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CAMPO GRANDE MS 06/2012
Explicao do valor na teoria marxista: o trabalho
como essncia da riqueza social.
Eziel G. de Oliveira
Resumo
O texto busca interpretar o significado da teoria marxista do valor
fundamentado no papel do trabalho enquanto parte essencial da produo e
composio da riqueza econmica da sociedade. So apresentados
importantes fundamentos da crtica de Marx ao pensamento econmico
clssico, exposio que contextualiza a teoria; o estudo tambm discorre sobre
os princpios bsicos que validam a aplicabilidade de tal teoria, alm de
elucidar questes divergentes para o desenvolvimento da anlise do
movimento da dinmica capitalista, proporcionada pela teoria.
Palavras-chave
Teoria do valor; riqueza capitalista; teoria marxista
Abstract
The text seeks to interpret the meaning of the Marxist theory of value based on the role
of labor as an essential part of the production and composition of economic wealth of
society. We present important fundamentals of Marx's critique of classical economic
thought, that contextualizes exposure theory, the study also discusses the basic
principles that validate the applicability of this theory, besides elucidating divergent
issues for the development of motion analysis of capitalist dynamics , provided by thetheory.
INTRODUO
A Teoria do valor elaborada por Karl Marx serviu como importante
fundamento, se no essencial, de sua anlise de Economia Poltica. Sem tal
teoria nem se pode imaginar o que seria de sua brilhante obra, O Capital, a
qual faz uso do termo como respaldo ao emprego do conceito de mais-valia,
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elemento chave da crtica marxista s contradies existentes no sistema de
produo capitalista.
Marx tentou desvendar a lei econmica do movimento da sociedade
moderna. Seu ponto de partida foi anlise dos bens na sociedade
capitalista. Uma comunidade deve ser capaz de satisfazer as
necessidades humanas [...]. Esses bens podem satisfazer a esses desejos.
(Oser, 1983, p. 168).
Assim, Mattei (2003,p. 272) assume que a mercadoria a clula econmica
da sociedade capitalista, porque, ela a forma em que se apresenta o produto
do trabalho humano que se expressa como valor de uso, na sua forma natural,
e como valor, na sua forma social.
Entretanto, o prprio Marx caracterizou a temtica do valor como uma das
partes mais difceis de sua principal obra, reconhecendo seus aspectos
controversos. J alerta no prefcio de sua primeira edio de O Capital as
possveis dificuldades de interpretao:
(...) todo comeo em qualquer cincia difcil, por isso o captulo
primeiro o que oferece as maiores dificuldades de compreenso,
notadamente a seo que contm a anlise da mercadoria. Nele procurei
expor, com a maior clareza possvel, o que concerne especialmente
anlise da substncia e magnitude do valor.
Deriva da o motivo pelo qual a maioria das pessoas encontra significativadificuldade e disponibilidade de tempo para correta compreenso da teoria
marxista do valor, mesmo aquelas que possuem algum grau de leitura sobre o
assunto.
Ademais, segundo Carcanholo (1998), sobre a teoria do valor de Marx,
poderamos dizer que ela se confunde com a prpria teoria econmica do
capitalismo, exposta por Marx em O Capital, e que conceitos desenvolvidos em
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captulos avanados dessa obra, inclusive os do livro III, so meros aspectos
seus. Conceitos como os de capital, mais-valia, capital comercial, capital
fictcio, renda da terra no passam de elementos dentro da teoria marxista do
valor, conceitos mais desenvolvidos do prprio valor. No entender os
significado do valor no entender a verdadeira natureza de cada um desses
conceitos.
O trabalho como elemento bsico da sociedade humana, nessa perspectiva,
implicaria que seu desenvolvimento seria determinante da dinmica e
desenvolvimento da sociedade, hiptese em concordncia com a teoria do
materialismo histrico.
