Artigo Corrigido de Evane
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1
FACULDADE VALE DO JAGUARIBE – FVJ
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E
CLÍNICA
O BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL: PRAZER, DESENVOLVIMENTO E
APRENDIZAGEM
Evane Pereira de Araújo
CAICÓ – RN2012
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FACULDADE VALE DO JAGUARIBE – FVJ
O BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL: PRAZER, DESENVOLVIMENTO E
APRENDIZAGEM
Trabalho de conclusão do curso, apresentado como parte das exigências para a aprovação no curso de Especialização em Psicopedagogia Institucional e Clínica – FVJ, sob a orientação da Profª. Ma. Suenyra Nóbrega Soares
CAICÓ – RN2012
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Dedico este trabalho à DEUS, que é meu grande amigo e protetor. Aquele que me dá saúde, determinação e sabedoria para vencer mais uma etapa em minha vida. Aquele que tem o poder sobre todas as coisas.
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RESUMO
Neste artigo configura-se a importância e a relação entre jogos, brincadeiras e a criança. Buscando-se tecer algumas considerações acerca das possíveis contribuições sobre o uso dessas atividades lúdicas no espaço escolar, no entanto, direcionado para o ambiente próprio da Educação Infantil, visto que jogos e brincadeira, conforme os estudiosos são experiências afetivas que se correlacionam ao ambiente e devem ser aplicadas nesta fase escolar. Na metodologia, privilegiou-se a pesquisa bibliográfica, respaldada por expressivos referenciais teóricos como Freire (1996, 1997), Celso Antunes (2004), Moyles (2007), Fernandez (1991), Kishimoto (2007), dentre outros que dão ênfase a importância de jogos e brincadeiras no aprendizado escolar infantil. Os resultados deste trabalho apontam que os jogos e brincadeiras acontecem na vida da criança como fonte de conhecimentos extremamente prazeroso, por esta razão, proporcionam uma aprendizagem significativa para a criança no contexto da Educação Infantil.
PALAVRAS – CHAVE: Brincar. Importância. Aprendizagem.
ABSTRACT
In this article importance is configured it and the relation between games, tricks and the child. Searching to weave some considerações concerning the possible contributions on the use of these playful activities in the pertaining to school space, however, directed for the proper environment of the Infantile Education, since games and trick, as the scholars, are affective experiences that if correlate to the environment and must be applied in this pertaining to school phase. In the methodology, it was privileged bibliographical research, endorsed for expressive theoretical references as Freire (1996, 1997), Celso Antunes (2004), Moyles (2007), Fernandez (1991), Kishimoto (2007), amongst that they give to emphasis the importance of games and tricks in the infantile pertaining to school learning. The results of this work point that the games and tricks happen in the life of the child as source of knowledge extremely pleasant, for this reason, provide a significant learning for the child in the context of the Infantile Education.
KEY - WORDS: Play. Importance. Learning.
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INTRODUÇÃO
Os jogos são práticas culturais que se inserem no cotidiano das sociedades
em diferentes partes do mundo e em diferentes épocas da vida das pessoas. Assim,
evidencia-se o quanto eles participam da construção das personalidades e
interferem nos próprios modos de aprendizagem humana. A esse respeito Kishimoto
(2007, p. 99) afirma que a relevância do jogo vem de longa data. Filósofos como
Platão, Aristóteles e, posteriormente Quintiliano, Montaigne, Rousseau, destacam o
papel do jogo na Educação. Entretanto, é com Froebel, o criador do Jardim-de-
infância, que o jogo passa a fazer parte do Centro do Currículo de Educação Infantil.
Essa mesma autora (2007, p. 11) infere que: “Geralmente para os autores que
valorizam o emprego dos jogos, ele aparece como uma atividade livre, que dá prazer
e estimula o desenvolvimento físico, cognitivo e social”.
Nesse contexto, afirma-se que ensinar a criança de uma maneira mais
dinâmica é buscar cada vez mais o seu interesse em querer aprender. Os jogos e as
brincadeiras são uma maneira de ensino diferente do que a criança está
acostumada a ver. O brincar na escola é fundamental para promover atividades com
jogos, buscando um meio de aprendizagem prazeroso para a criança.
