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  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XIX Congresso de Cincias da Comunicao na Regio Sudeste Vila Velha - ES 22 a 24/05/2014

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    1808: O JORNALISTA NO CAMPO DA LITERATURA1

    Hideide Brito Torres2

    Resumo

    Este artigo pretende discutir a figura do jornalista enquanto escritor de textos no-noticiosos, tomando como ponto de partida a anlise da obra 1808, de Laurentino Gomes. Discute-se a relao entre jornalismo e literatura, o jornalismo como narrao do real e seu ethos de lugar de interpretao, em busca das marcas discursivas do jornalismo que se apresentam quando o jornalista percorre outros caminhos da escrita para alm da notcia cotidiana. Com diversos jornalistas ingressando na esfera da biografia e da narrativa histrica, com livros que alcanam grande sucesso editorial e vendas significativas, pergunta-se pelo lugar talvez no to novo da figura do jornalista como sujeito entre-lugares, cada vez mais demarcado no mais como o pretenso objetivo narrador da atualidade, mas tambm intrprete, tradutor e controverso divulgador.

    Palavras-chave

    1. Jornalismo 2. Literatura 3. Histria 4. Escrita

    Introduo

    H uma relao entre jornalismo e literatura percebida, em geral, como inegvel. Seja quando se fala da presena de elementos jornalsticos em romances ou textos de no-fico, ou de elementos literrios no discurso jornalstico (inclusive, a existncia de um gnero chamado jornalismo literrio), seja quando se considera a existncia humana como campo em que tanto a narrativa jornalstica quando a literria se constituem, h uma chamada contaminao que no pode ser negligenciada (cf. NICOLATO, 2006, p. 1). Historicamente, a descentralizao do sujeito, produto da modernidade, e o surgimento de vanguardas vo derrubar os alicerces da arte convencional, e a literatura ser afetada diretamente por esse novo discurso que tambm se aproxima do pragmtico e das novas experimentaes (NICOLATO, 2006, p. 2) caractersticas do jornalismo.

    1 Trabalho apresentado no DT 1 Jornalismo do XIX Congresso de Cincias da Comunicao na Regio Sudeste,

    realizado de 22 a 24 de maio de 2014. 2 Doutoranda no Programa Estudos Literrios da Universidade Federal de Juiz de Fora, na linha Literatura,

    Identidade e outras manifestaes culturais. Bolsista Capes. E-mail: [email protected].

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    Esses fatores faro com que a literatura do sculo 20 possa abarcar tanto as preocupaes mais individualistas e intimistas quanto trazer o carter mais objetivo e a urgncia e o imediatismo da linguagem jornalstica (NICOLATO, 2006, p. 2). De igual modo, o jornalismo se apropria das tcnicas e dos modos discursivos da literatura para produzir, por exemplo, reportagens, perfis e biografias. Ademais, tanto jornalismo quanto literatura apoiam-se no uso das palavras no tempo e no espao, como seu campo comum de significados e apropriaes. Uma concepo do jornalista e de sua prxis, notadamente a partir da dcada de 1970, introduz novos fatores nessa relao:

    A partir dos anos 70 do sculo passado, com a chegada das teorias do newsmaking, passamos a entender a prxis jornalstica (...) como uma construtora social da realidade noo que levou diversos autores a falarem de notcias, reportagens e outros produtos informativos, como narrativas (ARAJO, 2011, p. 7).

    No contexto brasileiro, em particular, a relao entre jornalismo e literatura viveu momentos de distanciamento e aproximao, especialmente nos tempos mais recentes, conforme afirma Bulhes (2007, p. 9). Diversos dos mais reconhecidos autores brasileiros figuram entre os que desempenharam a atividade jornalstica, como Euclides da Cunha, Carlos Drummond de Andrade, Graciliano Ramos e Oswald de Andrade, entre outros. Santaella (apud MARQUES, 2009, p. 13) levanta outro fator a considerar na relao jornalismo-literatura: h um momento histrico em que a cultura vai perdendo a proeminncia das belas letras e das belas artes para ser dominada pelos meios de comunicao. Ela entende esse momento como de convergncia, o que no significa identificar-se, mas tomar rumos que, no obstante as diferenas, se dirijam para a ocupao de territrios comuns, nos quais as diferenas se roam sem perder seus contornos prprios (SANTAELLA apud MARQUES, 2009, p. 13).