1. Crtica marxista a teoria do valor do pensamento
econmico clssico
O artigo de Lauro Mattei Teoria do valor trabalho: do iderio clssico aos
postulados marxistas tem como objetivo fazer uma sistematizao de
importantes aspectos presentes no debate sobre teoria do valor, buscandomostrar as diferentes abordagens entre os pensadores da economia clssica e
a concepo marxista. Onde se define um novo ciclo do pensamento
econmico relativamente ao passado, ao definir que somente o trabalho
humano tem a capacidade de criar valor.
Mattei (2003) tambm conclui que a teoria de Marx sobre o valor faz surgir uma
nova teoria que rompe com paradigmas dos economistas clssicos,representando a mais consistente teoria do valor-trabalho. Essa posio
justificada no artigo baseado nos seguintes aspectos de divergncia e
desenvolvimento da concepo marxista em contraposio as formulaes
clssicas sobre a teoria do valor:
Na anlise clssica, a troca era concebida sempre como uma troca de
trabalho por outra mercadoria. Com isso, na determinao do valor,
apareciam tambm os elementos do prprio capital, os quais acabavam
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por assumir um papel autnomo contraposto ao trabalho. Em Marx,
essa contraposio do trabalho ao capital desaparece, uma vez que
apenas o trabalho o elemento portador de valor, ou seja, somente o
trabalho humano vivo tem a capacidade de criar valor, isto porque, na
teoria marxista, o problema da medida do valor e da causa do valor o
mesmo;
Na anlise clssica, o trabalho em forma de produto que est sendo
trocado ou contraposto ao capital. J na perspectiva da teoria marxista,
essa troca possui caractersticas particulares que no esto presentes na
troca genrica de mercadoria por mercadoria. Isto porque Marx
diferencia trabalho de .fora de trabalho. ou .capacidade de trabalho.;
Na teoria clssica, no se percebe nenhuma distino entre o trabalho
individual (privado) e o trabalho social. Ao contrrio, no h naquele
arcabouo terico nenhuma referncia s relaes sociais de produo
que estavam escondidas e que acabavam alienando o trabalho. Em
Marx, o elemento decisivo o trabalho social, tendo em vista que o
valor da fora de trabalho corresponde ao tempo de trabalho
socialmente necessrio sua reproduo, sendo justamente o trabalho
social total o responsvel pela gerao da massa de valor que repartida
entre o capital e o trabalho;
Os "clssicos", particularmente Ricardo, ficaram presos idia de se
encontrar uma unidade que pudesse determinar a grandeza fsica do
valor. Marx, ao contrrio, demonstra, com a sua teoria, que o aspectoqualitativo o mais importante, uma vez que a medida da grandeza do
valor em sua obra dada pela unidade temporal do trabalho socialmente
necessrio (por isso, j reduzido igualdade com os outros trabalhos)
para a sua reproduo;
Marx tambm se diferencia dos clssicos no mbito filosfico,
sobretudo da concepo smithiana, que caudatria da tradio
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utilitarista inglesa. Marx, ao contrrio, inteiramente hostil ao princpio
do interesse, dizendo que a diviso do trabalho se articula no mbito das
relaes sociais de produo. Com isso, o homem econmico smithiano
nada tem a ver com o princpio marxista da sociabilidade. (MATTEI,
2004, p. 292).
Em sntese, diz o autor que atravs da teoria do valor, Marx desvendou os
mecanismos e os segredos do funcionamento da sociedade capitalista, ao pr
descoberta a complexa rede de relaes sociais que eram estabelecidas e
que davam sustentao ao processo de expropriao entre as classes, o qual
subordinava o trabalho ao capital.
O texto de Jorge Grespan (1988), que tambm faz uma abordagem dos
fundamentos da crtica marxista teoria do valor elaborada pelos economistas
clssicos relata o contexto sobre os quais se basearam esses economistas
para nortear seus estudos de Economia Poltica.
