Artigo Sobre Margarina

16
Rev. Bras. Cienc. Farm. Braz. J. Pharm. Sci. vol. 40, n. 4, out./dez., 2004 Caracterização físico-química de creme vegetal enriquecido com ésteres de fitosteróis Juliana Neves Rodrigues 1 , Jorge Mancini Filho 2 , Rosângela Pavan Torres 2 , Luiz Antonio Gioielli 1 * 1 Departamento de Tecnologia Bioquímico-Farmacêutica, 2 Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental, Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Universidade de São Paulo  Atualmente, esteróis e estanóis têm sido adiciona dos a margarinas especiais, comercialmente disponíveis como alimentos funcionais, com o intuito de reduzir os níveis de colesterol. Como parte de uma dieta saudável, é cientificamente comprovado que esse tipo de produto reduz o colesterol LDL em aproximadamente 10-15%.  A literatura disponível sobre os efeitos dos fitosteróis/fitostanóis na redução do colesterol no organismo, bem como a forma como estes componentes são metabolizados, é muito vasta. Porém, informações sobre as propriedades físicas e químicas destas  substâncias e os efeitos de sua aplicação em alimentos, do ponto de vista tecnológico, dificilmente são encontradas. Este trabalho tem como objetivo caracterizar um creme vegetal enriquecido com  fit ost eró is e com par ar sua s prop rie dad es fís ica s com as de margarinas comuns disponíveis comercialmente. As composições em ácidos graxos e em esteróis foram determinadas por  cromatografia gasosa. Foram, também, analisados ponto de amolecimento, textura, composição química e estrutura cristalina. O creme vegetal enriquecido é composto de 49,3% de umidade, 49,6% de lipídios e 1,1% de sólidos. O β-sitosterol é o esterol mais abundante, constituindo 36,1% do total de esteróis. O ácido linoléico (C18:2 n-6) corresponde a 45,3% do total de ácidos graxos e é o que está presente em maior quantidade. Em geral, as  propriedades de textura da base gordurosa e do creme vegetal apresentaram correlação linear significativa. Embora um pouco mais duro que as margarinas cremosas comerciais, o creme vegetal com fitosteróis apresenta plasticidade satisfatória na faixa de temperatura entre a de refrigeração e a ambiente e maior resistência à temperatura do que as margarinas cremosas. Em geral, os ésteres de fitosteróis apresentaram comportamento de fusão e cristalização diferentes dos óleos e gorduras comestíveis. * Correspondê ncia: L.A. Gioielli Depto. de Tecnologia Bioquímico- Farmacêutica Faculdade de Ciências Farmacêuticas Universidade de São Paulo Av . Prof. Lineu Prestes, 580, Bloco 16 05508-900 - São Paulo, SP, Brasil E-mail: [email protected] Unitermos • Margarina • Creme vegetal • Ésteres de fitosteróis • Cristalização

description

margarinas, óleo e margarina

Transcript of Artigo Sobre Margarina

Page 1: Artigo Sobre Margarina

7/16/2019 Artigo Sobre Margarina

http://slidepdf.com/reader/full/artigo-sobre-margarina 1/16

Rev. Bras. Cienc. Farm.Braz. J. Pharm. Sci.vol. 40, n. 4, out./dez., 2004

Caracterização físico-química de creme vegetal enriquecido com ésteres de

fitosteróis

Juliana Neves Rodrigues1, Jorge Mancini Filho2, Rosângela Pavan Torres2, Luiz Antonio Gioielli1*

1Departamento de Tecnologia Bioquímico-Farmacêutica, 2 Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental,Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Universidade de São Paulo 

 Atualmente, esteróis e estanóis têm sido adicionados a margarinasespeciais, comercialmente disponíveis como alimentos funcionais,com o intuito de reduzir os níveis de colesterol. Como parte deuma dieta saudável, é cientificamente comprovado que esse tipode produto reduz o colesterol LDL em aproximadamente 10-15%. A literatura disponível sobre os efeitos dos fitosteróis/fitostanóisna redução do colesterol no organismo, bem como a forma comoestes componentes são metabolizados, é muito vasta. Porém,informações sobre as propriedades físicas e químicas destas substâncias e os efeitos de sua aplicação em alimentos, do ponto