    Em seu artigo, Marques segue defendendo a aproximao entre jornalismo e literatura no pela relao de subordinao ou de cronologia, mas a partir das funes de linguagem, conforme as determina Jackobson (MARQUES, 2009, p. 16). Tal metodologia do autor no cabe ao escopo deste artigo explorar, mas, de qualquer modo, um fator a mais para demonstrar que posta est a relao, cabendo aos estudiosos percorrer os caminhos possveis pelas quais esta se estabelece.

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    De igual modo, dados os limites do presente artigo, cabe destacar a dificuldade existente at mesmo em caracterizar, de modo definitivo, o que seja a narrativa. Motta nos alerta sobre isso quando afirma:

    As cincias da linguagem percorrem uma extenso que vai da teoria literria (nova crtica, formalismo russo, teorias da recepo, teorias semiolgicas estruturalistas, teorias marxistas) passando pelas tradies hermenutica, analtica e simblica, pela lingustica, a semntica, a pragmtica, a retrica moderna, a sociolingustica, o ps-estruturalismo, ps-modernismo, teorias do ato de fala, o construtivismo e outras vertentes. No fcil encontrar um caminho iluminador sobre o paradigma narrativo nessa densa floresta. (MOTTA, 2004, p. 2)

    Apesar de todas as dificuldades pontuadas, justifica-se o fato de estudar jornalismo e suas relaes com os estudos literrios e vice-versa, haja vista que a conexo entre jornalismo e literatura, embora permeada por aproximaes e afastamentos, no pode ser posta de lado. Ela perceptvel tanto na Histria quanto no interior mesmo dos discursos produzidos pelos dois campos do conhecimento.

    Neste artigo, estudaremos alguns aspectos da construo da obra 1808, levando em considerao este autor que sai do escopo do texto jornalstico e adentra ao territrio da histria, trazendo, porm, as marcas do seu fazer. De que maneiras isso afeta a percepo da figura do jornalista? Que discursos podem ser percebidos quando a Histria, campo de conhecimento que se estabelece como autnomo e se ocupa das narrativas do passado, recebe a interveno ou presena do jornalista? No se trata, obviamente, de uma pesquisa em profundidade no texto, mas uma busca por marcas, indcios para encontrar no texto que se prope como narrativa da histria o discurso jornalstico. E nesse caso no se trata apenas de linguagem, mas de uma disputa pelo poder do discurso, pela autoridade de pronunci-lo, em termos focaultianos.

    Escolhemos esta obra por ser representativa da literatura na qual o jornalista aparece produzindo textos no-noticiosos, no caso, na rea de histria. A obra vendeu 1,2 milhes de exemplares at 20113. O exemplar utilizado para nossa anlise da 8 reimpresso, publicado pela Editora Planeta.

    3 Dados da entrevista disponvel em: http://g1.globo.com/bienal-do-

    livro/rio/2011/noticia/2011/09/vender-um-milhao-de-livros-e-razoavel-diz-autor-de-1808-e-1822.html, acesso em 10 abr 2014.

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    Embora Laurentino Gomes no se apresente como historiador e tente amenizar sua fala em diversas entrevistas sobre sua obra encontradas na internet, a introduo do livro evidencia: O propsito deste livro resgatar a histria da corte portuguesa no Brasil do relativo esquecimento a que foi confiada e tentar devolver seus protagonistas dimenso mais correta possvel dos papis que desempenharam duzentos anos atrs (GOMES, 2007, p. 20). Aqui, j aparecem alguns dos elementos identitrios do jornalismo: a noo da objetividade (mais correta possvel); certo herosmo (resgatar a histria, tentar devolver) e vontade de verdade (tambm expressa pela frase dimenso mais correta possvel e pela disposio do autor em apontar protagonistas da histria). Tambm enfatiza sua disposio em utilizar (da mesma forma que na construo da notcia em geral se faz) uma dramaturgia da narrativa histrica, pois assume que tratar de personagens e se debruar sobre os papis que desempenharam, mesclando-se a as perspectivas histricas, jornalsticas e literrias que resultam no livro como produto final desse processo.

    A seguir, a fala de Gomes explicita o ethos do jornalismo como lugar de traduo, de acessibilidade:

    Um segundo objetivo deste livro, to importante quanto o primeiro, tornar este pedao da histria brasileira mais acessvel para leitores que se interessam pelos acontecimentos do passado, mas que no esto habituados nem dispostos a decifrar a linguagem acadmica que permeia toda a bibliografia de 1808 e seus desdobramentos (GOMES, 2007, p. 21).

