Artigo crise do_egito_versao_8[1]

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Análise do Retorno das Ações Ordinárias das Principais Empresas do Setor de Petróleo Imediatamente Após a Deflagração da Crise do Egito RESUMO O presente artigo teve o objetivo de analisar o impacto do evento sistêmico “Crise do Egito” no comportamento do retorno das ações ordinárias de 04 empresas do setor de petróleo. O evento se desencadeou com os protestos violentos ao governo de Hosni Mubarak, em 24 de Janeiro de 2011, que culminou com a saída do presidente Egípcio. O tema apresenta relevância crescente, em face da importância da região para o setor petrolífero mundial e as vulnerabilidades dos mercados de capitais. A considerada “Crise do Egito” resultou em desestabilização política dos países da região, impacto no preço do barril de petróleo e expôs o mercado a diferentes riscos sistêmicos, por isso, a pesquisa visa verificar se houve geração de retornos anormais, estatisticamente significativos, nas ações ordinárias das principais empresas de petróleo. Para isso, a amostra analisada é composta por quatro significantes empresas do mercado de petróleo no mundo, a saber: Petrobras, British Petroleum, Exxon Mobil Corporation e Royal Dutch Shell. Para efetivar a análise, utilizou-se a metodologia de estudo de eventos, empregada por Campbell, Lo e Mackinley (1997), para comparação da diferença na média dos retornos anormais (anteriores e posteriores aos protestos) com a totalidade da amostra das empresas analisadas. Foi utilizado o nível de significância de 5%, para validação dos resultados obtidos, e para os cálculos dos retornos anormais e da análise dos testes estatísticos foi utilizado o software Microsoft Excel Office 2010. Pela matriz de correlação, percebemos que existe relação estatística entre os retornos das ações ordinárias, somente das empresas Petrobras, Exxon Mobil Corporation e Royal Dutch Shell. A tabela de comparação entre os retornos antes e depois dos eventos demonstra que na janela [-1,+1] as ações ordinárias apresentaram uma queda no seu retorno e na janela [-3,+3] o mercado reagiu positivamente se comparado com o período anterior ao evento, o que demonstra eficiência de mercado. Foi notado que o retorno das ações da British Petroleum é o pior em relação as demais empresas analisadas, o 1

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Análise do Retorno das Ações Ordinárias das Principais Empresas do Setor de Petróleo Imediatamente Após a Deflagração da Crise do Egito

RESUMO

O presente artigo teve o objetivo de analisar o impacto do evento sistêmico “Crise do Egito” no comportamento do retorno das ações ordinárias de 04 empresas do setor de petróleo. O evento se desencadeou com os protestos violentos ao governo de Hosni Mubarak, em 24 de Janeiro de 2011, que culminou com a saída do presidente Egípcio. O tema apresenta relevância crescente, em face da importância da região para o setor petrolífero mundial e as vulnerabilidades dos mercados de capitais. A considerada “Crise do Egito” resultou em desestabilização política dos países da região, impacto no preço do barril de petróleo e expôs o mercado a diferentes riscos sistêmicos, por isso, a pesquisa visa verificar se houve geração de retornos anormais, estatisticamente significativos, nas ações ordinárias das principais empresas de petróleo. Para isso, a amostra analisada é composta por quatro significantes empresas do mercado de petróleo no mundo, a saber: Petrobras, British Petroleum, Exxon Mobil Corporation e Royal Dutch Shell. Para efetivar a análise, utilizou-se a metodologia de estudo de eventos, empregada por Campbell, Lo e Mackinley (1997), para comparação da diferença na média dos retornos anormais (anteriores e posteriores aos protestos) com a totalidade da amostra das empresas analisadas. Foi utilizado o nível de significância de 5%, para validação dos resultados obtidos, e para os cálculos dos retornos anormais e da análise dos testes estatísticos foi utilizado o software Microsoft Excel Office 2010. Pela matriz de correlação, percebemos que existe relação estatística entre os retornos das ações ordinárias, somente das empresas Petrobras, Exxon Mobil Corporation e Royal Dutch Shell. A tabela de comparação entre os retornos antes e depois dos eventos demonstra que na janela [-1,+1] as ações ordinárias apresentaram uma queda no seu retorno e na janela [-3,+3] o mercado reagiu positivamente se comparado com o período anterior ao evento, o que demonstra eficiência de mercado. Foi notado que o retorno das ações da British Petroleum é o pior em relação as demais empresas analisadas, o que pode ser decorrente da não correlação com o retorno das ações ordinárias das demais empresas. O valor do p-value obtido, reforça que não ocorreram retornos anormais, ou seja, o mercado reagiu de forma eficiente e semiforte. É importante destacar que houve destruição da riqueza dos investidores de todas as empresas, exceto das ações ordinárias da Petrobras, que obteve retorno anormal equivalente a 5,88% no período analisado. Para concluir, a hipótese nula foi confirmada, pois existiu a ocorrência de retorno normal estatisticamente significativo, interpretado pelo coeficiente de significância p-value.