de vista tecnológico, dificilmente são encontradas. Este trabalhotem como objetivo caracterizar um creme vegetal enriquecido com fitosteróis e comparar suas propriedades fís icas com as demargarinas comuns disponíveis comercialmente. As composiçõesem ácidos graxos e em esteróis foram determinadas por cromatografia gasosa. Foram, também, analisados ponto deamolecimento, textura, composição química e estrutura cristalina.O creme vegetal enriquecido é composto de 49,3% de umidade,49,6% de lipídios e 1,1% de sólidos. O β-sitosterol é o esterol maisabundante, constituindo 36,1% do total de esteróis. O ácidolinoléico (C18:2 n-6) corresponde a 45,3% do total de ácidos graxos

e é o que está presente em maior quantidade. Em geral, as propriedades de textura da base gordurosa e do creme vegetal apresentaram correlação linear significativa. Embora um poucomais duro que as margarinas cremosas comerciais, o creme vegetal com fitosteróis apresenta plasticidade satisfatória na faixa detemperatura entre a de refrigeração e a ambiente e maior resistênciaà temperatura do que as margarinas cremosas. Em geral, os ésteresde fitosteróis apresentaram comportamento de fusão e cristalizaçãodiferentes dos óleos e gorduras comestíveis.

* Correspondência:

L.A. Gioielli

Depto. de Tecnologia Bioquímico-

Farmacêutica

Faculdade de Ciências Farmacêuticas

Universidade de São Paulo

Av. Prof. Lineu Prestes, 580, Bloco 16

05508-900 - São Paulo, SP, Brasil

E-mail: [email protected]

Unitermos• Margarina

• Creme vegetal

• Ésteres de fitosteróis

• Cristalização

Page 2: Artigo Sobre Margarina

7/16/2019 Artigo Sobre Margarina

http://slidepdf.com/reader/full/artigo-sobre-margarina 2/16

Page 3: Artigo Sobre Margarina

7/16/2019 Artigo Sobre Margarina

http://slidepdf.com/reader/full/artigo-sobre-margarina 3/16

 J. N. Rodrigues, J. Mancini Filho, R. P. Torres, L. A. Gioielli506

INTRODUÇÃO

A margarina foi inicialmente desenvolvida em 1869,como um substituto da manteiga, pelo químico francêsHippolyte Mege Mouries (Hui, 1996). Atualmente, entre-tanto, é um produto de alta tecnologia, com características próprias e muitas variações (Gioielli, 1996a).

Segundo a legislação brasileira, de acordo com aPortaria 372 da DIPOA, entende-se por margarina o pro-duto gorduroso em emulsão estável com leite ou seus cons-tituintes ou derivados, e outros ingredientes, destinado à ali-mentação humana com cheiro e sabor característicos. Agordura láctea, quando presente, não deverá exceder a 3%(m/m) do teor de lipídios totais (Brasil, 1997). O cremevegetal é comercializado juntamente com a margarina, po-rém o consumidor não tem consciência de que há diferença

entre os dois produtos. De acordo com a Portaria 193 daANVISA, creme vegetal é o alimento em forma deemulsão plástica, cremoso ou líquido, do tipo água/óleo, produzido a partir de óleos e/ou gorduras vegetais comes-tíveis, água e outros ingredientes, contendo, no máximo,95% (m/m) e, no mínimo, 10% (m/m) de lipídios totais(Brasil, 1999).

O mercado brasileiro de margarinas e cremes vege-tais é de cerca de 400 mil toneladas/ano, ou R$ 1 bilhão emfaturamento (Dantas, 2000).

Atualmente, a atenção dos pesquisadores está vol-

tada ao desenvolvimento de alimentos funcionais, que pro-movam o bem-estar e a saúde, ao mesmo tempo em quereduzem os riscos de algumas doenças (Roberfroid, 1999).A Comissão Tecnocientífica de Assessoramento em Ali-mentos Funcionais e Novos Alimentos, órgão do Ministé-rio da Saúde, definiu alimentos funcionais como aquelessemelhantes em aparência ao alimento convencional, con-sumidos como parte da dieta usual, capazes de produzir demonstrados efeitos metabólicos ou fisiológicos úteis namanutenção de uma boa saúde física e mental, podendoauxiliar na redução do perigo de doenças crônico-degenerativas, além das suas funções nutricionais básicas(Lajolo, 1999). Mais importante, entretanto, é o potencialdos alimentos funcionais em diminuir as doenças, promo-ver a saúde e reduzir os custos com os cuidados com asaúde. O mercado dos chamados alimentos funcionaistriplicou nos últimos dois anos, refletindo a preocupaçãocrescente do consumidor com a relação entre alimentaçãoe doenças. Em 2001, os consumidores brasileiros gastaramquase US$ 950 milhões em tais alimentos (Winnett, 2002).

