto e mexendo fortemente em seu cabelo.

CLÁUDIA — (p/si/arrependida) Que injustiça que eu cometi.

Eu preciso reparar isso o quanto antes.

Corta imediatamente para...

CENA 8. CASA DE JAQUELINE. SALA. INT. DIA.

Jaqueline está sentada no sofá, cabisbaixa, até que Cláudia chega de

surpresa e se aproxima dela. Aquela a encara com tristeza nos olhos.

CLÁUDIA — Me perdoa, mãe! Por favor... Eu só queria que

pelo menos isso você relevasse. Eu fui muito

injusta... Eu fui desumana... Mesquinha.

Lentamente, Jaqueline se levanta do sofá, e a olha com um misto de alegria

e tristeza.

JAQUELINE — Eu sabia que você era esperta, minha filha. E eu

também sei que a gente errou em se meter na sua

vida sentimental. Mas a gente só fez isso por

amor, você sabe disso.

CLÁUDIA — Eu amo muito vocês também... Mas agora, eu to

tão desnorteada, tão confusa, que só o seu afeto

pode me situar.

Alegre, Jaqueline abre os seus braços para Cláudia, que a abraça

fortemente. Esta chora contidamente.

JAQUELINE — Pode chorar o quanto você achar necessário,

viu? Porque eu sei que isso vai te fazer bem.

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 04

Assim sendo, CAM foca nas lágrimas que escorrem dos olhos de Cláudia,

enquanto sua mãe olha para o canto, pensativa, mas sempre carinhosa,

beijando a testa de sua filha em seguida.

CENA 9. APART DE ANTÔNIO. QUARTO. INT. DIA.

Malu e Antônio estão estirados na cama, envolvidos sob um lençol branco.

Eles estão sem roupa e conversam.

MALU — Ta machucado, meu amor?

ANTÔNIO — Pois é. Uma bobagem na clínica que quase ferrou

com a minha face.

MALU — Mas não vai deixar marcado, né?

ANTÔNIO — Pode ficar tranqüila. Foi superficial. Daqui a

pouco sara e eu fico inteiramente bonito pra você.

MALU — (sussurrando) É assim que eu gosto... De

exclusividade.

ANTÔNIO — Eu também.

Logo, eles se beijam com muita paixão, até que Malu recua, deixando-o

surpreso.

ANTÔNIO — Aconteceu alguma coisa?

MALU — Não. É que eu tava me esquecendo que marquei

ensaio hoje.

ANTÔNIO — (intrigado) Que ensaio?

MALU — Da campanha. Ah, eu não te contei, né?

ANTÔNIO — Não. Campanha? Que Campanha?

MALU — Uma campanha publicitária que vai ser

promovida pela agência que eu faço estágio.

ANTÔNIO — E do que é?

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 04

MALU — É de um shopping muito famoso da cidade.

Metrópole. Sabe qual é, né?

Som de suspense. Ele fica surpreso ao descobrir que Malu será estrela da

campanha do shopping de seu amigo, Irineu.

ANTÔNIO — Já sim. É que eu não freqüento muito shopping.

MALU — Pois é. E eu não pude recusar essa oportunidade,

porque foi justamente o dono do shopping que me

aprovou.

ANTÔNIO — (surpreso) O dono?

MALU — Sim. E sabe por quê? Ele é o meu padrinho. Me

batizou e tudo.

CAM foca na expressão chocada de Antônio.

ANTÔNIO — O seu padrinho?

MALU — Pois é. O nome dele é Irineu. E é muito

maravilhoso. A gente ficou muitos anos sem se ver,

mas aí, por acaso, ele foi até a agência, disse que

queria os serviços de lá pra uma campanha, me viu

e retribuiu o tempo em que a gente ficou distante

com esse presentão. Coisa maravilhosa, né?

ANTÔNIO — Muito... Grande coincidência.

MALU — Exatamente. Mas o melhor não é isso.

ANTÔNIO — Como assim?

MALU — É que vai ter um evento badalado no saguão do

shopping pra me apresentar na campanha,

entende? E eu queria muito que você fosse. Porque

daí eu te apresentava pro Irineu, e dizia que você

era o meu noivo. E então, o que você acha?!

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 04

Antônio fica ainda mais chocado, enquanto Malu o olha feliz, sem imaginar

que ele é amigo de Irineu e ainda debochou dela para este.

PRIMEIRO BREAK.

Tema de abertura: UNDER PRESSURE-QUEEN.

