As condições dos cursos de licenciatura em Geografia no Brasil ...
Transcript of As condições dos cursos de licenciatura em Geografia no Brasil ...
-
UNIVERSIDADE DE SO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CINCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM GEOGRAFIA HUMANA
VIVIAN FIORI
AS CONDIES DOS CURSOS DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA NO BRASIL: UMA ANLISE TERRITORIAL E DE SITUAO
(Verso Revisada)
So Paulo, Outubro de 2012
-
VIVIAN FIORI
AS CONDIES DOS CURSOS DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA
NO BRASIL: UMA ANLISE TERRITORIAL E DE SITUAO
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Geografia Humana da FFLCH- USP.
Orientadora: Prof Dr Nidia Nacib Pontuschka
So Paulo, Outubro de 2012
-
FIORI, Vivian. As condies dos cursos de licenciatura em Geografia no Brasil: uma anlise territorial e de situao. Tese apresentada ao
Departamento de Geografia, da Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas, da Universidade de So Paulo, para a obteno do ttulo de Doutora em Geografia Humana.
Aprovado em: 20/01/2013.
Banca Examinadora
Profa. Dra. Maria Laura Silveira
Instituio: FFLCH- Departamento de Geografia- Universidade de So Paulo.
Assinatura: _______________________________________________________
Prof. Dr. Fbio Contel
Instituio: FFLCH- Departamento de Geografia- Universidade de So Paulo.
Assinatura: _______________________________________________________
Profa. Dra. Nuria Hanglei Cacete
Instituio: Faculdade de Educao- Universidade de So Paulo
Assinatura: _______________________________________________________
Profa. Dra. Maria Isabel de Almeida
Instituio: Faculdade de Educao- Universidade de So Paulo
Assinatura: _______________________________________________________
Profa. Dra. Nidia Nacib Pontuschka
Instituio: Faculdade de Educao e FFLCH- Departamento de Geografia- USP
Assinatura: _______________________________________________________
-
Dedico esta tese a minha me, pelo esforo com que sempre me incentivou a estudar
-
AGRADECIMENTOS
A minha me por ter me ensinado a lutar pela vida.
Aos meus irmos Vagner e Valmir pelo apoio dado ao longo de minha existncia.
Ao Marco Antonio Gomes, meu marido, pelo apoio, incentivo, conforto e
pacincia neste perodo da elaborao da tese.
Aos meus amigos e amigas de trabalho Dirceu de Oliveira, Adriana Furlan,
Gabrielli Cifelli, Flvio Bezerra da Silva, Carlos Eduardo Martins e Ins Confuorto
pelo apoio e por sugestes que enriqueceram este trabalho.
Aos meus amigos do grupo de pesquisa, Carla, Eustquio, Edjailson, Marcos,
Tiago, Claudivan, Amlia, Mrcio, Edna, Gustavo, Robson, Ari e Dulcinia.
Aos meus amigos, Lenice Mancini, Genny Cavallaro, Marco Latorre, Andr Araujo,
Fernando Sarle e, em especial, ao Maurcio Yamada pela ajuda na produo dos
mapas.
prof Amlia Maria Jarmendia por auxiliar-me na reviso lingustica do texto.
prof Nidia Nacib Pontuschka pela orientao, amizade e apoio para na
construo desta pesquisa.
Aos professores Maria Laura Silveira e Fbio Contel pelas inmeras contribuies
na banca de qualificao e tambm na defesa final.
s professoras Nuria Hanglei Cacete e Maria Isabel de Oliveira que compuseram a banca de defesa.
Aos professores Manoel Fernandes, Sandra Zakia, Afrnio Catani e Maria Adlia de Souza pelas aulas e referncias bibliogrficas de suas disciplinas, que contriburam para a fundamentao desta tese.
Universidade Cruzeiro do Sul por ter me apoiado ao longo de minha carreira
nesta instituio.
Aos meus queridos alunos do Curso de Geografia, que me desafiam a conhecer
sempre mais.
Aos professores, coordenadores e alunos de cursos de Geografia, cujos
depoimentos foram fundamentais para a finalizao desta pesquisa.
Ao Inep e aos funcionrios por terem disponibilizado informaes sobre os
docentes dos cursos de Geografia.
A todos os autores citados nesta pesquisa, pois, sem eles, no conseguiria
desenvolver este trabalho.
-
Mestre no quem sempre ensina,
mas quem, de repente, aprende"
Guimares Rosa.
-
RESUMO
Esta tese trata da anlise das condies existentes nos cursos de licenciatura em
Geografia com a mediao do territrio brasileiro. A existncia destes cursos tem
relao com os processos histricos, sociais, polticos e espaciais. Os eventos,
sobretudo os relativos educao superior, so fundamentais para o
entendimento de algumas de suas principais caractersticas. Nesta pesquisa,
constatou-se que algumas das problemticas destes cursos, embora em novas
condies polticas, educacionais e espaciais, permanecem ainda hoje, tais como:
a relao dos perfis dos cursos de licenciatura e bacharelado, a dicotomia entre
Geografia Fsica e Humana, bem como a falta de professores, entre outras. Para
operacionalizar esta pesquisa, privilegiou-se a anlise dos cursos no perodo ps
1996, devido influncia das polticas estabelecidas pela Lei de Diretrizes e
Bases da Educao Nacional (1996), pela legislao prpria das licenciaturas
(2002), pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Geografia
(2002), pelo sistema de avaliao de cursos e pelo Plano de Expanso das IES
Federais (2007). Os dados qualitativos e quantitativos nesta tese so,
principalmente, provenientes de depoimentos de docentes, coordenadores e
discentes das licenciaturas em Geografia no Brasil; do Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira (Inep); do questionrio
socioeconmico dos estudantes de Geografia, que fizeram o Exame Nacional de
Desempenho dos Estudantes (Enade), nas dimenses docente, discente e de
elementos curriculares dos cursos, a partir dos quais foram produzidos grficos,
tabelas e mapas. Aps uma apresentao geral dos cursos, realizou-se uma
anlise pormenorizada da situao das licenciaturas em Geografia na Amaznia,
Maranho, Piau, Pernambuco e dos cursos de Geografia oferecidos a Distncia,
que se interiorizaram no territrio brasileiro. Decorre como resultado da pesquisa
que o processo de interiorizao criou algumas singularidades nas licenciaturas
pesquisadas, que tm relao com a formao e dinmica territorial do Brasil,
com o tipo de IES no qual o curso est inserido e com a modalidade na qual a
licenciatura em Geografia oferecida.
Palavras-chave: Licenciatura. Geografia. Territrio. Interiorizao. Anlise de
Situao.
-
ABSTRACT
This thesis analyses the existing conditions of the Geography Teaching Courses
with the mediation of the Brazilian territories. These courses have a strict
relation with the historical, social, political and spatial processes. The events,
especially those related to Higher Education, are centrally for understanding
some of their main characteristics. Although within new political, educational and
spatial conditions, some problematic aspects of these courses - that remain even
these days - were detected in this research, such as the relation of the profile of
undergraduate Geography Teaching Courses and Bachelors Degree Courses, the
dichotomy between Physical and Human Geography, as well as the lack of
teachers, among others. For carrying this research out, courses created after
1996 were focused on in the analysis, especially due to the influence of the
policies established by the Law of Guidelines and Bases of National Education
(1996); by the specific legislation of Teaching Courses (2002); by the National
Curricular Guidelines for the Geography Courses (2002); by the evaluation
system of courses and by the Expansion Plan of Federal Institutions (2007). The
qualitative and quantitative data of this thesis were, mainly, gathered from the
testimony of teachers, coordinators and students of undergraduate Geography
Teaching Courses in Brazil; from The Ansio Teixeira National Institute of Studies
and Educational Research (Inep); from the social economical questionnaire
answered by Geography students, who did the National Exam of Students
Performance (Enade), on the dimensions related to teachers, students and
curricular elements of the courses. With these data, graphics, tables and maps
were produced. After a general overview of the courses, a detailed analysis of
the current situation of the Geography Teaching Courses offered in Amaznia,
Maranho, Piau, Pernambuco all regions/ cities in the North and Northeast of
Brazil - was provided. Geography courses offered in the Distance Modality, which
were implemented in an inner Brazilian territory, were also analysed. The
research results highlighted that the implementation of courses in the inner
territory of Brazil has created some singularities in the researched courses. These
singularities are related to the formation and the territorial dynamics of Brazil
and also to the kind of institution in which the course is offered, as well to the
type of modality of the course.
Keywords: Teaching Courses. Geography. Territory. Interiorization. Situation
Analysis.
