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REPRESENTAÇÃO DO NEGRO NO LIVRO DIDÁTICO DE CIÊNCIAS PARA O

ENSINO FUNDAMENTAL

ÁREA DO CONHECIMENTO: EDUCAÇÃO

Sonia Helena Furtado Costa1

Helena do Socorro Campos da Rocha2

Ronaldo Martins Gomes3

RESUMO Este trabalho tem por objetivo analisar de que forma o negro está representado no livro didático de Ciências para o ensino fundamental. Textos e imagens que apresentaram negros como personagens, foram analisados, verificando-se a existência ou não de estereótipos e formas discriminatórias aos mesmos. As análises indicaram, além da sub-representação do negro, a presença de estereótipos e formas de preconceitos presentes tanto nas imagens como nos textos, de forma explicita ou implícita, evidenciando um descaso e/ou preconceito com a etnia negra por parte dos autores e/ou ilustradores. Tendo em vista que o professor é o mediador das informações previamente estabelecidas nos livros didáticos, acreditamos que o mesmo deva estar apto a detectar e observar fragilidades implícitas nos livros, tais como a presença de preconceitos raciais. Nesse sentido, propõem-se o desenvolvimento de cursos de educação continuada, cursos de aperfeiçoamento, extensão, especialização, abordando a temática étnico-racial, como os que têm acontecido na instituição no Centro Federal de Educação Tecnológica do Pará. Palavras-chave: negro. livro didático. ciências. Introdução

Falar sobre preconceito racial no Brasil pode parecer, para muitos, coisa do passado,

algo que foi deixado para trás com a abolição da escravatura. Há tempos, a classe hegemônica

dominante branca insiste em simular um quadro democraticamente racial, onde todos vivem

de maneira harmônica, sem discriminações ou preconceitos. Sabe-se, entretanto, que tal

democracia não existe, pois a realidade brasileira é totalmente contrária a qual a classe

dominante insiste em fazer prevalecer como a real. A literatura não deixa margem para

dúvidas, pois está repleta de informações que mostram ao longo das décadas a presença de

racismo e formas discriminatória ao negro na sociedade Brasileira (ROSEMBERG, 2003;

AQUINO, 2003; GOMES, 2003; ROCHA, 2006; MAGGIE, 2006; KALCKMANN, 2007).

1 Mestre em Ciências Veterinárias – UECE; Bacharel em Biologia – UFPA; Licenciada Plena em Biologia – CEFET-PA; Concluinte do Curso de Especialização em Educação para Relações Étnico Raciais. [email protected]; 2 Orientadora do Artigo. Professora de Educação Especial do CEFET-PA. Mestre em Teoria e Pesquisa do Comportamento – Psicologia Experimental – UFPA; Doutoranda em Teoria e Pesquisa do Comportamento – Psicologia Experimental – UFPA; Coordenadora do Curso de Especialização em Educação para Relações Étnico Raciais – CEFET-PA; 3 Co-orientador do Artigo. Graduando em Licenciatura Plena em Pedagogia do CEFET-PA; Bolsista da Diretoria de Ensino Superior CEFET-PA e vice-presidente do DCE – CEFET-PA.

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O racismo, na maioria das vezes, acontece de forma subliminar, implícita, silenciosa

e, tão sutilmente articulado que passa despercebido por muitos, porém não deixa de atingir

seu objetivo, que é desvalorizar, marginalizar, diminuir, destruir, execrar a auto-estima, a

dignidade, a cultura e a história da classe social africana e afro-brasileira. Segundo Lima &

Vala (2004), as novas expressões de racismo, mais veladas e hipócritas, são tão ou mais

danosas e nefastas do que as expressões mais abertas e flagrantes, uma vez que, por serem

mais difíceis de serem identificadas, são também mais difíceis de ser combatidas.

Diversas pesquisas têm demonstrado, ao longo dos anos, que o Livro didático têm

sido utilizado na reprodução de estereótipos e formas discriminatória ao negro, contribuindo

para o fortalecimento das desigualdades (ROSEMBERG, 1980, 2003; NEGRÃO, 1990;

SILVA, 1995; FREITA, 2005; CARVALHO, 2006). Essa questão é preocupante, haja vista o

livro didático, enquanto recurso pedagógico, fazer-se presente “desde os momentos iniciais de

escolarização das crianças, que aprendem a percebê-los como legitimadores de ‘verdades’”

(COSTA, 2008).

Nesse contexto é que o presente estudo tem por objetivo verificar de que forma o

negro está representado no livro didático de ciências para o Ensino Fundamental, e dessa

forma tentar contribuir para o fim do preconceito racial ainda tão latente nas práticas

pedagógicas.

