Artigo - Integração e Reativação Da Memória

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    Integrao de informao e reativao da memria: impacto positivo

    de uma interveno cognitivo-motora em bebs

    Information integration and memory reactivation: the positive effects of a cognitive-motor intervention

    in babies

    Carla Skilhan de Almeida1, Nadia Cristina Valentini2

    Instituio: Departamento de Educao Fsica. Grupo de pesquisa emInterveno Motora do Programa de Ps-Graduao em Cincias do Mo-vimento Humano da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS),Porto Alegre, RS, Brasil1Mestre em Cincia do Movimento Humano; professora da Pontifcia Uni-

    versidade Catlica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e da Universidade do

    Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), Porto Alegre, RS, Brasil2PhD em Motor Behavior na Auburn University,Estados Unidos; professor

    adjunto do Departamento de Educao Fsica da UFRGS, Porto Alegre,

    RS, Brasil

    Endereo para correspondncia:

    Nadia Cristina Valentini

    Rua Felizardo, 750 Jardim Botnico

    CEP 90690-200 Porto Alegre/RS

    E-mail: [email protected]

    Fonte de financiamento:Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e

    Tecnolgico (CNPq); Edital Universal, processo 472378; Bolsa pelo Programa

    Institucional de Bolsas de Iniciao Cientfica(Pibic) do CNPq da UFRGS,

    projeto 6591; Bolsa Produtividade em Pesquisa, processo 307885.

    Conflito de interesse: nada a declarar

    Recebido em: 28/1/2009

    Aprovado em: 31/8/2009

    RESUMO

    Objetivo: Investigar os efeitos de uma intervenocognitivo-motora na integrao de informao e reativaoda memria de bebs.

    Mtodos: Participaram do estudo 40 bebs de seis aoito meses de idade, nascidos a termo e matriculados emcreches, permanecendo nelas sete horas por dia com relao

    educador/beb de 1/6, provenientes de famlias numerosase de baixa renda que no participavam de programas inter-ventivos. Uma interveno cognitivo-motora foi propiciadaao Grupo Interventivo com atividades de perseguio vi-sual, manipulao de brinquedo e controle postural. Para oGrupo Controle, nenhuma interveno foi propiciada. Asatividades da rotina da creche foram mantidas para os doisgrupos. Trs atividades de manipulao foram avaliadas noincio do programa, um ms depois (reteno) e trs diasaps a reteno. Para a anlise dos dados, foram utilizados oteste do qui-quadrado com correo de Yates, o teste exato

    de Fisher e o de Cochran.Resultados: O Grupo Interventivo demonstrou desem-

    penho significativamente superior ao Grupo Controle emevocar informaes da memria na reteno e ps-retenoem duas atividades. Mudanas significativas e positivastambm foram observadas para o Grupo Interventivo nofator tempo. Os bebs mais velhos do Grupo Interventivodemonstraram melhor capacidade de evocar informao emrelao aos mais jovens. Essa tendncia no foi observadapara o Grupo Controle.

    Concluses: Para potencializar o desenvolvimentoglobal de bebs, as intervenes deveriam ser organizadasimplementando tarefas diversificadas com intervalos deaprendizagem apropriados, os quais levem em considerao acapacidade dos bebs de manterem a informao e integraremessa informao a novos desafios.

    Palavras-chave: fisioterapia; desenvolvimento infantil;

    memria.

    ABSTRACT

    Objective:To investigate the effects of a cognitive-motorintervention in the information integration and memoryreactivation of babies.

    Methods: The participants were 40 babies, aged betweensix to eight months, born full term, adapted to day care centersand staying there for seven hours per day. In the day carecenter, the ratio caregiver/baby was 1/6. The patients belong

    to low income large families and they did not participate inintervention programs. A cognitive-motor intervention wasprovided to the Intervention Group using visual tracking,toy manipulation and postural control activities. No inter-vention was provided to the Control Group. The day careroutine activities were maintained for both groups. Threemanipulation activities were assessed in the beginning ofthe program, after a month (retention) and three days afterretention. Statistical analysis applied the chi-square withYates correction, Fisher exact test and Cochran test.

