Artigo- Organização Industrial & Palm

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Uma abordagem de 2004 sobre a Palm Inc., e seus produtos sob a óptica da disciplina Organizações Industriais que eu cursava na FATEC-SP. Acabei encontrando este meu artigo publicado em outros sites e também foi objeto de aula durante meu curso na Universidade Nove de Julho. Apesar disso, o artigo parece atual, vendo como a companhia Palm anda...

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http://www.emanuelcampos.com

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A Palm e o mercado

A Palm e o Mercado

Uma análise não autorizada, por Emanuel Campos.

Aumentar a produtividade, sob a óptica da disciplina Organização Industrial é produzir 1) a

mesma quantidade de produtos utilizando menos recursos ou 2) produzir mais produtos

utilizando uma mesma quantidade de recursos.

Um aumento da produtividade não acarreta necessariamente em um aumento da

qualidade, mas um aumento da qualidade necessariamente acarreta um aumento da

produtividade. Explica-se, ao mantermos padrões de qualidade, estamos sujeitos a uma

margem de erro percentual, que não importa o quanto se produza a mais, seja com

investimentos de novos maquinários ou homens, o percentual é o mesmo de peças erradas

ao final da linha. Ao se aumentar os critérios de qualidade pode-se, sem precisar investir em

mais recursos, ter menos peças erradas ao final da linha e, conseqüentemente, aumento da

produção, conforme demonstrado no primeiro parágrafo.

A indústria brasileira não é parâmetro de controle de qualidade. Aqui a coisa ainda é feita

de modo manual, por um departamento à parte da linha de produção, o que significa um

recurso dedicado a isso, e conseqüentemente, um aumento do preço do produto final.

Poucas multinacionais são exceções, mas peguemos empresas como as japonesas, onde os

critérios de qualidade são contínuos, cada etapa da linha de construção e/ou montagem

já checa a etapa anterior. No caso de erros que passam, é mais punido que aceitou a peça

errada do que quem errou! São as filosofias de produção corretamente aplicadas: Kanban,

Kaisen, 5S''s, inspeção automática.

Ainda em Organização Industrial vemos que a qualidade do produto acaba associada a

idoneidade e honestidade da empresa que os produz. Empresas com aparelhos que

funcionam melhor, com menor taxa de quebra ou reclamação, são vista como mais

transparentes, mais honestas e dedicadas aos clientes. A quebra está associada com uma

tentativa da empresa de te obrigar a trocar de produto, por um novo. Desta forma,

aumentar a qualidade através de processos de controle, absorvidas pelas etapas

produtivas, sem onera o produto final, além de se aumentar a produção, também melhora

a imagem da empresa no mercado.

Outra importante lição de O.I. é que em um mercado altamente competitivo, o preço final

do produto para o mercado já é conhecido, ou seja, já há um preço que as pessoas

aceitam pagar por determinados produtos. Como o preço final menos os custos tem em sua

diferença o lucro, pode-se supor que o lucro também já vem ditado pelo mercado, e

conseqüentemente uma empresa em um mercado de alta competitividade tem na

administração de custos sua única arma de comércio e sobrevivência. Um último detalhe,

atender garantia de produtos, não apenas arranha a imagem da empresa, como é

considerado um custo de produção.

Com isso em mente podemos avaliar a Palm Inc. e, talvez, entender como que uma

empresa que já deteve 90% do mercado dos computadore de mão, mais conhecidos como

PDA, viu chegar ao seu mercado concorrentes com produtos melhores, na mesma faixa de

preços, e hoje ela detem apenas 40% deste mercado.

A Palm Inc. já teve seu nome como sinônimo de PDA, e até hoje o tem entre o púlico mais

leigo, aparelhos leves, com Sistema Operacional estável, integração com windows e

linguagens de programação acessíveis e fáceis de se dominar, mas esta mesma autonomia

era seu fraco, seu sistema operaciona, no ápice, não permitia implementações novas sem

colocar em cheque seu maior ponto de venda, e assim, multi tarefa, novas funções como

gravar voz, ver fotos e reconhecer outros formatos externos, como de figuras e documentos

de escritório foram, lenta e dolorosamente sendo integrados.

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Restava a Palm Inc. mexer no Hardware para se tornar mais competitiva, e foi o que fez, mas

os resultados mostraram que foi para pior. Apostando que o consumidor destes produtos

tem como foco o preço, ela começou a ceifar recursos: tirou o gravador de som, as bases

de fixação das palms. Trocou as elegantes carcaças metálicas e canetas com ponta reset

por aparelhos de plástico e canetas inteiramente injetadas. Trocou sucessivamente de

conector em busca de uma melhor relação custo/benefício, mas, na prática, tudo que

conseguiu foi irritar o público que não perdia acessórios cada vez que trocava de aparelho.

E até mesmo, as consagradas caixas, como da saudosa caixa do Palm Vx ou da Tungsten|t

foram substituídas por displays plásticos.

O resultado é história, cinqüenta por cento de mercado perdido e, como a Ford Brasil que

passou 15 anos produzindo o mesmo Escort, a Palm perdeu o chão, e dos seus luxuosos

PDA''s, ela foi acomodando-se a uma posição de entrada de linha. Mesmo a atualização

de aparelhos, da Zire para a Zire 21 e da Zire 71 para a Zire 72, ao invés dos investimentos

previstos, aumento de memória, qualidade da foto, o que se viu foi: telas com zunidos,

síndrome de digitalizadoras malucar, linhas verdades sobre as fotos, enfim, a imagem da

empresa estava definitivamente arranhada. A Palm Inc. havia mexido na qualidade, mas ao

invés de integrá-la a produção, cortou-a de vez, como forma de diminuir ainda mais o custo

dos seus produtos. A imagem foi um preço caro.

Hoje a Palm Inc. com novo logotipo e novos produtos vem com uma promessa de recuperar

mercado com investimentos pesados em tecnologia: wi-fi, memória flash integrada, uma

nova linha de aparelhos com mini HD, e trás a promessa, que só tempo confirmará, de ter

evoluído em qualidade. É preciso tempo para que usuários que pagaram além de suas

palms, quase cinqüenta por cento de novo, só para usá-las sem ruído ou linhas verdes,

voltem a confiar na empresa, seus produtos ainda são vistos, justificadamente, com um pé

atrás, a própria Tungsten T5, que queremos acreditar, é a última da velha Palm, era uma

coleção de problemas, restart lento, sem gravador de voz, novo padrão de conector,

memória que fazia os arquivos crescerem, lentidão na troca de informações. Rezemos, para

a Tungsten E2 e o LifeDrive provarem que há ai uma nova Palm.

A Palm, além do pioneirismo, conta com outras qualidades, é carismática, amigável aos

usuários e acima de tudo, é não Windows, pegando todos aqueles que fogem deste

ambiente, os linuxistas, Macintóshicos, e mesmo usuários do Windows que querem

versatilidade. Seus aparelhos também são mais amigáveis que as combinações que

lembram placas de automóvel, usadas pelas concorrentes, iPAQ 1940, RX 3420, RZ 3715, e

assim vai. Desta forma, os parcos fãs desta linha ficam agora rezando para que a Palm

domine enfim, conceitos básicos de Organização Industrial, vendo que uma empresa de

manufatura vive de fazer bons produtos, e não de mudanças de nomes, logotipos,

downsizing, abertura para bolsas de valores ou afins.

Emanuel Campos – [email protected]

Artigo de 2004