Artigo - Jaca

download Artigo - Jaca

of 9

Transcript of Artigo - Jaca

  • ENGENHARIA DE ALIMENTOS

    DETERMINAO DOS PRINCIPAIS COMPOSTOS ORGNICOS DA POLPA

    DA JACA IN NATURA DARON, Erika Kurpel1

    SANTANA, Gabrielle de Moura2. CAMPOS, Glads S. Damazio De Lara3.

    ROSA, Jssica Dos Santos4. ARRUDA, Luciano C5.

    RESUMO

    Os frutos da jaqueira (Artocarpus heterophyllus Lam.) possuem sabor e aroma

    intensos e bastante peculiares, sendo bastante apreciadas no nordeste brasileiro

    e outras regies tropicais. Sua parte comestvel, caracterizada pela polpa,

    consumida em sua quase totalidade sob forma in natura pelas mais diversas

    camadas da populao e sua alta perecibilidade leva a um ndice elevado de

    perda ps-colheita, acarretando prejuzo para os produtores. Sendo assim, o

    objetivo deste trabalho determinar a quantidade de nutrientes (protenas,

    lipdeos, carboidratos e fibras) presentes no fruto da jaca madura coletada na

    regio do Distrito de Bonsucesso MT, assim como a umidade e cinzas.

    ABSTRACT

    The fruits of jackfruit (Artocarpus heterophyllus Lam) have intense flavor and

    aroma and quite peculiar, being particularly popular in northeastern Brazil and

    other tropical regions. Its edible part, characterized by pulp is consumed almost

    entirely fresh form the most diverse sections of the population and its high

    perishability leads to a high rate of post-harvest losses, causing injury to the

    producers. Therefore, the objective of this study is to determine the amount of

    nutrients (proteins, lipids, carbohydrates and fibers) present in ripe fruit of jackfruit

    collected in the region of the District of Bonsucesso - MT, as well as moisture and

    ash.

  • 1. Introduo

    A espcie Artocarpus integrifolia, (figura 1), tambm conhecida como

    Artocarpus heterophyllus Lam, popularmente conhecida como jaca, originria

    das florestas tropicais da ndia, mas tambm encontrada no sudeste asitico e

    Filipinas. Foi trazida para o leste africano, Brasil e Suriname, tornando-se muito

    popular. uma espcie adaptada ao clima tropical mido e resiste a baixas

    temperaturas. Apesar de necessitar de um habitat ensolarado e mido, no tolera

    estiagem, nem solos encharcados. cultivada sem grandes cuidados, apenas

    mantida em abundante umidade. Geralmente, a rvore adquire grandes

    propores (cerca de 20 metros de altura), possui flores masculina e feminina

    diferenciada e folhas longas, verde escuras, lustrosas e espessas. O fruto de jaca

    o maior fruto nascido em rvores do mundo, chegando a pesar mais de 30 kg

    (TRINDADE, 2005).

    A jaca um fruto comercializado e consumido quase que exclusivamente

    na forma in natura o que leva a um ndice elevado de perda na ps-colheita. Esse

    fato evidencia a necessidade de processos simples e baratos que possam

    oferecer para os produtores aproveitarem melhor o fruto da jaqueira (MELO et. al.,

    2006).

    Quando madura, tem cor amarelada e superfcie spera com pequenas

    salincias. Seu interior formado por vrios gomos, sendo que cada gomo

    contm um grande caroo recoberto por uma polpa cremosa, doce, viscosa e

    muito aromtica. uma fruta rica em fibras, sendo indicada s pessoas com

    problemas intestinais. rica tambm em clcio, fsforo, ferro e vitaminas do

    complexo B, principalmente as vitaminas B2 (Riboflavina) e B5 (Niacina) (SOUZA

    et. al., 2009).

    De acordo com RODRIGUES et. al., 2004 a semente pode ser consumida

    assada ou utilizada na culinria para a elaborao de diversos pratos. Atualmente

    estuda-se a adio da farinha da semente de jaca no preparo de biscoitos, doces

    e pes, como fonte alternativa de carboidratos. Outra forma de consumo

    cozinha a sua polpa como se fosse um vegetal (SOUZA et. al., 2006).

    Um volume expressivo de subprodutos da jaca como cascas e sementes

    esto disponveis como resduos da agroindstria do doce (SILVA et. al., 2007).

    De acordo com os mesmos autores, a jaqueira mesmo sendo uma cultura muito

  • popular e de mltiplos objetivos de uso, o mercado ainda no despertou para a

    rentabilidade que a mesma pode gerar.