CENA 10. APART DE ANTÔNIO. QUARTO. INT. DIA.

Continuação imediata da última cena do bloco anterior.

Ao saber que Irineu, o seu melhor-amigo, é padrinho de sua amante, Malu,

Antônio tenta encontrar uma forma de evitar ser desmascarado pelos dois.

ANTÔNIO — Bom... Esse seu convite vai depender de muitas

coisas, não é?

MALU — O quê, por exemplo?

ANTÔNIO — O meu trabalho. Você sabe... A minha rotina não

é fácil. É muita responsabilidade cuidar dos

pacientes, dos agendamentos, da incompetência

dos novatos/

MALU — Ah, Antônio, pode ficar tranqüilo que a festa

não vai ser agora. Ainda falta resolver alguns

detalhes de produção, do dia, da decoração...

Além, é claro, da minha campanha. (sonhadora) Eu

tenho certeza que vai ser um sucesso... E aí sim eu

te apresento como noivo. Imagine só? Eu, toda

famosa... Sendo reconhecida pelas pessoas. Ia ser

maravilhoso estar acompanhada de um médico tão

conceituado e talentoso como você.

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 04

Música de suspense. Antônio finge vibrar com a sucessão de frases

sonhadoras de Malu.

ANTÔNIO — Realmente... Ia ser ótimo! (olhando para o

relógio do pulso) Mas agora eu tenho que ir.

MALU — Tudo certo. Eu também já vou me aprontar.

Por fim, Malu senta-se no extremo esquerdo da cama, vestindo-se, enquanto

Antônio senta no outro extremo, vira para atrás e a observa com um rosto

preocupado. Corta para...

CENA 11. CASA DE JAQUELINE. SALA. INT. DIA.

Cláudia encontra-se sentada, tomando um leite fervido na xícara e se

recompondo do choro. Jaqueline, ao seu lado, já conversava sobre Antônio.

JAQUELINE — Mas agora que você finalmente enxergou a

realidade, é preciso focar na vida e seguir em

frente.

Um pouco calada e ressentida, Cláudia toma um gole do leite e coloca xícara

na mesinha à frente. Jaqueline, vendo-a naquele estado, aproxima-se ainda

mais e lhe dá um abraço de conforto.

CLÁUDIA — (olhar parado) A minha vontade é de fazer um

escândalo, destruindo todas as mentiras que

aquele desgraçado projetou na minha vida.

JAQUELINE — Eu sei que você tem todo o direito de sentir

ódio e repulsão. Mas você também sabe que um ato

impulsivo só prejudica. Veja só o meu exemplo:

tomei as suas dores e quase desconfigurei o rosto

daquele canalha com um bisturi. Aquela arma

surgiu na hora certa, mas eu fiz tudo errado.

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 04

CLÁUDIA — Eu vou tentar me controlar, eu juro. Só que eu

posso te garantir uma coisa: nesse tempo que eu

ficar afastada do Antônio: eu vou focar sim na

minha vida... Mas também vou botar a cabeça pra

funcionar (virando-se para ela) E quem sabe...

Armar uma vingança contra ele!

Som de suspense. CAM foca na expressão apreensiva de Jaqueline e no

olhar frio e vingativo de Cláudia.

Corta para...

CENA 12. FACHADA DA CLÍNICA ARCÁDIA. ENTRADA. EXT. DIA.

Antônio entra no estacionamento exclusivo, estaciona o carro numa vaga a

céu livre e desce, todo afoito. Para se recuperar, ele fica um tempo

agachado sobre a porta de motorista e pensa na cena recente em que Malu

revelou ser afiliada de Irineu.

ANTÔNIO — (p/si) Era só o que me faltava... Sendo garota-

propaganda do shopping do meu melhor-amigo, e

ainda sendo pupila, apadrinhada dele.

Ele dá um giro de 360º, olha para o seu reflexo no espelho, com o sol o

iluminando, e se apóia com os dois braços no carro, pensativo.

ANTÔNIO — (p/si) A sua máscara está querendo cair,

Antônio Meirelles. Todos estão querendo te

descobrir. (confiante) Mas eu sei que você vai

conseguir retardar, ou quem sabe, anular essa

descoberta. Ninguém vai te descobrir....

(resmungando) Ninguém...

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 04

Assim sendo, ele dá dois tapas com a mão esquerda no seu carro e se

direciona para a entrada da clínica.

Corta imediatamente para...

CENA 13. CLÍNICA ARCÁDIA. ENTRADA. INT. DIA.