A maioria dos livros de Ciências presente no Guia de Ciências do Programa

Nacional do Livro Didático para o Ensino Fundamental apresenta um manual do professor, há

um tópico que trata da relevância que as Ciências têm para os jovens. Neste, lê-se que na

medida que o jovem aumenta sua compreensão da estrutura e do funcionamento da natureza,

ele aprenderá a observar intencionalmente, a formular hipóteses, a experimentar para testá-las,

a concluir e, finalmente, a operar com os conceitos adquiridos para solucionar novos

problemas; que o aluno constrói, gradualmente, valores e princípios que lhe permitem melhor

enfrentar os desafios do dia-a-dia, tanto àqueles relacionados ao mundo do trabalho como os

que exigem um posicionamento ético diante dos fatos.

Aprender Ciência, portanto, faz parte de um dos objetivos maiores da educação, que

é o de formar cidadãos conscientes, participantes e solidários.

Após a implementação da Lei 10.639, promulgada em 9 de fevereiro de 2003, que

tornou obrigatório a inclusão no currículo oficial da Rede de Ensino a temática “História e

Cultura Afro-Brasileira”, em especial nas áreas de Educação Artística, Literatura e História

Brasileira (BRASIL, 2008), acredita-se que outras disciplinas, tais como as Ciências, tenham

também incluído em seus livros didáticos tal temática, contribuindo, dessa maneira, para

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minimizar o preconceito racial, além de contribuir para a formação de uma escola voltada

para a diversidade cultural pronta a respeitar as diferenças raciais.

Estando plenamente de acordo que o livro de Ciência exerce forte influência na

formação do aluno e do cidadão brasileiro, é que nos propusemos a examinar imagens e textos

utilizados nos livros didáticos de Ciências para verificar se tais livros têm incorporado o que

prega a Lei 10.639. Para nortear esse exame, delimitamos nossos problemas em algumas

questões, tais como: o número de ilustrações de pessoas negras e pardas nos livros de

Ciências do ensino fundamental é proporcional ao de ilustrações de pessoas brancas? Há

presença de estereótipos e formas discriminatórias ao negro nas imagens e textos que

apresentam o negro como personagem?

Diante do exposto, o presente artigo tem por objetivo geral, analisar a maneira pela

qual os negros são representados nos livros didáticos de Ciências do Ensino Fundamental e,

como objetivos específicos, verificar se o número de imagens de negros é proporcional ao

número de imagens de brancos; identificar, ainda, a presença de estereótipos e formas

discriminatórias ao negro nas ilustrações que apresentam o negro como personagem, bem

como identificar a presença de estereótipos e formas discriminatórias ao negro nos textos que

o apresentam como personagem.

Para tanto, selecionamos um livro de Ciências da 6ª série do ensino fundamental que

faz parte do guia de Ciências do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD): “Entendendo

a Natureza: os seres vivos no ambiente” dos autores César da Silva Júnior, Sezar Sasson e

Paulo Sérgio Bedaque Sanches, Editora Saraiva, ano 2007. O critério utilizado para a seleção

do livro didático neste estudo foi justamente sua presença no PNLD.

Nesta pesquisa, são tomados como instrumentos de análise os textos e as imagens,

presentes no livro didático de Ciências, que mostram o negro como personagem,

identificando-se a existência da presença de formas discriminatórias à etnia, construídas pelos

autores e ilustradores; enfocando situações atribuídas, o meio sócio-cultural e a forma pela

qual o negro destacado aparece ilustrado. Vale ressaltar, que, para fins de classificação,

considerou-se como ilustrações: fotos, figuras e desenhos de seres humanos.

Selecionadas as imagens, iniciou-se um trabalho de descrição minuciosa, nas quais

pudéssemos encontrar negros retratados. Realizamos também um estudo quantitativo, no qual

comparamos os números de imagens que representavam sujeitos negros com aquelas imagens

que traziam sujeitos brancos retratados, bem como a análise dos textos e legendas, buscando

estabelecer relações destas com as imagens.

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Vale ressaltar que é difícil definir quem é considerado negro no Brasil. Segundo

Munanga (2004), a classificação racial no Brasil é “baseada na marca e na cor da pele, e não

na origem ou no sangue, como nos Estados Unidos e na África do Sul”. Dessa forma,

utilizamos neste estudo uma classificação por cor, baseada nas categorias usadas pelo Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística, que considera negro todos pretos e pardos (OLIVEIRA,

2004).

O presente artigo está subdividido em três partes. A primeira parte trata da abordagem

da imagem de negros no livro didático de Ciências para o ensino fundamental; a segunda

parte trata de estereótipos e formas discriminatórias ao negro nas ilustrações dos livros

didáticos de Ciências e, finalmente, a terceira parte deste artigo trata de estereótipos e formas

discriminatórias ao negro nos textos dos livros didáticos de Ciências.

