As apresentações de dança nos hábitos culturais dos ...
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES
CENTRO DE ESTUDOS LATINO-AMERICANOS SOBRE CULTURA E
COMUNICAÇÃO
JÚLIA GUIMARÃES ARNEIRO
As apresentações de dança nos hábitos culturais dos moradores de
São Paulo
São Paulo
2020
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES
CENTRO DE ESTUDOS LATINO-AMERICANOS SOBRE CULTURA E
COMUNICAÇÃO
As apresentações de dança nos hábitos culturais dos moradores de
São Paulo
Júlia Guimarães Arneiro
Trabalho de conclusão de curso apresentado
como requisito parcial para obtenção do título
de Especialista em Mídia, Informação e
Cultura.
Orientador: Prof. Dr. Eduardo Nunomura
São Paulo
2020
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, agradeço aos meus pais, Noracy e Roberto, por me apoiarem e encorajarem
sempre, não somente no âmbito pessoal, mas também no profissional e acadêmico. Em seguida,
direciono os agradecimentos ao meu orientador, Prof. Dr. Eduardo Nunomura, por toda a ajuda
e suporte e por ter me guiado ao longo desses quase cinco meses de produção do projeto. E se
estou apresentando um artigo que tem a dança como tema central, não posso deixar de
demonstrar minha gratidão a Heloisa Randis, Isabel Mano, Natália Lubarino, Magali Franco e
Lissandra Berdugo, professoras e coreógrafas que tanto me ensinaram durante os quase dez
anos de prática desta arte tão bela e apaixonante. Para a realização das pesquisas, contei com a
ajuda e a orientação da minha amiga pessoal Jéssika Candeias, coordenadora de projetos
quantitativos da S.Can Pesquisa de Mercado, e com a contribuição dos participantes da pesquisa
em grupo, os quais gentilmente disponibilizaram seu tempo para somar a esse projeto. Por isso,
meu “muito obrigada” a eles também. Por fim, agradeço aos meus colegas de turma Bruna
Martins, Daniela Pegoraro, Leandro Saioneti e Yuri Zveibil pela parceria nos trabalhos feitos
em conjunto e, claro, pela amizade que construímos ao longo deste curso.
As apresentações de dança nos hábitos culturais dos moradores de
São Paulo1
Júlia Guimarães Arneiro2
Resumo: A dança está presente no cotidiano do homem de diversas formas e nas mais variadas
situações: em celebrações religiosas, em festividades populares, nas casas noturnas, em eventos
familiares, nos esportes e nas artes. No entanto, apesar de sua relevância social, cultural e
artística, as apresentações de dança são pouco frequentes nos hábitos culturais dos moradores
de São Paulo, conforme aponta o levantamento realizado pela Rede Nossa São Paulo em
parceria com o IBOPE Inteligência apresentado em 2019. Este artigo, portanto, tem o intuito
de analisar este fenômeno por meio de pesquisas feitas com moradores da metrópole e de
estudos sobre os aspectos da dança profissional no Brasil, os fluxos de fomento à cultura e os
impactos da indústria cultural – conceituada pelos filósofos alemães Theodor Adorno e Max
Horkheimer – nos espetáculos de dança.
Palavras-chave: Dança. Espetáculo. São Paulo. Público.
Abstract: Dance is present in people’s life in many and different situations: in religious
celebrations, popular parties, night house’s, family meetings, sports and at arts. However,
despite its social, cultural and artistic relevance, the dance performances are uncommon in
cultural habits of São Paulo residents, as the survey made by Rede Nossa São Paulo in a
partnership with the IBOPE Inteligencia presented in 2019 points out. This article, therefore,
have the intention to analyse all of aspects of professional dance in Brazil, the flow of promotion
of culture and the impacts in the cultural industry – conceptualized by german philosophers
Theodor Adorno and Max Horkheimer – in dance performances.
Key words: Dance. Performance. São Paulo. Audience.
Resumen: La danza está presente en la vida cotidiana del hombre de diferentes formas y en las
más variadas situaciones: en las celebraciones religiosas, en las fiestas populares, en los clubes
nocturnos, en los eventos familiares, en los deportes y en las artes. Sin embargo, a pesar de su
relevancia social, cultural y artística, las representaciones de danza son poco frecuentes en los
hábitos culturales de los paulistas, como señala la encuesta realizada por Rede Nossa São Paulo
en alianza con IBOPE Inteligência presentada en 2019. Este artículo, por lo tanto, tiene como
objetivo analizar este fenómeno mediante una investigación realizada con residentes de la
metrópoli y estudios acerca de aspectos de la danza profesional en Brasil, los flujos de
promoción de la cultura y los impactos de la industria cultural - conceptualizados por los
filósofos alemanes Theodor Adorno y Max Horkheimer - en espectáculos de danza.
Palabras clave: Danza. Muestra. São Paulo. Público.
1 Trabalho de conclusão de curso apresentado como condição para obtenção do título de Especialista em Mídia,
Informação e Cultura. 2 Pós-graduanda em Mídia, Informação e Cultura.
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1. INTRODUÇÃO
A dança é uma atividade física que parte do corpo e do movimento capaz de exprimir
emoções, ideias, atitudes, sentimentos e que “relaciona fatores biológicos, psicológicos,
sociológicos, históricos, estéticos, morais, políticos e geográficos”, na definição da mestra em
ciência do esporte Santos (2017 apud Ribeiro, 2009, p. 25)3. Apesar de sua relevância para o
homem e ser multifuncional, a dança como arte e programa cultural tende a ser esquecida,
desconhecida ou ignorada por grande parte dos moradores da cidade de São Paulo, como
apontam os dados da pesquisa “Cultura – Viver em São Paulo”, apresentada em 2019 pela Rede
Nossa São Paulo e pelo IBOPE Inteligência.
Para melhor compreender este cenário e os motivos pelos quais este fenômeno
ocorre, o artigo apresenta levantamentos sobre a relação dos moradores de São Paulo com a
dança, a partir de uma pesquisa qualitativa, e mostra também a importância do fomento à arte
para a sua disseminação, a história da dança e seus impactos na sociedade.
Perpassa esse artigo o conceito de indústria cultural, de Theodor Adorno e Max
Horkheimer, que aponta crítica e negativamente como se estabeleceu na sociedade o culto a
pretensas necessidades que só seriam atendidas por produtos oriundos do capitalismo. A dança,
por ser um produto de mais difícil massificação demandada pela indústria cultural, estaria
fadada a nunca ganhar relevância? Ou, como diziam os filósofos alemães, outras expressões
artísticas, como o cinema e a música, fartamente disseminados por pertencerem à cultura de
massas, estariam pondo em risco a sobrevivência da dança?
Para avançar nessas discussões, a seção 2, “Dança e sociedade”, aborda os aspectos
sociais e históricos da dança; conectando, aqui, as definições de “indústria cultural” propostas
pelos estudiosos alemães. A seção seguinte, “A dança nos hábitos culturais dos moradores de
São Paulo”, apresenta os dados da pesquisa da Rede Nossa São Paulo e do IBOPE Inteligência,
as principais formas de captação de recursos para a cultura e o desfavorecimento da dança perto
de outros gêneros das artes cênicas. A “Pesquisa qualitativa: metodologia”, objeto central desse
artigo, inicia com uma seção onde fundamentaremos os processos e a metodologia utilizada
para a realização das pesquisas quantitativa e qualitativa, cujos resultados serão revelados na
parte seguinte “Apresentação das pesquisas”.
3 SANTOS, A. P. C. O contributo da dança no desenvolvimento da coordenação das crianças e jovens. Universidade do Porto, Portugal, 1997.
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2. DANÇA E SOCIEDADE
Dentre alguns sentidos figurados para a palavra, “dança”, segundo definição do
dicionário Houaiss, é um substantivo feminino de duas sílabas cujos principais significados são
“arte e/ou técnica de dançar” e “conjunto organizado de movimentos ritmados do corpo,
acompanhados por música; bailado”. Etimologicamente, a palavra em questão é oriunda do
francês danse (antes dancier), que, ao que tudo indica, tem origem no verbo germânico dansjan,
que se traduziria como “puxar”, “estender” ou “esticar”.
