Artigo Libre

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Controle e Planejamento, ferramentas que minimizam os retrabalhos nas empresas de construção civil Frederico Augusto Rocha Tassara de Pádua Após um período de longa estagnação, anos 90, o setor da construção civil no Brasil após a virada do século voltou a ser o setor de maior participação no PIB Nacional. Com isso a concorrência no setor foi ficando cada vez mais acirrada. O percentual de lucratividade antigamente arbitrário pelas empresas do setor passou a ser resultado do valor pratico pelo mercado com o custo de produção do empreendimento. Percebe-se então uma busca exarcebada pela melhoria dos processos construtivos, certificações nem normatizações. Porém quando analisamos alguns dados relativos ao retrabalho neste setor, percebe-se que para alcançar melhoras mais significativas, grande parte das empresas ainda precisam de um melhor planejamento nos seus projetos e um maior controle da produção. Este trabalho pretende então enaltecer a importância do planejamento e controle para os projetos de construção civil, utilizando como parâmetro os índices de retrabalho observados em algumas empresas do setor na região metropolitana de Belo Horizonte. Palavras Chaves: Retrabalho, Planejamento e Controle. 1. Introdução A globalização e a desaceleração da economia exigiram que as empresas da construção civil buscassem mudanças estruturais no setor, a fim de ganharem novos mercados, ou, não perderem a posição atual que ocupam. (MALDANER, 2003). Com o passar dos anos o mercado sofreu mudanças econômicas de âmbito mundial como a globalização. Outra mudança de cenário ocorrida foi com relação à exigência dos clientes, que com o advento do Código de Defesa do Consumidor (CDC), ganharam respaldo legal para requerer seus direitos. Essas transformações impulsionaram o mercado para um nível de adequação em que se tornou necessário buscar novos métodos construtivos, novos enfoques gerenciais, dentre outras soluções para que as construtoras se mantivessem competitivas. A elevação das exigências feitas pelos clientes, aliadas à necessidade de padronização de alguns processos, levou várias empresas do setor da construção a buscarem a certificação em programas de melhoria de qualidade como as normas ISO (International Organization for Standardization). (PICCHI, 1993). Com a necessidade de se adequar às exigências do mercado, grande parte das construtoras nacionais, que não investiram na busca de inovações, na melhoria dos processos executivos, passaram a enfrentar um novo problema: a diminuição da margem de lucratividade. Isso porque devido ao aumento da competitividade no setor que o lucro anteriormente arbitrado pelas empresas passou a ser resultante da diferença entre o preço praticado pelo mercado e os custos de produção. (SOUZA et al, 1995). A diminuição da margem de lucratividade além de ser conseqüência da concorrência existente é também devido à grande perda no setor com desperdícios e retrabalhos durante o processo construtivo. (PADUA, 2008). Os retrabalhos são processos que precisam ser refeitos para a correção de falhas executivas, chamadas também de não-conformidades. As origens dessas falhas vão desde erros de projetos até a má execução dos serviços, aumentando, ao final, o custo de produção do empreendimento. (BERNARDES et al, 1998; SOUZA et al, 1995; ROBLES JR, 1995 apud MALDANER, 2003). Observa-se hoje uma tendência muito forte entre as empresas do setor da construção civil, a busca de algumas empresas por novas tecnologias construtivas de forma a enxugar processos executivos, diminuir o tempo de execução de determinadas tarefas. Porém para alcançarmos patamares mais elevados precisamos aprimorar em muito dois conceitos fundamentais na Gestão de Projetos: Planejamento e Controle. No Brasil, a idéia de planejamento das edificações ainda engatinha enquanto é ferramenta fundamental nos outros países mais desenvolvidos. No Japão, cerca de 67% do tempo é gasto com planejamento e 33% com execução. Nos EUA esses percentuais passam respectivamente para 40% e 60% [...] melhor planejamento, melhor aproveitamento do tempo. (JUAN, 1993 apud THOMAZ, 2001). O resultado disso é uma edificação inteligente, quase livre de patologias e não-conformidades. Muito diferente do que podemos constatar por aqui. Enquanto os japoneses utilizam cerca de 1 ano para planejar e apenas 6 meses para executar a obra propriamente dita, nós brasileiros, “planejamos em 1 mês, construímos em 1 ano e consertamos por tempo indeterminado”. (BONILHA, 1980 apud THOMAZ, 2001). 2. Estudo de Caso O estudo de caso foi realizado com três construtoras

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  • Controle e Planejamento, ferramentas que minimizam os retrabalhos nas empresas deconstruo civilFrederico Augusto Rocha Tassara de Pdua