Sabendo-se que os afro-descendentes que compõem a população brasileira são da

maior importância na constituição do estado, a relevância do presente artigo se dá pela

necessidade que esse segmento tem de se ver representado nos livros didáticos das várias

áreas, não apenas naquelas apontadas pela Lei 10.639/03, ou seja, Educação Artística,

Literatura e História Brasileiras.

1. Abordagem quantitativa das imagens do negro no livro didático de Ciências

Nessa seção, pretendemos mostrar ao leitor como o negro está representado no livro

didático de Ciências, ou seja, se o número de ilustrações de personagens negros é

proporcionalmente similar ao número de personagens não negros; mostrando, dessa forma, se

os autores estão, de fato, dando a devida atenção a esse segmento, tendo em vista os mesmos

a merecem, não apenas por que ficaram por anos na “invisibilidade”, mas por ser um direito

previsto em Lei (10.639/08), e como tal deve ser respeitado.

Muitas vezes, o livro didático se constitui como a única fonte de acesso ao

conhecimento, tanto por professores, em razão das condições de trabalho, ou seja, salas de

aulas repletas de alunos e escassez de materiais pedagógicos, como também pelos alunos, que

oriundos das classes populares e de baixa renda, é pouco provável que tenham contato com

outras leituras. Assim, “em virtude da importância que lhe é atribuída e do caráter de verdade

que lhe é conferido, o livro didático pode ser um veículo de expansão de estereótipos não

percebidos pelo professor” (MUNANGA, 2005, p. 23).

Nosella (1981, apud COSTA, 2008) descreve que a maioria dos livros didáticos está

repleta de estereótipos. Segundo a autora, a forma de representar os valores, noções e crenças,

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é dada pelos “dominantes” que querem continuar o processo de dominação. A autora

menciona, ainda, que a mensagem visual se torna um eficiente instrumento ideológico

complementar dos textos, devido à sua força comunicativa, rapidez e impacto emotivo, muitas

vezes maior que a própria comunicação escrita.

A representação de imagens visuais resulta de processos produtivos que acompanham

a existência humana desde os tempos mais remotos. Assim, estudar as imagens tornou-se

tarefa quase obrigatória não só para historiadores e professores de História, de Comunicação e

de Arte, como também para quem queira saber interpretá-las numa sociedade onde grande

parte dos valores é regida por signos ou códigos visuais, carregadas de ideologias e

estereótipos.

Para a análise do tratamento dispensado ao negro nos livros didáticos de Ciências,

conforme citado anteriormente, procedeu-se à contagem do número de vezes que pessoas

negras aparecem nas ilustrações, sendo estas representadas por fotos, figuras e desenhos que

mostrem o corpo inteiro de personagens humanos negros, bem como partes do corpo ou

simplesmente sua epiderme.

Após contagem das ilustrações apresentadas no livro, observamos um total de 39

imagens de personagens humanos, onde apenas 6 eram negros. Esses resultados nos permitem

dizer que para cada 7 personagens identificados no livro de Ciências analisado, apenas 1

personagem era negro. Diante destes resultados, podemos afirmar que o negro aparece de

forma sub-representada nos livros didáticos de Ciências do ensino fundamental. Além disso,

essa diferença marcante observada entre o número de ilustrações de personagens negros e

brancos analisados no livro, leva-nos a perceber claramente um silenciamento sobre a questão

étnico-racial e sugere que os poucos negros que aparecem servem apenas para simular um

quadro de igualdade racial, sem êxito, pois, fica claro, pela grande quantidade de personagens

brancos presentes nos livros, que o branco ainda é tido como norma de humanidade.

Rosemberg (1985 apud ROSEMBERG, 2003), analisando a literatura infanto-juvenil,

da mesma forma, verificou a sub-representação de personagens negros em textos e

ilustrações.

Freitas (2005), em seu estudo sobre a relação negros, brancos e índios nos manuais

didáticos de História, mostrou uma situação majoritária da representação de brancos (180

ocorrências), seguida de uma sub-representação de negros (20).

Silva (2007) verificou uma desproporção entre personagens brancos e negros em

livros didáticos de Língua Portuguesa, onde para cada personagem negro eram observados

16,7 personagens brancos.

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Sales Jr. (2006), afirma, porém, que a discriminação de caráter racial, muitas vezes,

ocorre sem nenhuma enunciação explícita ou implícita e que as relações raciais constituem,

nesse caso, um discurso silencioso, um jogo de linguagem não-verbal, não-dito.

Além disso, podemos dizer que o silenciamento referente ao segmento negro pode ser

verificado não apenas pela omissão de palavras textuais, mas também pela ocultação ou

redução quase completa de suas imagens. Nós, professores, devemos, portanto, ter o cuidado

para não cairmos nessas armadilhas, compactuar com esse silenciamento.