A dança é um resultado da necessidade humana de extravasar sentimentos, o que fez
com que o homem dançasse antes mesmo de começar a desenvolver a linguagem verbal e a
música. E, então, depois de perceber que poderia dançar por motivos espirituais ou para
anunciar uma guerra, por exemplo, descobriu que poderia dançar também por prazer
(ACHACAR, 1998 apud PUOLI, 2010, p. 16)4.
É seguro dizer que a dança está presente em diversas situações na vida das pessoas: em
festas populares, espetáculos, encontros familiares ou de amigos, danceterias (“baladas”), nos
esportes e, até mesmo, dentro de casa. Na cultura brasileira a dança é elemento-chave em
diversas celebrações populares e regionais, como nas quadrilhas nas festas de São João e o frevo
no carnaval pernambucano, apenas para citar dois exemplos. Para dançar, portanto, não são
necessários lugar, data, ocasião, condição física ou idade específicos. Pressupõe-se que, das
sete artes clássicas5, a dança deva ser a mais acessível de todas – o único instrumento
fundamental é o próprio corpo.
Para algumas pessoas esse ato de se movimentar não é somente algo esporádico ou uma
consequência por estar em determinada ocasião: dançar – ou melhor, praticar dança – passa a
ser uma espécie de compromisso, impulsionado por uma paixão ou um estilo de vida. Nesse
contexto, a dança pode ser um tipo de exercício físico (sobretudo quando praticado
regularmente), um hobbie ou, até mesmo, uma profissão. Como arte, a dança também
desempenha um papel político, “de libertação, de emancipação, de autonomização do homem
na sociedade” (SILVA, 2009, p. 8), tornando-se, inclusive, um mecanismo de combate às
desigualdades sociais, conforme destaca Silva (2009, p. 2). Medina et al (2008, p. 110) defende
que a dança, acima de tudo, é uma “manifestação de direito dos povos”, a qual transgride
obstáculos que poderiam dificultar o processo de democratização”.
4 ACHACAR, Dalal. Ballet Arte Técnica Interpretação. Rio de Janeiro: Cia Brasileira de Artes Gráficas, 1980. 5 Denominação atribuída pelo estudioso italiano Ricciotto Canudo em Manifesto das Sete Artes (1923).
6
E se existem pessoas que se dedicam em disseminar estudar a dança, há aqueles que são
espectadores dessa arte. Segundo os comunicólogos Gasparini e Katz (2013, p. 5), uma
coreografia pode ser interpretada de variadas formas por aqueles que a assistem a partir da
percepção de cada indivíduo. Ou seja: há uma comunicação entre público e obra, a qual nem
sempre é linear, mas deve existir para que a arte cumpra com o seu compromisso. Davallon
(1999, apud Aragão, 2012, p. 84) cita que a imagem como produção cultural sempre é parcial,
pois depende do ponto de vista do espectador, que faz conexões com seus próprios saberes ao
observá-la.
2.1 História da dança
De acordo com Medina et al (2008, p. 100), nos primórdios da humanidade a dança era
uma atividade comumente desempenhada para fins religiosos/espirituais (acreditava-se que no
ato de se movimentar se estabelecia uma conexão com o divino) e, também, como forma de
comunicação entre os indivíduos da comunidade. Segundo os estudiosos (2008, p. 101), neste
início não havia preocupação com a performance e com técnicas, o que tornou o ato de dançar
muito “orgânico” e “natural”. A partir daí as danças foram aprimorando-se e passaram a ser
vistas também como forma de entretenimento e prática, o que fez com que começassem a exibi-
la ao público que hoje chamamos de “plateia” (MEDINA et al, 2008, p. 102).
O ballet clássico teve seu surgimento na Itália, durante a Idade Média, com a dança
grupal “mourisca”, a qual era realizada nas procissões do teatro popular religioso (SANCHEZ,
2010, p. 270). Conforme explica Sanchez (2010, p. 270), entre os séculos XIV e XV houve uma
releitura desta dança, que, posteriormente, recebeu o nome de balleto ou “ballet” (“pequeno
baile”). Isso porque além de ter ganhado um novo contexto, passou a acontecer nas mansões da
aristocracia.
Apesar da origem italiana, foi na França que o ballet ganhou expressividade, sobretudo
no reinado de Luís XIV (conhecido como “rei Sol”), responsável pela fundação da Academie
Royal de Musique et Danse – instituição que codificou e estruturou a técnica do estilo de dança
em questão – (SANCHEZ, 2010, p. 271). Diante da relevância cultural do País na época e das
iniciativas do rei Luís XIV, o ballet não só passou a ser profissionalizado, mas disseminado por
todo o continente e, consequentemente, pelos países de colônia europeia – como o Brasil.
Parece-nos igualmente correto dizer que o ballet surgiu no continente
americano como parte de um projeto ibérico de colonização do Novo Mundo,
fosse associado à Igreja e sua necessidade de expansão, fosse como veículo
de refinamento para a nobreza e para a constituição de monarquias
absolutistas, formadora dos Estados Modernos (Monteiro, 1999). Estamos,
assim, tratando da nossa própria colonização”. (SANCHEZ, 2010, p. 271).
7
2.1.1 Dança no Brasil
É impossível dissociar a história da dança (como arte e atividade profissional) da
trajetória do ballet clássico, que foi o precursor desta formatação. Segundo Puoli (2010 p. 47),
a chegada do ballet no Brasil foi incitada vinda de professores e bailarinos do exterior,
majoritariamente da Rússia, nas primeiras décadas do século XX. O Theatro Municipal do Rio
de Janeiro foi a primeira “casa” de uma companhia profissional, o Corpo de Baile do Teatro
Municipal do Rio de Janeiro, fundado a partir da escola aberta por Maria Olenewa em 1927
(PUOLI, 2010, p. 47).
Na capital paulista, o grupo do Theatro Municipal de São Paulo veio a ser lançado 13
anos depois, em 1940, por Vaslav Veltchek. Segundo Puoli (2010, p. 49), “o acontecimento
mais importante no desenvolvimento do ballet em São Paulo foi a formação do Ballet do IV
Centenário em 1953, sob a direção de Aurélio Milloss”. Após o início deste movimento, o ballet
se espalhou rapidamente no Brasil, o que contribuiu para o surgimento de diversas companhias
profissionais de valor em vários pontos do território brasileiro, as quais existem até hoje
(FARO, 2004 apud PUOLI, 2010, p. 49).
Dentre essas companhias, as principais são: Balé da Cidade de São Paulo, Grupo Corpo,
Cisne Negro Companhia de Dança, Companhia de Dança Deborah Colker, São Paulo
Companhia de Dança e Escola do Ballet Bolshoi no Brasil6. Sobre a última, é importante
destacar que a Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, localizada em Joinville (SC), responsável
pela companhia, é a única filial do mundo da escola russa. Outro título unicamente brasileiro
em relação à dança é o de ter o maior festival do mundo. Presente no Guinness Book desde
2005, o Festival de Joinville, que acontece no mês de julho, recebe um público superior a 230
mil pessoas e cerca de 7 mil participantes por ano.
2.2 A dança sob a ótica da Indústria Cultural
Ao dissertar sobre Adorno e Horkheimer, Nepomuceno (2010, p. 3) contextualiza que
“indústria cultural” é um conceito que nos permitiria distinguir as culturas que surgem
espontaneamente das massas daquelas que são impostas por uma classe dominante, as quais
visam unicamente o lucro (NEPOMUCENO, 2010, p. 3). A indústria cultural é a indústria do
divertimento, e, no caso, a diversão é “procurada pelos que querem se subtrair os processos de
trabalho mecanizado, para que estejam de novo em condições de enfrentá-lo” (ADORNO,
2020, p.30 - 31). Essas ideias são introduzidas majoritariamente pela grande mídia, conforme
6 Escolas e companhias destacadas por Puoli (2010).
8
explica Batista (2007 apud Nepomuceno, 2010, pg. 3), de forma que as pessoas quase nunca
conseguem “sentir” os impactos dessa influência.
