Artigo materiais elétricos

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Energia fotovoltaica: conversão de energia solar em electricidade 1 Miguel C. Brito, José A. Silva Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa A energia solar fotovoltaica, conversão de energia solar em electricidade, é uma fonte de electricidade limpa pois o seu funcionamento não tem emissões indesejáveis, e renovável, devido à natureza inesgotável do sol. Tem, além disso, outras vantagens como o longo tempo de vida dos seus equipamentos (da ordem dos 30 anos), a sua baixa manutenção (só é preciso prestar alguma atenção aos acumuladores) e as suas modularidade e portabilidade. Neste artigo descreve-se o princípio de funcionamento das células fotovoltaicas e alguns aspectos da sua integração em sistemas de electricidade solar. Abordar-se-ão ainda alguns aspectos que por vezes parecem ensombrar as virtudes da energia solar eléctrica, nomeadamente a eficiência de conversão e o tempo de retorno energético. Efeito fotovoltaico O efeito fotovoltaico foi observado pela primeira vez em 1839 por Edmund Becquerel, que produziu uma corrente eléctrica ao expor à luz dois eléctrodos de prata num electrólito 2 . Em 1877, W.G. Adams e R.E. Day construíram a primeira célula solar baseada em dois eléctrodos de selénio que produziam uma corrente eléctrica quando expostos à radiação 3 mas a eficiência destes sistemas era tão reduzida que o desenvolvimento de células solares realmente interessantes teve que esperar por uma compreensão mais completa dos materiais semicondutores. Só em 1954, D.M. Chapin e colaboradores, do Bell Laboratory, nos Estados Unidos da América, publicaram o primeiro artigo sobre células solares em silício – ao mesmo tempo que registavam a patente de uma célula com uma eficiência de 4.5% 4 . Figura 1: Extracto da patente da primeira célula solar, registada em Março de 1954 por D.M. Chapin e colaboradores do Bell Laboratories. 1 Artigo publicado na revista O instalador, Julho 2006 2 E. Becquerel, Memoires sur les effets electriques produits sous l'influence des rayons, Comptes Rendues 9 (1839) 561 3 W.G. Adams, R.E. Day, The action of light on selenium, in Proceedings of the Royal Society, A25, 113 4 D.M. Chapin, C.S. Fuller, G.L. Pearson, A New Silicon p-n Junction Photocell for Converting Solar Radiation into Electrical Power, Journal of Applied Physics 25 (1954) 676; D.M. Chapin, C.S. Fuller, G.L. Pearson, Solar Energy Converting Apparatus, Patente US2780765

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Trabalho materiais elétricos/eletrônicos

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  • Energia fotovoltaica: converso de energia solar em electricidade1 Miguel C. Brito, Jos A. Silva

    Faculdade de Cincias da Universidade de Lisboa

    A energia solar fotovoltaica, converso de energia solar em electricidade, uma fonte de electricidade

    limpa pois o seu funcionamento no tem emisses indesejveis, e renovvel, devido natureza

    inesgotvel do sol. Tem, alm disso, outras vantagens como o longo tempo de vida dos seus

    equipamentos (da ordem dos 30 anos), a sua baixa manuteno (s preciso prestar alguma ateno aos

    acumuladores) e as suas modularidade e portabilidade. Neste artigo descreve-se o princpio de

    funcionamento das clulas fotovoltaicas e alguns aspectos da sua integrao em sistemas de

    electricidade solar. Abordar-se-o ainda alguns aspectos que por vezes parecem ensombrar as virtudes

    da energia solar elctrica, nomeadamente a eficincia de converso e o tempo de retorno energtico.

    Efeito fotovoltaico

    O efeito fotovoltaico foi observado pela primeira vez em 1839 por Edmund Becquerel, que produziu uma

    corrente elctrica ao expor luz dois elctrodos de prata num electrlito2. Em 1877, W.G. Adams e R.E.

    Day construram a primeira clula solar baseada em dois elctrodos de selnio que produziam uma

    corrente elctrica quando expostos radiao3 mas a eficincia destes sistemas era to reduzida que o

    desenvolvimento de clulas solares realmente interessantes teve que esperar por uma compreenso mais

    completa dos materiais semicondutores. S em 1954, D.M. Chapin e colaboradores, do Bell Laboratory,

    nos Estados Unidos da Amrica, publicaram o primeiro artigo sobre clulas solares em silcio ao mesmo

    tempo que registavam a patente de uma clula com uma eficincia de 4.5%4.

