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    EXPERINCIAS EM AGROECOLOGIA Leisa Brasil JUN 2011 vol. 8 n. 2

    As rvores naagricultura

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    2Agriculturas v. 8 - n. 2 junho de 2011

    Oplaneta perde anualmente 13 milhes de hectaresde orestas, sendo a maior parte dessa imensidoterritorial convertida em reas agrcolas. Os im-

    pactos negativos desse processo para as atuais e futuras geraesso imensurveis e imprevisveis. Anal, quando as funes regulado-ras das orestas sobre os ecossistemas so eliminadas, dispara-se umencadeamento de eventos ecolgicos cujas consequncias nas esca-

    las local e global realimentam-se mutuamente, deixando um rastrode destruio socioambiental. Diante da magnitude do problema, aOrganizao das Naes Unidas (ONU) escolheu 2011 como oAnoInternacional das Florestas, um convite para que governos e cidadosse mobilizem para denir e colocar em prtica aes para refrear ereverter as atuais tendncias de desmatamento.

    Na contracorrente desse chamamento internacional ao, oEstado brasileiro acaba de aprovar em primeira instncia um conjun-to de alteraes no Cdigo Florestal que retira obrigaes previstasna Constituio Federal para que propriedades rurais cumpram fun-es ambientais de interesse pblico. Se conrmada no CongressoNacional, a proposta assegurar aos grandes proprietrios a possi-bilidade de explorar suas terras sem maiores preocupaes com

    a legislao ambiental, o que signicar forte estmulo dinmicaexpansiva do agronegcio e continuidade do desmatamento.Para justicar a necessidade dessas mudanas, seus defensores

    se valem do desgastado artifcio de retrica que procura antepor aconservao ambiental ao desenvolvimento da economia. A predo-minncia desse enfoque na concepo e na implantao de polticaspblicas responde em grande medida pelo fato de a agricultura seapresentar hoje como uma das principais causas e, ao mesmo tem-po, uma das principais vtimas dos problemas ambientais. Mas valeressaltar que essa relao mutuamente negativa entre Economia eEcologia agrcola no fruto de uma evoluo natural ou incontor-nvel. Ela a resultante direta de um paradigma tcnico e econmicoque, no sculo 20, transplantou para a agricultura a lgica produtivainaugurada dois sculos antes com a Revoluo Industrial.

    O enfoque agroecolgico permite a superao dessa dicotomia.Para tanto, adota como princpio bsico o desenho de sistemas agr-colas capazes de reproduzir funes ecolgicas essenciais dos ecos-sistemas sobre os quais se desenvolvem. Sendo nossos ecossistemasformadores de rvores, as paisagens rurais moldadas a partir do enfo-que agroecolgico necessariamente so intensamente arborizadas. Defato, as experincias agroecolgicas mais avanadas mostram como asrvores podem integrar a paisagem agrcola, mantendo sua presenatanto nas parcelas de produo, por meio dos sistemas agroorestais,como em talhes de orestas nativas de tamanhos variados e interco-nectados entre si por corredores ecolgicos. Alm das mais variadasfunes ambientais que desempenham, as rvores cumprem nessasexperincias importante papel econmico como provedoras de pro-

    dutos comercializveis, de alimentos ou de insumos produtivos.No entanto, a valorizao dessas funes econmicas e eco-lgicas das rvores nos agroecossistemas esbarra ainda em dispo-sitivos institucionais inadequados. As polticas ambientais permane-cem essencialmente orientadas para assegurar a preservao dosecossistemas naturais, demonstrando pouco interesse pelos impac-tos ambientais causados ou sofridos pela agricultura. Por sua vez, aspolticas agrcolas continuam essencialmente mobilizadas em tornodo objetivo de promover o crescimento da produtividade fsica eda rentabilidade econmica no curto prazo, no incorporando qual-quer preocupao com a reproduo das condies ecolgicas paraa manuteno da agricultura em longo prazo. Entre outros aspec-tos evidenciados nas ricas experincias divulgadas nesta edio,chama-se a ateno exatamente para os obstculos institucionais

    que se antepem disseminao de iniciativas como essas e que,por isso mesmo, permanecem estimulando o avano desmedido daagricultura predatria sobre nossos ecossistemas.

    O editor

    ISSN: 1807-491X

    Revista Agriculturas: experincias em agroecologia, v.8, n.2(corresponde ao v. 27, n. 2 da Revista Farming Matters)

    Revista Agriculturas: experincias em agroecologia uma publicao da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia , em parceria com a Funda-o ILEIA Holanda.

    Rua das Palmeiras, n. 90, 3 andarBotafogo, Rio de Janeiro/RJ, Brasil 22270-070Telefone: 55(21) 2253-8317 Fax: 55(21)2233-8363E-mail: [email protected]

    Fundao ILEIAPO Box 90, 6700 AB Wageningen, HolandaTelefone: +31 (0)33 467 38 75 Fax: +31 (0)33 463 24 10www.ileia.org

    CONSELHO EDITORIALClaudia SchmittPrograma de Ps-graduao de Cincias Sociais em Desenvolvimento,Agricultura e Sociedade da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro- CPDA/UFRRJ

    Eugnio FerrariCentro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata, MG - CTA/ZM

    Ghislaine DuqueUniversidade Federal de Campina Grande UFCG e Patac

    Jean Marc von der WeidAS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia

    Jos Antnio CostabeberUniversidade Federal de Santa Maria - UFSM

    Maria Emlia PachecoFederao de rgos para a Assistncia Social e Educacional Fase - RJ

    Romier SousaInstituto Tcnico Federal - Campus Castanhal

    Slvio Gomes de AlmeidaAS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia

    Tatiana Deane de SEmpresa Brasileira de Pesquisa e Agropecuria - Embrapa

    EQUIPE EXECUTIVAEditor Paulo PetersenEditor convidado para este nmero Jorg ZimmermannProduo executiva Adriana Galvo FreirePesquisa Paulo Petersen e Adriana Galvo FreireBase de dados de subscritores Carin dos Santos SousaCopidesque Rosa L. Peralta e Glucia CruzReviso Sheila DunaevitsTraduo Rosa L. PeraltaFoto da capa Arquivo Centro EcolgicoProjeto grco e diagramao I Gracci Comunicao & DesignImpresso:ReprosetTiragem: 7.500

    A AS-PTA estimula que os leitores circulem livremente os artigos aquipublicados. Sempre que for necessria a reproduo total ou parcial dealgum desses artigos, solicitamos que a Revista Agriculturas: experinciasem agroecologia seja citada como fonte.

    EXPERINCIAS EM AGROECOLOGIA

    Editorial

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    3 Agriculturas v. 8 - n. 2 junho de 2011

    Sumrio

    Editor convidado Jorg Zimmerman

    ARTIGOS

    Publicaes

    Agroecologia em Rede

    Melhoramento de cavas no Planalto Nortede Santa CatarinaLuis Cludio Bona, Ana Lcia Hanisch eAnsio da Cunha Marques

    06

    04

    Sistemas agroorestais em reas de

    preservao permanenteMartin Mier, Heitor M. Teixeira, Matheus G. Ferreira,Eugnio A. Ferrari, Samuel Igncio Lopes,Roseli Lopes e Irene Maria Cardoso

    12

    A experincia dos agricultores agroorestaisdo assentamento Sep TiarajuHenderson Gonalves Nobre, Tatiane de Jesus Marques Souza,Maira Le Moal, Ana Laura Carrilli, Luiz Octvio Ramos Filho eJoo Carlos Canuto

    18

    Funes ecolgicas e econmicas desistemas agroorestaisJorge Luiz Vivan

    24

    O potencial agroecolgico dos sistemasagroorestais na Amrica LatinaMiguel A. Altieri e Clara I. Nicholls

    31

    39

    06

    12

    18

    24

    31

    35

    38

    As rvores na agricultura nas Amricas: uma velhaaliana resgatada do esquecimentoEnrique Murgueitio Restrepo

    35

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    Editor convidado

    Tendo em vista as mudan-as climticas e as trans-formaes ambientais que

    se avizinham, fundamental para o pasreduzir a vulnerabilidade dos sistemasprodutivos da agricultura familiar, umavez que ela produz grande parte dosalimentos consumidos pela populao.Com este nmero, a Revista Agriculturas:experincias em agroecologia enfatiza aimportncia das rvores e o papel queas orestas nativas desempenham nes-

    se segmento da agricultura no Brasil.

    A Poltica de Desenvolvimento doBrasil Rural, aprovada pelo ConselhoNacional de Desenvolvimento Rural Sus-tentvel, tem como princpio a sustenta-bilidade e assume como um de seus ob-jetivos:Assegurar um modelo agrcola quegaranta a preservao das paisagens natu-

    rais, dos ecossistemas, da biodiversidade e

    do patrimnio histrico-cultural das popula-

    es rurais. E justamente a construo

    desse modelo que se apresenta comogrande desao frente ao cenrio atual.

    Um exemplo dramtico do quevem ocorrendo pode ser encontradono Cerrado, visto como um espao aser incorporado pelo agronegcio, queno considera o valor de sua biodiver-sidade, tampouco o conhecimento acu-mulado e a cultura de suas populaestradicionais. Segundo a ConfederaoNacional da Agricultura, nos prximosdez anos sero incorporados 7,5 mi-

    lhes de hectares para a produo de16,6 milhes de toneladas de gros emreas de Cerrado dos estados do Mara-nho, Piau, Tocantins e Bahia (o chama-

    doMapitoba). Isso signica mais uma imenso territrio praticamente sem rvores e,consequentemente, sem os servios ambientais que elas prestam.

    As reas protegidas existentes na regio no sero sucientes para manter asfunes ecossistmicas do bioma, principalmente aquelas relacionadas aos cicloshidrolgicos, o que desastroso, uma vez que algumas das principais bacias hidro-grcas brasileiras tm sua origem no Cerrado. Nesse sentido, a agricultura familiartem um papel fundamental, desde que mantenha sua base produtiva fundada emsistemas diversicados que incluem produo agrcola, pecuria e uma importanteatividade extrativista, tanto de frutos como de plantas medicinais. Alm disso, asfamlias agricultoras tero que se adaptar e responder aos desaos colocados peloavano da monocultura. A base para essa adaptao est na utilizao sustentvel

    dos recursos naturais apoiada em princpios agroecolgicos e nos saberes tradicio-nais dos povos do Cerrado. Mas para fazer face s mudanas sociais, econmicas eambientais que vm ocorrendo, esses produtores familiares precisam de polticasespeccas que lhes garantam a permanncia na terra, crdito e assessoria tcnicaqualicada.

    O recente debate sobre o novo Cdigo Florestal ilustra bem a viso de curtoprazo, distorcida e desinformada de alguns setores da sociedade sobre a importn-cia das orestas para a conservao dos recursos naturais, em especial da gua. Oque se verica que a perspectiva de lucros imediatos num mercado de commoditiesaquecido varre para baixo do tapete qualquer considerao ambiental.

    Felizmente, a valorizao das rvores por fam-

    lias agricultoras em seus sistemas produtivos uma realidade bastante frequente. Como exem-plos, citamos desde o sistema cabrucade cultivo

    de cacau na Bahia at importantes experinciasde quintais diversicados, consrcios e sistemas

    agroorestais (SAFs) na Amaznia e Mata Atln-tica. Tambm no podemos deixar de ressaltar aimportncia do extrativismo vegetal que ocorre

    em todos os biomas, sendo importante fonte dealimentos, remdios e renda para povos

    tradicionais e agricultores familiares.