Da tradio do pensamento liberal-revolucionrio ingls do sculo
XVII, os economistas polticos herdaram a noo de que a chave para acompreenso dos fenmenos sociais em qualquer poca se encontra nas
condies primitivas de sociabilidade, consideradas um estado de
natureza. Da que as investigaes sobre economia partissem de
situaes muito simples, como a troca entre dois produtores individuais,
procurando os fatores que as presidiam no caso da troca, a medida
que tornaria possvel a comparao de coisas diferentes. [...] A busca
pela determinao no mais simples e abstrato, portanto, concebidocomo o mais prximo da natureza do objeto, orienta os esforos dos
clssicos, transparecendo inclusive na crtica de Ricardo teoria do
valor de Smith, pelo menos conforme o entendimento de Marx, que v
esta crtica como tendo grande significao histrica para a cincia.
(GRESPAN, 1988, p. 2).
Nesse sentido, a teoria do valor trabalho desses tericos, principalmente Adam
Smith, tem uma tendncia de anlise incoerente com a realidade social do
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movimento da riqueza capitalista. Pois parte de uma inspirao simplista para
descrio da medida do valor de troca baseado naquele primitivo sistema de
produo anterior a acumulao de capital, considerando que o valor das
mercadorias se estabelece na esfera da circulao. O prprio Ricardo
identificou esta incoerncia presente na teoria smithiana, props uma diferente
abordagem mais condizente com a realidade do movimento da riqueza
capitalista ao considerar o valor das mercadorias estabelecido na esfera da
produo.
Ainda para Marx, a grande significao histrica de Ricardo para a
economia poltica decorre, ento, de ele ter estabelecido que o
fundamento, o ponto de partida do sistema burgus da concepo deseu nexo orgnico interno e de seu processo vital a determinao do
valor pelo tempo de trabalho. Ricardo resolve a tenso entre as duas
formas de definio do valor em Smith, assumindo o primeiro caminho
mencionado acima, da apreenso do interior, do fundamento
chamado por Marx de esotrico. a partir da que o nexo imanente
pode ser concebido, como um eixo constituinte da organicidade das
demais relaes econmicas, expressando a fisiologia do sistema. [...]Tal opo implicava, porm, grandes dificuldades tericas, assim
sintetizadas por Marx: em oposio a Smith, Ricardo destaca a
determinao do valor da mercadoria puramente pelo tempo de trabalho
e mostra que esta lei predomina inclusive nas relaes de produo
burguesas que aparentemente mais a contradizem. O prprio projeto
terico de Ricardo pode ser caracterizado por esta tarefa de evidenciar
que a lei do valor seguia sendo vlida, pois as novas condies
tcnicas e sociais da produo no obrigariam a nenhuma modificao
no seu fundamento. (GRESPAN, 1988, p. 7).
Apesar de insistir que o valor-trabalho a base das relaes econmicas reais,
o problema, para Marx, no est simplesmente na estratgia de exposio;
advm do mtodo de investigao empregado por Ricardo e, da, da
apreenso do prprio objeto. Marx assinala aqui a dificuldade de Ricardo
apreender e expor todas as mediaes da sua apresentao categorial e, mais
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especificamente, de conceber resultados que contrariem seus pressupostos,
passando por conceitos intermedirios contraditrios. preciso esclarecer o
que obscurecido pelo apego da economia poltica ao princpio da no-
contradio, e o que, uma vez ultrapassado este princpio pela dialtica, passa
a ser por ela revelado (GRESPAN, J. 1988).
Ainda, para Mattei (2003) a crtica marxista vai ao sentido de mostrar que os
autores "clssicos" ficaram presos simples determinao da grandeza do
valor, ao no considerarem o trabalho como resultado de um processo que vai
do individual at o social. O duplo carter do trabalho o ponto central que
diferencia Marx dos autores anteriores. Para ele, o trabalho humano que
assume valor de troca nas sociedades capitalistas um trabalho social
igualado, porm no como um dado natural, mas como resultado histrico
advindo das relaes sociais de produo. Dessa forma, Marx chega ao
conceito de trabalho abstrato, distinguindo o trabalho humano como elemento
natural da produo e como elemento do capital. Mais precisamente, chega
definio desse tipo de trabalho porque faz as mediaes tericas entre o
trabalho humano, como fator natural da produo, e o trabalho na sua forma
histrica, como produto e elemento do capital.