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1. INTRODUÇÃO

Os últimos acontecimentos iniciados em 17 de dezembro de 2010 na Tunísia quando a população se revoltou contra o desemprego no país, depois de um gesto de um jovem que ateou fogo ao próprio corpo por ser impedido de vender vegetais, culminaram com a saída em 14 de janeiro de 2011 do presidente Zine El Abidine Ben Ali que estava no poder a 23 anos. Tal incidente inspirou o povo egípcio a iniciar protestos para a renúncia do presidente Omar Suleiman Mubarak, no poder a 30 anos. Esses acontecimentos contribuíram para a desestabilização das gestões políticas de outros países da região, caracterizando uma elevada exposição a diferentes riscos sistêmicos, destacando a influência sobre o preço do barril de petróleo.

1.1 Objetivo e justificativa da escolha do tema da pesquisa

Considerando a importância da região para a logística do petróleo e as vulnerabilidades dos mercados de capitais, considerou-se oportuna a ocasião para analisar se esse evento sistêmico relevante contribuiu para a geração de retornos anormais estatisticamente significativos nas ações ordinárias das principais empresas do setor de petróleo mundial: Petrobras, British Petroleum, Exxon Mobil Corporation e Royal Dutch Shell.

1.2 Metodologia

Optou-se pela aplicação da técnica de estudo de eventos para verificar a ocorrência de retornos anormais estatisticamente significativos imediatamente após a deflagração da crise do Egito. A amostra é composta pelas principais empresas do setor petrolífero mundial e o período de teste compreende as janelas de 1, 3, 5, 15 e 30 dias imediatamente anteriores e posteriores a crise.

1.3 Hipótese Testada

H0 – Ocorrência de retorno normal estatisticamente significativo, interpretado pelo coeficiente de significância p-value, após a ocorrência do evento.

A hipótese alternativa seria:

H1 – A não ocorrência de retorno normal estatisticamente significativo, interpretado pelo coeficiente de significância p-value, após a ocorrência do evento.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

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2.1. Risco Sistêmico

Os primeiros modelos gerais para risco e retorno eram em grande parte subjetivos e variavam bastante de investidor para investidor. Com o desenvolvimento da moderna teoria de carteiras no início dos anos 50, surgiram modelos quantitativos e específicos de projeções de risco e retorno que tem sido amplamente aceitos (DAMODARAN, 1997).

As finanças modernas aceitam duas formas de risco, o risco não sistemático que afeta um pequeno número de ativos e pode ser eliminado através da diversificação de carteiras e o risco sistemático, que vamos abordar a seguir.

Para iniciar o conceito Ross, Westerfield, Jordan (2008) o risco sistemático pode influenciar um número grande de ativos. São as incertezas quanto à situação econômica geral ou forças às quais as empresas estão sujeitas, por exemplo, o PIB, taxas de juros ou a inflação. O risco sistemático de uma carteira de ações não pode ser eliminado através da diversificação de investimentos. Independentemente do número de ativos que colocamos em uma carteira, o risco sistemático não vai desaparecer.

Quanto ao chamado princípio do risco sistemático, Ross, Westerfield e Jordan (2008), dizem que o retorno esperado de um investimento de risco só depende do seu risco sistemático. Como o risco não sistemático pode ser eliminado sem custos, esse risco não possui prêmio, pois o mercado não premia os riscos corridos desnecessariamente. A medida utilizada para medir a quantidade de risco sistêmico em um ativo em relação a um ativo com risco médio é o coeficiente beta.