    As rvores naagricultura familiar

    Jorg Zimmerman

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    Nesta edio contamos com um artigo de Enrique Res-trepo que apresenta um resgate histrico do papel das rvo-res na agricultura da Amrica Latina. Outro texto muito inte-ressante, de autoria de Miguel Altieri e Clara Nicholls, enfatizao papel que os SAFs complexos desempenham na multifun-cionalidade da agricultura, considerando desde a importnciados servios ambientais prestados at a sua contribuio paraa segurana alimentar.

    A revista traz a experincia do

    Projeto de Desenvolvimento Sus-tentvel Sep Tiaraj, em So

    Paulo, que enfatiza o processo deconstruo do conhecimento para

    o desenvolvimento de sistemasagroorestais. O texto de JorgeVivan avalia, do ponto de vista

    ambiental e econmico, as expe-

    rincias com SAFs apoiadas peloPrograma Projetos Demonstrati-

    vos (PDA) em Rondnia, no Ceare no Litoral Norte do Rio Grande

    do Sul. A reexo torna claro opotencial desses sistemas para ga-rantir a sustentabilidade ambien-tal, bem como a renda das fam-

    lias. No entanto, como ressalta oautor, a sua disseminao depende

    de polticas pblicas adequadas.

    J a experincia de um projeto desenvolvido no Pla-nalto Norte de Santa Catarina, em cooperao entre oEpagri/EECan, a AS-PTA e o Instituto Chico Mendes, coma participao ativa de famlias agricultoras, mostra que vivel compatibilizar criao animal com preservaode remanescentes florestais (cavas). Por ltimo, o textodo Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata(CTA-ZM) explora a possibilidade do uso sustentvel dasreas de proteo permanente (APPs) e de sua regenera-o por s istemas agroecolgicos, amparados na legislaoambiental.

    Atualmente, algumas propostas de polticas pblicasesto sendo implementadas pelos Ministrios do MeioAmbiente (Programa da Biodiversidade, Programa Pro-dutor de guas) e do Desenvolvimento Agrrio (PronafFloresta, Pronaf Agroecologia e Pronaf Sistmico). Todas,porm, ainda operam de forma muito tmida, seja por faltade recursos nanceiros ou de tcnicos capacitados, sejapor entraves burocrticos das instituies de crdito ouainda por falta de iniciativas mais incisivas por parte dosgestores das polticas.

    Mas a percepo de que as rvores so elementos

    essenciais vida, seja no meio rural ou nas cidades, estcomeando a tomar corpo. Nos ltimos anos, foram imple-mentadas muitas experincias bem-sucedidas de sistemasagroorestais, com ou sem apoio do poder pblico. Noentanto, pelo que se pode inferir pelas iniciativas aqui des-critas, a consolidao desse processo no simples. Para asua massicao, ser necessrio um esforo conjunto dasorganizaes dos agricultores familiares, da sociedade civile do poder pblico.

    Jorg Zimmermanagrnomo, mestre em

    desenvolvimento rural pelo [email protected]

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    Melhoramento de

    cavas no Planalto Nortede Santa Catarina

    Luis Cludio BonaAna Lcia Hanisch

    Ansio da Cunha Marques

    Ao rodar pelas estradas no Planalto Norte deSanta Catarina os viajantes se deparam comuma paisagem composta por um mosaicoformado por remanescentes de oresta de araucrias entre-meados por lavouras anuais e cultivos orestais. Em vriostrechos da estrada possvel visualizar o gado bovino pas-tando sombra desses remanescentes orestais. A formaodessa paisagem se deve em grande medida permanncia

    de um sistema produtivo tradicional dessa regio conheci-do como cavas ou invernadas. Esse sistema mantido pelacombinao do pastejo do estrato herbceo formado porespcies nativas ou introduzidas h dcadas com a extraode erva-mate e de lenha do estrato arbreo. Atravessando oRio Iguau, que delimita a divisa com o Paran, esse tipo desistema recebe o nome de faxinal.

    No incio do sculo XX a explorao da erva-mate e acriao de gado em cavas compunham a base de sustenta-o econmica desse territrio. Essa realidade foi drastica-mente alterada com a explorao da madeira dos pinheirosgigantes (Araucaria angustifolia), atividade responsvel pela

    depredao das matas a tal ponto que o governo brasileirofoi levado a criar reas de plantio de araucrias. Se atualmen-te ainda podemos ver remanescentes orestais na paisagemregional, esse fato se deve, sobretudo, s prticas de uso econservao adotadas pela agricultura familiar j que as re-as de grandes proprietrios foram convertidas em grandesplantios de soja e milho e outras monoculturas, inclusivede rvores. A maior presso sobre a oresta nas pequenasunidades de produo ocasionada pela demanda de lenhapara a secagem das folhas de fumo, cultura bastante dissemi-nada na agricultura familiar da regio.

    A maior parte das cavas apresenta-se atualmente como

    fragmentos orestais de tamanhos variados. Apesar dessasreas no serem computadas nos censos agropecurios, possvel chegarmos a uma estimativa por meio dos dados re-ferentes s reas classicadas como potreiros, presentes em

    39% dos estabelecimentos rurais da regio e ocupando cercade 70.000 hectares ou, aproximadamente, 13% do territrio.

    Funes econmicas e ecolgicas das cavas

    Do ponto de vista produtivo, as cavas apresentam ca-ractersticas muito peculiares, pois h uma forte interrelaoentre as rvores, as pastagens nativas e os animais. As rvores

    fornecem sombra para os animais e proteo para os pastoscontra as geadas, permitindo que esses se mantenham verdespor mais tempo, facilitando a mantena dos animais. Duranteo vero, tambm cumprem funes importantes como fontede forragem aos animais j que as reas agricultveis perma-necem durante esse perodo ocupadas pelas culturas comer-ciais, tais como fumo e milho.

    Apesar da menor biodiversidadedas cavas quando comparadas

    com as orestas nativas, elas exer-

    cem importante funo ambien-tal ao manter espcies vegetais

    tpicas da oresta ombrla mis-ta, tais como a araucria, a erva-mate, a imbuia, as canelas; alm

    de vrias frutferas da famlia dasmirtceas e inmeras espcies

    de menor valor comercial como

    guamirim, congonha, branquilho eoutras. As cavas tambm contri-

    buem para a manuteno da fauna

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    local, fornecendo alimento, abrigoe formando corredores entre frag-

    mentos mais conservados. Almdisso, como esto presentes em

    grande parte das propriedades fa-miliares na regio, compem fre-quentemente as reas de Reserva

    Legal (RL) e de reas de Preser-vao Permanente (APP).

    Uma legislao ambiental inadequada

    De acordo com a legislao ambiental, as reas de Re-serva Legal s podem ser utilizadas sob regime de manejo

    orestal sustentvel, sem prever sistemas silvipastoris, devidoao risco do consumo e degradao da regenerao das esp-cies arbreas pelos animais. No entanto, o uso de reas decava remonta h dcadas e est incorporada cultura local.

    Atividade de campo do projeto de pesquisa participativa voltada ao melhoramento de cavas no Planalto Norte Catarinense

    A prpria conservao dessas reas de remanescentes estcondicionada ao seu uso como rea de produo animal e deextrativismo vegetal. Se no fosse por seu propsito econ-mico, alm de outros usos tradicionais, grande parte das atu-ais cavas no existiria e possivelmente teria sido convertidaem reas para cultivo de tabaco.

    importante, nesse sentido, des-tacar o paradoxo criado por umalegislao inadequada para a rea-

    lidade local: por um lado, as cavass permanecem existindo devido

    ao seu uso como rea de pasto-reio; por outro, esse uso pastoril

    restringido por serem classicadascomo Reserva Legal uma vez que seencontram geralmente em estgios

    Fotos:AnaLciaHanisch

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    mdio ou avanado de regenerao natural (oque indica que o manejo das cavas permite quea cobertura orestal seja mantida em boa quali-dade mesmo quando as reas so utilizadas por

    dcadas).

    Apesar das restries legais, esses remanescentes orestais vm sendo subs-titudos por culturas anuais pelas famlias agricultoras que buscam alcanar maio-

    res nveis de renda. Tudo isso se passa justamente quando a bancada ruralista doCongresso Nacional se empenha em alterar o Cdigo Florestal com o objetivo deremover obstculos legais que impedem a expanso das monoculturas. Esse fatoevidencia a incompatibilidade entre o objetivo de conservao dos remanescentesorestais e a lgica expansiva que caracteriza o modelo tcnico e econmico doagronegcio. Alm de conservar as orestas, a agricultura familiar do Planalto Nor-te Catarinense e vizinhanas no Centro-Sul e Sul do Paran demonstrou histricacapacidade de abastecer mercados locais e distantes por meio de intensos circuitoscomerciais mantidos por barcos a vapor que singravam o Iguau.

    Diante dessa realidade histrica, defendemos a tese de que, nos dias de hoje, amelhor alternativa para a conservao dos remanescentes orestais presentes nasreas de cava est diretamente ligada atualizao das estratgias de manejo desses

    sistemas tradicionais para que eles se mantenham viveis economicamente. Paratanto, apostamos que manejos agroecolgicos do solo, do pasto e do rebanho sejamcapazes de compatibilizar a conservao ambiental com a gerao de bons nveis derenda. Associado melhoria da produtividade animal, as cavas podem ser enrique-

    cidas com espcies de interesse econ-mico e de uso nas propriedades comoa erva-mate, a araucria, bracatingas, ascanelas, o cedro, espcies frutferas emedicinais nativas, como a espinheira-santa e vrias mirtceas.

    Pesquisa participativa

    O desenvolvimento demtodos de manejoque sejam capazes deassociar o alcance debons nveis de produ-

    tividade e rentabilida-de com conservao

    ambiental deve serrealizado com a parti-cipao efetiva da po-pulao diretamente

    envolvida por meio deprocessos de pesquisa

    participativa.

    Desde 2006, a Estao Experimen-tal de Canoinhas (Epagri) tem realizadoaes nesse sentido em reas de cava

    de propriedades familiares da regio eem parceria com diversas entidades.

    No perodo de 2007 a 2010, foiexecutado um projeto em parceriaentre a Epagri/E.E. de Canoinhas, aAS-PTA e a Floresta Nacional de TrsBarras/ICMBio, que teve por objetivocaracterizar as reas de cavas e de-senvolver pesquisas participativas so-bre manejo ecolgico das pastagensnativas em propriedades familiares.Por intermdio dessa parceria, foi cria-

    do o Grupo Gestor de Cavas com opropsito de articular as pesquisas ea disseminao regional de seus resul-tados. O princpio metodolgico que

    Melhoramento de reas de cava com piqueteamento esobressemeadura de azevm e ervilhaca sobre a pastagem nativa

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    orienta essas aes de experimentao em grupos fundamenta-se no resgate e nasistematizao dos saberes locais e sua articulao com conhecimentos cientco-acadmicos. Dessa forma, novos conhecimentos so gerados e apropriados pelasfamlias que, de forma adequada sua realidade, reconhecida pela vivncia de gera-es, passam a incorporar as novas prticas de manejo que passam por processosprvios de avaliao coletiva. Trata-se, nesse sentido, de um exerccio de interaoe construo que mobiliza a contribuio de agricultores e agricultoras e tcnicosda extenso e da pesquisa.