França (2014, p. 20) pontua que a aceitação passiva por parte dos consumidores de
produtos da indústria cultural – que acabam se totalizando em um grande número de pessoas –
se dá por conta de uma manipulação da mídia. Sendo assim, a televisão, os jornais, as revistas
e o rádio, juntamente com a publicidade e a propaganda, “procuram ‘fabricar’ e manipular as
necessidades de seu público, de forma que o binômio oferta e demanda atenda as exigências do
capital investido, sem margem para erros na precisão do lucro calculado” (FRANÇA, 2014,
p.20).
Sobre a influência da indústria cultural na dança (como atividade corporal, no caso),
Nepomuceno (2010, p.5) explana que as danças expostas pelos meios de comunicação de massa
são, geralmente, ausentes de personalidade e identidade e que a aceitação do que é “pronto”
acaba por reduzir a espontaneidade e expressividade de muitos indivíduos (GONÇALVES,
2004, apud NEPOMUCENO, 2010, p.5)7.
A partir desses conceitos, compreendemos que a dança sofre diretamente com a ação da
indústria cultural. A dança profissional e/ou competitiva, em geral, não tem o teor
“mercadológico” que, como destaca Nepomuceno (2010, p.5), teriam aquelas que são
transmitidas e fomentadas pela grande mídia. Portanto, essa falta de conexão que as pessoas
têm com a dança as coíbe de ter interesse de buscar por esse tipo de programa cultural e, por
consequência, criar o hábito de apreciar este tipo de arte.
3. A DANÇA NOS HÁBITOS CULTURAIS DOS MORADORES DE SÃO PAULO
O Brasil, de modo geral, é um país que tem estruturas para formar bailarinos
profissionais e oferecer bons espetáculos. Em São Paulo, a maior metrópole da América Latina,
no entanto, a dança é uma arte colocada em segundo plano – ou melhor, nono – pelos moradores
quando o assunto é programa cultural. De acordo com a pesquisa “Cultura – Viver em São
Paulo”, de abril de 2019, elaborada pela Rede Nossa São Paulo em parceria com o IBOPE
Inteligência, apenas 8% dos entrevistados assistiram a algum tipo de espetáculo de dança nos
12 meses antecedentes ao levantamento – ficando à frente apenas de saraus/slams8 e concertos
de música clássica.
7 GONÇALVES, M. A. Sentir, pensar, agir: corporeidade e educação. Campinas: Papirus, 1994. 8 Poetry slam ou slam é o nome dado à batalha de poesias.
9
A plateia dos espetáculos de dança se forma, atualmente, com os que vivem
essa realidade; daí a necessidade de se compreender a dificuldade em
conseguir criar esse momento de pausa no dia a dia, que dificulta a
possibilidade de se viver o encontro com a dança como uma experiência
transformadora. Isso reflete diretamente na dificuldade de atingir um público
maior e mais diversificado para a dança, algo a ser considerado pelos artistas
e coreógrafos. (GASPARINI e KATZ, 2013, p. 55)
A partir deste cenário, portanto, é necessário entender por que a dança é tão ausente da
agenda cultural dos moradores de São Paulo. Puoli (2010, p. 50) atribui o fracasso das
companhias de dança que não conseguem se firmar à falta de dinheiro, apoio e publicidade.
Isso significaria que, se não há interesse por parte do público em consumir este tipo de arte, não
há ganhos significativos em bilheteria e, consequentemente, desinteresse por parte dos
investidores em fomentar esses espetáculos, numa espécie de ciclo vicioso.
No Brasil, o incentivo à arte como um todo outrora passara por um processo de
crescimento emergente. Durante o mandato do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva
(exercido entre 2002 e 2010), surgiram políticas públicas voltadas à cultura que fortificaram o
meio artístico neste período. Foi nesta presidência, por exemplo, que o Ministério da Cultura
(MinC) foi reestruturado, em agosto de 2003. Contudo, o cenário atual é mais adverso,
principalmente por conta do atual presidente da república, Jair Bolsonaro; que, dentre diversas
medidas que desestimulam a atividade cultural no Brasil, foi responsável pela extinção do
MinC, em janeiro de 2019.
Para que possamos entender o funcionamento deste mercado, é imprescindível analisar
os fluxos dos principais mecanismos de fomento à cultura e como o favorecimento de alguns
projetos é inversamente proporcional à desvalorização de outros – bem como os reflexos da
indústria cultural neste contexto.
3.1 Como a dança recebe capital?
Para que um festival, apresentação ou companhia de dança receba recursos financeiros
para se estruturar e entrar em atividade existem diversas formas. Se pensarmos num grupo
formado por alunos de uma escola de dança particular é comum que o espetáculo seja
estruturado por meio da contribuição dos próprios alunos e/ou responsáveis e pela venda de
ingressos. No entanto, para a confecção de projetos maiores e mais abrangentes, geralmente
recorrer-se a programas de incentivo cultural, como a própria Lei de Incentivo à Cultura ou Lei
Rouanet, como é popularmente denominada.
3.1.1 Lei Rouanet
10
A Lei de Incentivo à Cultura (n° 8.313, de 23/12/1991), criada por Paulo Sérgio
Rouanet, prevê que pessoas físicas e jurídicas tenham um valor abatido do Imposto de Renda
(o governo abre mão do valor que seria recolhido) para que essa quantia seja designada a
atividades culturais. É importante destacar, aqui, que não se trata de um investimento, mas de
um patrocínio (quando há ações de marketing ou publicidade em cima desta ação) ou doação –
quando não há a contrapartida da divulgação – (PUOLI, 2010, p. 66). Para que um projeto possa
captar recursos utilizando a Lei Rouanet, é preciso que ele seja redigido e submetido para
análise da Secretaria Especial da Cultura do Ministério da Cidadania (sujeito à aprovação).
O auge da Lei Rouanet foi em 2018, quando alcançou o valor de R$ 6.813.470.979,50,
distribuídos entre 5.449 projetos aprovados em todo o Brasil. Em 2019 este valor já caiu para
3.776.328.249,32 e 3.784 aprovações. Coincidentemente (ou não), foi neste ano que o MinC
foi desfeito e transformado em Secretaria Especial da Cultura, à época sob o Ministério da
Cidadania – e mais tarde transferida para o do Turismo.
Com a eleição do presidente Jair Bolsonaro, a cultura como um todo vem sendo
desmerecida, bem como a Lei de Incentivo à Cultura. Essa “guerra” foi evidenciada quando
artistas se posicionaram contra o atual presidente – que já propunha desacelerar o incentivo à
cultura no período pré-candidatura – e foram acusados pelo próprio de “tirar proveito” da Lei
Rouanet. Desde então, foi criado um estigma em torno da Lei; o qual aponta que ela seria um
mecanismo de endossar o “marxismo cultural”9 por meio de verbas públicas. Em uma entrevista
sobre quais seriam as previsões para o mercado cultural em 2020, publicada no Estadão, Pedro
Mastrobuono, presidente do Instituto Volpi, comenta que Lei Rouanet “vem sendo demonizada
de uma maneira avassaladora”.
3.2 Relação entre leis de incentivo e dança
Adentrando na questão do incentivo à dança, é possível observar um movimento que
corrobora para a atual situação desta atividade cultural em São Paulo. De acordo com o portal
do Sistema de Apoio às Leis de Incentivo à Cultura (Salic), de 2002 a 2020, 1.038 projetos
voltados à arte em questão foram aprovados e fomentados por meio da Lei Rouanet no Estado.
Na categoria “Artes Cênicas”, a dança é a segunda atividade a receber mais recursos. Contudo,
apesar da segunda posição, em “Teatro” (que está na mesma categoria) o número de projetos
aprovados foi de 7.239 no mesmo período, quase sete vezes mais do que as propostas voltadas
9 Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/cultura/lei-rouanet-da-ascensao-a-queda-provocada-pelas-fake-news/. Acesso em 22 de out. de 2020.