    Dessa forma, o presente trabalho tem como objetivo determinar os

    principais compostos orgnicos (protenas, carboidratos, lipdeos e fibras), assim

    como, umidade, cinzas e determinao de minerais da polpa da fruta in natura da

    jaca. Considerando a grande diversidade de produtos obtidos (farinha, geleia,

    doces etc.), esta espcie vegetal apresenta grande potencial para a

    comercializao e gerao de renda no campo.

    Figura 1: Jaqueira e jaca vista em corte transversal

    2. Material e Mtodos

    2.1 Matrias

    O presente trabalho foi desenvolvido no Laboratrio de Engenharia de

    alimentos do IFMT, Campus Cuiab Bela Vista - MT. As jacas foram obtidas

    diretamente do produtor localizado no municpio de Vrzea Grande MT,

    especificamente no distrito de Bonsucesso as margens do rio Cuiab MT, porta

    de entrada para o pantanal mato-grossense, onde o clima favorvel para sua

    produo (tropical mido). De acordo com SEAGRI (2010) uma nica rvore pode

    produzir mais de cem frutos (figura 1), que alcana a maturao entre 180 e 200

    dias. As variedades mais comuns de jaca so a dura (de frutos maiores com os

    gomos mais consistentes), a mole (de frutos menores, gomos mais macios e

    doces) e a jaca-manteiga.

    Foram analisadas jacas maduras, aps a coleta da amostra as jacas foram

    abertas, retirados as frutcolas e separados das sementes (figura 2), um quarto da

    amostra foi utilizado para a determinao da umidade, os demais levado para

    uma estufa de circulao para o processo de desidratao por 24 horas at peso

  • constante, aps esse perodo triturou-se at que se torne p. A partir do p da

    amostra foram feitos as determinaes de cinzas, protenas, carboidratos,

    lipdeos, fibras e minerais. .

    Figura 2: Frutcolas da jaca

    2.2 Mtodos

    Determinao de umidade

    A determinao de umidade foi realizada por mtodo gravimtrico em

    estufa regulada a 105C, at peso constante, conforme as Normas Analticas do

    Instituto Adolfo Lutz (1985). Pesou-se cerca de 3,0 g de amostra em cadinho

    previamente tarado. Colocou-se na estufa a 105C por 24 h. aps este perodo,

    as amostras foram retiradas e colocadas em dessecador e pesadas at peso

    constante. O teor de umidade foi calculado pela equao abaixo.

    Determinao de Cinzas solveis e insolveis

    A determinao de cinzas foi realizada por mtodo gravimtrico em forno

    tipo mufla, at peso constante, conforme as Normas Analticas do Instituto Adolfo

    Lutz (1985). Pesou-se cerca de 3,0 g de amostra em cadinho previamente tarado.

    Colocou-se na mufla a 525C at completa incinerao. Deixou esfriar em

    dessecador e pesou-se. O teor de cinzas totais, insolveis e solveis foi calculado

    pelas frmulas abaixo.

    % Umidade = Massa mida massa seca x 100

    Massa mida

    Massa das cinzas Massa da amostra

    % Cinzas totais = x 100

  • % Cinzas insolveis = Massa das cinzas insolveis x 100 Massa da amostra

    % Cinzas totais = % Cinzas insolveis - % Cinzas solveis

    Determinao de protenas

    O teor de protena total foi determinado pelo mtodo de semi-micro

    Kjeldahl, conforme as Normas Analticas do Instituto Adolfo Lutz (1985).

    Pesou-se cerca de 0,2 grama da amostra seca e transferiu-se para um tubo

    de digesto, onde se adicionou 2 gramas da mistura cataltica e 5 mL de H2SO4

    PA. Em seguida, iniciou-se a digesto em temperatura moderada para evitar a

    formao de espuma at atingir 400C por um perodo de 3 horas. Deixou-se

    esfriar por 10 minutos e adicionou-se 10 mL de gua destilada. Adicionou-se

    amostra 20 mL de NaOH 50% e 10 mL de cido brico 4% (onde foi adicionado

    a soluo indicadora de vermelho de metila a 0,1%). A destilao se deu por

    arraste, mantendo o terminal do condensador mergulhado na soluo receptora

    at que toda a amnia fosse liberada. O volume final do destilado foi de

    aproximadamente 75 mL. O fator de converso nitrognio/ protena foi de 6,25.

    . O teor de protenas foi calculado pelas frmulas abaixo.