Recentemente, fitosteróis e fitostanóis têm sido adi-cionados a margarinas especiais, que estão comercialmen-te disponíveis como alimentos funcionais com capacidade

de reduzir os níveis de colesterol total e LDL. Foi prova-

do que seu consumo como parte de uma dieta saudávelimplica diminuição no risco de doenças cardíacas em 25%.Esta combinação pode até evitar a necessidade de medi-camentos para indivíduos com níveis moderadamente al-tos de colesterol (Ntanios, 2001; Weber, Weitkamp,Mukherjee, 2002).

 Nos Estados Unidos, estes produtos são encontradosdesde 1999, dos quais os mais conhecidos são as marga-rinas Benecol e Take Control . As dificuldades iniciais emformular margarinas ou “spreads” com fitosteróis eramdecorrentes da insolubilidade desses componentes. Aesterificação dos mesmos tornou-os mais solúveis e faci-litou a inclusão nas formulações de quantidades suficien-tes em produtos comestíveis para serem efetivas no com- bate ao colesterol. Quando esterificados, os componentes podem ser solubilizados prontamente em óleos vegetais, de

forma que uma quantidade adequada de fitosteróis fiquedisponível, sem causar problemas com a solubilidade dasvitaminas (Turatti, 2001; Nestel et al ., 2001).

Em geral, óleos vegetais e produtos derivados deóleos são considerados as fontes naturais mais ricas emesteróis, seguidos pelos cereais, produtos a base de cere-ais e castanhas (Piironen et al., 2000).

 No organismo, os fitosteróis, dos quais os mais co-muns são o campesterol, o sitosterol e o estigmasterol,atuam na diminuição da absorção de colesterol no intesti-no delgado por um mecanismo de competição, com con-

seqüente aumento na excreção fecal. Esta competiçãoocorre porque a estrutura química dos fitosteróis é seme-lhante à do colesterol, diferindo no tamanho da cadeia.Entretanto, os mecanismos exatos que levam à reduçãosubstancial na absorção de colesterol de cerca de 50%ainda não foram totalmente compreendidos (Hornstra,1999; Dillard, German, 2000; Piironen et al ., 2000; Nestelet al ., 2001; Ntanios, 2001).

O mercado tem se mostrado aberto à introdução deoutros tipos de alimentos, que contêm fitosteróis, além dasmargarinas. O mercado mundial de esteróis para produçãode margarinas e similares tem demanda de 50 ton/ano(Turatti, 2001). Já existem pesquisas sobre a adição defitosteróis em iogurtes (Volpe et al ., 2001).

A literatura disponível sobre os efeitos dos fitosteróisna redução do colesterol no organismo humano, bem comoa forma como estes componentes são metabolizados, émuito vasta. Porém, informações sobre as propriedadesfísicas e químicas destas substâncias e os efeitos de suaaplicação em alimentos, do ponto de vista tecnológico, difi-cilmente são encontradas. Este trabalho teve como objeti-vo avaliar as características físicas e químicas de cremevegetal contendo ésteres de fitosteróis, comparando-o com

margarinas comuns disponíveis no mercado brasileiro.

Page 4: Artigo Sobre Margarina

7/16/2019 Artigo Sobre Margarina

http://slidepdf.com/reader/full/artigo-sobre-margarina 4/16

Page 5: Artigo Sobre Margarina

7/16/2019 Artigo Sobre Margarina

http://slidepdf.com/reader/full/artigo-sobre-margarina 5/16

Caracterização físico-química de creme vegetal enriquecido com ésteres de fitosteróis 507

MATERIAL E MÉTODOS

Matéria-prima

Este estudo foi feito a partir das seguintes matérias- primas:a) creme vegetal com fitosteróis (14% de ésteres de

fitosteróis); b) gordura do creme vegetal com fitosteróis;c) ésteres de fitosteróis.

