Artigo: Estagiários, profissionais e políticos: marketing pessoal basta?

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Artigo: Estagiários, profissionais e políticos: marketing pessoal basta? Dulciana Sachetti* Eles Você e eu, na condição de eleitores, em épocas de pleito, estamos incumbidos de optar e eleger representantes; mote mais que batido na ânsia de conscientizar o cidadão sobre a importância do voto. Deveras, já que realmente de um a um soma-se e forma-se a gama de representantes, assim como todas as ações motivadoras ao ato isolado acrescido, resultando em grandes proporções. A aprovação da Lei Complementar nº. 135/2010 ou popular "Ficha Limpa" _ popular mesmo, clamada de assinatura a assinatura para ser uma lei do povo _ inverteu tal processo eleitoral. Nasceu do desejo mais íntimo de cada cidadão bradando o mínimo de caráter para o exercício político; um pequeno avanço frente ao mar de corrupção, até tal proposta, reincidente ao lapso de memória espontâneo ou financiado do povo. Quem a aprovou finalmente, foram nossos representantes por unanimidade, coibidos ou não pela pressão "do povo e para o povo". Nós Em épocas de pluralidade profissional e queda do tradicionalismo que envolvia profissões e rotinas de trabalho, tento _ em vão, é verdade _ entender as diferenças entre as especialidades que universidades, faculdades e cursos formam. Para ser mais clara, um estudante de jornalismo provavelmente não receberá o mesmo que um de medicina ou arquitetura, por exemplo, mesmo todos tendo frequentado a mesma instituição, dispondo da mesma infra estrutura e tido acesso às mesmas fontes de conhecimento; os três, por sua vez, talvez jamais alcancem o salário de um vereador eleito na cidade, do qual não é exigido conhecimento ou habilidade alguma. Ser universitário é assinar atestado de inexperiente. Tal condição o classifica como amador até o fim da jornada de estudos. Depois? Bem, depois se é recém-formado, em outras palavras, cru para o mercado de trabalho. Depois? Muito novo para assumir cargos de liderança. Depois? Bem, em tom de exagero ao final, estagnado ou ultrapassado, um estorvo para a classe que representa ou para o empregador. Alheio às

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Artigo/opinião

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Artigo: Estagiários, profissionais e políticos: marketing pessoal basta?

Dulciana Sachetti*

Eles

Você e eu, na condição de eleitores, em épocas de pleito, estamos incumbidos de optar e

eleger representantes; mote mais que batido na ânsia de conscientizar o cidadão sobre a

importância do voto. Deveras, já que realmente de um a um soma-se e forma-se a gama

de representantes, assim como todas as ações motivadoras ao ato isolado acrescido,

resultando em grandes proporções.

A aprovação da Lei Complementar nº. 135/2010 ou popular "Ficha Limpa" _ popular

mesmo, clamada de assinatura a assinatura para ser uma lei do povo _ inverteu tal

processo eleitoral. Nasceu do desejo mais íntimo de cada cidadão bradando o mínimo de

caráter para o exercício político; um pequeno avanço frente ao mar de corrupção, até tal

proposta, reincidente ao lapso de memória espontâneo ou financiado do povo. Quem a

aprovou finalmente, foram nossos representantes por unanimidade, coibidos ou não pela

pressão "do povo e para o povo".

Nós

Em épocas de pluralidade profissional e queda do tradicionalismo que envolvia

profissões e rotinas de trabalho, tento _ em vão, é verdade _ entender as diferenças entre

as especialidades que universidades, faculdades e cursos formam. Para ser mais clara,

um estudante de jornalismo provavelmente não receberá o mesmo que um de medicina

ou arquitetura, por exemplo, mesmo todos tendo frequentado a mesma instituição,

dispondo da mesma infra estrutura e tido acesso às mesmas fontes de conhecimento; os

três, por sua vez, talvez jamais alcancem o salário de um vereador eleito na cidade, do

qual não é exigido conhecimento ou habilidade alguma.

Ser universitário é assinar atestado de inexperiente. Tal condição o classifica como

amador até o fim da jornada de estudos. Depois? Bem, depois se é recém-formado, em

outras palavras, cru para o mercado de trabalho. Depois? Muito novo para assumir

cargos de liderança. Depois? Bem, em tom de exagero ao final, estagnado ou

ultrapassado, um estorvo para a classe que representa ou para o empregador. Alheio às

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ultramodernas, e em grande parte utópicas, técnicas de gestão raramente percebo além

disso. Tenho colegas que em vinte anos de profissão, nunca foram promovidos, nunca

receberam aumento salarial, mesmo tendo diploma e agora com larga experiência

ouvindo as apostas empresariais de administração de talentos, que na generalidade do

contexto é caso raro de efetividade. Agruras laborais, por quais todos nós passamos.

Eu

Todos os dias convenço meu ego e as outras pessoas de que sou capaz, geralmente

municiada de atitudes e ações. Faltando poucos meses para a formatura, o mais

experientes tentam me persuadir sobre a necessidade de networking e marketing

pessoal, o que particularmente acho uma grande estupidez. Percebo muitos colegas e

amigos bons de papo (para estabelecer contato, tirar vantagem ou bem dizer-se) traídos

pela própria língua e pessoas no geral, com os ouvidos cheios e a paciência esgotada de

ênfases que os primeiros fazem a si próprios; as mãos e a vontade não acompanham as

palavras soltas e proferidas para o convencimento.

A melhor rede de contatos ou recomendação que se pode realmente contar, na minha

amadora opinião, é aquela que alguém, espontaneamente, afirma que dá fé, testemunho

que se trata de um bom profissional, com um bom caráter, resultante de algum trabalho

bem feito e de uma série de outras atitudes positivas e dignas de enaltecimento. Palavras

vãs se desdizem no primeiro passo, seja do estagiário, profissional ou político. No caso

do último, estão aí, escancarados aos olhos de quem não os fecha, os pedidos de

impugnações de candidatos a candidato neste período de pré-candidatura: estagiários

falastrões. Profissionais experientes que se garantiram no gogó durante anos,

derrubados pela Ficha Limpa que não os deixa mentir.

Aliás, assim como o currículo e cartas de recomendação, aos quais qualquer cidadão

que busca emprego se submete, a Ficha Limpa está disponível em um sítio de

transparência mantido pelo governo. Que decepção tive ao constatar que meus

candidatos cometeram a gafe ingênua ou maliciosamente de não a terem preenchido,

muito além, que há poucos cadastrados, em contraponto aos borbotões concorrentes que

se acotovelam por uma vaga; tão concorrida quanto o vestibular ou o emprego dos

sonhos. Querem saber? Estão reprovados. Não os contrato.

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*Estudante