Artigo NCEP: Relato de Experiências em Comunicação Popular
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NCEP UFPR: RELATO DE EXPERIÊNCIAS EM COMUNICAÇÃO POPULAR
Dayane Farinacio1 Douglas Maia Rodrigues2
Amanda Pupo3
Bruna Letícia Junskowski4
Carlos Henrique Baldo5
Heloisa Nichele6
Luiza Guimaraes7
Maria Isabel Miqueletto8
Milena Alves9
Plínio Luís Pereira Lopes10
1 Bacharel em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná. E-mail:
[email protected]. Bolsista Proec.
2 Bacharel em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná. E-mail:
[email protected]. Bolsista Proec.
3 Bacharel em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná. E-mail:
[email protected]. Bolsista Proec.
4 Bacharel em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná. E-mail:
[email protected]. Bolsista Probem.
5 Bacharel em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná. E-mail:
[email protected]. Bolsista Proec.
6 Bacharel em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná. E-mail:
7 Bacharel em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná. E-mail:
8 Bacharel em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná. E-mail:
Valsui Júnior11
Victoria Tuler12
Vinicius Do Prado13
RESUMO
Este artigo tem como objetivo apresentar o Núcleo de Comunicação e Educação Popular(NCEP) e os resultados que vem sendo alcançados pela equipe e parceiros do projeto, bemcomo fornecer breves relatos de experiência das atividades em que a gestão do Núcleo estáenvolvida. O NCEP é um projeto de extensão vinculado ao curso de Comunicação Social daUniversidade Federal do Paraná e foi criado em 2003, com o objetivo de estimular a discussãosobre comunicação popular e assessorar movimentos sociais a fim de promover ademocratização dos meios de comunicação. A gestão 2013/2014 do NCEP conta com vinte eum membros, entre bolsistas e voluntários da graduação das três habilitações do curso deComunicação Social (Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Relações Públicas), sob aorientação e coordenação do Profº Drº Guilherme Carvalho. Os alunos de graduaçãoenvolvidos auxiliam os parceiros do Núcleo em projetos específicos. Atualmente, o NCEPconta com quatro parcerias, sendo elas o Colégio Estadual Manoel Ribas, a Escola EstadualHerbert de Souza, o Centro de Socioeducação (Cense) do município de Fazenda Rio Grande eo Movimento Nacional da População de Rua (MNPR), em que os integrantes do Núcleodesenvolvem oficinas de redação e produção em rádio e em jornal impresso.
Palavras-chave: Extensão; Comunicação Popular; Democratização, Educomunicação.
9 Bacharel em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná. E-mail:
10 Bacharel em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná. E-mail:
11 Bacharel em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná. E-mail:
12 Bacharel em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná. E-mail:
13 Bacharel em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná. E-mail: [email protected].
1. INTRODUÇÃO
O Núcleo de Comunicação e Educação Popular (NCEP) da Universidade Federal do
Paraná foi criado em fevereiro de 2003 por um grupo de alunos do curso de Comunicação
Social. Identificados com diversas organizações estudantis e sociais, os estudantes buscavam
uma maneira diferente de atuar na sociedade enquanto profissionais. A ideia inicial era a de
explorar outras possibilidades de inserção do profissional da comunicação, indo além da
relação estabelecida entre o profissional dos meios de comunicação de massa e a sociedade.
O NCEP veio a suprir a ausência no curso de Comunicação Social de uma atividade
de extensão que pusesse em prática o conceito de uma universidade pública atuante e
comprometida com a realidade local e global. Com a proposta de envolver os alunos na
assessoria de comunicação a movimentos sociais e na orientação para utilização dos meios de
comunicação, o Núcleo busca parcerias com movimentos sociais e instituições públicas que
estejam abertas à possibilidade de tomar os meios de comunicação como forma de expressão e
integração com a sociedade. Outro objetivo do projeto de extensão é fornecer aos alunos
desenvolvimento teórico e uma experiência prática em comunicação popular, através dos
movimentos que a vivenciam, contribuindo tanto para a formação acadêmica e profissional do
aluno, quanto para uma nova visão do contexto social do cidadão.
Neste artigo, apresenta-se um relato das experiências obtidas pelos participantes do
projeto nas várias frentes desenvolvidas pelo grupo em Curitiba e região metropolitan, tendo
tem a Educomunicação como principal orientação metodológica. São elas o Jornal A Lage, a
Rádio Cense, a Rádio Manecão World (Colégio Manoel Ribas) e a Rádio Geração Z (Colégio
Estadual Herbert de Souza.