11
para a dança. Dos dez maiores proponentes (ou seja, solicitantes) de 2019, nenhum tem
atividades ligadas diretamente à dança – e, tampouco, ao teatro10.
3.2.1 O fenômeno Broadway
Por meio destes números, vimos que há um baixo interesse daqueles que aderem à Lei
Rouanet em apoiar projetos relacionados à dança, se comparado a outras artes e/ou atividades
culturais. Para compreender o porquê destas estatísticas, é conveniente realizar uma breve
associação com os espetáculos musicais, que vêm fazendo um sucesso gigantesco nas salas de
teatro – e entre as empresas patrocinadoras. Conforme mostra um levantamento realizado pela
Carta Capital, entre os anos de 2016 e 2019, R$ 200 milhões foram captados para produções
musicais no eixo Rio-São Paulo por meio da Lei Rouanet. A T4F, maior proponente do período,
captou, sozinha, R$ 78 milhões. Dentre as principais montagens produzidas pela companhia
estão Les Misérables, O Fantasma da Ópera, Mudança de Hábito, Wicked, Antes Tarde do Que
Nunca e 2 Filhos de Francisco, que, com exceção do último, são todos oriundos da Broadway.
Diante desse fenômeno dos musicais, conseguimos ter alguns vislumbres dos motivos
pelos quais a dança não faz o mesmo “barulho”. Em entrevista publicada na Carta Capital,
Carlos Cavalcanti, produtor responsável pela montagem do musical Billy Elliot no Brasil, diz
que “empresas de São Paulo e do Rio gostam muito de investir em teatro musical porque ao
receberem a cota de ingressos gratuitos podem desenvolver uma política para seus
colaboradores ou clientes, oferecendo a eles uma experiência gratificante”. Na mesma
reportagem, José Roberto Walker, diretor do reality show “Cultura, o Musical”, da TV Cultura,
ao falar dos resultados colhidos das produções musicais nacionais e importadas, questiona, mas
em tom de afirmação: “Qual outro gênero consegue atrair tanto público jovem?”.
A partir destas afirmações, é passível de constatação que as empresas escolhem os
projetos nos quais querem investir pensando no retorno que terão. Ou seja: os investidores
sabem que os musicais são atrativos para seus clientes ou colaboradores e que lhes proporcionar
essa experiência poderá aumentar os lucros da companhia. Então, quando relacionamos esse
discurso com o contexto das apresentações de dança, fica subentendido que esta atividade
cultural não é tão fomentada porque, na visão de quem “entra” com o capital, não geraria o
10 É válido destacar que nem sempre essa equiparação entre “popularidade x incentivo financeiro” é uma máxima. Um exemplo disso é o fato de dois dos dez maiores preponentes de 2019, estarem ligados à música clássica, que são a Fundação Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Fundação OSESP), em 4° lugar, e a Fundação Orquestra Sinfônica Brasileira, em 7°. Além disso, na categoria “Música Erudita” há 1.611 projetos aprovados entre 2002 e 2019 em São Paulo, número superior às aprovações de dança. Porém, na pesquisa realizada pela Rede Nossa São Paulo e pelo IBOPE consta que apenas 7% dos entrevistados foram a concertos, indo totalmente na contramão desta relação.
12
interesse em comprar ou vender mais para ganhar os ingressos como presente. E, de fato:
quando revisitamos os dados da pesquisa da Rede Nossa São Paulo com o IBOPE Inteligência
já apresentados – e conforme veremos mais à frente –, esta teoria ganha ainda mais força. Aqui
também observamos um movimento quase que cíclico: a dança, por receber menos apoio
financeiro, acaba não sendo tão disseminada como outras atividades e, por conta disso, tem
pouca procura. Por ter pouca procura, os investidores compreendem que a dança não atrai
público e, consequentemente, não gera rentabilidade. É a tempestade perfeita.
3.2.1.1 Dança versus teatro musical e os efeitos da indústria cultural
Nesta relação de causa e efeito, que parece não ter início ou fim definidos, podemos ver
com clareza os impactos da indústria cultural. De um lado há as empresas apoiadoras de projetos
culturais por meio da Lei Rouanet, que financiam aquilo que lhes possa gerar lucro,
independentemente do conteúdo da obra; e, do outro, a valorização e a comercialização daquilo
que é “divertido” aos olhos do público, uma vez que a indústria cultural é mediada pelo
entretenimento (FISCHER 2002 apud NEPOMUCENO, 2010 p. 5)11.
Trazendo a pergunta de Walker (2019) para esta reflexão, é possível também traçar um
outro paralelo: o motivo pelo qual os musicais são mais atraentes para os “jovens” do que um
espetáculo de dança pode estar ligado ao seu caráter mais literal. Diferentemente da dança, que
instiga o espectador a decifrar uma narrativa por meio de uma linguagem corporal, o teatro
musical conta uma história de forma mais direta por meio de diálogos, canções e coreografias,
o que pode tornar a compreensão da obra mais fácil. Além disso, os musicais costumam
“conversar” muito com as obras do cinema (há filmes que são adaptações de musicais e vice-
versa), o que contribuiria para que o espectador se engaje mais em assistir essas montagens.
Com isso, podemos compreender que o musical seria “lugar-comum” para o público, o qual,
consequentemente, se interessará mais por algo com que tenha familiaridade. Segundo Costa et
al (2003, p. 8), Adorno e Horkheimer argumentam que:
O surgimento das indústrias de entretenimento como empresas capitalistas
resultaram na padronização e na racionalização das formas culturais, e esse
processo, por sua vez, atrofiou a capacidade do indivíduo de pensar e agir de
maneira crítica e autônoma.
4. PESQUISAS QUANTITATIVA E QUALITATIVA: METODOLOGIA
11 FISCHER, E. A necessidade da arte. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002
13
Por meio de argumentos discorridos anteriormente, pudemos identificar alguns pontos
críticos a respeito da situação dos espetáculos de dança na cidade de São Paulo. Além de ser
um programa cultural negligenciado pelos moradores da metrópole, a dança não é uma das artes
mais beneficiadas pelas leis de incentivo à cultura. Para que possamos entender mais
precisamente os motivos que ocasionam este movimento – sobretudo a baixa adesão aos
espetáculos –, foi realizada uma pesquisa qualitativa em grupo, na qual sete indivíduos de perfis
distintos compartilharam a relação que têm com a esta arte.
A pesquisa qualitativa é compreendida, segundo Neves (1996 p. 1), como um método
de estudo que visa a captação de dados descritivos por meio de um contato próximo com o
objeto de estudo. Conforme explica Maanen (1979 apud Neves 1996, p. 1)12, as técnicas que
configuram esta pesquisa descrevem e decodificam os componentes de um sistema complexo
de significado; além de traduzirem e expressarem os fenômenos no mundo social e reduzirem
o espaço entre a teoria e os dados.
4.1 Delimitação de perfis
Para a escolha dos perfis que viriam a participar da pesquisa qualitativa, foram
consideradas as informações dispostas no levantamento Cultura – Viver em São Paulo. Para a
divisão geográfica, levou-se em conta o fato de que o centro e a zona oeste são as regiões mais
favorecidas de aparelhos culturais. A definição das faixas etárias, por sua vez, foi feita com
base na comparação13 entre os dados de frequência em atividades culturais das idades mais
baixas versus as mais altas. No caso, os jovens de 16 a 24 anos são os que mais fazem programas
culturais, enquanto mais pessoas com 55 anos ou mais foram a espetáculos de dança. Sendo
assim, os perfis escolhidos foram:
1) Homem ou mulher, de 18 a 24 anos, morador(a) do centro ou da zona oeste de
São Paulo e que tenha feito alguma atividade cultural nos últimos 12 meses;
2) Homem ou mulher, de 18 a 24 anos, morador(a) da zona norte, sul ou leste de
São Paulo e que tenha feito alguma atividade cultural nos últimos 12 meses;
3) Homem ou mulher, de 25 a 34 anos, morador(a) do centro ou da zona oeste de
São Paulo e que tenha feito alguma atividade cultural nos últimos 12 meses;
12 MAANEN, J. V. Reclaiming qualitative methods for organizational ressearch: a preface. In Administrative Science Quarterly, vol. 24, no. 4, 1979. 13 A comparação foi feita e apresentada pela própria pesquisa da Rede Nossa São Paulo com o IBOPE Inteligência.
