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    Explicao do valor na teoria marxista: o trabalho

    como essncia da riqueza social.

    Eziel G. de Oliveira

    Resumo

    O texto busca interpretar o significado da teoria marxista do valor

    fundamentado no papel do trabalho enquanto parte essencial da produo e

    composio da riqueza econmica da sociedade. So apresentados

    importantes fundamentos da crtica de Marx ao pensamento econmico

    clssico, exposio que contextualiza a teoria; o estudo tambm discorre sobre

    os princpios bsicos que validam a aplicabilidade de tal teoria, alm de

    elucidar questes divergentes para o desenvolvimento da anlise do

    movimento da dinmica capitalista, proporcionada pela teoria.

    Palavras-chave

    Teoria do valor; riqueza capitalista; teoria marxista

    Abstract

    The text seeks to interpret the meaning of the Marxist theory of value based on the role

    of labor as an essential part of the production and composition of economic wealth of

    society. We present important fundamentals of Marx's critique of classical economic

    thought, that contextualizes exposure theory, the study also discusses the basic

    principles that validate the applicability of this theory, besides elucidating divergent

    issues for the development of motion analysis of capitalist dynamics , provided by thetheory.

    INTRODUO

    A Teoria do valor elaborada por Karl Marx serviu como importante

    fundamento, se no essencial, de sua anlise de Economia Poltica. Sem tal

    teoria nem se pode imaginar o que seria de sua brilhante obra, O Capital, a

    qual faz uso do termo como respaldo ao emprego do conceito de mais-valia,

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    elemento chave da crtica marxista s contradies existentes no sistema de

    produo capitalista.

    Marx tentou desvendar a lei econmica do movimento da sociedade

    moderna. Seu ponto de partida foi anlise dos bens na sociedade

    capitalista. Uma comunidade deve ser capaz de satisfazer as

    necessidades humanas [...]. Esses bens podem satisfazer a esses desejos.

    (Oser, 1983, p. 168).

    Assim, Mattei (2003,p. 272) assume que a mercadoria a clula econmica

    da sociedade capitalista, porque, ela a forma em que se apresenta o produto

    do trabalho humano que se expressa como valor de uso, na sua forma natural,

    e como valor, na sua forma social.

    Entretanto, o prprio Marx caracterizou a temtica do valor como uma das

    partes mais difceis de sua principal obra, reconhecendo seus aspectos

    controversos. J alerta no prefcio de sua primeira edio de O Capital as

    possveis dificuldades de interpretao:

    (...) todo comeo em qualquer cincia difcil, por isso o captulo

    primeiro o que oferece as maiores dificuldades de compreenso,

    notadamente a seo que contm a anlise da mercadoria. Nele procurei

    expor, com a maior clareza possvel, o que concerne especialmente

    anlise da substncia e magnitude do valor.

    Deriva da o motivo pelo qual a maioria das pessoas encontra significativadificuldade e disponibilidade de tempo para correta compreenso da teoria

    marxista do valor, mesmo aquelas que possuem algum grau de leitura sobre o

    assunto.

    Ademais, segundo Carcanholo (1998), sobre a teoria do valor de Marx,

    poderamos dizer que ela se confunde com a prpria teoria econmica do

    capitalismo, exposta por Marx em O Capital, e que conceitos desenvolvidos em

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    captulos avanados dessa obra, inclusive os do livro III, so meros aspectos

    seus. Conceitos como os de capital, mais-valia, capital comercial, capital

    fictcio, renda da terra no passam de elementos dentro da teoria marxista do

    valor, conceitos mais desenvolvidos do prprio valor. No entender os

    significado do valor no entender a verdadeira natureza de cada um desses

    conceitos.

    O trabalho como elemento bsico da sociedade humana, nessa perspectiva,

    implicaria que seu desenvolvimento seria determinante da dinmica e

    desenvolvimento da sociedade, hiptese em concordncia com a teoria do

    materialismo histrico.

    1. Crtica marxista a teoria do valor do pensamento

    econmico clssico

    O artigo de Lauro Mattei Teoria do valor trabalho: do iderio clssico aos

    postulados marxistas tem como objetivo fazer uma sistematizao de

    importantes aspectos presentes no debate sobre teoria do valor, buscandomostrar as diferentes abordagens entre os pensadores da economia clssica e

    a concepo marxista. Onde se define um novo ciclo do pensamento

    econmico relativamente ao passado, ao definir que somente o trabalho

    humano tem a capacidade de criar valor.

