Artigo_1 (1)

15
II.ª Série - nº 4 - Jun. 2007 ARTIGO Avaliação Inicial de Enfermagem em Linguagem CIPE ® segundo as Necessidades Humanas Fundamentais Nursing initial evaluation in ICNP ® language according to the basic human needs Cláudia Maria Antunes Rego Simões* João Filipe Fernandes Lindo Simões** Resumo O presente artigo resulta de um exercício reflexivo realizado pelos autores na continuidade do trabalho realizado em colaboração com as equipas de enfermagem dos serviços de Medicina do Hospital Infante D. Pedro, E.P.E. – Aveiro. Centra-se na área dos Sistemas de Informação e Documentação em Enfermagem, mais propriamente na área dos registos informatizados de Enfermagem utilizando Linguagem da Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE ® ) e seguindo as orientações teóricas do Modelo de Cuidados de Virgínia Henderson. A preocupação inicial prendeu-se com a necessidade de criar um documento de avaliação inicial de enfermagem das pessoas doentes em linguagem CIPE ® , segundo as Necessidades Humanas Fundamentais, que permitisse posteriormente ser adaptado ao Sistema de Apoio à Prática de Enfermagem (SAPE ® ). Neste sentido, desenvolveram-se diversas reflexões na tentativa de converter a nomenclatura actualmente usada na definição das Necessidades Humanas Fundamentais em linguagem CIPE ® . Das reflexões realizadas, concluiu-se que as Necessidades Humanas Fundamentais segundo Virgínia Henderson convertidas em linguagem CIPE ® seriam: respiração e circulação; autocuidado: beber e comer; eliminação; autocuidado: actividade física; autocuidado: compor- tamento sono – repouso; autocuidado: vestuário; autocuidado: higiene/proteger os tegumentos; consciência, emoção e precaução; comunicação, sensação e interacção social; crença; interacção de papéis/bem- -estar; autocuidado: actividade recreativa; aprendizagem. Palavras-chave: Avaliação Inicial; Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem; Necessidades Humanas Fundamentais. * Licenciada em Enfermagem, Enfermeira Graduada no serviço de Medi- cina 1 do Hospital Infante D. Pedro, E.P.E – Aveiro **Licenciado em Enfermagem, Mestre em Supervisão, Doutorando em Tecnologias da Saúde, Assistente do 2º Triénio na Escola Superior de Saúde da Universidade de Aveiro Abstract The present paper results of a reflective exercise carried through by the authors in continuity of the work conducted with the contribution of the nursing teams of the services of Medicine of the Hospital Infante D. Pedro, E.P.E. - Aveiro. It is centred in the area of the Systems of Information and Documentation in Nursing, more properly in the area of the informatics registers of Nursing using Language of the International Classification of Nursing Practice (ICNP ® ) and following the theoretical orientations of the Model of Cares of Virginia Henderson. The initial concern had to do with the necessity to create a document of initial evaluation of nursing of the sick people in language ICNP ® , according to the Basic Human Needs, who later allowed being adapted to the System of Support to the Nursing Practice (SAPE ® ). In this direction, diverse reflections in the attempt had been developed to convert the currently used nomenclature into the definition of the Basic Human Needs in language ICNP ® . Of the carried through reflections, one concluded that the Basic Human Needs beings as Virginia Henderson converted into language ICNP ® would be: breath and circulation; self-care: to drink and to eat; elimination; self-care: physical activity; self-care: behaviour sleep - rest; self-care: clothes; self-care: hygiene/to protect the teguments; conscience, emotion and precaution; communication, sensation and social interaction; belief; papers interaction/ welfare; self-care: recreate activity; learning. Key-words: Initial evaluation; International classification of nursing practice; Basic human needs. Revista Recebido para publicação em 09-08-06 Aceite para publicação em 09-01-07

Transcript of Artigo_1 (1)

Page 1: Artigo_1 (1)

II.ª Série - nº 4 - Jun. 2007

A R T I G O

Avaliação Inicial de Enfermagemem Linguagem CIPE® segundoas Necessidades Humanas Fundamentais

Nursing initial evaluation in ICNP® language according to the basichuman needs

Cláudia Maria Antunes Rego Simões*

João Filipe Fernandes Lindo Simões**

Resumo

O presente artigo resulta de um exercício reflexivorealizado pelos autores na continuidade do trabalhorealizado em colaboração com as equipas de enfermagemdos serviços de Medicina do Hospital Infante D. Pedro,E.P.E. – Aveiro. Centra-se na área dos Sistemas deInformação e Documentação em Enfermagem, maispropriamente na área dos registos informatizados deEnfermagem utilizando Linguagem da ClassificaçãoInternacional para a Prática de Enfermagem (CIPE®)e seguindo as orientações teóricas do Modelo deCuidados de Virgínia Henderson.A preocupação inicial prendeu-se com a necessidade decriar um documento de avaliação inicial de enfermagemdas pessoas doentes em linguagem CIPE®, segundo asNecessidades Humanas Fundamentais, que permitisseposteriormente ser adaptado ao Sistema de Apoioà Prática de Enfermagem (SAPE®). Neste sentido,desenvolveram-se diversas reflexões na tentativa deconverter a nomenclatura actualmente usada nadefinição das Necessidades Humanas Fundamentais emlinguagem CIPE®.Das reflexões realizadas, concluiu-se que as NecessidadesHumanas Fundamentais segundo Virgínia Hendersonconvertidas em linguagem CIPE® seriam: respiraçãoe circulação; autocuidado: beber e comer; eliminação;autocuidado: actividade física; autocuidado: compor-tamento sono – repouso; autocuidado: vestuário;autocuidado: higiene/proteger os tegumentos;consciência, emoção e precaução; comunicação, sensaçãoe interacção social; crença; interacção de papéis/bem--estar; autocuidado: actividade recreativa; aprendizagem.