    Inicialmente, faremos uma abordagem acerca do discurso jornalstico, pois a partir dele que Gomes pretende elaborar sua narrativa dos acontecimentos em torno da corte portuguesa no Brasil. A seguir, tambm discutiremos a relao entre o mito como narrativa que explica as relaes em nossa sociedade e o jornalismo que na contemporaneidade assume que pode explicar e traduzir o mundo presente e seus acontecimentos. Prova disso que existe uma rea do jornalismo para explicar praticamente todos os campos do conhecimento ou interesse humano: jornalismo esportivo, jornalismo cultural, jornalismo poltico, jornalismo econmico, etc. O que antes era explicado pelo mito, no advento da cincia encontra no jornalismo um de seus mais importantes porta-vozes.

    Por fim, pontuaremos alguns indcios do discurso jornalstico no texto de 1808, problematizando: como a fala do jornalismo sobre a histria pode ser uma vontade de

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    verdade? At que ponto a simplificao, que um dos critrios de noticiabilidade, pode ser o argumento desta escrita? Que disputas pelo discurso a se apresentam?

    Jornalismo e organizao do real

    preciso considerar o discurso jornalstico em si mesmo, em sua instncia, entendendo que, em toda sociedade, a produo do discurso ao mesmo tempo controlada, selecionada, organizada e redistribuda por certo nmero de procedimentos que tm por funo conjurar seus poderes e perigos, dominar seu acontecimento aleatrio, esquivar sua pesada e temvel materialidade (FOUCAULT, 1999, p. 8-9).

    a ordem do discurso que estabelece, para Foucault (1996), as possibilidades de organizao do real. Esta ordenao, alm de possuir uma funo normativa e reguladora, age por meio da produo de saber, de estratgias de poder e de prticas discursivas (AGUIAR, 2007, p. 2). Desta forma, pode-se depreender que o jornalismo exerce esta ordem por meio de um conjunto de procedimentos de controle, seleo, organizao e distribuio do discurso miditico que lhes so inerentes e que lhe conferem poder na sua interface (SANTOS, 2008, p. 2) com outras esferas de saberes, como a religio, a poltica, a economia, etc. Por conta deste conjunto de procedimentos, o discurso jornalstico atingido pelos sistemas de excluso pontuados por Foucault: a palavra proibida, a segregao e a vontade da verdade (FOUCAULT, 1999, p. 19).

    A palavra proibida refere-se ao fato de que nem tudo pode ser dito. No jornalismo em geral, qualquer um no pode falar de qualquer coisa (FOUCAULT, 1999, p. 9). Isso pode acontecer tantos nos processos de edio da matria, quanto na seleo das fontes ou ainda pela posio do sujeito falante no roteiro da matria (se seu nome e profisso so citados, o tempo que lhe destinado, o status com que apresentado, etc.), o que determina o seu lugar de fala.

    Alm disso, existe no discurso jornalstico a fora daquilo que Foucault chama de vontade da verdade. Os discursos, para o pensador francs, no so nem falsos, nem verdadeiros em si mesmos. Na constituio das prticas discursivas, o que existiria um componente efetivo, que o regime da verdade. Seguindo essas proposies foucaultianas, podemos entender a verdade como um conjunto de procedimentos regulados para a produo, distribuio e funcionamento dos discursos (AGUIAR, 2007, p.4). Esta vontade da verdade se apoia num suporte institucional, isto , h uma gama de estruturas/instituies que a reforam e reconduzem. Foucault cita a pedagogia, o sistema de livros, as sociedades de sbios de outrora e os laboratrios hoje. A prpria

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    mdia ocupa, na sociedade contempornea, a condio de instituio, pois tambm regula os discursos e fornece condies para sua existncia, circulao e desaparecimento.