CAM mostra, com uma visão ofuscada pela claridade do sol, Antônio

entrando através da porta giratória. Ele caminha tranquilamente para as

áreas da clínica, até se direcionar para a recepção. De lá, CAM mostra, de

lado, ele caminhando em linha reta, até se deparar com a secretária, que

vinha em sentido contrário.

ANTÔNIO — Qual é a bomba, dessa vez?

SECRETÁRIA — Nada grave. É só um pequeno atraso no horário

da cirurgia com aquela nossa cliente importante...

A dona Júlia Mendes Williams.

ANTÔNIO — Sei quem é. Aquela que veio reparar um botox

no lábio, não é? Cirurgia simples.

SECRETÁRIA — Isso.

ANTÔNIO — Diga aos residentes que eles já podem preparar

o centro cirúrgico. Eu já apareço.

SECRETÁRIA — Ok.

Ela some do cenário, enquanto Antônio fica um tempo parado.

ANTÔNIO — (p/si) Hora de coisa séria.

Corta para...

CENA 14. CENTRO CIRÚRGICO. EXT. DIA.

CAM começa fazendo um plano geral dos residentes e enfermeiros

projetando Júlia na maca, que se encontra sedada localmente.

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 04

Logo, CAM foca na chegada de Antônio, vestido a caráter e pegando uma

pinça para dar entrada à reparação nos lábios de Júlia. Tempos depois – A

pequena cirurgia acaba e Júlia é levada de maca pelos enfermeiros. Antônio,

por sua vez, continua na sala, tirando as luvas e limpando as mãos com álcool

gel, enquanto um residente aparece por lá, para conversar.

RESIDENTE — Pois é, doutor. Quase complicou pro lado da

moça, né?

ANTÔNIO — Implantação mal-feita. Quase prejudicou o

sistema respiratório dela.

RESIDENTE — Por sorte você conseguiu resolver o problema a

tempo.

ANTÔNIO — É... Consegui e ainda a deixei mais bonita. Deus

sabe dar o dom certo para as pessoas certas. Por

isso, meu caro, espelhe-se em quem tem

capacidade. Não em quem só pensa em status.

O residente concorda, fazendo gesto afirmativo e deixando-o sozinho na

sala. Antônio continua por lá, pensativo.

ANTÔNIO — (p/si) Se o trabalho me ajudasse a tirar os

problemas da cabeça... O Irineu nunca pode saber

que a Malu é a moça que eu debochei... Senão ele

conta tudo pra ela, e ainda faz a minha caveira pra

Sônia. Eu não posso me ferrar. O doutor Antônio

Meirelles tem que saber reparar isso também.

Som de suspense no final da cena.

CENA 15. AGÊNCIA VITAL. EXT. DIA.

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 04

CAM destaca a fachada do local, além de mostrar, de longe, pessoas

entrando por lá. Logo, no meio de toda essa gente, focaliza-se Malu, que, de

costas para a CAM, aproxima-se da agência e pára, vislumbrando-a de cima

abaixo. Corta imediatamente para...

CENA 16. AGÊNCIA VITAL. INT. DIA.

Agora, ao som de Give Me Everything Tonight- Pitbull feat. Ne-Yo, Malu

começa a se preparar para os ensaios fotográficos. Logo, em meio a tantos

flashes do fotógrafo, CAM foca em Gene, que a observa na entrada do

estúdio, maravilhado. Por fim, o primeiro ensaio termina e Malu se arruma

para sair. Gene, por sua vez, aproxima-se dela.

MALU — (virando para ele) Oi Gene... Tudo bem?

GENE — Tudo. Eu tava lá no departamento de mídia, e

lembrei que hoje começava o seu ensaio pra

campanha.

MALU — Verdade. Mas foi só uma palinha. Porque o foco

mesmo são as campanhas outono-inverno,

primavera-verão. Hoje eu comecei fazendo a

primavera-verão.

GENE — Ah, sim. Mas parabéns. Eu tava te observando

ali no canto, e vi que você tem um carisma enorme.

MALU — (ri) Ah, mas seria tão bom se eu pudesse

continuar fazendo estágio na área de mídia. Só que

o problema é que eu to atolada numas matérias da

faculdade e os ensaios vão tomar um pouco o meu

tempo.

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 04

GENE — Pode ficar despreocupada. Eu já arrumei uma

outra moça pra ficar no seu lugar. Isso

temporariamente. Porque, independente de

qualquer coisa, a vaga sempre vai ser sua.

MALU — Você sempre tão prestativo, né Gene? É raro

existir pessoas assim.