14
4) Homem ou mulher, de 25 a 34 anos, morador(a) da zona norte, sul ou leste de
São Paulo e que tenha feito alguma atividade cultural nos últimos 12 meses;
5) Homem ou mulher, com mais de 55 anos, morador(a) do centro ou da zona oeste
de São Paulo e que tenha feito alguma atividade cultural nos últimos 12 meses;
6) Homem ou mulher, com mais de 55 anos morador(a) da zona norte, sul ou leste
de São Paulo e que tenha feito alguma atividade cultural nos últimos 12 meses;
7) Homem ou mulher, de qualquer idade e região de residência, que ido a um
espetáculo de dança nos últimos 12 meses.
4.1.1 Pesquisa de filtro
Para que esses perfis fossem selecionados para a fase da pesquisa qualitativa em grupo,
foi aplicado um questionário quantitativo de filtro14 (on-line), no qual os participantes
responderam, além de perguntas triviais (como nome, gênero, idade, local de residência,
escolaridade e renda familiar mensal), questões relacionadas à frequência em atividades
culturais e à relação com apresentações de dança. Entre os programas culturais, foram
considerados o cinema, teatro, musical, espetáculos de dança, shows, feiras de
artesanato/gastronômicas, museus, concertos, saraus/slams.
4.2 Pesquisa qualitativa
Por conta da pandemia da Covid-19, a pesquisa qualitativa aconteceu de forma
on-line, por meio de videoconferência, e teve uma duração de 1h30. Para uma melhor divisão
de assuntos, as perguntas foram separadas em três blocos: no primeiro, buscou-se compreender
um pouco mais sobre os interesses dos entrevistados por atividades culturais no geral; no
segundo, a relação dos participantes com diferentes tipos de apresentações de dança; no
terceiro, a familiaridade dos presentes com a dança.
5. APRESENTAÇÃO DAS PESQUISAS
5.1 Pesquisa de filtro
14 Jargão utilizado no meio das pesquisas de mercado para se referir ao questionário utilizado para selecionar pessoas com perfis específicos para a pesquisa qualitativa. Disponível em: http://www.saopaulopesquisas.com.br/pesquisa-de-mercado-elaborando-um-bom-questionario/. Acesso em 13 de nov. de 2020.
15
Apesar de a pesquisa de filtro ter sido utilizada como mecanismo de seleção dos
indivíduos para a qualitativa, as respostas puderam fornecer informações relevantes sobre a
relação que os moradores de São Paulo têm com as apresentações de dança. Foi possível
observar que 51% dos 138 respondentes do questionário raramente vão a espetáculos de dança
e que o maior motivo pelo qual as pessoas não costumam frequentar este tipo de atividade é a
falta de informação (31% das respostas), seguido pela falta de interesse (22%). Quando
questionados sobre o quanto investiriam para assistir a um espetáculo de dança, a maior parte
dos participantes (38%) disse que pagaria entre R$ 51 e R$ 100 e a segunda maior fatia, que
corresponde a 28% das respostas, gastaria até R$ 50 reais neste tipo de programa. Na pergunta
sobre a afinidade com apresentações de dança, 57% afirmou gostar da atividade cultural e 25%
disse que só iria para assistir algum conhecido15.
Ao final da pesquisa, foi disponibilizado um espaço livre para que os respondentes
pudessem compartilhar, se quisessem, opiniões pessoais acerca do tema “apresentações de
dança”16. Por meio desses comentários, foi possível notar que a falta de divulgação é um
impeditivo para que essas pessoas deixem de ir ou frequentem pouco este tipo de evento. Uma
das participantes, Natalie Yamamoto, 32, afirma que tem bastante gosto pelo ballet clássico e
que, inclusive, costuma a assistir vídeos de dança pelo YouTube, mas que dificilmente fica
sabendo de algum espetáculo ao qual ela possa ir. “Sempre que eu tenho oportunidade de assistir
ballet clássico no teatro eu vou. [...] Eu sinceramente não vou muito, porque raramente fico
sabendo quando tem. [...] se eu soubesse de mais apresentações, eu iria”, comenta a participante.
Leylla Pastore, 25, tece um comentário relevante sobre alguns aspectos das
apresentações de dança. Segundo a respondente,
Talvez se o mundo das danças 'não convencionais' como moderna,
contemporânea etc. fossem mais 'comerciais' e menos críticas e
introspectivas atrairia mais a atenção de um público que é de fora da
bolha dos que já estão nesse mundo. Não sei explicar melhor mas eu fui
do mundo da dança [...] e eu entendia uma apresentação mas meus pais
não nem meus amigos. Esse ramo específico da dança ainda não
conseguiu construir uma ponte com o público do mesmo jeito que a
dança de rua e a dança do ventre conseguiram.
5.2 Pesquisa de grupo qualitativa17
5.2.1 Primeiro bloco – hábitos culturais
15 Ver gráficos em Apêndice A. 16 Ver demais respostas em Apêndice B. 17 Transcrição completa disponível em: encurtador.com.br/ASV68.
16
A pesquisa qualitativa em grupo aconteceu no dia 27 de outubro de 2020, às 19h, por
videoconferência. Este bloco inicial contou com questões sobre os hábitos culturais dos
entrevistados – sem tocar, ainda, no objeto central do estudo, que são as apresentações de dança.
Antes de começar a entrevista, os participantes foram orientados a sempre considerarem (com
uma exceção) o cenário pré-pandemia da Covid-19.
Como forma de ambientá-los e dar um tom mais descontraído à conversa, as primeiras
perguntas foram sobre o que os entrevistados gostavam de fazer aos fins de semana e se a forma
de consumir entretenimento durante o isolamento social havia mudado. Dos programas
preferidos, “barzinho”, cinema e séries de TV/streaming18 foram as atividades mais citadas,
enquanto, na pandemia, as lives19, conteúdos pelo YouTube e séries (novamente) foram
bastante mencionados como forma de consumo de conteúdo cultural e/ou educativo em tempos
de crise sanitária.
Em seguida, os entrevistados foram perguntados sobre quais eram as suas atividades
culturais favoritas (considerando as que estavam presentes no questionário de filtro) e quais
eram as que mais frequentavam. O estudante de jornalismo Jonathan Oliveira, 23, morador de
Paraisópolis (zona sul de São Paulo) e a empresária Neusa Domingues, 67, residente de Santana
(zona norte), elegeram o cinema como atividade favorita e mais frequentada.
Os shows musicais também apareceram expressivamente como programa cultural
preferido: foi a resposta da advogada Camila Batista Modesto, 27, moradora de Boaçava, da
estudante de veterinária e ex-bailarina amadora Ariane Holanda Gaeta20, 28, de Perdizes, e do
motorista de transporte escolar, Roberto Martins, 58, do bairro da Água Branca – todos da zona
oeste. Desses três respondentes, Camila e Ariane afirmaram que o cinema seria a atividade
cultural mais recorrente, enquanto apenas Roberto disse que ia mais a shows do a outros
programas. Na verdade, Roberto foi o único dos entrevistados que não apontou o cinema como
atividade cultural mais frequentada, uma vez que o publicitário Felipe Faria de Oliveira, 30, de
Itaquera (zona leste) e a estudante de oceanografia Tainá Lotito Venturi, 19, moradora da Vila
Romana (zona oeste) também vão mais frequentemente ao cinema. Como atividade favorita,
tanto Tainá quanto Felipe escolheram as apresentações de dança como opção – apesar de
raramente irem a este tipo de evento ou, até mesmo, nunca terem ido, como é o caso de Felipe.