O Núcleo conta, atualmente, com cerca de 15 alunos participantes, sendo que a
maioria conta com bolsa de estudos da Pró-reitoria de extensão e cultura (Proec) da UFPR, da
Pró-reitoria de assuntos estudantis (Probem) e da Fundação Araucária. No momento as
orientações estão a cargo dos professores Mário Messagi Jr e Guilherme Carvalho, que
substitui temporariamente o professor Toni André Scharlau.
2. LINHAS DE ATUAÇÃO
O Núcleo estabelece três linhas de atuação em seus projetos: A educomunicação ou
educação para os meios de comunicação; assessoria na produção de materiais de
comunicação; e pesquisa na área de comunicação popular.
2.1 EDUCOMUNICAÇÃO OU EDUCAÇÃO PARA OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO
A educomunicação surgiu no Brasil na década de 1970, mas o conceito só foi
sistematizado a partir dos anos 1990. O termo já era usado antes pela Unesco, mas com o
trabalho de pesquisa realizado nos anos 1990 ele foi ressemantizado.
Denise Cogo (2001), assim como Ismar de Oliveira Soares (2011), caracteriza a
Educomunicação como um campo de intervenção social que tem quatro áreas de intervenção:
a educação para a comunicação, a mediação tecnológica na educação, a gestão da
comunicação no espaço educativo e a da reflexão epistemológica sobre a inter-relação. A
primeira se constituiu pelas reflexões sobre a relação entre produtores de conteúdo, processo
de produção e recepção das mensagens, além da realização de programas para a formação de
um público consciente e crítico dos meios. A mediação tecnológica é o esforço para
compreender a discussão em torno da presença e usos das tecnologias de informação na
educação, enquanto que a gestão da comunicação no espaço educativo se relaciona com o
planejamento, execução e realização de projetos que articulem comunicação, cultura e
educação. A reflexão epistemológica se realiza nas pesquisas em academias ou universidades
sobre as práticas de Educomunicação.
Cogo (2001) ainda destaca que não se trata apenas de usar os meios de comunicação e
as novas tecnologias como ferramentas dentro da sala de aula, opinião também presente no
livro Infância e Comunicação - Referências para o Marco Legal e as Políticas Públicas
Brasileiras (2011). Segundo a publicação, educomunicação é diferente de uso instrumental das
tecnologias de informação, que habilita a manipular softwares e hardwares e não a refletir
criticamente.
A equipe do Núcleo toma o cuidado de adquirir tais conceitos em seus trabalhos,
considerando que a educomunicação surge dentro e fora do âmbito escolar como uma
ferramenta de exercício de uma necessidade básica do ser humano como ser social: a
comunicação e a transmissão/compartilhamento de conhecimento e experiências.
A partir dessa compreensão, o Núcleo atua nas parcerias com o Colégio Estadual
Manoel Ribas, em Curitiba, na Escola Estadual Herbert de Souza, em São José dos Pinhais e
no Centro de Socioeducação (Cense) de Fazenda Rio Grande. Esses projetos têm o caráter de
oficinas e se concluem quando os alunos conseguem atingir a autonomia na produção e
veiculação do conteúdo.
Baseados nisso, o NCEP acredita que, ao criar espaços de comunicação abertos e
democráticos dentro dos espaços educativos, o processo educomunicativo permite aos
indivíduos encontrar e desempenhar seu papel social e auxiliar na criação de uma ideia do
indivíduo como membro de uma comunidade.
De acordo com Paulo Freire (1996) é justamente na juventude que isto se faz mais
necessário, uma vez que o jovem está em pleno processo de autoconhecimento e de ajuste e
descoberta social. O desenvolvimento de tais espaços de comunicação diminui na criança ou
adolescente a noção de inferioridade de sua voz diante das vozes dos adultos, muito
disseminada nos espaços de educação formal, em que o aluno é apenas receptor e não
partilhador ou produtor de conhecimento.
Tornando o jovem mais ciente de seu espaço na sociedade e demonstrando seu
próprio poder de transformação social, a educomunicação o instiga a se sensibilizar com as
questões que afetam sua comunidade e a discutir ações que tornem melhor a vida em
sociedade.