GENE — Eu sempre tento fazer o melhor. (muda de

assunto) Bem que a gente podia agora almoçar ali

no restaurante da esquina. Já ta quase na hora.

MALU — Boa idéia. Eu não comi nada até então.

GENE — Tem que comer. Você já é magrinha. Não precisa

ficar com complexo.

MALU — (ri) Que nada! Eu não tenho paranóias de

comida.

Os dois riem descontraídos e saem do estúdio fotográfico. Corta

imediatamente para...

CENA 17. RESTAURANTE PRÓXIMO À AGÊNCIA. MESAS. INT. DIA.

Já lá, os dois almoçam um peixe leve e tomam um vinho branco para

acompanhar.

GENE — Sinceramente... Não é pra ficar te incentivando

ou então puxando a sardinha pro seu lado. Mas eu

posso dizer que se você continuar assim, você vai

longe. O segredo é só não se vislumbrar com o

sucesso.

Malu toma um gole de vinho e coloca a taça na mesa.

MALU — Eu fico até sem jeito com tanto elogio.

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 04

GENE — Não precisa ficar assim, não. (coloca a sua mão

sobre a dela) Eu só to sendo realista. Você é uma

garota extraordinária.

Malu não gosta do jeito insinuante de Gene, tirando a sua mão da dele e

voltando a provar a comida. Ele, por sua vez, continua a observando com

paixão, sem pudor.

CENA 18. TRANSIÇÃO DE TEMPO. TARDE/ANOITECER. CLÍNICA

ARCÁDIA. SALA DE ANTÔNIO. INT.

O mesmo encontra-se sentado, verificando uns agendamentos no

computador, até que a sua secretária aparece de supetão.

ANTÔNIO — Diga logo... O que você quer?

SECRETÁRIA — Desculpa interromper você, doutor Antônio. Mas

é que a sua última paciente, a Júlia, já ta se

recuperando muito bem da cirurgia e foi para o

quarto.

ANTÔNIO — Sim... E daí?

SECRETÁRIA — E daí que ela queria que fosse até lá. Pra te

agradecer.

ANTÔNIO — Tudo bem... Eu já to indo.

SECRETÁRIA — Dá licença.

A secretária fecha a porta da sala, enquanto Antônio desliga o monitor do

PC e se prepara para sair. Corta imediatamente para...

CENA 19. CLÍNICA ARCÁDIA. QUARTO DE JÚLIA. INT.

ANOITECER.

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 04

Antônio abre levemente a porta do quarto, encontrando Júlia acordada,

dando uma olhada num espelho portátil.

ANTÔNIO — Dona Júlia. Com licença.

Júlia deixa de se olhar no espelho, colocando-o em cima do criado-mudo.

JÚLIA — Doutor Antônio. Pode entrar.

Ele fecha a porta e se aproxima do leito dela.

ANTÔNIO — E então, como a senhora está?

JÚLIA — Satisfeitíssima! Realmente me disseram que

você é excelente. Eu confesso que desconfiei, por

causa do meio jeito mesmo, mas me surpreendi. A

reparação melhorou muito todo o meu rosto. Eu

tava me sentido meio estranha com aqueles lábios

exagerados.

ANTÔNIO — Foi muita sorte você ter se internado a tempo.

Esse botox poderia ter complicado a sua vida.

JÚLIA — Ainda bem que dessa vez eu dei o braço a

torcer. Mas eu queria tanto te retribuir de alguma

forma. Só que eu não sei como, sabe.

ANTÔNIO — Imagina, dona Júlia. Você já pagou a cirurgia,

não me deve nada.

JÚLIA — Sabe o que é... É que a sua clínica é tão

impecável, que seria muito bom divulgá-la. Eu

tenho uma agência de publicidade aqui em Curitiba.

Na verdade é do meu marido, eu apenas financiei.

E eu queria ajudar essa clínica, possibilitando uma

melhora na divulgação.

21

AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 04

ANTÔNIO — Não precisa, Júlia. Nós já temos os nossos

clientes fiéis. Não ficaria nem bem ficar se auto

promovendo.

JÚLIA — Tudo bem. Eu entendo o seu lado. De qualquer

forma, muito obrigada.

ANTÔNIO — Não há de quê.

Logo, quando se direciona para a saída, Antônio recua e vira novamente para

Júlia.

ANTÔNIO — E essa sua agência... Como é o nome?

JÚLIA — É Vital.

ANTÔNIO — Acho que já ouvi falar.

