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Deficiências na produção do texto escrito 221 ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ Identidade Científica, Presidente Prudente-SP, v. 2, n. 2, p. 221-235, jul./dez. 2011 AS DEFICIÊNCIAS NA PRODUÇÃO DO TEXTO ESCRITO: UM ESTUDO DE CASO REFERENTE AOS GRADUANDOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL Prof. Ms. Rogerio do Amaral 1 Faculdade de Comunicação Social “Jornalista Roberto Marinho” de Presidente Prudente Universidade do Oeste Paulista Resumo A presente pesquisa objetivou levantar os principais problemas de escrita dos graduandos de Comunicação Social, apontando possíveis soluções para tais deficiências; buscou os motivos que levam o graduando a ingressar na Faculdade com tais deficiências; analisou os erros mais frequentes e sua motivação. Para a execução dessa proposta adotou-se a entrevista como técnica de coleta de dados e o estudo de caso e a pesquisa qualitativa como método de análise dos resultados. Ao final da investigação constatou-se que os principais erros cometidos pelos discentes na produção textual referem-se ao uso da acentuação, ortografia e construção de frases. Percebeu-se também que o ensino de língua portuguesa centra-se no ensino das regras gramaticais, com pouco enfoque para a prática textual. Assim, a pesquisa conclui que essa deve ser a principal mudança no ensino da língua portuguesa, a substituição do ensino técnico das regras por aulas mais práticas, onde as regras aparecem dentro de um contexto. Palavras-chave: produção de texto; deficiência; graduação; comunicação social. Resumen La presente pesquisa objetivó levantar los principales problemas de la escrita de los graduandos de Comunicación Social, apuntando posibles soluciones para tales deficiencias; buscó los motivos que llevan el graduando a ingresar en la facultad con estas deficiencias; analizó los errores más frecuentes y su motivación. Para la ejecución de esa propuesta se ha adoptado la entrevista como técnica de colecta de datos y el estudio de caso y la pesquisa cualitativa como método de análisis de los resultados. Al final de la investigación se ha constatado que los principales errores de los alumnos en la producción textual están relacionados con el uso de la acentuación, ortografía y construcción de las frases. Se ha visto también que la enseñanza de la lengua portuguesa está centrada en las reglas gramaticales, con pocas actividades de práctica textual. Así, la pesquisa concluye que ese debe ser el principal cambio en la enseñanza de lengua portuguesa, la sustitución de la enseñanza técnica de reglas por clases prácticas, con el uso de las reglas en un contexto. Palabras-llave: producción textual; deficiencia; graduación; comunicación social. 1 Professor e Coordenador de Pesquisa da Faculdade de Comunicação Social “Jornalista Roberto Marinho” de Presidente Prudente, na Universidade do Oeste Paulista. Doutorando em Educação pela Universidade Estadual Paulista (Unesp / Presidente Prudente).

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Identidade Científica, Presidente Prudente-SP, v. 2, n. 2, p. 221-235, jul./dez. 2011

AS DEFICIÊNCIAS NA PRODUÇÃO DO TEXTO ESCRITO: UM

ESTUDO DE CASO REFERENTE AOS GRADUANDOS DE

COMUNICAÇÃO SOCIAL

Prof. Ms. Rogerio do Amaral1

Faculdade de Comunicação Social “Jornalista Roberto Marinho” de Presidente Prudente

Universidade do Oeste Paulista

Resumo

A presente pesquisa objetivou levantar os principais problemas de escrita dos

graduandos de Comunicação Social, apontando possíveis soluções para tais

deficiências; buscou os motivos que levam o graduando a ingressar na Faculdade com

tais deficiências; analisou os erros mais frequentes e sua motivação. Para a execução

dessa proposta adotou-se a entrevista como técnica de coleta de dados e o estudo de

caso e a pesquisa qualitativa como método de análise dos resultados. Ao final da

investigação constatou-se que os principais erros cometidos pelos discentes na produção

textual referem-se ao uso da acentuação, ortografia e construção de frases. Percebeu-se

também que o ensino de língua portuguesa centra-se no ensino das regras gramaticais,

com pouco enfoque para a prática textual. Assim, a pesquisa conclui que essa deve ser a

principal mudança no ensino da língua portuguesa, a substituição do ensino técnico das

regras por aulas mais práticas, onde as regras aparecem dentro de um contexto.

