Artigo de grego

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A HISTÓRIA DA MALDIÇÃO DA RUA VELHA COMO MITO E TEMA PARA LITERATURA* Marta Maria de Sousa Matos** RESUMO O presente artigo tem como objetivo analisar se a HISTÓRIA DA MALDIÇÃO DA RUA VELHA (em anexo) pode ser considerada um mito e adequada como tema para Literatura. Pretende-se explicitar no decorrer do artigo as características básicas de mito diferenciando-o do conceito de lenda. Ao estabelecer um paralelo entre os dois, verificaremos em qual conceito a história em anexo se enquadra. PALAVRAS-CHAVES: Mito. Lenda. Literatura. INTRODUÇÃO O mito é uma das mais antigas formas de que se tem conhecimento sobre a origem do mundo, sobre os fenômenos naturais e a vida humana. Deriva do grego mythos, palavra, narração ou discurso, e dos verbos mytheyo (contar, narrar) e mytheo (anunciar e conversar). Sua função é descrever, lembrar e interpretar todas as origens, seja dos fenômenos naturais como vento, chuva, relâmpago, seja das causas primordiais que impuseram ao homem as suas condições de vida e seus comportamentos. Em síntese, mito é a primeira manifestação de um sentido que cada pessoa atribui para o mundo. Em Aurélio (2000, p. 466) Mito é um Relato sobre os seres e acontecimentos imaginários acerca dos primeiros tempos ou de épocas heróicas; narrativa de significação simbólica, transmitida de geração em geração dentro e determinado grupo, e considerada verdadeira por ele; Pessoa fato ou coisa real valorizados pela imaginação popular, pela tradição. * *Artigo exigido como requisito para Avaliação Parcial da disciplina Grego I ministrada pelo Prof. Kleber Rocha. **Aluna do 4º período do Curso de Letras Licenciatura em Língua Inglesa da Universidade Estadual Vale do Acaraú UVA.

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A HISTÓRIA DA MALDIÇÃO DA RUA VELHA COMO MITO E TEMA PARA

LITERATURA*

Marta Maria de Sousa Matos**

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo analisar se a HISTÓRIA DA MALDIÇÃO DA

RUA VELHA (em anexo) pode ser considerada um mito e adequada como tema

para Literatura. Pretende-se explicitar no decorrer do artigo as características

básicas de mito diferenciando-o do conceito de lenda. Ao estabelecer um paralelo

entre os dois, verificaremos em qual conceito a história em anexo se enquadra.

PALAVRAS-CHAVES: Mito. Lenda. Literatura.

INTRODUÇÃO

O mito é uma das mais antigas formas de que se tem conhecimento sobre

a origem do mundo, sobre os fenômenos naturais e a vida humana. Deriva do

grego mythos, palavra, narração ou discurso, e dos verbos mytheyo (contar,

narrar) e mytheo (anunciar e conversar). Sua função é descrever, lembrar e

interpretar todas as origens, seja dos fenômenos naturais como vento, chuva,

relâmpago, seja das causas primordiais que impuseram ao homem as suas

condições de vida e seus comportamentos. Em síntese, mito é a primeira

manifestação de um sentido que cada pessoa atribui para o mundo.

Em Aurélio (2000, p. 466) Mito é um

Relato sobre os seres e acontecimentos imaginários acerca dos primeiros tempos ou de épocas heróicas; narrativa de significação simbólica, transmitida de geração em geração dentro e determinado grupo, e considerada verdadeira por ele; Pessoa fato ou coisa real valorizados pela imaginação popular, pela tradição.

*

*Artigo exigido como requisito para Avaliação Parcial da disciplina Grego I ministrada pelo Prof. Kleber Rocha.

**Aluna do 4º período do Curso de Letras Licenciatura em Língua Inglesa da Universidade Estadual Vale do

Acaraú – UVA.

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O mito, nos dias de hoje, assumiu um sentido de história inventada, uma

mentira. Para entendermos o que é mito, devemos abandonar esse conceito, pois

o mito é uma história narrada, indiferente do julgamento que se faça sobre ela de

verdadeira ou falsa. Esse sentido original do mito está ligado a oralidade, pois a

Grécia Antiga possuía uma cultura estritamente oral. Como as histórias não eram

escritas, eram passadas de geração a geração através do canto.