18 Conteúdo consumido pela internet disponibilizado em servidores de empresas especializadas. Ex.: Netflix, Amazon Prime, Spotify etc. 19 Transmissão ao vivo de áudio e vídeo na internet, geralmente feita por meio das redes sociais. 20 Ariane, no caso, é a personagem que foi a um ou mais espetáculos de dança nos últimos 12 meses.
17
De acordo com os entrevistados que vão mais ao cinema, este hábito está diretamente
atrelado à praticidade que este programa cultural oferece. “[...] eu moro a cinco quadras de um
cinema, então é mais fácil de ir. E [tem] a diferença do preço entre um espetáculo de dança e
um cinema, e esta disponibilidade mais recorrente”, comenta Tainá. Para encerrar este primeiro
bloco de perguntas, os participantes foram questionados sobre qual(is) atividades eles não
gostam e/ou têm menos probabilidade de frequentar. As opções mais escolhidas foram concerto
e sarau, seguido por slam e museu.
5.2.2 Segundo bloco – impressões sobre a dança
Este segundo bloco de entrevista foi totalmente focado nas impressões e na relação que
os entrevistados têm com as apresentações de dança e com a arte da dança propriamente dita.
A pergunta que abriu esta fase da conversa foi sobre o que lhes vinha à mente quando pensavam
em “apresentação de dança”. “Ballet clássico”, “dança de salão”, “expressão corporal”,
“sentimento”, “arte”, “dança contemporânea”, “dança de rua”, “história”, “apresentação com
diversos tipos de dança”, “coreografia” e “figurino” são palavras ou termos que surgiram a
partir desta questão – sendo que algumas foram citadas mais de uma vez, como “ballet
clássico”, “expressão corporal” e “história”.
Segundo os entrevistados, nenhum rejeitaria um conteúdo de dança que viesse a
aparecer no feed21 de uma rede social ou num programa de televisão, por exemplo. Porém,
alguns afirmaram que dependeria do conteúdo ou da “plástica”, como afirma Roberto. Tainá,
por sua vez, comenta que o tamanho do conteúdo interfere na vontade de assisti-los ou não. “Às
vezes dá uma preguiça de ver, se é um clipe muito grande ou algo do tipo”, explica a estudante.
A partir deste momento a entrevista começa a ganhar elementos maios sensoriais. Foram
exibidas para os participantes quatro imagens: uma que remetia ao ballet clássico (apresentação
de O Lago dos Cisnes22), outra à dança contemporânea, à dança de rua e à dança popular
brasileira/folclórica com bailarinos de frevo. Com elas apresentadas na tela, os respondentes
deveriam dizer quais, na opinião deles, teriam mais a ver com o termo “apresentação de dança”.
Jonathan, Neusa e Roberto apontaram a imagem do ballet clássico, enquanto Camila, Ariane,
Tainá e Felipe escolheram a opção da imagem de dança contemporânea como principal
referência ao termo em questão. Ainda com as imagens projetadas, os entrevistados deveriam
dizer, agora, quais delas mais os agradavam. Jonathan escolheu a imagem da dança de rua e
21 Seção das redes sociais onde aparecem conteúdos publicados em contas “seguidas” pelo indivíduo. 22 Ballet de repertório composto por Piotr Ilitch Tchaikovsky.
18
afirmou que já assistiu muito esse tipo de conteúdo na internet. Roberto, no caso, optou pela
imagem do ballet clássico. Os demais (Camila, Ariane, Tainá e Felipe) disseram que a imagem
da dança contemporânea era a preferida.
O passo seguinte foi questioná-los sobre o sentimento que cada imagem transmitia. “É
um grupo, uma coisa mais bonita, no meu ponto de vista”, diz Jonathan sobre a do ballet
clássico. A que referenciava à dança contemporânea, o estudante de jornalismo definiu como
“algo mais difícil, elaborado”. Para a dança de rua, os termos escolhidos foram “técnica” e
“algo diferente”, enquanto sobre a quarta imagem, a do frevo, ele diz ser a mais alegre de todas.
“Um é grupo, né? [...] Organização. O dois, eu vejo uma questão, assim, mais corporal, mais
intimista, né? O três, a liberdade e, o quatro, alegria, esbórnia”, define Neusa, respectivamente,
as imagens do ballet clássico, dança contemporânea, dança de rua e frevo.
Seguindo esta mesma ordem, Camila diz que as imagens transmitem “disciplina”,
“sentimento e profundidade”, “algo de turma e mais alegre” e “cultura”. Assim como Camila,
Roberto, que responde em seguida, também pensa em “disciplina” quando vê a primeira
imagem. Para as demais, no caso, os sentimentos ou palavras que vêm à mente são
“coreografia” (dança contemporânea), “técnica e habilidade” (dança de rua) e “festa” (frevo).
Para Ariane,
Na um eu vejo perfeccionismo, algo mais elegante. Bonito de se ver,
todas são, né? Na dois, eu acho algo mais expressivo, bem sentimental;
assim, tipo um troço que vem de dentro e você nem sabe o que que é e
só vai. A três eu acho bem alegre também. [...] você estar junto de
amigos, enfim... sempre [com] sorriso no rosto e a quatro também acho
alegre, acho cultural.
Para Tainá, a imagem do ballet clássico remete à “coisa de ser muito regrado, muito
certinho”, enquanto a do contemporâneo tem a ver com “expressão” e algo “visceral”. A da
dança de rua, para ela, passa o sentimento de algo mais “descontraído” e a do frevo,
“tradicional”. Por fim, ainda se baseando nesta sequência, Felipe menciona “postura”, algo que
“conta história”, “força” e “felicidade”. Após essa pergunta, foram apresentados trechos de
vídeos de algumas modalidades de dança e os entrevistados deveriam dizer qual delas mais
gostavam. A maioria preferiu o de hip hop, seguido pelo de dança contemporânea e pelo de
tango e, depois, o de jazz. Aqui vale ressaltar não só que o vídeo de ballet clássico não recebeu
“votos”, mas, também, que o tango foi a preferência dos entrevistados mais velhos (Neusa e
Roberto).
Com base nos vídeos, os entrevistados deveriam dizer o quanto eles achavam que o
ingresso para uma apresentação de cada estilo de dança mostrado custaria. O ballet clássico foi
19
opinado como o que seria mais caro, seguido pelo contemporâneo e pelo tango. Vale ressaltar
que foram considerados os parâmetros pessoais de cada personagem e não uma média entre os
valores estipulados. Por exemplo: Jonathan considerou que o espetáculo de ballet clássico
custaria por volta de R$ 50, enquanto Camila sugeriu um valor de R$ 100 a R$ 150 – e, no caso,
ambos os valores foram os mais altos que eles mencionaram entre as outras modalidades.
A pergunta seguinte foi “para qual apresentação você estaria propenso(a) a pagar um
valor mais alto?”. Apesar de gostar mais de hip hop, Jonathan afirma que pagaria mais pelo
ballet clássico. Neusa, assim como ele, também gastaria mais para assistir ballet, principalmente
se fosse uma apresentação no Theatro Municipal de São Paulo, pois, segundo ela, é um local
ao qual ela foi poucas vezes. “Eu acho muito bonito, e é uma oportunidade pra eu ir [...] é um
lugar que me remete [a] muitas coisas assim... da história, aí eu já fico imaginando como que
é, quando foi inaugurado [...] então eu acho que eu usufruiria mais”, acrescenta. Camila
investiria mais para ir a um espetáculo de dança contemporânea ou de hip hop, mas acredita
que os preços de todas as modalidades deveriam ser similares. “... não deveria ter um mais caro
do que o outro e uma boa parte dos ingressos deveria ser custeado pelo estado como uma forma
de fomentar a cultura”, pontua a advogada.