-
LISTA DE SIGLAS E ABREVIAES
AGB - Associao dos Gegrafos Brasileiros
AGE - Atlas Geogrfico Escolar
Anpege - Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em Geografia
AVA Ambiente Virtual de Aprendizagem
CAPES - Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior
CESA - Centro de Ensino Superior de Arcoverde
CESVASF - Centro de Ensino Superior do Vale So Francisco
CFE - Conselho Federal de Educao
CNE- Conselho Nacional de Educao
CES- Cmara de Educao Superior
CNG - Conselho Nacional de Geografia
CP- Conselho Pleno
CPA - Comisso Prpria de Avaliao
CPC - Conceito Preliminar de Curso
DAES- Departamento de Avaliao de Ensino Superior
DINTER Doutorado Interinstitucional
EAD Educao a Distncia
ECS - Estabelecimentos Cientficos Superiores
Enade Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes
ENC - Exame Nacional de Cursos
ENEM - Exame Nacional do Ensino Mdio
FNFi Faculdade Nacional de Filosofia
FACHUSC Faculdade de Cincias Humanas do Serto Central
FAFOPA - Faculdade de Formao de Professores de Araripina
FAFOPST - Faculdade de Formao de Professores de Serra Talhada
FAMASUL - Faculdade de Formao de Professores da Mata Sul
FAROL Faculdade de Rolim Moura
FFLCH Faculdade de Filosofia Letras e Cincias Humanas
FFPG - Faculdade de Formao de Professores de Goiana
FHC - Fernando Henrique Cardoso
FIAR Faculdades Integradas de Ariquemes
-
FIESC Faculdade Integrada de Ensino Superior de Colinas
FNDE - Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao
FOCCA Faculdade de Olinda
FNFi - Faculdade Nacional de Filosofia
FTC Faculdade de Tecnologia e Cincias
GATT- Acordo Internacional de Tarifas e Comrcio
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
IDD- Indicador de Diferena entre os Desempenhos
IDEB ndice de Desenvolvimento da Educao Bsica
IES - Instituies de Ensino Superior
IESPs Instituies de Ensino Superior Pblicas
IFPE Instituto Federal de Pernambuco
IHGB - Instituto Histrico e Geogrfico Brasileiro
Inep - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
LDB- Lei de Diretrizes e Bases
LDBEN - Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional
MEC - Ministrio da Educao
OCDE - Organizao para Cooperao e Desenvolvimento Econmico
OMC- Organizao Mundial do Comrcio
Parfor - Plano Nacional de Formao de Professores da Educao Bsica
PND- Plano Nacional de Desenvolvimento
PQD Programa de Qualificao Docente
PUC- Pontifcia Universidade Catlica
RBG- Revista Brasileira de Geografia
REGIC Regies de Influncias das Cidades
RENEX Rede Nacional de Extenso
RJU Regime Jurdico nico
REUNI- Programa de Apoio de Planos de Reestruturao e Expanso das
Universidades Federais
SEED - Secretaria de Educao a Distncia
SESu- - Secretaria de Educao Superior
SGRJ - Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro
Sinaes - Sistema de Avaliao da Educao Superior
-
SUFRAMA Superintendncia da Zona Franca de Manaus
TCC Trabalho de Concluso de Curso
TIC Tecnologia de Informao e Comunicao
UDF - Universidade do Distrito Federal
UEA Universidade Estadual do Amazonas
UEFS Universidade Estadual de Feira de Santana
UEG Universidade Estadual de Gois
UEL Universidade Estadual de Londrina
UEM Universidade Estadual de Maring
UEMA - Universidade Estadual do Maranho
UEPA Universidade Estadual do Par
UEPB Universidade Estadual da Paraba
UEPG Universidade Estadual de Ponta Grossa
UESPI - Universidade Estadual do Piau
UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro
UERN - Universidade Estadual do Rio Grande do Norte
UESB Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
UF - Unidade da Federao
UFAC Universidade Federal do Acre
UFAM Universidade Federal do Amazonas
UFBA - Universidade Federal da Bahia
UFCE- Universidade Federal do Cear
UFES Universidade Federal de Feira de Santana
UFF - Universidade Federal Fluminense
UFG Universidade Federal de Gois
UFMG Universidade Federal de Minas Gerais
UFMT Universidade Federal do Mato Grosso
UFOPA Universidade Federal do Oeste do Par
UFPA Universidade Federal do Par
UFPB Universidade Federal da Paraba
UFPE - Universidade Federal de Pernambuco
UFPI Universidade Federal do Piau
UFPR - Universidade Federal do Paran
-
UFRA Universidade Federal Rural da Amaznia
UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul
UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro
UFRN- Universidade Federal do Rio Grande do Norte
UFRR Universidade Federal de Roraima
UFS- Universidade Federal do Sergipe
UFSC Universidade Federal de Santa Catarina
UFT - Universidade Federal do Tocantins
UFU Universidade Federal de Uberlndia
UnB- Universidade de Braslia
UNEB Universidade do Estado da Bahia
UNEMAT Universidade Estadual do Mato Grosso
UNESCO Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a
Cultura
UNESF Unio das Escolas Superiores -
UNESP - Universidade Estadual Jlio de Mesquita
UNIAM Universidade Federal da Integrao da Amaznia
UNIASSELVI- Centro Universitrio Leonardo da Vinci
Unicamp Universidade de Campinas
UNICASTELO- Universidade Camilo Castelo Branco
Unicentro Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paran
UNIFAP Universidade Federal do Amap
UNIFESSPA Universidade Federal do Sul-Sudeste do Par
UNIMES Universidade Metropolitana de Santos
UNIOESTE Universidade Estadual do Oeste do Paran
UNINORTE Centro Universitrio do Norte
UNIR Universidade Federal de Rondnia
UNISA Universidade Santo Amaro
UNITINS Universidade do Tocantins
UPE Universidade de Pernambuco
USP - Universidade de So Paulo
URCA Universidade Regional do Cariri
-
LISTA DE MAPAS
Mapa 1 Evoluo do Nmero de Instituies de Ensino Superior, por Unidade da Federao - Brasil 1933- 1953............................ 60
Mapa 2 Cursos de Geografia em Bacharelado e Licenciatura no Brasil - 1959 ............................................................................... 62
Mapa 3 Evoluo do Nmero de Instituies de Educao Superior, por
Unidade da Federao Brasil 1971 - 1988........................ 74
Mapa 4 Cursos de Geografia em Bacharelado e Licenciatura no Brasil
1989 ............................................................................... 74
Mapa 5 Municpios com Cursos de Geografia do Parfor - 2010 ............ 86
Mapa 6 Evoluo do Nmero de Instituies de Educao Superior, por
Unidade da Federao - Brasil 1998-2008............................. 87
Mapa 7 Cursos de Geografia em Bacharelado e Licenciatura no Brasil -
2009................................................................................ 87
Mapa 8 Os Cursos de Licenciatura em Geografia no Interior do Brasil 2009................................................................................ 125
Mapa 9 Total da Populao dos Municpios com Cursos de Licenciatura em Geografia no Brasil - 2009............................................. 128
Mapa 10 Municpios com Cursos de Geografia 1996 ......................... 131
Mapa 11 Municpios com Cursos de Geografia 2009 ......................... 135
Mapa 12 Discentes matriculados no curso de Geografia, por perodo
noturno ........................................................................... 143
Mapa 13 - Renda Familiar dos Discentes do Curso de Geografia ............. 145
Mapa 14 Tipo de Ensino Mdio cursado pelos discentes do Curso de Geografia (Todo em escola pblica) ..................................... 149
-
Mapa 15 Cursos de Ps-Graduao em Geografia 2010 (por municpio)........................................................................ 153
Mapa 16 - Nmero de Docentes Mestres do Curso de Geografia 2008 ... 158
Mapa 17 - Nmero de Docentes Doutores do Curso de Geografia 2008.. 159
Mapa 18 Escolaridade dos docentes dos Cursos de Licenciatura em
Geografia 2009 .............................................................. 162
Mapa 19 - Nmero de docentes com regime parcial-integral do Curso de
Geografia 2008 .............................................................. 165
Mapa 20 - Regime de Trabalho dos Docentes dos Cursos de Licenciatura em Geografia 2009 ......................................................... 169
Mapa 21 - Avaliao discente sobre a integrao do currculo do curso de Geografia .................................................................... 190
Mapa 22 - Cursos de Geografia no Brasil 2009 (Licenciatura e Bacharelado)..................................................................... 196
Mapa 23 - Principal razo para escolher o curso de Licenciatura em
Geografia ........................................................................ 209
Mapa 24 Condies das instalaes fsicas do curso de Geografia (salas
de aulas, laboratrios, ambientes de estudo) ............... 214
Mapa 25- Condies das Instalaes Fsicas do Curso de Geografia (salas de aulas, laboratrios, ambientes de estudo) ............... 214
Mapa 26 Avaliao discente do curso de Geografia sobre atualizao do acervo da biblioteca ..................................................... 217
Mapa 27 Freqncia da utilizao dos discentes da biblioteca em sua IES - Curso de Geografia ................................................... 222
Mapa 28 - Fonte de pesquisa para as disciplinas do Curso de Geografia... 222
-
Mapa 29 - Material indicado pelo seu professor durante o Curso ............. 227
Mapa 30 - Atividade acadmica desenvolvida por mais tempo, alm das
obrigatrias no curso de Geografia ...................................... 228
Mapa 31 - Apoio do curso de geografia para participao dos discentes em eventos de carter cientfico (congressos, encontros,
seminrios etc.) ............................................................... 230
Mapa 32 Contribuio da Iniciao Cientfica para formao discente do
curso de Geografia e.......................................................... 237
Mapa 33- Contribuio da Extenso para Formao Discente do Curso de Geografia..................................................................... 237
Mapa 34 - Como voc avalia a contribuio do curso para sua formao?. 243
Mapa 35 - Cursos de Licenciatura em Geografia em IES pblicas
Pernambuco ..................................................................... 250
Mapa 36 - Populao dos Municpios com Cursos de Licenciatura em Geografia nas IES Pblicas dos Estados do Par e Amap 2012 260
Mapa 37 - Populao dos Municpios com Cursos de Licenciatura em Geografia nas IES Pblicas do Estado do Amazonas 2012........ 274
Mapa 38 - Populao dos Municpios do Maranho com Cursos de Licenciatura em Geografia .................................................. 298
Mapa 39 Municpios com IES-Sede, com Cursos de EAD em Licenciatura
em Geografia-2012............................................................ 309
Mapa 40 - Polos de Apoio de Educao a Distncia Cadastrados Cursos
de Licenciatura em Geografia 2012 ................................. 311
-
LISTA DE GRFICOS
Grfico 1 Nmero de Cursos de Licenciatura em Geografia - (Por Tipo de Organizao da IES)...................................................... 79
Grfico 2 Total de Cursos de Licenciatura em Geografia 2000 2009................................................................................ 80
Grfico 3 Nmero de Cursos de Geografia no Brasil por tipo de
formao......................................................................... 82
Grfico 4 Distribuio das Notas na prova por grupos de estudantes
ENADE / 2005 Geografia ................................................. 101
Grfico 5 Distribuio das notas nas questes discursivas de componente especfico por grupos de estudantes ENADE /
2005 - Geografia............................................................... 102
Grfico 6 Qual o perodo em que voc est matriculado?...................... 142
Grfico 7 Faixa de renda familiar dos discentes do curso de Geografia (em salrios mnimos)........................................................ 144
Grfico 8 Condio de trabalho dos discentes do curso de Geografia
(exceto estgio)................................................................ 147
Grfico 9 Tipo de Ensino Mdio cursado pelos discentes do curso de
Geografia......................................................................... 147
Grfico 10 Tipo de Ensino Mdio cursado pelos discentes do curso de Geografia......................................................................... 149
Grfico 11 Disponibilidade dos docentes do curso de Geografia na IES para orientao extraclasse ............................................... 165
Grfico 12
Existncia no currculo do curso de licenciatura em Geografia de disciplinas pedaggicas .................................................