Palavras-chave: produção de texto; deficiência; graduação; comunicação social.

Resumen

La presente pesquisa objetivó levantar los principales problemas de la escrita de los

graduandos de Comunicación Social, apuntando posibles soluciones para tales

deficiencias; buscó los motivos que llevan el graduando a ingresar en la facultad con

estas deficiencias; analizó los errores más frecuentes y su motivación. Para la ejecución

de esa propuesta se ha adoptado la entrevista como técnica de colecta de datos y el

estudio de caso y la pesquisa cualitativa como método de análisis de los resultados. Al

final de la investigación se ha constatado que los principales errores de los alumnos en

la producción textual están relacionados con el uso de la acentuación, ortografía y

construcción de las frases. Se ha visto también que la enseñanza de la lengua portuguesa

está centrada en las reglas gramaticales, con pocas actividades de práctica textual. Así,

la pesquisa concluye que ese debe ser el principal cambio en la enseñanza de lengua

portuguesa, la sustitución de la enseñanza técnica de reglas por clases prácticas, con el

uso de las reglas en un contexto.

Palabras-llave: producción textual; deficiencia; graduación; comunicación social.

1 Professor e Coordenador de Pesquisa da Faculdade de Comunicação Social “Jornalista Roberto

Marinho” de Presidente Prudente, na Universidade do Oeste Paulista. Doutorando em Educação pela

Universidade Estadual Paulista (Unesp / Presidente Prudente).

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Introdução

Nos últimos anos, cresceram assustadoramente os comentários sobre o péssimo nível da

educação básica brasileira. Tanto educadores como pais de alunos mostram-se

insatisfeitos com esse quadro, mas os órgãos responsáveis nada fazem para mudar essa

drástica situação. Diante desse quadro negro do ensino, a falta de atitude gera um

problema tão grande, que o mesmo não se refere mais somente à educação básica, mas

atingiu também o ensino superior.

O autor desse trabalho é professor universitário há dez anos, e a cada novo

semestre percebe o aumento no número de alunos que não dominam técnicas básicas de

produção e interpretação de texto. Como professor da área de Língua Portuguesa em

curso de Comunicação Social, o pesquisador mostra-se preocupado com os rumos que a

educação tomará se tais problemas não forem resolvidos rapidamente.

Quanto à área de atuação, a Comunicação Social forma profissionais, cuja

principal ferramenta de trabalho é o texto. Dessa forma, qual será o futuro dessa área se

os graduandos continuarem apresentando tantos problemas de uso da língua materna.

Já a problematização surge da seguinte realidade, o ensino básico brasileiro

exige que o aluno frequente doze anos de escola, dividido em duas etapas, o ensino

fundamental (nove séries) e o ensino médio (três séries). Durante todo esse período, as

matérias mais enfatizadas são a língua portuguesa e a matemática, pois nosso sistema

educacional vigente considera preponderante que os alunos desenvolvam a capacidade

de produção de texto e cálculo.

No entanto, experiências em sala de aula de cursos de graduação mostram que

cada vez mais cresce o número de alunos com deficiências na produção textual, área de

atuação do pesquisador. Dessa forma, surge a intenção de realizar tal investigação,

objetivando responder os seguintes questionamentos: por que o número de alunos com

dificuldades na escrita aumenta cada vez mais nos cursos de graduação? E, quais são as

principais causas dessa defasagem?

