Artigo ética transdisciplinar
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Trabalho exigido como avaliação da Disciplina Práticas
Performativas na Relação Educativa, sob orientação da Profa. Dra.
Luciana Maria Caetano da Pós-Graduação em Supervisão
Pedagógica e Formação de Educadores com acesso ao Mestrado
Europeu em Ciências da Educação
Título: Ética transdisciplinar
Autora: Clarice de Melo de Sá Silva
Instituição: Faculdade Mário Schenberg – Grupo Lusófona – Cotia SP -2010
Pós-Graduação em Supervisão Pedagógica e Formação de Educadores com acesso ao
Mestrado Europeu em Ciências da Educação
Docente Responsável: Prof. Dra. Luciana Maria Caetano
INTRODUÇÃO
O presente texto propõe um estudo sobre a ética numa perspectiva
transdisciplinar, com o propósito de estabelecer um debate entre os autores
pesquisados e uma reflexão sobre uma atitude transdisciplinar por meio da ética.
Vivemos numa época marcada pelo reducionismo e a fragmentação em toda
esfera social. Faz-se necessário o reconhecimento da importância da superação das
fronteiras educacionais existentes entre as diversas disciplinas.
É preciso que a escola repense seu papel na sociedade utilizando além da
cognição, os valores como objetos subjetivos no processo educacional. A
transdisciplinaridade visa articular uma nova compreensão da realidade entre e para
além das disciplinas especializadas, ou seja, propõe a articulação do saber e da
compreensão da complexidade.
Este texto tratará da transversalidade em duas visões: sob a perspectiva de Yves
de La Taille e também numa breve estudo da proposta da Carta da
Transdisciplinaridade, em seguida, serão apresentadas algumas conclusões a respeito
da temática em questão.
A TRANSVERSALIDADE NA PERSPECTIVA DE YVES DE LA TAILLE
No 4º capítulo do livro Formação ética: Do tédio ao respeito de si, La Taille (2009,
p. 223) afirma que a educação moral depende de dimensões e intelectuais e afetivas,
portanto devem ser trabalhadas pelas instituições escola e família.
Segundo o autor, a moralidade está intimamente ligada à liberdade e, além disso,
ele levanta uma discussão a respeito da responsabilidade de cada um; a moral é um
objeto de conhecimento, porém trata-se de potencialidade que só se desenvolverá se
houver reflexão para que haja a consciência dos valores, ou seja, uma capacidade de
se colocar no lugar do outro.
O autor ainda afirma que nem todos os indivíduos percorrem todas as etapas do
desenvolvimento do juízo moral; é preciso cuidar através da educação para que não
adormeça o senso moral nas crianças e jovens.
A família tem papel importante na formação da moral das crianças e adolescentes,
mas não é a única instituição responsável. A escola representa uma experiência de
transição do espaço privado (família) para o público (sociedade) e no caso de não
exercer essa função, contribui para o analfabetismo moral.
O autor considera urgente que as instituições educacionais tratem da questão
moral e defende a ideia de que é possível elaborar estratégias pedagógicas com a
finalidade de educação do juízo moral que procuram caminhar no sentido da justiça e
da autonomia.
La Taille é contrário ao ensino religioso na escola. Sugere aulas de Filosofia e
Ciências Humanas para se trabalhar as contribuições dos filósofos para a reflexão ética
e moral. No entanto, esse contato literário é frutífero no Ensino Médio e o a construção
do juízo de moral e da formação ética são construções que se iniciam por volta dos três
anos na criança.
Algumas propostas já foram colocadas em prática, como por exemplo, a disciplina
de Educação Moral e Cívica, porém segundo ele, foi empregada na perspectiva
dogmática.
La Taille ressalta a questão da transversalidade, proposto nos Parâmetros
Curriculares Nacionais. Os temas selecionados nos PCNs são: saúde, meio ambiente,
pluralidade cultural, orientação sexual, trabalho consumo e ética.
O nome “ética” e não “moral” são sinônimos e portanto, a ética é empregada no
sentido de respeito mútuo, justiça, diálogo e solidariedade.
Segundo o autor, a transversalidade corresponde a uma proposta educacional
inteligente, rica e generosa; com a possibilidade de atribuir à moral a visibilidade que
hoje lhe falta.
CARTA DA TRANSDISCIPLINARIDADE
A transdisciplinaridade é uma abordagem que passa entre, além e através das
disciplinas, numa busca de compreensão da complexidade.
A Carta da Transdisciplinaridade foi adotada no Primeiro Congresso Mundial da
Transdisciplinaridade, Convento de Arrábida, Portugal, de 2 a 6 de novembro de 1994.
Sendo o Comitê de Redação formado pelos pensadores: Lima de Freitas, Edgar Morin
e Basarab Nicolescu.
Esse documento apresenta algumas considerações acerca do saber e do
conhecimento com olhar global do ser humano. Ele é entendido como um conjunto de
princípios fundamentais da comunidade de espíritos transdisciplinares, constituindo um
contrato moral.
A carta é composta por quinze artigos e apresentamos a seguir o resumo
daqueles que julgamos mais significativos:
Artigo 3: A transdisciplinaridade é complementar à aproximação disciplinar: faz
emergir da confrontação das disciplinas dados novos que as articulam entre si; oferece-
nos uma nova visão da natureza e da realidade. A transdisciplinaridade não procura o
domínio sobre as várias outras disciplinas, mas a abertura de todas elas àquilo que as
atravessa e as ultrapassa.