188
-
Grfico 13 Avaliao da integrao do currculo do curso de Geografia......................................................................... 189
Grfico 14 Conhecimento Prvio da rea de atuao do profissional de Geografia ao optar pelo curso de Geografia ......................... 200
Grfico 15 Exposio no curso de licenciatura em Geografia em
atividades que permitissem a tomada de conscincia sobre o que ser professor ........................................................... 202
Grfico 16 Qual a sua preferncia para atuao profissional, na rea de Geografia?........................................................................ 205
Grfico 17 Exerccio da funo de professor(a) durante o curso de
Geografia......................................................................... 206
Grfico 18 Voc quer ser professor?.................................................... 208
Grfico 19 Principal Razo da Escolha da Licenciatura em Geografia ........ 208
Grfico 20 Principal Contribuio do Curso de Geografia ........................ 210
Grfico 21 - Condies das instalaes fsicas do Curso de Geografia (salas
de aula, laboratrios, ambiente de estudo) ........................... 213
Grfico 22 - Condies dos equipamentos dos laboratrios do curso de
Geografia ........................................................................ 215
Grfico 23 - Avaliao dos discentes do curso de Geografia sobre atualizao do acervo da biblioteca ..................................... 217
Grfico 24 - Avaliao dos discentes sobre o nmero de exemplares disponveis na biblioteca no curso de Geografia .................... 220
Grfico 25 - Avaliao dos discentes do curso de Geografia sobre atualizao dos peridicos da biblioteca ............................... 220
Grfico 26 - Frequncia dos discentes na atualizao da biblioteca em sua
IES ................................................................................. 222
-
Grfico 27 - Atividades de pesquisa como estratgia de aprendizagem nas disciplinas do curso de Geografia ........................................ 224
Grfico 28 Material mais utilizado por indicao de seus professores durante o curso de Geografia.............................................. 225
Grfico 29 Atividade acadmica desenvolvida por mais tempo, alm das obrigatrias no curso de Geografia....................................... 228
Grfico 30 O curso de Geografia oferece o Programa de Extenso ..........
236
Grfico 31 Atuao dos discentes do curso de Geografia em iniciativas e Programas Comunitrios .................................................... 236
-
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 rea de formao de professores que lecionam Geografia
2007 - .......................................................................... 83
Tabela 2 - Conceitos do ENC 2003, Geografia .................................... 97
Tabela 3 - Estatsticas das questes de mltipla escolha da prova de
Geografia, por categoria administrativa - ENC/2003............. 98
Tabela 4 - Evoluo do nmero de Instituies segundo a Categoria
Administrativa Brasil 1996 a 2008 .................................... 122 Tabela 5 - Caractersticas dos docentes dos cursos de Geografia IES
pblicas e privadas de So Paulo e Rio de Janeiro -2009 (%) 170
Tabela 6 - Dados das cidades com cursos de Licenciatura em Geografia
em IES Municipais - Pernambuco - 2012............................. 249
Tabela 7 - Caractersticas dos docentes das licenciaturas em Geografia
IES Municipais Pernambuco 2009 ............................. 252
Tabela 8 - Caractersticas dos discentes das licenciaturas em Geografia
IES Municipais Pernambuco 2008 (%) ....................... 254
Tabela 9 - Caractersticas dos cursos de licenciatura em Geografia da
UNIFAP, segundo os discentes (%).................................... 271
Tabela 10 - Dados dos Municpios com cursos de licenciatura em
Geografia no Acre .......................................................... 280
Tabela 11 - Caractersticas dos docentes dos cursos de licenciatura em
Geografia da UFAC - 2009................................................ 282
Tabela 12 - Caractersticas dos discentes dos cursos de licenciatura em
Geografia em Rondnia- 2008 (%)................................... 286
Tabela 13 - Caractersticas dos docentes dos cursos de licenciatura em
Geografia em Rondnia ................................................... 286
Tabela 14 - Caractersticos dos cursos de licenciatura em Geografia
Tocantins (%) ............................................................ 289
Tabela 15 - Caractersticas de alguns cursos de Geografia Maranho e
Piau 2008 (%) ............................................................ 293
Tabela 16 - Dados do curso de licenciatura em Geografia em Palmeirais
Piau 2008 (%) ......................................................... 294
Tabela 17 - Caractersticas dos docentes dos cursos de licenciatura em
Geografia do Maranho e Piau 2009 (%) ..................... 297
Tabela 18 - Caractersticas de alguns cursos de licenciatura em
Geografia - Maranho (%) ............................................ 299
-
SUMRIO
1. INTRODUO .................................................................................
1.1. A delimitao e o mtodo da pesquisa........................................... 1.2. Procedimentos da pesquisa .........................................................
2. HISTRIA E PROCESSO DE EXPANSO DOS CURSOS DE GEOGRAFIA NO BRASIL: 1934-2010..........................................................................
2.1. A histria e historiografia dos primeiros cursos do Brasil.................
2.1.1. As caractersticas dos primeiros cursos de Geografia ..............
2.1.2. A expanso dos cursos de Geografia ....................................
2.2. O perodo de 1996-2010: as polticas pblicas e as caractersticas dos cursos de Geografia............................................................
3. DA AVALIAO DOS CURSOS DE GEOGRAFIA NO BRASIL MEDIANTE POLTICAS DO GOVERNO FEDERAL ANLISE TERRITORIAL DOS
CURSOS (1996-2010).....................................................................
3.1. O sistema de avaliao e sua relao com os cursos de Geografia..
3.2. Por uma anlise dos cursos que considere a mediao do territrio.
3.2.1. A relao das IES e dos cursos com o territrio brasileiro........
3.2.2. Os cursos de Geografia e sua dinmica no territrio...............
3.3. As dimenses e elementos de anlise dos cursos de Geografia........
3.3.1. A dimenso das caractersticas dos discentes ........................
3.3.2. As caractersticas da dimenso docente: formao e regime de trabalho............................................................................
4. ANLISE DAS CONDIES DE ENSINO DOS CURSOS DE GEOGRAFIA.....
4.1. O currculo como um processo que se constri historicamente........
4.2. A questo curricular nos cursos de Geografia no Brasil e suas dicotomias..............................................................................
4.2.1. As especificidades da formao na licenciatura em Geografia...
4.3. A infraestrutura dos cursos de Geografia e sua relao com as
atividades curriculares .............................................................. 4.4. O ensino, a pesquisa e a extenso.............................................
5. ANLISE DE SITUAO DOS CURSOS DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA
NO BRASIL .................................................................................... 5.1. Os cursos em IES municipais do interior de Pernambuco ...............
21
24 30
38
41
53
59
76
90
95
108
113
121
136
137
150
171
172
181
199
211
223
241
247
-
5.2. As situaes dos cursos na Amaznia .........................................
5.2.1. Os cursos do Par e do Amap ...........................................
5.2.2. O Amazonas ....................................................................
5.2.3. A situao dos cursos no interior do Acre .............................
5.2.4. Rondnia e suas duas formas de extenso.............................
5.2.5. Os cursos da Fundao Universidade Federal do Tocantins no interior do estado do Tocantins...........................................
5.3. A interiorizao dos cursos de Geografia no Maranho e Piau.........
5.4. Os cursos de Educao a Distancia em Geografia..........................
5.4.1. As caractersticas e o arranjo espacial dos cursos de EAD no
Brasil................................................................................ CONCLUSO.......................................................................................
REFERNCIAS.....................................................................................
APNDICE A Renda familiar dos estudantes de Geografia........................
APNDICE B Tipo de escola que o discente cursou no Ensino Mdio..........
APNDICE C Nome dos cursos de ps-graduao em Geografia no Brasil.. APNDICE D Avaliao dos discentes sobre currculo do curso.................
APNDICE E Algumas reflexes sobre Geografia Crtica..........................
APNDICE F Quantas horas por semana, aproximadamente, voc
dedica/dedicou aos estudos, excetuando as horas de aula?... APNDICE G Indique qual a contribuio do programa de extenso para
sua formao? ...............................................................
APNDICE H Formao Docente- UFPA- 2011........................................
ANEXO A- Questo Dissertativa do ENC-2003..........................................
ANEXO B - Questo Dissertativa do Enade 2005.......................................
ANEXO C- Exemplo de currculo de uma IES da Amaznia.........................
256
257
273
279
283
288
293
300
307
320
332
350
350
351
353
354
356
356
357
358
359
360
-
21
1. INTRODUO
Uma pesquisa sempre passa por inmeras etapas e
verdadeiramente o resultado de um longo processo histrico e dialtico,
que, em princpio, no s de acumulao de conhecimentos, mas
tambm fruto de contradies, dvidas, idas e vindas. Toda pesquisa e
mesmo sua elaborao final constituem, na verdade, uma produo
coletiva, para a qual diferentes pessoas contribuem das mais
diversificadas formas e em variados momentos.
Concomitantemente, h a nossa viso de mundo, as peculiaridades
de nossa formao, que no se do apenas na vida escolar, em seus
diversos nveis, mas igualmente so produto das experincias que tivemos
na vida e de opes terico-metodolgicas.
Tendo vivenciado, como graduanda, o bacharelado e licenciatura em
Geografia da Universidade de So Paulo e, posteriormente, como docente1
do curso de Geografia da Universidade Cruzeiro do Sul, na cidade de So
Paulo, tive experincias que, de alguma forma, contriburam para o
desenvolvimento desta tese.