Em seguida, Roberto diz que pagaria mais pelo tango por conta da “plástica” e do
“glamour”. Ariane, apesar de não preferir o ballet clássico, pagaria mais por uma apresentação
desta modalidade por conta do nível de produção e Tainá concorda com os mesmos pontos da
estudante de veterinária e ex-bailarina. Além disso, ela acrescenta: “muitas vezes é num espaço
– entre aspas – melhor, né?”. Por fim, o publicitário Felipe afirma que estaria disposto a gastar
mais com o ingresso para uma apresentação de jazz principalmente por conta da familiaridade
que tem com as músicas que provavelmente tocariam. “Músicas atuais e pela produção,
também. Porque, neste caso, pelo menos as que eu vejo na TV, são bem legais”, acrescenta.
Para encerrar este bloco, foi exibido um último vídeo, desta vez do musical da Broadway
O Rei Leão, que passou pelo Brasil entre 2013 e 2014 atraindo um público de mais de 800 mil
pessoas. Nessa questão, os entrevistados deveriam responder se prefeririam investir num
ingresso para assistir a modalidade de dança que mais lhes agradasse ou um espetáculo de teatro
musical (que, como já vimos anteriormente, é uma arte cênica que normalmente faz muito
sucesso nas bilheterias). Com exceção de Tainá –que diz que, dependendo da obra, poderia,
sim, optar pela apresentação de dança –, todos os outros presentes escolheriam o teatro musical.
Ariane, inclusive, comenta ter assistido O Rei Leão duas vezes durante a turnê brasileira.
5.2.3 Terceiro bloco – conhecimentos e memórias sobre a dança
20
Nesta última parte da entrevista, buscou-se conhecer o nível de conhecimento que os
respondentes têm sobre a dança de um modo geral. Inaugurando o bloco, os participantes
deveriam dizer nomes de profissionais da dança que viessem à mente. Diferentemente das
outras perguntas, para esta não foi estipulada uma ordem de resposta com o intuito de descobrir
o quão rápido eles conseguiriam pensar em nomes de personalidades deste ramo artístico.
Após um intervalo de alguns segundos de silêncio Felipe mencionou “Mackenzie, do
clipe da Sia”. É válido pontuar, aqui, que a bailarina que estrelou alguns clipes da cantora se
chama, na verdade, Maddie Ziegler. Mackenzie Ziegler, no caso, é a irmã de Maddie que
também é bailarina. No entanto, ambas estrelaram o reality show Dance Moms, exibido no
Brasil pelo canal Lifetime – então provavelmente houve um equívoco por parte de Felipe ao
mencionar o nome da bailarina. Em seguida, Camila citou a apresentadora Fátima Bernardes e
a bailarina Ana Botafogo, sendo que a segunda [Botafogo] viria a ser mencionada
posteriormente por Neusa também, que acrescentou a atriz Cláudia Raia. Após alguns
segundos, Jonathan mencionou Monica Tarragó, coreógrafa e fundadora do Ballet Paraisópolis,
localizado na mesma comunidade onde o estudante mora. Em sequência, Ariane trouxe os
nomes da dançarina e youtuber Lorena Improta e da bailarina e coreógrafa Lilla Radóci. Tainá
pensou na modelo, influenciadora digital, atriz, apresentadora e ex-bailarina Aline Riscado, no
dançarino Nick DeMoura e no coreógrafo e bailarino Rubens Oliveira (além de Cláudia Raia,
assim como Neusa). Por fim, Felipe acrescentou o cantor, ator, coreógrafo e drag queen Todrick
Hall. Roberto não mencionou nenhum nome.
A pergunta seguinte foi sobre o tipo de meio de comunicação e/ou formato de mídia no
qual mais viam ou escutavam conteúdos sobre dança em geral. Jonathan mencionou as redes
sociais e Neusa os canais TV Cultura e Arte1. Camila também disse que tinha acesso a esses
conteúdos majoritariamente em programas de televisão, principalmente em telejornais e canais
voltados para a cultura.
Roberto, por sua vez, partilhou da mesma resposta, mas acrescentou algo curioso. Ele
diz que costuma “ouvir falar” sobre dança em “alguma reportagem sobre alguém específico que
conseguiu vencer barreiras”. Fazendo uma breve pesquisa em um site de buscas pelas principais
matérias que tiveram as palavras “bailarino” e “bailarina” no último ano, foi possível notar que,
de fato, grande parte dos conteúdos têm esse teor – sobretudo com a palavra no masculino.
“Bailarino da Nigéria viraliza nas redes sociais” e “Bailarino de 12 anos da periferia de SP abre
vaquinha para participar de festival em NY” são alguns exemplos de títulos que aparecem na
primeira página do Google. Ariane e Tainá dizem que o Instagram é o meio pelo qual essas
informações chegam mais facilmente, mas Tainá ainda acrescenta que concorda com o Roberto
21
sobre as reportagens de superação. Felipe encerra dizendo que, para ele, esses conteúdos são
mais comuns nas redes sociais e no programa Altas Horas, da TV Globo.
Quando questionados sobre os filmes que tinham a dança como temática eles
conheciam, os nomes citados foram Cisne Negro, Mamma Mia!, Moulin Rouge, Se ela dança,
eu danço, Chicago, Footloose, High School Musical, Teen Beach Movie, Billie Elliot, Os
embalos de sábado à noite e Grease. De todas as películas mencionadas, apenas Cisne Negro,
Se ela dança, eu danço, Footloose, Billie Eliiot e Os embalos de sábado à noite têm, de fato, a
dança como tema central. Os outros, no caso, são filmes musicais que integram coreografias
nas performances. Para finalizar a pesquisa, a pergunta feita foi “vocês gostam de dançar?”.
Alguns disseram ser tímidos ou “sem jeito”, mas, unanimemente, todos afirmaram gostar da
atividade.
6. CONCLUSÃO
Por meio das respostas de ambas as pesquisas e dos levantamentos que compuseram
este projeto, foi possível constatar três fatos principais: o primeiro é que a falta de divulgação
e de incentivo financeiro são prejudiciais e estão diretamente ligados à baixa adesão desta
atividade. Ou seja: quanto menos as pessoas ficam sabendo, menos elas frequentam este tipo
de evento e, consequentemente, menor é a vantagem de se investir na dança. A iniciativa
privada, de modo geral, não prioriza a dança no apoio à cultura por meio da Lei Rouanet e
outros programas de fomento, pois não é uma modalidade que garantiria um retorno financeiro
à companhia – diferentemente do teatro musical, por exemplo. No conceito da indústria cultural,
a dança não consegue alcançar o status de produto massificado.
Em uma breve pesquisa pelas edições da Folha Ilustrada (caderno de cultura do jornal
Folha de S. Paulo) de dezembro de 2019 a março de 2020 (antes da pandemia), notou-se que a
grande maioria dos espetáculos divulgados foi de ballet clássico e dança contemporânea. Isso
é reflexo de um dos pontos trazidos por participantes da pesquisa quantitativa e das impressões
obtidas por meio da qualitativa. A segunda constatação, portanto, é sobre o tipo de dança que
acaba sendo mais incentivado e disseminado. Se houvesse mais espaço para outras
modalidades, como a dança de rua, o jazz e as danças de salão, é provável que as pessoas teriam
à disposição mais formas de se conectar com essa arte e, consequentemente, consumi-la com
mais frequência.
O terceiro ponto a ser levantado é sobre o conhecimento que as pessoas têm sobre a
dança. A pesquisa qualitativa nos mostrou que, no Brasil, poucos profissionais desse ramo são
22
populares a ponto de serem personalidades conhecidas por pessoas que estão fora deste meio
artístico (e a situação parece ainda mais crítica quando se trata de artistas estrangeiros). Esta
falta de referência, inclusive, dificultou a tarefa de os entrevistados pensarem em nomes de
profissionais da dança. Quando o fizeram, muitas das menções foram a pessoas que não
trabalham mais com isso e/ou não são reconhecidas primariamente pela carreira de bailarino(a).
