As ComemoraçõEs Do 250 Anos

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As comemorações do 250 anos, uma oportunidade para afirmar Aveiro As comemorações dos 250 anos da elevação a cidade podem ser uma excelente oportunidade para que Aveiro possa celebrar o seu passado e a sua identidade, possa projectar-se no contexto regional e nacional e aproveitar a alavanca para afirmar a cultura como um factor de desenvolvimento e de competitividade (O Aveiro, 9JAN 09). A questão que se pode colocar é se encontrámos o melhor modelo organizativo, logístico e programático para atingir tão ambiciosos objectivos. A leitura de uma entrevista com a directora-executiva de Vilnius - Capital Europeia da Cultura de 2009 dá um conjunto de interessantes pistas sobre a preparação de um evento cultural de dimensão internacional (Expresso, 11JAN09). Em primeiro lugar a preocupação de aproveitar o evento como espaço de partilha entre os seus habitantes “através da música, das artes plásticas e de todas as formas de expressão”. Em segundo lugar, ao invés de “uma programação baseada em grandes eventos, investe-se principalmente na participação das pessoas e na vivência da cidade”, através da motivação da criatividade dos residentes e visitantes na interacção com a própria cidade. Em terceiro lugar, o programa não se cinge à participação das associações e organizações culturais nos espaços tradicionais da cidade (Museus e Centros Culturais). O programa contém iniciativas que pretendem “levar a arte para a rua e transformar a face da cidade", através da “organização de instalações, vídeos, performances, arte urbana, música, teatro, que surgirão em locais inesperados da cidade”. Por último, os cidadãos de Vilnius foram convidados a "intervir artisticamente nas ruas, nos becos, nos pátios das casas, nos jardins, durante todo o ano de 2009, estando previstos prémios para os trabalhos mais criativos". Não querendo comparar as condições logísticas e financeiras que Vilnius dispõe, julgo que as ideias apresentadas podem ser inspiradoras duma comemoração um pouco diferente da que estamos a organizar, em que os Aveirenses são chamados a desempenhar um papel pouco activo, mais contemplativo. Será que não valia a pena fazer um esforço acrescido de mobilização, em particular junto das comunidades mais criativas (jovens, agentes da cultura, empresas de tecnologia,…)? Será que o legado de criatividade que daí decorreria não ajudaria a afirmar Aveiro, de forma mais sólida, como um espaço cultural de referência a nível nacional? Não seria esta uma excelente oportunidade para estimular novos hábitos culturais e uma diferente relação dos Aveirenses com a sua cidade? Não seria esta uma oportunidade para equacionar um conjunto de intervenções de requalificação da cidade? Será que ainda vamos a tempo? O que vos parece? Um abraço José Carlos Mota

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As comemorações do 250 anos, uma oportunidade para afirmar Aveiro As comemorações dos 250 anos da elevação a cidade podem ser uma excelente oportunidade para que Aveiro possa celebrar o seu passado e a sua identidade, possa projectar-se no contexto regional e nacional e aproveitar a alavanca para afirmar a cultura como um factor de desenvolvimento e de competitividade (O Aveiro, 9JAN 09). A questão que se pode colocar é se encontrámos o melhor modelo organizativo, logístico e programático para atingir tão ambiciosos objectivos. A leitura de uma entrevista com a directora-executiva de Vilnius - Capital Europeia da Cultura de 2009 dá um conjunto de interessantes pistas sobre a preparação de um evento cultural de dimensão internacional (Expresso, 11JAN09). Em primeiro lugar a preocupação de aproveitar o evento como espaço de partilha entre os seus habitantes “através da música, das artes plásticas e de todas as formas de expressão”. Em segundo lugar, ao invés de “uma programação baseada em grandes eventos, investe-se principalmente na participação das pessoas e na vivência da cidade”, através da motivação da criatividade dos residentes e visitantes na interacção com a própria cidade. Em terceiro lugar, o programa não se cinge à participação das associações e organizações culturais nos espaços tradicionais da cidade (Museus e Centros Culturais). O programa contém iniciativas que pretendem “levar a arte para a rua e transformar a face da cidade", através da “organização de instalações, vídeos, performances, arte urbana, música, teatro, que surgirão em locais inesperados da cidade”. Por último, os cidadãos de Vilnius foram convidados a "intervir artisticamente nas ruas, nos becos, nos pátios das casas, nos jardins, durante todo o ano de 2009, estando previstos prémios para os trabalhos mais criativos". Não querendo comparar as condições logísticas e financeiras que Vilnius dispõe, julgo que as ideias apresentadas podem ser inspiradoras duma comemoração um pouco diferente da que estamos a organizar, em que os Aveirenses são chamados a desempenhar um papel pouco activo, mais contemplativo. Será que não valia a pena fazer um esforço acrescido de mobilização, em particular junto das comunidades mais criativas (jovens, agentes da cultura, empresas de tecnologia,…)? Será que o legado de criatividade que daí decorreria não ajudaria a afirmar Aveiro, de forma mais sólida, como um espaço cultural de referência a nível nacional? Não seria esta uma excelente oportunidade para estimular novos hábitos culturais e uma diferente relação dos Aveirenses com a sua cidade? Não seria esta uma oportunidade para equacionar um conjunto de intervenções de requalificação da cidade? Será que ainda vamos a tempo? O que vos parece? Um abraço José Carlos Mota