2. Pressupostos da teoria marxista do valor
A obra O Capital: Edio Resumida um resumo feito dos trs volumes de O
Capital de Carl Marx, feito por Julian Borchardt foi publicado na Alemanha a
mais de meio sculo. O grande mrito do deste resumo atribudo pelo fato
dele no procurar dar uma interpretao das idias contidas na obra original, e
sim fazer um ordenamento dessas idias, procurando evitar repeties
presentes nos textos originais.
A respeito, comenta Borchardt:
(...) os dois outros volumes no foram publicados seno aps sua
morte (...) receberam de Engels freqentemente inseres no texto dos
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esboos escritos pelo prprio Marx. Disso resultaram inmeras
repeties.
Em sntese, sobre os conceitos de valor de uso, valor de troca e trabalho
socialmente necessrio presentes em O Capital, Borchardt interpreta:
A mercadoria um objeto externo que satisfaz uma necessidade humana,
podendo ser til para diversas finalidades de acordo com seu conjunto de
qualidades. Assim a utilidade de um bem lhe d valor de uso determinada por
suas propriedades fsicas, e segue-se que com valores de uso as mercadorias
tm qualidades diferentes;
O valor de troca parece residir unicamente na relao das mercadorias com
nossas necessidades. Segue-se, pois que os valores de troca vlidos para a
mesma mercadoria exprimem a mesma grandeza, o que ocorre que na troca,
um valor de uso, seja ele qual for, tem exatamente tanto valor quanto outro
qualquer. Uma espcie qualquer de mercadoria vale outra no momento em que
seu valor de troca o mesmo;
Atrs do valor de troca deve existir um contedo de que ele a expresso ( o
trabalho), onde qualquer que seja sua relao de troca, podemos sempre
represent-la por uma igualdade, isto , um elemento equivalente ou comum
de igual grandeza existe em dois bens diferentes. De forma que ao fazer-se
abstrao de seu valor de uso as mercadorias conservam uma mesma
propriedade, a de serem produtos (resultados) do trabalho. Portanto um valor
de uso, isto , um bem no tem valor seno pela causa do trabalho humano,
considerado numa forma abstrata, materializado no bem.
Portanto para Borchardt (1980 cap. 3), sendo o trabalho a substncia criadora
de valor, a medida da grandeza desse valor determinada pela quantidade detrabalho socialmente contido na mercadoria, ou seja, depende do tempo de
trabalho socialmente necessrio de a produo de qualquer valor de uso, ou
mercadoria. Logo, mercadorias que compreendem somas de trabalhos iguais
tm o mesmo valor.
Em seu artigo Elementos bsicos da teoria marxista do valor Reinaldo A.
Carcanholo aponta os princpios ou pressupostos fundamentais para a
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coerncia ou validade da teoria do valor elaborada por Marx: a teoria marxista
do valor no uma simples teoria dos preos, mas da natureza da riqueza
capitalista; valor e valor-de-troca so conceitos total e absolutamente
diferentes; o valor de uma mercadoria no a quantidade de trabalho
socialmente necessrio para produzi-la. O valor no pode ser definido; se
inicialmente ele pode ser descrito como a propriedade social das mercadorias
que consiste em seu poder de compra, converte-se em entidade com vida
prpria; os preos das mercadorias no so proporcionais nem ao valor nem
quantidade de trabalho. So determinados pelo jogo da oferta e demanda.