    Mattei (2003) tambm conclui que a teoria de Marx sobre o valor faz surgir uma

    nova teoria que rompe com paradigmas dos economistas clssicos,representando a mais consistente teoria do valor-trabalho. Essa posio

    justificada no artigo baseado nos seguintes aspectos de divergncia e

    desenvolvimento da concepo marxista em contraposio as formulaes

    clssicas sobre a teoria do valor:

    Na anlise clssica, a troca era concebida sempre como uma troca de

    trabalho por outra mercadoria. Com isso, na determinao do valor,

    apareciam tambm os elementos do prprio capital, os quais acabavam

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    por assumir um papel autnomo contraposto ao trabalho. Em Marx,

    essa contraposio do trabalho ao capital desaparece, uma vez que

    apenas o trabalho o elemento portador de valor, ou seja, somente o

    trabalho humano vivo tem a capacidade de criar valor, isto porque, na

    teoria marxista, o problema da medida do valor e da causa do valor o

    mesmo;

    Na anlise clssica, o trabalho em forma de produto que est sendo

    trocado ou contraposto ao capital. J na perspectiva da teoria marxista,

    essa troca possui caractersticas particulares que no esto presentes na

    troca genrica de mercadoria por mercadoria. Isto porque Marx

    diferencia trabalho de .fora de trabalho. ou .capacidade de trabalho.;

    Na teoria clssica, no se percebe nenhuma distino entre o trabalho

    individual (privado) e o trabalho social. Ao contrrio, no h naquele

    arcabouo terico nenhuma referncia s relaes sociais de produo

    que estavam escondidas e que acabavam alienando o trabalho. Em

    Marx, o elemento decisivo o trabalho social, tendo em vista que o

    valor da fora de trabalho corresponde ao tempo de trabalho

    socialmente necessrio sua reproduo, sendo justamente o trabalho

    social total o responsvel pela gerao da massa de valor que repartida

    entre o capital e o trabalho;

    Os "clssicos", particularmente Ricardo, ficaram presos idia de se

    encontrar uma unidade que pudesse determinar a grandeza fsica do

    valor. Marx, ao contrrio, demonstra, com a sua teoria, que o aspectoqualitativo o mais importante, uma vez que a medida da grandeza do

    valor em sua obra dada pela unidade temporal do trabalho socialmente

    necessrio (por isso, j reduzido igualdade com os outros trabalhos)

    para a sua reproduo;

    Marx tambm se diferencia dos clssicos no mbito filosfico,

    sobretudo da concepo smithiana, que caudatria da tradio

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    utilitarista inglesa. Marx, ao contrrio, inteiramente hostil ao princpio

    do interesse, dizendo que a diviso do trabalho se articula no mbito das

    relaes sociais de produo. Com isso, o homem econmico smithiano

    nada tem a ver com o princpio marxista da sociabilidade. (MATTEI,

    2004, p. 292).

    Em sntese, diz o autor que atravs da teoria do valor, Marx desvendou os

    mecanismos e os segredos do funcionamento da sociedade capitalista, ao pr

    descoberta a complexa rede de relaes sociais que eram estabelecidas e

    que davam sustentao ao processo de expropriao entre as classes, o qual

    subordinava o trabalho ao capital.

    O texto de Jorge Grespan (1988), que tambm faz uma abordagem dos

    fundamentos da crtica marxista teoria do valor elaborada pelos economistas

    clssicos relata o contexto sobre os quais se basearam esses economistas

    para nortear seus estudos de Economia Poltica.

    Da tradio do pensamento liberal-revolucionrio ingls do sculo

    XVII, os economistas polticos herdaram a noo de que a chave para acompreenso dos fenmenos sociais em qualquer poca se encontra nas

    condies primitivas de sociabilidade, consideradas um estado de

    natureza. Da que as investigaes sobre economia partissem de

    situaes muito simples, como a troca entre dois produtores individuais,

    procurando os fatores que as presidiam no caso da troca, a medida

    que tornaria possvel a comparao de coisas diferentes. [...] A busca

    pela determinao no mais simples e abstrato, portanto, concebidocomo o mais prximo da natureza do objeto, orienta os esforos dos

    clssicos, transparecendo inclusive na crtica de Ricardo teoria do

    valor de Smith, pelo menos conforme o entendimento de Marx, que v

    esta crtica como tendo grande significao histrica para a cincia.

