Artigo Saude Mental Arte

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Arte e Saúde Mental: uma cartografia das oficinas de Teatro do Centro de Referência em Saúde Mental - CERSAM Noroeste de Belo Horizonte Natália Alves dos Santos 1 Roberta Carvalho Romagnoli 2 Essa pesquisa tem como tema o estudo dos processos de subjetivação presentes nas oficinas de teatro do Centro de Referência em Saúde Mental - CERSAM Noroeste de Belo Horizonte Minas Gerais. Nesse contexto, visa cartografar os dispositivos que operam para a reprodução e os que operam para a invenção das subjetividades envolvidas, e que emergem nesses encontros. Pretende-se: levantar o momento atual do Movimento da Reforma Psiquiátrica Brasileira enfocando o uso das oficinas terapêuticas e do teatro no cotidiano dos serviços substitutivos; cartografar as produções decorrentes das oficinas de teatro que serão realizadas no CERSAM Noroeste, identificando os processos de subjetivação daí decorrentes a partir do referencial teórico da Esquizoanálise de Gilles Deleuze e Félix Guattari analisando os possíveis desdobramentos resultantes dessas oficinas em relação à proposta de desinstitucionalização. Atualmente muito tem se discutido a respeito do campo da Saúde Mental no Brasil. A loucura” vem sendo encarada como parte integrante da sociedade, ocupando um novo lugar social, amparada por serviços, resultantes da Reforma Psiquiátrica e das conquistas do movimento da Luta Antimanicomial. Os serviços substitutivos que acolhem os portadores de sofrimento mental contam com inúmeras estratégias que permitem ao louco buscar sua reinserção na sociedade, dentre elas “[...] o acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e comunitários” (BRASIL, 2004, p. 20). Os Centros de Atenção Psicossocial - CAPS, em Belo Horizonte, denominados Centro de Referência em Saúde Mental - CERSAM´s, têm papel estratégico na organização da rede comunitária de cuidados. Nesse cenário, focamos a oficina terapêutica, que se apresenta como valioso instrumento para estas subjetividades, no cotidiano de trabalho desse serviço. O que se vislumbra, no momento atual, de acordo com Cedraz e Dimenstein (2005), é que muitas dessas oficinas propostas pelos serviços substitutivos têm se tornado meros equipamentos de preenchimento do tempo, oficinas pedagógicas, em que se estabelecem 1 Psicóloga, Discente do Mestrado em Psicologia da PUC – Minas. E-mail: [email protected]. 2 Psicóloga, Professora da PUC - Minas, Mestre em Psicologia Social pela UFMG, Doutora em Psicologia Clínica pela PUC-SP. E-mail: [email protected].

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  • Arte e Sade Mental: uma cartografia das oficinas de Teatro do Centro de Referncia em Sade Mental - CERSAM Noroeste de Belo Horizonte

    Natlia Alves dos Santos 1 Roberta Carvalho Romagnoli 2

    Essa pesquisa tem como tema o estudo dos processos de subjetivao presentes nas oficinas de teatro do Centro de Referncia em Sade Mental - CERSAM Noroeste de Belo Horizonte Minas Gerais. Nesse contexto, visa cartografar os dispositivos que operam para a reproduo e os que operam para a inveno das subjetividades envolvidas, e que emergem nesses encontros. Pretende-se: levantar o momento atual do Movimento da Reforma Psiquitrica Brasileira enfocando o uso das oficinas teraputicas e do teatro no cotidiano dos

    servios substitutivos; cartografar as produes decorrentes das oficinas de teatro que sero realizadas no CERSAM Noroeste, identificando os processos de subjetivao da decorrentes a partir do referencial terico da Esquizoanlise de Gilles Deleuze e Flix Guattari analisando os possveis desdobramentos resultantes dessas oficinas em relao proposta de

    desinstitucionalizao. Atualmente muito tem se discutido a respeito do campo da Sade Mental no Brasil. A

