Artigo Consumo aço

download Artigo Consumo aço

of 67

description

Consumo de aço

Transcript of Artigo Consumo aço

  • Consumo de Ao no Brasil: um modelo baseado na tcnica da intensidade do uso

    Fernando Nascimento de Oliveira

    e Luiz Paulo Vervloet Sollero

    Julho, 2014

    358

  • ISSN 1519-1028 CGC 00.038.166/0001-05

    Trabalhos para Discusso Braslia n 358 julho 2014 p. 1-66

  • Trabalhos para Discusso

    Editado pelo Departamento de Estudos e Pesquisas (Depep) E-mail: [email protected]

    Editor: Francisco Marcos Rodrigues Figueiredo E-mail: [email protected] Assistente Editorial: Jane Sofia Moita E-mail: [email protected] Chefe do Depep: Eduardo Jos Arajo Lima E-mail: [email protected]

    Todos os Trabalhos para Discusso do Banco Central do Brasil so avaliados em processo de double blind referee.

    Reproduo permitida somente se a fonte for citada como: Trabalhos para Discusso n 358.

    Autorizado por Carlos Hamilton Vasconcelos Arajo, Diretor de Poltica Econmica.

    Controle Geral de Publicaes

    Banco Central do Brasil

    Comun/Dipiv/Coivi

    SBS Quadra 3 Bloco B Edifcio-Sede 14 andar

    Caixa Postal 8.670

    70074-900 Braslia DF

    Telefones: (61) 3414-3710 e 3414-3565

    Fax: (61) 3414-1898

    E-mail: [email protected]

    As opinies expressas neste trabalho so exclusivamente do(s) autor(es) e no refletem, necessariamente, a viso do Banco

    Central do Brasil.

    Ainda que este artigo represente trabalho preliminar, citao da fonte requerida mesmo quando reproduzido parcialmente.

    The views expressed in this work are those of the authors and do not necessarily reflect those of the Banco Central or

    its members.

    Although these Working Papers often represent preliminary work, citation of source is required when used or reproduced.

    Diviso de Atendimento ao Cidado

    Banco Central do Brasil

    Deati/Diate

    SBS Quadra 3 Bloco B Edifcio-Sede 2 subsolo

    70074-900 Braslia DF

    DDG: 0800 9792345

    Fax: (61) 3414-2553

    Internet:

  • Consumo de Ao no Brasil: Um modelo baseado na

    tcnica da intensidade do uso

    Fernando Nascimento de Oliveira*

    Luiz Paulo Vervloet Sollero**

    Resumo

    Este Trabalho para Discusso no deve ser citado como representando as opinies do

    Banco Central do Brasil. As opinies expressas neste trabalho so exclusivamente do(s)

    autor(es) e no refletem, necessariamente, a viso do Banco Central do Brasil.

    Neste artigo, analisamos o consumo de ao do Brasil, baseado em um

    modelo de intensidade do uso, isto , consumo por unidade monetria da

    economia, trazendo informaes que visam a esclarecer o comportamento

    futuro do consumo deste metal. Nossos resultados empricos indicam que o

    aumento da intensidade do uso de ao foi a principal causa do aumento do

    consumo do metal no pas na ltima dcada, mas que a mesma no deve

    atingir nveis internacionalmente altos num horizonte relativamente curto de

    tempo.

    Palavras Chaves: Consumo de ao, Modelo de intensidade de uso

    Classificao JEL: O4, O41

    * Banco Central do Brasil. Departamento Estudos e Pesquisas. E-mail: [email protected]

    ** National Oilwell Varco.

    3

  • 1. Introduo

    Um dos indicadores mais utilizados para a avaliao do grau de industrializao de um

    pas seu consumo de ao per capita. De fato, todas as maiores economias do mundo

    so (ou foram) grandes produtoras de ao (das 10 maiores economias do mundo, sete

    esto entre os 10 maiores produtores de ao do mundo)1. Nos pases em

    desenvolvimento, o consumo per capita de ao aumenta rapidamente durante seu

    perodo de industrializao, em consonncia com o crescimento da renda per capita.