A partir das informações obtidas para este projeto, conclui-se que, em geral, não há uma
rejeição à dança ou aos espetáculos. No entanto, essa arte é ofuscada em relação a outras
atividades culturais, principalmente pela falta de incentivo financeiro e de uma divulgação mais
massiva. Ao que parece, essa é uma arte que se sustenta e se “vende” para um grupo pouco
heterogêneo, composto por aqueles que praticam, “entendem” ou buscam, de forma proativa,
por este tipo de experiência cultural. Por outro lado, percebe-se que alguns subgêneros da dança
se comunicam melhor com determinados públicos do que com outros, então uma solução
possível e imediata para incentivar a ida às apresentações (e instigar o gosto por esta arte) seria
viabilizar e popularizar eventos de outras modalidades além do ballet clássico e da dança
contemporânea, por exemplo. A dança é plural e deve ser para todos. Quanto mais a ideia de
que essa arte vai muito além dos tutus, das sapatilhas de ponta ou das coreografias “abstratas”
for disseminada, é provável que mais pessoas desenvolvam o hábito e o gosto de apreciá-la.
23
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SILVA, T. G. R. da. Arte e poder: relações entre corpo, dança e política. São Luís: IV
Jornada Internacional de Políticas Públicas, 2008.
25
APÊNDICE A – seleção de gráficos da pesquisa quantitativa
26
27
28
29
APÊNDICE B – respostas dissertativas coletadas na pesquisa quantitativa
Maria Luiza Hass
Mais divulgação!! Tem mais divulgação de shows!! Os museus sei porque sigo as páginas, agora dança e teatro nunca vejo anúncio e normalmente nem sei quando tem
Felipe Faria Uma melhor divulgação me estimularia a pensar em ir. Acompanho alguns canais de dança pelo YouTube e programas de TV fechada como dancing moms.
Ana Audi Creio que não vou mudar minha maneira de viver agora. Não moro mais em São Paulo e aqui não tem muitas apresentações.
Rosane Fretes
O custo para sair de casa é alto! Eu e o meu companheiro, dois ingressos mais estacionamento e transporte! Fica bem caro! Até o cinema que o custo é mais acessível tem o estacionamento que é caro! Mas acho que em função disso vc acaba se acomodando! Assisto bastante coisa em casa, filmes e espetáculos de dança! Temos esta facilidade hoje!
Erika Santana
As apresentações culturais ficam concentradas no centro ou em bairros nobres de São Paulo, deixando os bairros mais afastados e periféricos sem acesso. Mesmo com a informação chegando, muitas das vezes o acesso é difícil. Então, muitas pessoas nem sabem se gostam ou não porque essa arte às vezes nem chega até elas!
Ana Paula Canel Bluhm oferta maior de espetáculos e participação nestes espetáculos
Silvana Sombra Eu já dancei e AMO assistir apresentações de dança, mas acho que falta divulgação e incentivo.
Gustavo Goto
Costumo consumir bastante conteúdos de dança na internet, principalmente as que envolvem batidas remixadas, rap e eletrônicas, creio que se encaixariam como hip-hop. E algumas dançasne coreografias asiáticas, como o kpop.
Tainá Venturi
Acho que ter companhia e um preço mais barato, junto com ser um local de fácil acesso aumentaria as chances de comparecer ao evento.
Rhayre fecchio
Vou bastante a apresentações de danças quando parentes se apresentam. Tenho bastante interesse em dança do ventre por vir de família árabe. E adoro assistir apresentações de dança de rua e ballet clássico
Paula Remistico
As divulgações deveriam ser mais expressivas! Faço dança semanalmente e também os bailes da turma que faço aulas e danço. Além de amar qualquer programa cultural, independente do que for.
Priscila Oliveira
Preço acessível é o principal. Até existem alguns eventos gratuitos, mas nem sempre é fácil conseguir ingresso.
Cecilia Odainai
Na verdade nunca tinha pensado que fui raríssimas vezes a espetáculos de dança até preencher essa pesquisa. Acho que precisam de melhor divulgação, grande tempo em cartaz, releitura de peças clássicas...
Fernando Santos Silveira Movimento humano
Natalie Yamamoto
Amo ballet clássico! Assisto muito pela internet. Sempre que eu tenho oportunidade de assistir ballet clássico no teatro eu vou. Esse é o único evento que eu me enrolo para pagar (quando está acima das minhas possibilidades), mas eu dou um jeito. Eu sinceramente não vou muito, porque raramente fico sabendo quando tem. Não sei se eu sou mal informada, ou se tem poucas apresentações mesmo. Ano passado eu fui em umas 5 no total, mas se eu soubesse de mais apresentações, eu iria.
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Pedro Ribeiro
Preços de ingressos populares e mais propostas de apresentações que fossem mais acessíveis a outras partes da população.
Ligia Arneiro Interatividade
Ariane Gaeta Valores mais acessiveis e mais variedades nos estilos e locais de apresentação.
Andressa caram
Eu amo apresentações de dança, sempre dancei e assistir é ver poesia pelo corporal! Eu iria mais se tivesse mais divulgação e mais oportunidades gratuitas e proximas do local onde moro
Laine araujo Horários e localizaçoes mais acessiveis para quem mora longe e depende do transporte público seriam questões que me fariam ir mais a esses eventos
Ana Gonçalves
Se houvesse um mix de companhias diferentes no mesmo espetáculo. Acho entediante ver por horas o mesmo processo criativo
Vitória Ferreira fiz aulas de dança por muito tempo e apresentações também, portanto gosto muito
Thais Beluco Acho que falta um pouco de divulgação para o público.
Leylla Pastore
Talvez se o mundo das danças 'não convencionais' como moderna, contemporânea, etc fossem mais 'comerciais' e menos críticas e introspectiva atrairia mais a atenção de um público que é de fora da bolha dos que já estão nesse mundo. Não sei explicar melhor mas eu fui do mundo da dança junto com vc (saudade inclusive haha) e eu entendia uma apresentação mas meus pais não nem meus amigos. Esse ramo específico da dança ainda não conseguiu construir uma ponte com o público do mesmo jeito que a dança de rua e a dança do ventre conseguiram. Não tenho uma solução de como construir essa ponte mas acho que a discussão é valida hahaha desculpa aí se ficou confuso. Se vc não entender pode me chamar pra tentar te explicar melhor
Michaela Ergas Não sei... Acho que falta conhecer mais sobre
Odirlei Oliveira Ampliar a divulgação, oferecer diversidade de apresentações e preço acessível e que fosse próx de casa
Nathalia Cirillo
Não vou muito nem tenho muito acesso a esse tipo de atividade cultural. acredito que não está muito presente na minha bolha, sabe? Então acaba passando desapercebido.
Renata Oliveira
que fossem ballet clássico Com maior divulgação
Isabelle Silva
Eu gostaria muito de começar a ir!! Porém nunca foi um costume na minha família. Só assistimos quando viajamos pra algum outro lugar. Aqui mesmo na nossa cidade, é muito raro.
ALEXANDRE SOUZA
Gosto de espetáculos de dança que de alguma forma o tema esteja ligado à obras de literatura, dramaturgias teatrais, algum artista plástico ou cantor específico ... espetáculos que se inspiram em obras já criadas e que através da DANÇA dão outro significado. Adoro!. A Cia. Kasulo (Sandro Borelli), faz muito isso...espetáculos baseados em KAFKA, por exemplo.
Tatiana Moreira
Saber mais sobre! Por exemplo, se eu ver algum espetáculo que me deixe curiosa, vou querer ver! Saber mais das histórias, enfim
Camilla Bastos
Gosto muito de apresentações de Ballet clássico, mas é pouco divulgado em meu contexto e o valor é alto para quem não tem mais carteirinha de estudante, por exemplo. Não gosto de apresentações de danças mais modernas tanto por preferência quanto por serem complicadas demais de acompanhar e de entender o que elas estão querendo transmitir.
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Odete Santos
Eu amo dança...quando posso vou mesmo..curto demais, pena que em Guarulhos, onde moro são poucos os espetáculos. Com a pandemia tenho assistido alguns on line e adoro. Tenho amigos dançarinos e isto tb me motiva a curtir.