2.2. Hipótese do Mercado Eficiente

O conceito foi formalmente proposto por Fama (1970), um mercado de capitais eficiente é um mercado que fornece sinais precisos para alocação de recursos, os investidores podem tomar decisões sob a suposição de que o mercado estabelece um preço justo ao ativo e a qualquer momento mudanças de informações refletem imediatamente no preço. Para o autor na HME os agentes possuem um comportamento racional ilimitado e expectativas homogêneas, todos têm a mesma distribuição de probabilidades dos retornos dos ativos já que as informações econômicas estão disponíveis a todos.

Para Van Horne (1995) um mercado eficiente tem definição semelhante àquele que utiliza todas as informações relevantes e disponíveis na economia para estabelecimento do preço de um título e, conseqüentemente, se houver mudanças no ambiente os preços dos ativos se ajustam instantaneamente. Basicamente essa hipótese acredita que não é possível usar preços passados para prever preços futuros. Ainda, que o investidor preste atenção a novas informações, no momento em que é capaz de percebê-las os preços já estarão reajustados.

Ross, Westerfield, Jordan (2008) simplifica o conceito de HME como “um mercado no qual os preços dos títulos refletem as informações disponíveis”. São mercados de capitais bem organizados, como por exemplo, a bolsa de Nova Iorque, que na prática é um mercado considerado eficiente, onde podem existir ineficiências, mas elas são relativamente pequenas e pouco comuns.

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É possível verificar três formas de eficiência, segundo Ross, Westerfield, Jordan (2008), que se distinguem de acordo com o grau de eficiência do mercado. São elas: fraca, semiforte ou forte. Um mercado eficiente de forma forte é aquele em que todas as informações, públicas ou privadas, estão refletidas no preço da ação. Já um mercado eficiente de forma semiforte, acontece quando só as informações públicas, como as extraídas das demonstrações financeiras, estão refletidas no preço atual da ação. E por último um mercado eficiente de forma fraca é aquele que no mínimo o preço atual da ação reflete os preços passados, ou seja, incorporam informações públicas passadas.

Uma dos motivos para a compreensão de mercado de capitais eficientes para esse estudo é por conta da metodologia utilizada, estudo de evento. Como afirma McWilliams, Siegel (1997), em um mercado eficiente qualquer informação financeira relevante que acaba de ser revelada para investidores é instantaneamente incorporada aos preços das ações. Portanto, como um evento é algo resultante de novas informações relevantes, um pesquisador pode identificar eventos significativos por seu impacto sobre os preços das ações das empresas, definindo um período de dias durante o qual o impacto do evento será medido, ou seja, a janela do evento. A hipótese de mercado eficiente deve ser conciliada com uma janela de evento relativamente curta, já que o efeito do evento deve ser incorporado rapidamente no preço das ações, caso contrário a utilização do método de estudo de evento é inadequado.

Damodaran (1997) trabalha as evidências de estudos relacionados à eficiência de mercado, em geral, os resultados obtidos são contraditórios, o consenso na área está entre a visão de que o mercado na maioria das vezes é eficiente e a visão de que há ineficiências significativas no mercado financeiro. A conclusão do autor é que existem evidências fortes de irregularidade no comportamento do mercado financeiro, que estão relacionadas com os fatores de risco sistemáticos.

Para finalizar o tema, existem teóricos que contestam a ortodoxia do mercado de capitais eficiente na área da ciência financeira, como Costa (2008, p. 118-120), que acredita que a substituição da HME como paradigma principal está próxima, já que essa teoria não soluciona mais os problemas levantados na área, portanto esse paradigma se encontra no limite da evolução. Ele evidência como um dos possíveis candidatos a substituir a HME, a finanças comportamentais, que surge como uma tentativa de melhor resolução dos contra-exemplos, assunto que será aprofundado a seguir.

2.3. Finanças Comportamentais

Essa vertente que tem ganhando cada vez mais espaço na área de finanças começou com uma publicação dos psicólogos Kahneman e Tversky (1979). Em um trabalho que apresenta uma crítica à teoria da utilidade esperada e a tomada de decisão baseada no risco, o que era uma afronta a hipótese de mercado eficiente, assim abrindo espaço ao início do conceito de finanças comportamentais.