A partir dessa problematização, a pesquisa propõe os seguintes objetivos:

levantar os principais problemas de escrita dos graduandos de Comunicação Social,

apontando possíveis soluções para tais deficiências; buscar os motivos que levam o

graduando a ingressar na Faculdade com tais deficiências; analisar os erros mais

frequentes e sua motivação; e, verificar as principais maneiras para sanar tal deficiência.

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Dessa forma a presente pesquisa pretende contribuir com a sociedade e com a

comunicação social, levantando as principais causas para que a cada ano os alunos

repitam erros básicos no uso da língua materna. Já o pesquisador alcançará

conhecimento que permitirá sanar algumas deficiências apresentadas pelos seus alunos,

assim como rever sua metodologia de ensino, para que tais erros sejam eliminados do

cotidiano da clientela acadêmica.

Referencial teórico

Na atualidade, com a globalização e os avanços tecnológicos, seria praticamente

impossível para o homem se relacionar sem a existência da escrita. Assim, esse capítulo

faz um pequeno recorte sobre a história da escrita e sua importância para a

comunicação.

A escrita como conhecemos hoje tem origem na Grécia, quando os gregos

agregam as vogais ao sistema de escrita fenício dando origem ao sistema alfabético.

Esse sistema foi adaptado pelos romanos originando o sistema alfabético grego-romano,

do qual se tem origem o nosso alfabeto.

Com a consolidação do sistema alfabético, a escrita também se consolida e

transforma-se num método de registro da memória cultural, política, artística, religiosa e

social de um povo. Através dela tornou-se possível instrumentalizar a reflexão, a

expressão e a transmissão de informações, entre outras necessidades sociais. Segundo

Neves (2008, p. 113) a escrita “é algo tão importante na história que, para alguns, só

existe história quando existe escrita [...].”

Atualmente, os meios de comunicação também desempenham um papel

preponderante na sociedade moderna. Tal papel, de certa maneira, constrói-se a partir da

escrita, pois a produção textual é essencial na prática da comunicação, e seja com a

intenção de informar um fato ou vender um produto, cabe ao texto influenciar o

leitor/consumidor.

Dessa forma, compreendendo o texto como a principal ferramenta de trabalho

do comunicólogo, torna-se necessário analisar o papel da escrita na sociedade. Sobre

isso, Vanoye (1998, p. 69) afirma que a escrita trata-se de “um sistema simbólico de

representação da fala”. O autor ainda afirma que a evolução da escrita está dividida em

três etapas: a escrita sintética; a escrita analítica e a escrita fonética.

Para Vanoye (1998), a escrita sintética refere-se a um signo que representa toda

a frase. A escrita analítica reduz a frase global a elementos mais simples a palavra,

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enquanto a escrita fonética marca os sons, ou seja, temos a passagem do ideograma ao

sistema fonético. Mas, apesar dessa evolução, o autor aponta que não existe nenhum

sistema puro atualmente, isto é, que se utilize de um único tipo de escrita. Na verdade,

compreende-se então que a comunicação atual está pautada na convivência harmoniosa

de imagem, palavras e sons.

No entanto, é exatamente nessa falta de harmonia que residem os principais

erros cometidos pelos alunos ingressantes do ensino superior, e que se tornam o objeto

central da presente investigação sobre as dificuldades da aquisição da linguagem, pois

escrever é fundamental para o desenvolvimento de qualquer profissional, tanto que

Halliday (apud LANDSMANN, 1998, p. 15), afirma que “a escrita [...] cria um novo

tipo de conhecimento: o conhecimento científico; e uma nova forma de aprendizagem,

chamada ensino”. Para Marques (1997, p. 41) é “o escrever que imprime significância à

escrita; mas, antes necessitou o homem descobrir que os traços depositados em algum

suporte material podem sinalizar para algo outro que eles mesmos, para uma ação

humana reconhecível nas marcas que deixou após si [...]”, ou seja, essas marcas podem

ser entendidas como o conhecimento transmitido de uma geração para outra através da

escrita.