Segundo Boof (1971, p. 62-63), o mito não é só uma forma de expressão,

Os símbolos e as imagens coligadas no mito refletem a realidade verdadeira existente, porém tão profunda e vasta que não poderá ser apreendida por conceitos próprios. Por isso, o mito não nasce do nada, mas, sim, de uma experiência profunda. O mito, porém, será vivido e vestido como material representativo de cada época. De tempos em tempos, morreram os mitos. Mas a realidade que os fez nascer está sempre aí a desafiar os homens e buscando irromper na consciência do espírito. Por isso, nascem de novo outros mitos, que por sua vez serão outras tantas tentativas de apreender o inapreensível, de formular o informulável, e deixar falar o que é de por si, indizível.

Com base nas palavras de Boof, entendemos que a HISTÓRIA DA

MALDIÇÃO DA RUA VELHA possuiu características de Mito, pois se trata da

tentativa dos moradores da cidade de Tejuçuoca em “apreender o inapreensível”,

assim como coloca Boof anteriormente. A história é a resposta aceitável para

explicar a maldição que Frei Vidal proferiu sobre o vilarejo, em manifesto da

reprovação do comportamento dos moradores, que estavam agindo de forma que

ofendiam a religião do Frei.

Por vezes, o mito é utilizado de forma pejorativa para se referir às crenças

comuns, aquelas que não apresentam fundamento objetivo ou científico. No

entanto, até histórias com caráter fantástico ou histórico só podem se transformar

em mitos, se adquire uma determinada carga simbólica para uma determinada

cultura.

Partindo desse pressuposto, verificamos que a HISTÓRIA DA MALDIÇÃO

DA RUA VELHA (em anexo) carrega fortes aspectos de mito, pois a referida

história apresenta grande importância na vida dos moradores da cidade de

Tejuçuoca. Mesmo tendo se passado mais de meio século da morte de Frei Vidal,

considerado pela população o grande responsável da cidade não evoluir, essa

história ainda possui muita significação para os moradores locais, eles crêem

profundamente que a cidade não consegue prosperar devido as palavras de

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maldição que o Frei Vidal proferiu sobre ela.

Segundo Mircea Eliade (2000, p. 12-13), o mito é uma realidade cultural

extremamente complexa,

que pode ser abordada e interpretada em perspectivas múltiplas e complementares. O mito conta uma história sagrada, relata um acontecimento que teve lugar no tempo primordial, o tempo fabuloso dos começos. O mito conta graças aos feitos dos seres sobrenaturais, uma realidade que passou a existir, quer seja uma realidade tetal, o Cosmos, quer apenas um fragmento, uma ilha, uma espécie vegetal, um comportamento humano, é sempre portanto uma narração de uma criação, descreve-se como uma coisa foi produzida, como começou a exisitir.

As palavras de Mircea fundamenta a tese que a HISTÓRIA DA MALDIÇÃO

DA RUA VELHA (em anexo) pode ser considerada um mito, pois essa história se

trata de uma crença interpretada sob ponto de vista de cada morador que a

repassa. Mircea esclarece que o mito é interpretado em perspectivas múltiplas, e

é uma realidade que passa a existir. Foi o que aconteceu na cidade de Tejuçuoca,

os moradores depositam tamanha credibilidade na referida história, que esta

passou a se tornar real e a fazer parte de suas vidas.

O mito fala daquilo que realmente aconteceu, do que se manifestou, sendo

as suas personagens conhecidas a partir dos seus feitos. Nas palavras de Mircea

Eliade (2000, p. 13), o mito é considerado como uma história sagrada,

e portanto uma história verdadeira, porque se refere sempre a realidades. O mito cosmogónico é verdadeiro porque a existência do mundo está aí para o provar, o mito da origem da morte é também verdadeiro porque a mortalidade do homem prova-o. E pelo fato de o mito relatar as gestas dos seres sobrenaturais e manifestações dos seus poderes sagrados, ele torna-se o modelo exemplar de todas as atividades humanas significativas.

Por esse motivo que a HISTÓRIA DA MALDIÇÃO DA RUA VELHA (em

anexo) se trata de um mito, pois o fato da cidade não evoluir é considerado a

prova concreta de que o Frei Vidal a amaldiçôo. Por esse motivo os moradores

defendem a referida história e esclarecem que não se trata de uma invenção, nem

calúnia contra o Frei Vidal.

