Artigo - Sistema de Classe de Risco (Utilizar Apos Agentes de Degradação Da Madeira)

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Preservação de madeiras sistema de classes de risco Resumo: No contexto da revisão da norma brasileira NBR 7190/97 Estruturas de Madeiras, a Associação Brasileira de Preservadores de Madeira ABPM e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo IPT propuseram a elaboração de uma norma sobre preservação de madeiras para auxiliar produtores e usuários do setor de construção civil para aumentar a durabilidade de sistemas construtivos de madeira. Este trabalho apresenta uma abordagem sistemática sobre o assunto biodeterioração e tratamento preservativo de madeira denominada Sistema de Classes de Risco. Este sistema relaciona diferentes condições de exposição de produtos de madeira aos possíveis agentes biológicos (fungos, insetos xilófagos e perfuradores marinhos), definindo-se para os diferentes riscos de biodeterioração o tratamento preservativo (produto e processo) mais adequado. Palavras-chave: classes de risco, madeiras, norma, preservação. 1. Introdução Preservação de madeiras é o conjunto de medidas preventivas e curativas para controle de agentes biológicos (fungos e insetos xilófagos e perfuradores marinhos), físicos e químicos que afetam as propriedades da madeira, adotadas no desenvolvimento e na manutenção dos componentes de madeira no ambiente construído. O propósito do Sistema de Classes de Risco é oferecer uma ferramenta simplificada para a tomada de decisões quanto ao uso racional e inteligente da madeira na construção civil, fornecendo uma abordagem sistêmica ao produtor e usuário que garanta maior durabilidade das construções. O sistema consiste no estabelecimento de 6 classes de risco baseadas nas condições de exposição ou uso da madeira, na expectativa de desempenho do componente e nos possíveis agentes biodeterioradores presentes. Este sistema conduz a uma reflexão sobre as medidas que devem ser adotadas durante fase de elaboração de projeto de uma construção e auxilia na definição do tratamento preservativo da madeira (produto e processo) em função da condição de uso a que ela estará exposta. Portanto, ao se utilizar madeira como material de engenharia na construção civil, as seguintes etapas devem ser consideradas obrigatórias: a) Elaboração do projeto com foco para diminuição dos processos de instalação e desenvolvimento de organismos xilófagos. b) Definição do nível de desempenho necessário para o componente ou estrutura de madeira, tais como: vida útil, responsabilidade estrutural, garantias comerciais e legais, entre outras. c) Avaliação dos riscos biológicos aos quais a madeira será submetida durante a sua vida útil d) ataque de fungos e insetos xilófagos e perfuradores marinhos. e) Conceito de classe de risco. f) Determinação da necessidade de tratamento preservativo, em função da durabilidade natural e tratabilidade do cerne e alburno das espécies botânicas que serão utilizadas. g) Definição do(s) tratamento(s) preservativos, em função das seguintes escolhas: • Espécie botânica que deve permitir este tratamento (tratabilidade). • Umidade da madeira no momento do tratamento. • Processo de aplicação do produto de preservação; • Parâmetros de qualidade necessários: retenção e penetração do produto preservativo na madeira;

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Preservação de madeiras – sistema de classes de risco

Resumo: No contexto da revisão da norma brasileira NBR 7190/97 – Estruturas de Madeiras, a Associação Brasileira de Preservadores de Madeira – ABPM e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo – IPT propuseram a elaboração de uma norma sobre preservação de madeiras para auxiliar produtores e usuários do setor de construção civil para aumentar a durabilidade de sistemas construtivos de madeira. Este trabalho apresenta uma abordagem sistemática sobre o assunto biodeterioração e tratamento preservativo de madeira denominada Sistema de Classes de Risco. Este sistema relaciona diferentes condições de exposição de produtos de madeira aos possíveis agentes biológicos (fungos, insetos xilófagos e perfuradores marinhos), definindo-se para os diferentes riscos de biodeterioração o tratamento preservativo (produto e processo) mais adequado.

Palavras-chave: classes de risco, madeiras, norma, preservação.

1. Introdução Preservação de madeiras é o conjunto de medidas preventivas e curativas para controle de agentes biológicos (fungos e insetos xilófagos e perfuradores marinhos), físicos e químicos que afetam as propriedades da madeira, adotadas no desenvolvimento e na manutenção dos componentes de madeira no ambiente construído. O propósito do Sistema de Classes de Risco é oferecer uma ferramenta simplificada para a tomada de decisões quanto ao uso racional e inteligente da madeira na construção civil, fornecendo uma abordagem sistêmica ao produtor e usuário que garanta maior durabilidade das construções. O sistema consiste no estabelecimento de 6 classes de risco baseadas nas condições de exposição ou uso da madeira, na expectativa de desempenho do componente e nos possíveis agentes biodeterioradores presentes. Este sistema conduz a uma reflexão sobre as medidas que devem ser adotadas durante fase de elaboração de projeto de uma construção e auxilia na definição do tratamento preservativo da madeira (produto e processo) em função da condição de uso a que ela estará exposta. Portanto, ao se utilizar madeira como material de engenharia na construção civil, as seguintes etapas devem ser consideradas obrigatórias:

a) Elaboração do projeto com foco para diminuição dos processos de instalação e desenvolvimento de organismos xilófagos. b) Definição do nível de desempenho necessário para o componente ou estrutura de madeira, tais como: vida útil, responsabilidade estrutural, garantias comerciais e legais, entre outras. c) Avaliação dos riscos biológicos aos quais a madeira será submetida durante a sua vida útil d) ataque de fungos e insetos xilófagos e perfuradores marinhos. e) Conceito de classe de risco. f) Determinação da necessidade de tratamento preservativo, em função da durabilidade natural e tratabilidade do cerne e alburno das espécies botânicas que serão utilizadas. g) Definição do(s) tratamento(s) preservativos, em função das seguintes escolhas:

• Espécie botânica que deve permitir este tratamento (tratabilidade).