Rosa (1998, p. 17) expõe que:
O lúdico é extremamente saudável e deve ser considerado como um forte agente dinâmico e criativo. As atividades lúdicas tem o poder sobre a criança de facilitar tanto o progresso de sua personalidade integral, como o progresso de cada uma de suas funções psicológicas, intelectuais e morais.
Diante disso, pressupõe-se que cabe a escola resgatar o espaço de
brincadeira e perceber que a prática pedagógica deve atender as reais
necessidades das crianças porque desde pequenas elas apresentam atitudes de
interesse em descobrir o mundo que a cerca, e podem realmente construir o
conhecimento. Se a escola atuar de forma positiva, garantindo a possibilidade para o
desenvolvimento do brincar e considerando que a brincadeira ocupa espaço central
na Educação Infantil, ela possibilitará a criança uma forma de assimilar a cultura e o
modo de vida adulto bem mais criativo e social, estabelecendo relações com os
outros e com ela mesma.
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A consecução do referido trabalho deu-se através de pressupostos teóricos
como Fernandez (1991), Antunes (2004) Freire (1996 – 1997), Kishimoto (2007) e
Moyles (2009) e com base nesses autores, refletir sobre o porquê da utilização
desses recursos (jogos e brincadeiras) na Educação Infantil.
Assim, foi utilizada uma pesquisa bibliográfica, tendo como objetivo geral,
refletir sobre a importância do jogar e brincar na prática pedagógica, como facilitador
do ensino-aprendizagem do aluno pré-escolar e sua influência como forma de
descoberta da criança, desenvolvendo novas aprendizagens e habilidades,
proporcionando oportunidades de desenvolvimento psicomotor, cognitivo e
socioafetivo, além de possibilitar exercício de concentração, de atenção, de
engajamento e de autoconfiança.
Delineia-se como objetivos específicos: apontar os benefícios das atividades
lúdicas no espaço pré-escolar; estimular as habilidades e aquisição de
conhecimento através de jogos e brincadeiras no ambiente da pré-escola por parte
dos educadores; demonstrar o quanto a ludicidade contribui de forma positiva para a
aprendizagem infantil e, destacar a importância do lúdico como instrumento
metodológico de ensino na pré-escola dando enfoque ao psicopedagógico atribuído
por educadores em suas práticas educativas.
A escolha desse tema teve como ponto de partida a necessidade de
conhecer a importância do brincar para a criança e as influências no comportamento
e no progresso da aprendizagem, enfatizando os aspectos cognitivos e emocionais
através da prática escolar.
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A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NA VIDA DAS CRIANÇAS
Moyles (2006, p. 87), referencia o brincar como sendo uma excelente
oportunidade para experimentar combinações de comportamento que não seriam
experimentadas sob pressão funcional. Um contexto “lúdico” permite ao aprendente
a liberdade de experimentar sem o medo de erros potencialmente dispendiosos ou
embaraçosos. O brincar é a maneira de a criança aprender, e negligenciar ou
ignorar o papel de brincar como um meio educacional é negar a resposta natural da
criança ao ambiente e, na verdade, a própria vida.
Partindo desse pressuposto, é possível entender porque o brincar se torna tão
importante quanto comer, dormir, falar. A criança ao brincar se desenvolve, provoca
o funcionamento do pensamento, prepara-se para o futuro, e, principalmente,
brincando a criança está nutrindo sua vida interior descobrindo suas habilidades,
buscando um sentido para a sua vida.
Ainda de acordo com Moyles (2006), em entrevista concedida à Revista Pátio
Educação Infantil, em relação às contribuições das brincadeiras para o
desenvolvimento das crianças argumenta:
Brincar é uma parte fundamental da aprendizagem e do desenvolvimento nos primeiros anos de vida. As crianças brincam instintivamente e, portanto, os adultos deveriam aproveitar essa inclinação "natural". Crianças que brincam confiantes tornam-se aprendizes vitalícios, capazes de pensar de forma abstrata e independente, assim como de correr riscos a fim de resolver problemas e aperfeiçoar sua compreensão. (MOYLES, 2009, p. 19)
Sendo assim, resgatar a potência do brincar para a ação educativa na escola
da infância significa compreender que o ato de brincar é também um modo legítimo
de pensar, de aprender a pensar, e que não pode faltar no dia-a-dia do profissional
da Educação Infantil, sendo instrumento valioso para todos aqueles que amam a
infância e que gostariam de preservá-la no que tem de encantador e mágico.