A partir dessa importância adquirida pela escrita, ela tornou-se um processo

indispensável na alfabetização, assim por muito tempo considerava-se alfabetizado

somente aquela pessoa que tinha domínio pleno da escrita e da leitura. Para Cagliari

(1998, p. 12) “quem inventou a escrita inventou ao mesmo tempo as regras de

alfabetização, ou seja, as regras que permitem ao leitor decifrar o que está escrito,

entender como o sistema da escrita funciona é saber como usá-lo apropriadamente.”

Assim, observada a importância da escrita para a formação pessoal e porque

não dizer profissional, passa-se para a exposição dos procedimentos metodológicos

adotadas no presente trabalho.

Materiais e métodos

O universo investigado refere-se ao Tronco Comum, ou seja, os quatro termos iniciais

de um curso de Comunicação Social, local em que o pesquisador trabalha como

professor de disciplinas da área de língua portuguesa. Os discentes investigados foram

abordados a partir das disciplinas ministradas pelo pesquisador, a partir dos trabalhos

desenvolvidos em sala e em cujo conteúdo verificou-se a recorrência de erros que

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prejudicam a produção escrita. Os textos foram selecionados de forma aleatória ao

longo de dezoito meses nas aulas de língua portuguesa e interpretação de textos.

Para nortear tal investigação optou-se pelo método do estudo de caso, pois

segundo Goldenberg (1997, p. 34), “o estudo de caso reúne o maior número de

informações [...] por meio de diferentes técnicas [...], com o objetivo de apreender a

totalidade de uma situação e descrever a complexidade de um caso concreto”, que nesse

trabalho refere-se ao levantamento do porquê os alunos ingressam na faculdade com

tamanha deficiência no quesito da produção textual, mesmo depois de frequentar os

bancos escolares por doze anos e tendo a língua portuguesa como o conteúdo mais

estudado.

Ainda segundo Goldenberg (1997, p. 35), “o pesquisador precisa estar

preparado para lidar com uma grande variedade de problemas teóricos e com

descobertas inesperadas, e, também, para reorientar seu estudo”. Mas, essa possibilidade

de trabalhar com fatos inesperados é o que move a pesquisa, pois dessa forma podem-se

levantar os motivos de tais deficiências textuais.

Além do estudo de caso, opta-se também pela pesquisa qualitativa, isso porque

os dados qualitativos “consistem em descrições detalhadas de situações com o objetivo

de compreender os indivíduos em seus próprios termos” (GOLDENBERG, 1997, p. 53).

Tais descrições serão aferidas a partir da identificação dos erros dentro das salas onde o

professor ministra aula semanalmente.

A escolha da pesquisa qualitativa também se justifica pela possibilidade

oferecida ao pesquisador de colocar em prática a sua capacidade de analisar e refletir

sobre os dados elencados, uma vez que os dados qualitativos obrigam o pesquisador

“[...] a ter flexibilidade no momento de coletá-los e analisá-los. [...] o bom resultado da

pesquisa depende da sensibilidade, intuição e experiência do pesquisador”

(GOLDENBERG, 1997, p. 53).

Quanto às técnicas de pesquisa, em primeiro lugar, empregou-se a pesquisa

bibliográfica que segundo Marconi e Lakatos (2005, p. 183), “abrange toda bibliografia

já tornada pública em relação ao tema de estudo.”, sendo nesse caso as teorias acerca da

escrita e dos mecanismos corretos de produção do texto.

Para Manzo (apud MARCONI; LAKATOS, 2005, p. 183), a bibliografia

pertinente “oferece meios para definir, resolver não somente problemas já conhecidos,

como também explorar novas áreas onde os problemas não se cristalizaram

suficientemente”.