Para iniciar a definição do tema é importante ressaltar os estudos de Costa (2008), onde defende o conceito emergente de novas finanças, ele acredita que a ciência financeira moderna pode estar passando por uma revolução científica, já que seu paradigma principal a HME está em crise, o que pode resultar no surgimento de um novo paradigma baseado nas finanças comportamentais ou na teoria do caos. As finanças comportamentais visam explicar

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e entender as decisões financeiras dos agentes e o comportamento do mercado, através de conceitos presentes na economia, psicologia e sociologia e se apresenta como a melhor das promessas para a resolução dos contra-exemplos.

Diferente da hipótese de mercado eficiente, as finanças comportamentais não explicam o comportamento financeiro baseando-se apenas na concepção de risco. Além disso, as finanças comportamentais se dividem em dois grupos: vieses no processo cognitivo (de tomada de decisões) e limites ao aprendizado.

Vieses no processo cognitivo se referem a todos os processos inerentes a natureza humana, como o conjunto dos processos mentais no pensamento e na percepção, ou seja, a forma como a nossa natureza limita a percepção de um problema e a da tomada de decisão sobre ele, os quais não são possíveis de serem eliminados do ser humano. Limites ao aprendizado são limites naturais humanos que impedem o indivíduo de aprender com os erros e errar cada vez menos, está relacionado a experiências externas durante a vida e podem ser reduzidos com o tempo (MILANEZ, 2003).

De acordo com El-Erian (2008), nosso comportamento e a capacidade para tomada de decisões são guiados pela junção de diferentes sistemas neurológicos, que em algum momento podem estar sujeitos à tensão interior e a resultados conflitantes. O que impede o ser humano de ser movido unicamente pela racionalidade ilimitada, explicação que complementa a crença das finanças comportamentais.

Santos e Santos (2005), explanam sobre a dicotomia entre o pensamento racional, que acredita que é técnica e padronizado a ação de investidores no mercado e as novas correntes de pensamento que acreditam que a realidade não pode ser racionalmente determinada, já que a alta complexidade das relações entre os indivíduos não possibilitam que o investidor análise todo o conjunto de informações disponíveis para tornar somente racional sua decisão de investimento.

Na defesa do tema, Costa (2008) acredita que nas finanças comportamentais os elementos que contradizem a racionalidade não são irrelevantes, já que podem produzir desvios notáveis no comportamento do mercado. A hipótese do mercado eficiente acredita que existem indícios prejudiciais ao exercício da racionalidade total, mas não acredita que esses desvios são grandes o suficiente para afetar consideravelmente o comportamento do mercado. Portanto, as finanças comportamentais além de desacreditar na racionalidade ilimitada do ser humano, procura estudar as emoções e limitações cognitivas que podem influenciar o agente no processo de decisão sobre um investimento. E identificar a forma de como esses fatores impactam no desempenho do mercado financeiro.

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1. Introdução

Na investigação do impacto à crise do Egito sobre os retornos de ações ordinárias de quatro empresas norte-americanas do setor de petróleo, utilizou-se a metodologia de Estudo

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de evento. Segundo Corrado (2009) o estudo de evento vem se tornado muito comum para pesquisas no mercado de capitais, com número crescente de artigos especialmente em revistas e jornais especializados. Pois se trata de um método que consiste na verificação da influência de eventos específicos no desempenho das empresas, através da investigação dos efeitos de eventos específicos e os reflexos no mercado de títulos da empresa (SOARES, ROSTAGNO e SOARES, 2002).

Campbell, Lo e Mackinley (1997) definem estudo de evento como o método pelo qual é possível medir o efeito de um evento econômico no valor de uma determinada empresa e utiliza um modelo de geração de retorno de ações, considerado padrão, denominado de retorno normal ou esperado, que é tido como o retorno que o título teria caso o evento não ocorresse. Depois disso, para identificar um comportamento anormal nos períodos próximos a um evento específico analisado, calcula-se a diferença entre o retorno esperado fornecido pelo modelo e o retorno observado no período de análise. Isto é, focaliza-se a determinação de retornos anormais de títulos nos dias próximos ou na data do anúncio de um evento. Esse retorno anormal é considerado um desvio dos retornos dos títulos ex ante não condicionados ao evento (KLOECKNER, 1995).

O fato de a variância dos retornos aumentarem quando próxima à data de divulgação do evento, indica que este contém informações relevantes. Tal método é possível e eficaz em decorrência da hipótese de que, por causa da racionalidade do mercado, o efeito de um evento será refletido imediatamente nos preços dos ativos.