Como docente, vivenciei o perodo dos currculos mnimos em
Estudos Sociais e Geografia (CFE/ Parecer n 412/62 e Resoluo n 8, do
Conselho Federal de Educao, 9/8/1972), bem como tambm sua
transformao a partir das Diretrizes Curriculares Nacionais de Geografia
(MEC, 2001c), de que resultou a extino de Estudos Sociais e a criao
do curso especfico de Geografia na Universidade Cruzeiro do Sul.
Minha experincia no se restringiu docncia, pois vivi o momento
de transformao das Faculdades Integradas Cruzeiro do Sul em
1 Ao iniciar minha experincia como docente, trabalhei na primeira turma de Geografia
da Universidade Cruzeiro do Sul, instituio privada, na Zona Leste de So Paulo.
Naquela poca, na instituio, havia o curso de Estudos Sociais, noturno, em dois
anos e habilitao plena em Geografia, a ser obtida nos terceiro e quarto anos. Iniciei
exatamente na primeira turma especfica de Geografia, no terceiro ano. Em 2003, o
curso de Geografia passou a ser gratuito e matutino.
-
22
Universidade e, em alguns momentos, atuei como coordenadora do curso,
participando da discusso e elaborao de seu currculo.
Quando surgiu a nova legislao especfica sobre as licenciaturas
(CNE 009/20012 e Parecer CNE/CP 28/20013), participei, em minha
instituio, de um minicurso de extenso, com 30h, denominado
Mudanas nas licenciaturas, que buscava informar sobre a nova
legislao e discutir sua operacionalizao nos cursos.
J com as novas polticas do Ensino Superior e a necessidade de
criar o projeto pedaggico do curso, participei com um grupo de
professores da elaborao do projeto, assim como recebemos comisses
do Ministrio da Educao (MEC) de reconhecimento e depois de avaliao
do curso por duas vezes, em 2002 e 2007. Isto possibilitou maior contato
com a legislao e documentos de avaliao, j que o MEC solicitava para
a visita o preenchimento on-line dos formulrios de avaliao, bem como
o projeto pedaggico4.
Mais recentemente, o governo federal instituiu a Avaliao do Ensino
Superior dos cursos. A avaliao da Geografia deu-se principalmente por
meio do Exame Nacional de Cursos (ENC), em 2003; posteriormente em
2005 e 2008 com o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes
(Enade).
2 Parecer CNE/CP 009/2001, que trata das Diretrizes Curriculares Nacionais para a
formao de professores da Educao Bsica, em nvel superior, curso de licenciatura,
de graduao plena (MEC, 2001a). 3 Parecer CNE/CP 28/2001, que estabelece a durao e a carga horria dos cursos de
formao de professores da Educao Bsica, em nvel superior, curso de licenciatura,
de graduao plena, assim como a Resoluo CNE/CP 2/2002, que institui a durao
e a carga horria dos cursos de licenciatura, de formao de professores da Educao
Bsica. Segundo este ltimo parecer, fica estabelecido que os cursos de formao de
professores para Educao Bsica tero a seguinte diviso: Prtica como Componente
Curricular, Estgio Curricular Supervisionado, Contedos Curriculares de Natureza
Cientfico-Cultural e, por fim, de Atividades Acadmico-Cientfico-Culturais. 4 No projeto pedaggico, segundo o MEC, deve haver informaes sobre as seguintes
dimenses: dimenso pedaggica: caractersticas do curso, perfil do curso,
objetivos, perfil do egresso, nmero de vagas, contedos curriculares, metodologias,
grade curricular, ementas, bibliografias usadas nas disciplinas, atendimento aos
discentes, atividades acadmicas, estgio supervisionado e atividades
complementares; dimenso dos docentes: titulao e formao acadmica, regime
de trabalho, titulao e regime do trabalho do coordenador, colegiados;
infraestrutura fsica: salas de aulas, bibliotecas, laboratrios etc.
-
23
A partir desta situao, envolvi-me no processo de avaliao e pude
conhecer melhor como se realiza. Lendo os relatrios disponibilizados pelo
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira
(Inep) sobre as avaliaes dos cursos de Geografia do Brasil, intrigavam-
me as diferenas e as singularidades destes.
Portanto, a experincia de ter vivenciado diferentes momentos das
polticas pblicas numa instituio de Ensino Superior privada, dentro do
curso de Geografia, concomitantemente participao na extenso em
equipes multidisciplinares, levou-me a pensar na importncia de um
estudo dos cursos de Geografia no Brasil.
A definio final por um estudo sobre as licenciaturas em Geografia
no Brasil foi motivada pela anlise da produo sobre o Ensino Superior, a
qual revelou que parte significativa dos trabalhos concentra-se nas reas
de Educao, Cincias Sociais e Histria, abordando temas recorrentes,
como: polticas pblicas do Ensino Superior, avaliao (REAL, 2007),
acesso universidade, trajetrias de universidades brasileiras, egressos,
reformas do Ensino Superior, docncia, mercantilizao do ensino,
questo racial e o ensino, cursos tecnolgicos etc.
Embora existam pesquisas em ensino de Geografia, geralmente
esto vinculadas temtica da Geografia escolar nos Ensinos
Fundamental e Mdio (ROCHA, 2001) ou principalmente aos cursos de
Geografia nas universidades pblicas (PIMENTEL, 2010). H tambm
alguns sobre formao em Geografia (LOPES, 2010; LEO, 2008, CACETE,
2002), mas no com o enfoque proposto nesta pesquisa.
Percebi, mais recentemente, ao participar do Encontro Nacional de
Geografia em 2008 e 2010 e do Encontro da Associao Nacional de Ps-
Graduao e Pesquisa em Geografia (Anpege), uma crescente
preocupao com o Ensino Superior vinculada mais a ps-graduao em
Geografia e com a prpria avaliao das ps-graduaes pela
Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES)
ou, ainda, com a atuao dos formados em Geografia nos Ensinos
-
24
Fundamental e Mdio. Observa-se, pois, uma carncia de estudos sobre
as licenciaturas em Geografia; por isso, justifica-se a proposta desta tese.
1.1. A delimitao e o mtodo da pesquisa
Esta tese trata de um estudo das licenciaturas em Geografia no
Brasil, analisando-as mediante o mtodo histrico e dialtico e
apreendendo-as como existncia processual que se d no territrio
brasileiro. Busca-se compreend-las como fenmeno espacial, em sua
apreenso no territrio brasileiro, com sua dinmica territorial, no qual se
imbricam a existncia das Instituies de Ensino Superior (IES) e das
licenciaturas em Geografia, condies que so indissociveis.
A problemtica central analisar em que medida a mediao
territorial, dos tipos de IES e das modalidades dos cursos se relacionam
com as suas condies.
Como objetivo principal, busca-se compreender e propor como
mtodo a anlise das condies das licenciaturas em Geografia no Brasil,
numa abordagem processual e de situao, com as mediaes do
territrio, dos tipos de IES e das modalidades dos cursos.
Os objetivos especficos desta pesquisa so:
Evidenciar o processo histrico de existncia dos cursos de
Geografia, sua expanso e as polticas pblicas do Ensino
Superior no Brasil e sua relao com o atual momento;
Relacionar a existncia das licenciaturas em Geografia aos
tipos de Instituio de Ensino Superior, s modalidades dos
cursos e ao territrio brasileiro;
Analisar as dimenses dos cursos de Geografia, mediante
elementos das caractersticas discente, docente, da
infraestrutura e de alguns elementos curriculares;
Analisar a situao das licenciaturas que se interiorizaram em
Pernambuco, na Amaznia, no Maranho e Piau e nos cursos
de Educao a Distncia (EAD).
-
25
Desse modo, o foco sero os cursos de Geografia no Brasil,
principalmente as licenciaturas, partindo das polticas do Ensino Superior,
situao que pode ser uma abstrao se forem omitidas as mediaes dos
tipos de instituies onde os cursos so produzidos, se for deixado de lado
o entendimento do territrio e dos lugares onde esto inseridos.
Logo, nesta tese, a apreenso dos cursos de licenciatura em
Geografia no Brasil foi desenvolvida considerando os processos histricos
existentes, contextualizando-os, buscando entender como se d o
movimento destes no espao e no tempo, categorias indissociveis.
Entende-se a categoria tempo como processo histrico social,
mediado pelas possibilidades de cada poca, pelas necessidades,
desequilbrios e escassez existentes no territrio brasileiro e nos cursos.
As situaes do passado interessam para desvendar o movimento
que vem do passado para o presente, como dizia Milton Santos (2006), j
que no presente est contido o passado nas formas e nas aes. Assim,
busca-se evidenciar, sobretudo, aquilo que aparentemente permanece,
ainda que em novo contexto social e poltico, portanto, espacial.
Neste processo histrico, os fenmenos no so isolados, muito
menos so analisados aqui como processos que tm um comeo e um fim.
No so produes acabadas, h sempre um devir5, que est sempre em
movimento e em contradio.
No se trata da contradio em geral, nem tampouco externa ao
processo a ser desvendado, mas de unidade de contradies, que
inerente aos processos que se pretendem investigar.
Pretende-se apreend-la no apenas em sua condio interna ou em
suas conexes, mas principalmente no movimento que resultante dela
(LEFEBVRE, 1995). Considera-se que, no movimento dialtico, no h
5 Nas palavras de Henri Lefebvre, cujo texto foi publicado originalmente em 1946:
Deixando de isolar os fatos e os fenmenos, o mtodo dialtico reintegra-os em seu
movimento interno, que provm deles mesmos, e movimento externo, que os envolve
no devir universal. Os dois movimentos so inseparveis (LEFEBVRE, 1995, p. 238).
-
26
uma entidade superior que defina a histria, mas os agentes sociais, que
criam as contradies6.
Neste sentido, os licenciados ou bacharis em Geografia participam
do sistema-mundo e tambm de suas organizaes mais singulares
(Instituies de Ensino Superior, associaes de gegrafos, escolas
geogrficas etc.), cuja mediao tem relao tambm com o territrio
nacional e com os seus usos pelos diversos agentes sociais, que criam
condies e acesso desigual aos cursos.