    Figura 1: Extracto da patente da primeira clula solar, registada em Maro de 1954 por D.M. Chapin e

    colaboradores do Bell Laboratories.

    1 Artigo publicado na revista O instalador, Julho 2006 2 E. Becquerel, Memoires sur les effets electriques produits sous l'influence des rayons, Comptes Rendues 9 (1839) 561 3 W.G. Adams, R.E. Day, The action of light on selenium, in Proceedings of the Royal Society, A25, 113 4 D.M. Chapin, C.S. Fuller, G.L. Pearson, A New Silicon p-n Junction Photocell for Converting Solar Radiation into Electrical Power, Journal of Applied Physics 25 (1954) 676; D.M. Chapin, C.S. Fuller, G.L. Pearson, Solar Energy Converting Apparatus, Patente US2780765

  • Uma clula fotovoltaica simples consiste basicamente num dodo de grande rea, i.e. um substrato de

    material semicondutor onde criado um campo elctrico interno permanente (chamado juno pn).

    Quando a radiao atinge um tomo do semicondutor este liberta um electro que pode ser conduzido

    pelo campo elctrico interno para os contactos, contribuindo assim para a corrente produzida pela clula

    fotovoltaica.

    O material de eleio para as clulas fotovoltaicas o silcio cristalino. As razes para esta escolha esto

    associadas s caractersticas nicas deste material, nomeadamente a sua abundncia no planeta (cerca de

    30%, no conjunto dos elementos que constituem a crosta terrestre), a sua no-toxicidade, o facto de ser a

    matria-prima da industria electrnica (e portanto ter sido alvo de uma investigao extraordinariamente

    detalhada nas ltimas dcadas) e uma srie de vantagens tcnicas (em particular hiato apropriado

    radiao solar, baixo coeficiente de segregao de metais, facilmente dopavel, xido passivante, etc).

    A maior desvantagem das tecnologias baseadas no silcio cristalino o facto de exigirem espessuras de

    clulas relativamente elevadas (cerca de 0.2 mm em vez de 0.001 mm para as clulas com filmes finos)

    com o consequente aumento de custo das matrias primas por unidade de rea de painel. Este problema

    tem-se sentido especialmente porque o crescimento explosivo do mercado fotovoltaico, em particular em

    pases como Alemanha e Japo, levou a um excesso de procura e quase ruptura dos stocks de silcio

    cristalino5 em 2006-2007. No entanto a industria respondeu rapidamente e esto j anunciados, ou em

    fase de instalao, vrias projectos de produo em larga escala de silcio cristalino apropriado para a

    fabrico de clulas solares (a que se chama habitualmente silcio solar). Naturalmente, outras tecnologias

    fotovoltaicas, como os referidos filmes finos que podem ser de silcio amorfo, cdmio-telrio (CdTe) ou

    cobre-ndio-desilenio (CuInSe2 ou CIS) tm aproveitado esta janela de oportunidade para gradualmente

    se introduzirem no mercado, embora s correspondam a uma pequena fraco do mercado global

    fotovoltaico.

    Sistemas fotovoltaicos

    A clula solar fotovoltaica o elemento essencial da converso da radiao solar em energia elctrica.

    Cada clula individual, com cerca de 100mm2, gera aos seus terminais uma tenso entre 0.5 e 1 V, com

    uma corrente tpica em curto circuito de algumas dezenas de miliampres. Esta intensidade da corrente

    razovel mas a tenso demasiado pequena para a generalidade das aplicaes pelo que normalmente as

    clulas so montadas em srie em em painis solares, com 28 a 36 clulas, gerando tenses DC da ordem

    dos 12V em condies padro de iluminao. Estes mdulos fotovoltaicos podem ser utilizados

    individualmente ou montados em srie e/ou em paralelo, de modo a obterem-se maiores tenses e/ou

    correntes, conforme as necessidades da aplicao em concreto.

    Uma vez que a energia elctrica gerada por um sistema fotovoltaico intermitente e imprevisvel, j que

    depende no s das variaes dia/noite mas tambm das condies climatricas, na grande generalidade

    das aplicaes necessrio prever alguma forma de armazenamento e/ou gerao auxiliar de

    electricidade. No caso de existir localmente uma ligao rede de distribuio de electricidade, a soluo

    mais simples consiste em fornecer rede elctrica o excedente produzido, disponibilizando-a para outros

    5 Uma das possveis vtimas deste estrangulamento do mercado, devido ao excesso de procura, pode ter sido a Shell Solar, que no incio de 2006 acabou por alienar a diviso de fotovoltaico em silcio cristalino por, alegadamente, no poder garantir o fornecimento de matria prima.

