As Dez Fotos MAIS CHOCANTES DA HISTÓRIA

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As dez fotos “mais” tristes da história Uma imagem vale mais do que mil palavras? O filósofo do humor Millôr Fernandes contrapõe: agora diga isto sem palavras? Mas, em relação a certos acontecimentos, é quase impossível acreditar que tenham ocorrido se dependermos tão-somente de narrativas, embora, muitas vezes, uma reportagem (artigo ou livro) de qualidade possa ser mais convincente do que várias fotografias. O diário mexicano “El Universal” listou na edição de terça- feira, 26, o que chama de “as dez fotos mais tristes da história” (listas, sabe-se, sempre são incompletas; no caso, há outras fotografias igualmente tristes). Elas resultam, frisa o jornal, de “alguns dos momentos mais cruéis da história da humanidade”. E pergunta aos leitores se as imagens os deixam indignados. Filósofos e historiadores dizem que as fotografias do Holocausto, mostrando pessoas mortas ou muito magras, não chocam tanto hoje quanto em 1945. Há, por assim dizer, uma naturalização da violência, um sentimento de que os fatos são tão horríveis que, de algum modo, parecem ficções. Ao final do texto, “El Universal” pergunta: você acredita que os trabalhos documentam o sucesso profissional dos repórteres fotográficos ou são apenas mórbidos? Fico com a tese de que se trata de um registro jornalístico, histórico e humano necessário. Mostram o que às vezes não queremos mas precisamos ver. 1 — Desespero no Vietnã Em 1972, militares americanos jogaram napalm numa área habitada do Vietnã. O fotógrafo vietnamita Nick Ut, atraído pelos gritos de um grupo de crianças, começou a fotografá-las, até descobrir a garota que havia tirado a roupa em chamas e, desesperada, caminhava nua. Ao seu modo, a fotografia contribuiu para apressar o fim da intervenção americana. Afinal, o que crianças tinham a ver com a guerra entre comunismo e capitalismo? 2 — Refugiado no Afeganistão O site daylife.com, citado por “El Universal”, relata que o menino afegão está se protegendo de uma tempestade de areia num acampamento de refugiados em Kabul, em outubro de 2008. Enquanto os homens brigam por petróleo e poder, vítimas inocentes, como a criança da fotografia, sofrem, quase sempre indefesas. A guerra continua no Afeganistão, agora tendo os Estados Unidos como peça chave, e não mais a Rússia (ex-URSS). 3 — Biafra versus Nigéria Quando a Nigéria se tornou independente, a República de Biafra seguiu seu caminho, em 1967. Aí começou a guerra. A Nigéria bloqueou a entrada de alimentos e o povo de Biafra passou fome. A guerra durou três anos e mais de 1 milhão de pessoas morreram, sobretudo de fome. As crianças, vítimas de kwashiorkor (doença provocada por falta de nutrição adequada, vitaminas, ferro, iodo), tiveram os músculos “desgastados” e o ventre inflamado.

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As Dez Fotos MAIS CHOCANTES DA HISTÓRIA

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As dez fotos “mais” tristes da história

Uma imagem vale mais do que mil palavras? O filósofo do humor Millôr Fernandes contrapõe: agora diga isto sem palavras? Mas, em relação a certos acontecimentos, é quase impossível acreditar que tenham ocorrido se dependermos tão-somente de narrativas, embora, muitas vezes, uma reportagem (artigo ou livro) de qualidade possa ser mais convincente do que várias fotografias. O diário mexicano “El Universal” listou na edição de terça-feira, 26, o que chama de “as dez fotos mais tristes da história” (listas, sabe-se, sempre são incompletas; no caso, há outras fotografias igualmente tristes). Elas resultam, frisa o jornal, de “alguns dos momentos mais cruéis da história da humanidade”. E pergunta aos leitores se as imagens os deixam indignados. Filósofos e historiadores dizem que as fotografias do Holocausto, mostrando pessoas mortas ou muito magras, não chocam tanto hoje quanto em 1945. Há, por assim dizer, uma naturalização da violência, um sentimento de que os fatos são tão horríveis que, de algum modo, parecem ficções. Ao final do texto, “El Universal” pergunta: você acredita que os trabalhos documentam o sucesso profissional dos repórteres fotográficos ou são apenas mórbidos? Fico com a tese de que se trata de um registro jornalístico, histórico e humano necessário. Mostram o que às vezes não queremos mas precisamos ver. 1 — Desespero no Vietnã Em 1972, militares americanos jogaram napalm numa área habitada do Vietnã. O fotógrafo vietnamita Nick Ut, atraído pelos gritos de um grupo de crianças, começou a fotografá-las, até descobrir a garota que havia tirado a roupa em chamas e, desesperada, caminhava nua. Ao seu modo, a fotografia contribuiu para apressar o fim da intervenção americana. Afinal, o que crianças tinham a ver com a guerra entre comunismo e capitalismo?