Palavras-chave: Aval iação Inicia l ; Class i f icaçãoInternacional para a Prática de Enfermagem;Necessidades Humanas Fundamentais.

* Licenciada em Enfermagem, Enfermeira Graduada no serviço de Medi-cina 1 do Hospital Infante D. Pedro, E.P.E – Aveiro**Licenciado em Enfermagem, Mestre em Supervisão, Doutorando emTecnologias da Saúde, Assistente do 2º Triénio na Escola Superior de Saúdeda Universidade de Aveiro

Abstract

The present paper results of a reflective exercise carriedthrough by the authors in continuity of the workconducted with the contribution of the nursing teamsof the services of Medicine of the Hospital Infante D.Pedro, E.P.E. - Aveiro. It is centred in the area of theSystems of Information and Documentation inNursing, more properly in the area of the informaticsregisters of Nursing using Language of the InternationalClassification of Nursing Practice (ICNP®) andfollowing the theoretical orientations of the Model ofCares of Virginia Henderson.The initial concern had to do with the necessity tocreate a document of initial evaluation of nursing ofthe sick people in language ICNP®, according to theBasic Human Needs, who later allowed being adaptedto the System of Support to the Nursing Practice(SAPE®). In this direction, diverse reflections in theattempt had been developed to convert the currentlyused nomenclature into the definition of the BasicHuman Needs in language ICNP®.Of the carried through reflections, one concluded thatthe Basic Human Needs beings as Virginia Hendersonconverted into language ICNP® would be: breath andcirculation; self-care: to drink and to eat; elimination;self-care: physical activity; self-care: behaviour sleep -rest; self-care: clothes; self-care: hygiene/to protect theteguments; conscience, emotion and precaution;communication, sensation and social interaction; belief;papers interaction/ welfare; self-care: recreate activity;learning.

Key-words: In i t ia l eva luat ion; Inte rnationa lclassification of nursing practice; Basic humanneeds.

Revista

Recebido para publicação em 09-08-06Aceite para publicação em 09-01-07

Page 2: Artigo_1 (1)

Introdução

Os registos de Enfermagem têm vindo a reve-lar-se fonte de preocupações, reflexão e debatenos nossos dias, pelo contexto de transforma-ção e mudança da profissão de Enfermagem.O percurso evolutivo da profissão tem vindoa transportar o exercício profissional de umalógica inicial essencialmente executiva parauma lógica progressivamente mais conceptual,o que alarga a variedade de aspectos a docu-mentar, quer pelo progressivo alargamento doleque funcional, quer pela necessidade de nãocircunscrever a documentação à lógica execu-tiva inicial (Silva, 2001). Sendo assim, consi-deramos que do ponto de vista conceptual,evolui-se da ênfase dada à produção de provadocumental da realização da acção, para a cri-ação de informação de consumo de tomada dedecisão tendo em vista a continuidade decuidados, o que na nossa perspectiva se vemreflectir sobre a estrutura da informação e,consequentemente sobre os aspectos da auto-nomia da Enfermagem (Ângelo et al, 1995),conduzindo a um aumento da qualidade doscuidados e contribuindo para a produção deconhecimento científico em Enfermagem.

A grande importância que a informaçãotem para a Enfermagem é, hoje em dia,consensual na nossa comunidade profissional(Jesus, 2006). Não apenas no que se refere àsfinalidades legais e éticas e quando é necessá-rio tomar decisões clínicas, mas também nomomento de optar quanto à continuidade doscuidados, quanto à qualidade dos mesmos,quanto à gestão, à formação, à investigação,e quando é necessário assumir uma posiçãopolítica. Porém, nem sempre a documentaçãodo processo de tomada de decisão clínica deenfermagem se verifica fácil. A razão deste factoestá na natureza distinta deste nosso processode decisão, que decorre enquanto interagimoscom a pessoa doente, e da respectiva forma-lização nos registos.

Os registos em si mesmo, propõem me-lhorar a comunicação entre todos os que

cuidam a pessoa, proporcionando uma aten-ção comum para os problemas desta(Rodrigues, 1998). Contudo, muitas vezes,constatamos que os registos de enfermagemque são efectuados não reflectem os cuidadosque foram prestados às pessoas, nem tornampossível planear os cuidados a prestar, nãoservindo assim de elo de ligação, nem de meiode comunicação, quer intra quer inter equi-pas. Associada a esta constatação está a nãoutilização ou a utilização deturpada, dosmodelos de cuidados de enfermagemadoptados pelas instituições de saúde.

Conscientes desta problemática e dacrucial importância dos registos de enferma-gem para a produção de conhecimento cientí-fico em Enfermagem, as instituições de saúdee as equipas de enfermagem destas, têmvindo a desenvolver esforços na tentativade implementar sistemas de informaçãoe documentação em enfermagem utilizandoa Classificação Internacional para a Prática deEnfermagem (CIPE®), que facilitem os registospor parte dos profissionais de enfermageme que permitam avaliar adequadamenteos ganhos em saúde.