    Aps um perodo de longa estagnao, anos 90, o setor da construo civil no Brasil aps a viradado sculo voltou a ser o setor de maior participao no PIB Nacional. Com isso a concorrncia nosetor foi ficando cada vez mais acirrada. O percentual de lucratividade antigamente arbitrrio pelasempresas do setor passou a ser resultado do valor pratico pelo mercado com o custo de produodo empreendimento. Percebe-se ento uma busca exarcebada pela melhoria dos processosconstrutivos, certificaes nem normatizaes. Porm quando analisamos alguns dados relativosao retrabalho neste setor, percebe-se que para alcanar melhoras mais significativas, grande partedas empresas ainda precisam de um melhor planejamento nos seus projetos e um maior controleda produo. Este trabalho pretende ento enaltecer a importncia do planejamento e controle paraos projetos de construo civil, utilizando como parmetro os ndices de retrabalho observados emalgumas empresas do setor na regio metropolitana de Belo Horizonte. Palavras Chaves:Retrabalho, Planejamento e Controle. 1. Introduo A globalizao e a desacelerao daeconomia exigiram que as empresas da construo civil buscassem mudanas estruturais no setor,a fim de ganharem novos mercados, ou, no perderem a posio atual que ocupam. (MALDANER,2003). Com o passar dos anos o mercado sofreu mudanas econmicas de mbito mundial como aglobalizao. Outra mudana de cenrio ocorrida foi com relao exigncia dos clientes, que como advento do Cdigo de Defesa do Consumidor (CDC), ganharam respaldo legal para requererseus direitos. Essas transformaes impulsionaram o mercado para um nvel de adequao em quese tornou necessrio buscar novos mtodos construtivos, novos enfoques gerenciais, dentre outrassolues para que as construtoras se mantivessem competitivas. A elevao das exigncias feitaspelos clientes, aliadas necessidade de padronizao de alguns processos, levou vrias empresasdo setor da construo a buscarem a certificao em programas de melhoria de qualidade como asnormas ISO (International Organization for Standardization). (PICCHI, 1993). Com a necessidadede se adequar s exigncias do mercado, grande parte das construtoras nacionais, que noinvestiram na busca de inovaes, na melhoria dos processos executivos, passaram a enfrentar umnovo problema: a diminuio da margem de lucratividade. Isso porque devido ao aumento dacompetitividade no setor que o lucro anteriormente arbitrado pelas empresas passou a serresultante da diferena entre o preo praticado pelo mercado e os custos de produo. (SOUZA etal, 1995). A diminuio da margem de lucratividade alm de ser conseqncia da concorrnciaexistente tambm devido grande perda no setor com desperdcios e retrabalhos durante oprocesso construtivo. (PADUA, 2008). Os retrabalhos so processos que precisam ser refeitos paraa correo de falhas executivas, chamadas tambm de no-conformidades. As origens dessasfalhas vo desde erros de projetos at a m execuo dos servios, aumentando, ao final, o custode produo do empreendimento. (BERNARDES et al, 1998; SOUZA et al, 1995; ROBLES JR,1995 apud MALDANER, 2003). Observa-se hoje uma tendncia muito forte entre as empresas dosetor da construo civil, a busca de algumas empresas por novas tecnologias construtivas deforma a enxugar processos executivos, diminuir o tempo de execuo de determinadas tarefas.Porm para alcanarmos patamares mais elevados precisamos aprimorar em muito dois conceitosfundamentais na Gesto de Projetos: Planejamento e Controle. No Brasil, a idia de planejamentodas edificaes ainda engatinha enquanto ferramenta fundamental nos outros pases maisdesenvolvidos. No Japo, cerca de 67% do tempo gasto com planejamento e 33% comexecuo. Nos EUA esses percentuais passam respectivamente para 40% e 60% [...] melhorplanejamento, melhor aproveitamento do tempo. (JUAN, 1993 apud THOMAZ, 2001). O resultadodisso uma edificao inteligente, quase livre de patologias e no-conformidades. Muito diferentedo que podemos constatar por aqui. Enquanto os japoneses utilizam cerca de 1 ano para planejar eapenas 6 meses para executar a obra propriamente dita, ns brasileiros, planejamos em 1ms, construmos em 1 ano e consertamos por tempo indeterminado. (BONILHA, 1980apud THOMAZ, 2001). 2. Estudo de Caso O estudo de caso foi realizado com trs construtoras