    Da o interesse, para qualquer pas, para entender a dinmica do consumo de ao.

    No caso particular do Brasil, o interesse ainda maior. Os ciclos de desenvolvimento do

    pas so caracterizados por sua natureza inconstante, e isso se observa claramente no seu

    consumo de ao, que seguiu trajetria bastante distinta dos seus pares globais. Assim

    como os demais pases em processo de industrializao, o Brasil apresentou rpido

    aumento do seu consumo de ao per capita, de sua renda per capita e de sua taxa de

    urbanizao durante o perodo inicial de seu processo de desenvolvimento industrial (no

    caso brasileiro, entre o final da dcada de 1960 e o incio da de 1980). No entanto, em

    contraste com os pases que experimentaram industrializao mais cedo que o Brasil, e

    tambm com os que experimentaram industrializao mais tardia, o consumo per capita

    de ao nacional entrou em prolongada estagnao antes de alcanar nvel elevado (ou

    mesmo moderado), o mesmo ocorrendo com a renda per capita. Mas o pas continuou a

    urbanizar-se em ritmo acelerado.

    Apesar do crescimento nos ltimos anos, o consumo nacional continua em patamar

    significativamente inferior ao de pases com nvel de desenvolvimento comparvel2.

    de grande interesse, portanto, buscar entender as variveis que influenciam esse

    consumo e avaliar seu potencial de crescimento, elaborando um modelo do mesmo.

    Diversos estudos propem modelos economtricos para o consumo de ao em outros

    pases, como Valdes (1988) para a Austrlia, Crompton (2000) para o Japo e McKay,

    Sheng & Song (2011) para a China, esse ltimo buscando estimar o peak steel chins,

    tema de grande importncia para a indstria global.

    1 World Steel, 2012.

    2 Dentre os BRICs o Brasil possui o menor consumo de ao, sendo 40% inferior ao da Rssia, 65%

    inferior ao da ndia e 96% inferior ao da China. Em termos per capita, o consumo brasileiro superior

    apenas ao indiano, neste grupo de pases.

    4

  • J no caso brasileiro h falta de literatura sobre o assunto. Scherrer (2006) um dos

    poucos. Nesse estudo, a autora apresenta algumas metodologias economtricas para

    estimao de demanda, aplicadas posteriormente ao consumo de aos longos

    (vergalhes), com o objetivo de avaliar quais variveis os afetam e como esse efeito se

    comporta ao longo do tempo.

    Neste estudo, optou-se por estudar o consumo de ao no Brasil sob da tica da

    Intensidade do Uso, conceito desenvolvido por Munlenbaum (1973) para anlise do

    consumo de metlicos em geral, e muito empregado para o ao em particular. Valdes

    (1988) se utiliza desta teoria para criar um modelo do consumo de ao na Austrlia.

    Warrel & Olsson (2009) utilizam essa teoria para determinar se estariam a China e a

    ndia prximas de seu pico da curva de intensidade do uso. A ausncia desse tipo de

    modelo aplicado ao Brasil reforou a motivao deste estudo.

    O modelo empregado para estimar a intensidade do uso de ao no Brasil foi uma

    adaptao de Valdes (1988) realidade do setor siderrgico brasileiro. Trata-se de um

    modelo de consumo que parte de princpio que a intensidade do uso de ao no

    inexoravelmente ligada ao nvel de renda ou a outra medida de desenvolvimento

    econmico, mas sim a fatores econmicos mais fundamentais, tais como preo do ao,

    mudanas tecnolgicas, e ritmo e direo de mudanas estruturais na economia. O

    modelo foi estimado por meio de mnimos quadrados ordinrios (MQO) e, numa anlise

    de robustez, comparado com um modelo estimado por mnimos quadrados no lineares,

    como no original de Valdes (1988).

