Artigos de Marcelo Soares Andrade Presidente Da Ong Humanizarte

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CULTURA A importância da arte para a vida e formatação de políticas públicas MARCELO SOARES DE ANDRADE Sempre acreditei que a melhor maneira de se fazer política cultural é por meio de oficinas artísticas. Nas oficinas, as pessoas se envolvem diretamente com a arte, aumentam o poder de criatividade e se conhecem melhor. Arte é a apuração do olhar que vem da cultura e cultura é a vida pulsante. Por pensar assim, em 1993, foi criado o Centro Experimental de Artes da Prefeitura Municipal de Viçosa, quando eu era Secretário de Cultura da cidade. Eram oferecidas aos alunos de escolas públicas oficinas artísticas que estimulavam o aprendizado, a inclusão e a formação humanística. O sucesso foi tanto que, em 2001, a TIM resolveu patrocinar o projeto por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura, ampliando-o para todo o estado de Minas Gerais. Hoje, cerca de cinco mil crianças e adolescentes da rede pública de ensino de 12 cidades mineiras participam anualmente das atividades desenvolvidas pelo Programa TIM ArtEducAção. Ao todo, já foram quase 50 mil beneficiados. Tudo isso foi resultado de um sonho compartilhado. Criamos uma política pública de resultado de longo prazo e fizemos o Programa acontecer por meio de parceiras com prefeituras locais. Quando temos uma ideia, é preciso acreditar e desenvolvê-la. Assim fizemos. E para que um projeto artístico dê certo, deve-se ter paciência, organização e profissionais competentes envolvidos. Um dos grandes problemas da arte e da cultura no Brasil, é que muitas pessoas ao invés de agir, preferem criticar, reclamar e esperar pelo patrocínio logo de cara. Os parceiros só surgem depois que bons resultados são gerados, empresários geralmente procuram pessoas e programas vencedores. É necessário sabermos diferir arte de entretenimento. Enquanto a arte tem um compromisso com a transformação cultural da sociedade e com a estética, o entretenimento se preocupa apenas com o lazer e o lucro. Projetos culturais provocam mudanças significativas na vida das pessoas ao longo de um tempo e eventos se dissolvem instantaneamente. As oficinas artísticas do TIM ArtEducAção sempre se preocuparam com a apuração da estética artística e com a reflexão para a transformação. Além disso, o Programa sempre deu importância à inovação. A novidade deste ano, por exemplo, é a oficina de ArtEducAção Digital. Vivemos em um mundo que nos coloca em contato com milhares de informações a todo instante, mas não temos tempo de refletir sobre elas. O objetivo da nova oficina é justamente provocar essa reflexão por meio da produção de conteúdos interpretativos para os meios digitais. Crianças e jovens vão poder expandir seus olhares artísticos através da leitura e produção de vídeos, fotografias, documentários e outros. Um projeto artístico também deve sempre respeitar a cultura de um

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CULTURA

A importância da arte para a vida e formatação de políticas públicas

MARCELO SOARES DE ANDRADE

Sempre acreditei que a melhor maneira de se fazer política cultural é por meio de oficinas

artísticas. Nas oficinas, as pessoas se envolvem diretamente com a arte, aumentam o poder de

criatividade e se conhecem melhor. Arte é a apuração do olhar que vem da cultura e cultura é a

vida pulsante. Por pensar assim, em 1993, foi criado o Centro Experimental de Artes da

Prefeitura Municipal de Viçosa, quando eu era Secretário de Cultura da cidade. Eram

oferecidas aos alunos de escolas públicas oficinas artísticas que estimulavam o aprendizado, a

inclusão e a formação humanística. O sucesso foi tanto que, em 2001, a TIM resolveu

patrocinar o projeto por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura, ampliando-o para todo o

estado de Minas Gerais. Hoje, cerca de cinco mil crianças e adolescentes da rede pública de

ensino de 12 cidades mineiras participam anualmente das atividades desenvolvidas pelo

Programa TIM ArtEducAção. Ao todo, já foram quase 50 mil beneficiados.

Tudo isso foi resultado de um sonho compartilhado. Criamos uma política pública de resultado

de longo prazo e fizemos o Programa acontecer por meio de parceiras com prefeituras locais.

Quando temos uma ideia, é preciso acreditar e desenvolvê-la. Assim fizemos. E para que um

projeto artístico dê certo, deve-se ter paciência, organização e profissionais competentes

envolvidos. Um dos grandes problemas da arte e da cultura no Brasil, é que muitas pessoas ao

invés de agir, preferem criticar, reclamar e esperar pelo patrocínio logo de cara. Os parceiros

só surgem depois que bons resultados são gerados, empresários geralmente procuram

pessoas e programas vencedores.

É necessário sabermos diferir arte de entretenimento. Enquanto a arte tem um compromisso

com a transformação cultural da sociedade e com a estética, o entretenimento se preocupa

apenas com o lazer e o lucro. Projetos culturais provocam mudanças significativas na vida das

pessoas ao longo de um tempo e eventos se dissolvem instantaneamente.

As oficinas artísticas do TIM ArtEducAção sempre se preocuparam com a apuração da estética

artística e com a reflexão para a transformação. Além disso, o Programa sempre deu

importância à inovação. A novidade deste ano, por exemplo, é a oficina de ArtEducAção Digital.

Vivemos em um mundo que nos coloca em contato com milhares de informações a todo

instante, mas não temos tempo de refletir sobre elas. O objetivo da nova oficina é justamente

provocar essa reflexão por meio da produção de conteúdos interpretativos para os meios

digitais. Crianças e jovens vão poder expandir seus olhares artísticos através da leitura e

produção de vídeos, fotografias, documentários e outros.

Um projeto artístico também deve sempre respeitar a cultura de um povo. Afinal, como diz o

antropólogo brasileiro Roque de Barros Laraia, no livro “Cultura um conceito antropológico”, “ O

modo de ver o mundo, as apreciações de ordem moral e valorativa, os diferentes

comportamentos sociais e mesmo as posturas corporais são produtos de uma herança cultural,

ou seja, o resultado da operação de uma determinada cultura”. Portanto, antes de introduzir

novos elementos artísticos, é preciso conhecer as manifestações culturais locais já existentes.

A antropóloga norte-americana Ruth Benedict escreveu em seu livro “O crisântemo e a espada”

que “a cultura é como uma lente através da qual o homem vê o mundo”. Arte é a apuração do

que vem da cultura e cultura é a vida. Juntas, elas têm o poder de humanizar a sociedade, de

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resgatar a autoestima e promover o exercício da cidadania. Por isso, quando se tem um projeto

cultural, é preciso acreditar em seu potencial transformador e catalisador para o universo da

cultura.

Marcelo Soares de Andrade é ator, diretor de teatro, produtor cultural, presidente da

ONG Humanizarte e idealizador do programa TIM ArtEducAção.