    (GRESPAN, 1988, p. 2).

    Nesse sentido, a teoria do valor trabalho desses tericos, principalmente Adam

    Smith, tem uma tendncia de anlise incoerente com a realidade social do

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    movimento da riqueza capitalista. Pois parte de uma inspirao simplista para

    descrio da medida do valor de troca baseado naquele primitivo sistema de

    produo anterior a acumulao de capital, considerando que o valor das

    mercadorias se estabelece na esfera da circulao. O prprio Ricardo

    identificou esta incoerncia presente na teoria smithiana, props uma diferente

    abordagem mais condizente com a realidade do movimento da riqueza

    capitalista ao considerar o valor das mercadorias estabelecido na esfera da

    produo.

    Ainda para Marx, a grande significao histrica de Ricardo para a

    economia poltica decorre, ento, de ele ter estabelecido que o

    fundamento, o ponto de partida do sistema burgus da concepo deseu nexo orgnico interno e de seu processo vital a determinao do

    valor pelo tempo de trabalho. Ricardo resolve a tenso entre as duas

    formas de definio do valor em Smith, assumindo o primeiro caminho

    mencionado acima, da apreenso do interior, do fundamento

    chamado por Marx de esotrico. a partir da que o nexo imanente

    pode ser concebido, como um eixo constituinte da organicidade das

    demais relaes econmicas, expressando a fisiologia do sistema. [...]Tal opo implicava, porm, grandes dificuldades tericas, assim

    sintetizadas por Marx: em oposio a Smith, Ricardo destaca a

    determinao do valor da mercadoria puramente pelo tempo de trabalho

    e mostra que esta lei predomina inclusive nas relaes de produo

    burguesas que aparentemente mais a contradizem. O prprio projeto

    terico de Ricardo pode ser caracterizado por esta tarefa de evidenciar

    que a lei do valor seguia sendo vlida, pois as novas condies

    tcnicas e sociais da produo no obrigariam a nenhuma modificao

    no seu fundamento. (GRESPAN, 1988, p. 7).

    Apesar de insistir que o valor-trabalho a base das relaes econmicas reais,

    o problema, para Marx, no est simplesmente na estratgia de exposio;

    advm do mtodo de investigao empregado por Ricardo e, da, da

    apreenso do prprio objeto. Marx assinala aqui a dificuldade de Ricardo

    apreender e expor todas as mediaes da sua apresentao categorial e, mais

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    especificamente, de conceber resultados que contrariem seus pressupostos,

    passando por conceitos intermedirios contraditrios. preciso esclarecer o

    que obscurecido pelo apego da economia poltica ao princpio da no-

    contradio, e o que, uma vez ultrapassado este princpio pela dialtica, passa

    a ser por ela revelado (GRESPAN, J. 1988).

    Ainda, para Mattei (2003) a crtica marxista vai ao sentido de mostrar que os

    autores "clssicos" ficaram presos simples determinao da grandeza do

    valor, ao no considerarem o trabalho como resultado de um processo que vai

    do individual at o social. O duplo carter do trabalho o ponto central que

    diferencia Marx dos autores anteriores. Para ele, o trabalho humano que

    assume valor de troca nas sociedades capitalistas um trabalho social

    igualado, porm no como um dado natural, mas como resultado histrico

    advindo das relaes sociais de produo. Dessa forma, Marx chega ao

    conceito de trabalho abstrato, distinguindo o trabalho humano como elemento

    natural da produo e como elemento do capital. Mais precisamente, chega

    definio desse tipo de trabalho porque faz as mediaes tericas entre o

    trabalho humano, como fator natural da produo, e o trabalho na sua forma

    histrica, como produto e elemento do capital.