    Mas Foucault acrescenta que o modo como o saber aplicado na sociedade, como valorizado, distribudo, repartido e de certo modo atribudo (FOUCAULT, 1999, p.17-18) , igualmente, de fundamental importncia neste processo de estabelecimento da vontade de verdade. O fato de ter um suporte e uma distribuio institucional faz com que esta vontade de verdade exera presso e poder de coero sobre outros discursos. O jornalista, quando se pretende um tradutor, intrprete dos demais campos do conhecimento, quando quer traz-los de modo inteligvel a seu telespectador, ouvinte ou leitor, por meio das instituies nas quais atua e por meio das quais opera, exerce essa vontade de verdade, valorizando ou no, distribuindo ou retendo, repartindo ou centralizando e de todos os modos atribuindo os saberes por meio do discurso.

    Jornalismo e traduo do mundo

    O saber que constri socialmente a verdade e atribui sentido era constitudo na Antiguidade, privilegiadamente, por meio do mito. As narrativas mitolgicas encontraram seu melhor espao de florescimento no contexto das religies, com suas vrias formas de estruturao (considerando religio em seu sentido mais lato, qual seja, a relao entre o humano e o sagrado, etimologicamente marcada pelo religar, na origem semntica do termo).

    Para Campbell, os mitos possuem quatro funes. A primeira a mstica, o despertamento para as questes relativas ao mistrio e ao espanto que ele proporciona. A segunda a dimenso cosmolgica. Campbell afirma que desta dimenso que a cincia se ocuparia, mas, embora ela possa dizer como a coisa funciona, ainda no capaz de dizer o que a coisa . A terceira funo a sociolgica, que indica suporte e validao da ordem social em determinada sociedade. A quarta funo seria a pedaggica, sendo que o mito ensinaria s pessoas a capacidade da resilincia (CAMPBELL, 1990, p. 43-44). Tomado como um conhecimento primordial, que emerge por meio da experincia e transmitido sob a forma de narrativas simblicas, o mito tem, para Campbell, importante funo reguladora das experincias sociais e preenche de sentido a existncia humana. Por sua vez, Barthes entende que mito uma

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    fala e uma forma de significao. Ele definido pela forma como profere a mensagem (BARTHES, 2001, p. 131). Para Barthes, a histria transforma o real em discurso e comanda a vida e a morte da linguagem mtica (BARTHES, p.132). Neste caso, ele tem uma ao naturalizante, essencializante.

    Porm, na contemporaneidade, o mito se desvincula de sua ligao direta com a religio e aparece em novos contextos de significao. Muniz Sodr acrescenta discusso quando intenta estabelecer o objetivo da narrativa mtica, partindo da Antiguidade, ao afirmar que

    as iluses mticas, os vus que cobriam as verdades comuns, mais revelavam do que explicavam o real. Assim regido, o homem antigo narrava os acontecimentos essenciais conexo das coisas que, em sua totalidade, constituam o cosmos ou o mundo enquanto forma primordial de sua existncia (SODR, 2009, p. 9).

    Em sequncia, o autor desenvolve a teoria de que a partir da modernidade, o espao desses relatos que explicam o real passa a ser aquele promovido pela ideologia, que ele define como iluso metafsica, como montagem racionalista das significaes, com meios de expresso objetivos e claros (SODR, 2009, p. 10). A explicao do mundo passa a ser feita pelas esferas que mais se identificam com o discurso da racionalidade cabendo nesse contexto o fazer do jornalista que, em seu ethos traz, com a ideia de objetividade, o aspecto cientfico-racional e com a ideia da simplificao (como critrio de noticiabilidade) a pretenso de traduzir/interpretar o mundo para o pblico leitor, ouvinte ou telespectador.

    Acrescente-se ainda que desde os primrdios da imprensa, o jornalismo aparece como formador a partir da informao (ENNE, 2004). De modo privilegiado, o jornalismo , ainda, um dos lugares de memria, ou, ainda, espaos privilegiados no arquivamento e produo da memria contempornea(ENNE, 2004). A capacidade de falar no apenas sobre o presente, mas tambm sobre o passado fundamental valor. Memria e identidade so, pois, constitudas por processos interativos e dinmicos, prticas discursivas e estratgias narrativas (ENNE, 2004, p. 101).