Neste contexto propomo-nos, ao longodeste artigo, dar a conhecer o resultado dasreflexões que têm sido realizadas pelos auto-res, na continuidade do trabalho que desenvol-veram em conjunto com a equipa deenfermagem dos serviços de Medicina doHospital Infante D. Pedro, E.P.E. – Aveiro,no sentido de elaborar um documento deavaliação inicial de enfermagem utilizandolinguagem CIPE®, consistente com as 14Necessidades Humanas Fundamentais (NHF)enunciadas por Virgínia Henderson no seuModelo de Cuidados de Enfermagem.Na realização desta conversão optou-se porutilizar a Classificação Internacional para a Prá-tica de Enfermagem (CIPE/ICNP) – Beta 2dado que é a sessão actualmente utilizadano Sistema de Apoio para a Prática de Enfer-magem (SAPE®), permitindo uma aplica-ção a curto prazo. Assim, após um breve

10

Page 3: Artigo_1 (1)

enquadramento teórico sobre os sistemas deinformação e documentação em enfermageme sobre a importância dos registos para a qua-lidade dos cuidados, apresentar-se-ão os resul-tados da conversão dos dados da avaliaçãoinicial segundo as NHF em linguagem CIPE®.Uma breve síntese conclusiva fecha o artigo.

1– Os sistemas de informação e documen-tação em enfermagem

Se como enfermeiros queremos que a nossaactividade profissional não seja meramenteempírica, é necessário que justifiquemostodos os nossos actos que se prendemdirectamente com a pessoa, só possível atravésdo registo sistemático das nossas apreciaçõese decisões fundamentadas num modelo decuidados de enfermagem sólido, credívele internacionalmente aceite. Salientamosque a utilização de registos contribui segu-ramente para o planeamento, aplicação e ava-liação dos cuidados prestados, tornando-osindividualizados, contínuos e progressivos. Poroutro lado, reforça a autonomia e a responsa-bilidade do enfermeiro, contribuindo paraa segurança, qualidade e satisfação, querde quem presta cuidados como de quemos recebe (Costa, 1994).

Outro aspecto prende-se ainda com anecessidade, cada vez mais sentida, de gerirbem os recursos, que vem acelerar o movimen-to da informatização na saúde. Hoje, o pri-meiro recurso a gerir é a informação e assim,os Sistemas de Informação em Enfermagem(SIE)1 têm sido alvo de investigação e refle-xão, para que a natureza peculiar dos cuida-dos de enfermagem não fique invisível nossistemas de informação do futuro. Contudo,de acordo com Jesus (2006, p.1):”verifica-seque a visibilidade dos cuidados de enferma-gem nas estatísticas, nos indicadores e nosrelatórios oficiais de saúde é, de algum modo,reduzida, impossibilitando, portanto, a descri-ção e a verificação do impacto dos mesmosnos ganhos em saúde das populações.”

Concordamos com Silva (2001, p.23)quando este refere que “o aspecto da visibili-dade social do exercício profissional dos enfer-meiros assume particular importância numaárea como a da saúde onde se sente, cada diade forma mais veemente, os esforços decontenção de despesas. Reduz-se no que seentende ser dispensável, não se poupa no queé contributo relevante para os ganhos em saú-de das populações (…)”. De acordo com omesmo autor os enfermeiros reconhecem aimportância do seu contributo para a quali-dade fornecida pelos serviços de saúde àcomunidade. No entanto, o autor ainda sequestiona se quem decide também conhece essereal valor. Citando Clark (1996), Silva (2001,p.23) argumenta que “o valor da Enfermagemnão é mais auto evidente, pelo que deve serdemonstrado aos que não tendo um entendi-mento que deriva da prática têm poder paraafectar ou determinar a natureza da enferma-gem através de processos políticos e alocaçãode recursos”.

Apesar de não ser o foco de atenção desteartigo, é importante referir que a visibilidadesocial do exercício profissional dos enfermei-ros, e para efeitos de inclusão dessa informa-ção nas tomadas de posição em saúde, sóé viável através da produção de indicadores quesão gerados a partir da informação documen-tada pelos mesmos ao nível da prestação decuidados de enfermagem (Silva, 2001).

De facto, os enfermeiros constituem omaior grupo profissional da área da saúde, sen-do por conseguinte, o grupo que mais deci-sões toma e mais actos pratica. Pela naturezae especificidade das funções que exercem,os enfermeiros são os que mais informação

1 SIE– É parte dos sistemas de informação na saúde e “refere o esforço deanálise, formalização e modelação dos processos de recolha e organizaçãodos dados, e de transformação dos dados em informação e conhecimento– promovendo decisões baseadas no conhecimento empírico e naexperiência– tendo em vista alargar o âmbito e aumentar a qualidade da práticaprofissional de enfermagem.” (Goosen, 2000, p.53). Actualmente, osuporte mais frequente dos SIE é o papel, no entanto, previsivelmente, nofuturo os SIE tenderão a utilizar suportes electrónicos. É do SIE que se

extrai a documentação de enfermagem.

11

Page 4: Artigo_1 (1)

clínica produzem, processam, utilizam edisponibilizam nos sistemas de informaçãoe de documentação sobre a saúde dos cida-dãos. Para que essa informação seja aceite tor-na-se necessário que os enfermeiros utilizemna prestação de cuidados uma metodologiacientífica, isto é, os enfermeiros ao planea-rem os cuidados a prestar, devem-no fazerde uma forma lógica e mais apropriada àsituação através da utilização dos modelosteóricos de Enfermagem e aplicação do pro-cesso de Enfermagem (Costa, 1989).