    loucura vem sendo encarada como parte integrante da sociedade, ocupando um novo lugar social, amparada por servios, resultantes da Reforma Psiquitrica e das conquistas do movimento da Luta Antimanicomial. Os servios substitutivos que acolhem os portadores de sofrimento mental contam com inmeras estratgias que permitem ao louco buscar sua reinsero na sociedade, dentre elas [...] o acesso ao trabalho, lazer, exerccio dos direitos civis e fortalecimento dos laos familiares e comunitrios (BRASIL, 2004, p. 20). Os Centros de Ateno Psicossocial - CAPS, em Belo Horizonte, denominados Centro de Referncia em Sade Mental - CERSAMs, tm papel estratgico na organizao da rede comunitria de cuidados. Nesse cenrio, focamos a oficina teraputica, que se apresenta como

    valioso instrumento para estas subjetividades, no cotidiano de trabalho desse servio. O que se vislumbra, no momento atual, de acordo com Cedraz e Dimenstein (2005),

    que muitas dessas oficinas propostas pelos servios substitutivos tm se tornado meros equipamentos de preenchimento do tempo, oficinas pedaggicas, em que se estabelecem

    1 Psicloga, Discente do Mestrado em Psicologia da PUC Minas. E-mail: [email protected].

    2 Psicloga, Professora da PUC - Minas, Mestre em Psicologia Social pela UFMG, Doutora em Psicologia

    Clnica pela PUC-SP. E-mail: [email protected].

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    relaes do tipo mestre-aluno, que "[...] servem de veculo de transmisso de valores socialmente legitimados como certos". (CEDRAZ; DIMENSTEIN, 2005, p.301).

    Pautada no conceito de desinstitucionalizao, nas noes de cidadania e autonomia, a Reforma Psiquitrica Brasileira busca trilhar caminhos que levem constituio de

    subjetividades autnomas e desconstruir a lgica manicomial e asilar, muitas vezes engessada nos trabalhadores da rea, em instituies que recebem a loucura e na sociedade que ainda repele os portadores de sofrimento mental.

    E a nos perguntamos: o que desinstitucionalizar? [...] desinstitucionalizar no tem fim, no tem modelo ideal, precisa ser inventado incessantemente. Trata-se de um exerccio cotidiano de reflexo e crtica sobre os valores estabelecidos como naturais ou verdadeiros, que diminuem a vida e reproduzem a sociedade excludente na qual estaramos inseridos [...] este o desafio que enfrentamos: resistir a tudo aquilo que mutila a vida, que nos torna subjetividades anestesiadas, sem liberdade de criao, destitudas de singularidade. (ALVERGA, DIMENSTEIN, 2005, p.61).

    Reformar essa psiquiatria asilar, excludente e segregadora requer que nos libertemos

    de muitos dos antigos paradigmas que continuam arraigados no cerne da sociedade moderna e atravs destes movimentos propor novas maneiras de se construir significados a respeito da loucura.

    O louco que antes deveria ser condenado ao confinamento nos antigos asilos e manicmios, vtima de maus tratos, de rejeio, do preconceito, agora aquele que possui um espao diferenciado para se colocar diante da sociedade. amparado por leis, acolhido por novos modelos assistenciais, como os CAPS, NAPS (Ncleos de Ateno Psicossocial), Centros de Convivncia, dentre outros. aquele que agora luta por sua liberdade, luta pelo direito de dizer de sua condio. Sai s ruas, desfila pelas grandes avenidas das capitais - ele e sua loucura nada convencional - ainda atrai olhares espantados, mas vai abrindo, mesmo que lentamente, espaos de discusso e indagao diante da vastido de uma sociedade que reprime, que normatiza, que segrega.

    Um dos grandes diferenciais desses novos modelos assistenciais, tambm chamados de servios substitutivos, oferecer a seus usurios diferentes modalidades de tratamento que englobam no somente o uso de psicofrmacos, mas tambm a psicoterapia e as oficinas teraputicas.

    Essas oficinas [...] realizam vrios tipos de atividades que podem ser definidas atravs do interesse dos usurios, das possibilidades dos tcnicos do servio, das necessidades, tendo em vista a maior integrao social e familiar, a manifestao de sentimentos e problemas, o desenvolvimento de habilidades corporais, a realizao de atividades produtivas, o exerccio coletivo da cidadania. De um modo geral, as

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    oficinas teraputicas podem ser: oficinas expressivas: espaos de expresso plstica (pintura, argila, desenho etc.), expresso corporal (dana, ginstica e tcnicas teatrais), expresso verbal (poesia, contos, leitura e redao de textos, de peas teatrais e de letras de msica), expresso musical (atividades musicais), fotografia, teatro; oficinas geradoras de renda[...] gerao de renda atravs do aprendizado de uma atividade especfica, que pode ser igual ou diferente da profisso do usurio. As oficinas geradoras de renda podem ser de: culinria, marcenaria, costura, fotocpias, venda de livros, fabricao de velas, artesanato em geral, cermica, bijuterias, brech, etc.(BRASIL, 2004, p. 20).