    Aqui encontra-se um primeiro espao para se discutir a relao entre jornalismo e histria, pois, enquanto narrador do presente, seja no jornal impresso, na internet ou nos formatos audiovisuais, a perspectiva do jornalista nesta condio est carregada da ideia

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    da efemeridade. Tanto que alguns artigos que discutem essa relao estabelecem justamente como diferena entre o historiador e o jornalista o fato de o primeiro falar sobre o passado e o segundo, sobre o presente. Nesta acepo, o trabalho do jornalista parece interessar quando as edies antigas so manuseadas como fonte de pesquisa pelo historiador (MARCLIO, 2013, p. 42; VICENTE, 2013). Porm, como lembra Vicente,

    Se tomamos o jornalismo como discurso acerca do real, como narrativa do fato ou, ainda, como interpretao do mesmo, ele tambm se torna espao para a produo e circulao das narrativas mticas na contemporaneidade. De igual modo, transforma uma inteno histrica em algo como dado naturalmente, algo contingente em eternidade (cf. BARTHES, 2001, p. 162).

    J Rothberg (s/d) defende a ideia de que o jornalismo realiza uma fetichizao da cincia (como grande rea, na qual esto includas as cincias humanas, como a Histria), eliminando seus elementos de conflito, particularmente os relacionados com as questes polticas e econmicas (no caso das chamadas descobertas cientficas, ainda mais). Baseando-se em Barthes, ele considera a narrativa do jornalismo em relao cincia como mito, pois este no nega as coisas (...) sua funo , pelo contrrio, falar delas; simplesmente purifica-as, inocenta-as, fundamenta-as em natureza e em eternidade, d-lhes uma clareza, no de explicao, mas de constatao (BARTHES apud ROTHBERG, s/d, p.7).

    De fato, existe no jornalismo uma pretenso de traduo do mundo, que se torna mais e mais evidente. Correia e Vizeu, por exemplo, afirmam que o conhecimento do jornalismo trata dos acontecimentos do mundo, dos diversos saberes, dos campos da experincia e do cotidiano (CORREIA e VIZEU, 2008, p. 17). Este carter de interpretao do mundo se d pela percepo dos noticirios como um lugar de mediao entre o mundo dos fatos, dos acontecimentos (...) e a sociedade (CORREIA e VIZEU, 2008, p. 17, grifos meus). Desta forma, percebe-se, na leitura do jornalista, uma necessidade de explicar/traduzir o mundo e no apenas, como inicialmente pretende, reportar um acontecimento. E na medida em que se produz um discurso sobre o acontecimento, gera-se um domnio, um poder sobre o que dito, como dito e tambm sobre aquilo que se opta em no dizer.

    Esta prerrogativa aproxima-se daquilo que Foucault define como direito privilegiado ou exclusivo do sujeito que fala (FOUCAULT, 1999, p.9). Ela perceptvel nos

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    enunciados dos jornalistas sobre si mesmos, como, por exemplo: a imagem que a mdia constri da realidade resultado de uma atividade profissional de mediao vinculada a uma organizao que se dedica basicamente a interpretar a realidade social (...) a mdia no s transmite, mas prepara e apresenta uma realidade dentro das normas e regras do campo jornalstico (CORREIA e VIZEU, 2008, p.13, grifos meus).

    As expresses em destaque demonstram que tal discurso proferido por sujeitos autorreferidos como profissionais, organizados, portadores do conhecimento e dos rituais de normas e regras pelas quais elaboram os seus enunciados. desta forma que o discurso jornalstico se torna restrito, no sendo possvel a qualquer pessoa pronunci-lo, seno aquela que se enquadra no que Foucault entende como um

    ritual que define a qualificao que devem possuir os indivduos que falam (e que, no jogo de um dilogo, da interrogao, da recitao, devem ocupar determinada posio e formular determinado tipo de enunciados); define os gestos, os comportamentos, as circunstncias e todo o conjunto de signos que devem acompanhar o discurso (...) que determina para os sujeitos que falam, ao mesmo tempo, propriedades singulares e papis preestabelecidos (FOUCAULT, 1999, p. 39).

    Cada campo de conhecimento pretende esta cientificidade do discurso para si. Este , inclusive, um dos temas no debate entre historiadores, literatos e jornalistas quando estes ltimos invadem o campo de conhecimento dos primeiros com produes no-noticiosas. Muitas vezes, a discusso gira em torno das questes de linguagem, das ferramentas de apurao que utilizam. Nesse particular, prevalece a percepo, por parte dos jornalistas, de que historiadores e literatos produzem um tipo de saber voltado aos seus pares, que a forma como so construdos os textos acaba por afastar os leitores comuns, avessos a essa dificuldade e que esto em busca ou se interessariam por esses temas se eles fossem traduzidos portanto, a linguagem jornalstica teria maior circulao e aceitao do que os textos acadmicos e suas formulaes complicadas.