Mais do que ajudar na expressão pessoal e coletiva e ensinar um modo diferente de
se relacionar com os meios de comunicação, o processo forma jovens mais cientes de sua
coletividade e proativos em relação ao seu contexto social.
2.2 ASSESSORIA NA PRODUÇÃO DE MATERIAIS DE COMUNICAÇÃO
Essa linha de atuação tem como objetivo auxiliar movimentos sociais na produção e
veiculação de conteúdo para meios de comunicação.
O NCEP, em parceria com o Colégio Estadual Manoel Ribas, produz a rádio escola
“Manecão World”, com alunos de 12 a 14 anos, assim como no Colégio Estadual Herbet de
Souza. São ofertadas oficinas de texto, locução, edição e reportagem em rádio, além da
produção de uma rádio-novela roteirizada pelos próprios alunos a partir das demandas da
escola.
Recentemente, o Núcleo firmou uma parceria com o Centro de Socioeducação
(Cense) do município de Fazenda Rio Grande, no Paraná. A ideia do projeto é desenvolver
programas de rádio para serem veiculados dentro da unidade para todos os jovens que
cumprem pena no Cense.
No Colégio Estadual Manoel Ribas, a dificuldade em proporcionar a autonomia está
na falta de aparelhos para as produções radiofônicas e a rotatividade anual de alunos. A escola
dispõe de uma mesa de som que não possui conserto, o que impede que os alunos possam usá-
la em suas produções. Outro fator determinante que impede o desligamento do Núcleo com o
projeto é o egresso anual de diferentes alunos, o que torna necessário o retorno do grupo à
escola.
2.3 PESQUISA NA ÁREA DE COMUNICAÇÃO POPULAR
O Núcleo possui uma equipe designada para a pesquisa de material referente à
comunicação popular, como textos de pensadores e estudiosos da comunicação e filmes
relacionados ao tema. Eventualmente são organizadas discussões e debates entre os
integrantes do Núcleo, a fim de melhor prepará-los, também no âmbito teórico, para a atuação
nos projetos. Também são debatidas questões metodológicas, como o foco e o conteúdo das
oficinas ministradas.
Além destes projetos, o NCEP, em parceria com o Movimento Nacional da
População de Rua, produz o jornal A Laje. Cujo objetivo é a publicação de informações
referentes à população em situação de rua e a divulgação das demandas e reivindicações da
classe.
A assessoria é baseada no princípio de promover a autonomia dos envolvidos. O
objetivo do NCEP é assegurar que estes movimentos e instituições sejam capazes de fazer as
produções sozinhos a partir das oficinas ministradas pelo núcleo. Entretanto a equipe vem
enfrentando certas dificuldades neste sentido.
3. CRITÉRIO DE INGRESSO E FUNCIONAMENTO GERAL
Os membros do NCEP apresentam sua proposta e projetos aos calouros em palestra
durante a ''Semana do Calouro''. No início do primeiro semestre são feitas seletivas, que
compreendem entrega de um trabalho e entrevista com membros antigos do Núcleo. As
seletivas são direcionadas por cargos, sendo eles: Extensão: os integrantes da equipe de
extensão vão até os parceiros do NCEP desenvolver, na prática, as atividades. Ministram
oficinas com os alunos e os auxiliam na produção de conteúdo.
Produção de material gráfico: desenvolvem os flyers e demais materiais de divulgação
online ou in loco para o NCEP e seus parceiros.
Social Media: fazem a manutenção das páginas dos projetos em redes sociais publicando
conteúdos produzidos pelas equipes de material gráfico e extensão, além de outros
conteúdos que tenham relação com a linha de trabalho do NCEP.
Pesquisa: a equipe de pesquisa coordena a formação dos membros do NCEP através das
discussões de textos, organiza datas e os textos e/ou filmes a serem discutidos. Além da
produção dos materiais que resultam dessas discussões, como artigos e relatos de
experiência.
As vagas para entrada de novos integrantes dependem do número de parcerias
firmadas para o ano. Os novos membros passam por uma semana de adaptação, em que são
convidados a visitar os parceiros do NCEP e conhecer os projetos realizados pelas equipes,
além de discussões envolvendo os membros mais antigos do Núcleo para que possam escolher
os projetos que se encaixem melhor nos seus objetivos individuais e carga horária.