Recentemente, a Ordem dos Enfermei-ros assumiu que a questão dos Sistemas deInformação em Enfermagem é uma questãoestratégica. Neste sentido, Sousa (2006)refere que: “A primeira razão é o facto de que-rermos objectivamente investir em ganhosem saúde.” Para tal, defende que é necessá-rio o envolvimento de todos os profissionaisque para eles contribuem, com vista a iden-tificar a contribuição da Enfermagem paraestes ganhos em saúde; o que não será possí-vel sem um sistema de informação que per-mita garantir a identificação dos resultadosdos cuidados de enfermagem. Acrescenta ain-da que esta questão não diz apenas respeitoaos enfermeiros nem tão pouco a cada pro-fissional per si, mas sim à responsabilida-de e ao mandato social da profissão no querespeita aos cuidados de saúde.

A segunda razão apontada por Sousa(2006) advém do facto de não nos poder-mos alhear das alterações que neste momen-to existem em relação às orientações de ges-tão das instituições de saúde. O que signi-fica que sem um sistema que evidencie oscuidados de enfermagem, facilmente ficare-mos alheios ao financiamento e se correrá orisco de se confundirem cuidados de enfer-magem com actos médicos.

A terceira razão pela qual a Ordem dosEnfermeiros considera que a questão dossistemas de informação em enfermagemé uma questão estratégica é pelo facto deentender que a evolução histórica da Enfer-

magem tem demonstrado que a sua mais--valia nos cuidados de saúde há-de ser cadavez maior, à medida que vamos sendo capazesde desenvolver mais o nosso conhecimentopróprio, ou seja, o desenvolvimento cientí-fico da profissão. Portanto, também nestesentido, os sistemas de informação, que per-mitirão a utilização de uma linguagem uni-formizada para a prática dos cuidados de en-fermagem, serão um contributo essencial paraa investigação. Consequentemente, serão umcontributo para o enriquecimento da disci-plina enquanto ciência, que permitirá melho-ria nos cuidados aos cidadãos (Sousa, 2006).

2 – Os registos de enfermageme a qualidade

Uma política de saúde centrada na Qua-lidade é um desafio assumido com clareza edeterminação pelo Ministério da Saúde, aoidentificar como uma estratégia prioritária o“Desenvolvimento Continuado da Quali-dade dos Cuidados de Saúde”, na qual sereafirma que a enfermagem tem como finali-dade ajudar a desenvolver as potencialidadesdo indivíduo, família e comunidade deforma a aumentar as suas capacidades nasatisfação das suas necessidades e no desen-volvimento de mecanismos de adaptação àsmutações da vida (Costa, 2002). A mesmaInstituição defende que os cuidados deenfermagem são um conjunto organizadode acções que se dirigem a um indivíduo/família/comunidade, qualquer que seja a suasituação no continuum concepção/morte.Centram-se numa relação interpessoal, enfer-meiro /indivíduo/ família/ comunidade, quevisa o desenvolvimento de potencialidadesde forma a aumentar a capacidade de satisfa-ção das necessidades e os mecanismos deadaptação às mutações de vida (Costa,2002).

Podemos assim concluir que a qualidadesurge associada às necessidades das pessoas.A pessoa espera dos serviços de saúde a iden-

12

Page 5: Artigo_1 (1)

tificação das causas das suas doenças, o alíviodo sofrimento e a restituição das suas capa-cidades físicas, intelectuais e funcionais, coma consequente reintegração social (Thibau-deau, 1995). Neste sentido pensamos que aenfermagem ocupa um papel preponde-rante pois intenta detectar as necessidadesda pessoa para, substituindo-a, ajudando-ae ensinando-a a reconduzir ao seu meiofamiliar, profissional e social com o máximode capacidades.

Consideramos assim, e de acordo comAlbuquerque (1990) e Carvalho, Duarte eQueirós (1991), que a qualidade dos cuida-dos de Enfermagem garante-se, primeiro,com a idoneidade científica e técnica dos pro-fissionais que executam as acções orientadaspara a restituição da saúde ou para evitar queesta se deteriore, e segundo, com a capacida-de tecnológica da instituição que proporcio-na as condições para resolver necessidadesmais ou menos complexas. O que se vai ga-rantir é a prestação de intervenções relevan-tes e eficazes, no campo da saúde, que este-jam de acordo com os padrões de qualidade.O enfermeiro, como membro da equipa desaúde é co-responsável na qualidade de aten-dimento que é dispensado às populações, masao mesmo tempo, a enfermagem comogrupo profissional autónomo, deve avaliarcom critérios profissionais objectivos a qua-lidade dos seus cuidados, a eficácia e eficiên-cia dos mesmos, bem como, os seus possí-veis efeitos sobre a população, obrigando-sedesta forma a assumir a sua própria respon-sabilidade (Oliveira, 1998).

Sabendo que o exercício da enfermagemé um processo de interacção entre enfermei-ros e pessoas no qual o enfermeiro identificaas necessidades da pessoa, define objectivos,selecciona uma estratégia de acção e avalia osresultados, este processo de garantia dequalidade de cuidados de enfermagem sópoderá considerar-se instituído com aimplementação plena de planos de cuidados(Ângelo et al, 1995). De acordo com

Albuquerque (1990, p.265), “o plano de cui-dados, formalizando o processo de enferma-gem, é o tipo ideal de suporte de informaçãopara esse fim”. Assim, devemos ter em consi-deração que a planificação de cuidados sópoderá contribuir para a avaliação de cuida-dos se se basear numa colheita de dados/ava-liação inicial exaustiva, completa e univer-salmente aceite.