    O senso comum na regio at o incio desse processo dizia que as pastagensde vero das reas de cava tinham baixa qualidade e produtividade. Os agriculto-res diziam que as cavas eram as reas onde eles deixavam as vacas, mas que noeram produtivas. De fato, devido ao uso contnuo das pastagens durante dcadas,

    a produo dessas pastagens durante o perodo de crescimento baixa, girandoem torno de 2,0 t/ha de matria seca. Esse , em parte, um dos motivos que levamo gado a ingerir folhas e brotos das espcies arbreas. No entanto, com a introdu-o de insumos naturais como o fosfato natural, o p de basalto e a cama de avi-

    Cava tpica da regio, com espcies arbreas em regenerao e pastejo do gado

    rio, as pastagens passaram a produzirpor volta de 4,5 t/ha de matria secadurante o vero, com teores de prote-na acima de 13%, cifras que podem serconsideradas muito boas para pastosperenes de vero. Essa qualidade estassociada diversidade de pastos nati-vos e naturalizados existentes na cava,em especial presena de leguminosasnaturalizadas do gnero Desmodium(conhecido como pega-pega). Almdisso, a sombra proporcionada pelas

    rvores tambm um elemento im-portante no aumento da qualidade dopasto, em especial do teor de protena.A interao positiva entre rvores e as

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    Para garantir forragem em boa quantidade nas cavas durante o inverno, os pesquisadores recomendam que se faa asobressemeadura no ms de abril: Essa tcnica prev a semeadura de pastagens anuais de inverno, tais como azevm, er-vilhaca, trevo branco diretamente sobre as pastagens perenes de vero ou sobre os potreiros, sem o uso de mquinas ouarados. Para fazer a sobressemeadura, deve-se seguir os seguintes passos:

    a) A pastagem deve estar bem rebaixada, com 5 a 10 cm de altura.

    b) Antes de semear, aplique na rea uma quantidade moderada de adubo. Os estudos da Epagri tm sido realizados comcama de avirio (2 t/ha), calcrio (2 t/ha), fosfato natural (400 a 800kg/ha) e p de basalto (4 t/ha). Pode-se usar tambmesterco lquido de suno (5 a 10m3/ha) ou, ainda, deixar o rebanho dormir por vrios dias na rea. Outra opo a cinzade biomassa.

    c) O solo deve estar mido. Por isso, recomendvel que a sobressemeadura seja realizada logo aps uma chuva.

    d) Usar quantidades certas de semente: 20 a 30 kg/ha de azevm, 30 kg/ha de ervilhaca e 1 a 2 kg/ha de trevo brancoinoculado com Rizobium especco.

    e) Deixar os animais entrarem na rea, aps a semeadura, para que enterrem as sementes com o pisoteio.f) Isolar a rea por, no mnimo, 70 dias para que as sementes germinem e se desenvolvam.

    g) Dividir a rea em piquetes para prolongar a qualidade do pasto e a manuteno da produtividade.

    Quadro 1 - Sobressemeadura: mais pasto no inverno

    pastagens reete-se no bem estar animal, seja pela qualidadenutricional do pasto, seja pelo conforto trmico.

    A melhoria inicial das reas de cava foi proporcionada

    por trs componentes: adubao orgnica associada a uso deps de rocha; piqueteamento com cerca eltrica; e sobresse-meadura das pastagens nativas de vero com espcies anuaisde inverno, tais como azevm e ervilhaca (ver Quadro 1).

    As avaliaes realizadas pelo Grupo Gestor, aps doisanos de trabalho, revelaram que a combinao dessas ino-vaes mostrou-se altamente vivel e acessvel e apresen-tou as seguintes vantagens: 1) o aumento da produo deleite; 2) o aumento na oferta de pastagem em quantidade,qualidade e por um perodo mais extenso; 3) oferta de umambiente agradvel para os animais; 4) liberao de reasde lavoura, que antes eram ocupadas com forragens para o

    gado; 5) liberao de reas de APP para os animais beberemgua, alm de incorporao de inovaes s propriedadesdas famlias diretamente envolvidas. Nas palavras de uma dasparticipantes: D gosto tirar o leite depois que as vacas saemdo cava! Enche o balde!

    Com o avano no Grupo Gestor,a Epagri/E.E. de Canoinhas desen-volve novas pesquisas com uso de

    insumos naturais como cinzas e

    resduos alternativos disponveisna regio, com excelentes resulta-dos sobre o pasto e com inuncia

    positiva sobre a regenerao dasespcies orestais, inclusive sobrea erva-mate. Alm disso, trabalha

    em parceria com a extenso ru-ral e com grupos de famlias na

    implantao de novas espcies depastos perenes nas cavas, uma

    vez que vrias reas possuem es-pcies que foram introduzidas h

    mais de 30 ou 40 anos. Resultadosexcelentes so vericados com ouso da pastagem missioneira gi-

    gante (Axonopus catharinensis).

    As tecnologias geradas a partir da pesquisa participativade manejo de cavas tm comprovado a hiptese de que possvel utilizar esse ambiente orestal de forma sustentvel,na medida em que asseguram a conservao das reas e per-mitem o aumento da produtividade das pastagens, alm deproporcionar melhoria nos nveis de rentabilidade econmicados sistemas produtivos.

    O futuro

    Para Odlia Neves, uma das agricultoras do GrupoGestor, esse trabalho com cavas urgente: A natureza

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    Reunio do grupo gestor do projeto de pesquisa participativa em melhoramento de cavas no Planalto Norte Catarinense

    muito importante para nossas vidas. O animal precisa de sombra,

    precisa da rvore, a abelha precisa da rvore. Todos precisam.Ento se a gente comear hoje, na tua casa, na tua propriedade,

    nem que em rea pequinininha, amanh voc tem resultado.

    A presso sobre os remanescentes orestais acompa-nha a presso econmica que os agricultores e agricultorassentem com cada vez maior intensidade. Se por um ladoos grandes produtores se vem pressionados a desmatarpara abrir novas reas e aumentar a escala de plantio, osagricultores familiares acabam dependendo cada vez mais dotabaco e do consumo de lenha vinda de plantios de eucalip-to e/ou bracatinga ou colhida na mata. Esse trabalho mostraresultados muito relevantes para o uso e conservao dos

    remanescentes orestais, associado a enriquecimento e di-versicao com outras espcies herbceas e arbreas, pos-sibilitando diversicao e aumento de renda. Pode-se dizerque o manejo adequado das reas de cava seria uma forma

    de associar a manuteno e at ampliao! das reas de

    reserva, produzindo diversos servios ambientais alm dealimentos mesa e incremento na economia regional.

    Luis Cludio Bonaengenheiro-agrnomo, AS-PTA

    [email protected]

    Ana Lcia Hanischengenheira-agrnoma, M.Sc., pesquisadora,

    Estao Experimental de Canoinhas (Epagri)[email protected]

    Ansio da Cunha Marquesengenheiro-agrnomo., M.Sc., doutorando em

    Meio Ambiente e Desenvolvimento (UFPR)[email protected]

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    12Agriculturas v. 8 - n. 2 junho de 2011

    Sistemas agroorestaisem reas de preservao

    permanenteMartin Mier, Heitor M. Teixeira, Matheus G. Ferreira,

    Eugnio A. Ferrari, Samuel Igncio Lopes,Roseli Lopes e Irene Maria Cardosoo

    tos:

    quvoC

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    13 Agriculturas v. 8 - n. 2 junho de 2011

    reas considerveis dasunidades de produoda agricultura familiarso consideradas de Preservao Perma-nente (APPs) pela legislao ambiental e

    exercem grande importncia em termosde produo de alimentos e renda. NaZona da Mata de Minas Gerais as APPspodem ocupar mais de 50% das proprie-dades agrcolas (OLIVEIRA et al., 2005) eso utilizadas com culturas anuais comoarroz, feijo e milho, no caso das mar-gens de cursos dgua, e pastagens, caf eeucalipto, no caso de encostas ngremese topos de morros (FRANCO, 2000).Porm, essas atividades esto margemdo Cdigo Florestal, uma vez que a le-

    gislao no contempla a realidade dascomunidades rurais.

    Os sistemas agroorestais (SAFs)esto sendo apontados como alternati-vas de uso dessas reas pela agriculturafamiliar, pois so sistemas que permi-tem conciliar produo e preservaoambiental (SOUZA et al., 2010; Co-nama, resoluo 369/2006). Em 2009,o Centro de Tecnologias Alternativasda Zona da Mata (CTA), em uma aoem rede com a Articulao Mineira de

    Agroecologia (AMA) e a ArticulaoNacional de Agroecologia (ANA), ini-ciou a execuo de um projeto nan-ciado pelo Subprograma de ProjetosDemonstrativos tipo A do Ministriodo Meio Ambiente (PDA/MMA) intitu-lado Sistemas Agroorestais, Legislao eCrdito: Estratgias para o Desenvolvimen-

    to Sustentvel no Bioma Mata Atlntica.

    Esse projeto busca desenvolver umaestratgia de capacitao das organiza-es de assessoria e organizaes deagricultores(as) para intervir na reviso

    da legislao ambiental, identicando os

    entraves enfrentados pelos(as) agricultores familiares, desenvolvendo parmetroslegais e tcnicos que subsidiem a promoo dos SAFs enquanto alternativa de usodessas reas.

    Este artigo analisa a legislao ambiental brasileira luz da Agroecologia, os ca-minhos a serem percorridos para que os direitos da agricultura familiar camponesasejam respeitados ao mesmo tempo em que a legislao ambiental seja cumprida.Para isso, sero utilizadas informaes sobre a experincia de incorporao dasrvores como elemento essencial nas estratgias tcnicas e econmicas dos agri-cultores familiares da Zona da Mata mineira.1

    O Cdigo Florestal e os SAFs

    O marco legal que regulamenta a ocupao do territrio rural brasileiro a Leino 4.771, de 15/09/1965, que institui o Cdigo Florestal Brasileiro. Essa Lei dene asreas de preservao permanente como rea protegida, coberta ou no por vege-tao nativa, com a funo ambiental de preservar os recursos hdricos, a paisagem,a estabilidade geolgica, a biodiversidade, o uxo gnico de fauna e ora, proteger o

    solo e assegurar o bem-estar das populaes humanas. Desde 1965, foram publica-dos outras leis, resolues, decretos e instrues procurando contemplar questesno consideradas no texto original do Cdigo Florestal:

    A Resoluo n 369 (setembro/2006) do Conselho Nacional de Meio Ambien-te Conama dispe sobre os casos excepcionais nos quais permitida a in-terveno antrpica em APPs, apresentando o manejo agroorestale atividadesnecessrias proteo da fauna e ora nativa como de interesse social.

    A Instruo Normativa n 5 (setembro/2009) do Ministrio do Meio Ambientedispe sobre os procedimentos metodolgicos para restaurao e recupera-o das reas de Preservao Permanentes e da Reserva Legal. Habilita a utili-zao de sistemas agroorestais para a recuperao dessas reas, priorizando

    o uso de nativas que podem ser consorciadas com exticas.

    A Resoluo n 425 (maio/2010) do Conama dene os casos excepcionais deinteresse socialem que o rgo ambiental competente pode regularizar a inter-veno ou supresso de vegetao em rea de Preservao Permanente (APP),ocorridas at 24 de julho de 2006: empreendimentos agropecurios consolida-dos dos agricultores familiares e empreendedores familiares rurais que se carac-terizem como manejo agroorestalsustentvel, desde que no descaracterizem acobertura vegetal, no prejudiquem a funo ambiental da rea, e nem faam usode agroqumicos e prticas culturais que prejudiquem a qualidade da gua.