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Outra fonte de coleta de dados empregada foi a entrevista, cujo escolha recaiu

sobre o tipo padronizada ou estruturada, definida por Marconi e Lakatos (2005, p. 197),

como: “aquela em que o entrevistador segue um roteiro previamente estabelecido, as

perguntas feitas ao indivíduo são pré-determinadas. [...] é efetuada de preferência com

pessoas selecionadas de acordo com um plano”.

Quanto à análise dos resultados, está foi pautada na análise qualitativa, pois a

presente pesquisa teve a pretensão de compreender as motivações para a ocorrência de

tais erros, buscando também soluções capazes de sanar essa deficiência, pois o autor

compreende que quando alunos chegam ao ensino superior com deficiências básicas,

tais deficiências são também de responsabilidade de todos os docentes, já que é papel

desses profissionais capacitar o aluno.

Resultados

Os resultados levantados e analisados por esta pesquisa foram coletados de duas formas.

Num primeiro momento realizou-se uma entrevista com sessenta e cinco alunos

escolhidos de maneira aleatória nas disciplinas ministradas pelo pesquisador. O objetivo

dessa entrevista era observar como os discentes avaliavam o ensino básico frequentado

por eles.

Na sequência, o segundo passo consistiu em recolher alguns textos produzidos

por esses discentes e observar a existência de erros, e nesse caso, identificar os erros

cometidos com mais frequência. Foram analisados cento e oitenta e sete textos

escolhidos também de maneira aleatória a partir das produções discentes realizadas num

período de doze meses entre maio de 2010 e abril de 2011.

Tais informações geraram os dados que serão fornecidos no próximo tópico,

cuja apresentação se dará da seguinte forma, primeiro serão apresentados os dados

colhidos na entrevista com os alunos e posteriormente apresentam-se os dados obtidos a

partir da análise de textos produzidos pelos discentes em sala de aula.

Visão discente sobre o ensino de língua portuguesa

O primeiro questionamento feito aos discentes tinha a intenção de saber o tipo de escola

frequentada por eles, assim quanto ao local onde os entrevistados estudaram durante o

ensino fundamental e médio, a realidade levantada é a seguinte:

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FIGURA 1 - Onde cursou ensino fundamental e médio

Escola pública

57%

Escola particular

20%

Escola pública e particular

23%

Colunas1

A partir da identificação da situação de ensino vivenciada pelos discentes foi

possível também averiguar a quantidade de escolas frequentadas pelos discentes em

cada uma das situações apresentadas acima, conforme se observa nas figuras 2, 3 e 4.

FIGURA 2 – Número de escolas públicas frequentadas

Uma escola40%

Duas escolas

40%

Mais de duas escolas

20%

FIGURA 3 – Número de escolas particulares frequentadas

Uma escola31%

Duas escolas42%

Mais de duas escolas

16%

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FIGURA 4 - Número de escolas públicas e particulares frequentadas

Duas escolas

40%Mais de

duas escolas

60%

Na sequência, os discentes foram questionados sobre como eram as aulas

ministradas durante o ensino fundamental e médio. As respostas obtidas foram as

seguintes:

FIGURA 5 - Como eram as aulas de língua portuguesa na visão dos discentes

Aulas boas29%

Aulas razoáveis ou

regulares

14%

Aulas com muita

gramática

8%

Aulas ótimas ou

excelentes

8%

Aulas boas no

Fundamental

e básicas no Médio…

Outras respostas

29%

Não responderam

8%0% 0%

O questionamento seguinte objetivou perceber como os alunos avaliavam a si

mesmos como produtores de textos. Para essa pergunta os resultados foram estes:

FIGURA 6 - Os discentes se consideram bons produtores de texto

40%

34%

21%

5%

Sim

Não

Razoável

Outras respostas

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A partir dessa avaliação dos alunos sobre o trabalho com textos, os

questionamentos seguintes pretendiam identificar os principais erros cometidos na

produção textual, os motivos para tal ocorrência e quais as formas mais adequadas na

visão deles para sanar essas deficiências, conforme se observa nas figuras 7, 8 e 9.

