Artigo Indisciplina Escolar e o Papel Do Gestor

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INDISCIPLINA ESCOLAR E O PAPEL DO GESTOR Clério Cezar Batista Sena 1 Até que ponto a relação professor/aluno é responsável pelo sucesso do ensino/aprendizagem na escola? E a disciplina? E as relações interpessoais? Imaginamos uma situação tão comum na escola hoje, um professor prepara uma aula, mas só consegue trabalhar metade da matéria, pois a outra parte do tempo foi gasta tentando obter a atenção dos alunos. Infelizmente esta situação é mais comum do que se possa imaginar, pois cotidianamente estas ações são repetidas variadas vezes, no mesmo dia e até na mesma aula. Também resolvendo problemas relacionais, organizando coisas, explicando assuntos não vinculados ao tema ou ainda esperando as crianças voltarem do banheiro ou encontrarem os materiais e os recursos para realizar as tarefas propostas. Administrar o cotidiano na sala de aula tornou-se um grande problema para professores e alunos. Indisciplina, dispersão, inconveniência, confusões, dificuldades de todo tipo perturbam a realização das propostas ou das tarefas pedagógicas. O sentimento é de perda de tempo, caos espacial e descuido com objetos escolares, falta de sentido das tarefas e relações entre pessoas marcadas pela indiferença ou pela negatividade. O sentimento é de incompetência, insuficiência e desânimo. (MACEDO, 2002, p. 13). O professor por sua vez tenta deixar a turma animada com a aula através de conteúdos relevantes para a idade deles, contudo a escola não vem conseguindo concorrer de igual para igual com os eletrônicos que estes possuem, a tecnologia 1 MESTRE EM EDUCAÇÃO: Psicologia da Educação, PUC/SP, MBA: Gestão Empreendedora Educação, UFF/SESI (cursando), Especialista em Gestão da Escola – FE/USP, Psicopedagogo Institucional e Clinico, Especialista em Educação Infantil e Pedagogo. Gestor da EE Tenente Ernesto Caetano de Souza e professor/orientador – Censupeg – Brasil. E-mail: [email protected]

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INDISCIPLINA ESCOLAR E O PAPEL DO GESTOR

Clério Cezar Batista Sena1

Até que ponto a relação professor/aluno é responsável pelo sucesso do ensino/aprendizagem na escola? E a disciplina? E as relações interpessoais?

Imaginamos uma situação tão comum na escola hoje, um professor prepara uma aula, mas só consegue trabalhar metade da matéria, pois a outra parte do tempo foi gasta tentando obter a atenção dos alunos.

Infelizmente esta situação é mais comum do que se possa imaginar, pois cotidianamente estas ações são repetidas variadas vezes, no mesmo dia e até na mesma aula. Também resolvendo problemas relacionais, organizando coisas, explicando assuntos não vinculados ao tema ou ainda esperando as crianças voltarem do banheiro ou encontrarem os materiais e os recursos para realizar as tarefas propostas.

Administrar o cotidiano na sala de aula tornou-se um grande problema para professores e alunos. Indisciplina, dispersão, inconveniência, confusões, dificuldades de todo tipo perturbam a realização das propostas ou das tarefas pedagógicas. O sentimento é de perda de tempo, caos espacial e descuido com objetos escolares, falta de sentido das tarefas e relações entre pessoas marcadas pela indiferença ou pela negatividade. O sentimento é de incompetência, insuficiência e desânimo. (MACEDO, 2002, p. 13).

O professor por sua vez tenta deixar a turma animada com a aula através de conteúdos relevantes para a idade deles, contudo a escola não vem conseguindo concorrer de igual para igual com os eletrônicos que estes possuem, a tecnologia deveria ser usada na escola também para que a concorrência seja igual.

Se as crianças convivem com a hostilidade, aprendem a brigar. Se forem tratadas com tolerância, aprendem a ser pacientes. Se as crianças convivem com a bondade e a consideração, aprendem o que é respeito. Se as crianças vivem sendo ridicularizadas, aprendem a ser tímidas. Se as crianças vivem sendo incentivadas, aprendem a ter confiança em si mesma. (DOROTHY, 2006, p. 53).