Segundo Carcanholo (1994) seria uma verdadeira confuso a idia de que a
teoria marxista do valor uma teoria dos preos ou que sua preocupao
principal a explicao de como se determinam os preos das mercadorias em
uma economia capitalista. Ela , de fato, uma teoria sobre a natureza da
riqueza capitalista, particularmente, sobre a produo e distribuio dessa
riqueza. Nesse sentido, valor e valor de troca no devem ser confundidos e
entendidos como se fossem iguais. Isso constitui um grave erro.
Para Marx o valor de troca de uma determinada mercadoria a proporo de
troca que ela realmente estabelece com outra mercadoria qualquer. A
mercadoria possui tantos valores de troca quantas so as demais mercadorias
existentes na sociedade. O preo simplesmente o valor de troca da
mercadoria quando a outra a mercadoria dinheiro. Nesse sentido, o valor
entendido como uma propriedade social que consiste no poder de compra,
entendido como poder de apropriao que possui essa mercadoria sobre as
demais e que permite a determinao dos valores de troca. Esse poder decompra est relacionado, numa primeira anlise, riqueza mercantil da
sociedade, ou seja, a quantidade de trabalho socialmente necessrio. Fica a
determinado que a magnitude do valor a magnitude da riqueza mercantil
produzidapelo trabalho social, isto , pelo esforo produtivo da sociedade.
Enquanto o valor uma propriedade social inerente, interior
mercadoria, expresso nela das particulares relaes sociais existentes
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e, portanto, uma categoria da essncia da sociedade capitalista, o valor
de troca sua forma de manifestao e aparece na superfcie mesma dos
fenmenos; por isso, diretamente observvel. (CARCANHOLO, 1994,
p. 5)
Porm, as variaes desse real poder de compra so determinadas pelo jogo
da oferta e da demanda. Assim, evidentemente para Marx, os valores de troca
e, em particular, o preo de uma mercadoria determina-se pela oferta e
demanda.
Portanto, no h na teoria marxista, uma lei do valor que diga que os valores
de troca e os preos estejam determinados diretamente pelas quantidades de
trabalho socialmente necessrio contido nas mercadorias ou, em outraspalavras, que as mercadorias devam ser trocadas na proporo de seus
valores, trabalhos socialmente contidos. Se imaginssemos uma situao em
que o real poder de compra das mercadorias no fosse alterado por
determinaes secundrias, fosse diretamente proporcional s magnitudes
dos seus valores, isto , s quantidades de trabalho socialmente necessrio
nelas contidas, teramos preos exatamente correspondentes aos valores;
nesse caso haveria, na equao de troca entre duas mercadorias quaisquermesma quantidade de trabalho abstrato. No entanto, isso no acontece na
realidade. Pois preos de mercado correspondentes s magnitudes dos valores
significariam produo e apropriao de valor iguais. Nessa situao no seria
possvel uma transferncia diferenciada - superior ou inferior- de valor ou
riqueza no processo de transao dos mercados. Os preos das mercadorias
seriam exatamente iguais aos custos de sua produo, ou seja, seu trabalho
socialmente contido; possibilidades apenas permitidas por irreais estruturas demercado.
Logo, poderamos concluir que a magnitude do valor de uma
mercadoria determina a grandeza da riqueza social que ela representa e
mede a riqueza produzida socialmente no instante de sua produo. No
entanto, a riqueza que ela representa, em cada instante, para seu
possuidor, ao contrrio, mede-se pela capacidade que a mercadoria
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possui realmente de, no mercado, apropriar-se de valor sob a forma de
outra mercadoria ou de dinheiro. (CARCANHOLO, 2004, p. 7)
A quantidade de trabalho socialmente necessrio determina a magnitude do
valor, refere-se sua dimenso quantitativa, sua grandeza, mas no sua
natureza. O valor no trabalho, embora encontre nele o seu fundamento.
Valor uma propriedade social das mercadorias que consiste em um certo
poder de compra, de magnitude s aproximadamente determinada, como
vimos anteriormente. uma qualidade delas, mas s isso durante um tempo,
um perodo, uma poca. Como qualquer categoria da dialtica marxista, no se
refere a algo dado, a algo que possa ser definido de uma vez para sempre. O
valor um processo de desenvolvimento que possui seu nascimento,desenvolvimento, maturidade, velhice e morte.