FIGURA 7 - Maior dificuldade para produzir um texto

19%

15%

8%6%6%5%

3%

38%

Organização Introdução Gramática

Criatividade Repertório Desenvolvimento

Não responderam Outras Respostas

FIGURA 8 – O discente identifica os motivos dos erros cometidos

31%

17%

4%5%

11%

32%

Não

Falta de leitura

Ensino ruim na base

FIGURA 9 - Visão discente para sanar as dificuldades textuais

25%

21%

9%6%5%

5%

17%

12%

Leitura

Produzir mais textos

Treinar mais

Ensino mais interativo

Melhorar o ensino na base

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A entrevista com os discentes foi encerrada com os questionamentos sobre o

conteúdo predominante durante o ensino básico, e se com esse ensino recebido eles se

sentem preparado para exercer a profissão de comunicólogo, que tem a produção textual

como a base profissional. As respostas são apresentadas nas figuras 10 e 11.

FIGURA 10 - Conteúdo enfatizado no ensino básico

40%

11%

41%

8%Gramática

Organização de ideias

Não responderam

Outras respostas

FIGURA 11 - O conhecimento adquirido no ensino básico permite

exercer a profissão de comunicólogo

46%

45%

3% 6%

Não

Sim

Não responderam

Outras respostas

Dados coletados em exercícios produzidos pelos discentes

Quanto aos dados coletados em sala de aula, eles foram extraídos de cento e oitenta e

sete textos, escolhidos em atividades aleatórias e produzidas nas disciplinas ministradas

pelo autor desse trabalho.

Essa coleta permitiu o levantamento do número de textos que apresentam erros,

assim como, quais são os tipos de erros cometidos e em que quantidade isso ocorre

durante a produção textual do universo investigado, conforme se observa nas figuras 12

e 13.

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FIGURA 12 - Situação dos 187 textos analisados

16%

84%

Corretos

Errados

FIGURA 13 - Quantidade e tipos de erros cometidos

96

55 5532

16 15 12 10 10 9 8 7 6 4 3 1 1 1

Ace

ntu

ação

Ort

ogr

afia

Co

nst

ruçã…

Co

nco

rdân…

Au

sên

cia …

Ort

ogr

afia

Po

ntu

ação

Sub

stan

tiv…

Red

un

dân

cia

Ger

un

dis

mo

Cra

se

Tro

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e …

Co

nco

rdân…

Locu

ção

Mar

cas …

Co

nce

ito

Ne

olo

gism

o

Co

loq

uia

lis…

187 textos analisados

Discussão

O objetivo desse estudo não é julgar a qualidade do ensino oferecido na base e muito

menos afirmar que escolas particulares são melhores que as públicas e vice-versa.

Assim, o que deve ser observado nas figuras de 1 a 4 (ver item 4.1) é que a realidade

dos discentes investigados mostra pouca mobilidade entre escolas, ou seja, os alunos

permanecem todo o ciclo de ensino numa única escola, frequentando no máximo duas

escolas durante o período de ensino fundamental e médio, e esse fato é fruto da nova

política educacional paulista que tem concentrado os ciclos educacionais em escolas

distintas, por isso muitas vezes os alunos são obrigados a trocar de escola ao término do

ensino fundamental.

Dessa forma, a possibilidade das deficiências dos discentes estarem

relacionadas ao trânsito escolar fica descartada, pois a pesquisa mostra que a realidade

vigente aqui é outra. Assim, o próximo passo seria julgar o trabalho desenvolvido nas

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salas de aula, mas esse também, segundo os alunos não é causa para os erros, pois na

figura 5 (ver item 4.1) tem-se a visão dos alunos sobre as aulas no ensino básico, e pelo

menos metade considerou as aulas como excelentes, boas ou razoáveis.