São realizadas reuniões semanais (às quintas-feiras) com os membros do Núcleo,
mediados pelo professor coordenador do projeto de extensão, nas quais é discutida a
organização interna do NCEP e são feitos os informes dos projetos. Além disso, a equipe de
pesquisa organiza discussões com profissionais envolvidos com comunicação popular e
selecionam textos e filmes para serem debatidos durante as reuniões. As equipes de cada
projeto têm a responsabilidade de realizar uma reunião semanal à parte com seus membros,
para que sejam definidos os trabalhos realizados com os parceiros e o método de abordagem.
4. RELATOS DE EXPERIÊNCIA
4.1 JORNAL A LAJE
O jornal A Laje é um projeto do NCEP em parceria com o Movimento Nacional de
População de Rua (MNPR) e sua proposta é ser um veículo de comunicação produzido para e
sobre a população em situação de rua, com pautas que atendam aos interesses e necessidades
da classe.
O projeto é desenvolvido com reuniões semanais às terças-feiras na sede do MNPR,
que atualmente situa-se na Rua 21 de Abril, número 119, no bairro Alto da Glória. É neste
momento que as pautas são discutidas, informações são apuradas, distribuídas tarefas e
divulgados eventos relevantes. Participam das reuniões membros do NCEP e alguns
representantes do MNPR. Eventualmente, os membros do projeto saem a campo para fazer
matérias com pessoas em situação de rua. A redação da maior parcela do conteúdo, a revisão e
a diagramação do veículo é de responsabilidade do NCEP. A impressão fica a cargo de
sindicatos que se revezam para imprimir a tiragem atual de mil exemplares por edição.
A parceria teve início em setembro de 2010 e a primeira edição d'A Laje foi lançada
no dia 12 de novembro do mesmo ano, durante o Encontro sobre a Saúde da População em
Situação de Rua. Até agora foram publicadas mais de vinte edições. O projeto foi idealizado
pelo coordenador nacional do MNPR e ex-morador de rua Leonildo Monteiro Filho.
Até a edição número 14 o jornal era impresso em formato A4, frente e verso.
Posteriormente passou a ser impresso em papel A3, dobrado ao meio, com um total de quatro
páginas e assim é feito até as edições mais recentes. Uma reforma gráfica está sendo
planejada, com o objetivo de aprimorar a identidade visual e imprimir edições futuras a cores
e em outro tipo de papel.
O projeto conta ainda com um blog desde setembro de 2011, em que divulga as
versões digitais do veículo, além de outras informações e matérias relacionadas com a
proposta d'A Laje. Há também uma página no Facebook, criada em maio de 2012, na qual são
divulgadas as atividades do projeto.
A Laje tem por objetivo ser um meio de luta para reivindicar os direitos da
população em situação de rua. Para isso, tem acompanhado, divulgado e feito a cobertura de
eventos, campanhas e ações com foco na população de rua, como o Dia de Lutas, a Campanha
do Agasalho e o Consultório na Rua. Quando necessário, o jornal também denuncia casos de
injustiça e descaso contra a classe. Além destas pautas, há também as colunas ''Entendendo(o)
Direito'', com explicações e orientações jurídicas; ''Se Liga Aí, Meu Irmão'', que é escrita por
um representante do MNPR com algum recado para os que vivem em situação de rua; ''Perfil'',
contando a história e ações de pessoas e entidades envolvidas na causa; e o ''Perfil Das Ruas'',
que conta histórias de quem vive a realidade de não ter endereço e desconstruindo estereótipos
presentes na sociedade.
Entre os projetos desenvolvidos pelo NCEP, A Laje tem especificidades que a tornam
diferente dos demais, em que, depois que os envolvidos aprendem a lidar com as ferramentas
de comunicação, o Núcleo se retira e o veículo de comunicação segue de forma autônoma.
Essa particularidade se dá, principalmente, devido à grande rotatividade dos membros do
MNPR. Por estar em recuperação de dependência química e/ou alcoólica, existe a dificuldade
em um membro do movimento assumir e se manter na liderança do jornal, impedindo a
conquista de autonomia e gerando a necessidade da presença constante do NCEP para que o
projeto perdure.
Quaisquer que sejam as dificuldades encontradas, A Laje segue como instrumento de
militância a favor dos direitos e de divulgação das demandas e conquistas deste grupo
marginalizado.