    Os dados empregados so exclusivamente anuais e abrangem o perodo de 1952 a 2011.

    Sempre que possvel, foram utilizadas sries obtidas do Instituto Ao Brasil (IABR) e

    Ipeadata (que por sua vez, utiliza sries do IBGE, da FGV e de outras fontes3). Nos

    casos em que as sries necessrias no estavam disponveis nessas fontes (ou no

    estavam disponveis para todo perodo estudado), recorreu-se Associao Nacional de

    Fabricantes de Veculos Automotores (Anfavea), ao US Geological Survey e ao Bureau

    of Labor Statistics, sendo esses dois ltimos rgos do governo dos Estados Unidos.

    Os resultados obtidos, em linhas gerais, demonstram que o consumo de ao no Brasil

    ainda se expande com o crescimento econmico e que de fato este e no um aumento na

    3 As sries retiradas do Ipeadata, devidamente identificadas ao longo deste estudo, esto disponveis em

    http://www.ipeadata.gov.br/

    5

  • intensidade do uso foi o principal responsvel pelo aumento do consumo na ltima

    dcada (2002-2011). Por outro lado, os resultados tambm sugerem que improvvel

    que a economia brasileira venha a se tornar to intensiva em ao quanto a economia dos

    pases com as quais foi comparada no decorrer deste estudo, pelo menos num horizonte

    de tempo relativamente curto.

    Os resultados deste estudo corroboram a hiptese de Valdes (1988) que a intensidade do

    uso de ao num pas depende fundamentalmente da composio setorial da economia do

    mesmo4 no seguindo necessariamente um trajeto determinado pela renda per capita.

    Nosso trabalho contribui com a literatura de duas maneiras: ao aplicar um modelo de

    consumo de ao no Brasil e ao ampliar o modelo proposto por Tilton (1988) e Valdes

    (1988) para o caso de uma economia onde importaes e exportaes de ao so

    significativas em relao ao consumo nacional.

    O restante deste artigo composto das seguintes sees: a Seo 2 apresenta um breve

    histrico da moderna indstria siderrgica mundial. A Seo 3 descreve a indstria

    siderrgica brasileira, sua histria e peculiaridades do consumo nacional de ao. A

    Seo 4 descreve e especifica o modelo empregado. A Seo 5 analisa os resultados

    empricos da regresso. A Seo 6 consiste numa anlise de robustez, especificando um

    modelo com variveis explicativas distintas atravs de um mtodo diferente. A Seo 7

    contm as concluses do trabalho, seguida pelas referncias bibliogrficas e pelo

    apndice.

    Breve Histrico da Moderna Indstria Siderrgica Mundial

    Da Revoluo Industrial at o final do sculo XX, a produo mundial de ao foi

    dominada pelas naes desenvolvidas, com destaque para os EUA. De fato, do fim do

    sculo XIX at a dcada de 1970, esse pas foi o maior produtor do metal e tambm o

    produtor de menor custo. Um nico fabricante americano, a US Steel, chegou em 1901 a

    ser responsvel por quase 30% de todo ao produzido no mundo (a US Steel foi tambm

    a primeira empresa do mundo a atingir valor de mercado superior a um bilho de

    dlares)5.

    4 De acordo com Valdes (1988), quanto maior o peso relativo do setor manufatureiro na economia de um

    Pas, e quanto maior a participao de manufaturas tradicionais no setor manufatureiro, maior a

    intensidade do uso de ao. 5 United States Steel Annual Corporate Reports: 1902-Present.

    6

  • Durante as dcadas que se seguiram Grande Depresso e Segunda Guerra Mundial, a

    indstria siderrgica cresceu de forma acelerada, atingindo mdia de crescimento de

    5,9% ao ano, entre 1950 e 1970. Esse crescimento acompanhou de perto o

    desenvolvimento econmico dos principais produtores, sendo concentrado nos EUA,

    Europa Ocidental, Japo e Unio Sovitica. A Figura 1 registra esta evoluo.