Segundo Aquino (2003), silenciar a história de determinado grupo social é reforçar o

racismo, é silenciar os saberes históricos; é condená-los ao holocausto cultural. O autor diz

ainda que “silenciar a cultura do outro por meio de estratégias de submissão e inferiorização é

apagar as vozes da história, é extirpar a memória” (AQUINO, 2003, p.11).

Após a identificação de problemas acerca da representação do negro no livro didático

de Ciências, tais como a sub-representação e silenciamento, nada mais justo que apontar

proposições para melhoria desse livro. Sugerimos, inicialmente, aos autores, às editoras, aos

ilustradores, aos professores, aos órgãos competentes e a todos àqueles que, de alguma forma,

sintam-se responsável pela educação e formação de uma sociedade livre de preconceitos e

racismos, que, inicialmente, buscassem realmente compreender a importância social que a

cultura africana e afro-descendente tem para um país marcado pela diversidade étnica e

cultural - o Brasil; que buscassem reconhecer a relevância de incluir a cultura negra nos livros

didáticos; pois dessa maneira, será muito mais fácil tratar de questões como preconceito e

estereótipos nos livros didáticos.

Ainda no que diz respeito aos livros didáticos, sabe-se que estes têm se constituído em

fontes inesgotáveis de pesquisa que abordam os mais diversos temas, dentre os quais os

estereótipos que veiculam e que contribuem para o fortalecimento das desigualdades

existentes entre os atores que atuam no cotidiano social (GOMES, 2002; ROSEMBERG,

2003). A seguir, passaremos à próxima seção do artigo, onde analisamos justamente a

presença de estereótipos nas imagens dos personagens negros no livro de Ciência.

2. Estereótipos e formas discriminatórias ao negro nas imagens dos livros didáticos de

Ciências

Nessa seção, mostraremos ao leitor como a figura do negro está representada no livro

didático de Ciências, através da análise das imagens presentes no livro dos autores César da

Silva Júnior, Sezar Sasson e Paulo Sérgio Bedaque Sanches, verificando se e como este livro

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estereotipifica a figura do negro. Lembramos que as ilustrações foram analisadas conforme

critério descrito na primeira seção deste artigo.

Ninguém duvida que o mundo que nos circunda é imagético e complexo, visto que nos

deparamos o tempo todo com os mais variados tipos de imagens, tais como outdoors, painéis,

fotografias, faixas, banners, filmes, programas televisivos, sites, anúncios, dentre outros.

A fotografia é, muitas vezes, tomada como uma copia do real, é um “fio de uma rede

que conecta sujeitos entre si e ao mundo. Um mundo que ao ser representado e, de alguma

forma, recriado. Vê-la como um signo é um caminho que, percorrido, poderá nos levar ao

encontro da potencia simbólica da imagem” (VAZ, 2003. p. 98).

Assim, refletir acerca de possíveis leituras de imagens pode significar também

investigar que padrões de visualidade um dado contexto sócio-histórico organiza e conforma,

ou seja, devemos sempre considerar o caráter ideológico subjacente e qual a idéia essencial

que quer ser transmitida.

O termo Ideologia Imagética tem sido bastante utilizado em textos que tratam de

análises de obras de artes, cartazes, livros, televisão etc. Nelson Fernando Inocêncio da Silva

em seu livro “Consciência negra em cartaz”, valendo-se dos pressupostos teóricos de Nico

Hadjinicolauou, define Ideologia Imagética como “uma combinação específica de elementos

formais e temáticos da imagem, que constitui uma das formas particulares da ideologia global

de uma classe (categoria)” (SILVA, 2001, p.49).

Tendo em vista a construção histórica e imagética dos livros didáticos, que, via de

regra, retratam o segmento negro de forma estereotipada, destituído de história, de passado, de

inteligência, faz-se necessário aprendermos a “ler” as imagens que retratam o negro nos livros

didáticos e saber qual a condição e posição que o segmento negro está ocupando nestes livros.

Carvalho (2006), analisando artigos que tratam de estereótipos relacionados ao negro

em livros didáticos, concluiu que o preconceito e racismo veiculados nos textos e imagens dos

Livros Didáticos são multifacetados, ou seja, podem ser apresentados de diversas formas, seja

através dos fenótipos e estereótipos criados em torno do corpo negro como cor da pele,

formato e espessura do nariz e lábios, textura dos cabelos; associando-os à feiúra e

inferioridade biológica em relação ao corpo branco; através das características dos

personagens negros que aparecem em situações de subjugação e inferioridade social e

intelectual em relação aos personagens brancos; entre outras constatações que evidenciam a

veiculação de preconceitos e posições racistas de forma implícita e explicitamente nos

conteúdos e gravuras dos Livros Didáticos (CARVALHO, 2006).