Dolto (1999) afirma que: privar uma criança de brincar é privá-la do prazer de
viver. Brincar é aprender a ser, é aprender a viver tanto sozinha, quanto com os
outros, trocando brinquedos, descobrindo novos jogos. São modos de linguagem
que se descobrem, novas dificuldades para superar, interesses para descobrir e,
sobretudo um prazer.
Como afirma Winnicott apud Oliveira (1994, p. 36-37):
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O brincar é universal, facilita o crescimento e, portanto, a saúde, conduz a relacionamentos grupais, é uma forma de comunicação consigo mesmo e com os outros; tem um lugar e um tempo muito especiais, não sendo algo só “de dentro”, subjetivo, interno, ou só “de fora”, objetivo, externo, mas se constituindo justamente num espaço potencial entre o eu e o não eu, entre os mundos internos e externos, que justamente vão se formando na medida em que o brincar se desenvolve de forma criativa e original.
Brincando, o indivíduo age como se estivesse em outro tempo e lugar,
embora esteja inteiramente conectada com a realidade. Para quem brinca a
pergunta “Brincar para quê?” é vã, porque se brinca por brincar. Porque brincar é
uma forma de viver. Brincar em um cantinho sozinho, ou apenas com um amigo
pode ser bom, mas também é uma delícia brincar com muitos amigos no pátio ou na
sala de aula. A escolha que as crianças fazem acerca dos objetos, espaços e
companheiros de brinquedo é um meio fundamental de acesso ao seu universo
mental. Suas escolhas contam muito dos seus desejos, medos, capacidades e
potencialidades.
Nessa mesma ótica Borja1 (2011) argumenta:
As espécies mais evoluídas, isto é, com maior capacidade de aprender, utilizar instrumentos ou interpretar o mundo, são aquelas que brincaram mais horas em sua infância. De fato, existe uma correlação positiva entre o peso e complexidade da massa cerebral, a posição que cada espécie ocupa na escala animal e a complexidade e duração do tempo de brincadeira na infância de cada espécie. Assim, os ratos brincam nos primeiros dias de vida, os gatos ou cachorros nos primeiros meses e as pessoas nos muitos anos de infância e para sempre. Essa duração e essa capacidade lúdica distintas nas diferentes espécies incidem no desenvolvimento ou na evolução de cada uma delas. Na espécie humana, quanto mais brincarmos na infância – em qualidade e quantidade -, mais possibilidades teremos na vida adulta, porque o brincar incide no desenvolvimento das possibilidades pessoais: habilidades, capacidades, inteligências múltiplas e competências com que nascemos e das quais precisamos ao longo da vida.
O jogo, o brinquedo e as brincadeiras possibilitam a expressão de
sentimentos e vivências diversas, desde o amor até as angústias, representando
testemunhos históricos e culturais da sociedade, possuindo um valor educativo
intrínseco que permeia todos estes aspectos, inserindo, portanto, a criança no
mundo real em que vive.
O PAPEL DO PROFESSOR PERANTE O BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL1 Revista Pátio, Educação Infantil, nº 27, 2011.
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Além de desempenhar o papel de mediador, o professor também tem o papel
de educador. Ser educador significa orientar os alunos em todos os momentos, nas
situações que possam surgir dentro e fora da escola. A orientação dada pelo
professor de Educação Infantil tende a influenciar o desenvolvimento da criança, por
isso, é fundamental que o professor aja com discernimento, boa vontade e respeito
pelo que faz, pela escola e principalmente pelos alunos, que são indivíduos que
estão conhecendo o mundo e assimilando novos conceitos.
Moyles (2006, p. 140) ressalta que:
Quando as crianças ingressam na escola, são os professores que precisam continuar fornecendo experiências que ampliem o seu conhecimento do mundo, essa é, em grande extensão, a função da escolarização. As crianças continuam tendo experiências fora da escola, mas agora elas são suplementadas por uma substancial experiência dentro da escola.