O valor est em permanente processo de desenvolvimento. Este processo ,
ao mesmo tempo, o desenvolvimento das relaes sociais mercantis no seio da
humanidade. Como est em permanente desenvolvimento, o que ele hoje
deixar de ser amanh e diferente do que foi ontem, como qualquer ser
orgnico, inorgnico ou social. Por isso, defini-lo de alguma forma umacompleta insensatez. o valor, durante um certo perodo pode ser descrito
(nunca definido) como uma caracterstica, um adjetivo, uma qualidade social.
Trata-se de algo que existe no interior da mercadoria e no pode desprender-
se dela. Mas tudo isso correto na etapa de seu desenvolvimento anterior
sua maturidade. Esta s alcanada quando ele se transforma em capital.
Nos processos de desenvolvimento do valor da mercadoria, esta pode adquirir
diferentes magnitudes de poder de compra ou apropriao, portanto diferentes
valores de troca, assim no instante imediatamente da sua produo seu real
poder de compra diretamente proporcional ao seu valor determinado pelo
trabalho socialmente contido. Posteriormente o poder de compra da mercadoria
pode divergir positiva ou negativamente do seu valor entendido como riqueza
social, no momento de sua transao no mercado.
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3. Teoria do valor em Marx no processo de anlise social da
produo e natureza da riqueza capitalista.
Na obra A Teoria Marxista do Valor de Isaak Illich Rubin, apresentada pelo
autor, de forma concisa, a essncia do pensamento de Marx sobre a teoria do
valor. O livro , pela profundidade e pelo rigor lgico, certamente umas das
principais obras sobre teoria do valor.
Sobre o valor argumenta:
A teoria do valor-trabalho no est baseada numa anlise dastransaes de troca enquanto tais em sua forma material, mas na anlise
das relaes sociais de produo que se expressam nas transaes.
(RUBIN, 1980, p. 77).
Assim as transaes no mercado so entendidas como conseqncias e no
causas do processo social de produo resultado das relaes sociais. Isso
significa que o ponto de partida para a investigao no o preo ou o valor de
mercado, e sim o trabalho.
Portanto, o valor considerado entendido como uma relao social, ou seja,
esse valor tem sua essncia no trabalho materializado. Pois numa economia
mercantil-capitalista as relaes de produo adquirem necessariamente uma
forma material, a forma de mercadoria. Assim, essa mercadoria, como
resultado do processo social de produo (relao social do processo
produtivo), tem seu valor determinado de acordo com a quantidade de trabalho
socialmente necessrio para sua produo, sua quantidade de trabalho
socialmente contido; o trabalho social pode expressar-se no valor.
Marx, [...] toma o valor como a expresso de uma sociedade em que o
indivduo s existe enquanto produtor de valor de troca, o que implica a
negao absoluta de sua existncia natural. Assim, a produo de valor
de troca j inclui em si a coero ao indivduo (RUBIN, 1980, p. 11).
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Como apontado por Mattei (2003) o trabalho era considerado pelos "clssicos"
simplesmente como uma unidade fsica imediata, sendo visto, inclusive, como
algo indiferente s mercadorias. Marx, ao contrrio, faz a crtica da economia
clssica tentando compreender o significado do valor a partir das leis gerais do
sistema capitalista. Decorre da que o objeto de estudo de Marx no o valor,
mas a mercadoria, porque nela se encontra o resultado (produto) do trabalho
humano. Dessa formulao, o autor tira uma primeira concluso importante: o
trabalho no valor, mas, sim, o seu fundamento.