Como ajudar os alunos a lidarem melhor com as situações de seu cotidiano? Enfim, as relações no cotidiano escolar devem ser harmoniosas e prazerosas. Não é se queixando que a questão da indisciplina será sanada nem tampouco a violência. O descaso, e outros entraves que só prejudicam o bom andamento da escola também devem ser sanados. Conviver bem é uma regra, e não uma exceção, ainda que as convivências não sejam como esperado temos por obrigação conviver bem.

1 MESTRE EM EDUCAÇÃO: Psicologia da Educação, PUC/SP, MBA: Gestão Empreendedora Educação, UFF/SESI (cursando), Especialista em Gestão da Escola – FE/USP, Psicopedagogo Institucional e Clinico, Especialista em Educação Infantil e Pedagogo. Gestor da EE Tenente Ernesto Caetano de Souza e professor/orientador – Censupeg – Brasil. E-mail: [email protected]

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Para Freinet (2000, p. 22) “A interação entre o mestre e o estudante é essencial para a aprendizagem, e o mestre consegue essa sintonia, levando em consideração o conhecimento das crianças, fruto de seu meio.”

Portanto, uma aula bem pensada, bem realizada com certeza chamara a atenção dos alunos, pois é ele mesmo o agente de sua aprendizagem. Esta relação deverá estar pautada na confiança e respeito mútuo, onde a cumplicidade será um elemento a mais para garantir o ensino/aprendizagem.

O professor que é comprometido com ato de ensinar deve planejar estudar e até experimentar suas aulas para de antemão garantir o mínimo de sucesso pelo menos. Pois o cotidiano se torna monótono e a rotina do dia a dia mais ainda, então se tem que inovar e tornar a permanência na escola agradável e atrativa para todos os alunos.

Entretanto o cotidiano em sala continua sendo um grande problema para escola principalmente para professores e alunos onde a indisciplina a dispersão servem como entrave para que a aprendizagem não aconteça.

Infelizmente esta situação nos leva a crer que o sentimento é de incompetência e até de impotência diante ao caos se tornou esta relação cotidiana. Precisamos que nossas aulas sejam significativas para que a relação ensino/ aprendizagem seja efetivamente concretizada.

Ensinar exige respeito aos saberes dos educandos. Por isso mesmo pensar certo para o autor, coloca ao professor ou, mais amplamente, a escola, o dever de não só respeitar os saberes com que os educandos, sobretudo os das classes populares, chegam a ela saberes socialmente construídos na prática comunitária. (FREIRE, 1996, p. 16).

A relação professor aluno é conquistada no ambiente escolar, no dia a dia onde haverá uma relação de amigabilidade sem se esquecer de que apesar de amigos ainda assim o respeito será a válvula propulsora desta relação.

O gestor tem um papel fundamental para manter o bom clima organizacional escolar, e com isso diminuir a indisciplina na escola.

Portanto, ao gestor escolar cabe ser o mediador entre as todas as relações e as participações, direcionando os pares para uma convivência descentralizada a ponto de manter todo o grupo interessado na aprendizagem, na convivência e na participação. A participação é o principal meio de assegurar a gestão democrática da escola, possibilitando o envolvimento de profissionais e usuários no processo de tomada de decisões e no funcionamento da organização escolar. Além disso, proporciona um melhor conhecimento dos objetivos e metas, estrutura e organização e de sua dinâmica, das relações da escola com a comunidade, e favorece uma aproximação. (LIBÂNEO, 2001, p. 102).

Portanto, o cotidiano é mais que conviver dia a dia na escola, é viver o que aprende nela, fora dela e assim realmente à escola e a educação terá cumprido seu dever pautado nos quatro pilares para a educação: aprender a fazer, a conhecer, a conviver e aprender a ser.

A indisciplina nem sempre esta atrelada a revolta dos discentes, a mesma pode estar ligada a forma pela qual o professor se relaciona com seus alunos e o grau de empatia e afinidade entre os mesmos.

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Chagas (2001, p. 37) define a disciplina escolar como sendo: “um conjunto de regras que devem ser obedecidas para o êxito do aprendizado escolar. Ela é uma qualidade de relacionamento humano entre o corpo docente e os alunos em uma sala de aula e, consequentemente, na escola.”

Certamente a indisciplina da classe está diretamente apoiada à prática do professor, a sua forma de conduzir a aula e seus conteúdos, bem como sua postura em relação aos seus alunos.