O verdadeiro objeto do mito, contudo, não são os deuses nem os nossos

ancestrais, mas a apresentação de um conjunto de ocorrências, mesmo que

extraordinárias, com que se procura dar sentido ao mundo. O mito funciona como

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mediação simbólica entre o sagrado e o profano, e essa é uma condição

necessária para se explicar a origem do mundo e a relação entre os seres.

“Porém, o mito não é um relato qualquer, ordinário, profano. O mito conta uma história sagrada, isto é, exemplar, ocorrida num tempo originário e continuamente recuperável por meio do seu relato e da vivência dos ritos”. (XISTO, 2002, p. 88)

A HISTÓRIA DA MALDIÇÃO DA RUA VELHA (em anexo) se trata de um

mito porque não é uma história qualquer, ela apresenta fundamento para as

pessoas que a repassam. A história é fruto da vivência dos moradores, que

conhecem a realidade da cidade, e encontram na história da maldição do Frei

Vidal a resposta mais concreta para o fato da cidade não conseguir prosperar.

O mito detém de tanta importância e força que até mesmo Freud utilizou

dos mitos para explicar várias de suas teses, mesmo dando-lhe uma nova

orientação.

Mais que uma recordação ancestral de situações históricas e culturais, ou uma elaboração fantasiosa sobre fatos reais, os mitos seriam, segundo propõe Freud, uma expressão simbólica dos sentimentos e atitudes inconscientes de um povo, de forma perfeitamente análoga ao que são os sonhos na vida do indivíduo. (FRAGOSO, 2001)

Talvez tenha sido por esse motivo que Freud recorreu ao famoso mito

grego do “Édipo Rei” para denominar o Complexo de Édipo. Segundo Freud, o

mito do rei que mata o pai e casa com a própria mãe simboliza e manifesta a

atração de caráter sexual inconsciente que o filho, na primeira infância, sente pela

mãe e o desejo de substituir o pai. "Não será verdade que cada ciência, no final

das contas, se reduz a um certo tipo de Mitologia?" (Sigmund Freud, 2009)

O conceito de Mito muitas vezes é confundido com o de Lenda, porém esta

não tem compromisso nenhum com a realidade, são histórias sobrenaturais,

como é o caso da „Mula sem Cabeça‟ e do „Saci Pererê‟.

As Lendas são narrativas transmitidas oralmente pelas pessoas com o

objetivo de explicar acontecimentos misteriosos ou sobrenaturais. Para isso há

uma mistura de fatos reais com imaginários. Ao se tornarem conhecidas, as

lendas são registradas na linguagem escrita. Do latim lejenda „aquilo que deve ser

lido‟, as lendas inicialmente contavam histórias de santos, mas ao longo do tempo

o conceito se transformou em histórias que falam sobre a tradição de um povo e

que fazem parte de sua cultura.

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Os mitos, por sua vez, são narrativas utilizadas pelos povos para explicar

fatos da realidade e fenômenos da natureza que não são compreendidos por eles.

Todos estes componentes são misturados a fatos reais, características humanas

e pessoas que realmente existem. Um dos objetivos do mito é transmitir

conhecimento e explicar fatos que a ciência ainda não explicou.

Com base nessa distinção, é possível verificar que a HISTÓRIA DA

MALDIÇÃO DA RUA VELHA (em anexo) não poderia ser considerada uma lenda,

pois se tem certificação que o personagem principal da história, o Frei Vidal,

existiu e morou por algum tempo na cidade de Retiro, e como a Lenda trata do

sobrenatural, da cultura popular, a HISTÓRIA DA MALDIÇÃO DA RUA VELHA

(em anexo) não se encaixa no conceito de Lenda. A referida história é, portanto,

um mito, pois se trata da representação simbólica utilizada pelos moradores para

explicar algo que eles desconhecem, o fato da cidade não evoluir.

Segundo ARAÚJO (2007) o Mito tem caráter explicativo ou simbólico,

procura explicar as origens do mundo e do homem. O mito não faz uso de

nenhum tipo de embasamento para ser aceito como verdade. Alguns

acontecimentos históricos podem se tornar mitos, desde que as pessoas de

determinada cultura agreguem uma simbologia que tornem o fato relevante para

as suas vidas. Por esse motivo é que todas as culturas possuem seus mitos.