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A partir de agora iremos verificar de que forma o negro está representado nas imagens

encontradas no livro didático de Ciências dos autores César da Silva Júnior, Sezar Sasson e

Paulo Sérgio Bedaque Sanches (Silva Júnior, Sasson, Bedaque, 2005).

Gostaríamos, inicialmente, de tecer algumas considerações acerca da imagem que nos

chamou a atenção. A imagem está situada logo na primeira página do livro, onde os autores

mostram a relevância do livro de Ciências aos alunos, e mostra uma criança do gênero

masculino, branca, elevando um globo terrestre com suas mãos (Figura 1).

FIGURA 1. CRIANÇA BRANCA COM GLOBO TERRESTRE NAS MÃOS

FONTE: SILVA Jr; SASSON; SANCHES, 2005.

A imagem anterior, em nossa concepção, ilustra muito bem a idéia eurocêntrica de

uma cultura monolítica de poder, ou seja: homem, jovem e branco. Assim, não somente o

preconceito de raça fica tipificado na imagem, mas o de sexo também. Os autores propõem,

de forma explicita, que tal fato deve ser considerado normal e essa normalidade deve ser

assumida por todos os alunos, seja negro ou não negro.

A branquidade passou a ser mais do que ela própria; ela simboliza objetividade,

normalidade, verdade, conhecimento, mérito, motivação, sucesso e credibilidade; além disso,

acumula apoios invisíveis que contribuem anonimamente para o capital já acumulado e

reforçado dos brancos. Raramente, porém, se reconhece que a branquidade exige e constitui a

hierarquia, a exclusão e a destituição (FINE et al., 1997 apud WILSON, 2005),

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Wilson (2005) menciona em seu artigo, que trata da invisibilidade da branquidade, que

o privilégio branco é discurso mono cultural e contestar este discurso aumenta o incômodo

dos que têm o privilégio e ajuda àqueles que não têm a falar. A autora acredita que se

educadores e futuros professores não estivermos disponíveis a desconstruir esses privilégios e

a colaborar no sentido de alterar o discurso enraizado do racismo no âmbito dos cursos de

licenciatura e pós-graduação, teremos de assumir a responsabilidade pelas conseqüências do

privilégio branco que continuarão a manifestar-se na nossa sociedade.

No capítulo 19, que trata as relações animais-seres humanos, na página 191,

observamos a imagem das mãos de um homem negro abrindo a boca de uma jararaca viva

(Figura 2), mostrando as grandes presas inoculadoras de veneno, tendo em vista que o tópico

trata de acidentes com cobras e a produção de soro antiofídico. Será o homem negro um

pesquisador? Pouco provável, pois se assim o fosse, teria seu rosto visível, como verificado

no presente livro didático analisado, onde se verificou que todos os pesquisadores presentes

eram da cor branca. Em nossa concepção, o homem em questão é, provavelmente, um tratador

de animais, o que só reforça a idéia de que subempregos, bem como aqueles de alta

periculosidade, são, na maioria das vezes, destinados a uma maioria, como exemplo os negros

e pobres.

FIGURA 2. HOMEM NEGRO ABRINDO A BOCA DE UMA JARARACA VIVA: MOSTRANDO AS GRANDES PRESAS

INOCULADORAS DE VENENO.

FONTE: SILVA Jr; SASSON; SANCHES, 2005. p. 191

Nota-se que, quanto à questão do “trabalho”, os afro-descendentes ainda são

confinados em um micro-espaço para exercer funções menos favorecidas no discurso social,

sobrando-lhes, apenas, a representação de papéis servis, socialmente pouco significativos

(AQUINO, 2003, p.7).

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As práticas culturais dominantes disseminam a idéia de que os afrodescendentes são

incompetentes e inábeis para certas atividades no mundo da produção cultural. A partir dessas

percepções, são produzidas imagens negativas em relação “a cultura, o conhecimento e o

trabalho” dessa população, negando-lhes a sua força de trabalho como um elemento decisivo

no processo histórico-social e cultural da formação do País (CUNHA Jr, 2001).

Gostaríamos de lembrar mais uma vez que a discriminação racial, muitas vezes, se dá

sem nenhuma enunciação explícita ou implícita. Porém, segundo Sales Jr. (2006), confrontar

os comportamentos observados com outros comportamentos ou inseri-lo numa série

divergente de comportamentos repetidos que separam e distribuem “brancos” e “negros”,

talvez seja uma maneira de caracterizar melhor tal prática.

Fazendo um paralelo entre o que Sales Jr. disse com os tipos empregos e/ou cargos e

seus respectivos ocupantes, podemos citar como exemplos uma imagem verificada na página

10, onde observamos um homem negro no garimpo, segurando uma peneira, tendo com isso

seu corpo inclinado para frente, de modo que sua face não está visível (Figura 3A), uma outra

imagem, na página 240, mostrando um seringueiro negro (Figura 3B).