    Rev Paul Pediatr 2010;28(1):15-22.

    Artigo Original

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    Results: The Intervention Group showed a significantlysuperior performance when compared to the Control Groupin the retrieval of memory information, both at retention andpost-retention tests. Significant and positive changes werealso observed for the Intervention Group in the time factor.

    The older babies in the Intervention Group showed a bettercapacity to evocate information compared to the youngestones. This trend was not observed for the Control Group.

    Conclusions: In order to nourish a babys global develop-ment, interventions should be organized implementing taskswith diversity and appropriate learning intervals, whichtake into consideration the babies capacity to maintain theinformation and to integrate them to new challenges.

    Key-words: physical therapy; child development;memory.

    Introduo

    Nos primeiros anos de vida, uma maior plasticidade ce-rebral possibilita a otimizao do desenvolvimento social,motor e cognitivo, tornando o indivduo mais sensvel soportunidades de aprendizagem. A criana desenvolve suashabilidades por meio das estruturas do seu corpo, as quaisse auto-organizam em um processo dinmico de cooperaoentre mltiplos subsistemas (muscular, nervoso, glandular,motivacional e perceptivo, entre outros) associadas a objeti-vos que a criana tem no seu dia-a-dia (tarefas especficas),influenciadas pelo meio (casa, escola) em que a criana estinserida(1,2).

    Um ambiente rico em experincias sensoriais (propicia-das por familiares, educadores e terapeutas) vital para odesenvolvimento infantil(3). Entretanto, a exposio do beba experincias que objetivam a mudana de comportamen-to decorrente dessas experincias (aprendizagem)(4) deveconsiderar a habilidade deste em recordar ou reconhecerexperincias anteriores (memria)(5,6), integrar informaes

    na memria(6,7)

    e reativar a memria, processo que ocorrequando o encfalo recria, em instantes, memrias que le-varam horas para serem formadas. Portanto, as experinciasindividuais podem maximizar o aprendizado e a sua reteno.Quando ocorre a exposio do beb a uma nova experincia,na prtica interventiva ou no convvio familiar, o profissionale os cuidadores devem estar cientes de que o perodo para aaprendizagem pode ser limitado(4,7).

    Um novo paradigma para a memria dos bebs tem sidoproposto. Os autores chamam esta proposta de Janelas do

    Tempo(4,7). Ao deparar-se com uma determinada situao,o beb integra esta informao na memria, o que se chamade abertura da janela(7-9). Essa janela se fecha caso ex-perincias semelhantes no sejam vivenciadas. Entretanto,se o evento inicial ou semelhante for propiciado ao beb de

    tempos em tempos, ocorre a reativao da memria do beb,retardando o fechamento da Janela do Tempo (4,7). Sempreque experincias so integradas na memria, elas predispemo indivduo ao aprendizado. Se uma tarefa semelhante inicial for realizada prximo ao fechamento da janela, esteevento serve como uma dica e auxilia o beb a recuperara memria para aquela tarefa; a informao se mantm namemria por mais tempo e novos acontecimentos se integramcom as informaes iniciais(4,9). A abertura da Janela, asvivncia posteriores e a consequente integrao de informa-es so fundamentais para o desenvolvimento cognitivo do

    indivduo(4). Entender esse processo fator determinante naefetividade de uma interveno cognitivo-motora. Programasinterventivos so necessrios, principalmente para crianasque possuem poucas oportunidades de vivenciar um contextovariado e desafiador de suas potencialidades(8,10-13).