H verticalidades e horizontalidades nestes processos de existncia
das licenciaturas. Horizontalidades porque criam solidariedade entre os
grupos e solidariedade organizacional em alguns momentos;
concomitantemente, porm, tais docentes e discentes, em seus cursos de
Geografia, submetem-se a demandas, leis, regras, normas, cujas decises
esto cada vez mais distantes, que se constituem em verticalidades.
Entende-se por verticalidades intervenes, normas e regras
geralmente impostas por atores ou agentes hegemnicos ao local, que
vm de longe e so estranhas ao lugar [...] enquanto as horizontalidades
levam em conta a totalidade dos atores e das aes (SANTOS, 2006, p.
259).
Importante ressaltar que no se trata de vises dualistas: o interno
e o externo, as verticalidades e horizontalidades, a universalidade e a
singularidade, mas so pares dialticos. Assim como os conceitos de
universalidade e de mediaes, que Sartre7 (2002) define como
6 No dizer de Sartre, cujo texto foi publicado em 1960: [...] o movimento dialtico no
uma pujante fora unitria que se revela como vontade divina por detrs da
Histria, mas sim, antes de tudo, uma resultante; no a dialtica que impe aos
homens histricos vivam sua histria atravs de terrveis contradies, mas so os
homens, tais como so, sob influncia da escassez e de necessidade, que se
enfrentam em circunstncias que a Histria ou a economia podem enumerar. Antes
de ser um motor, a contradio um resultado [...] (SARTRE, 2002, p. 157). 7 Nas palavras de Sartre: Nosso mtodo heurstico, ensina-nos algo novo porque ,
como a do marxista, encontrar o lugar do homem no seu contexto. Pedimos histria
geral para nos restituir as estruturas da sociedade contempornea, seus conflitos,
suas contradies profundas, e o movimento de conjunto que estas determinam.
Assim, temos a partida do conhecimento totalizante do momento considerado, mas,
em relao ao objeto de nosso estudo, esse conhecimento permanece abstrato
(SARTRE, 2002, p. 103).
-
27
importantes no entendimento da realidade, embora faa ressalvas a
alguns marxistas pelo que chama de universalidade exagerada, que a
torna demasiadamente abstrata, como se houvesse um ente superior que
nos conduzisse ou que reduzisse a ao humana intencionalidade do
agente histrico.
Fundamental para esta pesquisa encontrar o contexto em que
ocorrem estas mediaes e considerar as dimenses e elementos
analisados em relao s licenciaturas em Geografia, destacando os
agentes sociais que participam do processo.
Dessa maneira, a histria dos cursos no ser analisada como uma
histria acabada, nem mesmo como totalmente nova. No se trata de
imaginar que o entendimento deste processo tenha uma lgica formal
(LEFEBVRE, 1995), no qual um novo modo de existncia substitui um
antigo, nem tampouco que uma nova Geografia surja mediante uma
quebra formal do que antes havia.
H circularidade dialtica neste processo (SARTRE, 2002); sendo
assim, as condies atuais das licenciaturas em Geografia no constituem
uma reproduo simples da condio anterior e nem so produtos
inteiramente novos.
H um pouco neles de condies que vieram do passado, de
tradies que se cristalizaram com o tempo, mas h tambm algumas
transformaes que no chegaram a todos os lugares. Sendo assim, h
alguns arranjos espaciais que criam algumas situaes peculiares nos
cursos.
Considera-se que os cursos so produzidos por diversos agentes
sociais, entre eles o Estado, e, portanto, fazem parte de processos
universais, que agem, de forma dialtica, sobre eles: econmicos, sociais
e polticos, assim como com a dinmica do territrio brasileiro.
-
28
Levando em conta tais premissas, esta anlise dos cursos considera
as teorias maiores8, dos processos globais, que fogem ao entendimento
apenas da escala local ou mesmo nacional.
Processos globais que podem ser evidenciados pela universalizao
das caractersticas de mercado da Educao Superior, mesmo nas IES
pblicas, que acabam por se constituir em quase mercado (SOUSA;
OLIVEIRA, 2003), pois trazem em seu bojo concepes de administrao
cada vez mais empresarial.
Embora existam universalidades e verticalidades neste processo, na
estruturao dos cursos de Geografia no Brasil, como o caso das
polticas pblicas brasileiras que definiram os Currculos Mnimos (CFE/
Parecer n 412/62) para o curso de Geografia ou ainda mais
recentemente as Diretrizes Curriculares Nacionais de Geografia (Parecer
CNE/CES 492/2001), h tambm mediaes nestes processos, que
produzem singularidades.
Portanto, cabe verificar se tais processos universais se relacionam
da mesma forma nas IES pblicas e privadas, por exemplo, j que
existem mediaes que so organizacionais, territoriais e de grupos.
H tambm estruturas internas dos cursos as quais sero abordadas
nas seguintes dimenses e elementos: caractersticas da formao e do
trabalho docente, perfil dos discentes, infraestrutura, algumas condies
de ensino evidenciadas por elementos curriculares, que, de forma
integrada, se relacionam s condies de existncia das licenciaturas.
Ressalta-se que no so dimenses totalmente internas ou isoladas;
esto sempre em um movimento que dialtico e que as arrasta do
interno para o externo e vice-versa, ou, ainda, do universal para o
singular.
Ao longo do texto, evidenciam-se quais so os elementos
fundamentais que se relacionam com a avaliao em Geografia e busca-se
identificar suas conexes, tais como: contexto das polticas pblicas
8 Por teorias maiores entende-se, por exemplo, as universalidades - caso dos
processos capitalistas que, de forma dialtica, se opem teoria das mediaes.
-
29
brasileiras do Ensino Superior; tendncias mundiais na organizao e
avaliao do Ensino Superior; universo dos cursos de Geografia brasileira
e sua hierarquia de mediaes, principalmente organizacionais e
espaciais.
Para operacionalizar esta pesquisa, foram definidas as seguintes sees
subsequentes:
2. Histria e processo de expanso dos cursos de Geografia no
Brasil: 1934-2010. Nesta seo, apresenta-se o processo
histrico da existncia e a expanso dos cursos de Geografia no
territrio brasileiro; discorre-se sobre sua historiografia, as
caractersticas e os problemas existentes, destacando-se as
polticas de Ensino Superior.
3. Da avaliao dos cursos de Geografia no Brasil mediante polticas
do governo federal anlise territorial (1996-2010). Evidenciam-
se as polticas do governo federal para a avaliao dos cursos e
prope-se a mediao do territrio para esta anlise em
Geografia. Esta proposta de anlise espacial inicia-se com a
discusso de autores e conceitos sobre territrio, extenso e
centralidade; com a relao do tipo de organizao das IES e dos
cursos de Geografia; por fim, destacam-se as dimenses docente
e discente e sua relao com o territrio brasileiro.
4. Anlise das condies de ensino dos cursos de Geografia. Esta
seo aborda a questo curricular dos cursos, mostrando suas
condies no ensino, pesquisa e extenso, mediante anlise de
grficos e mapas produzidos sobre o tema, baseando-se tambm
em pesquisas desenvolvidas sobre o assunto.
5. Anlise de situao dos cursos de licenciatura em Geografia no
Brasil. Por fim, discutem-se algumas situaes ocorridas no
processo de existncia das licenciaturas em Geografia no Brasil,
que se interiorizaram, numa anlise que considera principalmente
as ideias desenvolvidas sobre o conceito de situao.
-
30
A tese aqui desenvolvida que a mediao do territrio nacional e
dos tipos de Instituies de Ensino Superior (IES), bem como as
modalidades de licenciaturas oferecidas fundamental para a
compreenso das condies dos cursos de Geografia.
Sendo assim, prope-se que a tese possa servir de referncia de
mtodo para anlise de condies de cursos, considerando-se as
mediaes j citadas.
O princpio que as existncias das licenciaturas so processuais e
ocorrem num tempo contnuo, cujos eventos vo criando certas rupturas
ou continuidades, ao mesmo tempo em que certas caractersticas
permanecem ainda que sob novos contextos espaciais.
Ento, entend-las numa relao espao e tempo, torna-se uma
condio fundamental de anlise.
1.2. Procedimentos da pesquisa
Para operacionalizar a anlise espacial nesta pesquisa, definiu-se
principalmente o perodo ps 1996. Contudo, h uma reviso histrica e
historiogrfica anterior a este perodo, como forma de entender o
processo de existncia dos cursos de Geografia no Brasil, sobretudo das
licenciaturas.
As ideias desenvolvidas sobre perodo baseiam-se em concepes
desenvolvidas por Milton Santos (2008b) e Roberto Lobato Corra
(1990,2006a), pelas quais o perodo define-se pelos eventos, j que h
inmeros eventos que criam rupturas e continuidades no tempo, como
uma flecha do tempo que parte do universal para o lugar, pois no
lugar que h o acontecer. O evento uma ao proveniente de um ou
mais agentes sociais e precisa ser compreendido como fenmeno que
tambm ocorre espacialmente.
Logo, ao tratar de perodo, leva-se em conta a totalidade em
movimento, cuja definio do tempo histrico ocorre pelos eventos; neste
caso, relacionados principalmente aos cursos de Geografia no Brasil, seja
-
31
mediante a normatizao do Ensino Superior, seja pela ao das redes de
afinidades geogrficas, ou, ainda, por mudanas econmicas e dinmicas
no territrio brasileiro.
Nesta periodizao9, antes e ps 1996, procura-se contextualizar e
analisar as problemticas dos cursos de Geografia com destaque aos
elementos que com eles se relacionam, caso das polticas de Ensino
Superior, provenientes do Estado brasileiro, que um agente fundamental
no processo de existncia dos cursos.
A seo 2, inicia-se com o processo de existncia dos cursos de
Geografia no Brasil e sua expanso no territrio, tanto da licenciatura
como do bacharelado.