4.2 RÁDIO NO CENSE DE FAZENDA RIO GRANDE
O programa desenvolvido no Centro de Socioeducação (Cense) do município de
Fazenda Rio Grande, no Paraná, em parceria com o Núcleo de Comunicação e Educação
Popular (NCEP) acontece desde o início de agosto de 2014, mas as negociações para a
formação da parceria ocorreram desde o final de 2013, mediadas pelo então professor
coordenador do NCEP Profº Dr. Toni Andre Scharlau Vieira.
O programa acontece dentro das dependências do Cense Fazenda Rio Grande, às
quartas-feiras, com adolescentes privados de liberdade e que estejam em situação de pré-
externa, quando recebem “conquistas”, ou seja, atividades oferecidas de acordo com o bom
comportamento ao adolescente que está há mais tempo na unidade. Esse critério foi
desenvolvido pela diretoria do Cense em parceria com os membros do NCEP, de modo a
respeitar o funcionamento do Centro de Socioeducação e a facilitar o trabalho dos membros
do projeto.
A proposta da parceria é desenvolver um programa de rádio para ser transmitido
através do sistema de som instalado dentro da unidade do Cense Fazenda Rio Grande. Para
isso, o NCEP desenvolveu um cronograma básico que contempla oficinas para o contato e
capacitação dos adolescentes para produção de programas radiofônicos. As oficinas
geralmente contam com um momento teórico em que a equipe do NCEP responsável pelo
programa dá as primeiras noções sobre o tema a ser trabalhado no dia, com posterior atividade
prática realizada pelos adolescentes com auxílio dos membros do Núcleo.
O programa tem como objetivo possibilitar o contato dos menores privados de
liberdade com os meios de comunicação nas diferentes instâncias: reflexão, produção, edição
e conscientização sobre os meios. Tanto para a formação como cidadãos quanto para mostrar
um possível caminho profissional e/ou de expressão, assim como as outras atividades
oferecidas no Cense Fazenda Rio Grande objetivam. Além disso, o NCEP também visa
mostrar aos participantes que a comunicação não se restringe a grandes conglomerados, mas
que também pode ser feita por pequenos grupos. Todas as atividades desenvolvidas no
programa são pensadas e trabalhadas de modo a adequar os interesses e preferências dos
adolescentes com as convenções e regras básicas da produção radiofônica, procurando
fomentar o diálogo igualitário e democrático entre as partes envolvidas.
Por ser um programa recente, ainda é difícil mensurar as dificuldades e resultados,
porém, alguns deles já podem ser percebidos. As principais dificuldades ocorreram durante as
negociações sobre quais adolescentes participariam das atividades, visto que foi necessário um
período de adaptação dos membros e diretores do Cense para adequar a grade horária dos
adolescentes, o que atrasou o início dos trabalhos. Outra dificuldade que já pôde ser percebida
foi a dificuldade dos menores com a leitura e interpretação de textos, que demanda mais
atenção e auxílio dos membros do NCEP e dificulta a independência deles na produção dos
textos usados para a gravação. O grande nível de distração dos adolescentes também dificulta
o andamento das oficinas.
Entretanto, avanços já puderam ser percebidos. Com o início das atividades mais
práticas, como a oficina de voz - em que os menores leram pequenas notas, posteriormente
gravadas e puderam escutar suas próprias vozes - e as oficinas acontecendo no estúdio de
rádio montado dentro da unidade do Cense, o interesse dos adolescentes pelas atividades e a
vontade de ver o resultado dos trabalhos aumentaram muito. Além disso, os próprios
adolescentes perceberam dificuldades de leitura e que precisavam investir mais nesse aspecto
antes de produzir um programa de forma independente. Os menores também se interessaram
pelos diversos programas de edição e montagem de programas de rádio. O objetivo principal
do programa aos poucos também vai sendo conquistado, uma vez que os adolescentes, a cada
oficina e atividade auxiliados pelos membros do NCEP, tomam conhecimento sobre um
aspecto novo da comunicação ou das discussões que perpassam a área.
Com a ajuda dos educadores do Cense, que estão presentes durante as atividades, o
diálogo e os acordos sobre os rumos de cada pequeno projeto programado dentro da parceria
também se tornam possíveis.