O creme vegetal com fitosteróis foi adquirido novarejo. A gordura do produto foi obtida por fusão comple-ta à temperatura de 70 ºC, em estufa, para quebrar aemulsão, separando a fase gordurosa da aquosa. A maior  parte da fase aquosa foi separada por decantação. A fasegordurosa, que se apresentava turva devido à presença de

umidade, foi filtrada em papel de filtro, processo tambémrealizado em estufa a 70 ºC, para retirada da fase aquosarestante.

Os ésteres de fitosteróis (L&P Food Ingredient Co.,Ltd., Guangdong Food Industry Institute) foram doados pela empresa Tovani Benzaquen Representações Ltda.

Teor de umidade

O teor de umidade do creme vegetal com fitosteróisfoi determinado por secagem até peso constante em estufa

a 105 ºC. Amostras de 10 g foram pesadas em balançaanalítica e colocadas sobre 30 g de areia lavada em cáp-sulas de porcelana. A determinação foi feita em triplicata(Pregnolatto, 1985).

Teor de gordura

A extração da gordura do creme vegetal comfitosteróis foi realizada pelo método de Soxhlet, com éter etílico. A determinação foi feita em triplicata (Pregnolatto,1985).

Teor de sólidos

O teor de sólidos do creme vegetal com fitosteróis foideterminado a partir da fase aquosa do produto, separadada fase gordurosa após fusão. A fase aquosa foi subme-tida a secagem até peso constante em cápsula de porce-lana, em estufa a 105 ºC (Pregnolatto, 1985).

Composição em esteróis

As composições em esteróis da gordura do creme

vegetal com fitosteróis e dos ésteres de fitosteróis foram

determinadas por cromatografia em fase gasosa, segundo Naeemi et al. (1995) em cromatógrafo a gás GC 17 AShimadzu/Class GC 10. Foi utilizada coluna cromato-gráfica de sílica fundida J&W DB-5 com 30 m de compri-mento e 0,25 mm de diâmetro interno. As condições foram:razão de divisão da amostra no injetor 50:1; temperatura dacoluna, 180 ºC, programada para aquecimento até 280 ºCa 20 ºC/min, permanecendo nesta temperatura por 10 min;gás de arraste, hélio (1,5 mL/min); temperatura do injetor 290 ºC; temperatura do detector 300 ºC. A composiçãoqualitativa foi determinada por comparação dos tempos deretenção dos picos com os dos respectivos padrões deesteróis, com cromatogramas encontrados em literatura,catálogos e com a composição de esteróis apresentada nocertificado de análise fornecido pela empresa fabricantedos ésteres de fitosteróis. A composição quantitativa foi

realizada por normalização de área, sendo expressa como porcentagem em massa. As análises foram feitas emtriplicata.

Composição em ácidos graxos

As composições em ácidos graxos do creme vege-tal com fitosteróis e dos ésteres de fitosteróis foram deter-minadas por cromatografia em fase gasosa, segundo nor-mas da American Oil Chemists’ Society (1990), método Ce1-62. Foi empregado cromatógrafo a gás Varian GC,

modelo 3400CX, equipado com detector de ionização dechama e “Workstation Star Chromatography”. Foi utiliza-da coluna capilar de sílica fundida CP WAX 52 CB(Chrompack), com 30 metros de comprimento e 0,25 mmde diâmetro interno, contendo 0,25 µm de polietilenoglicol.As condições foram: razão de divisão da amostra no injetor 50:1; temperatura da coluna: 150 ºC por 5 minutos, progra-mada até 215 ºC numa razão de 3 ºC/min; gás de arraste:hélio (1,5 mL/min); gás make-up: hélio (30 mL/min); tem- peratura do injetor: 250 ºC; temperatura do detector:280 ºC. A composição qualitativa foi determinada por com- paração dos tempos de retenção dos picos com os dos res- pectivos padrões de ácidos graxos. A composição quanti-tativa foi realizada por normalização de área, sendo ex- pressa como porcentagem em massa. Os ésteres metílicosde ácidos graxos para a análise foram obtidos de acordocom o método descrito por Hartman e Lago (1973). Asanálises foram feitas em duplicata.