    Figura 1 Evoluo da produo mundial de ao (Adaptado de: IABR)

    Esse longo perodo de crescimento acelerado da produo chegou ao fim com o

    Primeiro Choque do Petrleo, que tambm encerrou a era de rpido crescimento das

    economias avanadas. Nos EUA, o pico da produo foi atingido em 1969, quando se

    produziram mais de 141 milhes de toneladas desse metal (para efeito de comparao, a

    produo americana de 2011 foi de pouco mais de 86 milhes de toneladas)6. A reduo

    dos custos de transporte e a construo de usinas mais modernas em outros pases

    acabaram com a vantagem de custo da indstria americana, antes mesmo do duro golpe

    da crise do petrleo. Durante a dcada de 1970, os EUA foram ultrapassados na

    produo de ao pelo Japo e pela URSS (sendo ambos ultrapassados pela China na

    dcada de 1990).

    O choque do petrleo e o consequente baixo crescimento econmico mundial levaram a

    um perodo de baixos preos e a excesso de oferta de ao no mercado internacional,

    resultando em baixo crescimento dessa indstria (mdia de 1,2% ao ano entre 1970 e

    6 World Steel in Figures, 2012.

    1 Choque do

    Petrleo

    2 Choque do

    Petrleo

    Colapso da

    URSS

    Crescimento

    Acelerado da

    China

    Crise do

    Subprime

    7

  • 2000). O crescimento teria sido ainda menor sem o efeito China, cuja indstria

    siderrgica entrou em fase de rpido crescimento em meados da dcada de 1980. A

    partir de 2000, o crescimento da produo chinesa tornou-se to elevado que a produo

    mundial como um todo entrou em novo perodo de rpido crescimento (mdia de 4,2%

    ao ano entre 2000 e 2010, mesmo contando-se a crise de 2008-2009). Como se pode

    notar na Figura 2 abaixo, a China foi responsvel pela maior parte do crescimento da

    produo mundial de ao.

    Figura 2 Participao da China na evoluo da produo mundial de ao (Adaptado de World Steel)

    c

    Hoje a China , de longe, o maior produtor mundial de ao, sendo responsvel por cerca

    de 45% do total produzido no mundo. De fato, sua produo corresponde soma da dos

    15 principais produtores subsequentes:

    8

  • Figura 3 Principais produtores de ao, em milhes de toneladas (Adaptado de: IABR, 2010)

    O Setor Siderrgico no Brasil

    Neste tpico ser apresentado o setor siderrgico do Brasil, com um breve histrico do

    mesmo, a descrio do panorama atual e uma comparao do consumo de ao no Brasil

    com o de outros pases com nvel de desenvolvimento comparvel.

    Breve Histrico da Siderurgia no Brasil

    No Brasil, a indstria siderrgica moderna teve incio em 1917, com a criao da

    Companhia Siderrgica Mineira, em Sabar, Minas Gerais. Em 1921, a empresa

    associa-se ao grupo luxemburgus ARBED (que posteriormente seria um dos criadores

    da Arcelor), formando a Cia. Siderrgica Belgo-Mineira. Em 1937 a empresa inaugura a

    usina de Monlevade, com capacidade inicial de 50 mil toneladas de lingotes de ao e

    sendo na poca a maior usina integrada a carvo vegetal do mundo7. Ainda na dcada de

    1930, so constitudas a Cia. Siderrgica de Barra Mansa e a Cia. Metalrgica de

    Barbar. A dcada de 1940 viu a inaugurao de uma nova siderrgica no Esprito

    Santo, a Cia. Siderrgica de Vitria (Cofavi) em 1942, mas o Brasil continuava quase

    inteiramente dependente de ao importado.

    7 O Setor Siderrgico, BNDES.

    9

  • O incio da grande expanso siderrgica nacional d-se de fato em 1946, quando o

    governo Vargas inaugura em Volta Redonda a Companhia Siderrgica Nacional (CSN).

