Artigo - Nossa Sra. da Imaculada Conceição e a Igreja Matriz

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1 Instituto Histórico e Geográfico de Palmeira Fundado em 13 de fevereiro de 1955 Registro nº 438, Liv A-02 Cartório de Títulos e Documentos CNPJ 07.217.980/0001-28 Declarado de utilidade pública pela Lei nº 310 de 22 de maio 1955. NOSSA SENHORA DA IMACULADA CONCEIÇÃO E A IGREJA MATRIZ DE PALMEIRA Vera Lúcia de Oliveira Mayer 1 Final do século XVIII, em Palmeira apenas verdes campos, emoldurados aqui e ali de capões de mato entre uma ou outra instância de pouso para comerciantes de gado e de lugar de descanso, algumas poucas fazendas de criação e engorda de gado, era o movimento das tropas que se aviventava na região. E já o Tamanduá, se impunha pela sua importância no cenário dos campos gerais. No Tamanduá, onde o tempo guarda as nossas origens, a presença do influente Antonio Luiz Lamin, natural da Paranaíba, conhecido na historia dos campos gerais por Antonio Luiz Tigre, senhor de muitas posses, homem de bem, possuidor de inúmeras terras que iam desde o meio do segundo planalto até perto de Curitiba, terras que constituíam os sítios do Tamanduá e do rodeio. E ai então se pode começar a contar a historia de Nossa Senhora da Conceição da Palmeira. Nos idos anos de 1800 quando Palmeira ainda pertencia à Freguesia de Tamanduá, seus habitantes prestavam os cultos religiosos na Capela de Tamanduá, a cargo dos Padres Carmelitas, (hoje Município de Balsa Nova), construída por Antonio Luis Lamin. 1 Presidente do Instituto Histórico e Geográfico. Diretora do Museu Histórico.

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Instituto Histórico e Geográfico de Palmeira

Fundado em 13 de fevereiro de 1955

Registro nº 438, Liv A-02 Cartório de Títulos e Documentos

CNPJ 07.217.980/0001-28

Declarado de utilidade pública pela Lei nº 310 de 22 de maio 1955.

NOSSA SENHORA DA IMACULADA CONCEIÇÃO

E A IGREJA MATRIZ DE PALMEIRA

Vera Lúcia de Oliveira Mayer1

Final do século XVIII, em Palmeira apenas verdes campos, emoldurados aqui e ali de

capões de mato entre uma ou outra instância de pouso para comerciantes de gado e de lugar de

descanso, algumas poucas fazendas de criação e engorda de gado, era o movimento das tropas

que se aviventava na região. E já o Tamanduá, se impunha pela sua importância no cenário dos

campos gerais.

No Tamanduá, onde o tempo guarda as nossas origens, a presença do influente Antonio

Luiz Lamin, natural da Paranaíba, conhecido na historia dos campos gerais por Antonio Luiz

Tigre, senhor de muitas posses, homem de bem, possuidor de inúmeras terras que iam desde o

meio do segundo planalto até perto de Curitiba, terras que constituíam os sítios do Tamanduá e

do rodeio. E ai então se pode começar a contar a historia de Nossa Senhora da Conceição da

Palmeira.

Nos idos anos de 1800 quando Palmeira ainda pertencia à Freguesia de Tamanduá, seus

habitantes prestavam os cultos religiosos na Capela de Tamanduá, a cargo dos Padres

Carmelitas, (hoje Município de Balsa Nova), construída por Antonio Luis Lamin.

1 Presidente do Instituto Histórico e Geográfico. Diretora do Museu Histórico.

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Em 1709 Antonio Luis, o Tigre, ganhou do Capitão João Carvalho Pinto, que era

natural de Portugal, uma imagem de Nossa Senhora da Conceição,2 entalhada em madeira de

carvalho por um artesão português, cujo nome é desconhecido.

Neste período os ofícios religiosos da região eram celebrados na capela da Freguesia de

Tamanduá, pois as outras só estavam estabelecidas em São José dos Pinhais, Lapa e Castro.

2 A artística e secular imagem talhada na madeira por um escultor português, foi trazida de Portugal.

Esteve de 1694 à 1730 num altar da antiga Matriz de Nossa Senhora da Luz, em Curitiba. Na Capela de

Tamanduá, esteve de 1730 a 1837, depois na Matriz de Palmeira onde se encontra até hoje. (Dez.2113)

Rezam os documentos da época, que Luiz Tigre quis vê-la, habitar e reinar em uma

capela, na sede de uma das suas muitas fazendas, não só porque era grande e profunda a sua fé

na “Senhora da Conceição” tanto que estremeceu de alegria ao recebeu como também por querer

que ela fosse penhor de ricas bênçãos para as suas terras e protetora solicita de todos quantos as

habitavam.