    Esta uma primeira questo que este artigo pretende instigar. Se o jornalismo o campo no qual so explicadas as relaes sociais, ou mais do que isso, ele pretende explicar o mundo, funcionando como os mitos na antiguidade e sendo o espao de circulao de sentidos, ele tambm pode acabar trazendo sobre outros campos de conhecimento aquilo que tambm o caracteriza como fragilidade: a simplificao que faz com que a notcia seja mais facilmente entendida pelo telespectador, leitor ou ouvinte tambm acolhe em si muitos silenciamentos, minimiza as complexidades dos

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    eventos, tende a privilegiar a rapidez da abordagem e dramatizar os eventos. Ainda que se coloque que a escolha do vernculo, da linguagem e da forma do discurso privilegiem o melhor entendimento do tema pelo receptor, preciso estar atento ao fato de que

    o sentido de uma palavra ou de um conjunto de palavras no existe em si mesmo; ele resulta das posies ideolgicas presentes no processo scio-histrico: as palavras, expresses, proposies, etc. mudam de sentido segundo as posies sustentadas por aqueles que as empregam, o que quer dizer que elas adquirem seu sentido em referncia s formaes ideolgicas nas quais essas posies se inserem (BACCEGA, 1988, p.90).

    Por isso, preciso considerar o discurso jornalstico em si mesmo, em sua instncia, entendendo que,

    em toda sociedade, a produo do discurso ao mesmo tempo controlada, selecionada, organizada e redistribuda por certo nmero de procedimentos que tm por funo conjurar seus poderes e perigos, dominar seu acontecimento aleatrio, esquivar sua pesada e temvel materialidade (FOUCAULT, 1999, p. 8-9).

    De fato, da mesma forma que a literatura ocidental, citada por Foucault, teve de buscar apoio em saberes considerados mais elevados, em suma, verdadeiros (FOUCAULT, 1999, p.18), pode-se notar, no discurso jornalstico contemporneo, uma constante busca por aquele saber que alcanou o nvel de positividade mais elevado na sociedade o cientfico.

    Assim, parece que o jornalista, no exerccio de sua funo, busca responder a ele ou respaldar-se nele. O jornalismo tenta imputar ao discurso que produz uma verdade nica e incontestvel, aproximando suas rotinas da lgica e da racionalidade presentes no discurso da cincia positivista (HAGEN, 2008, p.42). Esta vontade de verdade do jornalista manifesta-se pela autoridade de sua competncia; ele quem conhece o cdigo, a origem, o fundamento e quem se assume, assim como se assegura, testemunha e autor da realidade (CORREIA e VIZEU, 2008, p. 24).

    De igual modo, procura estabelecer relaes discursivas com outros saberes, fazendo referncia a eles, assumindo seus lugares de fala ou fazendo-lhes indagaes, conforme o caso. Desta forma, a produo de conhecimento do jornalismo no est dissociada da sua relao com certos domnios do saber. Essas relaes discursivas no so internas nem externas ao discurso, mas, de alguma forma, elas

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    esto no limite do discurso: oferecem-lhe objetos de que ele pode falar, ou antes (...) determinam o feixe de relaes que o discurso deve efetuar para poder falar de tais ou quais objetos, para poder abord-los, nome-los, analis-los, classific-los, explic-los, etc. Essas relaes caracterizam (...) o prprio discurso enquanto prtica (FOUCAULT, 2000, p. 52-53).

    Uma ressalva pertinente: no cabe aqui estabelecer, frente aos enunciados, posturas de certo e errado, verdadeiro e falso, manipulao, ideologia, etc. Na perspectiva foucaultiana, isto no vem ao caso. Tambm preciso, na anlise do discurso jornalstico, evitar atribuir-lhe o carter de engodo ou falseamento da verdade:

    O enfoque da manipulao das notcias no s favorece uma perspectiva moral ou psicolgica da imparcialidade como tambm dificulta a compreenso do discurso jornalstico enquanto um processo historicamente situado. Desse modo, o que nos interessa entender que as notcias so construes discursivas que produzem as condies de possibilidade atravs das quais a realidade se torna visvel e dizvel. (AGUIAR, 2007, p. 2).