Já a partir da figura 6 (ver item 4.1), a discussão torna-se mais acentuada, pois

na visão da maioria dos alunos eles são bons redatores de texto, no entanto, a análise

dos materiais produzidos por eles mostram uma realidade um pouco diferente, onde na

visão do pesquisador a porcentagem atribuída para bons produtores deveriam ser

invertida com a porcentagem de produtores razoáveis de texto.

Quanto ao assunto abordado nas figuras 7 e 8 (ver item 4.1) referentes às

dificuldades para produzir um texto e os motivos dessas dificuldades, as respostas

refletem a realidade dos trabalhos, pois os discentes apresentam problemas de

organização de ideias, dificuldades para introduzir um assunto, assim como ainda

cometem muitos erros gramaticais básicos, como acentuação, ortografia e concordância

verbal e nominal, principalmente. E, tais deficiências estão atreladas ao fato dos alunos

lerem pouco, como eles mesmos relataram na pesquisa. Quem lê pouco, tem

conhecimento restrito e dessa forma apresenta muito mais dificuldade para escrever

sobre um assunto externo ao seu cotidiano.

Diante de tais dificuldades, os argumentos apresentados pelos alunos para

sanar essas questões, onde predomina uma prática maior de leitura e de produção

textual, conforme figura 9 (ver item 4.1), realmente parece ser a maneira mais efetiva

para ajudá-los a escrever melhor. Já quanto ao fato do ensino básico enfatizar o ensino

da gramática, como mostra a figura 10 (ver item 4.1), esse parece ser um ponto para

reflexão, pois se as maiores deficiências estão atreladas a organização de ideias, me

parece que o mais indicado seria uma revisão do conteúdo de língua portuguesa, onde o

excesso no ensino de regras gramaticais fosse substituído pelo ensino da prática de

produzir textos, e a partir desses exercícios os professores poderiam trabalhar as regras

gramaticais, mostrando para o aluno qual a forma correta dentro de um determinado

contexto escolhido por ele e não a partir dos exemplos soltos oferecidos pelos livros

didáticos.

Já na figura 11 (ver item 4.1) reitero a consideração feita para a figura 6, os

textos produzidos e analisados apresentam uma realidade distinta, pois os discentes

investigados, até o momento apresentam uma porcentagem menor de pessoas

capacitadas para o mercado de trabalho com comunicação, área que exige uma redação

textual eficiente e com o menor número de erros possível.

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Quanto aos trabalhos analisados, o objetivo da investigação consistiu em

identificar a ocorrência de erros básicos da língua portuguesa. Nesse âmbito percebeu-se

que a grande maioria dos textos apresenta pelo menos um desses erros, conforme

mostra a figura 12 (ver item 4.2).

Já na figura 13 (ver item 4.2) temos a distribuição desses erros, onde

predominam os erros de acentuação, que nesse caso referem-se tanto à falta de acento,

como a colocação de acento em palavras que não o levam, conforme os exemplos

“democrácia" e “econômia". Tal erro pode ser compreendido a partir de dois motivos, o

primeiro existe uma desatenção dos discentes durante a produção do exercício, mas com

certeza esse erro de acentuação aumenta a partir do momento que os discentes têm um

contato maior com os computadores, pois como essas máquinas têm programas que

corrigem automaticamente o erro, o aluno não tem mais a preocupação de corrigir o

texto, transferindo a responsabilidade para o programa de computador, mas ao produzir

um texto manuscrito os erros aparecem, uma vez que não existe programa para ajudá-lo.