Antes disso a Imagem estava colocada em altar lateral da Matriz de Curitiba, para ali ser

venerada. Entre os anos de 1727 e 1730 o mesmo senhor mandara construir uma capela de pedra

e cal para abrigar a imagem então trazida de Curitiba. “A construção desta capela foi na época a

mais meridional das construções de alvenaria no interior do Brasil.” (MACHADO. 2005)

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Havia aqui em Palmeira as terras de Manoel José de Araújo, dono da Fazenda da

Palmeira, natural de Minas Gerais, filho de pais portugueses, que foi casado com Ana Maria da

Conceição, herdeira de terras do Quarteirão de Santa Quitéria e grande devota de Nossa

Senhora da Conceição, fato que certamente tenha motivado a doação, pois ainda em vida D.

Ana Maria já deseja uma Igreja mais próxima. 3

O Padre Antonio Duarte dos Passos que já andava em desentendimentos como os

Carmelitas do Tamanduá, agilizou, e quanto antes tratou de se transferir para Palmeira.

Em 12 de agosto de 1818, entrega a capela do Tamanduá aos padres Carmelitas e vem

para o Rincão da Palmeira, onde passa a residir, e no dizer do historiador Marcus V.M.

Machado: “Estava dado o primeiro passo para o florescimento de Palmeira”.

Foi então que no dia 7 de abril de 1819, solenemente as terras foram doadas por Manoel

José de Araújo, para a construção de uma nova Igreja, dedicada a Nossa Senhora da Conceição.

Com isto alguns moradores de Tamanduá também se transferiram para a nova Freguesia. 4

Por isso é que o Tenente Manoel José de Araújo é considerado por alguns historiadores

como o fundador de Palmeira e a data 7 de abril foi reconhecida como o dia do aniversário de

Palmeira5. Neste mesmo período o ciclo do tropeirismo estava no seu auge. Palmeira crescia

principalmente pelo fato de ser ponto de excelente invernada para as tropas que vinham do sul,

fator este que já concentrava nos arredores, considerável número de casas e vários habitantes.

Segundo Machado, “a imagem, não se tem como precisar ao certo se veio logo de início

com o Padre Antonio Duarte dos Passos, é possível tenha vindo, afinal os Carmelitas são

devotos de Nossa Senhora do Carmelo” O belíssimo andor, todo entalhado e ricamente pintado,

permanece na Capela do Tamanduá até hoje.

3 D. Ana Maria faleceu aos 60 anos de idade no dia 21 de setembro de 1816.

4 “Aos sete dias de abril de mil oitocentos e dezenove, o Tenente Manoel José de Araújo fez a doação a

Nossa Senhora da Conceição, nossa Padroeira, sem pensão alguma, de um campo onde se está

fabricando a Matriz, e suas divisas são: do passo do Lajeado da estrada de baixo até a forquilha do

arroio do monjolo e por estar acima até a barra de um arroio que nasce abaixo da casa do mesmo que

lhe chamam bica do mato e cortando em rumo da dita barra há um marco de pedra e do dito marco a

um arroio que faz vertente para o Lajeado e por este arroio do lajeado abaixo até o Passo da estrada

onde principiou a demarcação, cujo terreno deu de sua livre vontade, com a condição de no caso de se

mover a Freguesia para outra parte ficarem sendo seus o dito terreno; outrossim, que sua família terá

preferência em todo lugar que escolher pra fabricarem suas casas. E, para constar, lancei este termo.

Dia, era ut supra. O Vig.Manoel José de Araújo. Como testemunhas: Domingos Inácio de Araújo, José

Caetano de Oliveira, José Joaquim dos Santos e Francisco Martins “Transcrição do livro Tombo nº 01

– Paróquia de Palmeira

5 Porém Palmeira surge das fazendas de gado e consequentemente a partir do pouso dos tropeiros, e

deslancha com a transferência da Freguesia do Tamanduá.

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Somente em julho de 1820, segundo a provisão de D. Matheos de Abreu Pereira, é que

lhe foi concedida licença para edificar a sua Matriz com a invocação à de Nossa Senhora da

Conceição.

A benção solene da nova Igreja aconteceu no dia 08 de setembro de 1823, (Livro

Tombo, nº 1, fls.14.) quando se deu oficialmente a transferência da Freguesia do Tamanduá

para a Freguesia nova de Nossa Senhora da Conceição de Palmeira.

A Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição foi dada como concluída em 1837 com

a construção do frontispício. Tem como características arquitetônicas o estilo “Barroco

Colonial”, de traços bem simples, tendo passado por algumas alterações nas suas características

arquitetônicas de origem, em decorrência de reformas que se processaram, no decorrer dos

anos.

A Igreja construída em terreno de amplo desnível requereu posteriormente, trabalhos

complementares de proteção, inclusive a confecção do muro de arrimo que hoje a protege.

No dia 8 de dezembro de 1837 a Imagem de Nossa Senhora da Conceição foi

solenemente entronizada no Altar Mor, onde permanece até hoje abençoando o povo de

Palmeira, pois também foi proclamada como a Padroeira do Município.

Quase 200 anos se passaram e a devoção à Nossa Senhora da Conceição em Palmeira é

constante, todos os anos no dia 8 de dezembro grandes manifestações de fé e atos litúrgicos são

celebrados, além de procissões e festejos externos.

A IMAGEM DO ALTAR MOR DA GREJA MATRIZ

A belíssima imagem de Nossa Senhora da Conceição que vislumbramos hoje no altar

mor da nossa Matriz, revela os traços delicados, próprios da beleza feminina com roupas

esvoaçastes das madonas renascentistas: “A imagem de Nossa Senhora da Conceição foi

referência existencial da antiga população luso-brasileira, católica e fervorosa; o ícone na

marcha civilizatória deste povo destemido que adentrou pelo sertão do poente, desafiando

todas as agruras de uma terra hostil e desconhecida”. (MACHADO, 2005).

Diante de si, aos pés do seu altar secular, vidas em começo receberam o signo de Cristo

pelo santo batismo; almas sem conta se tranqüilizaram pelo perdão dos seus pecados; corações

se fortificam e se espiritualizaram pela presença de Deus eucarístico...

Sob seus olhares, corações jovens e enamorados para sempre se uniram para a vida, e

ainda sob seus olhares dessa mesma vida se foram para resgates da eternidade...

Ela guarda já a quase dois séculos a própria historia de uma cidade que junto ao seu

coração que a sombra doce e espiritual do seu santuário “afundou aos seus esteios e lançou os

seus alicerces”! (CARNEIRO)

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Hoje a imagem de Nossa Senhora da Conceição, esculpida na madeira, transcende o

aspecto religioso e devoção, pois é o motivo da existência de um povo que se reconhece como

comunidade e nos identifica como palmeirenses, faz parte intrínseca da nossa história.

Juntamente com a Igreja Matriz que a abriga, temos como patrimônio, tanto religioso, artístico

e cultural que todos nós haveremos de preservar.

DEVOÇÃO À NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO.

Desde o ano de 1300, a doutrina da Imaculada Conceição de Maria esteve

presente na vida dos fiéis. Ainda no século XV, o calendário romano já possuía entre suas

festas de destaque, uma dedicada a Conceição Imaculada de Maria.

José de Anchieta foi apóstolo desta doutrina no Brasil, que desde o início de sua

colonização dedicou a este mistério inúmeras Igrejas, inclusive algumas catedrais, espalhadas

pelo nosso País.

Em 1830 Nossa Senhora apareceu a Catarina Labouré e pediu que mandasse cunhar

uma medalha com a imagem da Imaculada conceição e a seguinte inscrição: “Maria concebida

sem pecado, rogai por nós”. Esta medalha difundida aos milhões em todo o mundo, suscitou

grande devoção a Maria Imaculada incentivando muitos bispos e religiosos a solicitarem ao

Papa a definição do dogma que já era vivenciado no coração de milhares de fiéis. Assim no dia

8 de dezembro de 1854, o Papa Pio IX proclamou solenemente o dogma da Imaculada

Conceição.

Quatro anos após a proclamação, as aparições de Lourdes foram verdadeiras

confirmações do dogma, quando Maria dirigindo-se à menina Bernadette afirmou: “EU SOU A

IMACULADA CONCEIÇÃO”.

Hoje não ocorre a memória de nenhum santo, mas a solenidade mais alta e mais

preciosa daquela que é chamada a “Rainha de todos os Santos”, Maria Santíssima, no mistério

de sua Imaculada Conceição.

A Imaculada Conceição de Maria é a garantia de que o mal jamais prevalecerá sobre os

que depositam em Deus a sua confiança.

Referências:

FREITAS, Astrogildo de. PALMEIRA: Reminiscências e tradições. Curitiba: Lítero-Técnica,

1984.

MACHADO, Marcus Vinicius Molinari. Freguesia Nova de Nossa Senhora da Conceição,

2005.

MAYER, Teresa Wansovicz. Memórias de Palmeira. Departamento de Educação. Prefeitura

Municipal de Palmeira. 1992.