    %N = V (cido gasto) X M (cido) X 0,014 X 100

    P amostra

    V = volume de HCl gasto na titulao

    N = normalidade do HCl usado

    1,40 = equivalente miligrama do N (14)

    P = peso da amostra

    %Protena Bruta = % N X fator de converso

    Determinao de lipdeos

    O teor de lipdeos totais foi determinado pelo mtodo de extrato etreo,

    conforme as Normas Analticas do Instituto Adolfo Lutz (1985).

    Pesou-se cerca de 3 g de amostra, transferiu-se para um cartucho

    preparado com papel de filtro. Secou-se a 105C , em estufa, durante 2 horas.

    Secou-se o balo em estufa a 105C por uma hora, esfriou-se em dessecador at

  • a temperatura ambiente e pesou-se. Introduziu-se o cartucho no extrator Soxhlet.

    Adicionando quantidade suficiente de solvente ao balo, conectando-o ao

    extrator. A extrao foi realizada por um perodo de no mnimo 6 (seis) horas.

    Secou-se do balo em estufa a 105C por 30 minutos. Esperou esfriar em

    dessecador at temperatura ambiente para realizar a pesagem.

    O teor de lipdeos foi calculado pelas frmulas abaixo.

    %GORDURA = Peso do balo com lipdio peso do balo X 100 Peso da amostra

    Determinao de carboidratos

    O mtodo utilizado para determinao de carboidratos foi da Portaria

    n.108, 4 de set 1991. Mtodos analticos para controle de alimentos para uso

    animal. O teor de carboidratos foi calculado pelas frmulas abaixo.

    Glicdios redutores em glicose % = fc x 250 x 100

    v x p

    Glicdios totais em glicose % = fc x 250 x 100 x 100 v x 25 x p Onde:

    Fc = fator da soluo de glicose = g de glicose correspondente a 10 ml de cada

    soluo de fehling (a+b)

    V = ml da soluo de amostra gasto na titulao

    P = peso da amostra em g

    Glicdios no redutores em sacarose = (glicdios totais glicdios redutores) x 0,95

    Determinao de fibras

    A determinao de fibras foi realizada pelo mtodo de fibra bruta, conforme

    com o mtodo descrito por SILVA (2002).

    Os cadinhos filtrantes foram colocados em estufa da Marca Fanem 105C

    por 1 hora. Em seguida, transferiu-se para dessecador onde permaneceu por

    mais uma hora. Pesaram-se os cadinhos em Balana Analtica. Posteriormente,

    pesou-se cerca de 0,5 grama das amostras. Procedeu-se digesto cida

    adicionando-se 50 mL do cido sulfrico a 1,25%. O material foi submetido

    autoclave vertical Marca Phoenix por um perodo de 30 minutos temperatura de

  • 111C. Fizeram-se trs lavagens com gua fervente. Para a digesto bsica,

    acrescentou-se 50 mL de NaOH 1,25% e 3 gotas do anti-espumante (lcool iso-

    amlico PA).

    O material foi para a autoclave por mais 30 minutos e novamente, fez-se

    trs lavagens com gua fervente, uma lavagem com 20 mL de acetona PA e a

    ltima lavagem com 20 mL de etanol PA. O material foi para estufa 105C em

    overnight. Posteriormente, as amostras foram incineradas em Mufla da Marca

    Marconi temperatura de 500C por duas horas. Retirou-se da mufla com

    temperatura por volta de 250C, deixando se resfriar em dessecador por 1,5 horas

    e as amostras foram submetidas a uma nova pesagem. A perda de peso foi igual

    quantidade de fibra bruta.

    O teor de fibra foi calculado pela equao abaixo.

    % FIBRA = Peso (papel + fibra) peso papel x 100 Peso da amostra

    3. Resultados e discusses

    Tabela 1: Caracterizao da amostra com seus principais compostos orgnicos.

    As Tabelas de composio de alimentos dos autores FRANCO (1999) e

    PINHEIRO et.al. (1996) trazem informaes a respeito da composio centesimal

    e de vitaminas e minerais para polpa de jaca.

    Nestas Tabelas, os valores de carboidratos, protenas e lipdeos em 100

    gramas de polpa de jaca so, respectivamente, 10,00; 2,20; 0,30, para FRANCO

    (1999) e 13,5; 2,67; 0,42, para PINHEIRO et. al (1996).

    Segundo RAHMAN et al. (1999), os principais carboidratos presentes na

    polpa da jaca so os acares livres (frutose, sacarose, glicose) e o amido, o que

    Anlise Resultados

    Umidade (%) 69,89

    Cinzas (%) 3

    Protenas (%) 10,14

    Lipdeos (%) 4,86

    Carboidratos (%) 96,15

    Fibras (%) 0,079

  • explica o baixo contedo de parede celular desta poro da infrutescncia e o

    sabor doce caracterstico.