„Alguns acontecimentos históricos podem se tornar mitos, desde que as

pessoas de determinada cultura agreguem uma simbologia que tornem o fato

relevante para as suas vidas‟. É exatamente essa característica que nos leva a

concluir que a HISTÓRIA DA MALDIÇÃO DA RUA VELHA (em anexo) se trata de

um mito. O fato de o padre ter proferido ou não aqueles palavras de maldições,

não pode ser comprovado, porém a história é um mito porque os moradores da

região a usam como uma simbologia para explicar o fato da cidade não evoluir,

para dar sentido a algo que eles não compreendem. E essa é a característica de

maior relevância para entendermos o que é mito e podermos diferenciá-lo de

lenda.

Partindo do pressuposto que, em latim, a palavra Literatura “significa uma

instrução ou um conjunto de saberes ou habilidades de escrever e ler bem, e se

relaciona com as artes da gramática, da retórica e da poética” (Wikipédia, 2009).

Verificaremos se a HISTÓRIA DA MALDIÇÃO DA RUA VELHA (em anexo)

poderia ser adaptada como tema para Literatura.

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Segundo Afrânio Coutinho (1980, p. 9-10) a Literatura, como toda arte, é

uma transfiguração do real,

É a realidade recriada através do espírito do artista e retransmitida através da língua para as formas, que são os gêneros, e com os quais ela toma corpo e nova realidade. Passa, então, a viver outra vida, autônoma, independente do autor e da experiência de realidade de onde proveio. A Literatura é, assim, a vida, parte da vida, não se admitindo possa haver conflito entre uma e outra. Através das obras literárias, tomamos contato com a vida, nas suas verdades eternas, comuns a todos os homens e lugares, porque são as verdades da mesma condição humana.

Com base nas sábias palavras de Coutinho verificamos que a HISTÓRIA

DA MALDIÇÃO DA RUA VELHA (em anexo) poderia ser adaptada como tema

para literatura. A literatura é um dinâmico instrumento com o qual o ser humano

pode viajar pelos mundos em que ele crer, pois a realidade criada por cada

escritor passa a ser também a realidade para quem ler uma obra literária.

Poderíamos dizer que a HISTÓRIA DA MALDIÇÃO DA RUA VELHA (em anexo) já

é a literatura dos moradores de Tejuçuoca, uma literatura que não necessita dos

livros para se propagar, pois já ganhou força pela forma oral como é transmitida. É

Literatura porque os moradores repassam a história como eles acreditam que

aconteceu. E a função do poeta não é falar dos fatos da maneira como eles

acontecem, mas como eles poderiam ou deveriam acontecer.

A Literatura é um instrumento de comunicação, pois transmite os

conhecimentos e a cultura de uma comunidade. E como ela nasce vinculada a

certa realidade, interferindo nessa realidade, auxiliando no processo de

transformação social, a HISTÓRIA DA MALDIÇÃO DA RUA VELHA (em anexo)

poderia ser adaptada como tema para literatura. Pois é uma história fictícia que

recria a realidade, e esse é o papel da literatura, expressar fatos reais ou fictícios

a partir da visão e da interpretação do escritor.

Conclui-se então que a história da MALDIÇÃO DA RUA VELHA não é uma

lenda, pois não é uma história que trata do sobrenatural e as lendas não têm

compromisso nenhum com a realidade, são histórias que misturam realidade e

fantasia. A história em anexo é, portanto, um mito porque as pessoas da

comunidade que a repassam oralmente agregam uma simbologia, tomando o fato

de o padre ter amaldiçoado o vilarejo como uma explicação viável para a cidade

não prosperar. Outra característica do mito é o seu caráter explicativo ou

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simbólico, que através de uma narração tenta explicar fatos da realidade e

fenômenos que não são compreendidos pelas pessoas. Então como ninguém

daquela comunidade sabe realmente o motivo do padre ter amaldiçoado a cidade,

eles fazem uso da história para dá sentido ao que eles desconhecem. Verifica-se

também que a história em anexo poderia ser adaptada como tema para literatura,

pois a literatura pode se referir a fatos da realidade não como eles aconteceram,

mas como poderiam acontecer, e foi exatamente isso que os moradores de

Tejuçuoca fizeram. Por não saberem a verdadeira história eles a contam como ela

deveria ter se sucedido, as novas versões que vão surgindo se enriquecem, pois

são contadas sob o ponto de vista de cada morador que a repassa.