    Financiada, em parte, pelos Estados Unidos e feita com base em projeto da US Steel, a

    usina se tornou rapidamente a maior siderrgica da Amrica Latina. As dcadas

    seguintes testemunharam a contnua expanso da capacidade produtiva da CSN, alm da

    inaugurao de outras importantes siderrgicas brasileiras como a Companhia

    Siderrgica Paulista (Cosipa) em Cubato, e a Usinas Siderrgicas de Minas Gerais

    (Usiminas) em Ipatinga, ambas em 1956. Apesar disso, o pas continuou sendo um

    importador lquido de ao at 1977.

    Com o objetivo de reverter esse quadro, e com o dirigismo que lhe era caracterstico, o

    governo brasileiro concebeu em 1971 o Plano Siderrgico Nacional (PSN), que

    almejava elevar a produo nacional de ao de cinco milhes de toneladas em 1970 para

    20 milhes de toneladas em 1980 e aumentar drasticamente as exportaes, ao definir

    que 20% da capacidade seriam direcionadas ao mercado externo. Apesar de substanciais

    avanos nestas duas metas, ambas no foram atingidas: em 1980 a produo brasileira

    somou 15,3 milhes de toneladas, dos quais pouco menos de 10% foram exportadas.

    O Brasil veio a consolidar-se como grande exportador de ao durante a dcada de 1980,

    no pelo aumento da produo, mas pela retrao do mercado interno, que forou as

    usinas a buscarem consumidores fora do pas. Entre 1980 e 1990, o consumo aparente

    de ao bruto no pas recuou mais de 26%, enquanto as exportaes de ao avanaram

    500%. Esse perfil exportador do Brasil mantido at hoje, apesar da recente

    recuperao do consumo interno. Em 2011, o pas foi o 13 maior exportador do metal

    em termos absolutos, mas se forem consideradas as exportaes lquidas (exportaes

    menos importaes), passa a ocupar o 5 lugar. A Figura 4 registra o consumo de ao

    bruto no Brasil, de 1952 a 2012.

    10

  • Figura 4 Consumo de ao bruto no Brasil (Fonte: IABR)

    O processo de privatizao do setor siderrgico brasileiro teve incio em 1988, com o

    Plano de Saneamento do Sistema Siderbrs, em que usinas de menor porte, produtoras

    de aos longos, foram vendidas iniciativa privada. A maior parte destas usinas foi

    comprada pela Gerdau e pela Villares (em 2005, a Gerdau comprou a Sidenor,

    controladora da Villares). Apesar disso, as grandes usinas (integradas) foram mantidas

    nas mos do Estado, e o setor chegou ao ano de 1990 com 65% da produo oriunda de

    estatais.

    As siderrgicas estatais apresentavam alto nvel de endividamento, o que levava a

    baixos investimentos em pesquisa tecnolgica e, consequentemente, baixa

    produtividade frente a seus pares nacionais e internacionais. A interferncia econmica

    e a poltica do governo no setor tambm comprometiam a rentabilidade do mesmo, o

    que forava o governo a realizar repetidos e vultosos aportes para manter as estatais em

    funcionamento (US$25,5 bilhes lquidos de 1950 a 1990, referentes a ativo permanente

    e reestruturao financeira)8.

    A Siderbrs foi extinta em 1990, e, no mesmo ano, foi criado o Plano Nacional de

    Desestatizao. Entre 1991 e 1993, oito das principais siderrgicas brasileira foram

    vendidas iniciativa privada, em transaes que totalizaram 8,2 bilhes de dlares

    (contando transferncia de dvidas) e 19,5 milhes de toneladas capacidade produtiva. O

    Estado deixou, portanto, de administrar qualquer usina.