JÚLIA — Bom... Agora é que nós vamos ser bem

comentados mesmo. Porque nós estamos fazendo

campanha pra um dos shoppings mais famosos da

cidade... O Metrópole.

Música de suspense. Antônio fica surpreso.

ANTÔNIO — Metrópole, claro... O shopping do meu amigo

Irineu.

JÚLIA — Exatamente. Que coincidência você o conhecer.

ANTÔNIO — Pois é. Ele me disse mesmo que ia fazer isso... E

até falou de uma menina que seria a garota-

propaganda... Uma tal de Malu.

JÚLIA — Ela mesma.

ANTÔNIO — Ah, dona Júlia... Se eu fosse vocês, pensava bem

antes de colocar essa menina pra fazer a

campanha.

22

AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 04

JÚLIA — Mas por quê? Existe algum problema com ela

que a gente não saiba?

ANTÔNIO — Muitos problemas. Eu te falo como amigo

mesmo. (cínico) O Irineu só a colocou na campanha

por ser padrinho dela. Além disso, a Malu começou

a se insinuar pra mim, pelo fato de eu ser amigo do

dono do shopping. Insistiu até eu convencê-lo a

aceitá-la na campanha.

JÚLIA — (chocada) Meu Deus... Mas então essa garota é

uma oportunista.

ANTÔNIO — Sim... E eu te avisei pra se prevenir. Toma

cuidado com essa menina. Tira ela da campanha o

quanto antes.

Som de suspense. CAM foca na expressão cínica de Antônio e no olhar

surpreendido de Júlia.

SEGUNDO BREAK.

CENA 20. CLÍNICA ARCÁDIA. QUARTO DE JÚLIA. INT.

ANOITECER.

Continuação imediata da última cena do bloco anterior.

JÚLIA — São acusações tão sérias que você ta fazendo,

que eu não estou em estado de decidir nada.

ANTÔNIO — Perdoe-me a sinceridade. Mas infelizmente não

dava pra deixar de abrir os seus olhos. Ainda mais

sabendo que você é uma mulher séria...

23

AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 04

... Que mantém uma agência de tanta credibilidade

que nem a Vital.

JÚLIA — Então quer dizer que a tal Malu deu em cima de

você?

ANTÔNIO — (aproximando-se da maca) Olha... Eu só disse

isso porque já estava se tornando uma situação

insustentável... E eu juro que não quero causar

nenhum alarde. O Irineu não merecia essa

decepção.

JÚLIA — Eu entendo você. Mas pode ter certeza que

quando eu sair daqui, eu vou averiguar a situação,

ter uma conversa séria com o meu marido, e ficar

bastante atenta com os passos dessa mulherzinha.

ANTÔNIO — Mas em nome da minha imagem, você mantenha

isso que eu te disse em sigilo. Tudo bem pra você?

JÚLIA — Claro doutor. Eu nunca te desmoralizaria por

conta de uma ordinária que nem essa Malu.

ANTÔNIO — Que bom!

Assim sendo, Antônio sai do quarto, fecha a porta por fora e deixa Júlia

sozinha, que vira para o lado da maca, pensativa.

CENA 21. AGÊNCIA VITAL. CORREDORES. INT. ANOITECER.

Malu anda rapidamente em meio a tanta gente, e quando está prestes a

descer um degrau da escada, Gene a intercepta.

GENE — Eu não sabia que você ainda estava por aqui.

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 04

MALU — Depois do nosso almoço eu fui dar uma olhada na

edição das fotos que eu tirei. Fui lá dar umas

dicas.

GENE — Deve ter ficado show de bola. Aliás, tudo o que

você faz fica bem feito.

MALU — (seca) Olha Gene! Você me desculpe, mas eu não

estou gostando desses seus elogios. Já está

ficando forçado demais.

GENE — Eu não queria te deixar encabulada/

MALU — Mas está deixando! Então faz o seguinte... Me

trata do jeito certo. Como uma colega de trabalho.

Na mais perfeita formalidade.

Logo, ela começa a descer rapidamente a escada, com CAM acompanhando

os passos dela. Gene, por sua vez, começa a segui-la.

GENE — Mas Malu... Se eu estou sendo muito abusado,

você me perdoe. É que eu não estou mais

conseguindo controlar.

Nisso, Malu para em uma parte da escada que não tem degrau, encarando-o.

MALU — Controlar o quê?

CLOSE em Gene, que se aproxima lentamente dela, até ficar frente a

frente.