    Assim, este estudo teve como objetivos investigar osefeitos de uma interveno cognitivo-motora na integraode informao e reativao da memria de bebs no terceirotrimestre de vida e a integrao de informao e reativaoda memria nas diferentes idades (seis a nove meses). As se-guintes hipteses foram estabelecidas: bebs do Grupo Inter-ventivo (GI) demonstrariam desempenho significativamentesuperior no teste de reteno (dica), quando comparadoscom os bebs do Grupo Controle (GC); bebs do GI e do GCque no reconhecessem as tarefas na reteno demonstrariamcapacidade de integrar informaes e reativar a memria naps-reteno; e os bebs mais velhos (de oito a nove meses)do GI e do GC demonstrariam capacidade de integraode informao e reativao da memria significativamentesuperior aos bebs mais novos (seis a sete meses).

    Mtodos

    Estudo quase-experimental, no qual o contexto de apren-dizagem interventivo foi ajustado realidade das crechese ameaas validade interna foram controladas. O estudopossui tambm um carter transversal e prospectivo, nesteparticiparam dois grupos de bebs nascidos a termo, alea-toriamente distribudos (caso-controle) em GI (n=20) e GC(n=20), com idades entre seis e oito meses, que frequentavamcreches para populaes de baixa renda. Dez creches sugeridas

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    pela Secretaria da Educao de Porto Alegre, cujas famliasforam avaliadas pelos pesquisadores entre as classes C e D,conforme Critrio da Classificao Econmica do Brasil(14),abrigavam bebs que cumpriam os critrios de incluso. Osseguintes critrios foram considerados para a participao

    dos bebs: estavam adaptados creche por mais de duassemanas(15), permaneciam na creche sete horas por dia, noparticipavam de programa de interveno e possuam relaoeducador/beb de um para seis.

    As caractersticas do contexto dos bebs quanto s condi-es econmicas das famlias, escolaridade dos pais e oportu-nidades de estimulao dirias nas escolas esto demonstradasna Tabela 1. No incio do estudo, o GI apresentou mdia deidade de 6,60,8 meses e o GC, 6,61,2 meses. A amostraera composta por 12 meninas no GI (60%) e 11 no GC(55%). Nenhum beb sofreu alguma intercorrncia de sade

    no decorrer do estudo que levasse ausncia prolongada oua internaes.

    Este estudo foi aprovado pelo Comit de tica e Pesquisada Universidade Federal do Rio Grande do Sul e os princ-pios ticos foram respeitados, baseados na resoluo 196/96do Conselho Nacional de Sade do Ministrio da Sade. Otermo de consentimento livre e esclarecido foi obtido paracada participante.

    O GI participou do programa de interveno cognitivo-motora individualizado, trs vezes por semana (dez sessesde 15 minutos cada), por aproximadamente um ms, baseadoem estudos prvios(4,7,8,10,11). O programa de interveno cog-nitivo-motora tinha atividades de perseguio visual(8,16,17),manipulao de diferente objetos e atividades de controlepostural(8,16). Todos os bebs foram avaliados previamente e

    mostravam desenvolvimento normal, sendo esse semelhanteentre os grupos (p=0,74), conforme a Escala do Desenvolvi-mento do Comportamento da Criana no Primeiro Ano deVida(12). Esta escala permite uma avaliao global da criananormatizada por gnero, com escore total diferenciado para

    meninos e meninas, controlando as possveis influncias degnero. Na perseguio visual, o brinquedo a ser observadoera colocado em frente ao beb a uma distncia de 45cm (8)e movido, pelo examinador, em direes aleatrias por trsminutos(8). Na manipulao eram realizadas tarefas uni ebimanuais (pina, encaixe, puxar, empurrar, tatear e balan-ar)(8,16,18). Nos cinco minutos finais, atividades de controlepostural(19)foram implementadas. Todas as atividades foramrealizadas com a interao do examinador. Para cada sessointerventiva, novas tarefas eram propostas garantindo a di-versificao das atividades e a otimizao de desafios(11).