    2. Pressupostos da teoria marxista do valor

    A obra O Capital: Edio Resumida um resumo feito dos trs volumes de O

    Capital de Carl Marx, feito por Julian Borchardt foi publicado na Alemanha a

    mais de meio sculo. O grande mrito do deste resumo atribudo pelo fato

    dele no procurar dar uma interpretao das idias contidas na obra original, e

    sim fazer um ordenamento dessas idias, procurando evitar repeties

    presentes nos textos originais.

    A respeito, comenta Borchardt:

    (...) os dois outros volumes no foram publicados seno aps sua

    morte (...) receberam de Engels freqentemente inseres no texto dos

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    esboos escritos pelo prprio Marx. Disso resultaram inmeras

    repeties.

    Em sntese, sobre os conceitos de valor de uso, valor de troca e trabalho

    socialmente necessrio presentes em O Capital, Borchardt interpreta:

    A mercadoria um objeto externo que satisfaz uma necessidade humana,

    podendo ser til para diversas finalidades de acordo com seu conjunto de

    qualidades. Assim a utilidade de um bem lhe d valor de uso determinada por

    suas propriedades fsicas, e segue-se que com valores de uso as mercadorias

    tm qualidades diferentes;

    O valor de troca parece residir unicamente na relao das mercadorias com

    nossas necessidades. Segue-se, pois que os valores de troca vlidos para a

    mesma mercadoria exprimem a mesma grandeza, o que ocorre que na troca,

    um valor de uso, seja ele qual for, tem exatamente tanto valor quanto outro

    qualquer. Uma espcie qualquer de mercadoria vale outra no momento em que

    seu valor de troca o mesmo;

    Atrs do valor de troca deve existir um contedo de que ele a expresso ( o

    trabalho), onde qualquer que seja sua relao de troca, podemos sempre

    represent-la por uma igualdade, isto , um elemento equivalente ou comum

    de igual grandeza existe em dois bens diferentes. De forma que ao fazer-se

    abstrao de seu valor de uso as mercadorias conservam uma mesma

    propriedade, a de serem produtos (resultados) do trabalho. Portanto um valor

    de uso, isto , um bem no tem valor seno pela causa do trabalho humano,

    considerado numa forma abstrata, materializado no bem.

    Portanto para Borchardt (1980 cap. 3), sendo o trabalho a substncia criadora

    de valor, a medida da grandeza desse valor determinada pela quantidade detrabalho socialmente contido na mercadoria, ou seja, depende do tempo de

    trabalho socialmente necessrio de a produo de qualquer valor de uso, ou

    mercadoria. Logo, mercadorias que compreendem somas de trabalhos iguais

    tm o mesmo valor.

    Em seu artigo Elementos bsicos da teoria marxista do valor Reinaldo A.

    Carcanholo aponta os princpios ou pressupostos fundamentais para a

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    coerncia ou validade da teoria do valor elaborada por Marx: a teoria marxista

    do valor no uma simples teoria dos preos, mas da natureza da riqueza

    capitalista; valor e valor-de-troca so conceitos total e absolutamente

    diferentes; o valor de uma mercadoria no a quantidade de trabalho

    socialmente necessrio para produzi-la. O valor no pode ser definido; se

    inicialmente ele pode ser descrito como a propriedade social das mercadorias

    que consiste em seu poder de compra, converte-se em entidade com vida

    prpria; os preos das mercadorias no so proporcionais nem ao valor nem

    quantidade de trabalho. So determinados pelo jogo da oferta e demanda.

    Segundo Carcanholo (1994) seria uma verdadeira confuso a idia de que a

    teoria marxista do valor uma teoria dos preos ou que sua preocupao

    principal a explicao de como se determinam os preos das mercadorias em

    uma economia capitalista. Ela , de fato, uma teoria sobre a natureza da

    riqueza capitalista, particularmente, sobre a produo e distribuio dessa

    riqueza. Nesse sentido, valor e valor de troca no devem ser confundidos e

    entendidos como se fossem iguais. Isso constitui um grave erro.