Nessa perspectiva, dar às crianças oportunidades de experiências lúdicas de
qualidade é um desafio que todos os educadores da primeira infância precisam
enfrentar. Existem sólidas evidências de que uma educação infantil de alta
qualidade, que tenha no brincar um veículo fundamental de aprendizagem, pode ter
um efeito significativo e duradouro sobre o desenvolvimento educacional e social
das crianças. Os educadores se ocuparam durante muitos anos com os métodos de
ensino e só hoje a preocupação esta sendo descobrir como a criança aprende. As
mais variadas metodologias podem ser ineficazes se não forem adequadas ao modo
de aprender da criança. A criança sempre brincou, independentemente de épocas
ou de estruturas de civilização, é uma característica universal.
O brincar para criança é o exercício, é a preparação para a vida adulta.
Roberto Fulghum (2004, p. 07) resume a importância da educação formalizada na
primeira infância da seguinte forma:
Tudo que eu precisava realmente saber sobre como viver, o que fazer e como ser, aprendi no jardim de infância. A sabedoria não estava no topo da montanha mais alta, no último ano de um curso superior, mas, sim, no tanque de areia do pátio da escolinha do maternal.
Dessa forma, a posição explícita de Robert Fulghum, sobre a importância do
brincar, confere que os educadores dos primeiros anos são as pessoas que ajudam
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as crianças a construírem as pontes de entendimento entre suas experiências
individuais e os conhecimentos mais formais sobre o mundo, dos quais depende a
educação posterior. A escola tem uma responsabilidade cada vez maior de garantir,
para as crianças, oportunidades de descobrir a respeito de si mesma e do seu
mundo e que tenham o direito de aprender de uma maneira que seja apropriada
para elas, por meio do brincar.
Nesse sentido é interessante citar Freire (1996, p. 28):
O professor que pensa certo deixa transparecer aos educandos que uma das bonitezas de nossa maneira de estar no mundo, como seres históricos, é a capacidade de intervindo no mundo, conhecer o mundo. Mas, histórico como nós, o nosso conhecimento do mundo tem historicidade. Ao ser produzido, o conhecimento novo supera outro que antes foi novo e se fez velho e se “dispõe” a ser ultrapassado por outro amanhã.
Ainda para Freire (1996, p. 47 – 49), saber que ensinar não é transferir
conhecimentos, mais criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua
construção. Pensar certo – e saber que ensinar não é transferir conhecimento, é
fundamental pensar certo – é uma postura exigente, difícil, às vezes penosa, que
temos de assumir diante dos outros e com os outros, em face do mundo e dos fatos,
ante nós mesmos. É difícil, entre outras coisas, pela vigilância constante que temos
de exercer sobre nós próprios para evitar os simplismos, as facilidades, as
incoerências grosseiras. O clima do pensar certo não tem nada que ver com o das
fórmulas preestabelecidas, mas seria a negação do pensar certo se pretendêssemos
forjá-los na atmosfera da licenciosidade ou do espontaneísmo. Sem rigorosidade
metódica não há pensar certo.
Estar no mundo sem fazer história, sem por ela ser feito, sem fazer cultura,
sem “tratar” sua própria presença no mundo, sem sonhar, sem cantar, sem musicar,
sem pintar, sem cuidar da terra, das águas, sem usar as mãos, sem esculpir, sem
filosofar, sem pontos de vista sobre o mundo, sem fazer ciência, ou teologia, sem
assombro em face do mistério, sem aprender, sem ensinar, sem ideias de formação,
sem politizar não é possível.
Como afirma, Oliveira (1994, p. 23 e 24):
A maneira como uma criança brinca, reflete sua forma de pensar e sentir, nos mostrando, quando temos olhos para ver, como está se organizando frente à realidade, construindo sua história de vida, conseguindo interagir com as pessoas e situações de modo original, significativo e prazeroso, ou
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não. A ação da criança ou de qualquer pessoa reflete enfim sua estruturação mental, o nível de seu desenvolvimento cognitivo e afetivo-emocional.