  • pertencentes ao padro A de execuo, Alto Luxo, da regio metropolitana de Belo Horizonte, quehaviam participado anteriormente de outro estudo de caso que visou identificar a mdia de gastocom retrabalho entre as empresas em determinados empreendimentos. O objetivo deste estudo decaso foi apurar junto as empresas a ligao entre retrabalho e falhas no planejamento e controle deproduo ao longo do processo construtivo. O contato inicial com as empresas foi realizado viacorrespondncia eletrnica endereado aos gerentes de obras visando agendamento de horriopara coleta de informaes. O contato seguinte ocorreu no escritrio da qualidade de cadaempresa participante onde foi debatido o tema retrabalho x planejamento, juntamente com oresponsvel pelo setor da qualidade e planejamento. 2.1. O Planejamento e Controle As trsconstrutoras por serem certificadas no sistema de qualidade ISO 9000 possuem procedimentos dasetapas de planejamento para a implantao dos seus empreendimentos. Porm esse planejamentose restringe execuo de um cronograma fsico e a planilhas de custos do empreendimento. Asprticas descritas no PMBOK para a execuo de um planejamento completo de um projeto noso realizadas pelas empresas. Desta forma algumas importantes etapas de acompanhamento noso executados, como o planejamento das aquisies, dos riscos envolvidos, custos, escopo,dentre outros. Iniciado um determinado empreendimento as construtoras analisadas, possuemcomo prtica, revalidarem seus cronogramas fsicos e o oramento executivo. Porm, pelasanlises dos oramentos executivos e planilhas de medies de empreendimentos j finalizados, astrs construtoras apresentaram uma no-conformidade de controle do processo. Quando hnecessidade de ocorrncia de retrabalhos, os custos envolvidos no so mensurados. Porconseguinte, ao trmino da obra algumas vezes ocorrem diferenas de valores entre orado xexecutado. Como no h um controle peridico, nem arquivo destes gastos, essa diferena namaior parte das vezes fica sem um documento que prove as causas da discrepncia observada. Aps o trmino das obras, as construtoras iniciam o processo de atendimento aos clientes, queconsiste na execuo de reparos construtivos nos apartamentos habitados. As trs construtorasanalisadas possuem um setor de atendimento ao cliente que realiza desde o agendamento execuo dos servios com os proprietrios. As fichas de agendamento so armazenadas numbanco de dados, porm os laudos das vistorias e dos servios executados so somentearquivados, no passando por uma anlise mais apurada nem pelo setor de atendimento ao clientenem pelo setor de qualidade. Salvo quando a reincidncia de certa patologia num mesmoempreendimento mais elevada. Quando isto ocorre, o setor da qualidade ou de atendimento aosclientes responsvel por realizar um procedimento de ao corretiva. 3. Concluso Um fatointeressante que foi observado durante o estudo foi que analisando os histricos de retrabalhos dasempresas, notou-se certa repetio de determinadas patologias em outros empreendimentos daprpria construtora. Esta constatao indica a falta de controle do processo. Caso as prticasdescritas no PMBOK fossem seguidas, teramos uma retroalimentao do setor de atendimento aocliente ao setor de qualidade. Procedimento esse discriminado no plano de gerenciamento daqualidade. Outro ponto positivo que seria observado era com relao comunicao entre ossetores que tornar-se-ia mais efetiva e eficaz, capaz de gerar um documento ou relatrio paraarquivamento de itens relevantes. O seguimento das prticas indicadas no PMBOK ajudaria asempresas a cercarem mais os riscos envolvidos no processo construtivo, vez que planos derespostas seriam elaborados. Os retrabalhos poderiam ser melhores analisados e tratados numplano de gerenciamento efetivo de riscos, qualidade, prazo, custo. O planejamento e controle sopeas importantssimas e primordiais nos dias atuais para que as empresas de construo civil novenham a perder mercado e competitividade por conta de um gasto excessivo e desnecessrio noprocesso construtivo. Vez que nem sempre a simples utilizao de novas tcnicas construtivas socapazes de reduzir os custos de produo. Da mesma forma que planos de qualidade como a srieISO no consegue por si s oferecer empresa certificada processos regrados e custos fixos. 4.Referncias bibliogrficas BERNARDES, Cludio et al. Qualidade e o custo das no-conformidadesem obras de construo civil . So Paulo: Pini, 1998; [S.l.]: SECOVI-SP. MALDANER, Sandro Marcelo. Procedimento para identificao de custos da no-qualidadena construo civil. 2003. 133p. Dissertao (Mestrado em Engenharia de Produo) -Programa de Ps-graduao em Engenharia de Produo, UFSC, Florianpolis.

  • PDUA, Frederico Augusto Rocha Tassara. Retrabalho na Construo Civil - Estudo de Caso paraConstrutoras padres A, B e C na regio metropolitana de Belo Horizonte. Monografia (Graduaoem Engenharia de Produo Civil) CEFET/MG, Belo Horizonte, 2008. PICCHI, F.A. Sistemas de qualidade: uso em empresas de construo de edifcios. So Paulo,1993. Tese (Doutorado) Escola Politcnica, Universidade de So Paulo. SOUZA, Roberto, et al. Sistema de gesto da qualidade para empresas construtoras. So Paulo:Pini, 1995. SOUZA Roberto. Metodologia para desenvolvimento e implanatao do sistema de gesto daqualidade em empresas construtoras de pequene e mdio porte. So Paulo, 1997. Tese(Doutorado) Escola Politcnica, Universidade de So Paulo. THOMAZ, rcio. Tecnologia, Gerenciamento e Qualidade na Construo. So Paulo: Pini, 2001.