    A Resoluo n 429 (maro/2011) do Conama apresenta metodologias de re-cuperao de APPs, que no necessitam de autorizao do rgo ambientalpara serem executadas, admitindo o emprego de sistemas agroorestais.

    1 Experincia desenvolvida em parceria com o CTA e a Universidade Federal de Viosa, desde 1994.Sistema agroorestal em APP: conservando oambiente e gerando renda

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    SAFs como indutores de regenerao

    em APPsDe acordo com o Relatrio da Avaliao Internacional

    do Conhecimento, Cincia e Tecnologia da Agricultura para oDesenvolvimento (IAASTD, 2008) os sistemas agroorestaisconguram-se como mtodo de manejo dos recursos natu-rais, dinmicos e de base ecolgica que, por meio da integra-o de rvores s paisagens agrcolas, diversicam e aumen-tam a produo e, simultaneamente, promovem benefciossociais, econmicos e ambientais para os usurios da terra.Essa abordagem muito semelhante ao conceito de agricul-tura multifuncional.

    Embora permitido por lei, algunsproblemas, como a no permissode extrao de produtos madei-

    reiros e a exigncia de 500 indiv-duos arbreos por hectare (MMA,

    2009, instruo normativa n 5),tm limitado a utilizao de SAFspela agricultura familiar. Alm dis-

    so, quando congurado o manejode SAFs em APPs, a postura dosrgos ambientais tem sido puniti-va e restritiva, quando deveria ser

    mais instrutiva e informativa.

    Permanecendo tais problemas, a tendncia que se man-tenha a insegurana e a rejeio por parte dos agricultores emintroduzir rvores nas propriedades. O prejuzo recai sobretoda a sociedade pela diculdade de se avanar em propostasexequveis que conciliem conservao e recuperao ambien-tal e produo, tanto de alimentos, madeira, bras, combust-veis, plantas medicinais, quanto de servios ambientais.

    Servios ambientais prestados pelos SAFs

    Os sistemas agroorestais diversicados apresentaminmeras vantagens e vm sendo cada vez mais reconheci-dos como mtodo eciente para o manejo sustentvel dosolo. Alm dos produtos teis e comercializveis que geram

    segurana alimentar e nutricional e renda para as famlias, ossistemas agroorestais produzem importantes servios am-bientais, levando ao reencontro do equilbrio dos agroecos-sistemas e amenizando as adversidades ambientais (Duarte et.al., 2008). Os sistemas agroorestais reabilitam terras degra-dadas; protegem os solos e bacias hidrogrcas; aumentam osequestro de carbono, contribuindo para a melhoria do clima;e aumentam a biodiversidade acima e abaixo do solo. Dentreos inmeros servios ambientais prestados pela biodiversida-de, encontram-se a polinizao, o controle de pragas e doen-as e a ciclagem de nutrientes. Alm disso, prestam serviosestticos, recreativos, culturais, educacionais e cientcos. importante reconhecer, entretanto, que esses benefcios po-dem ser lentos devido longevidade das rvores (IAASTD,2008). Em alguns casos, elas podem competir por gua, nu-trientes e luz com as culturas comerciais, embora, essa carac-terstica dependa muito do desenho e manejo dos SAFs.

    Experincias na Zona da Mata de Minasso referncias para as leis ambientais epolticas pblicas

    Na regio do entorno ou prxima aos Parques Estadualda Serra do Brigadeiro (PESB) e Nacional do Capara (Par-

    na), avanou-se muito no desenho e manejo dos SAFs, o quetem gerado satisfao das famlias agricultoras que se identi-cam com a Agroecologia. Essa histria tem sido escrita pelosagricultores(as) familiares em parceria com o CTA e Univer-sidade Federal de Viosa (UFV).

    Como pode ser observado na Figura 1, os municpios ondese desenvolvem as experincias localizam-se no entorno ou pr-ximos aos dois parques, formando um corredor entre ambos.Essa localizao amplia a importncia dessas experincias, pois osparques apresentam remanescentes de oresta estacional semi-decdua, que abrigam diversas espcies ameaadas.

    Nessa regio, a paisagem agrcola composta princi-

    palmente por cafezais a pleno sol e pastagens. O predomnio

    Agricultura e oresta harmonicamente integradas na paisagem

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    de reas cultivadas diculta a construo de corredores com orestas. No entan-to, tanto os cafezais quanto as pastagens se beneciam quando manejados commtodos agroorestais, criando assim a oportunidade para a construo de taiscorredores (VANDERMEER e PERFECTO, 2007).

    Esses sistemas j vm sendo colocados em prtica por diversas famlias daregio, em parcelas de produo de caf e pasto e em reas de bosques compos-tos por espcies nativas e exticas, como o eucalipto. Segundo o questionamentode um agricultor:

    A lei tinha que valorizar e incentivar a forma de

    lidar agroecolgica, mas ela no incentiva. Pelo

    contrrio, a lei no inibe o agrotxico e no incen-

    tiva a Agroecologia. Eu acho que deveria ter mais

    participao popular, que possa vir a contribuircom outros critrios (...), com a aproximao do

    povo, a as coisas andam!

    Essas famlias so consideradas re-ferncia para diversas publicaes cient-cas que descreveram suas experinciasna implantao de sistemas agroores-

    tais, comprovando maiores nveis desustentabilidade econmica e social e egerao de variados servios ambientais,como conservao da cobertura ores-tal, recuperao de reas degradadas,ampliao e refgio da biodiversidade,recuperao e conservao de solos ede recursos hdricos (FRANCO, 2000;DUARTE et al., 2008; SOUZA et al.,2010; FERRARI et al., 2011).

    Na experincia da famlia da Roselie do Samuel, localizada na comunidade

    de Pedra Redonda, em Araponga, o SAFcom caf encontra-se numa condionatural menos favorvel para esse tipode manejo, pois, para as condies lo-

    Ambiente de interao agroecolgica em Grumarim, Divino (MG)

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    cais, recebe menos insolao j que estvoltada para oeste e localiza-se muitoprxima Pedra Redonda, o que na-turalmente provoca o sombreamento.Mesmo nessa condio, a famlia intro-duziu rvores no sistema e produz umcaf de alta qualidade, rendendo diversaspremiaes em concursos de qualidade.

    Em torno de 150 espcies arb-reas e frutferas exticas, distribudasem uma rea de 1,5 hectares, foram le-vantadas nesse SAF com caf. As rvo-res no foram introduzidas pela famliacom o objetivo de sombrear, mas deproduzir bens e servios ambientais.Elas contribuem para a alimentao epara aumento da renda da faml ia como,por exemplo, a venda de abacates e ba-nanas. A banana vendida no mercadoagroecolgico dos agricultores fami-liares na sede do municpio e para a

    alimentao escolar. O abacate ven-dido para um atravessador. As rvorescontribuem tambm com a produode servios ambientais importantes

    como ciclagem de nutrientes e alimento para a fauna. Segundo Samuel, vriospequenos mamferos, como quatis, so observados alimentando-se das frutas dosSAFs. Esses animais, assim como pssaros e polinizadores, no eram observadosanteriormente na propriedade.

    A experincia da Roseli e do Samuel demonstra que o nmero de 500 rvorespor hectare (Instruo normativa n 5, MMA, 2008) invivel para reas j natural-mente sombreadas e com baixa insolao, o que inviabilizaria sua adequao lei.Portanto, as normas que dispem sobre sistemas agroorestais devem levar emconsiderao as especicidades encontradas na agricultura familiar.

    O desconhecimento generalizado sobre a legislao ambiental e o receio comrelao s atitudes dos orgos ambientais e de assistncia tcnica foram aspectos evi-denciados em entrevistas realizadas com 12 famlias que fazem manejo agroorestal naregio. Para elas, a forma como trabalham contribui para a conservao da natureza.

    Procuramos deixar as matas perto das guas e cuidar da qualidade delas; plantar

    frutas; no usar agrotxicos nas lavouras; no usar adubao qumica; no fazer muita

    capina pra melhorar a inltrao; proteger os bichos que a gente v e que no v, como

    minhoca, piolho de cobra, abelha, marimbondo.

    Para que o agricultor use reas de suas propriedades legalmente, preciso umamplo programa de divulgao da legislao orestal e das prticas agroorestais

    mais apropriadas para cada regio. Contudo, notria a limitao da estrutura or-ganizacional das instituies governamentais para responder aos vrios questiona-mentos dos produtores, tanto sobre a legislao vigente, quanto sobre alternativass monoculturas convencionais.

    Avaliao participativa dos benefcios do manejo agroorestal sobre a produo do cafezal

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    Para superar esse quadro, ne-

    cessria uma ao articulada en-tre organizaes da agricultura

    familiar, o Estado e organizaesde assistncia tcnica para quesejam impulsionadas dinmicas

    locais de inovao agroecolgica.Muitos exemplos dessas dinmi-cas locais voltadas construo

    do conhecimento ocorrem noAmbiente de Interao Agroecol-gica (atividade do projeto CNPq,edital 33/2010). Esses momentosso importantes para o compar-

    tilhamento de informaes sobreconverso de sistemas de mono-cultura em sistemas agroores-

    tais, pautadas na compreenso eno entendimento da legislao

    ambiental. Assim, desmisticou-se tcnicas e conceitos jurdicos,

    buscando alcanar a sustentabili-dade econmica e social de forma

    integrada conservao dos re-cursos naturais.

    Nesse evento, conversou-se sobre a necessidade de po-lticas pblicas que apoiem o fortalecimento das experin-cias de base agroecolgica da agricultura familiar para que osagricultores simultaneamente respeitem as normas legais etenham seus direitos como produtores respeitados.

    Experincias como a da Roseli e do Samuel contribuempara qualicar o debate sobre a possibilidade de utilizaosustentada das reas de preservao permanente nas condi-es da agricultura familiar, e inspiram propostas de reformu-lao da legislao que permanece essencialmente restritiva,o que coloca diculdades ao investimento das famlias agricul-toras na recuperao das APP.

    AgradecimentosSTRs, Associaes, Cooperativas, famlias, PDA-Redes/

    MMA e ao CNPq.

    Martin Mierengenheiro orestal, tcnico do CTA

    [email protected]

    Heitor M. Teixeiraestagirio

    [email protected]

    Matheus G. Ferreiraestagirio

    [email protected]

    Eugnio A. Ferrariengenheiro agrnomo, tcnico do CTA-ZM

    [email protected]

    Samuel Igncio Lopes

    agricultor agroecolgicoRoseli Lopes

    agricultora agroecolgica

    Irene Maria Cardosoprofessora do Dep. de Solos, UFV

    [email protected]

    Referncias bibliogrcas:

    Duarte, E.M.G.; Cardoso, M.I.; Fvero, C. (2008). Terra Forte.

    Agriculturas, Agriculturas 5:11-15.Ferrari, L.T., Carneiro, J.J., Cardoso, I.M., Pontes, L.M., Mendon-

    a, E.S. e Silva, A.L.M.S. (2010) O caso da gua que sobe:monitoramento participativo das guas em sistemas agro-ecolgicos. Agriculturas, 7:30-34.

    Franco, F.S., (2000). Sistemas Agroorestais: uma Contribui-o para a Conservao dos Recursos Naturais na Zonada Mata de Minas Gerais. Tese de doutorado, UniversidadeFederal de Viosa. Viosa, BR.