    Nesta anlise, tambm no se pode furtar a refletir sobre a relao entre jornalismo e narrativa histrica. Como ocorre no jornalismo em geral, tambm no telejornalismo, a histria se relativiza, as narrativas histricas sofrem o enquadramento do momento, pois trata-se do discurso da atualidade, conforme j citado, no da atualidade cronolgica, j que entre o momento do acontecimento do fato e a notcia, temos um interregno mediado pelo telejornal, mas da atualidade do noticirio televisivo (CORREIA e VIZEU, 2008, p. 23, grifos dos autores).

    1808 na perspectiva da dramaturgia da notcia: indcios do discurso jornalstico para uma construo discursiva da histria

    Iluska Coutinho, ao pesquisar o telejornalismo, percebeu que a forma como a notcia apresentada possui uma estrutura com algumas caractersticas especficas. A primeira caracterstica apontada por ela seria a narrativa a partir de conflitos, narrados pelo reprter ou apresentador. Problemas, aes e disputas seriam os eixos em torno dos quais a notcia construda. Um indcio de que isso acontece na narrativa de 1808 j aparece no subttulo: Como uma rainha louca, um prncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleo e mudaram a histria de Portugal e do Brasil (grifos meus). Assim como acontece no romance, o conflito que desencadeia as aes, que coloca os personagens em movimento.

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    Articulado a esse conflito, temos tambm a existncia de um enredo. A forma de contar uma histria em nossos telejornais, especialmente o padro ou roteiro para construo de uma matria com texto, som e imagem, seria o segundo aspecto dessa dramaturgia (COUTINHO, 2005, p.2). Embora esteja se referindo ao telejornal, na construo do texto de Gomes, o texto traz outros elementos que formam na mente do leitor o contexto do som e da imagem. Um indcio encontrado no livro e que um recurso para construir esta imagem aparece na p. 29-30:

    Imagine, num dia qualquer, os brasileiros acordassem com a notcia de que o presidente da Repblica havia fugido para a Austrlia, sob a proteo de avies da Fora Area dos Estados Unidos. Com ele, teriam partido, sem aviso prvio, todos os ministros, os integrantes dos tribunais superiores de justia (...). Provavelmente, a primeira sensao dos brasileiros diante de uma notcia to inesperada seria de desamparo e traio. Depois, de medo e revolta.

    E foi assim que os portugueses reagiram na manh de 29 de novembro de 1807(...) (grifos nossos).

    Embora haja o fato histrico, a escolha semntica, as opes de linguagem e a construo do texto apontam para o acontecimento histrico como uma narrativa linear, na qual possvel perceber o desenrolar do conflito. O conflito proposto pelo discurso jornalstico torna-se a base para a construo de representaes e formaes ideolgicas que visam produzir uma resposta de cunho apologtico no receptor frente ao enunciado. Portanto, estabelecido o conflito que introduz o enredo da trama que se desenrolar, segue-se outra caracterstica apontada por Coutinho: a existncia de personagens (COUTINHO, 2005, p.2).

    Todos os indivduos presentes ou referidos no contexto da narrativa se transformam em personagens da notcia (a mocinha, o bandido, o heri, a vtima, os figurantes). Ao mesmo tempo em que este recurso vem da literatura, a forma discursiva do jornalismo se faz presente pelo critrio da simplificao, que ocorre, neste caso, alm do tipo de palavras utilizadas, tambm pelo uso de esteretipos para descrever as pessoas, possibilitando sua construo enquanto personagens, recurso presente nos romances e novelas:

    O prncipe regente era tmido, supersticioso e feio. O principal trao de sua personalidade e que se refletia no trabalho, no entanto, era a indeciso. Espremido entre grupos com opinies conflitantes, relutava at o ltimo momento em fazer escolhas. (GOMES, 2007, p. 32-33)

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    Em Portugal, a rainha Maria I era perseguida por demnios. Seus gritos de terror ecoavam pelas madrugadas frias e enevoadas do Palcio de Queluz. (GOMES, 2007, p. 36)

    Nos ltimos duzentos anos, mais livros foram escritos sobre Napoleo do que sobre qualquer outra pessoa na Histria, com exceo apenas de Jesus Cristo. Mais de 600.000 obras fazem referncia direta ou indireta a ele (...) Homem de ambio e vaidade desmedidas, inversamente proporcionais a sua baixa estatura, de 1,67 metro. (GOMES, 2007, p. 41)

    A fora das narrativas assim construdas que a trama, a dramaturgia, os efeitos visuais e sonoros construdos na mente do leitor por meio dos recursos da linguagem podem formar um todo difcil de ser ignorado, devido ambincia e atmosfera de suspense que criada. Tais narrativas exploram o potencial dramtico do acontecimento, o qual recebido pelo leitor como algo mais palatvel do que o estilo rido do texto de Oliveira Lima, que torna-o cansativo at para os leitores mais familiarizados com o idioma peculiar das teses de ps-graduao, como justifica o autor (GOMES, 2007, p. 21).