Ponto de amolecimento

O ponto de amolecimento da gordura do creme ve-getal e dos ésteres de fitosteróis foi determinado pelo

método do tubo capilar aberto, imerso em água sob agita-

Page 6: Artigo Sobre Margarina

7/16/2019 Artigo Sobre Margarina

http://slidepdf.com/reader/full/artigo-sobre-margarina 6/16

Page 7: Artigo Sobre Margarina

7/16/2019 Artigo Sobre Margarina

http://slidepdf.com/reader/full/artigo-sobre-margarina 7/16

 J. N. Rodrigues, J. Mancini Filho, R. P. Torres, L. A. Gioielli508

ção e aquecimento, de acordo com o método oficial Cc 3-25 da American Oil Chemists’ Society (1990). As amos-tras foram analisadas em triplicata.

TexturaAs análises de textura das amostras foram realiza-

das utilizando o equipamento analisador de textura TA-XT2, fabricado pela SMS (Stable Micro Systems), contro-lado pelo programa Texture Expert. Os cremes vegetaiscom fitosteróis foram mantidos em suas embalagens plás-ticas originais (250 g), armazenados em geladeira comum(5-8 ºC) e transferidos para estufa, onde foram mantidassob temperatura controlada por 24 horas. A gordura docreme vegetal foi aquecida em forno de microondas, atétemperatura de 60-70 ºC, para fusão completa dos cristais,

e acondicionada em béqueres de 100 mL. As amostrasforam mantidas por 24 horas em geladeira comum para arecristalização da gordura e posteriormente por 24 horasem estufa a temperatura controlada. Todas as amostrasforam analisadas às temperaturas de 5 a 35 ºC, em inter-valos de 5 ºC. Foi utilizado cone de acrílico com ponta nãotruncada e ângulo de 45º. Os testes foram operados emtriplicata nas seguintes condições:• Retorno ao início;• Distância = 10 mm;• Velocidade = 2 mm/s;

• Tempo = 5 s;• Determinação da força em compressão (gf);• Triplicata: 3 compressões em cada embalagem de cre-

me vegetal e 1 compressão em cada um de três béqueres contendo amostras de gordura do creme ve-getal (Rodrigues, Gioielli, Anton, 2003; D’Agostini,Ferraz, Gioielli, 2000).

As amostras foram analisadas quanto à consistência(“yield value”). Para o cálculo do “yield value” foi utiliza-da a seguinte equação, proposta por Haighton (1959):

onde:C = “yield value” (gf/cm2)K = fator dependente do ângulo do coneW = força em compressão (gf), para tempo de 5 s. p = profundidade de penetração (0,1 mm).

Outras propriedades das amostras podem ser obti-das com o analisador de textura TA-XT2, como firmeza,energia para penetração do cone e adesividade. A firme-

za das amostras corresponde à inclinação da curva força-

deformação (gf/cm). A energia necessária para a penetra-ção das amostras pelo cone corresponde à área sob acurva força-deformação (gf.cm). A adesividade das amos-tras ao cone corresponde à área negativa sob a curvaforça-deformação (gf.cm) (Gioielli, 1996b).

Microscopia sob Luz Polarizada

Para observação da estrutura cristalina, as amostrasforam fundidas a 80 ºC, em forno de microondas, e, utili-zando-se um tubo capilar, uma gota de amostra foi coloca-da sobre uma lâmina de vidro pré-aquecida a 60 °C. A gotafoi, então, coberta com uma lamínula. As lâminas prepa-radas foram mantidas em estufa a temperatura controla-da por 24 horas e, em seguida, observadas ao microscópiode luz polarizada Olympus BX50. Este é ligado a uma

câmera digital (CoolSnap Pro, Media Cybernetics), quetransmite as imagens para o computador utilizando osoftware Image Pro-Plus versão 4.5.1.22 (MediaCybernetics). A partir destas imagens, para cada lâminaforam escolhidos cinco campos (os quatro cantos dalamínula e o centro) e as imagens foram capturadas. Fo-ram preparadas duas lâminas para cada amostra,totalizando dez imagens para serem analisadas. Com osoftware Image Pro-Plus foram determinados os diâme-tros dos cristais e com o software Benoit 1.3 (TruSoftInternational Inc.) foi determinada a dimensão fractal das

amostras, pelo método da contagem de caixas (Simões,Gioielli, 1999, 2000; Sotero-Solis, Gioielli, 2001; Gioielli,Simões, Rodrigues, 2003).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Segundo informações contidas no rótulo do cremevegetal analisado, o produto contém 40% de lipídios e 14%de ésteres de fitosteróis. Os ésteres de fitosteróis são clas-sificados como lipídios complexos e correspondem a misturade esteróis e ácidos graxos ligados entre si (Nawar, 1985).Segundo a Tabela I, que apresenta a composição centesimaldo creme vegetal com fitosteróis, a amostra analisada apre-sentou 49,6% de lipídios, aproximadamente 4% a menos doque a informação contida no rótulo, considerando-se asomatória de lipídios e ésteres de fitosteróis.