    Como podemos perceber, inmeros so os esforos advindos do movimento da Reforma Psiquitrica para que se expandam os horizontes teraputicos que possam vir a ser ofertados aos portadores de sofrimento mental. Dentre eles reside o contato dos usurios de servios de sade mental com o universo da arte, que pode efetuar deslocamentos, e ser

    entendido como intervenes teraputicas. Fala-se hoje da chamada clnica ampliada que se faz e refaz em inmeros espaos, rompendo paradigmas e abarcando novos sentidos

    (BENEVIDES DE BARROS; PASSOS, 2004; FONSECA; KIRST, 2005; MACIEL JNIOR; KUPERMAN; TEDESCO, 2005; ROMAGNOLI, 2006). A clnica feita por muitos, que tambm pode ser feita pelo prprio louco e contribuir para que ele produza reflexes a respeito de si mesmo. Uma clnica pautada na diversidade de corpos, de espaos, de

    existncias, de dizeres e saberes, de discusso. Trata-se, portanto, de uma luta pela emancipao, uma emancipao no meramente poltica, mas antes de tudo uma emancipao pessoal, social e cultural, que permita, entre outras coisas, o no enclausuramento de tantas formas de existncias banidas pelo convvio social. (ALVERGA; DIMENSTEIN, 2005, p. 58).

    Partindo de minha experincia como estagiria de psicologia da Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais PUC Minas, ministrando oficinas de teatro no local da pesquisa, percebi que o mesmo funcionava no somente enquanto um simples instrumento teraputico ou ferramenta integrante do servio. Inicialmente, o teatro entrou pela porta da frente do servio e foi acolhido com certa desconfiana. Usurios que pareciam no querer

    continuar fazendo parte do mesmo palco da vida-repetida-vida. Mas que, ao mesmo tempo, se dispunham a olhar e fazer parte desse teatro talvez vidos por algo que pudesse dizer a eles

    que os palcos podem ser outros e a vida reinventada. O teatro movimentou o CERSAM Noroeste e esvaziou seus corredores. A hora da

    oficina tornou-se o momento em que se podia notar, em meio agitao de um servio de urgncia, o que alguns profissionais nomeavam como minutos de tranqilidade. Os usurios perguntavam sobre o teatro, queriam saber quando haveria o prximo encontro e eu, em meio a tantas perguntas, comecei a questionar a mim mesma o papel que o teatro passou a assumir

    na rotina dessas pessoas. Outra clnica se fazia:

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    Podemos observar que, na dinmica da oficina, se desdobra, por sua vez, um outro modo de clnica no qual se desfaz a idia central de reabilitao para o convvio social. Desloca-se a posio em que a clnica se prope como mera suplncia institucional proporcionada loucura para um outro contexto, que se deixa afetar por singularizaes e devires.(FONSECA; AVILA, 2007, p.113).

    Pode-se pensar, ento, nos efeitos das oficinas de teatro no tocante produo/inveno que pode advir desses encontros, uma vez estas so um dispositivo importante no processo de desinstitucionalizao e reinsero social dos portadores de

    sofrimento mental. Estudar os processos de subjetivao em uma oficina de teatro destinada a usurios de um servio substitutivo, no nosso entender, trazer novos contornos

    subjetividade dos usurios e arte fazendo desta ltima um instrumento viabilizador, possibitador, movimentador. transformar a arte no s em algo acessvel a subjetividades muitas vezes impedidas de vivenci-la, mas em uma ferramenta que pode promover nessas

    mesmas subjetividades novas formas de experimentar a vida, de exprimir idias, de refletirem a respeito de si prprios e de seus sofrimentos, enfim, possibilitar deslocamentos, processos

    de subjetivao. Nesta direo, segue uma breve discusso a respeito do teatro, que tem origem no

    sculo VI a.C., e surge na Grcia, a partir das chamadas festas dionisacas que eram realizadas em homenagem ao deus Dionsio, deus do vinho, e da fertilidade. Tais festas, consideradas

    rituais sagrados, duravam muitos dias, aconteciam uma vez por ano na primavera, perodos em que ocorria a colheita do vinho na regio.