Para esta discusso, h, no texto, muitas citaes10 de professores
de Geografia que participaram do processo de construo da Geografia
brasileira ou de interessados em Geografia que escreveram ou deram
depoimentos, principalmente, na Revista Brasileira de Geografia (RBG), no
Boletim Geogrfico, Boletim Paulista de Geografia, Boletim Carioca de
Geografia, Boletim Goiano de Geografia; nas Revistas Geosul, Mercator e
Terra Livre, assim como em dissertaes e teses da rea (CACETE, 2002;
PEREIRA, 1997; ROCHA, 2001, AMORIM, 2010) e em livros sobre a
temtica (MACHADO, 2009; MONTEIRO, 1980; MOREIRA, 2008, 2009,
2010; PEREIRA, 1955).
9 Sobre a concepo de perodo e periodizao, consideram-se as palavras de Milton
Santos (1994, p. 81) que disse: O conselho de Sartre mais preciso que o de
Simmel: o entendimento do mundo dado pelas coisas e pelo Perodo, a poca.
Quando falamos em perodo, j estamos qualificando o Tempo, permitindo-lhe um
enfoque emprico, de modo a evitar, justamente, que se trabalhe com o esqueleto
abstrato da universalidade. 10 Tais citaes foram extradas de artigos, depoimentos e notcias principalmente da
Revista Brasileira de Geografia, publicada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatstica (IBGE) nos anos de 1940, 1941, 1943, 1944, 1945, 1946, 1958, 1962,
1963, 1965 e 1982; do Boletim Geogrfico, tambm publicado pelo IBGE/CNG, nos
anos 1944, 1945, 1949 e 1958; pelo Boletim Carioca de Geografia dos anos 1944
e 1954; no Boletim Paulista de Geografia, publicado pela Associao dos
Gegrafos Brasileiros (AGB), seo So Paulo, nos anos 1946, 1949, 1953, 1954,
1955, 1960, 1961, 1976, 1977, 1978 e 1994). H tambm a Revista Geosul (2001,
2002, 2003, 2005, 2007) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); a
Revista Mercator (2002, 2005, 2009), publicada pela Universidade Federal do Cear
(UFCE); o Boletim Goiano de Geografia (1992, 1995, 1997, 2001, 2005) da
Universidade Federal de Gois (UFG) e a Revista Terra Livre (1986, 1987 e 1994),
publicada pela AGB.
-
32
No incio da seo 2, buscou-se dar nfase aos discursos dos
gegrafos da poca ou daqueles que fizeram sua historiografia ou
participaram da histria da Geografia em Instituies de Ensino Superior
brasileiras, principalmente de professores universitrios de So Paulo, Rio
de Janeiro, Minas Gerais e Pernambuco.
Aps 1960, as produes sobre Ensino Superior nos Boletins e
Revistas Geogrficas no Brasil escasseiam-se. Os depoimentos e artigos
dos professores universitrios que eram mais comuns sobre a formao
da Geografia no Ensino Superior perdem espao para estudos sobre
regionalizao, estudos com mtodos quantitativos, pesquisas em
Geografia Urbana, Geografia Agrria, Geomorfologia etc.
Ressalta-se que, mesmo no passado, as questes sobre Ensino
Superior no se constituam em estudos numerosos, mas havia mais
depoimentos, relatos que apareciam comumente nos peridicos da
Geografia brasileira. Apesar disso, a partir dos anos 80, ampliam-se as
discusses sobre a Geografia escolar, mas com pouca discusso relativa
graduao no Ensino Superior.
Em virtude dessa situao, no perodo principal deste estudo, ps
1996, optou-se pelo uso de informaes quantitativas, principalmente do
MEC e do Inep. Todavia, no se desenvolveram, nesta pesquisa, inscries
da ensima ordem (LATOUR, 2000), mediante grandes formulaes
estatsticas ou mesmo modelos de anlise e classificaes por meio destes
nmeros.
Neste perodo houve a maior influncia global nas polticas de
educao, bem como a incorporao dos processos de mercantilizao no
Ensino Superior, bem como h uma expanso das licenciaturas em
Geografia, com um novo processo de interiorizao pelo territrio
nacional, vinculado principalmente s demandas do territrio pela
formao de docentes, bem como induzido pelas polticas
governamentais.
A nfase no perodo ps 1996 ocorre devido s polticas pblicas de
Ensino Superior, com a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educao
-
33
Nacional (BRASIL, 1996b), a nova legislao especfica sobre as
licenciaturas (Parecer CNE/CP 28/2001 e Parecer CNE 009/2001), a
avaliao do Ensino Superior promovida pelo governo federal, a partir de
1995, e pelo Programa de Apoio de Planos de Reestruturao e Expanso
das Universidades Federais (REUNI), em 2007.
Embora haja discordncia de alguns aspectos da avaliao
promovida pelo governo federal, reconhece-se a existncia de
procedimentos positivos neste processo, a saber: o questionrio
socioeconmico aplicado aos estudantes no perodo das provas do Enade,
por conter dados significativos sobre os cursos; as informaes
disponibilizadas pelo Inep sobre a formao de mestres e doutores, por
IES, que constam como parte dos dados que compem o Conceito
Preliminar de Curso (CPC). Tais informaes so importantes, pois
permitem vislumbrar algumas condies dos cursos de Geografia.
Assim, realizou-se, com tais dados, representativos das IES e seus
cursos de Geografia, uma anlise mais geral, processual, numa escala
nacional, e outra com a mediao da formao e da dinmica do territrio
nacional e das organizaes de ensino, mediante mapas e suas
interpretaes espaciais.
A escolha destes dados quantitativos ocorre devido abrangncia
desta pesquisa no territrio nacional porque seria difcil captar tais
informaes numa pesquisa prpria, com um nmero de graduandos to
significativo. Os dados11 disponibilizados pelo Inep, mediante questionrio
respondido por estudantes de Geografia que participaram do Exame
11
Em 2003, segundo Inep (2003) participaram do ENC 252 cursos de Geografia no Brasil, com a presena de 11676 graduandos concluintes do curso de bacharelado e
licenciatura. Em 2005, foram 321 cursos, e a escolha dos alunos foi por
amostragem, com 11146 concluintes correspondendo a 52% do total do Brasil. Em
2008, no mesmo sistema de 2005, foram 312 cursos de Geografia, com 9743
graduandos concluintes, perfazendo 67,5% do total de concluintes naquele ano. Para
dados gerais de 2003, 2005 e 2008 foram produzidos grficos. A partir dos grficos
escolheram-se algumas questes para criar os mapas, todos com dados de 2008,
para realizar a anlise espacial. Para identificar tais informaes buscaram-se, em
relatrios disponibilizados pelo Inep de cada Instituio de Ensino Superior (IES), as
respostas dadas pelos estudantes concluintes para detalhar as mdias por Unidade da
Federao (UF) e criar um banco de dados por IES.
-
34
Nacional de Cursos (ENC) em 2003 e do Exame Nacional de Desempenho
dos Estudantes (Enade) em 2005 e 2008, possuem uma amostragem
bastante significativa do universo de alunos de Geografia no Brasil.
Em relao aos docentes utilizaram-se informaes dos cursos que
realizaram Enade 2008, assim como dados do Inep (2009) com as
seguintes informaes: o regime de trabalho e a formao dos docentes
que lecionam nos cursos de Geografia, o que permitiu a construo de
mapas com as mdias por Unidades da Federao (UF) e anlises de
acordo com o tipo de IES, se pblica ou privada.
Alm disso, baseou-se a anlise nos seguintes dados do Inep,
contidos nos Relatrios Sinopses de 2000 a 2009 sobre os cursos de
Geografia: nmero de cursos de licenciatura e bacharelado no Brasil;
licenciaturas por tipo de IES (pblicas e privadas) e por tipo de
organizao da IES (universidades, centros universitrios, faculdades e
centros tecnolgicos). Tais informaes foram disponibilizadas, mediante
grficos, abrangendo os anos 2000 a 2009.
Nesta anlise, no se utilizou um padro de qualidade dos cursos,
nem se definiu se so melhores ou piores. A ideia principal relacionar
algumas dimenses, como caractersticas docentes, discentes,
infraestrutura e alguns elementos curriculares, na apreenso no territrio,
mostrando as relaes entre as necessidades dos cursos, a escassez e as
desigualdades espaciais existentes.
Parte-se do princpio que a existncia das IES e dos cursos de
Geografia relacionam-se com o territrio e o nvel de centralidade12
urbana vai interferir nas caractersticas dos cursos e nas diversas
dimenses e variveis analisadas.
12 Entende-se por centralidade urbana nesta tese uma comparao entre cidades dentro
de uma ou mais redes urbanas, considerando-se a hierarquia urbana e o papel delas
na diviso territorial do trabalho; destaca-se aqui principalmente o nvel de servios
da educao superior. Neste sentido, as cidades de maior centralidade no nvel
hierrquico ocupam um papel de destaque na diviso territorial do trabalho e acabam
concentrando o maior nmero de IES e de diversidade de cursos, entre outras
caractersticas que sero apresentadas nas prximas sees (CORRA, 1990, 2006a;
SANTOS, 2008a). Relaciona-se tambm ao nvel de centralidade considerando-se o
nvel intraurbano, que diferencia os lugares da mesma cidade. Dessa forma, refere-se
s relaes inter e intraurbanas.
-
35
Estas anlises ocorreram principalmente nas sees 3 e 4,
destacando-se as condies mais extremas em relao aos elementos e
variveis usadas. Para aprofundar tais anlises de dados discutiram-se
algumas pesquisas que tratam da dimenso discente, docente e das
condies curriculares da Geografia no Ensino Superior, principalmente
em dissertaes e teses.
Na ltima seo buscou-se uma analise que mostra algumas
situaes peculiares no processo de existncia das licenciaturas em
Geografia no Brasil, condio evidenciada principalmente a partir da
discusso sobre o conceito de situao, definido por Maria Laura Silveira
(2010), e suas respectivas anlises espaciais.
A definio das situaes encontradas ocorreu principalmente devido
anlise dos processos de interiorizao das licenciaturas em Geografia e
suas peculiaridades, sobretudo no interior de Pernambuco, na Amaznia,
no Maranho e no Piau e nos cursos de Educao a Distncia (EAD).