Para Marx,
(...) os homens no estabelecem relaes entre os produtos de seu
trabalho como valores, por consider-los simples aparncia material do
trabalho humano de igual natureza. Ao contrrio. Ao igualar, na
permuta, como valores, seus diferentes produtos, igualam seus trabalhos
diferentes, de acordo com sua qualidade comum de trabalho humano.
Fazem isso sem o saber (...)"; e dessa forma, "(...) o valor transforma
cada produto do trabalho humano num hieroglifo social, que os homens
procuram decifrar seu significado (Marx, 1975, p. 82-83).
De acordo com Belluzzo (1998) a produo para a troca transforma cada
produtor individual num rgo do trabalho social, onde o trabalho de cada um
se dissolve no trabalho social e, a partir da, vira a substncia do valor. Nesse
caso, o trabalho concreto (aquele que cria valor de uso) colocado em uma
posio subordinada, tornando-se um instrumento do trabalho social, cuja
sociabilidade resulta do processo de troca, em que a mercadoria, como produto
desse trabalho social, se exprime como valor.
Pode-se dizer que a troca transforma os diferentes tipos de trabalho em
equivalentes, sendo que essa transformao determinada pelo tempo de
trabalho socialmente necessrio (trabalho gasto, em mdia, pela sociedade
para produzir as mercadorias) e exprime uma relao entre os diversos tipos
de trabalho. Porm essa mdia no advm da produtividade individual, mas da
produtividade mdia da sociedade, que encontrada no mercado atravs dos
movimentos de oferta e de procura das mercadorias. (MATTEI, 2003, p. 21)
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Sobre a relao entre valor e preo conciso a sntese de Souza (2001),
dizendo que conhece-se normalmente o preo, determinado pelas foras
competitivas do mercado, ou em termos marxistas pela converso do valor em
termos monetrios. O preo acontece quando a mercadoria entra no processo
de circulao e o valor, nada mais do que o trabalho incorporado na
produo de uma mercadoria. Com isto, fica claro que MARX quis mostrar a
origem do processo de explorao que acontece no sistema capitalista porque
o preo esconde o trabalho no pago que apropriado pelo capitalista e
convertido em mais fonte de explorao do trabalhador e isto que MARX
chamou de mais-valia, portanto, de fundamental importncia para a
acumulao capitalista e sobrevivncia da burguesia moderna.
4 - Consideraes finais
A preocupao bsica deste ensaio esteve centrada na busca dos
pressupostos tericos necessrios para compreender adequadamente as
formulaes da teoria marxista do valor, os quais possibilitam interpretar o
significado desta teoria fundamentado no papel do trabalho enquanto parte
essencial da produo e composio da riqueza econmica da sociedade.
Para tal propsito buscou-se apontar de formar contextualizadora os
fundamentos da crtica marxista a teoria do valor do pensamento econmico
clssico, tambm foram apresentados os pressupostos ou princpios bsicos
norteadores que garantem validade a teoria marxista do valor, enquanto
elemento chave da analise das leis do movimento do complexo sistema
capitalista. Em ltima instncia, este estudo se voltou ao entendimento da
aplicao da teoria do valor-trabalho, em Marx, no processo de anlise social
da produo, distribuio e natureza da riqueza capitalista.
Emblemticas e divergentes questes presentes no debate sobre a coerncia
da teoria marxista do valor foram elucidadas: o trabalho socialmente contido
no determina preo, estes vo valores de expresso monetria que flutuam
nas diferentes estruturas de mercado de acordo com a interao entre oferta e
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demanda. Nesse mesmo mbito a divergncia entre valor e preo nos
diferentes mercados possibilita uma interessante anlise da distribuio do
trabalho humano ou da apropriao de riqueza social pelo capitalista, fonte
esta da explorao do trabalho, chamada por Marx de mais-valia a qual
possibilita o processo de acumulao e reproduo das relaes sociais
prprias do capitalismo. Porm, por no ser foco deste trabalho esta anlise
no foi devidamente explorada no seu contexto mais amplo e complexo, estudo
este de meu interesse futuro.
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REFERNCIA
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