A utilização do estudo de evento nesta pesquisa visou:

Testar a hipótese nula de que o mercado eficientemente incorpora novas informações, sejam elas esperadas ou não esperadas; e

Examinar o impacto de um determinado evento na riqueza dos acionistas de uma determinada empresa mantendo-se a hipótese de mercado eficiente.

3.2. Amostra Pesquisada e Banco de Dados

Para este estudo a amostra é composta de quatro empresas representativas do mercado de petróleo no mundo, a saber:

Quadro 1: Ranking das maiores empresas por faturamento no mundo em 2010 (dados em milhões de dólares)

Posição de Mercado Empresa

Bolsa de Valores

Índices Utilizados

Código Indicador

Código Ação Receitas Lucros

2Royal Dutch Shell

NOVA YORK S&P 500 ^GSPC RDSA

285.129

12.518

3 Exxon Mobil NOVA S&P 500 ^GSPC XOM 284. 19.2

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YORK 650 80

4British Petroleum

LONDRES FTSE 100 ^FTSE BP.P

246.138

16.578

54 PetrobrasBOVESPA BOVESPA ^BVSP PETR3

91.869

15.504

Fonte: Elaborada pelos autores com dados coletados no ranking do new york times de 2010.

Os retornos das ações obtidos do banco de dados Yahoo Finance ((http://br.finance.yahoo.com), No cálculo dos retornos das ações ordinárias, foram utilizados os valores de mercado das empresas (cotações de fechamento diárias das ações ordinárias multiplicadas pela quantidade de ações da empresa).

3.3. Períodos de Análise

Foram formadas, a partir da ocorrência do evento sistêmico “crise do Egito”, diferentes janelas de tempo, compostas de períodos em dias, para avaliar o comportamento dos retornos das ações ordinárias antes e após a ocorrência do evento. Para extrair considerações e avaliar o comportamento do preço das ações ordinárias, foram selecionadas, inicialmente, cinco janelas, pós-evento sistêmico, são elas: [-1,+1], [-3,+3], [-5,+5], [-15,+15],e [-30,+30].

A escolha dessas cinco janelas visou avaliar se, de fato, o mercado incorpora imediatamente e de forma eficiente as novas informações no preço das ações (janelas [-1,+1], [-3,+3], [-5,+5]), sejam elas esperadas, sejam não esperadas, ou se isso ocorre de forma mais demorada – daí a inclusão das janelas [-15,+15],e [-30,+30]. Em princípio, o resultado esperado era que a maior valorização no valor de mercado das ações das amostras ocorresse imediatamente à ocorrência do evento sistêmico (janelas [-1,+1], [-3,+3], [-5,+5]).

3.4. Retornos Normais e Anormais

O estudo de evento consiste em avaliar o comportamento de uma variável qualquer a partir de um evento específico. A principal idéia é calcular se o evento ocorrido gerou algum desvio no resultado esperado. Este desvio no resultado esperado é mais conhecido por retorno anormal (RA). Segundo Vachadze (2001, p. 43) esta metodologia se tornou uma aplicação estatística muito utilizada em finanças e que contadores, advogados e outros profissionais aplicam para estimar o impacto de diferentes divulgações de informações no preço de ações.

Como o foco da pesquisa é analisar o retorno anormal dos títulos (RAit) ao redor de determinado evento, dado um modelo de determinação de retornos normais, utilizou-se a seguinte fórmula:

RAit = Rit – E(Rit) (1)

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Rit é o retorno observado, E(Rit) o retorno calculado pelo modelo e t o tempo do evento. O retorno normal (Rit) foi calculado utilizando-se o Modelo de Retornos Ajustados ao Mercado, descrito por Camargos e Barbosa (2003), que consiste em encontrar a diferença do retorno da ação em relação ao retorno do índice de mercado, neste caso a BOVESPA (Brasil), S&P500 (EUA) e a FTSE (Inglaterra), numa mesma data utilizando-se a forma logarítima.