2 — Refugiado no Afeganistão O site daylife.com, citado por “El Universal”, relata que o menino afegão está se protegendo de uma tempestade de areia num acampamento de refugiados em Kabul, em outubro de 2008. Enquanto os homens brigam por petróleo e poder, vítimas inocentes, como a criança da fotografia, sofrem, quase sempre indefesas. A guerra continua no Afeganistão, agora tendo os Estados Unidos como peça chave, e não mais a Rússia (ex-URSS).

3 — Biafra versus Nigéria Quando a Nigéria se tornou independente, a República de Biafra seguiu seu caminho, em 1967. Aí começou a guerra. A Nigéria bloqueou a entrada de alimentos e o povo de Biafra passou fome. A guerra durou três anos e mais de 1 milhão de pessoas morreram, sobretudo de fome. As crianças, vítimas de kwashiorkor (doença provocada por falta de nutrição adequada, vitaminas, ferro, iodo), tiveram os músculos “desgastados” e o ventre inflamado.

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4 — Execução no Vietnã A fotografia, feita por Eddie Adams, mostra “o chefe de polícia nacional segundos antes de executar um jovem prisioneiro que declarou ser capitão do Vietcong. A fotografia provocou grande comoção e a opinião pública [internacional, em especial a norte-americana] se voltou contra a guerra”. Vietnã do Sul, apoiando pelos Estados Unidos, e Vietnã do Norte (comunista) travaram uma guerra mortal pelo controle da região. Os comunistas levaram a melhor.

5 — Bomba atômica em Hiroshima Em 1945, ingleses, soviéticos e americanos haviam vencido a Segunda Guerra Mundial. Mas havia ajustes de contas entre Estados Unidos e Japão e o primeiro queria se firmar como principal player internacional. Resultado: bomba em Hiroshima (e Nagasaki). A fotografia mostra o primeiro bombardeio atômico da história. Morreram, num primeiro momento, 140 mil pessoas. Ao todo, devido às enfermidades, morreram 258 mil pessoas.

6 — Terror no centro do poder A fotografia do atentado terrorista nas torres gêmeas de Nova York, símbolo do poder financeiro americano, mostra a ação do terror moderno da al-Qaeda de Osama bin Laden, em 11 de setembro de 2001. O jornal “El Universal” escolheu uma fotografia mais neutra da tragédia, enfocando “a debilidade e a vulnerabilidade do” poder americano. Evitou escolher as fotografias mais dramáticas e chocantes de pessoas pulando do edifício.

7 — Fome e fraude no Sudão Segundo “El Universal, “a versão oficial indicava que a imagem vencedora do Pulitzer mostrava um menino que estava morrendo de fome, enquanto um abutre esperava o falecimento para poder alimentar-se. A realidade é que, embora a fotografia seja impactante, trata-se de uma fraude”. A fome, no Sudão, em 1993, era um fato. Mas o abutre não estava tão próximo do menino como a fotografia sugere. E o menino era assistido pela ONU. O fotógrafo se matou.

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8 — Destruição das florestas Uma foto ambientalista: a Indonésia, diz “El Universal”, é “o terceiro maior território do mundo em florestas tropicais, mas elas estão desaparecendo rapidamente”. O jornal diz que estão derrubando as árvores para fazer papel e para plantações. “A imagem mostra o grande dano que é causado ao ecossistema.” O mesmo ocorre na Amazônia, que está se tornando um imenso vazio, às vezes com pastagens para gado (inclusive de empresários e políticos goianos).

9 — Racismo nos Estados Unidos A foto vale mesmo por muitas palavras. Mostra a segregação dos negros nos Estados Unidos, no século 20. “Apesar da curta distância entre os lavados para gente branca e gente negra”, é possível ver a diferença de qualidade dos produtos. O para brancos é maior e de melhor qualidade. É como se os objetos “falassem”: “Vocês, negros, são inferiores aos brancos”. A luta dos negros e a consciência coletiva do País melhoraram a situação de igualdade jurídica.

10 — A mão do subdesenvolvimento “A pequena mão mostrada pela fotografia pertence a um menino faminto de Uganda. Ele é assistido por um missionário” — o dono da mão branca e sadia. “A comparação de ambas as mãos indica o grau de desnutrição do garoto.” A mão do menino parece mais uma garra ou o pata de uma ave de médio porte, tal a finura do braço. Num mundo em que os alimentos sobram, adultos e crianças ainda morrem de fome em vários países. A modernização nota-se, não é para todos.

Fonte: Jornal Opção – Goiânia, de 31 de julho a 6 de agosto de 2011. OPINIÃO – A – 39 Imprensa – Euler de França Belém – e-mail: [email protected]