Artigo 5: A visão transdisciplinar está resolutamente aberta na medida em que ela
ultrapassa o domínio das ciências exatas por seu diálogo e sua reconciliação não
somente com as ciências humanas mas também com a arte, a literatura, a poesia e a
experiência espiritual.
Artigo 7: A transdisciplinaridade não constitui uma nova religião, uma nova filosofia,
uma nova metafísica ou uma ciência das ciências.
Artigo 11: Uma educação autêntica não pode privilegiar a abstração no conhecimento.
Deve ensinar a contextualizar, concretizar e globalizar. A educação transdisciplinar
reavalia o papel da intuição, da imaginação, da sensibilidade e do corpo na transmissão
dos conhecimentos.
Artigo 13: A ética transdisciplinar recusa toda atitude que recusa o diálogo e a
discussão, seja qual for sua origem - de ordem ideológica, científica, religiosa,
econômica, política ou filosófica. O saber compartilhado deverá conduzir a uma
compreensão compartilhada baseada no respeito absoluto das diferenças entre os
seres, unidos pela vida comum sobre uma única e mesma Terra.
REFLEXÃO
Os textos do autor Yves de La Taille e da Carta da Transdisciplinaridade
convergem em muitos pontos, como por exemplo, na ideia de uma ética transdisciplinar
calcada no diálogo através de práticas que possibilitam a eliminação de fronteiras e
comuniquem-se entre si.
A questão ética vista como uma proposta transversal existe em função da
necessidade de se trabalhar a convivência e o respeito mútuo, relacionado ao
sentimento de justiça social no convívio diário dentro da instituição.
A dimensão moral deve ser trabalhada pela família e pela escola a começar na
Educação Infantil e se estender por toda trajetória do aluno, pois criar cidadãos éticos é
de responsabilidade de toda sociedade e de suas instituições.
Segundo La Taille, a moral e a ética são pontos fundamentais na educação e
desenvolvimento das crianças e, as instituições família e escola, sem hierarquia, devem
trabalhar a qualidade do convívio social, pois ética não é uma coisa espontânea, ela é
aprendida.
A Carta da Transdisciplinaridade não usa o termo moral e sim ética. Em seu artigo
13, enfatiza a questão do diálogo em todas as ordens, inclusive a religiosa para que
seja possível a visão global do ser humano. A proposta transdisciplinar não se constitui
numa nova religião nem filosofia e sim, numa atitude aberta em relação às religiões, ou
seja, não se pode falar em transdisciplinaridade, se o componente espiritual não for
considerado.
Para La Taille, a educação religiosa tem seu sistema próprio de moral, e não
haveria um verdadeiro ecumenismo, portanto afirma que é possível haver moral sem
religião.
Nos dois textos apresentados, a transdisciplinaridade é colocada como descrição
para a articulação de novas compreensões da realidade e para além das disciplinas.
Para que haja a transdisciplinaridade é necessário que o intuito principal seja organizar
e integrar os saberes. Quanto à ética, ela deve ser exercitada assim como a boa prática
pedagógica. É preciso que o pensamento transdisciplinar seja um hábito.
CONCLUSÃO
A sociedade atual mostra em suas relações mudanças nos hábitos e nos valores
que recaem sobre a educação e a formação das novas gerações. A questão ética é um
fenômeno social importante dado a sua influência na formação de conceitos e
qualidade de vida das pessoas. A desintegração dos valores são os maiores obstáculos
para o desenvolvimento integral do ser humano.
A instituição escolar é um espaço privilegiado de aprendizagem e pode
igualmente a família, desenvolver um papel estruturante na formação ética de seus
alunos, preparando-os para a vida em sociedade e para o exercício da cidadania, visto
que neste espaço, a criança convive com a diversidade e poderá aprender com ela.
A ética perpassa todo o currículo e deve permear todos os momentos escolares.
Está no cuidado com a natureza, no jeito certo ou errado de falar nossa língua, nas
aulas de História, Geografia, etc. Além disso, o tema está nas relações internas da
escola e a convivência democrática entre professores e alunos ou entre colegas e vale
como uma excelente experiência para os estudantes.
Concordamos plenamente com a proposta apresentada pelos autores dos textos
estudados, no entanto questionamos a viabilidade de colocá-la em prática por
profissionais com formações tão diferentes.
Compreendemos que o caminho para a aplicabilidade da proposta
transdisciplinar, passa pela transformação dos saberes ensinados aos docentes e que,
implicam diretamente em sua prática pedagógica e na formação global do seu aluno.
Existe uma desinformação no tocante ao construto da dimensão espiritual. Daí a
importância da formação contínua para compreender a proposta e aprender a
posicionar-se de forma destendenciosa nas questões religiosa, política, filosófica etc. É
preciso realizar uma atuação verdadeiramente ética para alcançar a proposta e
trabalhar com o ser humano na sua globalidade para a compreensão do mundo
presente, para a qual um dos imperativos é a unidade de conhecimento.
A transdisciplinaridade é um movimento e uma dinâmica de ideias e as formas
de pensá-las. Precisa ser entendida como uma postura que o professor pode adotar em
sala, sendo que tal atitude é uma oportunidade de ativar o diálogo sincrônico e
simultâneo entre os diferentes campos do saber.
A ética transdisciplinar quando bem compreendida e trabalhada, é melhor que
uma aula específica. Portanto, a reflexão sobre valores deve permear as ações
educativas de todos os profissionais nas mais diversas áreas.