Para o aprofundamento e anlise das situaes, entrevistaram-se
pelo sistema de Skype, em 2012, 33 coordenadores, professores e alunos
de cursos de licenciatura em Geografia, dos seguintes estados e
instituies13:
Do Par, da Universidade Federal do Par (UFPA), campi
Belm e Marab, e dos ncleos de Parauapebas e Oriximin;
da Universidade Federal do Oeste do Par (UFOPA) em
Santarm e da Universidade Estadual do Par (UEPA);
Do Amazonas, da Universidade Estadual do Amazonas (UEA)
campi de Manaus, Tef e Tabatinga, e do ncleo de
Manacapuru;
Do Piau, da Universidade Estadual do Piau, do ncleo em
Pedro II;
Do Maranho, da Universidade Estadual do Maranho (UEMA),
campus de Imperatriz e Caxias;
13 Algumas IES e/ou coordenadores e professores preferiram no ser citados; nestes
casos, preservou-se a identidade dos entrevistados.
-
36
De Roraima, da Universidade Federal de Roraima (UFRR),
campus de Boa Vista;
Do Acre, da Universidade Federal do Acre (UFAC), campi na
capital e interior;
De Rondnia, da Universidade Federal de Rondnia (UNIR) em
Porto Velho e das Faculdades Integradas de Ariquemes (FIAR)
na cidade de Ariquemes;
De Gois, da Universidade Estadual de Gois (UEG), campus
Ipor e outros;
Do Tocantins, da Universidade Federal do Tocantins (UFT),
campi Porto Nacional e Araguana;
Do Amap, da Universidade Federal do Amap (UNIFAP),
campi em Amap, e ncleos do interior;
Do Mato Grosso, da Universidade Federal do Mato Grosso
(UFMT), campus de Barra do Garas;
De Santa Catarina, do Centro Universitrio Leonardo da Vinci
(UNIASSELVI), em Indaial (SC) e de seus ncleos de apoio a
distncia em Feira de Santana (BA) e em Canoas (RS);
De Pernambuco, da Faculdade de Formao de Professores de
Belo Jardim (FABEJA) em Belo Jardim (PE); da Universidade
de Pernambuco (UPE) em Nazar da Mata e de outras IES
municipais no interior;
De So Paulo, da Universidade Metropolitana de Santos
(UNIMES), situada no municpio de Santos; da Universidade
de Santo Amaro (UNISA) e da Universidade Camilo Castelo
Branco (UNICASTELO), ambas na cidade de So Paulo.
Os depoimentos14 de coordenadores, professores e discentes sobre
as condies dos cursos, ocorreram por meio de entrevista por telefone
14 Os depoimentos foram principalmente de coordenadores de cursos. Para o contato
inicial foi enviado e-mail para os coordenadores, cujo nome encontra-se geralmente
no sistema E-MEC (site disponibilizado pelo MEC), a partir disso busquei no site das
IES um contato telefnico ou por e-mail. A partir do contato inicial, geralmente por e-
mail, definia-se um dia para o contato telefnico pelo sistema Skype. Com o uso do
programa MX Skype Recorder foi possvel gravar todas as entrevistas.
-
37
pelo Skype, as quais foram gravadas e transcritas trechos e/ou as ideias
principais. As entrevistas possibilitaram aprofundar e qualificar o
entendimento das licenciaturas em Geografia de uma forma integrada,
considerando-se as dimenses curriculares, a infraestrutura, as condies
do discente e do docente.
Logo, a anlise das situaes dos cursos na ltima seo tem como
intuito evidenciar o conjunto dos elementos analisados nas outras sees,
de uma forma integrada, na qual se imbricam as dimenses, os elementos
e variveis com seu arranjo espacial.
fundamental o entendimento das condies dos cursos levando-se
em conta sempre as categorias espaciais, caso de territrio, lugar,
extenso15, centralidade, situao, entre outras, cujos conceitos sero
definidos nas sees a seguir.
Espera-se que esta tese contribua para uma anlise das
licenciaturas em Geografia, considerando as condies de como os cursos
se realizam. H clareza que isto no significa entender o curso em sua
totalidade, pois h outros elementos internos, caso da relao professor-
aluno, de como se realizam as aulas e os estgios, quais as bibliografias
utilizadas e outros, que no foram condies expostas nesta tese.
Pretende-se ainda evidenciar que a histria do pensamento
geogrfico no Brasil, bem como a dos cursos devem considerar como
opo de mtodo a anlise que leve em conta as categorias espaciais.
Considerando-se as premissas apresentadas ao longo desta seo, ser
discutido, na prxima, a histria e o processo de expanso dos cursos de
Geografia no Brasil.
15 O termo extenso usado nesta tese em duas concepes distintas. A primeira diz
respeito s atividades de extenso, comumente definidas como parte do trip das IES:
o ensino, a pesquisa e a extenso. Concerne, pois, a um tipo de atividade curricular. A
outra tem relao com uma categoria espacial, usada na Geografia. Neste caso h
nesta tese duas ideias, a de extenso geomtrica e a existencial (SILVEIRA, 2006).
Estas expresses no so dicotmicas, mas concepes diferentes, assim, enquanto a
extenso geomtrica uma viso mais tradicional, com a mtrica como forma de
entendimento do espao; na concepo existencial, as relaes humanas, sociais e
espaciais tm relao com o cotidiano, com o acesso, no somente do ponto de vista
mtrico.
-
38
2. HISTRIA E PROCESSO DE EXPANSO DOS CURSOS DE
GEOGRAFIA NO BRASIL: 1934-2010.
Nesta seo, busca-se apreender a existncia dos cursos de
Geografia no Brasil, iniciando com a histria e historiografia destes, num
processo histrico e espacial, enfatizando o perodo de 1996 a 2010, por
conta das polticas pblicas que possibilitaram a expanso mais
recentemente do Ensino Superior, particularmente das licenciaturas em
Geografia.
As polticas pblicas relacionadas ao Ensino Superior so
evidenciadas em sua universalidade, bem como as caractersticas dos
cursos de Geografia e algumas de suas problemticas, mostrando em que
condies ocorreram o processo de criao e expanso destes no territrio
brasileiro.
Compreende-se que a existncia das licenciaturas em Geografia
ocorre num movimento histrico, contnuo, dialtico, e os seus problemas
atuais no ocorrem nas mesmas situaes do passado, mas alguns
destes, como a mescla dos perfis de bacharelado e licenciatura
permanecem, porm sempre em novos contextos espaciais, da a
importncia de entend-los numa relao espao-tempo, que
indissocivel. O que novo e velho varia conforme o lugar.
Sendo assim, a produo dos cursos de Geografia no Brasil tem
relao com o tempo social e histrico. O tempo considerado como social,
mediado pela sociedade de cada poca, que no se realiza uniformemente
e vivido socialmente, cria um eterno ir e vir, que acrescenta ao mundo
possibilidades em cada perodo da histria, definido aqui principalmente
mediante os eventos.
Os eventos so momentos marcantes na histria e precisam ser
compreendidos sob a tica dos agentes que se relacionam com os
mesmos e com os lugares. Os que interessam nesta pesquisa so
principalmente os sociais, polticos e econmicos, que do novo significado
-
39
e contedo aos lugares e transformam os cursos de Geografia, sobretudo
os relacionados s polticas pblicas do Ensino Superior.
Assim, o tempo, embora contnuo, tem rupturas e continuidades,
que se realizam por meio dos eventos. Tais rupturas no tempo no so
instantes de descontinuidade total com o passado, nem so absolutas,
mas se realizam num processo regressivo-progressivo, que contm um
pouco do passado no presente, seja nas formas, seja nas aes.
Dessa forma, os eventos no so universalidades absolutas,
realizam-se num lugar e num tempo; so, portanto, a matriz do tempo e
espao, conforme a afirmao de Milton Santos:
Os eventos operam essa ligao entre os lugares e uma histria em movimento. A regio e o lugar, alis, definem-se
como funcionalizao do mundo e por eles que o mundo
percebido empiricamente (SANTOS, 2006, p. 165)
Logo, o evento precisa ser entendido concretamente no lugar, j que
o lugar onde h o acontecer e os eventos se realizam. Ou no dizer de
Maria Laura Silveira (2006):
O mundo s existe nos lugares, pois a histria se constri
nos lugares. Entre essas possibilidades e esses existentes concretos temos os eventos. So os eventos que
transformam as possibilidades em existentes, mas os eventos no so alheios nem indiferentes ao que existe. No h evento sem objeto, no h evento sem ator. [...] Por
isso, o evento o veculo da histria, produz a existncia (SILVEIRA, 2006, p. 88).
Na educao do Ensino Superior no Brasil h as polticas pblicas e
as normas do governo federal, como eventos importantes para a
compreenso dos cursos de Geografia, criadas principalmente pelo MEC e
mais recentemente pelo Inep, assim como outros mais especificamente
geogrficos, que fazem parte do entendimento deste processo.
Considera-se, nesta pesquisa, que toda produo e formao em
Geografia ocorrem como processos em movimento, dialticos, nos quais
as aes sociais, polticas, educacionais, administrativas acontecem dentro
e fora das instituies geogrficas, seja em instituies formais de
Geografia (associaes geogrficas e instituies de ensino), seja na
sociedade e em suas diversas instncias sociais, culturais e polticas.
-
40
H uma circularidade dialtica (SARTRE, 2002) nos processos de
existncia da consolidao da Geografia no Brasil, bem como uma relao
do contexto social e poltico com as atividades mais propriamente internas
da Geografia. No se deve, pois, cair na armadilha do internalismo e
externalismo16 (SHAPIN, 2005), como propostas dicotmicas.
Portanto, o entendimento da Geografia no Brasil no se d por
processo evolutivo, linear, numa repetio ou transposio das produes
da Geografia de outros pases. Os cursos de Geografia tambm no
evoluram numa lgica formal (LEFEBVRE, 1995).
Ao longo do tempo histrico, houve mudanas na Geografia
brasileira e em seus cursos, mas isto no deve ser dissociado da poltica,
das possibilidades histricas de cada tempo social, das escolhas que so
feitas mediadas por questes ideolgicas e tambm de como os
fenmenos relacionados ao Ensino Superior se expressam no espao
geogrfico.