    Para Marx o valor de troca de uma determinada mercadoria a proporo de

    troca que ela realmente estabelece com outra mercadoria qualquer. A

    mercadoria possui tantos valores de troca quantas so as demais mercadorias

    existentes na sociedade. O preo simplesmente o valor de troca da

    mercadoria quando a outra a mercadoria dinheiro. Nesse sentido, o valor

    entendido como uma propriedade social que consiste no poder de compra,

    entendido como poder de apropriao que possui essa mercadoria sobre as

    demais e que permite a determinao dos valores de troca. Esse poder decompra est relacionado, numa primeira anlise, riqueza mercantil da

    sociedade, ou seja, a quantidade de trabalho socialmente necessrio. Fica a

    determinado que a magnitude do valor a magnitude da riqueza mercantil

    produzidapelo trabalho social, isto , pelo esforo produtivo da sociedade.

    Enquanto o valor uma propriedade social inerente, interior

    mercadoria, expresso nela das particulares relaes sociais existentes

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    e, portanto, uma categoria da essncia da sociedade capitalista, o valor

    de troca sua forma de manifestao e aparece na superfcie mesma dos

    fenmenos; por isso, diretamente observvel. (CARCANHOLO, 1994,

    p. 5)

    Porm, as variaes desse real poder de compra so determinadas pelo jogo

    da oferta e da demanda. Assim, evidentemente para Marx, os valores de troca

    e, em particular, o preo de uma mercadoria determina-se pela oferta e

    demanda.

    Portanto, no h na teoria marxista, uma lei do valor que diga que os valores

    de troca e os preos estejam determinados diretamente pelas quantidades de

    trabalho socialmente necessrio contido nas mercadorias ou, em outraspalavras, que as mercadorias devam ser trocadas na proporo de seus

    valores, trabalhos socialmente contidos. Se imaginssemos uma situao em

    que o real poder de compra das mercadorias no fosse alterado por

    determinaes secundrias, fosse diretamente proporcional s magnitudes

    dos seus valores, isto , s quantidades de trabalho socialmente necessrio

    nelas contidas, teramos preos exatamente correspondentes aos valores;

    nesse caso haveria, na equao de troca entre duas mercadorias quaisquermesma quantidade de trabalho abstrato. No entanto, isso no acontece na

    realidade. Pois preos de mercado correspondentes s magnitudes dos valores

    significariam produo e apropriao de valor iguais. Nessa situao no seria

    possvel uma transferncia diferenciada - superior ou inferior- de valor ou

    riqueza no processo de transao dos mercados. Os preos das mercadorias

    seriam exatamente iguais aos custos de sua produo, ou seja, seu trabalho

    socialmente contido; possibilidades apenas permitidas por irreais estruturas demercado.

    Logo, poderamos concluir que a magnitude do valor de uma

    mercadoria determina a grandeza da riqueza social que ela representa e

    mede a riqueza produzida socialmente no instante de sua produo. No

    entanto, a riqueza que ela representa, em cada instante, para seu

    possuidor, ao contrrio, mede-se pela capacidade que a mercadoria

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    possui realmente de, no mercado, apropriar-se de valor sob a forma de

    outra mercadoria ou de dinheiro. (CARCANHOLO, 2004, p. 7)

    A quantidade de trabalho socialmente necessrio determina a magnitude do

    valor, refere-se sua dimenso quantitativa, sua grandeza, mas no sua

    natureza. O valor no trabalho, embora encontre nele o seu fundamento.

    Valor uma propriedade social das mercadorias que consiste em um certo

    poder de compra, de magnitude s aproximadamente determinada, como

    vimos anteriormente. uma qualidade delas, mas s isso durante um tempo,

    um perodo, uma poca. Como qualquer categoria da dialtica marxista, no se

    refere a algo dado, a algo que possa ser definido de uma vez para sempre. O

    valor um processo de desenvolvimento que possui seu nascimento,desenvolvimento, maturidade, velhice e morte.

    O valor est em permanente processo de desenvolvimento. Este processo ,

    ao mesmo tempo, o desenvolvimento das relaes sociais mercantis no seio da

    humanidade. Como est em permanente desenvolvimento, o que ele hoje

    deixar de ser amanh e diferente do que foi ontem, como qualquer ser

    orgnico, inorgnico ou social. Por isso, defini-lo de alguma forma umacompleta insensatez. o valor, durante um certo perodo pode ser descrito

    (nunca definido) como uma caracterstica, um adjetivo, uma qualidade social.