O bom clima pedagógico-democrático é o que o educando vai aprendendo à
custa de sua prática, embora sabendo que sua curiosidade e sua liberdade deve
estão sujeita a limites, mas em permanente exercício. O fundamental é que
professor e alunos saibam que sua postura, é dialógica, aberta, curiosa, indagadora
e não apassivada, enquanto fala ou enquanto ouve. Assim, é necessário que ambos
se assumam epistemologicamente curiosos.
Nesse sentido Paulo Freire (1996, p. 86) acrescenta: “O bom professor é o
que consegue, enquanto fala trazer o aluno até a intimidade do movimento de seu
pensamento”. Sua aula torna-se assim um desafio e não uma “cantiga de ninar”.
Perante o exposto, acredita-se que, por vários motivos, cabe ao professor
perceber que a prática pedagógica deve atender às reais necessidades das
crianças, porque desde pequenas, elas apresentam atitudes de interesse em
descobrir o mundo que as cercam e podem realmente construir o conhecimento.
A atividade lúdica é reconhecida como meio de fornecer à criança um
ambiente agradável, motivador, planejado e enriquecido, que possibilita a
aprendizagem de várias habilidades, além de trabalhar estas habilidades na criança,
ajudará no desenvolvimento da criatividade, na inteligência verbal-linguística,
coordenação motora, entre outras.
Perspectivas semelhantes são contempladas por Antunes (2004, p. 31)
quando afirma:
É no ato de brincar que a criança se apropria da realidade imediata, atribuindo-lhe significado. Brincando, a criança desenvolve a imaginação, fundamenta afetos, explora habilidades e, na medida em que assume múltiplos papéis, fecunda competência cognitivas e interativas.
E continua, (2004, p. 31): “A brincadeira bem conduzida estimula a memória,
exalta sensações emocionais, desenvolve a linguagem interior - e, ás vezes, a
exterior – exercita níveis diferenciados de atenção e explora com extrema
criatividade diversos estados de motivação”. Ora, a aprendizagem e a construção de
significados pelo cérebro se manifesta quando este transforma sensações em
percepções e estas em conhecimentos, mas esse trânsito somente se completa de
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forma eficaz quando aciona os elementos essenciais, proporcionados pelo bom
brincar, que são memória, emoção, linguagem, atenção, criatividade e motivação.
Em suas brincadeiras, as crianças constroem seus próprios mundos e deles
fazem o vínculo essencial para compreender o mundo adulto, dão novos significados
e reelaboram acontecimentos que estruturam seus esquemas de vivências, sua
variedade e pensamentos e a gama diversificada de sentimentos que têm. Toda
criança que se encontra distanciada da criação desse “mundo” se afasta da
significação do “outro mundo” em que como adulto, buscará decifrar e estabelecer
linhas de convivência. É com triste frequência que se descobre que, em muitos
desajustes apresentados por adultos, ancora-se a ausência ou distancia do
devaneio tão marcante no “faz de conta”, com o qual se arquiteta o mundo infantil.
Não é, pois, sem razão que a brincadeira representa o sólido eixo da proposta
educativa de uma boa escola de Educação Infantil.
O BRINCAR, O BRINQUEDO E A EDUCAÇÃO INFANTIL
O brinquedo é uma das formas pelas quais a natureza optou para favorecer o
desenvolvimento das etapas maturacionais pelas quais todas as crianças tem de
passar. Antunha (2006, p. 58) argumenta que:
A criança que demonstra prazer no brinquedo revela que seu organismo esta em vias de produção adequada de neurotransmissores que promovem a integração entre vertentes afetivas, cognitiva e intelectual, mobilizando dispositivos que vão desde o tronco cerebral que regula a vida, o hipotálamo, que preserva a memória, o sistema límbico, que rege a afetividade (tálamo e córtices cingulados), até atingir as estruturas superiores associativas neocortais e ao lobos frontais e neofrontais, responsáveis pelas practognosias, linguagem, pensamento, tomada de decisão, enfim, a mente consciente e criatividade.
Assim, se a ciência mostra que o período que vai da gestação até o sexto ano
de vida é o mais importante na organização das bases para as competências e
habilidades desenvolvidas ao longo da existência humana, prova-se que a etapa
educacional referente a essa faixa etária é imprescindível para o desenvolvimento
humano.