4.3 RÁDIO MANECÃO WORLD: COLÉGIO ESTADUAL MANOEL RIBAS
Localizada na Vila das Torres, exatamente após a cerca que representa a última
barreira entre uma renomada faculdade particular e o mais antigo território favelizado de
Curitiba, a Escola Estadual Manoel Ribas é parceira do NCEP desde julho de 2011. Na
instituição, o Núcleo atende adolescentes na faixa dos 11 aos 15 anos, matriculados, de
maneira geral, nos últimos anos do ensino fundamental (6º ao 9º ano).
O contexto social do ambiente em que o colégio está inserido leva a algumas
particularidades na dinâmica da implantação da rádio. Devido ao histórico de violência na
região e aos altos índices de evasão escolar na capital paranaense (segundo um levantamento
feito pelos conselhos tutelares da cidade em 2009, a escola pública curitibana perde 12 alunos
diariamente), a escola é uma das poucas instituições de ensino mantidas pelo governo que
contam com ensino integral. As crianças e adolescentes passam o dia na sala de aula, das 8:30
às 17:00. No período da manhã, a grade horária é composta pelas matérias obrigatórias
regulares, como português, ciências e matemática. Após o almoço, os estudantes frequentam
aulas especiais que envolvem, principalmente, os universos dos esportes e das artes. Essas
atividades extracurriculares são optativas, ou seja, escolhidas pelos próprios adolescentes. O
papel do NCEP é assessorar os jovens matriculados na matéria de Mídias, que engloba
técnicas de criação de conteúdo para blogs e, de maneira mais forte, a produção radiofônica.
Num primeiro momento, a dinâmica das oficinas de rádio parecia apresentar diversos
percalços. Apesar de os 15 estudantes inicialmente matriculados em Mídias estarem cursando
a matéria por vontade própria, os adolescentes tendiam a começar as atividades relativamente
dispersos. Com a democratização da internet e, consequentemente, das novas mídias digitais,
o formato radiofônico parecia distante e arcaico para eles. Nos dois anos em que a equipe
realizou o trabalho na escola, a mesma pergunta era feita logo na primeira aula: ''Quem tem o
costume de escutar programas de rádio, sejam eles de música ou notícias?''. Em ambas as
turmas, a grande maioria havia sintonizado uma estação de rádio apenas em raras ocasiões.
Por se tratarem de classes mistas, com alunos de várias séries e contextos diferentes,
as turmas também foram marcadas por discrepâncias relevantes de qualidade de formação
entre os estudantes. Enquanto alguns adolescentes possuíam desenvoltura e textos com
cadência e coesão, outros tinham dificuldades para escrever uma redação coloquial de quatro
ou cinco linhas. Essa diferença assumiu um caráter de obstáculo no início dos trabalhos.
Entretanto, no decorrer do ano letivo, esse percalço foi transformado em um motor para
fortalecer a união da turma e o trabalho em equipe, já que motivou os jovens com mais
facilidade a ajudarem os outros colegas a formularem seus textos e ideias, para que todos
participassem da produção da rádio.
Por fim, as dificuldades técnicas representaram um problema considerável. A escola
contava com uma modesta mesa de som que, após um longo período sem ser utilizada, já não
funcionava adequadamente. Após várias tentativas de conserto, o equipamento continuava
precário, sem condições de proporcionar a estrutura mínima necessária para a divulgação da
rádio dentro do colégio e da comunidade Vila das Torres, de acordo com as intenções iniciais
do projeto. A solução encontrada foi postar as produções no blog da turma de Mídias 16 , que
atendia pelo nome de Manecão Online em 2013 e, no ano seguinte, foi rebatizado como
Manecão World. A integração das plataformas virtual e radiofônica foi tão forte que os dois
títulos dados ao blog se tornaram os nomes da rádio (Manecão Online em 2013; Manecão
World em 2014). Além disso, essa característica transmídia aproximou os estudantes do
formato de rádio, já que a dinâmica de postagem do material na internet era algo mais
próximo da realidade deles e que possui um alcance maior, podendo ganhar territórios que vão
além dos muros da escola.
A equipe do NCEP frequenta a escola uma vez por semana, sempre ocupando o tempo
correspondente a uma aula (cerca de 50 minutos). Em geral, para a produção das reportagens,
os estudantes se dividem em duplas, sobretudo pela falta de computadores e gravadores para
todos.
As oficinas mesclam teoria, debate e prática, sempre com metodologia lúdica e
dinâmica, seguindo a premissa de aproximar a produção jornalística dos alunos através de uma
abordagem simples e direta. A execução de reportagens tradicionais é intercalada com
formatos mais criativos, como a radionovela anual, programas temáticos especiais e cobertura
de eventos internos, como feiras de ciências, campeonatos de esportes e semanas culturais.