    IAASTD, (2008). International Assessment of AgriculturalKnowledge, Science and Technology for Development. To-

    wards Multifunctional Agriculture for Social, Environmental andEconomic Sustainability. IAASTD Report. Island Press. Johan-nesburg.

    Oliveira F.S., Soares, V.P., Pezzopane, J.E.M., Gleriani, J.M., Lima,G.S., Silva, E., Ribeiro, C.A.A.S, Oliveira, A.M.S (2005). Iden-ticao de conito de uso da terra em reas de preserva-o permanente no entorno do parque nacional do capa-ra, Estado de Minas Gerais. rvore, 32 (899-908).

    Souza H.N.; Cardoso, I.M.; Fernandes, J.M.; Garcia, F.C.P.; Bonn,V.R.; Santos, A.C.; Carvalho, F.A. & Mendona, E.S. 2010. Se-lection of native trees for intercropping with coffee in theAtlantic Rainforest biome. Agroforestry systems 80:1-16.

    Vandermeer, J. & Perfecto, I. 2007. The Agricultural Matrix anda Future Paradigm for Conservation. Conservation Biology21:274277.

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    A experincia dosagricultores agroorestais do

    assentamento Sep TiarajuHenderson Gonalves Nobre, Tatiane de Jesus Marques Souza,

    Maira Le Moal, Ana Laura Carrilli, Luiz Octvio Ramos Filho e Joo Carlos Canuto

    Na regio canavieira de Ribeiro Preto (SP),entre os municpios de Serrana e Serra Azul,est localizado o assentamento Sep Tia-raju, criado ocialmente em 2004 com a proposta de ser oprimeiro assentamento ecolgico do estado de So Paulo. A

    vegetao nativa original, caracterizada pela transio entreMata Atlntica e Cerrado, conta com poucos remanescentes,fruto da ocupao anterior ao assentamento. Por estar sobrea de recarga do Aqufero Guarani, a vegetao tem den-

    tre suas principais funes a de proteger a rea. Esse papelse encontra hoje fortemente ameaado pela monocultura dacana-de-acar em reas extensas e contnuas e que fazemuso intensivo de fertilizantes qumicos e agrotxicos.

    Foi no contexto da disputa agrria e descaso com o meio

    ambiente que o Instituto Nacional de Colonizao e ReformaAgrria (Incra), o Movimento dos Trabalhadores Rurais SemTerra (MST), a Embrapa Meio Ambiente, a Promotoria Pblicado Meio Ambiente de Ribeiro Preto e Cravinhos, a Secreta-

    q

    p

    j

    p

    Sr. Agnaldo em seu cafezal agroorestal

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    19 Agriculturas v. 8 - n. 2 junho de 2011

    ria de Meio Ambiente do estado de SoPaulo, juntamente com as 80 famlias doSep Tiaraju tm tentado consolidaruma proposta diferenciada, centrando asua matriz tecnolgica na Agroecologiae tendo a cooperao como eixo da or-ganizao produtiva.

    A partir do ob-

    jetivo de servir comoreferncia para ocupa-o da regio segundo

    um novo modelo dedesenvolvimento ru-ral (modalidade PDS Plano de Desenvol-vimento Sustentvel),a comunidade assen-

    tada optou por noutilizar agroqumicos,aliando a produo de

    alimentos saudveiscom a preservao

    ambiental; utilizandoprticas agrcolas queminimizam os impac-

    tos aos recursos na-turais; e recuperando35% da rea de Reser-va Legal (RL), ou seja,

    15% a mais do queexigido pela legislao

    ambiental, mas quetecnicamente o re-

    comendado para reasde recarga do aquferoGuarani.

    A construo do conhecimento agroecolgico noassentamento

    Todo o processo de discusso e despertar de uma conscincia ecolgica fruto de um trabalho realizado pelo MST desde a fase de acampamento e foi fun-damental para que as famlias, em sua grande maioria da zona urbana, aceitassem odesao proposto ao serem assentadas (Ramos-lho et. al. 2009).

    Para ingressarem em uma trajetria de transio agroecolgica lhes faltavamos conhecimentos adequados realidade local. Por isso um grupo de famlias as-sentadas, juntamente com o grupo de Agroecologia da Embrapa Meio Ambiente, o

    Incra/SP e outros apoiadores deram incio, em 2005, a um processo de construocoletiva do conhecimento agroecolgico no assentamento. Tendo como foco o de-senvolvimento de Sistemas Agroorestais (SAFs), as iniciativas de inovao agro-ecolgica procuraram combinar culturas agrcolas anuais e perenes de interesseeconmico com espcies arbreas nativas e/ou exticas, de forma a promover in-teraes ecolgicas positivas por meio da incorporao das rvores aos seus lotesde produo.

    As concepes convencionais sobre a prtica agrcola limitaram inicialmente otrabalho, j que alguns agricultores diziam que as rvores no lhes trariam alimentose renda. Mas ao realizarem algumas visitas de intercmbio, como na Fazenda SoLuis em So Joaquim da Barra (SP) um projeto do grupo Mutiro Agroorestal- e a experincias da Cooperaoresta em Barra do Turvo (SP), um grupo de agri-cultores viu que os SAFs poderiam ser uma alternativa vivel para o assentamento(PENEREIROet. al., 2008).

    Curso de desenho e planejamento de SAFs

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    Antes eu achava que rvores s serviam para cortare queimar. Hoje eu acho as rvores mais importantes que

    mandioca e eu planto muitas. Depoimento de agricultordepois das visitas de intercmbio.

    Logo depois, em 2006, por iniciativa de agricultores, daEmbrapa Meio Ambiente e de parceiros, foi implantada umaUnidade de Observao Participativa (UOP) de SistemasAgroorestais em uma rea coletiva do assentamento, pormeio da qual os agricultores participaram ao longo do anode mutires e trocas de conhecimentos sobre SAFs e outrasprticas agroecolgicas.

    O empoderamento e a irradiao dosSAFs nos lotes

    A UOP implantada cumpriu a funo de criar, validare disseminar conhecimentos agroecolgicos no assenta-mento. Esse resultado pode ser visualizado medida que

    os agricultores foram reaplicando em seus lotes SistemasAgroorestais adaptados a seus objetivos e realidades. Essemovimento peculiar foi rico de inovaes e adaptaes emrelao s referncias proporcionadas pelos intercmbiose pela unidade de observao, pois cada agricultor dese-nhou seu SAF segundo uma srie de necessidades, limites esubjetividades socioculturais.

    Foi criada ento rica diversidade de experincias: desdesistemas mais simples em aleias combinadas com cultivos anu-ais, at sistemas mais complexos multiestraticados, com altadiversidade de espcies e com diferentes tamanhos. Essa di-

    versidade reete a multiplicidade de objetivos buscados, quevai do embelezamento do lote at a consolidao da principalfonte de renda.

    O descrdito e a desinformao inicial quanto aos SAFsderam lugar a uma crescente compreenso da importnciaecolgica e econmica desses sistemas: o contato com outras

    Mutiro para implantao de SAF

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    experincias despertou a sensibilidade;a unidade de observao proporcionouo entendimento de que no assentamen-to tambm seria possvel desenvolversistemas agroorestais; e a implantaodos sistemas nos lotes individuais per-mitiu a capacitao tcnica. O compar-tilhamento de aprendizagens por meio

    de dias de campo, mutires, seminrios,ocinas e cursos foi um mecanismo es-sencial para a construo e a irradiaodo conhecimento agroecolgico.

    Os frutos do trabalhocoletivo e as lutas porvencer

    O trabalho tem sido profcuo emresultados, traduzidos em avanos,equvocos e perguntas a responder.

    Muito ainda se tem a caminhar emtermos do aprofundamento tcnico-cientco para conferir mais qualidadeaos sistemas. Igualmente, so diversas

    as questes em aberto sobre as relaes de solidariedade a construir e recons-truir. O melhor conhecimento das relaes propriamente ecolgicas dentro dosSAFs, o equilbrio entre necessidades de renda e biodiversidade e o conhecimen-to sobre desenhos e sobre manejos mais efetivos so ainda questes cruciais aserem exploradas. Do ponto de vista dos mtodos participativos, a riqueza dosprocessos reais dever ser sempre sistematizada e reetida para que as teoriasvigentes sejam qualicadas.

    Foi necessrio vencer desaos ao longo de cinco anos de trabalhos conjuntos,para que os primeiros resultados fossem colhidos e pudessem ser vistos medi-da que os agricultores agroorestais tiravam do mato (maneira pejorativa comoera inicialmente tratado os sistemas agroorestais) produes de feijes, milho,mandioca, banana e mamo, principais culturas do assentamento. Essas produessurpreenderam em quantidade e qualidade, visto que problemas comuns de pragase doenas ocorriam sem nvel de dano econmico. Tambm surpreendeu em cons-tncia, pois quando a estao seca ia chegando, a produo diminua, mas os lotesagroorestais continuavam produtivos em funo do microclima diferenciado quese cria dentro deles.

    Atualmente possvel perceber o avano na capacidade dos agricultores paraao planejamento, desenho, implantao e manejo dos SAF.

    Aspecto no menos importante vem do fato de que, ao contrrio dos agricul-tores que permaneceram no monocultivo, os agricultores agroorestais tm me-lhorado a alimentao de suas famlias, ampliado as opes de mercado e obtidoingressos econmicos continuados ao longo de todos os meses do ano.

    Paulinho, jovem agricultor-experimentador em sua parcela agroorestal.

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    Aps o investimento inicial para aimplantao do componente arb-reo e para a melhoria do solo comadubao verde, vericou-se a ten-

    dncia de decrscimo dos custosprodutivos e da demanda de tra-

    balho. Atualmente os agricultoresagroorestais so os que mais se

    beneciam do Programa de Aqui-sio de Alimentos (PAA) da Com-

    panhia Nacional de Abastecimento(Conab), uma das principais pol-

    ticas pblicas destinadas agricul-tura familiar, pois possuem grandediversidade de produtos, sendo os

    primeiros que conseguem atingir acota de entrega. Porm, ainda ca-

    recem de infraestrutura para orga-nizar a produo a ser entregue na

    modalidade da merenda escolar.

    Assentados de outra comunidade, em visita ao lote agroorestal do Sr. Geovane

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    Alm dos resultados econmicos, pode-se notar a mo-dicao geral da paisagem. O aumento da biodiversidadetrouxe um conjunto de benefcios ambientais tanto para osagricultores quanto para a sociedade.

    O poder de convencimento dessas experincias mui-to grande, pois ao mesmo tempo em que referenciam a dis-cusso realizada no assentamento, inuenciam positivamen-te outros sistemas de produo locais. Essa transformao visvel, mesmo que timidamente, nos lotes que inserem ocomponente arbreo; utilizam cobertura morta e adubaoverde; e aumentam a complexidade de seus policultivos, pr-tica comum no assentamento.

    No podemos deixar de enfatizar a importncia daconstruo coletiva na formao de agricultores multipli-cadores, pois so eles que iro promover a apropriao edisseminao na comunidade, possibilitando a continuida-de ao processo mesmo quando no for possvel o apoiotcnico-institucional e fazendo-se presentes a frente dascooperativas locais. A prpria comunidade j comea a dis-

    seminar suas experincias no entorno, pois os agricultorespossuem tal experincia e conana no assunto que come-am a inuenciar agricultores de outros assentamentos daregio, como os de Ribeiro Preto e Franca.