Na construção do ser humano, o brincar representa um papel primordial em
suas diversas modalidades e manifestações universais. Desde o berço, em contato
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com a mãe e, posteriormente, com colegas, o brincar torna-se imperativo. A mesma
força, que impele a comer e a amar, leva a criança a criar situações lúdicas, sendo
de tal magnitude o campo do brinquedo que é impossível fazer um elenco de todos
eles, com suas variações nas diversas culturas. A esse respeito, Santos (2000, p.
68) confirma:
Para a criança nada é mais importante do que os brinquedos, pois estes proporcionam um mundo do tamanho de sua imaginação. Para que a criança se torne um adulto saudável e bem ajustado é necessário que seu corpo esteja constantemente ativo, sua mente alerta e curiosa, seu ambiente dotado de materiais atrativos e sua inter-relação com as outras pessoas se efetive de modo natural e efetivamente bem estruturado.
Por essa razão, brincar para a criança é um meio de expressão que simboliza
suas experiências, o conhecimento de seu pequeno mundo, seus desejos, suas
frustações, seus sonhos e suas fantasias. Ela recorda, inventa, imagina, transforma
e expressa. Neste caso, um pedaço de pau pode ser um avião que, com seu ruído
estridente voa pelo ar, um carro que passa na rua, um cavalinho que ela monta ou
qualquer outra coisa. E assim, seu mundo se recria e suas representações e
experiências se expande.
A criança sem a fantasia do brincar jamais terá o encanto, o mistério e a
ousadia dos sonhadores que a emoção proporciona, e o brinquedo, entendido como
suporte material da brincadeira, estimula a representação a expressão de imagem,
ao mesmo tendo que evoca aspecto da realidade vivida pela criança. Durante a
brincadeira a criança inventa uma realidade que depende exclusivamente da
atividade imaginativa, durante a qual o objeto é de tal forma secundário que chega a
perder suas características intrínsecas. Um pedaço de pau torna-se um cavalo
simplesmente porque, ao colocá-lo entre as pernas, a criança imagina-se
cavalgando. Segundo Moyles (2006, p. 26-27):
Grande parte do brincar da criança da pré-escola será simbólico. As crianças fingem que uma ação ou um objeto tem um significado usual na vida real. Isso porque as crianças ficam livres para experimentar novas ideias no brincar e podem se expressar à sua própria maneira, especialmente no jogo simbólico e no brincar de faz-de-conta em que podem inventar papéis e criar uma história, guiadas livremente pela própria imaginação.
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No entanto, afirma-se que brincar é lidar com o mundo de forma lúdica, isto é,
fazer o que lhe dá prazer e os brinquedos são elementos culturais que a criança
encontra no seu ambiente imediato, assim ela descobre o mundo brincando,
aprende a ampliar o seu relacionamento social e a respeitar a si mesmo e ao outro.
Portanto, as crianças, tendo a oportunidade de brincar, estarão mais preparadas
emocionalmente para controlar suas atitudes e emoções dentro do contexto social,
obtendo assim melhores resultados gerais no desenrolar da sua vida.
O JOGO, O BRINQUEDO E A BRINCADEIRA: UM OLHAR PSICOPEDAGÓGICO
O lúdico é extremamente saudável e deve ser considerado como um forte
agente dinâmico e criativo, podendo ser aproveitado em todas as atividades que
promovam a aprendizagem, cooperando dessa forma, para que o aprender torne-se
um prazer. Ao longo da história da humanidade, foram inúmeros os autores que se
interessaram, direta ou indiretamente, pela questão do brincar, do jogo, do
brinquedo e da brincadeira. Neste contexto, Weiss (2002, p. 59) enfatiza:
Criar uma atmosfera de brincadeira durante a terapia não tem só o objetivo de divertir, é vantajoso porque a criança tem a possibilidade de investir ativamente, de explorar a atividade e o ambiente com maior sucesso, uma vez que esse é estruturado para tal, permitindo a criança tornar-se madura e capaz de organizar de maneira eficiente à informação sensorial, aumentando sua autoconfiança e auto-estima o que, consequentemente, irá ajudá-la a desempenhar seu papel ocupacional, que o do brincar.