    O teatro grego tal qual conhecemos surgiu, segundo alguns historiadores, de um acontecimento inusitado. Um participante desse ritual sagrado chamado Tspis resolveu vestir uma mscara humana, enfeitada com cachos de uvas, subiu em um tablado e em praa pblica disse: Eu sou Dionsio!. Todos se surpreenderam com a coragem deste homem, ao colocar-

    se no lugar de um deus. Ele foi considerado o primeiro ator da histria do teatro ocidental. Este acontecimento tido como marco inicial da ao dramtica. A respeito disso MORAES

    (2006, p. 23) afirma que [...] essa, talvez, tenha sido a primeira representao, o primeiro ator, o primeiro tragigrafo, aquele que iniciou a arte de representar.

    Dizer do teatro em um CERSAM de certa forma, dizer que a arte pode fazer parte do cotidiano dos usurios desse tipo de servio. Enquanto arte dramtica o teatro traz a possibilidade dos portadores de sofrimento mental se expressarem de uma maneira diferenciada ou bastante singular, diferente da que possam estar habituados.

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    No teatro possvel falar de dor, de alegria, de tristeza, de solido, de dvidas. O teatro um mundo de invenes, no convenes, criaes... A utilizao do teatro enquanto uma oficina teraputica pode trazer grandes mudanas dentro de um servio substitutivo. De acordo com Cedraz e Dimenstein (2005):

    O Ministrio da Sade (2004) define que os servios substitutivos tipo CAPS devem, necessariamente, oferecer oficinas teraputicas, de modo que elas so uma das principais formas de tratamento encontradas nesses estabelecimentos. (CEDRAZ, DIMENSTEIN, 2005, p. 308).

    O teatro pode aparecer como algo que movimenta cabeas e certezas. Que transforma a loucura em algo que pode ser admirado, escutado, lanado nos palcos da vida. Dizer ao louco que ele pode vestir a mscara que quiser ou que decidir usar, sem necessariamente ter

    de sair utilizando-se da mscara da loucura permitir que novos processos de subjetivao aconteam.

    Vale lembrar a rica experincia que Peter Pal Pelbart e a Companhia de Teatro Ueinzz

    da cidade de So Paulo, composta por usurios de sade mental desenvolvem. Em relato encontrado no site desenvolvido por Pelbart e a Companhia o autor afirma que:

    Se o teatro vem buscar conosco a fora do irrepresentvel, muito grande o que ele pode oferecer em troca, ao dar recursos para que isso que se considera como puro caos ganhe figurao, permitindo que a expresso dessas rupturas de sentido no soobre no vazio. Nesse teatro acontece de cada um poder reconhecer-se como ator e autor de si mesmo, diferentemente daquilo que o teatro do mundo reserva loucura, ao enclausur-la na sua nadificao. Nesse teatro cada subjetividade pode continuar tecendo-se a si mesma, com a matria prima precria que lhe pertence, e retrabalh-la. Subjetividades em obra em meio a uma obra coletiva, no teatro concebido como um canteiro de obras a cu aberto. (PELBART, 2009).

    A experincia acima relatada tem como sustentao a Esquizoanlise, tambm marco terico do presente estudo. Esta, enquanto instrumento terico permite a compreenso dos conceitos de subjetividade e processos de subjetivao, atravs da imanncia e da transversalidade. Nesse sentido, a subjetividade diz no somente de algo prprio do sujeito, que o constitui, espcie de marca intrnseca e nica, tal qual uma impresso digital. Seu conceito extrapola o prprio sujeito que "a detm". Peres (2006) conceitua a subjetividade de maneira que contempla [...] o modo pelo qual o indivduo colocado disposio do campo social". Segundo o autor a produo de subjetividade:

    Diz respeito aos atravessamentos que so experimentados no corpo, que passa a ter uma condio vibrtil de reao afetao. Os corpos se afetam nas relaes que se engendram no campo social, que por sua vez so atravessados pela cultura. (PERES, 2006, p. 02).