    Trata-se de algo que existe no interior da mercadoria e no pode desprender-

    se dela. Mas tudo isso correto na etapa de seu desenvolvimento anterior

    sua maturidade. Esta s alcanada quando ele se transforma em capital.

    Nos processos de desenvolvimento do valor da mercadoria, esta pode adquirir

    diferentes magnitudes de poder de compra ou apropriao, portanto diferentes

    valores de troca, assim no instante imediatamente da sua produo seu real

    poder de compra diretamente proporcional ao seu valor determinado pelo

    trabalho socialmente contido. Posteriormente o poder de compra da mercadoria

    pode divergir positiva ou negativamente do seu valor entendido como riqueza

    social, no momento de sua transao no mercado.

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    3. Teoria do valor em Marx no processo de anlise social da

    produo e natureza da riqueza capitalista.

    Na obra A Teoria Marxista do Valor de Isaak Illich Rubin, apresentada pelo

    autor, de forma concisa, a essncia do pensamento de Marx sobre a teoria do

    valor. O livro , pela profundidade e pelo rigor lgico, certamente umas das

    principais obras sobre teoria do valor.

    Sobre o valor argumenta:

    A teoria do valor-trabalho no est baseada numa anlise dastransaes de troca enquanto tais em sua forma material, mas na anlise

    das relaes sociais de produo que se expressam nas transaes.

    (RUBIN, 1980, p. 77).

    Assim as transaes no mercado so entendidas como conseqncias e no

    causas do processo social de produo resultado das relaes sociais. Isso

    significa que o ponto de partida para a investigao no o preo ou o valor de

    mercado, e sim o trabalho.

    Portanto, o valor considerado entendido como uma relao social, ou seja,

    esse valor tem sua essncia no trabalho materializado. Pois numa economia

    mercantil-capitalista as relaes de produo adquirem necessariamente uma

    forma material, a forma de mercadoria. Assim, essa mercadoria, como

    resultado do processo social de produo (relao social do processo

    produtivo), tem seu valor determinado de acordo com a quantidade de trabalho

    socialmente necessrio para sua produo, sua quantidade de trabalho

    socialmente contido; o trabalho social pode expressar-se no valor.

    Marx, [...] toma o valor como a expresso de uma sociedade em que o

    indivduo s existe enquanto produtor de valor de troca, o que implica a

    negao absoluta de sua existncia natural. Assim, a produo de valor

    de troca j inclui em si a coero ao indivduo (RUBIN, 1980, p. 11).

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    Como apontado por Mattei (2003) o trabalho era considerado pelos "clssicos"

    simplesmente como uma unidade fsica imediata, sendo visto, inclusive, como

    algo indiferente s mercadorias. Marx, ao contrrio, faz a crtica da economia

    clssica tentando compreender o significado do valor a partir das leis gerais do

    sistema capitalista. Decorre da que o objeto de estudo de Marx no o valor,

    mas a mercadoria, porque nela se encontra o resultado (produto) do trabalho

    humano. Dessa formulao, o autor tira uma primeira concluso importante: o

    trabalho no valor, mas, sim, o seu fundamento.

    Para Marx,

    (...) os homens no estabelecem relaes entre os produtos de seu

    trabalho como valores, por consider-los simples aparncia material do

    trabalho humano de igual natureza. Ao contrrio. Ao igualar, na

    permuta, como valores, seus diferentes produtos, igualam seus trabalhos

    diferentes, de acordo com sua qualidade comum de trabalho humano.

    Fazem isso sem o saber (...)"; e dessa forma, "(...) o valor transforma

    cada produto do trabalho humano num hieroglifo social, que os homens

    procuram decifrar seu significado (Marx, 1975, p. 82-83).

    De acordo com Belluzzo (1998) a produo para a troca transforma cada

    produtor individual num rgo do trabalho social, onde o trabalho de cada um

    se dissolve no trabalho social e, a partir da, vira a substncia do valor. Nesse

    caso, o trabalho concreto (aquele que cria valor de uso) colocado em uma

    posio subordinada, tornando-se um instrumento do trabalho social, cuja

    sociabilidade resulta do processo de troca, em que a mercadoria, como produto

    desse trabalho social, se exprime como valor.