Assim, a psicopedagogia tem se constituído no espaço privilegiado para
pensar sobre as questões de ensino-aprendizagem. Sendo assim, está intimamente
ligada ao ato de brincar, como fonte de conhecimento. Por meio de técnicas e
métodos próprios, o psicopedagogo possibilita uma intervenção psicopedagógica
visando à solução de problemas de aprendizagem. Nessa ótica é interessante citar
Fernandez (1991, p. 168):
Utilizamos a hora do jogo (que nós levamos pautado quando a ordem, tipo de caixa e tipo de objeto) para compreender alguns processos que podem ter levado a gestação de uma patologia no aprender, já que: o espaço de aprendizagem e o espaço de jogar são coincidentes; ambos os processos tem momentos analogizáveis (inventário-organização-integração), o brincar possibilita o desenvolvimento das significações de aprender.
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Outrossim, a psicopedagogia surgiu para responder os problemas
decorrentes do processo de aprendizagem humana, sendo o seu objeto de estudo o
ser em processo de construção do conhecimento. A aprendizagem humana,
portanto é determinada pela interação entre o individuo e o meio, da qual participam
os aspectos biológicos, psicológicos e sociais. No movimento de procurar entender
estes aspectos é que o psicopedagogo constrói o seu trabalho, visando a diminuição
dos problemas de aprendizagem e do fracasso escolar.
E nesse contexto de múltiplas interações que as atividades lúdicas são
utilizadas no diagnóstico psicopedagógico, pois fazem com que as crianças revelem
aspectos que não aparecem em situações mais formais do diagnóstico. Bossa
(2000, p. 155) evidencia que “é através do jogo, do brinquedo, que se estabelece
uma via de comunicação entre o sujeito e o psicopedagogo que poderá intervir no
sentido da aprendizagem”.
Com o uso dessa ferramenta é possível analisar as significações do aprender
para a criança, além de se poder conhecer mais a respeito de suas aptidões: como
ele cria, reflete, organiza, interage e integra. Através dos jogos é possível apreender
aspectos importantes da constituição psíquica de uma criança, assim como seu nível
de desenvolvimento social e cognitivo.
Nesse sentido, o jogo pode ser utilizado tanto no diagnóstico
psicopedagógico, quanto recurso para posterior intervenção psicopedagógica,
favorecendo a análise de processos de pensamento utilizados pela criança e das
relações que ela estabelece com o parceiro e com as regras de serem
estabelecidas. Nesse sentido Weiss (2002, p. 77) esclarece:
Por ser o jogo inerente ao homem, e por revelar sua personalidade integral de forma espontânea, é que se pode obter dados específicos e diferenciados em relação ao Modelo de Aprendizagem do paciente. Assim, aspectos do conhecimento que já possui, do funcionamento cognitivo e das relações vinculares e significações existentes no aprender [...] podem ser claramente observadas através dos jogos.
A partir desses pressupostos pode-se perceber que para o psicopedagogo, a
brincadeira se torna uma forma de interação e socialização prazerosa que
proporciona a troca de conhecimento de modo espontâneo e necessário no
processo de ensino, pois nesse momento as crianças interagem e aprendem de
forma natural e divertida, sem as pressões de um ambiente estranho, podendo
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externalizar o que as incomoda, quebrando as barreiras de forma espontânea.
Assim, faz-se importante integrar a brincadeira ao processo de intervenção, o que se
supõe intencionalidade, objetivos e consciência da relevância dessa ação em
relação ao processo de busca, a uma aprendizagem significativa.
Ao se referir a psicopedagogia, Fernandez (1991, p. 167) sublinha:
Dizemos que o objetivo do trabalho psicopedagógico dirige-se a ajudar a recuperar o prazer perdido de aprender e a autonomia do exercício da inteligência, esta conquista vem de mãos dadas com o recuperar o prazer de jogar. Para jogar necessita-se de um outro, e um espaço de confiança.