Na sequência nos deparamos com a mesma quantidade de erros de ortografia e

construção de frases, tais erros estão atrelados à questão da falta de leitura por parte dos

alunos, assim como ao excesso do ensino de gramática na base e à falta de exercícios

práticos. No tocante à ortografia, os erros mais comuns são “opniões”, “relegendo”,

“apartir”, “nessecita”, entre outros. Já a construção de frases apresenta os seguintes

erros, “estão deixando de ser ditadura para um país democracia onde o cidadão possa

tomar partido, relegendo novos governos.” Ou “nada do que é feito é na pura

democracia, é cobrado e é mostrado isso para a sociedade mais se olharmos com o olhar

democrático teremos a visão de...”, ou seja, a construção empresa é totalmente

desprovida de sentido, e configura-se como um amontoado de palavras apenas.

Além desses erros apresentados aqui, os trabalhos confirmaram a existência de

outros erros relatados pela maioria dos professores de língua portuguesa, são eles a

concordância verbal e nominal, pontuação, redundância, uso da crase, entre outros como

mostra a figura 13 (ver item 4.2). Mas, a discussão a respeito desse erro deve estar

atrelada a uma mudança de postura no ensino de língua portuguesa, onde a gramática

deve se transformar numa parte do conteúdo e não no seu guia, pois o guia do ensino de

língua portuguesa deve ser a organização de ideias, isto é, o ensino deve cobrar mais a

prática textual e inserir dentro dessa prática o ensino das regras gramaticais, para que os

discentes as aprendam a partir do uso e não de forma solta, como é a prática dos livros

didáticos de hoje.

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Considerações finais

Ao final dessa investigação pode-se afirmar que os objetivos propostos foram

contemplados, pois foi possível identificar quais são as maiores deficiências cometidas

pelos discentes de um curso de comunicação social durante a produção textual, com

predominância para os erros de acentuação, ortografia, construção de frases e

concordância verbal. No entanto, identificou-se também mais catorze tipos de erros num

grau menor de ocorrência, fato que mostra a necessidade dos professores da área de

língua portuguesa terem uma atenção maior com esses desvios de norma apresentados

pelos discentes.

Quanto às motivações para a ocorrência dessas deficiências textuais, elas estão

atreladas ao tipo de proposta de ensino colocada em prática no Brasil e que prioriza um

ensino fragmentado, pautado em modelos sem contextualização e voltados mais para a

chamada “decoreba” do que o aprendizado real e prático, ou seja, falta uma abordagem

mais prática, cujas regras gramaticais sejam ensinadas num contexto específico, de

acordo com a realidade de cada discente.

Assim, ao concluir esse estudo a consideração final sugere aos professores de

língua portuguesa uma mudança de paradigma. Deve-se ocorrer a substituição

tradicionalista da gramática por um ensino que vise à atividade prática, o uso corrente

da língua. Dessa forma, a produção textual se transformará em algo mais natural para o

aluno, pois fará parte do seu cotidiano e cobrará seu conhecimento, sua capacidade de

resolver problemas, sem a necessidade de decorar regras, mas aprendendo a usá-las de

maneira efetiva.

REFERÊNCIAS

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Scipione, 1998.

GOLDENBERG, Mirian. A arte de pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa em

ciências sociais. Rio de Janeiro: Record, 1997.

LANDSMANN, Liliana Tolchinsky. Aprendizagem da linguagem escrita – processos

evolutivos e implicações didáticas. Tradução de Cláudia Schilling. 3. ed. São Paulo:

Ática, 1998.

MARQUES, Mário Osório. Escrever é preciso: o princípio da pesquisa. Ijuí:

Unijuí, 1997.

Deficiências na produção do texto escrito 235

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Identidade Científica, Presidente Prudente-SP, v. 2, n. 2, p. 221-235, jul./dez. 2011

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de

metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2005.

NEVES, Iara. Ler e Escrever: Compromisso de todas as áreas. Porto Alegre:

Editora da UFRGS, 2003.

VANOYE, Francis. Usos da linguagem: problemas e técnicas na produção oral e

escrita. Tradução de Clarisse Madureira Sabóia et al. 11. ed. São Paulo: Martins Fontes,

1998.