FIGURA 3. FORMAS DE SUBEMPREGOS DESTINADOS AOS

NEGROS: GARIMPEIRO E SERINGUEIRO

FONTE: SILVA Jr; SASSON; SANCHES, 2005.

Para nós, o objetivo ideológico das imagens observadas acima é convencer o leitor de

que trabalhos pesados e inferiores, como garimpeiro, por exemplo, fazem parte da vida do

negro, pois como exerciam atividades similares antes, como escravos, é de sua natureza se

submeter a esse tipo de trabalho. Ao mostrar imagens como esta, o livro didático só contribui

para reforçar estereótipos do tipo “negros deverão sempre ocupar cargos inferiores”. Além

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disso, a postura em que o negro se encontra na Figura 3A – abaixado, sem o rosto amostra

indica a forma como os negros devem se portar diante da sociedade dominantemente branca,

submissos e obedientes.

A correlação de personagens negros com profissões socialmente desvalorizadas

também foi percebida por Rosemberg (1985, apud ROSEMBERG, 2003) ao analisar textos e

ilustrações na literatura infanto-juvenil publicada entre 1955 e 1975. Observem que apesar de

já terem se passado 33 anos, estereótipos como estes ainda continuam sendo reproduzidos em

obras didáticas.

Outro exemplo relacionado a empregos, ou subempregos, pode ser verificado no

capítulo 13 (p.130), onde identificamos a imagem de 3 homens no interior de um helicóptero:

1 homem branco, vitima de acidente, e 2 profissionais habilitados que o estão prestando

socorro ao primeiro. Sendo, que um dos “profissionais” é negro e está trajando blusa azul e

calça escura, traje este muito parecido com um uniforme (Figura 4). Apesar dos autores terem

usado o termo “profissionais habilitados”, não sabemos, ao certo, qual a profissão do negro,

tendo em vista que o outro profissional parece ser o piloto do helicóptero.

FIGURA 4. PROFISSIONAIS HABILITADOS SOCORRENDO VÍTIMA DE ACIDENTE DE

TRÂNSITO.

FONTE: SILVA Jr; SASSON; SANCHES, 2005. p.130.

A imagem acima além de reforçar a idéia de que atendimento hospitalar de qualidade

só beneficia pessoas brancas, deixando o negro apenas como um mero coadjuvante da classe

dominante branca, a qual insiste em reforçar estereótipos, tais como pessoas negras, na área

médica, só chegam a ser, no máximo, auxiliares.

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Rocha (2006) cita que a formação profissional, desde as suas origens, sempre foi

reservada às classes menos favorecidas, estabelecendo-se uma nítida distinção entre àqueles

que detinham o saber e os que executavam tarefas manuais. Ao trabalho, freqüentemente

associado ao esforço manual e físico, acabou se agregando ainda a idéia de sofrimento. A

autora ainda diz que a herança colonial do Brasil escravista influenciou preconceituosamente

as relações sociais e a visão de sociedade sobre a educação e a formação profissional.

Analisando figuras, na página 65, observamos dois esquemas representando o ciclo de

vida do Trypanosoma cruzi, transmissor da doença de chagas. O primeiro esquema mostras o

parasita Trypanosoma cruzi, seu agente transmissor (o inseto barbeiro) e o seu hospedeiro (o

ser humano). Este representado pela figura de um menino negro, colorido artificialmente

(Figura 5). O segundo esquema mostra três tipos de hospedeiros do Tripanosoma cruzi: o

inseto barbeiro, o tatu e o ser humano. Este último, porém, representado pela figura de um

menino branco, colorido também artificialmente (Figura 6).

FIGURA 5. DESENHO ESQUEMÁTICO MOSTRANDO O CICLO DE VIDA DO Trypanosoma cruzi.

FONTE: SILVA Jr; SASSON; SANCHES, 2005. p.65.

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FIGURA 6. DESENHO ESQUEMÁTICO MOSTRANDO TRÊS TIPOS DE HOSPEDEIROS DO Trypanosoma cruzi..

FONTE: SILVA Jr; SASSON; SANCHES, 2005. p.65.

A partir das análises dos esquemas ilustrativos, surgiu-nos o seguinte questionamento:

se os desenhos foram coloridos artificialmente, ficando, portanto, a escolha das cores a

critério dos autores e/ou ilustradores, então por que o livro mostra apenas um único desenho

ilustrativo de personagem negro? Lembrando que, no presente livro, existe várias figuras

ilustrativas de personagens humanos e que as mesmas foram coloridas ora em tonalidades

rosa, ora amarela.

Tais resultados evidenciam claramente o modelo de estética considerado pelos autores

e/ou ilustradores, ou seja, a classe hegemônica branca.