A avaliação inicial serve assim paradocumentar a planificação de cuidados doenfermeiro, enriquecendo, fundamentando,justificando e sustentando as intervenções deenfermagem e o estabelecimento de priori-dades, sendo que para a efectuar, o enfer-meiro terá que realizar uma avaliação da pes-soa mas também uma pesquisa de todos osrecursos ao seu dispor incluindo a família(Rodrigues, 1998). Esta avaliação inicial teráque ser realizada à luz de um Modeloconceptual de Enfermagem para se integrarnuma filosofia comum do Processo deEnfermagem e não surgir descontextualizadada linha orientadora da prestação de cuida-dos de enfermagem de uma dada institui-ção. Neste sentido, e enquadrado na con-jectura actual em que se preconiza a melhoriacontínua do atendimento das pessoas querecorrem aos serviços de saúde, assim comoa mudança na Administração Públicacriando sistemas mais céleres e eficazes,surge a necessidade de reformulação do Sis-tema de Registo das Instituições Hospitala-res e nomeadamente os de Enfermagem, uti-lizando para tal as tecnologias informáticasda comunicação.

Mas aquando destas reformulações enomeadamente na utilização do Sistema deApoio para a Prática de Enfermagem (SAPE®)utilizando linguagem CIPE®, deparamo-noscom diversas dificuldades na adequação dosistema ao Modelo de cuidados adoptadopela instituição, pelo que sentimos necessi-dade em tentar adequar a terminologiausualmente utilizada a esta nova Classifi-cação.

13

Page 6: Artigo_1 (1)

3 – Avaliação inicial de enfermagem emlinguagem CIPE®

Como foi referido anteriormente, nestaparte sintetizam-se os resultados das refle-xões que foram realizadas pelos autores, emcontinuação do trabalho que desenvolveramem conjunto com outros colegas dos Servi-ços de Medicina do Hospital Infante D. PedroE.P.E. – Aveiro. Na conversão das NHF emlinguagem CIPE® foi utilizada a sessão Beta2 dado que é a sessão actualmente utilizadano SAPE® e noutros sistemas de informação,permitindo uma aplicação a curto prazo destaconversão.

Neste contexto considerámos Necessi-dade Humana Fundamental como sendouma necessidade vital que a pessoa devesatisfazer a fim de conservar o seu equilíbriofísico, psicológico, social ou espiritual e deassegurar o seu desenvolvimento (Phaneuf,2001).

A informação foi organizada em diversosquadros, seguindo as NHF enunciadas porVirgínia Henderson, para melhor com-preensão da conversão em Linguagem CIPE®.De referir que toda a terminologia utilizadanos quadros está em linguagem CIPE®.

Durante a conversão em linguagemCIPE® houve necessidade de por vezes utili-zar mais que um termo da linguagem classi-ficada para denominar as NHF. Os registosde todos os sinais vitais não são incluídosnos quadros que se seguem para não existirduplicação de registos uma vez que sãoregistados separadamente.

No presente artigo, e de acordo comPhaneuf (2001), entendemos avaliação ini-cial como um processo organizado e siste-mático de busca e recolha de informação feitaa partir de diversas fontes a fim de descobriras alterações na satisfação das diferentes ne-cessidades da pessoa, de identificar assim osseus problemas, de conhecer os seus recur-sos pessoais e de planificar intervenções deenfermagem susceptíveis de a ajudar. Aindade acordo com a mesma autora, tem comoobjectivos a identificação de expectativas enecessidades mais imediatas da pessoa, iden-tificação das suas reacções face ao seuproblema de saúde, determinação de modi-ficações do estado de saúde da pessoa, des-coberta de factores de risco que podem cons-tituir uma ameaça para ela, conhecimentode hábitos de vida e recolha de informaçãoque permita elaborar diagnósticos de enfer-magem.

No registo da informação recolhida in-cluiu-se o item Não se aplica. Este item surgeno âmbito do processo de acreditação daqualidade e o seu preenchimento deve serrealizado ao fim de 24h quando não se conse-guir obter a informação relativa a esse item,pelo enfermeiro responsável pela pessoa ousempre que a situação não se aplique à pessoa(ex. quando a pessoa não ingere bebidasalcoólicas atribui-se este item aos hábitosalcoólicos).

De seguida passamos a apresentar a ava-liação inicial em linguagem CIPE® por NHF,correspondendo cada quadro a uma NHFsegundo o Modelo de Virgínia Henderson.