    Como numa histria, o jornalista assume o papel de narrador, aquele que contar os fatos a partir de determinado lugar de fala. No algo que aparece de forma evidente, mas a vontade de verdade, que posiciona o jornalista em cena no contexto da obra, indica que o jornalismo seria a fonte reconhecida de autoridade a partir da qual o evento pode ser interpretado. Desta forma:

    Alm da linguagem excessivamente acadmica, os livros de Histria que tratam desse perodo apresentam uma intrigante questo semntica. A corte portuguesa mudou ou fugiu para o Brasil? Qual seria o termo adequado para definir o que aconteceu (...)? Os historiadores nunca chegaram a um acordo (...) Este livro chama o evento de fuga, substantivo adotado igualmente pelos historiadores Pereira da Silva, Jurandir Malerba e Llia Moritz Schwarcz, entre outros (GOMES, 2007, p. 21).

    Embora os historiadores citados tenham escrito suas obras antes do livro em questo, a escolha, as formas como a frase se delineia, so um indcio da vontade de verdade que permeia a obra: o livro quer apresentar-se como palavra ltima sobre a perspectiva a partir da qual o leitor dever interpretar os eventos. A questo que aqui se levanta no da qualidade ou no da obra, mas de como o discurso jornalstico , na contemporaneidade, o espao no qual circulam os sentidos que organizam a vida social. De fato, no basta ao jornalista relatar; antes, seu papel traduzir, interpretar. Ao sair do mbito da notcia e enveredar pelo campo da histria, como nesse caso, abre uma nova disputa pelo poder de falar sobre o passado, lugar de fala do historiador.

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    Consideraes finais

    Ao incio, indagamos de que maneiras a percepo da figura do jornalista afetada quando este sai do mbito do texto noticioso para a narrativa literria? Que discursos podem ser percebidos quando a Histria, campo de conhecimento que se estabelece como autnomo e se ocupa das narrativas do passado, recebe a interveno ou presena do jornalista? Essas questes so apenas iniciais em nossa pesquisa, mas o presente artigo pretende abrir um vis de anlise.

    Percebemos que a construo da histria, usando da dramaturgia da notcia, pode confundir informao e entretenimento, misturar real e fico e provocar reaes as mais diversas nos leitores. Um enunciado jornalstico carrega sentidos, transforma ou solidifica realidades, estabelece e/ou consolida e/ou transforma esteretipos no meio social. Ademais, o que alguns historiadores levantam como argumento contra essas obras que elas se caracterizariam mais como divulgao histrica do que como pesquisa histrica. Isso levanta um problema sobre o discurso jornalstico como espetacularizao no apenas da notcia, mas tambm de outros campos do conhecimento, como a histria e a cincia em geral.

    Sensacionalismo, dramatizao, tabloidizao, trivializao e infotainment so atribudos ao carter comercial do jornalismo e traduzem, ao mesmo tempo, uma preocupao com o embaralhamento de fronteiras entre informao e entretenimento, realidade e fico, um desencantamento a poca de ouro do verdadeiro jornalismo teria acabado e um reconhecimento da inevitabilidade do fenmeno a popularizao seria uma tendncia da mdia contempornea e no deixaria de fora a produo da notcia (GOMES, 2008, p.58).

    O papel do jornalista torna-se, em casos assim, passvel de questionamentos e sua posio como um tradutor da realidade fragiliza-se. E um problema surge, pois ainda h um forte espao para a crena na atuao do jornalista. De fato, os receptores ainda tm mais confiana nos jornalistas do que nos governantes (GOMES, 2006, p.2). A questo da tica jornalstica e do ethos do jornalismo quando este entra em interface com outros campos do conhecimento est, portanto, em aberto. O poder de discursar, mediante essa liquidez, segue em disputa.

    Referncias bibliogrficas

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