• Umidade da madeira no momento do tratamento.

• Processo de aplicação do produto de preservação; • Parâmetros de qualidade necessários: retenção e penetração do produto preservativo na madeira;

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• Produto preservativo que satisfaça à classe de risco determinada. O processo de decisão está representado pelo esquema (fig. 1):

2. Projeto e construção

A durabilidade das construções de madeira demanda uma abordagem sistêmica, contemplando todas as fases de trabalho com a madeira. Essa durabilidade depende de uma série de fatores, dentre os quais:

• características da espécie botânica,

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• processo de produção da madeira (principalmente condições da secagem e do tratamento preservativo com produtos químicos, se for o caso),

• projeto (tipo de construção, propriedades dos materiais especificados, vida útil pretendida),

• detalhes dos elementos (forma e dimensão das peças, nível de proteção contra os agentes nocivos),

• processo construtivo (condições de armazenamento, qualidade da mão de obra e técnicas construtivas),

• condições de manutenção e de utilização,

• condições desejadas para o meio ambiente.

Portanto, para se abordar a questão da durabilidade deve-se, primeiramente, para a construção analisada, identificar todos os fatores intervenientes em todas as fases de processamento e utilização da madeira. Deste modo, será possível conferir durabilidade com maior eficiência e menor custo global, entendendo como custo global não apenas os aspectos financeiros, mas também sociais, humanos e ambientais. Em resumo, conferindo durabilidade sob o enfoque da sustentabilidade.

A durabilidade das construções de madeira, enfocada pelo ângulo do projeto e da construção, deve incluir projetistas e construtores no grupo dos seus responsáveis e obedecer aos seguintes princípios:

• Diminuir a ação do sol através de medidas construtivas.

• Isolar a construção das fontes de umidade ou, minimamente, limitar a permanência da água sobre a madeira.

• Limitar o uso de aberturas e furos por onde a água possa penetrar e infiltrar.

• Criar barreiras que impeçam a absorção de água por capilaridade.

• Usar madeiras com teores de umidade compatíveis com o meio em que serão aplicadas.

• Diminuir a variação do teor de umidade da madeira por meio da proteção de suas superfícies. Durante a construção, o armazenamento deve ser tal que não ocorram variações nos teores de umidade.

• Usar madeira que apresente durabilidade natural compatível com a classe de risco requerida, ou que tenha recebido tratamento químico adequado.

• Utilizar peças de madeira cujas faces superiores sejam inclinadas.

• Criar pingadeiras naturais.

• Evitar o represamento e facilitar a drenagem da água.

• Elaborar medidas diferenciadas para locais que favorecem a condensação da água (por exemplo, vidros em esquadrias de madeira).

• Facilitar a limpeza e a ventilação das peças de madeira.

• Dificultar a ocorrência de sujeira e lixo sobre a construção de madeira.

• Dimensionar adequadamente as peças de madeira para o alojamento dos elementos de ligação evitando o aparecimento de fissuras, que são comprometedoras da vida útil.

• Proteger os topos das peças de madeira.

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• Preferir as peças cujas dimensões transversais sejam as menores possíveis, porque os problemas de secagem, que comprometem a durabilidade da madeira, crescem na medida em que estas dimensões aumentam.

• Tratar contra a corrosão, quando necessário, os elementos metálicos em contato com a madeira, dependendo da classe de riscos em que a construção estiver enquadrada. A presença da água contribui para a corrosão. A possibilidade de ocorrência de corrosão galvânica e por tensão deve ser considerada. Locais destinados a armazenamento de produtos químicos (sais, fertilizantes, etc.) oferecem particularmente riscos significativos de corrosão.

Deve-se exigir, para cada classe de risco, um programa de manutenção, que considere as particularidades de determinada situação, considerando os fatores responsáveis pela vida útil da construção. Além disso, deve-se atribuir aos usuários e aos responsáveis pelos programas de manutenção, responsabilidade pela durabilidade, ampliando o espectro de participantes no processo.

3. Sistema de classes de risco

Ao optar pelo uso da madeira em determinada situação é necessário, em primeiro lugar, conhecer corretamente o seu emprego. Na etapa de projeto deve-se, na medida do possível, conceber a obra de tal maneira que a umidade da madeira seja sempre a menor possível, a fim de limitar os riscos de biodeterioração. A seguir, deve-se determinar a classe de riscos biológicos a que a madeira será submetida.

Esta norma define seis classes de riscos biológicos que representam, nas condições brasileiras, seis diferentes situações de exposição da madeira e de produtos derivados da madeira, em serviço. O objetivo desta classificação é auxiliar na escolha das espécies botânicas, dos produtos preservativos e dos métodos de tratamento mais adequados a cada situação. A tab. 1 mostra as classes de risco propostas.

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Atividade: Relacione algumas aplicações possiveis da madeira para uso na construção civil com as prováveis classes de risco (conforme tabela anterior):

Aplicação Classe de risco

Assoalho

Moirões

Colunas

Cruzetas

Dormentes

Playgrounds

Estrutura de telhado

Pontes

Forros

Decks