14

Page 7: Artigo_1 (1)

Quadro 1 – Avaliação inicial em linguagem CIPE® da “NHF DE RESPIRAR”

Como podemos observar no Quadro 1convertemos a NHF de respirar em lingua-gem CIPE®: respiração e circulação. De acor-do com o ICNP (2005):

Respiração é um tipo de Função com ascaracterísticas específicas: processo contínuode troca molecular de oxigénio e dióxido decarbono dos pulmões para oxidação celu-lar, regulada pelos centros cerebrais da res-piração, receptores brônquicos e aórticos bemcomo por um mecanismo de difusão. (p.17)Circulação é um tipo de Função com ascaracterísticas específicas: movimento dosangue através do sistema cardiovascularcomo o coração e os vasos sanguíneos cen-trais e periféricos. (p.18)

15

De acordo com o Quadro 2 converte-mos a NHF de beber e comer em linguagemCIPE®: autocuidado: beber e comer. Segun-do o ICNP (2005):

Autocuidado beber é um tipo deAutocuidado com as características especí-ficas: encarregar-se de organizar a ingestão

de bebidas durante as refeições e regular-mente ao longo do dia ou quando se temsede, beber por uma chávena ou copo oudeitar os líquidos na boca utilizando os lá-bios, músculos e língua, beber até saciar asede. (p.56)Autocuidado comer é um tipo deAutocuidado com as características especí-ficas: encarregar-se de organizar aingestão de alimentos sob forma derefeições saudáveis, cortar e partir osalimentos em bocados manejáveis, levar acomida à boca, metê-la na boca utilizan-do os lábios, músculos e língua e alimen-tando-se até ficar satisfeito. (p.56)

Pela análise do Quadro 3 podemos veri-ficar que convertemos a NHF de eliminarem linguagem CIPE®: eliminação. O ICNP(2005) define-a como:

Eliminação é um tipo de Função com ascaracterísticas específicas: movimento e eva-cuação de resíduos sob forma de excreção.(p.25)

Page 8: Artigo_1 (1)

Quadro 2 – Avaliação inicial em linguagem CIPE® da “NHF DE RESPIRAR”

Quadro 3 – Avaliação inicial em linguagem CIPE® da “NHF DE ELIMINAR”

16

Page 9: Artigo_1 (1)

Quadro 4 – Avaliação inicial em linguagem CIPE® da “NHF DE SE MOVERE DE MANTER UMA BOA POSTURA”

Quadro 5 – Avaliação inicial em linguagem CIPE® da “NHF DE DORMIRE REPOUSAR”

No Quadro 4 podemos verificar que con-vertemos a NHF de se mover e de manter umaboa postura em linguagem CIPE®:autocuidado: actividade física. Segundo oICNP (2005):

Autocuidado actividade física é um tipode Autocuidado com as características es-pecíficas: encarregar-se dos comportamen-tos de actividade física, assegurar local eoportunidade para praticar exercício navida diária. (p.56)

17

Ao analisar o Quadro 5 podemos obser-var que convertemos a NHF de dormir e re-pousar em linguagem CIPE®: autocuidado:comportamento sono – repouso. De acor-do com o ICNP (2005):

Autocuidado comportamento sono – repousoé um tipo de Autocuidado com as caracte-rísticas específicas: assumir as necessidadesde um sono reparador, arranjar local e opor-tunidade para dormir, organizar as horasde sono e repouso. (p.56)

Page 10: Artigo_1 (1)

Quadro 6 – Avaliação inicial em linguagem CIPE® da “NHF DE VESTIR-SE E DESPIR-SE”

Quadro 7 – Avaliação inicial em linguagem CIPE® da “NHF DE MANTERA TEMPERATURA DO CORPO NOS LIMITES DO NORMAL”

Pela análise do Quadro 6 podemos veri-ficar que convertemos a NHF de vestir-se edespir-se em linguagem C IPE®: autocui-dado: vestuário. O ICNP (2005) define-ocomo:

Autocuidado vestuário é um tipo deAutocuidado com as características especí-ficas: encarregar-se de vestir e despir as rou-pas e sapatos de acordo com a situação e oclima, tendo em conta as convenções ecódigos normais do vestir, vestir e despir aroupa pela ordem adequada, apertá-la con-venientemente. (p.55)

18

Ao analisarmos o Quadro 7 podemosverificar que convertemos a NHF de mantera temperatura do corpo nos limites do nor-mal em linguagem CIPE®: temperatura cor-poral. Segundo o ICNP (2005):

Temperatura Corporal é um tipo deFunção com as características específicas:calor corporal relacionado com o metabo-lismo do corpo mantido a um nível cons-tante com uma ligeira subida na temperatura corporal durante o período diurnoem comparação com a temperaturacorporal durante o sono e em repouso. (p.19)

Page 11: Artigo_1 (1)

Quadro 8 – Avaliação inicial em linguagem CIPE® da “NHF DE ESTAR LIMPOE CUIDADO, E PROTEGER OS SEUS TEGUMENTOS”

Da análise do Quadro 8 podemos consta-tar que convertemos a NHF de estar limpo ecuidado, e proteger os seus tegumentos em lin-guagem CIPE®: autocuidado: higiene/ pro-teger os tegumentos. De acordo com o ICNP(2005):

Autocuidado Higiene é um tipo deAutocuidado com as características espe-cíficas: encarregar-se de manter um padrãocontínuo de higiene, conservando ocorpo limpo e bem arranjado, sem odorcorporal, lavando regularmente as mãos,limpando as orelhas, nariz e zona perineale mantendo a hidratação da pele, de acor-do com os princípios de preservação e ma-nutenção da higiene. (p.55)Tegumento é um tipo de Função com ascaracterísticas específicas: revestimento

da superfície corporal (pele, epiderme,mucosas, tecido conjuntivo e derme,incluindo glândulas sudoríparas e sebáce-as, cabelo e unhas), tendo como funções:a manutenção da temperatura corporal,a protecção dos tecidos subjacentes daabrasão física, a invasão bacteriana, a de-sidratação e a radiação ultravioleta;o arrefecimento do corpo quando a tempe-ratura sobe; a detecção, através dos órgãossensoriais, de estímulos relacionadoscom a temperatura, tacto, pressãoe dor; a eliminação, pela respiração,de água, sais e compostos orgânicosatravés dos órgão excretores; a secreção dosuor e do sebo; a síntese da vitamina De a activação dos componentes do sistemaimunitário. (p.27)