O entendimento do desenvolvimento das licenciaturas em Geografia,
portanto, bastante complexo, passa pela compreenso dos processos
universais que acabam se materializando concretamente nas instituies e
em seus cursos de Geografia, bem como pela relao destas com a
dinmica do territrio nacional, que acaba produzindo singularidades ou
situaes peculiares em suas existncias.
Se, por um lado, possvel dizer que, ao longo do sculo XX, a
Geografia brasileira superou-se17; por outro, cumpre afirmar que ainda
hoje existem questes que j eram apontadas como problemticas no
comeo do sculo XX, tais como: a dicotomia entre Geografia Fsica e
Geografia Humana; Ensino Superior versus Ensino Secundrio; o ensino e
a pesquisa; o perfil de formao dos licenciados e bacharis, entre outras.
16 No se trata de uma proposio externalista. A proposio externalista tem como
princpio que a atividade cientfica sofre influncia externa prpria cincia, opondo-
se assim ao internalismo. 17 Superao segundo a lgica dialtica com diz Henri Lefebvre: [...] a verdadeira
superao obtida no atravs de uma amortizao das diferenas (entre doutrinas e
as idias), mas, ao contrrio, aguando essas diferenas (LEFEBVRE, 1995, p. 229).
-
41
H tambm dificuldade em isolar, numa leitura geral, apenas as
especificidades das licenciaturas em alguns momentos, j que havia e, em
alguns casos, ainda h relaes histricas entre a formao do bacharel e
do licenciado, conforme se discutir a seguir.
2.1. A histria e historiografia dos primeiros cursos do Brasil
Nesta pesquisa, considera-se que h sempre uma mediao dos
lugares, das instituies geogrficas e dos agentes que a produzem,
interferindo e produzindo diferenas e singularidades nos cursos de ensino
superior em Geografia.
Logo, apesar do esforo empreendido em revisitar o passado da
Geografia acadmica brasileira, no se pode afirmar que se trata da
histria da Geografia universitria no Brasil, pois as fontes de apreenso
para elucidao desta temtica, sobretudo do perodo anterior a 1996,
referem-se a apenas algumas instituies geogrficas, cujas publicaes
em peridicos foram mais comuns, caso principalmente de So Paulo e Rio
de Janeiro.
A criao dos cursos de Geografia na Universidade de So Paulo
(1934), da Universidade do Distrito Federal18 (1935) e da Universidade do
Brasil (1939) considerada por alguns autores, como Carlos Augusto de
Figueiredo Monteiro (1980) e Jos Verssimo da Costa Pereira (1955),
como o momento da institucionalizao da Geografia universitria no
Brasil.
No entanto, antes deste perodo, j havia produo geogrfica
institucionalizada. Embora no houvesse cursos de Geografia nas
Instituies de Ensino Superior (IES), a produo do conhecimento
geogrfico se fazia pelas mos de autodidatas, historiadores, religiosos,
18 A Universidade do Distrito Federal (UDF) foi criada em 1935, e a implantao do
primeiro curso de Geografia fluminense fez parte de aes modernizadoras do
governo Getlio Vargas com objetivos nacionalistas. A UDF foi extinta e incorporada
Universidade do Brasil em 1939.
-
42
engenheiros civis e militares, entre outros, ainda que fora do mbito
acadmico universitrio19.
Manoel de Sousa Neto (2008) destaca a ideia de que a Geografia
brasileira j tinha instituies importantes antes do Ensino Superior, tais
como: o Instituto Histrico e Geogrfico Brasileiro (IHGB), de 1838; o
Colgio Imperial Pedro II, de 1837, e a Sociedade de Geografia do Rio de
Janeiro (SGRJ), de 1883.
Antes que a formao em Geografia fosse institucionalizada pelas
IES, havia aqueles alunos que estudavam no secundrio e iam tornando-
se professores de Geografia, mesmo sem formao universitria.
Havia tambm a formao de engenheiros gegrafos (PEREIRA,
1997; ANDRADE, 1977), concedida como especializao na Engenharia,
embora se tratasse de uma formao mais tcnica, mais prxima aos
estudos cartogrficos.
No incio da institucionalizao acadmica da Geografia no Brasil,
houve um papel importante dos estrangeiros, sobretudo franceses.
Contudo, a Geografia brasileira do incio do sculo XX no sofreu apenas
influncia francesa, tampouco sua institucionalizao deu-se somente a
partir da criao dos cursos superiores.
Tambm importa reconhecer o papel que a disciplina de Geografia
no Ensino Secundrio teve antes mesmo da criao das IES, bem como o
papel das produes de carter geogrfico ocorridas antes da sua
institucionalizao universitria, principalmente com a criao das
sociedades geogrficas no Brasil.
Entretanto, notvel que a produo geogrfica se ampliou e se
diversificou aps a criao das Instituies de Ensino Superior (IES) e de
seus cursos de Geografia; do Conselho Nacional de Geografia (CNG), em
1937; do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica20 (IBGE), em 1937;
19 O termo acadmico usado nesta tese no sentido de participar de um grupo de
cincias e letras, assim como se refere ao que participa do mundo das Instituies de
Ensino Superior. 20 O IBGE editava a Revista Brasileira de Geografia, desde 1939, assim como o Boletim
Geogrfico.
-
43
bem como da Associao dos Gegrafos Brasileiros (AGB), em 1934. Esta
produo geogrfica considerada por alguns como cientfica s a partir
da criao destas instituies.
Jos Verssimo da Costa Pereira (1955, 1957), gegrafo e professor
fluminense, fez um trabalho historiogrfico pormenorizado sobre a
evoluo da Geografia no Brasil, no qual, embora discorde da perspectiva
historiogrfica bassaliana21, apresentava muitas informaes de autores
pioneiros22 da Geografia no Brasil, bem como tratava da atuao dos
estrangeiros.
Ainda sobre o perodo anterior Geografia universitria no Brasil,
Srgio Luiz Nunes Pereira (1997), em sua dissertao de mestrado,
identificou Capistrano de Abreu e Gentil Moura como autores de trabalhos
geogrficos relevantes neste perodo. Leo Waibel (1950), professor
alemo, contratado pelo IBGE, tambm tratou da importncia de estudos
de autores da literatura geogrfica brasileira. Segundo o autor, tais
pesquisadores,
Contentam-se com o estudo da literatura geogrfica no sentido limitado no dando a devida ateno rica literatura histrica existente no pas. Eu incidi no mesmo erro e s no
ltimo ano comecei a estudar obras histricas. Com isso, fiz uma descoberta surpreendente: que historiadores e
socilogos como CAPISTRANO DE ABREU, OLIVEIRA VIANA e CAIO PRADO JNIOR possuem uma extraordinria compreenso das inter-relaes geogrficas (WAIBEL, 1950,
p. 420).
Outro estudioso que pesquisou sobre o perodo anterior criao da
Geografia nas IES brasileiras Nilson Cortez Crocia de Barros (2008), que
definiu o Brasil como um arquiplago cultural no final do sculo XIX, incio
21 Segundo Bassala, a perspectiva da difuso da cincia ocorre da Europa para os
demais lugares. Esta ideia parte do princpio de que a produo cientfica se faz,
sobretudo a partir da cincia moderna europia, desconsiderando os conhecimentos
pr-existentes nos lugares (BASSALA, 1967). 22 Ele cita no texto, entre outros pioneiros: Alexandre Ferreira, conhecido como
Humboldt brasileiro; Aires de Casal (1817), com sua Corografia Brasilica;
Raimundo Jos da Cunha Matos, com Chorographia histrica da Provncia de Goyas
(1824); Jos Vieira Couto Magalhes, com Viagem ao Araguaia (1863); Eduardo
Jos de Morais, com sua classificao das bacias hidrogrficas brasileiras; Joo
Martins da Silva Coutinho, que publicou oito trabalhos sobre a regio Amaznica
(1857 a 1866).
-
44
do XX, que importava servios educacionais, j que havia muitos
professores e produes acadmicas oriundos de outros pases.
O autor apresentou Delgado de Carvalho23 como uma figura que
publicou intensamente obras nas reas de humanidades, mas tambm em
fisiografia e sobre a questo territorial do Brasil, assim como sobre ensino,
e que teve grande importncia para a Geografia:
A grande exposio de Delgado aos ambientes envolvidos com a geografia deu-se anteriormente institucionalizao propriamente dita, isto , nos stios pioneiros de antes da
domesticao aplicada da disciplina nas faculdades e no executivo federal. Delgado no foi partcipe da fase
realmente significativa da legitimao do gegrafo pelo trabalho de campo, aps a metade dos anos 1930 e adiante. Celebrara a importncia da ida ao campo de forma mais
doutrinria e educacional, como um difusor precoce de proposies de novas atitudes metodolgicas (BARROS,
2008, p.326-327).
Outro gegrafo que retrata a historiografia da Geografia brasileira
Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro (1980), que publicou o livro A
Geografia no Brasil (1934-1977): avaliao e tendncias24. Sua
historiografia iniciou-se com o que chamou de implantao da Geografia
cientfica, de 1934 a 1948, cujo desenvolvimento foi pautado por grande
dependncia externa de gegrafos de outros pases, sobretudo franceses.
Ele destacou, principalmente, as figuras de Pierre Monbeig, Francis
Ruellan25 e Leo Waibel, professores respectivamente da Universidade de
So Paulo (USP), da Universidade do Brasil e do IBGE.
23 Carvalho atuou no Instituto Histrico e Geogrfico Brasileiro e na Sociedade
Geogrfica do Rio de Janeiro (1920). Os livros mais prximos a conhecimentos
geogrficos so: Geographia do Brasil (1913); Mtorologie du Brsil (1917);
Physiografia do Brasil (1923), Introduo a Geografia Poltica (1925) e
Metodologia do Ensino Geogrfico (1925). Foi docente do Colgio Pedro II, sendo
professor de Geografia e Sociologia. Em 1935, torna-se professor d