  • consumidores, e utilizar electricidade fornecida pela rede elctrica sempre que o sistema no gerar energia

    elctrica (nomeadamente no perodo nocturno) 6.

    Para pequenos sistemas, para aplicaes como sistemas de telecomunicaes ou sistemas domsticos

    isolados de pequenas dimenses (SHS, Stand alone systems), a soluo mais comum para acumular a

    electricidade fotovoltaica baseada em baterias electroqumicas, tradicionalmente de chumbo ou de

    nquel-cdmio. Este tipo de baterias pode acrescentar um custo significativo ao preo do sistema e exige

    custos de manuteno mais ou menos regulares.

    Existem outros tipos de solues, apropriadas para sistemas de maiores dimenses, que so denominadas

    sistemas de armazenagem de electricidade de grande capacidade. A destacam-se, pela sua simplicidade,

    os sistemas de bombeamento de gua. Durante os perodos de pouca procura utiliza-se a electricidade

    fotovoltaica excedente para bombear gua de um reservatrio a baixo nvel para um outro reservatrio

    mais elevado. Durante os perodos em que a procura maior, esta gua que foi bombeada para o

    reservatrio mais elevada pode ser utilizada para actuar em turbinas, reconvertendo a energia potencial

    gravtica em energia elctrica. A eficincia deste processo de converso da ordem dos 60%, o que

    significa que cerca de 2/3 da electricidade original recuperada.

    A electricidade tambm pode ser armazenada sob a forma de ar comprimido. Esta tcnica mais

    complexa do que a dos sistemas de bombeamento de gua mas apresenta algumas vantagens relevantes,

    nomeadamente uma maior densidade energtica (exigindo portanto reservatrios mais pequenos, para

    uma mesma capacidade) e maior flexibilidade para o local de instalao (existindo projectos de

    demonstrao utilizando reservatrios subterrneos).

    A acumulao de electricidade fotovoltaica baseada no hidrognio tambm muita vezes apresentada

    como uma soluo interessante, sobretudo num futuro a mdio prazo. O hidrognio como vector

    energtico tem a vantagem de poder ser transportado economicamente por pipeline, podendo ser utilizado

    para voltar a produzir energia elctrica em clulas de combustvel. As eficincias de converso, limitadas

    pelo rendimento da electrlise, so para j o grande bice ao desenvolvimento desta alternativa.

    Existem ainda outros processos de acumulao de energia elctrica, como sistemas magnticos

    supercondutores ou sistemas de armazenamento de energia mecnica (flywheel) embora estas paream ser

    solues intrinsecamente mais dispendiosas.

    Nos sistemas fotovoltaicos mais simples os painis solares so ligados directamente carga, fornecendo

    electricidade quando se verificam as condies adequadas de iluminao. o caso de bombeamento de

    gua com motores DC. Subindo o nvel de complexidade, em seguida temos os sistemas com acumulador

    de energia elctrica, sem sistemas auxiliares de gerao. Neste caso necessrio introduzir um regulador

    de tenso para evitar a sobrecarga das baterias em caso de perodos de muita iluminao. Em aplicaes

    que exijam corrente alternada, a corrente DC que sai dos painis deve ser convertida em corrente AC, o

    que realizado utilizando um inversor. O inversor pode ainda ajustar a tenso de sada mais apropriada

    aplicao em causa, usualmente produzindo tenses de 220V-AC. Finalmente, os sistemas fotovoltaicos

    podem ainda incluir um sistema auxiliar de gerao de electricidade (que pode ser uma ligao rede

    elctrica) para superar situaes de deficiente iluminao.

    6 Num prximo artigo, onde se abordaro algumas questes de carcter econmico da energia solar fotovoltaica em Portugal, propomo-nos esclarecer o procedimento, e dificuldades burocrticas e administrativas, para a ligao rede elctrica.

  • Figura 3: Sistema fotovoltaico. O controlador serve no s de interface entre os diversos componentes do

    sistema mas pode ainda ter outras funes como regulador de tenso para proteco das baterias, controlo

    da operao do sistema gerador auxiliar (backup) e adaptador/inversor de tenso mais adequada carga.