    Henderson Gonalves Nobreeng agrnomo e mestrando em Agroecologia e desenvolvi-

    mento Rural [email protected]

    Tatiane de Jesus Marques Souzaeng orestal, mestranda em Agroecologia e des. rural

    [email protected]

    Maira Le Moaleng agrnoma, mestra em desenvolvimento rural

    [email protected]

    Ana Laura Carrilligraduanda em Agronomia UNESP Botucatu

    [email protected]

    Luiz Octvio Ramos Filhopesquisador da Embrapa Meio Ambiente e doutorando em

    Agroecologia ISEC Crdoba/[email protected]

    Joo Carlos Canutopesquisador da Embrapa Meio Ambiente e

    Doutor em [email protected]

    Sr. Jos Pedro em sua agrooresta

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    Funes ecolgicas eeconmicas de sistemas

    agroorestaisJorge Luiz Vivan

    Foto:Centro

    Ecolgico

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    O

    Programa de Projetos Demonstrativos(PDA) do Ministrio do Meio Ambiente

    busca estabelecer as bases para processosde gerao de conhecimentos a partir de experincias ino-vadoras de conservao da biodiversidade, realizadas por or-ganizaes da sociedade civil em parceria com instituiespblicas. Com o objetivo de gerar referncias para a elabora-o e o aperfeioamento de polticas pblicas, o PDA partedo pressuposto de que o desao da conservao deve serenfrentado a partir da articulao das aes realizadas porinstituies envolvidas nas trs esferas: Estado, sociedade civile setor produtivo. Ao longo dos anos de execuo do pro-grama, foram apoiadas mais de 400 iniciativas inovadoras naAmaznia e na Mata Atlntica, muitas delas envolvendo a im-

    plantao de SAFs e o manejo orestal no madeireiro.Tendo por base esse conjunto de iniciativas, foram re-

    alizados estudos de caso com dois objetivos: (1) sistemati-zar conhecimentos e produzir anlises socioeconmicas eecolgicas de experincias promissoras envolvendo SistemasAgroorestais (SAFs) nos biomas Mata Atlntica e Amaznia;(2) integrar, de forma participativa, uma rede de atores para agerao de conhecimento nesse tema.

    O estudo realizado permitiu responder um conjunto deperguntas sobre estratgias que os agricultores adotam emsistemas inovadores a m de reduzir a sua vulnerabilidade so-cioeconmica e ecolgica. Os resultados apresentados aqui sereferem funcionalidade ecolgica e econmica dos sistemasagroorestais implantados com o apoio de projetos realizadosnos estados do Cear, do Rio Grande do Sul e de Rondnia.

    Os SAFs analisados

    Os casos foram selecionados por sua relevncia e nvelde consolidao, dentro do universo de relaes do PDA. Ao

    todo, foram analisadas 14 unidades produtivas, sendo o focoprincipal dos casos centrado nos sistemas inovadores de base

    familiar que adotam SAFs (Quadro 1).Os trs estudos de caso enfocaram unidades familia-

    res onde a principal atividade econmica proveniente deSAFs com pouca ou nenhuma contribuio de extrativismo.Do ponto de vista econmico, os agricultores entrevistadostm o seguinte perl: 64% tm suas rendas provenientes deSAFs prxima ou acima da mediana regional; 28% dependemexclusivamente de SAFs para obteno de suas rendas. Osprodutos de interesse econmico principal nesses SAFs socaf (Coffea canephora e C. arabica); banana (Musa spp.); cupu-au (Theobroma grandiorum); juara (Euterpe edulis); pupunha(Bactris gasipaes), todos sempre em interao com pecuria

    familiar (leite e carne); alm de outras espcies frutferas taiscomo abacate (Persea americana), aa (E. oleracea, E. Precatria),citrus (Citrus spp) e caj (Spondias mombim). Cada uma dessasespcies requer um nvel especco de exposio solar, deocupantes do dossel superior at parte do dossel arbustivo,tolerando no caso do cacau acima de 60% de sombreamento.As combinaes adotadas pelos agricultores geraram estru-turas mais ou menos complexas, associando frutas e espciesmadeirveis de porte alto, que compem o estrato dominanteno sistema. Os SAFs estudados apresentam-se como dosselfechado (caso de SAF com seringueira, madeirveis e caf emRondnia) e aberto, em diferentes gradaes, que vo desde

    mosaicos de banana, pupunha ou cupua entremeados delinhas e faixas de rvores (com dois ou trs estratos), at caf,cacau e cupua sombreado com alta diversidade de espciese mais de quatro estratos.

    Outra categorizao pode ser feita em termos dacomposio desses sistemas. Em um extremo esto os SAFmuito intensivos, como os quintais ou hortas agroorestais.So reas entre 0,5 a 2 hectares nas quais todo o estrato

    Instituio de assessoria Sede e localizao dasexperincias analisadas Tipo de SAF e atividades promovidas

    Centro Ecolgico Litoral Norte

    Dom Pedro de Alcntara, Regio deTorres, Litoral Norte do Rio Grandedo Sul e Extremo Sul de SantaCatarina.

    SAFs bananeiros: processamento,comercializao, Ater.

    Fundao Cepema Fortaleza e APA do Baturit, Cear. SAF de caf sombreado: processamento,comercializao, Ater.

    Apruram, STTR, Fetagro, Acaram*Ji-Paran, municpios de Cacaulndia,Rolim de Moura e Ministro Andreazza,Rondnia.

    SAF de cacau, cupua, caf sombreado,pupunha (palmito e semente).

    *Associao dos Produtores Rurais de Rolim de Moura (Apruram); Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STTR); Federao de Trabalhadores na Agricultura(Fetagro); Articulao Central das Associaes Rurais de Ajuda Mtua (Acaram).

    Quadro 1 Localizao, tipo de atividade desenvolvida e instituies assessoras.

    1 Agradeo imensamente aos agricultores e agricultoras que contriburampara a realizao desse estudo.Bananal agroorestal no litoral norte do Rio Grande do Sul

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    dominante, quando presente, composto de espcies frutferas ou de rvoresfertilizadoras podadas de forma frequente. No outro extremo, esto os SAFs maisextensos (4 a 15 ha) onde a mata ou foi raleada ou recomposta por manejo daregenerao, e onde ocorre algum nvel de manejo madeireiro, principalmente aextrao de lenha e madeira de construo que utilizada nas unidades produ-tivas. Em alguns casos, h tambm coleta de sementes, resinas (borracha), cacausilvestre e castanha, entre outras espcies. Essas conguraes, com maior ou me-

    nor intensidade de uso, apresentam marcada variao nos principais indicadoresecolgicos e econmicos (Figura 1).

    Em teoria e com o suporte de dados das unidades analisadas, os SAFs variaramem sua funcionalidade ecolgica a partir de indicadores como: (a) rea que cobrem;(b) conectividade entre SAFs e entre estes e os fragmentos orestais existentes napropriedade e na paisagem; (c) composio e estrutura, abrigando maior ou menorquantidade de espcies importantes em processo vitais para a fauna (abrigo, alimen-to, caminho para deslocamento) e para a ora (populaes plantadas que formamreservas genticas fora das reas naturais). De modo geral, quanto mais intensivofor um SAF, maior sua produtividade econmica, mas no necessariamente sua fun-cionalidade ecolgica. A funo ecolgica do SAF e fragmentos orestais deve seranalisada tambm em relao ao entorno que, por sua vez, deve ser avaliado em re-

    lao ao padro de uso da terra dominante na paisagem. Embora esse tipo de anliseno tenha sido contemplado na avaliao realizada, alguns indicativos importantespodem ser apresentados a partir do estudo realizado.

    Os SAFs e a conservao ambiental

    Nos cafezais sombreados do Cear, as espcies arbreas nativas represen-tam entre 2 e 8% de frequncia relativa (Fr%) de indivduos, somando entre 140a 400 indivduos por hectare. Usando os nveis mais altos encontrados, o queresulta um dossel praticamente contnuo, aspecto muito importante para osmamferos arborcolas. Existe ainda uma conectividade que comum entre cafe-zais e fragmentos orestais e que foi constatada para a maior parte das unidadesanalisadas. As avaliaes de fauna local so escassas no Cear e h indicativos de

    que, passados 200 anos de ocupao, existe um impacto signicativo com ausnciade mamferos arborcolas de maior porte, como o macaco-muriqui, bugio e pre-guias. Uma fauna avcola diversicada persiste, inclusive com espcies endmicas,como o periquito-da-cara-suja (Pyrrhura griseipectus), ave considerada criticamen-

    te em perigo de extino e constandoda Red List da Unio Internacional deConservao da Natureza (IUCN).

    No Rio Grande do Sul, o palmitei-ro (E. edulis) tem alta frequncia relativapercentual nos bananais em SAFs e suaimportncia no dossel dominante varia

    entre 17 a 80%, sendo que nas reasanalisadas 100% do dossel acima da ba-nana so constitudos por espcies nati-vas. Com um legado de 250 anos de co-lonizao, os fragmentos orestais somuito menores e mais impactados emtermos de composio de fauna e orado que em Rondnia. Por outro lado, osbananais em SAF esto localizados exa-tamente onde se encontram os maio-res remanescentes de Mata Atlntica naregio fora de unidades de conservao,

    que so os morros inseridos nas plan-cies costeiras ou a continuao das re-as de encostas da Serra Geral. Relatospreliminares indicam que, sendo o pal-miteiro uma espcie-chave para amplavariedade de fauna, sua reintroduonos SAFs tem favorecido a avifauna dis-seminadora e primatas de maior porte,como o macaco-prego.

    No caf sombreado em Rondnia,a frequncia de espcies nativas arb-reas num SAF pode chegar a 45% do

    conjunto de indivduos. Embora estejafragmentada por grandes reas de pas-tagens, a oresta nativa ainda uma dasformas dominantes na paisagem. Assim,os SAFs (que no representam reasmuito extensas na regio) colaborampara um sistema de uso da terra commaior conectividade entre diferentesformas de cobertura orestal, dentreos quais destacam-se os mosaicos demonocultivos perenes, os consrciosde duas ou trs espcies perenes (como

    pupunha, caf e castanha), os reoresta-mentos e os fragmentos orestais ma-nejados para diferentes usos, entremea-dos por pastos e cultivos anuais.

    Uma anlise de imagens de sat-lite mostrou que os fragmentos o-restais em Rondnia so de maior di-menso que os da Mata Atlntica e soconectados aos SAFs em pelo menosduas faces. Os casos analisados eviden-ciam tambm a presena frequente demamferos arborcolas e terrestres de

    mdio porte, alm de alta diversidadede primatas e de aves. Conforme rela-tos e evidncias observadas, essa faunafaz uso dos SAFs tanto como ponto de

    Figura 1. Representao esquemtica do peso relativo de indicadoresecolgicos (diversidade de fauna e ora) e econmicos (R$/ha e uth/ha1)em sistemas agroorestais, a partir de dados de 14 unidades produtivasanalisadas em Rondnia, Cear e Rio Grande do Sul, 2008.

    SAF dossel frutas (Quintal SAF)

    Fauna

    Flora

    Renda/ha

    uth/ha

    SAF dossel 45%

    SAF dossel 65%

    SAF extrativista (dossel fechado)

    1 UTH - Unidade de Trabalho Homem a medida empregada paradimensionar a quantidade de trabalho.

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    alimentao e passagem, como local demoradia e nidicao.