    Pode-se dizer que a troca transforma os diferentes tipos de trabalho em

    equivalentes, sendo que essa transformao determinada pelo tempo de

    trabalho socialmente necessrio (trabalho gasto, em mdia, pela sociedade

    para produzir as mercadorias) e exprime uma relao entre os diversos tipos

    de trabalho. Porm essa mdia no advm da produtividade individual, mas da

    produtividade mdia da sociedade, que encontrada no mercado atravs dos

    movimentos de oferta e de procura das mercadorias. (MATTEI, 2003, p. 21)

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    Sobre a relao entre valor e preo conciso a sntese de Souza (2001),

    dizendo que conhece-se normalmente o preo, determinado pelas foras

    competitivas do mercado, ou em termos marxistas pela converso do valor em

    termos monetrios. O preo acontece quando a mercadoria entra no processo

    de circulao e o valor, nada mais do que o trabalho incorporado na

    produo de uma mercadoria. Com isto, fica claro que MARX quis mostrar a

    origem do processo de explorao que acontece no sistema capitalista porque

    o preo esconde o trabalho no pago que apropriado pelo capitalista e

    convertido em mais fonte de explorao do trabalhador e isto que MARX

    chamou de mais-valia, portanto, de fundamental importncia para a

    acumulao capitalista e sobrevivncia da burguesia moderna.

    4 - Consideraes finais

    A preocupao bsica deste ensaio esteve centrada na busca dos

    pressupostos tericos necessrios para compreender adequadamente as

    formulaes da teoria marxista do valor, os quais possibilitam interpretar o

    significado desta teoria fundamentado no papel do trabalho enquanto parte

    essencial da produo e composio da riqueza econmica da sociedade.

    Para tal propsito buscou-se apontar de formar contextualizadora os

    fundamentos da crtica marxista a teoria do valor do pensamento econmico

    clssico, tambm foram apresentados os pressupostos ou princpios bsicos

    norteadores que garantem validade a teoria marxista do valor, enquanto

    elemento chave da analise das leis do movimento do complexo sistema

    capitalista. Em ltima instncia, este estudo se voltou ao entendimento da

    aplicao da teoria do valor-trabalho, em Marx, no processo de anlise social

    da produo, distribuio e natureza da riqueza capitalista.

    Emblemticas e divergentes questes presentes no debate sobre a coerncia

    da teoria marxista do valor foram elucidadas: o trabalho socialmente contido

    no determina preo, estes vo valores de expresso monetria que flutuam

    nas diferentes estruturas de mercado de acordo com a interao entre oferta e

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    demanda. Nesse mesmo mbito a divergncia entre valor e preo nos

    diferentes mercados possibilita uma interessante anlise da distribuio do

    trabalho humano ou da apropriao de riqueza social pelo capitalista, fonte

    esta da explorao do trabalho, chamada por Marx de mais-valia a qual

    possibilita o processo de acumulao e reproduo das relaes sociais

    prprias do capitalismo. Porm, por no ser foco deste trabalho esta anlise

    no foi devidamente explorada no seu contexto mais amplo e complexo, estudo

    este de meu interesse futuro.

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    REFERNCIA

    BORCHARDT, J. O Capital: Edio resumida. Rio de Janeiro: LTC, 1980.

    RUBIN, I. I. A Teoria Marxista do valor. So Paulo: Brasiliense, 1980.

    CARCANHOLO,Reinaldo A. A importncia da categoria valor de uso na teoria de Marx.PESQUISA & DEBATE, SP, 1998.

    MATTEI, Lauro. Teoria do valor-trabalho: do iderio clssico aos postulados marxistas;Ensaios FEE, Porto Alegre, 2003.

    OSER, J. Histria do Pensamento Econmico. So Paulo: Atlas, 1983.

    GRESPAN, J. A crise na crtica economia poltica. Crtica Marxista. no 10, So Paulo,Boitempo Editorial. 2000.

    SOUZA, Luiz G. Valor e preos em Marx, Rio de Janeiro, Zahar, 2001.

    BELLUZZO, L. G. M. Valor e capitalismo: um ensaio sobre a economia poltica.Campinas, SP: UNICAMP/IE, 1998.

    MARX, K. O Capital. Rio de Janeiro: Editora Civilizao Brasileira, 1975. liv.1, v. 1