Também são agendadas duas visitas por ano ao estúdio de rádio da UFPR, localizado no
campus de Comunicação Social onde os alunos podem conhecer as instalações, conversar com
um profissional da universidade sobre questões mais técnicas do equipamento, produzir e
editar as vinhetas de seus programas de rádio e gravar parte do material.
Ao fim do ano letivo, é evidente o papel que a produção radiofônica tem nos contextos
pedagógicos e sociais dentro da comunidade escolar, impactando profundamente a visão dos
alunos sobre si mesmos e a sociedade em que estão inseridos. Com a produção midiática, os
jovens descobrem um canal para denunciar, opinar, levantar sua voz ou simplesmente criar
algo. A rádio treina o olhar do adolescente para problemas que estão a sua volta e, muitas
vezes, assumem ares de invisibilidade para as autoridades. Esse novo horizonte os inclina no
sentido de questionar e reivindicar seu espaço como cidadãos que devem e merecem ser
ouvidos, transformando-se, assim, em agentes sociais de mudança.
Os alunos também desenvolvem uma relação mais crítica com as informações que
chegam até eles através das grandes empresas de comunicação, levantando questionamentos,
buscando diversas fontes e sentindo-se livres para, inclusive, discordar do que está sendo
retratado em uma matéria de um grande jornal, por exemplo. Os estudantes que já se
envolveram na produção de reportagens, por conhecerem o processo e saberem como
funciona, são promovidos a integrantes ativos no processo comunicacional, desenvolvendo
uma relação de mão dupla com o emissor.
Além de evoluções no âmbito social, os jovens envolvidos no projeto também
costumam concluir as atividades com mudanças na esfera individual. Os alunos tendem a se
interessar mais por leitura e produção de textos, apresentando melhoras significativas quanto
a gramática, coesão textual e, mais importante, avanços quanto ao gosto por livros, jornais e
revistas. Outra tendência é que os adolescentes encerrem sua participação na matéria de
Mídias mais desenvoltos e menos tímidos, com progressos também quanto à dicção, já que a
prática radiofônica exige alguns exercícios vocais importantes.
Em 2013, o caso de uma aluna em particular chamou atenção da equipe envolvida no
projeto. A adolescente de 14 anos, estudante de escola pública desde o início de sua formação,
começou o ano letivo preocupada pois no ano seguinte, assim que entrasse no ensino médio,
queria começar a trabalhar para ajudar a família nas despesas. A garota acabou se destacando
como uma das melhores em todas as produções radiofônicas orientadas pelo NCEP. Ao fim da
experiência, em seu feedback aos bolsistas do Núcleo, afirmou que batalharia para conquistar
uma vaga na universidade e cursar jornalismo. Essa, talvez, seja uma das vitórias mais
significativas do trabalho de educomunicação naquela instituição.
4.4 RÁDIO GERAÇÃO Z: COLÉGIO ESTADUAL HERBERT DE SOUZA
No ano de 2012 a professora Paula Alexandra Reis Bueno entrou em contato com a
equipe do NCEP para estabelecer uma parceria em um projeto de rádio escola que estava se
iniciando na Escola Estadual Herbert de Souza, localizada no município de São José dos
Pinhais, Região Metropolitana de Curitiba. No mês de abril do mesmo ano, teve início o
trabalho na Escola.
Ao longo do projeto, houve a presença do professor Lizandro Gorski, responsável por
acompanhar as oficinas e assumir o projeto no momento de saída do núcleo. A proposta era
capacitar alunos e professores com oficinas sobre comunicação, produção em rádio e fornecer
auxílio na execução e implantação da rádio.
A rádio foi chamada de “Geração Z”, uma referência encontrada pelos estudantes
para denominar a geração que usa a tecnologia como ferramenta para domínio da linguagem e,
além disso, a discute de maneira crítica. Ao fim de 2012, a rádio já possuía frequência de
produção e os alunos já tinham conhecimento e domínio do processo.
Em 2013 o projeto continuou a comparecer no local para capacitar os novos alunos,
em um trabalho de 10 encontros que foi proposto para durar três meses. Foram feitas uma
série de oficinas, que incluíam os principais temas relacionados à comunicação através do
rádio, como gêneros e formatos radiofônicos, história do rádio, texto e voz em rádio,
produções de pauta e reportagem. Os alunos foram convidados para fazer uma visita nos
estúdios de áudio do campus de Comunicação da UFPR, onde tiveram a oportunidade de
gravar vinhetas e entrar em contato com a produção dos programas.