GENE — Isso que eu to sentindo... A minha paixão por

você.

Clima romântico. Malu faz cara de espanto e deixa de encará-lo.

MALU — (sem jeito) Paixão? Mas Gene... Você é um

homem casado. A sua mulher é a dona daqui/

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 04

GENE — O dono sou eu! Herdei do meu pai. A Júlia só me

ajudou a financiar. A levantar a agência que estava

no vermelho. Mas ela não importa agora/

MALU — Importa muito! Porque eu não acho justo o que

você está fazendo com ela. Casado sem amar! Além

disso, eu não sou qualquer tipo de mulher que se

aproveita de um casamento em crise. E põe uma

coisa na sua cabeça Gene: eu não posso... Eu não

quero nada com você. Por favor/

GENE — Malu/

MALU — Gene... Me deixe em paz! Não faça isso comigo.

Não faça isso com você próprio. Não se magoe e

muito menos tente me magoar. Eu to muito

decepcionada com você.

Por fim, Malu desce rapidamente os últimos degraus da escada, enquanto

Gene fica por lá, pensativo e triste. Corta imediatamente para...

CENA 22. MANSÃO DE SÉRVIA. SALA. INT. NOITE.

Malu já se encontra por lá, e conversa com a sua avó na mesinha da adega.

MALU — Foi uma cena constrangedora, vó! Eu me senti

praticamente assediada pelo Gene.

SÉRVIA — Eu te entendo perfeitamente, minha cara! O que

esse homem fez foi um absurdo. Um abuso da

parte dele. Aliás, nessa experiência toda de vida

que eu tenho, eu me sinto no direito de te

aconselhar: não dê confiança pra ele. Porque esses

homens são cafajestes, são ordinários/

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 04

MALU — E eu concordo. Por isso, eu vou fazer de tudo

pra evitar o Gene lá na agência. Porque não ia

pegar nem bem recusar a proposta da campanha.

Ainda mais depois de ter assinado o contrato.

SÉRVIA — Claro. Você tem toda a razão. É você em 1º

lugar, sempre. Os outros que se danem.

Malu ri levemente e pega um uísque para beber, colocando nas duas taças e

oferecendo para sua avó, que toma.

MALU — E eu nunca poderia mesmo dar confiança pro

Gene. Não depois da proposta que eu fiz ao

Antônio.

SÉRVIA — (colocando a taça na mesinha) Proposta ao

Antônio... Mas que proposta?

Feliz, Malu toma um gole leve de bebida, coloca a taça ao lado e mostra o

anel de noivado a Sérvia, que fica chocada.

Música de suspense.

SÉRVIA — Mas o que é isso?

MALU — Como o que é isso... É um anel.

SÉRVIA — Sim, mas... Então você e o Antônio...

MALU — Estamos noivos. Pedi ele em casamento.

(colocando as suas mãos sobre a dela) E como eu

percebi naquela outra noite, que vocês dois já não

estavam mais de birra um com outro, eu fiz

questão de contar 1º a você essa novidade.

SÉRVIA — (falsa) Claro! Eu confesso que me precipitei em

relação ao seu namorado... Quer dizer...

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 04

... (seca) Noivo. Foi por pura superproteção que eu

o rejeitei no começo.

MALU — Eu sei. Mas eu to tão feliz que você nem

imagina.

SÉRVIA — Imagino! E você merece toda a felicidade do

mundo. Sempre.

Assim sendo, ambas se abraçam, e CAM foca no olhar parado e preocupado

de Sérvia.

Corta imediatamente para...

CENA 23. MANSÃO DE SÉRVIA. QUARTO. INT. NOITE.

Sérvia acaba de abrir a porta de seu quarto, entrando por lá e fechando

com o corpo. De costas para a porta, ela respira fundo e pensa longe.

SÉRVIA — (p/si) Isso não pode acontecer, meu Deus. Seria

uma desgraça. Não pode ser... O Antônio só me

trazendo problemas. Desde sempre. Desde os anos

90. Ah, mas se ele pensa que eu vou permitir que

esse casamento aconteça, ele está muito enganado.

Ah, se está!

Som de suspense no final da cena.

CENA 24. TRANSIÇÃO DE TEMPO. NOITE/AMANHECER. VISTA

PANORÂMICA DE CURITIBA. EXT. MANHÃ.

Apresentam-se, em vista aérea, os prédios do centro, as estações-tubos de

ônibus, os aglomerados de veículos e pedestres, até cortar para a fachada

do brechó LE FREAK.