    O impacto da interveno cognitivo-motora na integraode informao e reativao de memria de bebs foi avaliadopor meio de trs testes de manipulao, baseado em estudoprvio de Fagard e Pze(16), os quais envolvem subsistemasperceptivo e cognitivo expresso por meio de ao motora.Os testes foram filmados para posterior avaliao: a retiradade um brinquedo inserido em uma caixa (Figura 1), a re-tirada da cobertura de um brinquedo escondido (Figura 2)e a retirada de quatro pequenos brinquedos de um tubo depapelo, os quais estavam unidos por um barbante (Figura 3).As trs tarefas de manipulao serviram exclusivamente aosprocedimentos de coleta de dados, no sendo utilizadas aolongo da interveno.

    As tarefas foram apresentadas para os bebs (GI e GC) noincio do programa, na reteno como dica (ao trmino

    Tabela 1 Comparaes entre os Grupos Interveno e Controle no que se refere ao contexto ambiental

    Grupo

    Valor de pInterveno Controle

    n=20 n=20

    Caractersticas econmicas das famlias

    Classe C 10 (50%) 8 (40%) 0,75

    Classe D 10 (50%) 12 (60%)

    Caractersticas das famlias

    Famlia numerosa (mais de dois irmos) 11 (55%) 13 (65%) 0,75

    Escolaridade dos pais

    Primeiro grau completo ou menos 15 (75%) 17 (85%) 0,69

    Segundo grau completo ou mais 5 (25%) 3 (15%)

    Oportunidade de estimulao diria na escola

    Escolas com atividades/brincadeiras (no

    cho, no tatame, diariamente)

    8 (40%) 6 (30%) 0,74

    Escolas sem atividades/brincadeiras

    (permanncia em beros e beb conforto)

    12 (60%) 14 (70%)

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    Figura 1 Retirada de um brinquedo inserido em uma caixa. Figura 2 Retirada da cobertura de um brinquedo escondido.

    Figura 3 Retirada de quatro pequenos brinquedos de um tubo

    de papelo unidos por um barbante.

    do programa) e trs dias aps a reteno (ps-reteno). Oteste de reteno foi o critrio que indicou se o beb lem-brou ou no das tarefas do teste inicial. Na primeira ava-liao (antes de iniciar o programa interventivo), as tarefasforam propiciadas ao bebe at que o mesmo as realizassecom sucesso(4,7). Dados dicotmicos, sim e no, foram

    utilizados. Caso o beb no executasse a tarefa no primeirocontato (avaliao inicial), vrias oportunidades de repetir

    a tarefa at a execuo com sucesso desta eram propiciadasao beb, embora ele recebesse o no por no conseguirrealiz-la inicialmente. Aps a execuo com sucesso, osbebs permaneciam por trs minutos realizando a tarefaativamente, sem auxlio, para a mesma ser aprendida (7).As tarefas foram repetidas de forma ativa na reteno eps-reteno, porm em nenhum momento do programainterventivo. Na atividade da retirada de um brinquedoinserido em uma caixa, o sucesso era caracterizado sempreque o beb abria a caixa e retirava dela um objeto; o no-sucesso era caracterizado por ignorar o objeto e (ou somente)

    manipular a caixa sem evidenciar iniciativa de abri-la. Naatividade de retirar a cobertura de um brinquedo escondido,o sucesso se caracterizava pela procura do brinquedo sob acobertura; o no-sucesso se caracterizava por no descobriro brinquedo. Na atividade de retirar quatro pequenos brin-quedos de um tubo de papelo unidos por um barbante, osucesso era obtido com a retirada dos quatro brinquedosdo tubo de uma s vez; e o no-sucesso, pela no-retiradado brinquedo ou pela retirada de um a um, como se fossea primeira vez que ele aparecia para o beb.

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    Dois examinadores (o pesquisador e um examinador cegoe treinado que no participou do trabalho de interveno)avaliaram o desempenho dos bebs nas tarefas manipulativas,utilizando as filmagens feitas em VHS. O ndice de objetivi-dade entre avaliadores foi analisado por meio do testeKappa.