No capítulo 10, que trata das relações animais-seres humanos, na página 184,

percebemos a imagem de uma mulher negra na praia, trajando um maiô, brincando com seu

cão (Figura 7). A imagem em questão apresenta a seguinte legenda: “Mesmo cães mansos

podem ferir seus donos. Mantenha seus cães e gatos vacinados e tenha cuidado ao brincar

com eles”. Esta ilustração complementa o texto que trata de acidentes vulnerantes, como

aqueles causados por mordeduras de animais como cães, gato, cobras, cavalos, peixes,

macacos etc. Essa imagem revela uma forma bastante comum de representação do negro: a

sensual, que passa por uma estetização do corpo. A exploração do corpo feminino ganhou

destaque nessa imagem.

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FIGURA 7. MULHER NEGRA BRINCANDO COM SEU CÃO.

FONTE: SILVA Jr; SASSON; SANCHES, 2005. p.184.

Segundo Silva (2001), a ideologia imagética hegemônica existente em nosso contexto

produz, ao nível imaginário, uma forte associação do corpo negro com a virilidade e com a

promiscuidade. Certamente, isso não isenta algumas imagens nos livros didáticos analisadas

dos estereótipos sexuais, nem mesmo quando a proposta é bem diferente, como o caso da

imagem acima.

Dessa forma, ainda que hoje a mulher negra esteja aparentemente mais assimilada na

cultura brasileira, esta se vê aprisionada a alguns lugares ou estereótipos, tais como: a

sambista, a mulata, a doméstica, herança de um passado histórico (NOGUEIRA, 1999).

3. Estereótipos e formas discriminatórias ao negro nos textos dos livros didáticos de

Ciências

Nessa última seção, procuramos mostrar ao leitor se e como o negro está representado

nos textos do livro didático de Ciências, se os autores fazem alusão a personagens negros e

qual o tratamento dado a cada uma deles.

O livro didático exerce um papel fundamental na cultura escolar, posto que é um dos

instrumentos importantes para se pensar a questão dos conteúdos, das imagens, dos

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estereótipos, dos valores, e conseqüentemente, da tendência do pensamento histórico

educacional brasileiro (DIAS, 2004 apud CARVALHO 2006, p. 61).

Os resultados apresentados no presente artigo mostraram, até então, sinais claros de

estereótipos e preconceito atribuídos aos personagens negros, conforme observado através de

imagens analisadas no livro didático de Ciências.

Com relação à análise da representação do negro nos textos do livro didático,

chamamos a atenção para o texto correspondente à figura 1 (ilustrado na primeira seção desse

artigo), onde os autores expressam seus desejos, aos alunos, de que o trabalho com Ciências

possa ajudá-los a pensar de forma cada vez mais clara, rejeitando superstições e preconceitos.

Apesar dos autores não explicitarem os tipos de preconceitos, levando-nos a deduzir que

sejam todos e quaisquer tipos, acreditamos que se os desejos dos autores forem realmente

verdadeiros, eles devam dar maior atenção à imagem correspondente ao texto, tendo em vista

estar “carregada” de preconceitos, haja vista que os autores passam, através da imagem, o

modelo de estética preferencialmente, ainda, de população eurocêntrica.

No tocante às figuras 5 e 6 (ver foto na seção 2), em que mostra o desenho

esquemático do ciclo de vida do Tripanosoma cruzi, a principio, não percebemos nenhuma

forma de preconceito ou estereótipos ao negro no texto referente a estas figuras. Porém, um

pequeno detalhe: chamou nossa atenção, a legenda que identifica o menino negro, pois além

da palavra “ser humano”, observamos uma outra legenda com o termo “hospedeiro”; já no

desenho esquemático em que aparece o menino de cor branca, o termo “hospedeiro” foi

omitido, ficando apenas a legenda “ser humano” (Figura 6). Essa “inocente” ou aparente

omissão de uma simples legenda contribui para fomentar estereótipos tais como a associação

do negro às doenças, visto que ele é um “hospedeiro” de seres patogênicos.

Segundo Vaz (2003), existe uma relação de contigüidade entre a foto e a legenda, ou

seja, quando se vê uma fotografia, os olhos do leitor, obedecendo a uma pulsão, percorrem as

margens da foto a procura da tão esperada etiqueta que ira lhe informar exatamente de que se

trata a imagem. Nessa perspectiva, cada foto, somada a sua legenda, consiste numa narrativa,

numa história sendo contada. O autor menciona também que a leitura das fotos pode ser

influenciada consideravelmente pelo simples fato de a legenda nomear ou não seus

personagens (VAZ, 2003, p. 230).