Quadro 9 – Avaliação inicial em linguagem CIPE® da “NHF DE EVITAROS PERIGOS”

19

Page 12: Artigo_1 (1)

Ao analisarmos o Quadro 9 podemos ve-rificar que convertemos a NHF de evitar osperigos em linguagem CIPE®: consciência,emoção e precaução. Segundo o ICNP(2005):

Consciência é um tipo de sensação com ascaracterísticas específicas: capacidade de opensamento responder a impressõese que resulta de uma combinação dossentidos em ordem a manter o pensamentoalerta, acordado e sensível ao ambienteexterior. (p.40)Emoção é um tipo de Autoconhecimento comas características específicas: disposições parareter ou abandonar acções tendo em contasentimentos de consciência do prazer ouda dor; os sentimentos são conscientes ouinconscientes, expressos ou não expressos;os sentimentos básicos aumentam habi-tualmente em períodos de grande stress,perturbação mental ou doença, e durantevárias fases de transição da vida .(p.46)Precaução é um tipo de Comportamento deAdesão com as características específicas:proteger-se ou manter-se a salvo de algumacoisa. (p.57) proteger-se ou manter-se asalvo de alguma coisa. (p.57)

Quadro 10 – Avaliação inicial em linguagem CIPE® da “NHF DE COMUNICAR

COM OS SEUS SEMELHANTES”

Pela observação do Quadro 10 verifica-mos que convertemos a NHF de comunicarcom os seus semelhantes em linguagem CIPE®:comunicação, sensação e interacção social.De acordo com o ICNP (2005):

Comunicação é um tipo de Acção Inter-dependente com as características específi-cas: acções de dar ou trocar informações,mensagens, sentimentos ou pensamentosentre pessoas e grupos de pessoas, usandocomportamentos verbais e não verbais, con-versação face a face ou medidas de comuni-cação remota como o correio, correioelectrónico e telefone. (p.64)Sensação é um tipo de Função com ascaracterísticas específicas: sentimentosubjectivo do estado ou condição do corpoque resulta da estimulação de um receptorsensorial, da transmissão do impulso ner-voso ao cérebro ao longo de uma fibra ner-vosa aferente e do sentimento do estadomental, que pode ou não resultar numaresposta ao estímulo externo. (p.36)Interacção Social é um tipo de AcçãoInterdependente com as característicasespecíficas: acções de intercâmbio socialmútuo, participação e trocas sociaisentre indivíduos e grupos. (p.60)

20

Page 13: Artigo_1 (1)

Podemos constatar pela análise doQuadro 11 que convertemos a NHF de agirsegundo as suas crenças e os seus valores emlinguagem CIPE®: crença. O ICNP (2005)define-a como:

Crença é um tipo de Autoconhecimento comas características específicas: disposições parareter e abandonar acções tendo em conta as

próprias opiniões. (p.53)

Quadro 11 – Avaliação inicial em linguagem CIPE® da “NHF DE AGIRSEGUNDO AS SUAS CRENÇAS E OS SEUS VALORES”

Quadro 12 – Avaliação inicial em linguagem CIPE® da “NHF DE OCUPAR-SECOM VISTA A REALIZAR-SE”

21

Ao analisar o Quadro 12 podemosobservar que convertemos a NHF deocupar-se com vista a realizar-se em lingua-gem CIPE®: Interacção de papéis/ Bem--estar. Segundo o ICNP (2005):

Interacção de Papéis é um tipo de AcçãoInterdependente com as característicasespecíficas: interagir de acordo com um con-junto implícito ou explícito de expectativas,papéis e normas de comportamentos espe-rados pelos outros. (p.63)Bem-estar é um tipo de Autoconhecimentocom as características específicas: imagemmental de estar bem, equilibrado, con-tente, bem integrado e confortável pororgulho ou alegria e que se expressa habi-tualmente demonstrando relaxamento desi próprio e abertura às outras pessoas ousatisfação com independência. (p.43)

Page 14: Artigo_1 (1)

Quadro 13 – Avaliação inicial em linguagem CIPE® da “NHF DE SE DIVERTIR”

Ao analisarmos o Quadro 13 podemosverificar que convertemos a NHF de se diver-tir em linguagem CIPE®: autocuidado:actividade recreativa. De acordo com o ICNP(2005):

Autocuidado actividade recreativa é um tipode Autocuidado com as característicasespecíficas: encarregar-se de procuraractividades com o objectivo de se entreter,divertir, estimular e relaxar. (p.56)

Quadro 14 – Avaliação inicial em linguagem CIPE® da “NHF DE APRENDER”

Podemos verificar ao analisarmos o Qua-dro 14 que convertemos a NHF de aprenderem linguagem CIPE®: aprendizagem. Segun-do o ICNP (2005):

Aprendizagem é um tipo de Autoconheci-mento com as características específicas: pro-cesso de adquirir conhecimentos ou compe-tências por meio de estudo sistemático,instrução, prática, treino ou experiência.(p.46)

22

4 – Síntese Conclusiva

Nunca como agora se enfatizou tanto agrande importância da representação formalda realidade – no nosso caso, da Enfermagem– nos sistemas de informação e de documen-tação. Actualmente, requerem-se sistemas deregistos, sobretudo electrónicos, que permitama utilização da informação recolhida no lugarda prestação de cuidados, para as diferentesfinalidades. Como sabemos, não obstantea Enfermagem ser considerada, hoje em dia,uma profissão e disciplina científica, a con-solidação e a manutenção da mesma requeruma permanente actualização daquilo quese passa na realidade clínica quotidiana, paraque a mesma se mantenha útil à sociedade,cujas necessidades estão em permanentetransformação.