Essa mesma autora (1991, p. 171) ao citar Sara Paín coloca: “Observamos
que o jogar e o aprender apresentam momentos análogos”. Nesse sentido, o brincar
se destaca para revelar que os esquemas que a criança utiliza para organizar as
brincadeiras, os jogos e os brinquedos são os mesmos que ela utiliza para lidar com
o conhecimento.
Nessa perspectiva fica, portanto, evidenciado a essencialidade do lúdico no
trabalho psicopedagógico, tanto no aspecto clínico quanto no institucional. No
próprio diagnóstico, este pode ser encarado como uma possibilidade de
compreender o funcionamento dos processos cognitivos e afetivos-sociais, dessa
forma o psicopedagogo poderá desenvolver novas habilidades no repertório da
aprendizagem e na prevenção e intervenção de futuros problemas de aprendizagem
infantil.
CONSIDERAÇÕES CONCLUSIVAS
Através deste trabalho, fica possível perceber que o brincar realmente é
capaz de elevar o padrão da educação inicial. De acordo com os diversos autores
referendados, há muitas evidências que apontam experiências curriculares infantis
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baseadas no brincar construtores do conhecimento. Por que então não ensinar a
criança, de uma forma prazerosa e, portanto eficiente?
A utilização de jogos e brincadeiras como facilitadores na aprendizagem, em
especial, na Educação Infantil, é sem dúvida, a solução para se obter resultados
positivos no processo de ensino aprendizagem das crianças, porém é importante
que se tenha bem definidos os objetivos que se quer alcançar mediante o brincar, e
ter cuidado também com as brincadeiras que se vai mediar, para que estas estejam
ligadas ao momento correto do desenvolvimento da criança.
Outrossim, os brinquedos e as brincadeiras são fontes inesgotáveis de
interação lúdica e afetiva. Neste sentido, Carvalho (1992, p. 28) afirma que:
"[...] desde muito cedo o jogo na vida da criança é de fundamental importância, pois quando ela brinca, explora e manuseia tudo aquilo que está a sua volta, através de esforços físicos e mentais e sem se sentir coagida pelo adulto, começa a ter sentimentos de liberdade, portanto, real valor e atenção às atividades vivenciadas naquele instante."
Sendo assim, a escola tem uma responsabilidade cada vez maior de garantir
que as crianças não sejam privadas das oportunidades de descobrir a respeito de si
mesmo e de seu mundo, e que tenham o direito de aprender de uma maneira que
seja apropriada para elas – por meio de seu brincar. Entretanto, os professores
precisam reconhecer que, para que o brincar realmente ofereça as crianças
experiências ampliadas, é preciso planejar cuidadosamente e ensinar com
inteligência.
Numa visão psicopedagógica, verificou-se também, segundo os autores
pesquisados, que o brincar vem favorecendo de forma eficaz o pleno
desenvolvimento das potências criativas das crianças, auxiliando na prevenção e
diagnóstico de problemas de aprendizagem, representando um rico instrumento de
investigação clínica e/ou institucional, pois permite ao sujeito expressar-se
livremente, através da ação do ato de brincar, construindo um espaço entre a
realidade e da imaginação. Nesse sentido, fica evidenciado a essencialidade do
lúdico no trabalho psicopedagógico, tanto no aspecto clínico quanto no institucional.
Sendo encarado, no próprio diagnóstico, como uma possibilidade de compreender o
funcionamento dos processos cognitivos e afetivo-sociais. Utilizando-se do brincar
nas intervenções, o psicopedagogo poderá se beneficiar dos aspectos da diversão e
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do prazer que as atividades lúdicas proporcionam e, dessa maneira, configurar o
que seria somente uma brincadeira em algo mais, conseguindo estimular a
aprendizagem dos conteúdos que até então não tinham sido absorvidos.
E, por fim, a partir dos princípios aqui expostos, admite-se que o professor
deverá contemplar o brincar como princípio norteador das atividades didático-
pedagógicas, possibilitando o desenvolvimento das crianças para elas se preparem
ludicamente para descobrir o saber. Pois segundo Santos (1997): “A criança
aprende brincando e brincando ela é feliz”.
REFERÊNCIAS
ANTUNES, Celso. Educação infantil: prioridade imprescindível. Rio de janeiro: Vozes, 2004.
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