    No momento inicial da interveno, reteno e ps-reteno,nas trs tarefas houve um ndice de concordncia de 100%entre o pesquisador e o avaliador cego. A nica exceo foina tarefa de retirar o brinquedo da caixa, na reteno, comcoeficienteKappade 0,75.

    Os materiais utilizados foram: uma filmadora Sony 12X/Handycam, tatames, brinquedos coloridos com tamanhos e fi-nalidades diferentes, caixa plstica com tampa (10,4x2,3cm),tubo de papelo enrijecido (45cm de comprimento e 5cmde circunferncia), pano para cobrir o brinquedo e fichas deavaliao.

    Para os dados referentes aprendizagem e reativao damemria do beb, o teste do qui-quadrado com correo deYates e/ou o teste exato de Fisher foram utilizados nas com-paraes dos grupos e entre os gneros. O teste de Cochranfoi utilizado para comparao intragrupos (inicial, retenoe ps-reteno). Aplicou-se o teste do qui-quadrado deMcNemar para investigar em qual momento os bebs dife-riram em seus desempenhos em diferentes idades, sempreque o teste de Cochran apresentasse diferenas significantes.Considerou-se significantep

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    Tabela 2 Comparaes entre os Grupos Interventivo, Controle e Gnero nas trs atividades manipulativas, frequncia do sucesso

    ou no na atividade e nvel de signicncia

    Grupo Interventivo Grupo Controle

    ComparaesMeninas Meninos Meninas Meninos

    n=12 n=8 n=11 n=9

    Retirar o brinquedo da caixa

    Inicial

    Sim 2 1 1 0 Grupos: 0,60*

    No 10 7 10 9 Gnero: 0,74*

    Reteno

    Sim 4 5 3 3 Grupos: 0,51**

    No 8 3 8 6 Gnero: 0,90*

    Ps-reteno

    Sim 4 5 6 5 Grupos: 1,00**

    No 8 3 5 4 Gnero: 0,80*

    Retirar o pano do brinquedo

    InicialSim 8 3 4 4 Grupos: 0,53*

    No 4 5 7 5 Gnero: 0,60*

    Reteno

    Sim 11 7 4 3 Grupos: 0,01**

    No 1 1 7 6 Gnero: 0,79*

    Ps-reteno

    Sim 11 8 6 5 Grupos: 0,01**

    No 1 0 5 4 Gnero: 0,94*

    Tirar o brinquedo do tubo

    Inicial

    Sim 0 0 0 0 Grupos: NANo 12 8 11 9 Gnero: 0,75*

    Reteno

    Sim 0 0 0 0 Grupos: NA

    No 12 8 11 9 Gnero: 0,83*

    Ps-reteno

    Sim 11 7 2 2 Grupos:

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    a prpria avaliao na reteno como dica para integrarinformaes e utiliz-las em momentos posteriores. Aps umms de experincias, os bebs do GI evocaram informaesdefinitivas j na reteno, no modificando seu desempenhono ps-reteno. A dica no foi efetiva para auxiliar os bebs

    que no lembraram na tarefa em reavivar as lembranas eintegr-las a novas informaes.Dentre as tarefas, observou-se que aquela de retirar a

    cobertura de um brinquedo escondido parecia ser fcil paraos bebs. A literatura sugere que os bebs tornam-se aptosa realizar esta tarefa aos cinco meses e esta ao estabiliza-seentre oito a dez meses(17). De fato, essa foi a tarefa mais lem-brada na reteno por ambos os grupos, embora os bebs doGI demonstrassem desempenho superior. O beb, ao ver opano encobrindo algo, rapidamente retirava-o do brinquedo.Em alguns momentos, apenas uma das mos era utilizada