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BIBLIOGRAFIA

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http://www.infoescola.com/redacao/mito-ou-lenda. Acesso em 25 de Out. 2009. Às 20:08h. 2. BOOF, Leonardo. O Evangelho do Cristo Cósmico. A realidade de um mito: O mito de uma realidade. Centro de investigação e divulgação, teologia/I. Petrópolis - Rio de Janeiro: Vozes, 1971. 3. CASSIRER, Ernest. Linguagem e Mito. São Paulo: Editora Perspectiva, 1992.

4. COUTINHO. Afrânio. Notas de teoria literária. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora

Civilização Brasileira,1978.

5. ELIADE, Mircea. Aspectos do Mito. Edições70, 2000. 6. ELIADE, Mircea. Mito e realidade. 6ª ed. São Paulo: Perspectiva, 2006. 7. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Miniaurélio Século XXI Escolar. 4ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000. 8. FRAGOSO. Vítor. “O Mito, uma necessidade do homem?”. Disponível em

http://psicoforum.br.tripod.com/index/artigos/mito1.htm. Acesso em 25 de Out. 2009. Às 20:22h. 9. Literatura. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Literatura. Acesso em 20 de Nov. 2009. Às 19:26h. 10. NICOLA, José de. Literatura Brasileira das origens aos nossos dias. 15º ed. São Paulo: Editora Scipione, 2000. 11. Sigmund Freud. Disponível em: http://www.iadi.com.br/Pensamentos1. Acesso em 26 de Out. 2009. Às 21:30h. 12. XISTO, Daniela T. Ribeiro. Mito: a fala originária e sempre imperante.

Leopoldianum: Revista de Estudos e Comunicação da Universidade Católica de Santos. Abril/2002, nº 76.

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A HISTÓRIA DA MALDIÇÃO DA RUA VELHA

Por Marta Maria de Sousa Matos

Contam os mais velhos da cidade de Retiro, distrito do município de

Tejuçuoca, sobre um fato curioso e difícil de se crer, mas que às vezes parece

deter de tanto sentido, que leva aos mais jovens da comunidade a tamanha

curiosidade, impossível de se saciar.

Segundo Raimunda Matos de Sousa, 72 anos, tudo começou ao redor de

umas pequenas casas, que formaram um vilarejo, primeiramente denominado

Rua Velha, depois receberia o nome de Retiro. Sentiu-se a necessidade de se

construir uma capela no vilarejo então formado, o primeiro vigário a visitar a

região foi o Frei Vidal da Penha. Conta a senhora Raimunda Matos que algumas

pessoas do povoado começaram a faltar com o respeito ao Frei, passavam em

frente a capela cantando músicas libidinosas, com letras que ofendiam ao Frei e a

sua religião. Em uma das vezes o Frei Vidal tomou um grande susto, pois afirmou

ter visto o próprio diabo na corcunda de um dos moradores. O frei, irritado com o

comportamento da população, se dirigiu até um açude próximo e ao subir na

parede do açude disse “o Retiro jamais irá passar de Retiro”.

Alguns anos se passaram, e após o falecimento do Frei Vidal, os

moradores demoliram a capela e construíram outra, em um lugar bem próximo a

antiga.

Não se pode afirmar que a cidade prosperou, os moradores tentam de

todas as maneiras levar a evolução para o lugar, mas parece que a maldição do

Frei Vidal ainda se mantém forte. Os moradores que desejam prosperar na vida

têm que abandonar a sua terra natal, pois por lá, nada evolui. Alguns chegam a

duvidar dessa história, que é repassada até hoje, pelos mais velhos, em meio as

conversas nas calçadas das casas, ao cair da noite. O fato é que sempre quando

ocorre algo de retrocesso na cidade, todos lembram das palavras do Frei, do dia

em que o Frei Vidal proferir as palavras carregadas de maldição.

Retiro é uma cidade tranquila, conhecida pela acolhedora recepção do

povo e pelo belo artesanato, mas não passa disso. Parece que essa maldição do

Frei Vidal permanece até os dias atuais. E mesmo aqueles que duvidam da

maldição do Frei, uma vez por outra comentam que a culpa da cidade não evoluir

é toda dele.