O enfermeiro só pode ter uma actuaçãofundamentada cientificamente e não rotineira

Page 15: Artigo_1 (1)

se tiver por base dados exactos, concretos,organizados e registados. Ao indicar osproblemas da pessoa, a actuação tida emrelação a eles e os resultados obtidos nessaactuação, pretendemos dar continuidade àsintervenções de Enfermagem e possibilitarque os cuidados sejam adequados, atempadose o mais eficazes possível, assim como con-tribuir para a produção de conhecimentocientífico em enfermagem.

Salientamos que a utilização da avalia-ção inicial de enfermagem contribui segura-mente para o planeamento, aplicação e ava-liação dos cuidados prestados, tornando-osindividualizados, contínuos e progressivos.Por outro lado reforça a autonomia e a res-ponsabilidade do enfermeiro, contribuindopara a segurança, qualidade e satisfação dequem presta cuidados e de quem os recebe.É notória a importância da afirmação doenfermeiro como prestador de cuidadosautónomos, sendo relevante a avaliação ini-cial de enfermagem segundo um Modelo decuidados de Enfermagem, para a continui-dade dos cuidados, pela avaliação que pro-porciona da evolução do estado da pessoa,como também da eficácia dos cuidados pres-tados.

A finalizar, refere-se que ao longo do pre-sente artigo, reflectimos e deixámos algumaspistas sobre a conversão das NHF em lin-guagem CIPE®, reflectindo sobre os princí-pios científicos a ter em consideração e pro-curando transmitir o percurso realizado e asopções tomadas. Assim, foram abordadasalgumas recomendações que nos parecerampertinentes e foram criadas algumas linhasorientadoras para a avaliação inicial deenfermagem segundo as NHF em linguagemCIPE®. Parece-nos que esta abordagem éimportante no contexto actual e que poderátrazer subsídios importantes para posterio-res reflexões nesta área.

Bibliografia

ALBUQUERQUE, M. T. C. (1990) - Avaliação da quali-dade em cuidados de enfermagem. Servir. Vol. 37, nº 5,p. 261-265.

ANGELO, M. [et al.] (1995) - Do empirismo à ciência: aevolução do conhecimento de enfermagem. Revista daEscola de Enfermagem USP. Vol. 29, nº 3, p. 44-53.

BRUGES, M. L. ; BETTENCOURT, M. ; DELGADO, R.(1994) - Cuidar bem, sem registar? Servir. Vol. 42, nº 3,p. 140-144.

CARVALHO, A. ; DUARTE, F. ; QUEIRÓS, P. (1991) -Qualidade dos cuidados de enfermagem. Coimbra : Sin-dicato dos Enfermeiros Portugueses.

CONSELHO INTERNACIONAL DE ENFERMEIRAS(2005) - Classificação internacional para a prática deenfermagem (CIPE/ICNP): versão Beta 2. 3ª ed. Lisboa:Associação Portuguesa de Enfermeiros.

COSTA, D. G. (1994) - Registos de enfermagem. Divul-gação. Nº 31, p. 15-17.

COSTA, N. (2002) - Notas de campo da disciplina deavaliação do mestrado em supervisão. Aveiro : Universi-dade de Aveiro. Departamento de Didáctica e TecnologiaEducativa.

COSTA, N. V. (1989) - A Caminho da autonomia.Nursing. Lisboa. Ano 2, nº 18, p. 32.

GOOSEN, W. (2000) - Nursing informatics research.Nurse Researcher. Vol. 8, nº 2.

JESUS, E. (2005) - Entrevista ao Enf. Élvio Jesus. Revistado Diário de Notícias da Madeira [Em linha]. 25 Set.2005. [Consult. Ago. 2006]. Disponível emWWW:<URL:http:// www.ordemenfermeiros.pt>.

OLIVEIRA, I. B. (1998) - Melhoria contínua nas orga-nizações de prestação de cuidados de saúde. Lisboa :Centro de Estudos de Management.

PHANEUF, M. (2001) – Planificação de cuidados: umsistema integrado e personalizado. Coimbra: QuartetoEditora.

RODRIGUES, M. A. (1998) - Das fontes de informação aodiscurso científico. Referência. Nº 0, p. 41-48.

SILVA, A. A. P. (2001) – Sistemas de informação emenfermagem: uma teoria explicativa da mudança. Porto :Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar. Tese dedoutoramento.

SOUSA, M. A. (2006) - Prelecção na apresentação do ma-nual CIPE. Revista da Ordem dos Enfermeiros. Nº 21,p. 10-12.

THIBAUDEAU, M. F. (1995) - A qualidade dos cuidadosde saúde: uma necessidade. Enfermagem em Foco. Ano 4,nº 15, p. 14-16.

23