    Eficincia de converso

    A eficincia de converso, ou rendimento, de uma clula fotovoltaica definido como o quociente entre a

    potncia da luz que incide na superfcie da clula fotovoltaica e a potncia elctrica disponvel aos seus

    terminais. A termodinmica impe um limite mximo taxa da eficincia da converso fotovoltaica

    (como de resto a todos os processos de transformao de energia) e a prpria arquitectura das clulas

    fotovoltaicas reduz ainda mais a eficincia mxima das clulas.

    A actual recordista mundial de eficincia de converso fotovoltaica uma clula GaInP/GaInAs/Ge da

    Spectrolab, com 39% de eficincia7. Para clulas de silcio, o valor mximo obtido de 24.4%8. Estas

    clulas de alta eficincia so dispositivos que requerem uma tecnologia muito complexa como, por

    exemplo, processos especiais de texturizao da superfcie, para reduzir a reflectividade da clula, ou a

    criao de campos elctricos na traseira da clula para reduzir a recombinao. As clulas produzidas a

    nvel industrial apresentam eficincias tpicas da ordem dos 15%.

    A relativamente baixa eficincia de converso fotovoltaica das clulas solares por vezes apresentada

    como a principal razo para a fraca implementao da energia solar elctrica. Trata-se de uma afirmao

    pouco fundamentada pois, por um lado, so muitos os exemplos de processos e dispositivos com

    eficincias comparveis (por exemplo a eficincia dos motores de combusto interna, com um sculo de

    desenvolvimento tecnolgico, apresentam eficincias da ordem dos vinte por cento). Por outro lado,

    atendendo a que o combustvel dos painis fotovoltaicos a radiao solar, abundante e gratuita, a

    nica implicao da relativa baixa eficincia a necessidade, para se obter uma determinada potncia

    elctrica, ser necessria uma maior rea de painis.

    A pergunta que ento nos ocorre naturalmente : qual ser a rea necessria para produzir a electricidade

    que precisamos9 ? Comecemos por considerar a radiao solar mdia em Portugal, que 1500

    kWh/m2/ano. Assumindo um eficincia de converso de 15% temos 225 kWh/m2/ano de electricidade

    solar. Como o consumo nacional da ordem de 4.5x1010 kWh/ano seriam precisos 200 km2 de painis

    7 King RR, et al. Pathways to 40% efficient concentrator photovoltaics. Conference Proceedings, 20th European Photovoltaic Solar, Energy Conference, Barcelona, June, 2005; 118123. 8 J. Zhao, A. Wang, M.A. Green, F. Ferrazza, Novel 19.8% efficient honeycomb textured multicrystalline and 24.4% monocrystalline silicon solar cell, Applied Physics Letters 73 (1998) 1991 9 Para uma anlise mais rigorosa ver por exemplo Nonhebel S., Renewable energy and food supply: will there be enough land?, Energy Reviews 9 (2005) 191201

    Controlador Carga

    Acumulador

    Backup

    Gerao

  • solares para produzir toda essa electricidade. Dividindo pelo nmero de habitantes, 10 milhes, significa

    que cada portugus precisaria de 20 m2 de painis fotovoltaicos, com a tecnologia actual, para produzir

    toda a electricidade que consumimos (no s o consumo domstico individual mas tambm o consumo de

    electricidade na industria e nos servios). Esta rea corresponde a cerca de 20% da rea de asfalto nas

    estradas nacionais!

    Podemos ento concluir que o obstculo expanso da energia solar fotovoltaica no a sua eficincia

    mas o custo dos painis (por unidade de energia produzida). Sobre as estratgias para enfrentar o

    problema do custo debruar-nos-emos num prximo artigo.

    Figura 4: Distribuio geogrfica da irradiao solar anual mdia, medida na horizontal. Portugal ,

    depois do Chipre, o pas da Unio Europeia com maior exposio solar. [Fonte: PVGIS - Geographical

    Assessment of Solar Energy Resource European Communities, 1995-2006]

    Tempo de retorno energtico

    Um outro aspecto que ciclicamente regressa ao debate da energia solar fotovoltaica o chamado tempo

    de retorno energtico, ou seja, a afirmao de que a energia que se gasta para produzir um painel solar

    mais do que a energia que ele vai produzir ao longo da vida. Se assim fosse, os painis solares elctricos

    seriam na verdade consumidores de energia, e consequentemente emissores de gases de efeito de estufa

    que dizem tentar combater.