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 04

CENA 25. BRECHÓ LE FREAK. ATELIÊ. INT. DIA.

CAM foca em Cláudia, que atende todos os clientes matutinos, organiza a

agenda, e ainda contabiliza os lucros. Jaqueline a observa no fundo da sala

anexa, ficando feliz. Cláudia vira-se para ela, que se aproxima.

JAQUELINE — Agora eu vou parar de ficar te explorando. Hoje

você está com um fôlego imenso.

CLÁUDIA — Não se preocupe, mãe. Eu acho até bom

trabalhar desse jeito, num ritmo frenético. Assim

eu esqueço um pouco os problemas e alivio as

tensões.

JAQUELINE — Mas e a sua aula, começa às 9h40. Não se

esqueça.

CLÁUDIA — Pode ficar tranqüila. Hoje só tem uma prova. E

no horário da tarde. Dá tempo de resolver as

pendências daqui e ainda organizar as remessas de

tecidos usados dos fornecedores.

JAQUELINE — Então ta certo. Não é por nada, não. Mas é que

hoje eu tenho que me encontrar com o Sayajin, na

praça do Japão.

CLÁUDIA — Tudo bem. Deixa que eu seguro as pontas.

JAQUELINE — Beijo.

As duas se beijam e Jaqueline sai. Cláudia, por sua vez, guarda o dinheiro e

volta a atender as clientes.

CENA 26. CURITIBA. PRAÇA DO JAPÃO. EXT. DIA.

Jaqueline anda no meio de uma multidão, que se encontram vestidos com

roupas japonesas.

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 04

É que está acontecendo uma comemoração em praça pública, em homenagem

a nação do oriente. Logo, a mesma se perde no meio de tanta gente, e se

indaga.

JAQUELINE — (p/si) Cadê o Sayajin? Poxa... Quero ver como

eu vou encontrá-lo.

Nisso, ela olha para todos os cantos, sem ver nada demais. Aí, Jaque decide

ir até os fundos de uma casinha, por onde encontra Sayajin aos beijos com

uma japonesa, chamada Bulma.

JAQUELINE — (esbraveja) Mas que palhaçada é essa?

Sayajin leva um susto e arremessa Bulma até o chão, que deixa a peruca

japonesa cair.

SAYAJIN — Minha gueixa curitibana... Não é nada disso/

JAQUELINE — Nem termine a justificativa, seu salafrário!

Você tem o direito de apenas falar uma frase,

nada mais!

SAYAJIN — Então ta! (direto) Jaqueline... Essa é Bulma...

Bulma, essa é a Jaqueline.

JAQUELINE — (indignada) E você ainda tem a audácia de nos

apresentar?

SAYAJIN — Eu quero que seja tudo pacífico, entende?

Bulma se levanta e fica ao lado dele.

SAYAJIN — Eu quero juntar o ocidente com o oriente.

JAQUELINE — Como é que é?

SAYAJIN — É isso mesmo. Como a Bulminha é a dona de um

brechó de roupas japonesas e você de roupas

ocidentais...

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 04

... Eu proponho que as duas se juntem e formem

uma sociedade. Eu dou o capital e dominamos a

cidade. O que vocês acham?

CAM foca no rosto indignado de Jaqueline, enquanto Bulma olha para ela

com receio, e Sayajin faz cara de palhaço.

CENA 27. ARAUCÁRIA. EMPRESA ASSUNÇÃO. SALA DE LUCAS.

INT. DIA.

Lucas encontra-se sentado na mesa, meio cansado, quando Renée aparece

por lá de supetão.

RENÉE — Meu filho. Eu quero ter uma conversa séria com

você.

LUCAS — O que foi mãe?

RENÉE — Você emitiu a nota de saída pra lojinha de

malhas de Contenda?

LUCAS — (confuso) Eu acho que sim. Ainda fiz isso ontem.

RENÉE — Eles estão reclamando. Porque você confundiu o

interior de Contenda com o bairro Contenda, que

fica em São José dos Pinhais.

LUCAS — Poxa vida. E agora?

RENÉE — Fique tranqüilo, meu querido. Eu já chamei o

Gilberto pra resolver isso. Porque eu to vendo que

você anda muito distraído ultimamente.

LUCAS — Desculpa, mãe! É que eu não ando muito bem

mesmo, por causa da Cláudia.

RENÉE — Então faz o seguinte. Hoje eu te libero pra

resolver a sua vida...

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 04

... E você aproveita pra espairecer. Porque desse

jeito que você está, não vai render nada no

serviço.