    e, em outros, as duas mos eram empregadas para realizara atividade. Em estudo prvio, Fagard e Paz(16)relataramcomportamento semelhante, sugerindo que esta tarefa maisfcil de ser aprendida do que a de retirar o brinquedo de umacaixa, pois o beb pode usar estratgias uni e bimanuais. Amudana positiva da avaliao inicial para a reteno na tarefade descobrir o brinquedo s foi observada no GI, indicandoque o programa de interveno pode ter criado condies parao estabelecimento de perodo sensvel aprendizagem maislongo, conduzindo aprendizagem diferenciada no GI(7). Sesomente critrios de maturao fossem determinantes naaprendizagem, os resultados em ambos os grupos seriamsemelhantes. Destaca-se que os bebs que no reconhecerama tarefa na reteno, no obtiveram respostas positivas noperodo ps-reteno, tanto no GI como no GC. O GI, apsum ms de experincias, provavelmente evocou informaesdefinitivas j na reteno, no modificando seu desempenhodepois de trs dias.

    Os resultados sugerem que a tarefa de retirar quatropequenos brinquedos de um tubo de papelo unidos porum barbante foi a mais complexa para os bebs. O sucesso

    para tal atividade, com a retirada de todos os brinquedos deuma s vez, no foi atingido por nenhum beb no primeirodia. Nesse mesmo dia, foi-lhes ensinada a tarefa at que obeb a realizasse sozinho. Quando foi apresentada a tarefapara o beb um ms depois, na reteno, foi como se eles aestivessem realizando pela primeira vez, o que no aconteceucom as outras tarefas. No entanto, aps a dica, ou seja, a

    prtica novamente na reteno com o objetivo de recuperara memria perdida, os bebs conseguiram realizar as tarefasno perodo ps-reteno, seguindo tendncia observada naliteratura(9). A frequncia significativamente maior em be-bs do GI que realizaram a tarefa no perodo ps-reteno

    sugere uma aprendizagem superior facilitada pelo processointerventivo.Em relao idade, os resultados da presente pesquisa se

    assemelham em parte com os de estudos prvios(9)em relao superioridade de bebs mais velhos (oito e nove meses)de lembrarem eventos passados, quando comparados aosmais jovens (seis e sete meses). Todos os bebs mais velhosreconheceram melhor os eventos do que os mais jovens; noentanto, os bebs mais velhos do GI demonstraram capaci-dade aumentada de evocar informao em relao aos maisjovens, comparados ao GC. interessante ainda observar

    que os bebs mais velhos do GI apresentaram sequnciaprogressiva na reativao de informaes, fator no observadonos bebs mais velhos do GC. Uma possvel explicao paraesse fato reside, talvez, no fechamento precoce das Janelasdo Tempo no GC e a permanncia delas abertas no GI, emdecorrncia da efetiva exposio dos bebs a experincias queguiaram o aprendizado(7).

    Portanto, concluindo, este estudo sugere que bebs do GIdemonstraram desempenho superior no teste de reteno,comparados aos seus pares do GC. Bebs do GI mostraramtambm, de maneira geral, capacidade superior de reativar amemria na reteno, quando comparado ao desempenho noprimeiro contato. Bebs do GI e do GC, que no reconhece-ram as tarefas na reteno, no demonstraram capacidade deevocar essa informao depois de trs dias, em consequnciada reativao de memria propiciada pela dica da prpriareteno, com exceo de uma tarefa. Bebs mais velhos (oitoa nove meses) do GI demonstraram capacidade de evocarinformaes, na reteno, significativamente superior do queos mais novos. Acredita-se, assim, que os efeitos de progra-mas interventivos prolongados ampliem os conhecimentos

    bsicos do beb, o que contribuiria para o seu aprendizado(7)

    .Um ambiente rico em experincias desafia as capacidades dobeb, potencializa o desenvolvimento e gera aprendizagem.Sugere-se, para os prximos estudos, verificar como as ca-ractersticas familiares dos bebs e das pessoas que com elesconvivem, bem como as caractersticas do seu meio, podeminfluenciar o processo de aprendizagem.

    21Rev Paul Pediatr 2010;28(1):15-22.

    Carla Skilhan de Almeida et al

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