  • Esta afirmao no tem qualquer fundamento. O tempo de retorno energtico10 para os painis solares

    elctricos tpicos em condies standard de iluminao da ordem de 2 ou 3 anos o que significa que,

    atendendo a que o tempo mdio de vida de um painel solar de pelo menos 30 anos, o painel ir produzir

    ao longo da sua vida cerca de dez vezes mais energia do que aquela que foi gasta no seu fabrico.

    Naturalmente que isto significa que um sistema fotovoltaico mal instalado, por exemplo numa fachada

    vertical que no esteja convenientemente exposta radiao solar, vai levar mais anos a recuperar o

    investimento energtico (e monetrio!) que foi feito para o seu fabrico e instalao.

    Figura 5: Fachada sul do Edifcio Solar XXI no INETI, em Lisboa. Inclui sistema fotovoltaico com 76

    painis de silcio multicristalino (rea total de 96m2) que ir produzir, em mdia, cerca de 12MWh de

    electricidade por ano. O edifcio foi inaugurado em Janeiro de 2006. [Fonte: INETI]

    Concluso

    Meio sculo depois da primeira clula fotovoltaica moderna, a produo de energia elctrica por

    converso da radiao solar hoje uma promissora tecnologia, limpa e renovvel, para a produo de

    electricidade. Portugal, em particular, oferece condies exemplares para a utilizao da tecnologia

    fotovoltaica para reduzir a sua factura energtica e as suas emisses de gases de efeito de estufa

    associadas produo de electricidade utilizando combustveis fsseis.

    A utilizao de electricidade solar em mais larga escala est ainda limitada por factores tecnolgicos mas

    sobretudo pelo elevado custo por unidade de energia produzida. Num artigo futuro propomo-nos abordar

    os meios para ultrapassar estes obstculos.

    10 Para uma anlise rigorosa ver Erik Alsema, Energy payback time and CO2 emissions of PV systems, Prog. Photovolt. Res. Appl 8 (2000) 17-25 ou Vasilis Fthenakis, Photovoltaics Energy PaybackTimes, Greenhouse Gas Emissions and External Costs:2004early 2005 Status, Prog. Photovolt: Res. Appl. 2006; 14:275280

  • Como se fazem clulas solares

    O silcio que se utiliza para fabricar clulas solares provm do dixido de silcio que o principal

    composto da areia. O material derretido em grandes fornos e, depois de purificado com fluxo de

    oxignio, solidifica em grandes lingotes. O grau de pureza da ordem de 98 ou 99%. Cerca de um milho

    de toneladas deste material (chamado Silcio Metalrgico) so produzidas anualmente, sobretudo para as

    industrias dos ferros e dos alumnios.

    Um pequena parte deste material (alguns milhares de toneladas) passa por um segundo processo de

    purificao, por destilao, de modo a produzir silcio ultrapuro para a industria electrnica (chamado

    Silcio Semicondutor). O grau de pureza da ordem de 99.9999%.

    A industria electrnica, assim como a industria das clulas solares, precisa no s de silcio muito puro

    mas tambm que este se encontre em forma cristalina, com muito poucos defeitos. Segue-se portanto um

    processo de cristalizao. Existem diversas tecnologias, distintas e concorrentes, que produzem

    monocristais (um lingote com um s cristal), multicristais (um lingote com vrios cristais, numa

    amlgama de cristais com orientaes diferentes) ou fitas de silcio multicristalino (finas folhas de

    silcio j com a espessura necessria).

    Em seguida, procede-se ao corte dos lingotes em pequenas fatias, ou bolachas (wafers) com algumas

    dcimas de milmetro de espessura, onde se vai produzir a clula solar.

    O processo de fabrico das clulas em si consiste essencialmente em dois passos. Primeiro faz-se a

    deposio dos dopantes para criar a juno pn (o campo elctrico intrnseco clula, que vai recolher as

    cargas produzidas pela radiao no silcio) e depois procede-se deposio dos contactos elctricos na

    superfcie da clula, para enviar essas cargas para o sistema que se pretende alimentar (ou eventualmente

    um acumulador).

    As clulas so depois montadas em srie num mdulo e encapsuladas, para proteco mecnica e

    isolamento elctrico.