O uso do logaritmo natural visa obter uma melhor aderência à distribuição normal dos retornos, premissa dos testes estatísticos paramétricos (SOARES; ROSTAGNO; SOARES, 2002), conforme mostra a expressão a seguir:

O modelo é expresso por:

RAit = LN [ (Pt+1/Pt0) / (It+1/ It0) ] (2)

Que pode ser reescrita como:

RAit = LN (Pt+1/Pt0) - LN (It+1/ It0) (3)

Sendo:

Pt0 : valor de mercado a preço corrente das empresas na data-base;

Pt+1: valor de mercado a preço corrente das empresas em um dia t posterior;

It0: cotação do índice de mercado em uma database;

It+1: cotação do índice de mercado em um dia t posterior.

Uma vez calculados os retornos anormais, estes foram acumulados (somados) em cada um dos dias relativos para todas as empresas, para então proceder-se aos testes estatísticos. A agregação dos retornos anormais foi realizada pela técnica do Retorno Anormal Acumulado (RAA), conforme assinalado por Campbell, Lo e Mackinlay (1997), e os retornos foram acumulados no tempo (Equação 4) e pelos títulos (Equação 5):

RAAi (t 1, t 2 )=∑t=1

t 2

RA¿ (4)

RAAt ( t 1 ,t 2)=1N∑i=1

N

RAAi (t 1 ,t 2 ) (5)

3.5. Procedimento para validação do teste

Para a validação dos resultados, utilizou-se o nível de significância de 5%. A hipótese do aumento da riqueza seria confirmada se a diferença estatística entre as médias fosse comprovada e a média posterior fosse superior à média anterior. Para a preparação dos dados, dos cálculos dos retornos anormais e da análise dos testes estatísticos utilizaram-se o software Microsoft Excel Office 2010.

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4. ANÁLISE DOS RESULTADOS

De acordo com a análise da matriz de correlação do retorno das ações ordinárias das empresas em estudo, podemos constatar que não existe relação estatística entre os retornos das ações ordinárias da Petrobras e da Exxon Mobil em relação British Petroleum. Por outro lado existe relação entre a Exxon, Royal Shell e Petrobras. A diferença no comportamento do retorno das ações ordinárias da Bitish Petroleum em relação às demais empresas petrolíferas analisadas pode ser explicada pelo fato da empresa possuir um evento em particular na qual as outras empresas não estão envolvidas.

Tabela 1 de Matriz de Correlação

Empresa Conteúdo Petrobras British Petroleum Exxon Mobil

British Petroleum Pearson correlation 0,022    

  p-Value 0,869    

Exxon Mobil Pearson correlation 0,223 0,046  

  p-Value 0,085 0,725  

Royal Dutch Shell Pearson correlation 0,285 0,221 0,434

  p-Value 0,026 0,087 0,000

Fonte: Elaborado pelos autores.

A tabela de comparação entre os retornos das ações antes e depois do evento demonstra que na janela [-1,+1], todas as ações ordinárias tiveram uma queda no seu retorno, demonstrando que o mercado reagiu negativamente logo após a ocorrência do evento.

Já na Janela [-3,+3], o mercado reagiu de forma positiva se comparado com o mesmo período anterior ao evento. Isso demonstra eficiência de mercado, pois o mercado estabilizou os valores das ações ordinárias dentro de um curto espaço de tempo (3 dias após o evento).

Nas demais janelas, os valores obtidos não nos remetem a conclusões objetivas, uma vez que a eficiência de mercado já foi demonstrada no período de 3 dias ex post evento. Porém é possível notar que o retorno das ações da British Petroleum é pior do que as demais empresas analisadas, resultado este também esperado devido ao fato da não correlação, em termos de retorno das ações ordinárias, com as demais empresas.

Tabela 2: Janelas de comparação de retornos antes e após os eventos

JanelaDias

Relativos PetrobrasBritish

PetroleumExxon Mobil

Royal Dutch Shell

Média Geral

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[-1] -0,76% 0,66% 1,58% 1,47% 0,74%1 [+1] -1,70% 0,00% 0,11% -0,65% -0,56%  variação -0,94% -0,66% -1,47% -2,12% -1,30%  [-3,-1] -3,51% -2,41% 0,36% 0,57% -1,25%2 [+1,+3] -0,86% -1,13% 0,87% 1,22% 0,03%  Desvio 2,66% 1,29% 0,51% 0,66% 1,28%  [-5,-1] -2,91% -0,39% 2,95% 1,97% 0,40%3 [+1,+5] 2,31% -2,46% 2,66% 2,10% 1,15%  Desvio 5,22% -2,07% -0,29% 0,13% 0,75%  [-15,-1] -2,08% 5,69% 7,45% 3,08% 3,54%4 [+1,+15] 2,26% -3,40% 7,90% -1,62% 1,28%  Desvio 4,34% -9,09% 0,45% -4,70% -2,25%  [-30,-1] 7,90% 8,64% 9,54% 6,68% 8,19%5 [+1,+30] 7,24% 0,23% 7,61% 2,28% 4,34%  Desvio -0,66% -8,40% -1,93% -4,41% -3,85%

Fonte: Elaborado pelos autores.