A água está presente no produto em 49,3%, o queestabelece relação aproximada de 1:1 entre lipídios e água.O teor de sólidos encontrado nas amostras analisadasconfere com o teor de sal, que foi discriminado no rótulo,de 1,1%. O teor de sólidos do creme vegetal pode ser totalmente atribuído ao teor de sal pois, conforme a legis-lação (Brasil, 1997; 1999), os cremes vegetais não preci-

sam conter leite em sua formulação.

Page 8: Artigo Sobre Margarina

7/16/2019 Artigo Sobre Margarina

http://slidepdf.com/reader/full/artigo-sobre-margarina 8/16

Page 9: Artigo Sobre Margarina

7/16/2019 Artigo Sobre Margarina

http://slidepdf.com/reader/full/artigo-sobre-margarina 9/16

Caracterização físico-química de creme vegetal enriquecido com ésteres de fitosteróis 509

A Tabela II apresenta a composição em esteróis dagordura do creme vegetal com fitosteróis e dos ésteres defitosteróis. Os respectivos perfis cromatográficos estãorepresentados nas Figuras 1 e 2. A composição emesteróis do creme vegetal foi semelhante à dos ésteres defitosteróis. O β-sitosterol, o campesterol e o estigmasterolsão os esteróis mais abundantes nas duas amostras, assim

como na natureza estes são os mais comumente encontra-dos (Piironen et al ., 2000). O ∆5-avenasterol não foi de-tectado na amostra de creme vegetal.

A Tabela III apresenta as composições em ácidosgraxos do creme vegetal com fitosteróis e dos ésteres defitosteróis e nas Figuras 3 e 4 estão representados seusrespectivos perfis cromatográficos.

Comparando a composição do creme vegetal com ado óleo de soja especificada pela legislação brasileira(Brasil, 1999), verificou-se semelhança entre elas, porémcom teor de ácido láurico (12:0) do creme vegetal acima

do normal para o óleo de soja. A gordura de palmiste é uma

TABELA I - Composição centesimal do creme vegetal comfitosteróis

Composição centesimal (%)

Umidade 49,3

Lipídios 49,6Sólidos 1,1Total 100,0

TABELA II – Composição em esteróis da gordura do cremevegetal com fitosteróis e dos ésteres de fitosteróis

Esteróis Teor ± DP (%)Creme vegetal Ésteres decom fitosteróis fitosteróis

Colesterol 0,3 ± 0,0 0,2 ± 0,2

Brassicasterol 2,3 ± 0,2 7,0 ± 2,1

Campesterol 21,2 ± 1,7 18,5 ± 3,2

Campestanol 0,3 ± 0,0 1,0 ± 0,6

Estigmasterol 14,6 ± 1,2 11,7 ± 2,6

Clerosterol 1,6 ± 0,3 2,8 ± 1,5

β-Sitosterol 36,1 ± 3,3 26,2 ± 5,0

β-Sitostanol 1,6 ± 0,1 2,5 ± 1,7

∆5-Avenasterol — 0,1 ± 0,1

∆5, 24-Estigmastadienol 3,6 ± 1,2 3,9 ± 2,1

∆7-Estigmastenol 0,9 ± 0,3 1,6 ± 1,3

∆7-Avenasterol 2,7 ± 0,8 2,8 ± 1,5

 Não identificados 14,8 ± 3,6 21,7 ± 5,5

TABELA III - Composição em ácidos graxos da gordura docreme vegetal com fitosteróis e dos ésteres de fitosteróis