Segundo Orlandi (1987) o discurso pedagógico pode ser entendido como um discurso

do poder que, em suas estratégias discursivas, tende para o “esmagamento” do outro. Esse

discurso pedagógico, freqüentemente, na sua função de “informar, explicar, influenciar ou

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mesmo persuadir reproduz as fórmulas da cultura do racismo e do preconceito” (ORLANDI,

2003).

Além do que foi descrito acima, em nenhum momento no texto contido no livro os

autores fizeram referência quanto aos personagens negros ilustrados no livro ou quem

qualquer outra página. Assim, exceto pelas imagens, notou-se um silenciamento completo

sobre a população negra. Esse silenciamento, a nosso ver, contribui sobremaneira para o

fortalecimento da exclusão racial tão presente ainda no Brasil.

Segundo Silva (1995, p.47 apud MANEGASSI e SOUZA, 2005), “a quase total

ausência dos negros nos livros e a sua presença de forma estereotipada concorrem em grande

parte para a fragmentação da identidade e auto estima desse segmento, além de estimular

preconceitos às pessoas pertencentes ao grupo do qual foram associadas características

distorcidas”.

Sei que alguns podem dizer que por se tratar de um livro de Ciências, e não de

Historia, Geografia, Arte, aquele não teria como abordar questões relacionadas à etnia negra.

Entretanto, o bom senso nos mostra que é possível abordar a cultura, os costumes da etnia

negra e afrodescendentes brasileiros.

Considerações Finais

Pretendeu-se com este estudo verificar como o negro está representado no livro

didático de Ciências para alunos do ensino fundamental. Para tanto, imagens representando

seres humanos negros e brancos foram quantificadas, objetivando descobrir se a proporção

entre negros e brancos são proporcionais. Analisou-se, ainda, a presença de formas de

preconceitos e estereótipos aos negros nos textos e imagens do livro didático.

Os resultados em nosso estudo mostraram que o negro aparece de forma sub-

representada no livro didático de Ciências analisado. Além disso, indicaram a presença de

estereótipos e formas de preconceitos tanto nas imagens como nos textos contidos no livro,

evidenciando, dessa maneira, uma falta de preocupação com a etnia negra, além de ter

deixado claro a visão eurocêntrica e discriminatória por parte dos autores e/ou ilustradores do

livro de Ciência.

Nos últimos anos, o Ministério da Educação (MEC) tem incentivado o

desenvolvimento de atividades visando à avaliação do livro didático. Em junho de 1998 o

MEC lançou o Guia de Livros Didáticos de 5ª a 8ª Séries, que foi elaborado com a intenção de

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"subsidiar" a escolha do livro didático pelo professor, já que dezenas de livros são inscritos no

Plano Nacional do Livro Didático – PNLD (SILVA, 2005).

O PNLD tem como objetivo básico, a aquisição e a distribuição universal e gratuita de

livros didáticos para alunos das escolas públicas do ensino fundamental brasileiro. Vale

ressaltar que um dos critérios eliminatório dos livros do PNLD é a expressão de preconceitos

de origem, raça, sexo, cor, idade ou quaisquer outras formas de descriminação.

Infelizmente, os resultados apresentados em nosso estudo mostram que os critérios

mencionados acima não estão sendo respeitados pela comissão de “especialistas”,

encarregados da avaliação.

Mesmo sabendo que a Lei 10639/03 obriga as escolas a trabalhar com essa temática,

os autores de livros didáticos, em sua maioria, não têm se empenhado em explorar a História

e Cultura dessas etnias. Além disso, esses mesmos autores ainda têm contribuindo para

reforçar estereótipos e formas de preconceitos ao negro como àqueles observados no livro

didático de Ciências analisado no presente trabalho.

Tendo em vista que o professor é o mediador das informações previamente

estabelecidas nos livros didáticos, acreditamos que o mesmo desempenha um papel

extremamente importante nesse contexto, pois, poderá, em suas aulas, trabalhar na

desconstrução de toda e qualquer forma de preconceito e discriminação presentes nos livros

didáticos, tais como desmistificar questões que envolvem negros, haja vista os critérios não

serem cumpridos de maneira rigorosa, conforme mencionado acima.

Entretanto, para tomar tal postura, faz-se necessário que o professor seja qualificado

para detectar essas deficiências. Qualificado, o professor saberá identificar estereótipos e

formas de preconceitos implícitos encontrados nos livros didáticos, esclarecendo os alunos

sobre tais questões e mostrar os tipos de estratégias e artifícios utilizados para manipular

grupos e incutir ideologias, bem como àquelas em que negros são seres inferiores e que o

modelo de estética e poder é o branco.

Nesse sentido, propõem-se o investimento maciço na qualificação de professores,

intensificando desenvolvimento de cursos de educação continuada, cursos de

aperfeiçoamento, extensão, especialização, abordando a temática étnico-racial, como os que

têm acontecido na instituição CEFET-PA.

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