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    Portanto dizer de subjetividade levar em conta os componentes da sociedade e da cultura, que atravessam e percorrem com o sujeito um trajeto durante toda sua vida. Nessa perspectiva, a Esquizoanlise entende a subjetividade enquanto "[...] um sistema aberto, constitudo de mltiplas e diferentes foras, denominadas por Guattari (1993) como equipamentos coletivos de subjetivao ou componentes de subjetivao." (PARPINELLI; SOUZA, 2005, p. 480).

    Pode-se pensar, ento, na figura do rizoma e se conceber a subjetividade enquanto rizomtica, que no se fecha e se limita, que no aparece enquanto algo delimitado por contornos bem definidos. A subjetividade est em constante movimento, atravessada por mltiplos componentes de subjetivao que se ligam e religam". (PARPINELLI; SOUZA, 2005, p. 480).

    A respeito do conceito de rizoma Deleuze e Guattari (1995) afirmam que:

    Diferentemente das rvores ou de suas razes, o rizoma conecta um ponto qualquer com outro ponto qualquer e cada um de seus traos no remete necessariamente a traos de mesma natureza [...] ele no feito de unidades, mas de dimenses, ou antes, direes movedias [...] ele no tem comeo nem fim, mas sempre um meio pelo qual ele cresce e transborda [...] o rizoma feito somente de linhas: linhas de segmentariedade, de estratificao, como dimenses, mas tambm linha de fuga ou desterritorializao como dimenso mxima segundo a qual, em seguindo-a, a multiplicidade se metamorfoseia, mudando de natureza. (DELEUZE; GUATTARI, 1995, p. 32).

    A subjetividade mutvel, "[...] abre espao para a criao, ao novo e a novos desdobramentos" (PARPINELLI; SOUZA, 2005, p.6). Segundo Deleuze e Guattari citados por Rolnik (1996, p. 02) [...] a subjetividade no dada; ela objeto de uma incansvel produo que transborda o indivduo por todos os lados. Quando se fala de processo de subjetivao se est dizendo do que os referido autores j chamavam de produo de um modo de existncia. Assim como a subjetividade movimento, os sujeitos esto sempre a produzir novas maneiras de existir. Deleuze (1995) postula que a arte possui uma funo prpria: proporcionar a viso e a indagao dos modos de funcionamento que constituem as formas das mais variadas experincias humanas: tanto estticas quanto ticas ou polticas.

    O teatro, no contexto de um servio substitutivo pode aparecer como um valioso

    instrumento que permitir aos portadores de sofrimento mental despersonalizar a figura da doena e trazer cena um novo personagem: o devir-sujeito. Devir este que transita pelo mundo e ganha a oportunidade de criar diferentes modos de existir. Nesse sentido, alm dos estudos acerca do Movimento da Reforma Psiquitrica Brasileira, bem como do uso das

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    oficinas teraputicas nos servios substitutivos de Sade Mental e do marco terico para a conceituao de processos de subjetivao sob a tica da esquizoanlise ou tambm chamada filosofia da diferena, realizaremos uma pesquisa de campo interventiva, atravs da montagem de oficinas de teatro quinzenais com os usurios do CERSAM Noroeste. A nossa

    participao nessas oficinas ser previamente autorizada pela coordenao do centro Rosa Maria Vasconcelos e pelo Secretrio Municipal de Sade Marcelo Gouva Teixeira Alm

    disso, sero realizadas entrevistas semi-estruturadas com a equipe, em assemblias, para avaliao das oficinas de teatro realizadas.

    As oficinas permitiro o conhecimento efetivo das relaes dos portadores de sofrimento mental com o teatro, e dos afetamentos ocorridos nesses encontros. As entrevistas

    semi-estruturadas com a equipe possibilitaro o conhecimento do significado das oficinas em seu cotidiano de trabalho e seus efeitos na reinsero social dos portadores de sofrimento

    mental. Acreditamos assim estar contribuindo tanto para os estudos sobre o tema, quanto para a real efetivao da reforma psiquitrica no pas.

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