Ácido graxo Teor ± DP (%)Creme vegetal Ésteres decom fitosteróis fitosteróis

6:0 - 2,9 ± 0,08:0 0,5 ± 0,0 3,4 ± 0,110:0 0,5 ± 0,0 0,5 ± 0,0

12:0 6,2 ± 0,2 1,5 ± 0,014:0 1,9 ± 0,0 1,9 ± 0,016:0 12,6 ± 0,1 6,7 ± 0,217:0 - 0,6 ± 0,318:0 8,8 ± 0,0 4,0 ± 0,118:1 (n-9c) 18,0 ± 0,0 20,2 ± 0,218:1 (n-9t) 1,3 ± 0,2 1,2 ± 0,018:2 (n-6) 45,3 ± 0,0 8,7 ± 1,818:3 (n-6) - 2,9 ± 0,218:3 (n-3) 4,9 ± 0,0 2,6 ± 0,118:4 (n-3) - 4,5 ± 0,220:0 - 0,5 ± 0,0

20:1 - 2,7 ± 0,120:2 - 3,5 ± 0,020:5 (n-3) - 3,3 ± 0,122:0 - 0,6 ± 0,022:1 - 24,3 ± 0,622:2 - 2,2 ± 0,024:0 - 1,3 ± 0,0

Poliinsaturados 50,2 27,7Monoinsaturados 19,3 48,4Saturados 30,5 23,9

Total 100,0 100,0

fonte rica neste ácido graxo, o que leva a crer que elatambém esteja presente na base gordurosa utilizada nes-te creme vegetal. A partir das composições do óleo de sojae da gordura de palmiste, baseando-se em cálculos demédia ponderada aplicados a misturas destes dois compo-nentes, estima-se que a base gordurosa do produto sejamistura de cerca de 85% óleo de soja com cerca de 15%de gordura de palmiste. Ressalta-se que a base gorduro-sa do creme vegetal foi modificada por interesterificação.A preferência pela interesterificação como alternativa àhidrogenação é devida à tendência atual em diminuir a presença de ácidos graxos trans (Gioielli, 2002; Koletzko,Decsi, 1997; Lichtenstein et al ., 1999; 2001; 2003; Muller,Kirkhus, Pedersen, 2001; Oliveira et al., 2003; Rodrigues,Gioielli, Anton, 2003; Rousseau et al ., 1996; Rousseau, Hill,Marangoni, 1996a,b; Willis, Lencki, Marangoni, 1998).

Page 10: Artigo Sobre Margarina

7/16/2019 Artigo Sobre Margarina

http://slidepdf.com/reader/full/artigo-sobre-margarina 10/16

Page 11: Artigo Sobre Margarina

7/16/2019 Artigo Sobre Margarina

http://slidepdf.com/reader/full/artigo-sobre-margarina 11/16

 J. N. Rodrigues, J. Mancini Filho, R. P. Torres, L. A. Gioielli510

FIGURA 2 - Perfil cromatográfico da composição em esteróis dos ésteres de fitosteróis.

FIGURA 1 - Perfil cromatográfico da composição em esteróis da gordura do creme vegetal com ésteres de fitosteróis.

Page 12: Artigo Sobre Margarina

7/16/2019 Artigo Sobre Margarina

http://slidepdf.com/reader/full/artigo-sobre-margarina 12/16

Page 13: Artigo Sobre Margarina

7/16/2019 Artigo Sobre Margarina

http://slidepdf.com/reader/full/artigo-sobre-margarina 13/16

Caracterização físico-química de creme vegetal enriquecido com ésteres de fitosteróis 511

FIGURA 4 - Perfil cromatográfico da composição em ácidos graxos dos ésteres de fitosteróis.

FIGURA 3 - Perfil cromatográfico da composição em ácidos graxos da gordura do creme vegetal com ésteres defitosteróis.

A composição em ácidos graxos dos ésteres defitosteróis apresenta grande diversidade de ácidos graxos.Segundo a especificação do produto, a matéria-prima daqual foram extraídos os fitosteróis são os óleos de canolae soja. Devido à presença de quase 25% do ácido erúcico

(22:1), de ácidos graxos de cadeia média e de ácido g-

linolênico, é provável que os fitosteróis tenham sido obti-dos na forma livre e, posteriormente, esterificados commisturas de ácidos graxos livres provenientes de óleo decolza, gordura láurica e óleos como os de prímula, borageou groselha preta. De acordo com Stauffer (1996), o óleo

de colza contém cerca de 40% de ácido erúcico e é pro-

Page 14: Artigo Sobre Margarina

7/16/2019 Artigo Sobre Margarina

http://slidepdf.com/reader/full/artigo-sobre-margarina 14/16

Page 15: Artigo Sobre Margarina

7/16/2019 Artigo Sobre Margarina

http://slidepdf.com/reader/full/artigo-sobre-margarina 15/16

 J. N. Rodrigues, J. Mancini Filho, R. P. Torres, L. A. Gioielli512

duzido em larga escala na China (país de origem do pro-duto), Índia, Europa e Canadá (Lackey, 2003). Aesterificação dos esteróis com ácidos graxos visa a au-mentar a solubilidade do produto em óleos e gorduras(Turatti, 2001; Nestel et al., 2001).