    Pode-se armar que o valor deconservao, mesmo de um SAF in-tensivo, depender muito mais da suaconectividade com fragmentos ores-tais ntegros e da conectividade des-

    ses fragmentos com outras reas pro-tegidas do que apenas da estrutura ecomposio do SAF em si. Como fatorpositivo, todos os casos revelaram que,na nica situao na qual as unidadesde produo apresentam passivo am-biental (Rondnia), seus percentuaisde cobertura orestal esto acima damdia do municpio onde se inserem.Alm disso, todas as unidades apresen-tam ndices anuais de desmatamento/habitante muito abaixo da mdia do

    municpio onde se inserem. Nesse sen-tido, no s os SAFs estudados comoas unidades produtivas onde os mes-mos se inserem mostraram alto valorpara a conservao.

    Gerao de renda nos SAFs

    Na sntese de indicadores econmi-cos recolhidos em trs estudos de caso,a mediana (ou valor central) da propor-o de renda bruta obtida pelos SAF emrelao ao restante do sistema de pro-duo de 73%, sendo 68,5% a mdiageral. O pior desempenho em termos derenda por dirias de trabalho investidasest no caf sombreado do Cear, o quepode ser explicado pela conjugao deuma srie de fatores: dependncia de umnico produto, o caf; falta de manejoadequado; e preos nais baixos (quali-dade, falta de processamento local). OsSAFs no Rio Grande do Sul e em Ron-dnia quase se equivalem nesse aspec-to, com uma pequena vantagem para os

    ltimos, onde um mercado para polpase produtos de SAFs est bem estabele-cido. Como uma vantagem comparativa,os SAFs em Rondnia demandam me-nos mo de obra por unidade de rea,permitindo que reas mais extensas se-jam manejadas.

    Os dados demonstram que osSAFs podem ser o principal subsistemaeconmico em estabelecimentos fami-liares, sendo que cerca de um quartodas unidades avaliadas produzem suas

    rendas exclusivamente a partir deles.Em cifras avaliadas pela mediana (va-lor central de um grupo de amostras),os resultados foram os seguintes: em

    Rondnia, a renda bruta total originada por SAF alcana 44,4%. Gado (leite, carne)e cultivos perenes solteiros (caf, pupunha, guaran) so os subsistemas comple-mentares mais frequentemente encontrados naquele estudo de caso.

    Na Serra do Baturit (CE), o caf foi introduzi-do ainda no incio do sculo XIX e os SAFs soformados por cafezais sombreados em diferen-

    tes graus de diversidade de espcies arbreas.Para esse caso, a renda bruta proporcionada

    por SAFs alcana 78% da renda total nas pro-priedades. Novamente, so cultivos perenes

    (banana e cana) e criaes (gado de leite e ca-

    prinos) os subsistemas complementares.

    J no Litoral Norte do Rio Grande do Sul, principal regio de bananicultura doestado, a contribuio dos SAFs na renda aumenta para 87%. Gado de leite e bananaem monocultivo (mas em sistema orgnico) compem os subsistemas complemen-tares aos SAFs. A melhor renda em SAF (acima de R$ 7mil/ha) no Rio Grande doSul se explica pela introduo de olericultura, puxando a demanda anual de mo deobra para cima (60 dirias/ha).

    A menor importncia relativa dos SAFs em Rondnia, em termos da rea to-tal, pode ser explicada pelo fato de a pecuria ser a principal atividade econmicana regio e pelo maior tamanho dos estabelecimentos. Essa comparao no

    vlida para o caso do Cear, onde restries ao desmatamento por se tratar deuma APA e a tradio dos cafezais sombreados se mantiveram mesmo em pro-priedades com cobertura orestal ou de caf sombreado. Por outro lado, os SAFsj aparecem como fonte principal de renda em algumas propriedades analisadas

    Bananal agroorestal no litoral norte do Rio Grande do Sul

    Foto:CentroEcolgico

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    em Rondnia, alcanando mais que 86% para duas das seis propriedades anali-sadas. Nas regies onde os principais produtos dos SAFs j contam com uxoseconmicos estabelecidos caf no Cear, banana no Rio Grande do Sul osSAFs so fonte majoritria de renda.

    O fator tradio importante nessa congurao de arranjos produtivos: oscafezais sombreados do Cear j esto implantados h mais de 100 anos; os bana-nais com rvores foram frequentes no Rio Grande do Sul nos anos 1940-50. Almdisso, os bananais sombreados so recomendados em obras agronmicas publicadasnos anos 1930 no Paraguai, portanto em uma condio (subtropical) idntica doRio Grande do Sul. J em Rondnia, os SAFs so ainda considerados uma novidade,

    uma vez que a colonizao recente e se origina de diferentes regies do pas, semtradio agroorestal. Um indcio encorajador aos SAFs na Amaznia que mesmoagricultores sem essa tradio cultural esto interessados em capacitao, inves-tindo recursos e em mo de obra e obtendo respostas econmicas signicativas,quando estimulados por projetos que incorporem elementos de arranjo produtivolocal, ou recebam apoio de instrumentos de comercializao, como o Programa deAquisio de Alimentos da Conab/Mapa.

    A competitividade dos SAFs

    A competitividade econmica de uma atividade

    deve ser avaliada por diferentes ngulos. A rendabruta obtida por unidade de trabalho um indi-cador importante, j que a tendncia do agricul-

    tor realizar investimentos em atividades queproporcionem maiores retornos econmicos ao

    trabalho investido. Se a mo de obra escassa,uma atividade com alta demanda de trabalho

    por rea perde competitividade. Se capital re-

    curso escasso, atividades que demandam inves-timento inicial alto, ou uxo alto e constante deinsumos externos, tambm perdem competitivi-dade. Nesse caso, como a mo de obra barataou de origem familiar, o agricultor prefere ativi-

    dades que independam de capital.

    Os agricultores das trs regies estudadas vivenciam simultaneamente a es-cassez de mo de obra e de capital. No Cear e no Rio Grande do Sul a maiorparte dos investimentos provm de recursos das prprias famlias, enquanto em

    Rondnia, sete entre nove agricultores analisados utilizaram crdito rural (Pronaf).Tambm em Rondnia, os SAFs so muito mais rentveis do que as atividades con-correntes. Frutas, mudas e outros produtos de SAFs geram em mdia cinco vezesmais renda por unidade de trabalho do que a pecuria bovina, principal ativida-

    de econmica na regio que resulta naconverso permanente de oresta empasto. A substituio de pecuria porSAFs depende, porm, de investimentospblicos e da iniciativa privada para quesejam criadas cadeias produtivas est-veis para produtos agroorestais, tantomadeireiros como no madeireiros. Umparmetro obtido no estudo indica quevalores em torno de R$ 636,00 ha/ano

    por um perodo mnimo de seis anosso atrativos para substituir pecuriapor SAFs.

    No Cear, na rea de ProteoAmbiental do Baturit, a atividade con-corrente aos SAFs e principal vetor dodesmatamento a banana em monocul-tivo. Ela gera um valor duas vezes maiorem renda por unidade de trabalho doque os cafezais em SAFs. Mas essa des-vantagem relativa dos SAFs pode seranulada ou mesmo revertida em anos

    considerados bons para o caf. H de seconsiderar, nesse sentido, que o clculorealizado no estudo baseou-se em da-dos de 2007, um ano excepcionalmenteruim para o caf em funo de dcithdrico, que ocasionou quebras de safrade at 75%. Como a banana plantadaem reas de maior umidade como bo-queires e reas de vrzea, a quebra desafra dessa cultura relativamente me-nor. Por essa razo, seria necessrio umacompanhamento mais sistemtico aolongo dos anos para que a performan-ce econmica do caf agroorestal emrelao banana em monocultivo fossemelhor avaliada. Independentementedessa avaliao comparativa, a amplia-o dos cafezais em SAFs na regio de-pender de aes complementares. Aprimeira est ligada melhoria da pro-dutividade e da qualidade do caf pro-duzido. A segunda liga-se viabilizaode cadeias produtivas para os variadosprodutos dos SAF que esto subutiliza-dos ou simplesmente apodrecendo nos

    cafezais, tais como o abacate, a tangeri-na, a laranja, a pitomba e o caj. Ambasas medidas podero aumentar o retor-no da mo de obra investida. Incentivos

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    anuais variando entre R$ 450,00 a R$ 1.450,00/ha poderiamsimplesmente pagar pela rea a ser conservada contra asatividades concorrentes e vetores de desmatamento, comobanana, cana e gado de leite. Se aplicado no como indeni-zao conservao, mas como investimento em melhoriasecolgicas, econmicas e institucionais num perodo entre 8e 15 anos, com valores de crdito decrescente, do incio para

    o nal do ciclo, esse tipo de incentivo poderia recuperar ouampliar cafezais sombreados que atualmente correm risco deserem transformados em pastagens ou em bananais. Na esfe-ra das polticas pblicas, o ideal que tal conjunto de medidasse conforme como parte de aes que integrem o pagamen-to por servios ambientais e apoio ao desenvolvimento ruralsustentvel para regies estratgicas por seu valor ecolgico,cultural e paisagstico, como no caso da APA do Baturit.

    No litoral norte do Rio Grande do Sul, a atividade con-corrente dos bananais em SAFs, mesmo em meio ao grupode produtores certicados como ecologistas, so os bananaisem monocultivo. Nesse caso, os nmeros so favorveis aos

    SAFs: num grupo de 24 agricultores orgnicos, 3 entre os 5 quemanejam os bananais agroorestais mais diversicados obtmrendas por unidade de trabalho e por unidade de rea acimada mediana do grupo. Alm disso, para um grupo de seis agri-

    cultores que possuem bananais em SAFs, os custos produtivosforam, em mdia, da ordem de 1,7% da renda bruta, ao passoque para o grupo de 14 unidades que produzem fora de SAFs,esses custos giraram em torno de 8,4% da renda bruta. Ou seja,um custo de produo 4,9 vezes menor para SAFs bananeiros.Nessa regio, o retorno por hectare de reas de pasto, culti-vos anuais e bananais em monocultivo gerou como parmetro

    orientador para converso um valor anual entre R$ 600,00/ha(gado de leite) e R$ 1.420,00/ha (cultivos anuais).

    SAFs podem produzir madeira de formato eciente quanto reorestamentos?