LUCAS — Você tem razão. Eu vou resolver as minhas

pendências.

Corta imediatamente para...

CENA 28. CURITIBA. RUA PEDRO IVO. EXT.DIA.

Agora, ao som de Patience- Guns N`Roses, CAM focaliza Lucas em sua moto,

andando rapidamente até a entrada do brechó. Ele freia bruscamente o

veículo, descendo todo afobado em direção à entrada. Logo, o mesmo vê

Cláudia na entrada do recinto, que também o nota, pede licença para uma

cliente e se direciona até ele.

CLÁUDIA — Lucas? Não era pra você estar trabalhando

nesse horário?

LUCAS — Sim, mas... Na verdade eu vim aqui pra gente

conversar. Não sei se você ta disponível agora.

Mas eu espero... O tempo que for preciso pra

gente pelo menos se entender como amigo.

Cláudia fica admirada com a atitude de Lucas, que se mostra apreensivo.

CENA 29. CLÍNICA ARCÁDIA. QUARTO DE JÚLIA. INT. DIA.

Ela prepara sua mala para sair, por já ter recebido alta, e verifica o seu

celular, discando automaticamente para Gene.

JÚLIA — (p/si) Vamos Gene... Atenda logo essa celular.

A chamada dá ocupado e ela fica brava.

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 04

JÚLIA — (p/si) Mas que droga! Eu não acredito que ele

esqueceu de vir me buscar.

Som de suspense no final da cena. Corta para...

CENA 30. FACHADA DA AGÊNCIA VITAL. EXT. DIA.

Minutos depois, Júlia acaba de descer do táxi, observando a agência e

voltando a conversar com o motorista.

JÚLIA — Já te passei o endereço. Então você já sabe...

Pode deixar as minhas malas na portaria do prédio.

MOTORISTA — Tudo certo.

Nisso, ele acelera o táxi e Júlia volta a olhar para agência, apreensiva.

Corta imediatamente para...

CENA 31. AGÊNCIA VITAL. CORREDORES. INT. DIA.

Agora, Júlia anda lentamente pelo local, observando todas as janelas de

departamentos. Logo, ela pára de andar, no instante em que observa, por

detrás de uma viga, Gene observando Malu ensaiar, na entrada do estúdio.

JÚLIA — (p/si) Eu não estou vendo isso. Isso é uma

paranóia minha. O meu marido... Enfeitiçado por

aquela... Ordinária?!

Por fim, CAM vai saindo de Júlia e se aproximando de Gene, até parar em

Malu, que ensaia normalmente, mas se incomoda com os olhares dele.

CENA 32. CLÍNICA ARCÁDIA. RECEPÇÃO. INT. DIA.

Sérvia anda pelo local, até chegar para uma das recepcionistas.

SÉRVIA — A sala de Antônio Meirelles, por favor?

RECEPCIONISTA — Você tem consulta agendada?

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 04

SÉRVIA — Não tenho. Mas ele vai ter que me receber de

qualquer jeito. Simplesmente por eu ser uma quase

parente dele, entendeu?

Som de suspense. A recepcionista a olha intimidada e liga para Antônio.

Corta imediatamente para...

CENA 33. CLÍNICA ARCÁDIA. SALA DE ANTÔNIO. INT. DIA.

Já sentando na cadeira de paciente, Sérvia olha debochadamente para

Antônio, que retribui.

SÉRVIA — Que ousadia, hein? Pedir a minha neta em

casamento/

ANTÔNIO — Eu não pedi ninguém em casamento. Foi a Malu

que bebeu demais e decidiu engrenar nessa

insanidade.

SÉRVIA — Realmente... Somente uma insana poderia

aceitar assumir compromisso com alguém tão

calhorda que nem você.

ANTÔNIO — (sem paciência) Você ta querendo me

provocar... É isso?

SÉRVIA — Eu quero que você dê um jeito de anular essa

hipótese de casamento. Porque eu não vou permitir

que você se case com a Malu apenas para se vingar

da mãe dela.

ANTÔNIO — O que você está querendo dizer?

SÉRVIA — Você sabe muito bem! A Letícia... A mãe da

Malu...

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 04

... A mulher que você amou loucamente e que te

magoou. Eu sei que você só está usando a Malu

para se vingar pelo que ela fez com você.

ANTÔNIO — Não vamos prolongar essa conversa/

SÉRVIA — Vamos sim! Nós temos muitas coisas para

esclarecer.

FIM DO CAPÍTULO 4.