O ponto de amolecimento de gorduras é utilizadocomo maneira de determinar os pontos de fusão de diver-sos produtos alimentícios (Rousseau, Marangoni, 1999).Estes produtos geralmente são constituídos de misturas deóleos e gorduras com o intuito de atingir a propriedadefuncional desejada, de maneira que sua gordura não apre-senta um ponto de fusão definido. As gorduras passam por um estágio de amolecimento gradual antes de se tornaremtotalmente líquidas (AOCS, 1990). O ponto de amoleci-mento da gordura do creme vegetal com fitosteróis é de32,5 ± 0,4 ºC e o dos ésteres de fitosteróis é de 24,3 ±

0,0 oC. Gioielli (1996b) determinou os pontos de amoleci-mento de margarinas comerciais duras e cremosas, duasmarcas de cada tipo, que variaram de 34,3 a 36,3 para asduras e de 31,5 a 35,3 para as cremosas. Block &Barrera-Arellano (1994) verificaram que o ponto de amo-lecimento de 14 amostras de margarinas brasileiras variouentre 30,6 e 38,6. O creme vegetal com fitosteróis apresen-tou, portanto, ponto de amolecimento semelhante aos en-contrados para margarinas comerciais.

As Tabelas IV, V, VI e VII apresentam as proprie-dades de textura do creme vegetal com fitosteróis, de suagordura e dos ésteres de fitosteróis nas temperaturas de 5a 30 ºC. As propriedades de consistência, firmeza e ener-gia necessária para a penetração do cone diminuem como aumento da temperatura, que provoca a fusão gradualdos cristais e, conseqüentemente, a destruição da redecristalina, o que confere plasticidade à gordura (Deman,1983).

A partir dos dados apresentados nas Tabelas IV, V,VI e VII, foi efetuada uma correlação entre os valoresexperimentais de cada propriedade de textura do cremevegetal com fitosteróis e os de sua base gordurosa às tem- peraturas de 5 a 15 ºC por regressão linear simples. Aequação da reta correspondente é a seguinte:

y = ax + b

onde: y = propriedade do creme vegetal; x = propriedadede sua base gordurosa; a = coeficiente angular; b = coe-ficiente linear 

Os coeficientes lineares, angulares e de correlaçãocorrespondentes estão apresentados na Tabela VIII. Asrelações lineares referentes a consistência, firmeza eenergia para penetração do cone apresentaram coeficien-

TABELA IV – Consistência do creme vegetal com fitosteróis, de sua gordura e dos ésteres de fitosteróis

Temperatura (ºC) Consistência ± DP (gf/cm2)

Creme vegetal Gordura do creme vegetal Ésteres de fitosteróis

5 1034,8 ± 23,2 568,7 ± 31,1 405,2 ± 121,710 930,8 ± 8,7 452,9 ± 44,1 015 826,7 ± 3,3 349,9 ± 22,5 -20 707,5 ± 1,6 0 -25 455,2 ±15,7 - -30 281,0 ± 6,5 - -

TABELA V – Firmeza do creme vegetal com fitosteróis, de sua gordura e dos ésteres de fitosteróis

Temperatura (ºC) Firmeza ± DP (gf/cm)

Creme vegetal Gordura do creme vegetal Ésteres de fitosteróis

5 332,0 ± 9,0 173,7 ± 11,9 117,8 ± 40,510 294,5 ± 3,7 135,8 ± 14,9 015 263,5 ± 3,5 101,0 ± 6,4 -20 220,1 ± 2,5 0 -25 136,1 ± 4,2 - -

30 76,4 ± 3,7 - -

Page 16: Artigo Sobre Margarina

7/16/2019 Artigo Sobre Margarina

http://slidepdf.com/reader/full/artigo-sobre-margarina 16/16