Verifica-se pela análise da tabela de resumo dos testes estatísticos do estudo de eventos que o p-value indica a não ocorrência de retornos anormais nas janelas em análise, o que também reforça a tese de que o mercado reagiu de forma eficiente ao evento. Os retornos anormais acumulados demonstram que, no prazo de 30 dias pós-evento, embora os retornos anormais não fossem estatisticamente significativos deve-se destacar a destruição da riqueza dos investidores de todas as empresas com exceção das ações ordinárias da Petrobras que demonstram um retorno anormal positivo equivalente a 5,88% no período analisado.

Tabela 3: Resumo dos testes de estudo de eventos

Empresa PetrobrasBritish

Petroleum Exxon MobilRoyal Dutch

Shell Média Geral

Dias Relativos

p-Value RAA

p-Value RAA

p-Value RAA

p-Value RAA

p-Value RAA

[+1] 0,7358-

0,84% 0,72000,41% 0,9636

-0,09% 0,6320

-0,78% 0,7628

-0,32%

[+1,+3] 0,5061 1,32% 0,8831

-3,27% 0,8348 0,46% 0,4265

0,86% 0,6626

-0,16%

[+1,+5] 0,3444 3,60% 0,8695

-1,58% 0,6736 2,10% 0,3048

1,80% 0,5481 1,48%

[+1,+15] 0,2314 3,69% 0,9470

-9,27% 0,4456 2,07% 0,5177

-5,81% 0,5354

-2,33%

[+1,+30] 0,2113 5,78% 0,9358

-6,76% 0,4606

-0,15% 0,5980

-3,04% 0,5514

-1,04%

Fonte: Elaborado pelos autores.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo principal deste artigo foi analisar se o evento sistêmico de deflagração da crise no Egito contribuiu para a geração de retornos anormais estatisticamente significativos nas ações ordinárias das principais empresas do setor de petróleo mundial, a saber: Petrobras, British Petroleum, Exxon Mobil Corporation e Royal Dutch Shell.

A deflagração da crise no Egito, iniciada por acontecimentos ocorridos em 17 de dezembro de 2010 na Tunísia, quando a população se revoltou contra o desemprego no país, depois de um gesto de um jovem que ateou fogo ao próprio corpo por ser impedido de vender vegetais, culminaram com a saída em 14 de janeiro de 2011 do presidente Zine El Abidine Ben Ali que estava no poder há 23 anos. Tal incidente inspirou o povo egípcio a iniciar protestos para a renúncia do presidente Omar Suleiman Mubarak, no poder a 30 anos. Esses acontecimentos contribuíram para a desestabilização das gestões políticas de outros países da região, caracterizando uma elevada exposição a diferentes riscos sistêmicos, destacando a influência sobre o preço do barril de petróleo.

Dada a magnitude do evento em análise, considerando a importância da região para a logística do petróleo e as vulnerabilidades dos mercados de capitais, intuitivamente se esperava quedas estatisticamente significativas nas taxas de retorno das ações ordinária das empresas do ramo petrolífero imediatamente após o evento. Essa expectativa foi confirmada se tomando como base a janela 1, composta de 1 dia anterior ao evento e 1 dia posterior ao evento [-1, +1]. Já na janela [-3,+3] o mercado reagiu de forma positiva se comparado com o mesmo período anterior ao evento, isso demonstra eficiência de mercado, pois o mercado estabilizou os valores das ações ordinárias dentro de um curto espaço de tempo (3 dias após o evento). Em assim sendo e ratificado pelos resultados dos testes estatísticos, considerado o teste p-value, a hipótese H0 fica confirmada, ou seja, não ocorreram retornos anormais estatisticamente significativos nas ações ordinárias das principais empresas do setor de petróleo mundial, após a ocorrência do evento de deflagração da crise no Egito.

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