    O foco em um SAF poder variar, conforme j foi relatadopara os casos analisados, de quintais sem espcies madeirveis,at verdadeiras orestas antropognicas. Rondnia tem o me-lhor desempenho nesse quesito. Numa unidade em Rolim deMoura, um grupo de 100 indivduos de teca (Tectona grandis)plantados em renque junto ao carreador de caf poderia gerar

    em 12 anos uma renda de R$ 15.820,00 com a comercializaode 22,6m3 de madeira em tora. Alm das rvores de teca, omesmo SAF contava com 135 rvores/ha de 9 anos de idadedas espcies pinho cuiabano (Schizolobium amazonicum), freij

    Unidades

    Indicadores

    Renda Bruta

    dos SAFscomo parteda Renda

    Bruta total(%)

    RendaBruta

    dosSAFs

    (R$/ha)

    Remuneraoda mo de obra

    (R$/uth**)

    Demandade mo deobra

    (uth/ha.ano)

    rea

    manejvelpor 1 uthanual*

    (projeoem ha)

    Produtosatuais

    RO

    Hilrio 24 2149 82,7 25 10,4 C,F

    Urias 100 1192 149,1 8 32,5 C

    Adelcio 12 2282 351 6,5 40,0 C,F

    Grson 42,5 5827 264,9 22 11,8 F, P, Md

    Fgner 84,6 1277 149,2 8,6 30,2 C, F, P

    Esmeraldo 46,3 1960 116 16,9 15,4 C, F

    RS

    Toninho 100 2288 143,9 43,4 6,0 B, Md

    Vilmar 73 1811 55,4 32,7 8,0 B

    Valdeci 87 7852 132,3 59,4 4,4 B, Ho

    CE

    Vicente 100 747 52,5 15,6 16,7 C, Ci

    J. Porfrio 40 553 7,4 44,3 5,9 C, Ci

    H. Farias 78 188 27,3 6,7 38,8 C

    Lghio 100 1441 70 27,1 9,6 C, F

    J. Caracas 72 1335 64 26,8 9,7 C, B

    Mdias 68,5 2207,3 119,0 24,5 17,1 Rondnia (Rolim de Moura, Porto Velho, Cacaulndia e Ji-Paran); Rio Grande do Sul (Dom Pedro de Alcntara, Morrinhos do Sul); Cear (Mulung,Guaramiranga).C= Caf; F = frutas; P = Pupunha; Md = Mudas; B = Banana; Ho = Hortalias; Ci = Citrus.* = 1 uth anual (unidade de trabalho humano anual) equivalendo a 260 jornadas de 1 adulto/ano.** = R$ recebidos (renda bruta) por cada 8 horas de trabalho investidas (1 uth)

    Tabela 1. Indicadores econmicos de sistemas agroorestais no RS, CE e RO, 2008

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    (Cordia alliodora), itaba (Ocotea megaphylla) e aroeira (Astronium fraxinifolium), introdu-zidas no sistema para sombrear o caf e o cupua. Embora a explorao da madeiradessas rvores possa gerar uma renda signicativa, ela no foi considerada na avaliaodo potencial econmico do SAF.

    A presena de espcies madeirveis bastante signicativa nos cafezais som-breados do Cear. Com base na presena de indivduos de louro-pardo (Cordiatrichotoma) na unidade Joo Caracas, pode-se projetar para um perodo de 25 anosuma renda de R$ 92.800,00 proveniente de toras serradas em um hectare de SAF.Numa base anual, para uma populao efetiva (sobrevivente e desenvolvida) de 120plantas, a madeira de freij incorporaria R$ 3.712,00/ha.

    Os SAFs no Litoral Norte do Rio Grande do Sul so aqueles em que o compo-nente madeirvel menos presente das trs regies estudadas, sendo o palmiteiro aespcie dominante no dossel. Os valores estimados em madeira para um SAF com25 anos de ciclo foram de 122m3 de madeira em tora, sendo 41,2m3 de louro e80,8m3 de sobragi (Colubrina glandulosa). Com base nos preos regionais as madeirasprovenientes dessas espcies agregariam por ano R$ 1.978,2 e R$ 969,3/ha respec-tivamente. Esses resultados poderiam ser bem superiores com espcies como olouro-pardo, j que so comuns seu plantio em bananais, com um desempenho decrescimento economicamente atrativo.

    A possibilidade de agregao de valor pelo componente madeirvel depende,em todos os casos, de condies que, em geral, no esto disponveis. Equipamen-tos que permitam o processamento de toras na propriedade (serrarias mveis) eo acompanhamento legal que viabilize a comprovao de plantio e a consequenteexplorao so as principais. Independentemente desses obstculos, o que impor-ta destacar que os SAFs podem efetivamente gerar rendas ponderveis a partirda valorizao do potencial madeireiro. Mesmo sem explorao comercial, essecomponente segue agregando valor aos sistemas produtivos analisados em valo-res superiores ao conjunto dos demais produtos explorados. A questo crtica aser enfrentada por incentivos pblicos a existncia de um grande lapso de tem-po entre o plantio e a colheita. Alm disso, torna-se essencial intervir na cadeiaprodutiva da madeira tropical no Brasil, que segue organizada de forma predatriae arcaica, penalizando os produtores que fazem plantios ou que pretendem mane-jar de forma sustentvel os seus estoques naturais.

    ConclusesOs indicadores ecolgicos dos SAFs analisados mostraram um desempenho

    importante em relao ao entorno imediato, considerando conectividade, espcies

    nativas conservadas e indcios de utili-zao pela fauna nativa. Esse desempe-nho se d tambm para a taxa anual dedesmatamento, cobertura orestal per-centual, conectividade e fragmentaode vegetao e diversidade de espciesarbreas nativas no sistema de uso da

    terra, fatores importantes para as metasbrasileiras de Reduo de Emisso deGases Efeito Estufa, Desmatamento eDegradao Florestal (REDD).

    Do ponto de vistaeconmico, os SAFs

    mostraram-se viveise, em vrias situaes,

    como as principais

    fontes de renda, almde serem competi-tivos em relao ao

    custo de oportunidadeda mo de obra regio-nal. A combinao de

    incentivos econmi-cos com conservao

    e uso sustentvel dosolo e de recursos na-turais que inclua pa-

    gamento por serviosambientais pode ser

    desejvel.

    Finalmente, o estudo identicoulacunas de informao e demandas paraaprofundamento de conhecimentos,

    bem como parmetros de investimentosnecessrios para recuperar reas ou au-mentar a proporo de sistemas comoos SAFs no sistema geral de uso da terrapara os casos analisados, e aponta para opapel essencial que o programa PPG7 eo projeto PD/A (bem como suas orga-nizaes parceiras e implementadoras)tiveram como fomentadores de experi-ncias demonstrativas de integrao deagricultura, combate pobreza e con-servao da biodiversidade.

    Jorge Luiz VivanPDA/MMA

    [email protected]

    Caf agroorestal na Serra do Baturit CE

    Foto:JorgeVivan

  • 7/30/2019 arvores na agricultura

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    O potencial agroecolgico

    dos sistemas agroorestaisna Amrica LatinaMiguel A Altieri e Clara I. Nicholls

    A

    agricultura na AmricaLatina atravessa uma

    crise sem precedentes,marcada por altos nveis de pobrezarural, insegurana alimentar, migrao,degradao ambiental, intensicada pe-las mudanas climticas, e instabilidadeenergtica e nanceira. O modelo agr-cola industrial exportador, a expansodas monoculturas de transgnicos eagrocombustveis e o uso intensivo deagrotxicos esto diretamente ligadosa esse quadro desolador. Torna-se ur-gente, portanto, promover um novo pa-radigma agrcola que garanta alimentos

    sucientes, saudveis e acessveis para acrescente populao mundial.

    O desao imediato de nossa gerao transformar a agricultura industrial einiciar uma transio para sistemas alimentares que no dependam do petrleo, que

    sejam biodiversos, resilientes s mudanas climticas e, ao mesmo tempo, fortale-am a produo domstica. Diante das condies energticas, climticas e nan-ceiras que se expressam na regio, a Agroecologia se apresenta como a alternativamais vivel para gerar sistemas capazes de produzir conservando a biodiversidade ea base de recursos naturais, alm de prestar servios ambientais sem depender dopetrleo nem de insumos caros. Uma das importantes fontes de conhecimento daqual se alimenta a Agroecologia a agricultura camponesa-indgena que prevalecena Amrica Latina, onde milhares de agricultores ainda cultivam milhes de hectarescom sistemas agrcolas diversicados e tecnologia tradicional ancestral. Exemplosdesse legado cultural so os sistemas agroorestais (SAFs), que constituem um mo-delo ecolgico promissor, uma vez que promovem a biodiversidade, prosperam semagroqumicos, com pouca energia fssil, assim como comportam a produo de cul-turas, rvores e animais durante todo o ano (KOOHAFKAN; ALTIERI, 2010). Existe

    na Amrica Latina grande diversidade de sistemas agroorestais e silvipastoris, mastalvez os mais conhecidos sejam os SAFs de cacau e caf. Eles so diversicados com

    Produo de forragem em sistemas agroorestais, Colmbia

    Foto:CarlosPineda

  • 7/30/2019 arvores na agricultura

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    32Agriculturas v. 8 - n. 2 junho de 2011

    rvores que fornecem vrios nveis de sombra e, dessa forma,possibilitam uma produo estvel de frutas, lenha, forragem,etc., mesmo diante das instabilidades climticas, sem depen-der de insumos externos, exigindo baixos custos de produ-o e, ao mesmo tempo, preservando os recursos naturais dapropriedade, tais como solo, gua e biodiversidade. Tambmno se pode ignorar a prevalncia dos sistemas silvipastoris e

    seus servios ecolgicos que recobrem milhes de hectaresde pastagens diversicadas com rvores leguminosas.

    Benefcios ecolgicos dos SAFs

    Nos SAFs, os componentes biolgicos do solo tantoos de cima como os de baixo da terra interagem continua-mente. O resultado dessas sinergias a otimizao de proces-sos ecolgicos fundamentais para o funcionamento dos SAFs(controle biolgico, fertilidade do solo, polinizao, etc.) e deoutras funes que hoje so consideradas servios ambientaiscujos benefcios extrapolam as reas onde os SAFs esto im-plantados (JOSE, 2009):

    Melhoria da qualidade e fertilidade do solo:Os efeitospositivos queas espciesde leguminosas produzem nos SAFsj so bem conhecidos.Mas as rvoresque no xam nitro-gniobiologicamentetambm contribuem para a melhoria daestrutura do solo e das condies qumicas ebiolgicas, aoadicionar grandes quantidades dematria orgnica ao soloe reciclar nutrientes. Muitas rvoresexploram nutrientes decamadas profundasdo soloe os deposita sobre a superfciena forma dehmus.

    Conservao da gua: O equilbrio hdrico de uma micro-bacia ou de uma determinada propriedade rural sofre a inu-

    ncia das caractersticas funcionais e estruturais das rvores.

    Controle de pragas e doenas: A composio orstica dealta diversidade protege os SAFs da incidncia de pragas e do-enas. A incorporao de rvores com fenologia e idades dife-rentes, mediante plantios escalonados, pode fornecer abrigo esuplemento nutricional constante (plen, nctar e hospedeirosalternativos) para os inimigos naturais, uma vez que aumenta adisponibilidade de recursos ao longo do tempo.

    Sequestro de carbono: A quantidade de carbono seques-trado com a incorporao de rvores e arbustos nos SAFs signicativamente elevada quando comparada com a de uma

    monocultura de plantas anuais ou pastagens.

    Conservao da biodiversidade: Os SAFs contribuempara a conservao da biodiversidade ao proporcionar habi-tat para muitas espcies silvestres e por reduzir as taxas deconverso de habitats naturais em parcelas cultivadas comespcies anuais. A proximidade dos SAFs com orestas prim-rias ou secundrias tambm inuencia os nveis de biodiversi-dade, pois tais sistemas servem como meios propcios para acolonizao de fauna.

    SAFs e polinizadores: Muitos agricultores que manejamSAFs dependem de populaes de abelhas silvestres para po-

    linizar suas rvores e colheitas. Os SAFs diversicados pro-porcionam amplas oportunidades para preservar e estimularuma srie de espcies silvestres polinizadoras ao oferecerores e locais de nidicao.

    As vantagens dos SAFs

    Os SAFs apresentam muitas vantagens, tanto em termosambientais como econmicos, quando comparados c