Ainda para Chagas (2001, p. 21) “devem coexistir na escola, a disciplina e a educação para a liberdade e responsabilidade. A liberdade não é o direito de fazer o que se quer, mas sim, fazer o que se deve.”

O professor deve manter sua postura, não deve se valer de uma autoridade ou arrogância que leve a denegrir a imagem tanto do professor como a do aluno.

Para por em prática o diálogo, o educador não pode colocar-se na posição ingênua de quem se pretende detentor de todo o saber; deve, antes, colocar-se na posição humilde de quem sabe que não sabe tudo, reconhecendo que o analfabeto não é um homem “perdido”, fora da realidade, mas alguém que tem toda a experiência de vida e por isso também é portador de um saber. (GADOTTI, 1992, p. 02).

Na realidade cada profissional deve conhecer seus alunos e ter uma relação de amizade e também de autoridade, porém o diálogo sempre será o mais sensato a se fazer continuadamente.

Portanto, a harmonia, o bom senso, a amizade e a cumplicidade será de longe um bom princípio para a relação professor/aluno e vice versa, tendo em vista o bom relacionamento entre ambos.

Crianças precisam sim aderir a regras que implicam valores e formas de conduta e estas somente podem vir de seus educadores, pais ou professores. Os limites implicados por estas regras não devem ser apenas interpretados no seu sentido negativo: o que não pode ser feito ou ultrapassado. Devem também ser entendidos no seu sentido positivo: o limite situa, dá consciência de posição ocupada dentro de algum espaço social a família, a escola, a sociedade como um todo. (LA TAILLE, 1994, p. 9).

Então quando o professor e o aluno já não conseguem conviver pacifica e harmonicamente a equipe escolar deverá entrar em ação, bem como o gestor, para auxiliar nesta situação que tomará as ações cabíveis e administrativas, pois as relações não poderão ficar estremecidas.

A expressão gestão escolar em substituição à administração escolar, não é apenas uma questão semântica. Ela representa uma mudança radical de postura, um novo enfoque de organização, um novo paradigma de encaminhamento das questões escolares, ancorados nos princípios de participação, de autonomia, de autocontrole e de responsabilidade. (ANDRADE, 2004, p. 17).

Sendo assim, o ensino e a aprendizagem dependem das relações, das empatias, das respeitabilidades e das especificidades de cada um das partes envolvidas para sua realização. Pois, é necessário um ensino e uma aprendizagem significativa, eficaz, a partir dos

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relacionamentos de confiabilidade e cumplicidade entre os pares, enfim com todos que atuam e fazem parte da mesma.

Portanto, sejam crianças, ou seja, jovens o importante é ser respeitoso consigo e com os outros, pois disso depende a convivência pacífica dentro e fora da escola e a disciplina ou a falta dela perpassa este espaço. Neste sentido o gestor escolar é um dos principais responsáveis pelo bom clima escolar, quando este proporciona espaço de diálogos e de convivência entre todos os participantes do processo educativo.

REFRÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDRADE, Rosamaria Calaes de. A gestão da escola. Porto Alegre: Artmed, 2004.

ANTUNES, Celso. Professor bonzinho, aluno difícil: a questão da indisciplina em sala de aula. Rio de Janeiro: Vozes, 2002.

CHAGAS, K.M., Indisciplina na Escola: de quem é a culpa? 2001. Disponível em <http://vir tual.facinter.br/monos/indisciplina_na_escola.pdf>. Acesso em 21 jun. 2012.

DOROTY, Law Nolte. As crianças aprendem o que vivenciam. Rio de Janeiro: Sextante, 2006.

FREINET, C. Pedagogia do bom senso. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 11. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.

GADOTTI, Moacir. Escola cidadã: uma aula sobre a autonomia da escola. São Paulo: Cortez, 1992.

LA TAILLE, Y. Autoridade e Limite. Jornal da Escola da Vida. São Paulo: 1994.

LIBÂNEO, José Carlos. Organização e gestão da Escola: teoria e prática. Goiânia: Alternativa, 2001.

MACEDO, Lino. Desafios à prática reflexiva na escola. Pátio Revista Pedagógica v. 6, nº 23. Porto Alegre: set/out., 2002.