Ao final do processo de implantação do projeto, em 2013, os alunos produziam três
programas semanais de 15 minutos cada, com material produzido pelos próprios estudantes,
sem ser necessária a intervenção da equipe do NCEP. Os alunos já possuíam autonomia para
produzir o programa sem a necessidade de acompanhamento.
Em 2014, o professor Lizandro Gorski, contatou novamente a equipe do NCEP. De
acordo com Gorski, o projeto contava com 15 alunos interessados em levar adiante a iniciativa
e que, para isso, achava necessária a ajuda do Núcleo em questões mais técnicas como
produção de pauta e reportagem e preparação para entrevistas e enquetes no rádio. Neste
contexto, os participantes do NCEP voltaram a levar oficinas para o colégio em abril de 2014.
Nos primeiros três encontros foram analisadas debilidades no processo de produção
dos programas, uma vez que os alunos já não possuíam a mesma constância na produção de
pautas e apenas transmitiam músicas durante o intervalo de aulas. Viu-se necessário um
acompanhamento para que fosse possível trazer de volta a periodicidade na produção de
pautas, além de um melhor embasamento aos novos alunos que entraram no projeto durante o
período em que o NCEP deixou de acompanhá-lo.
A equipe promoveu uma oficina sobre pautas, explicando o que são e para quê
servem. Foram escolhidos dois temas que poderiam agradar aos adolescentes e os 10 alunos
do projeto foram divididos em dois grupos para produzirem as pautas, junto com o Núcleo.
Posteriormente, os grupos trocaram as pautas e ficaram responsáveis por produzi-las durante
as férias de junho, entretanto, no retorno às aulas, a equipe notou que nenhuma equipe havia
produzido.
Infelizmente, ainda não é possível para o Núcleo se desligar do projeto, visto que os
alunos, por enquanto, apenas tocam músicas no intervalo das aulas, não possuem
conhecimento relacionado à pauta ou produções de notas e reportagens em rádio. Nos últimos
encontros, a equipe tem tomado o cuidado em explicar a linguagem no rádio e comentar os
diversos gêneros que podem ser veiculados e que a rádio da escola não precisava ser feita
apenas de música. Os alunos passaram a se preocupar com questões noticiosas no rádio e
produziram duas notas para serem passadas durante o programa, sem deixar de lado a música
que exprime os gostos plurais da escola.
As produções têm melhorado gradativamente e a equipe do NCEP tem notado maior
e melhor participação dos alunos. Os estudantes têm se mostrado mais dedicados em suas
produções, buscando notas em sites de notícias e assuntos que são de interesse da comunidade
escolar.
5. CONCLUSÃO
O trabalho do NCEP evidencia que o desafio na formação profissional de um
comunicador não está só no desenvolvimento de habilidades específicas e na familiarização
com os meios de comunicação. O comunicador deve ser pensado também como um agente
capaz de criar estratégias para a democratização do acesso à informação e ao conhecimento e
também como um mediador entre as demandas populares e o espaço público.
Como instituição pública, a universidade deve contar com um trabalho de extensão
que perceba a importância da comunicação para a formação de uma sociedade mais justa e
igualitária e contribua de forma concreta com a construção dessa sociedade.
O Núcleo de Comunicação e Educação Popular da Universidade Federal do Paraná
acredita na construção de uma sociedade em que a informação transparente e a expressão de
ideias seja um direito de todos e forma comunicadores comprometidos com esse ideal e
sensíveis às demandas daqueles que foram historicamente privados de voz.
6. REFERÊNCIAS
SOARES, Ismar de Oliveira. Educomunicação: o conceito, o profissional, a aplicação. Paulinas, 2011.
COGO, Denise. Leitura crítica dos meios à educomunicação: convergências possíveis entre comunicação e educação. In: Tendências da Comunicação n. 4, Porto Alegre: L&PM Editores, 2001.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 24. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
Infância e comunicação: referências para o marco legal e as políticas públicas Brasileiras, Brasília: ANDI, 2011. Disponível em: http://www.andi.org.br/sites/default/files/infancia%20e%20comunicacao.pdf