    SILVEIRA (2000) investigou passas de jaca da variedade mole,

    desidratadas em diferentes temperaturas (40 e 50 C). Os resultados obtidos

    foram semelhantes aos do presente estudo, sendo apresentados, em mdia,

    79,2% de matria seca, 3,5% de cinzas, 5,5% de protenas, 0,40% de lipdeos,

    1,9% de fibras e 88,7% de carboidratos. Ao comparar com os valores

    apresentados na tabela 1, percebe-se que os dados encontrados para a jaca

    nesse experimento distanciam-se um pouco daqueles citados acima, no que diz

    respeito a carboidratos e protenas. Existem alguns fatores a ser levada em

    considerao para melhor compreender esta diferena, como a metodologia

    utilizada, a variedade da jaca se mole ou dura, o grau de maturao da fruta.

    Segundo CHITARRA (2001), essa variao pode ser atribuda a diferentes

    fatores, como: condies de cultivo, idade da planta, regio, solo, clima e estdio

    de amadurecimento, entre outros. Quanto ao estdio de amadurecimento, trata-se

    de um fruto climatrio que apresenta alta taxa de respirao e, assim, mesmo

    aps a colheita, ocorrem mudanas bioqumicas muito rpidas.

    4. Consideraes finais

    A anlise de alimentos uma rea muito importante, visto que atua em

    vrios segmentos do controle de qualidade, da fabricao e estocagem do

    alimento processado. Alm disso, so muito teis na caracterizao de alimentos

    in natura, principalmente alimentos novos e ainda desconhecidos, como as

    frutas tpicas do cerrado mato-grossense.

    de grande importncia analisar e determinar a quantidade de nutrientes

    presentes no fruto da jaca, pois uma fruta de fcil cultivo, no necessita de

    muitos cuidados para o cultivo, dessa forma, facilita no estudo e na produo de

    geleias, doces, iogurte, usando a sua semente pode-se obter a farinha usada para

    a confeco de biscoitos, pes, lobo etc. A farinha da semente de jaca pode ser

    utilizada como uma fonte alternativa de protenas alimentares no desenvolvimento

    de novos produtos e como substituto em produtos j disponveis no mercado.

  • Existe essa diversidade de produtos utilizando a jaca, porm, na regio

    mato-grossense ainda pouco utilizado para esses fins.

    5. Referncias

    BRASIL, Portaria n.108, 4 de set 1991. Mtodos analticos para controle de alimentos para uso animal. Normas gerais de Amostragem. INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Normas analticas do Instituto Adolfo Lutz: mtodos qumicos e fsicos de anlises de alimentos. 3 ed. So Paulo-SP: Guanabara Dois, 1985. MELO, G. L.; VIEIRA, G.; ARAJO, A.; SOUZA. I. V de.; LACERDA, T. Caracterizao das propriedades fsicas e fsico-qumicas da jaca in natura e desidratada. In: XII SEMINRIO DE INICIAO CIENTFICA DA UESC CINCIAS AGRRIAS, 2006, Anais. Santa Cruz: UESC, 2006. p. 114 115. Disponvel em: www.seminarioicuesc.com.br/sistema/resumos/12_pag114.pdf Acesso em: 15 de abril de 2009. RODRIGUES, R.M.; OLIVEIRA,R.B.;REGES,C.M. - Determinao do Teor Protico da Polpa e Caroo de Jaca (Artocarpus integriflia) in natura e desidratado. 2004. SOUZA, A. L. C.; RIBEIRO, V. F.; GUIMARES, F. P. C. N.; BENEVIDES, C. Produo de po caseiro com substituio parcial da farinha de trigo por caroo de jaca (Artocarpus integriflia L). Higiene Alimentar, So Paulo, v. 21, n. 150, p. 520 521, abril, 2006. SILVA, D.J; QUEIROZ, A.C. Anlise de Alimentos: mtodos qumicos e biolgicos. 3 ed.Viosa-MG: UFV, 2002. SEAGRI. Secretaria de Agricultura do Estado da Bahia. . Acessado em 05/02/2010. SEAGRI. Secretaria de Agricultura, Irrigao e Reforma Agrria. Cultura de

    Jaca. Disponvel em: . Acessado: 07 de fevereiro de 2010. TRINDADE, M. B. Purificao, caracterizao e estudos estruturais de duas lectinas ligantes de quitina das sementes do gnero Artocarpus. Tese de doutorado, UNICAMP, Campinas, SP, Brasil, 2005.