    8 O Setor Siderrgico, BNDES.

    11

  • As privatizaes capitalizaram as empresas com novos scios, alongaram o perfil de seu

    endividamento e, no geral, melhoraram seus indicadores financeiros. As empresas

    passaram a investir maciamente na atualizao tecnolgica das usinas, aplicando

    US$36,4 bilhes entre 1994 e 2011 e elevando a capacidade instalada a 48 milhes de

    toneladas. Entretanto, a produo em 2011 limitou-se a pouco mais de 35 milhes de

    toneladas, em decorrncia do baixo crescimento interno e externo e dos elevados custos

    de produo no Brasil, que vm provocando um expressivo aumento das importaes. A

    Figura 5 registra a evoluo da produo, importao e exportao de ao no Brasil ao

    longo do tempo:

    Figura 5 Produo e comrcio exterior de ao no Brasil (Fontes: IABR e BNDES)

    Panorama Atual da Indstria Siderrgica Brasileira

    Atualmente (2012), a indstria siderrgica brasileira composta por 29 usinas

    administradas por 14 empresas privadas, controladas por 11 grupos empresariais. Esses

    nmeros denotam a forte consolidao do setor iniciada em meados da dcada de 1980,

    quando havia 35 grupos empresariais em atuao. A siderurgia brasileira emprega cerca

    de 140 mil pessoas diretamente, e foi responsvel, em 2011, por 13% de todo saldo

    comercial do pas, com exportaes lquidas de US$3,9 bilhes9.

    A capacidade instalada do setor no pas atingiu em 2011 o recorde de 47,8 milhes de

    toneladas de ao bruto por ano, mas, como j mencionado, a produo de fato ficou

    9 IABR, 2012.

    12

  • pouco acima de 35 milhes (73,5% de utilizao). Destas, pouco menos de 11 milhes

    de toneladas foram exportadas, e o Brasil importou cerca de 3,8 milhes de toneladas.

    Em 2010, principalmente em virtude dos altos custos locais, a importao de ao atingiu

    o maior volume da histria do Brasil, quase seis milhes de toneladas.

    Alm das exportaes e das importaes diretas de ao, descritas no pargrafo anterior,

    o pas tambm importa e exporta ao indiretamente na forma de produtos que levam o

    mesmo em sua composio. Nesses, o aumento das importaes nos ltimos anos foi

    ainda mais expressivo, e, desde 2009, o Brasil se tornou importador lquido de ao

    indireto, conforme o figura abaixo.

    Figura 6 Comrcio exterior de ao indireto no Brasil (Extrado de IABR)

    O Baixo Consumo per capita de Ao no Brasil

    Como j mencionado, o consumo de ao per capita de um pas considerado

    importante indicador de seu estgio de desenvolvimento industrial. A teoria dominante

    postula que h forte correlao entre o consumo de ao per capita e o PIB per capita10

    de um pas, ainda que essa relao seja no linear. Historicamente, o consumo de ao

    dos pases aumenta rapidamente durante seu perodo de industrializao, em

    consonncia com a sua renda per capita. Esse fato foi observado nos pases

    desenvolvidos, como EUA, Japo e Alemanha, e tambm nos pases que

    10 Warren e Olsson, 2009.

    13

  • experimentaram forte desenvolvimento industrial nas ltimas dcadas do sculo XX,

    como indicado na Tabela 1 abaixo.

    Tabela 1: Relao PIB e consumo de ao em diferentes pases.

    Esta tabela ilustra o consumo de ao per capita de ao de alguns pases em dois anos distintos,

    informao obtida da World Steel Association, assim como de seus PIBs per capita nestes mesmos anos

    (ajustados por paridade de poder de compra), em dlares de 2005, informao do Banco Mundial.

    Nota-se da Tabela 1 que o Brasil se destaca pela baixa relao na evoluo (consumo de

    ao)/(PIB per capita), alm de baixo avano em ambos os campos individualmente.

    Uma simples comparao entre 1980 e 2011, no entanto, oculta o que de fato ocorreu

    com o consumo per capita de ao no pas. De fato, pode-se dividir o perodo em duas

    fases: uma que vai de 1980 at 1992, e marcada por declnio do consumo per capita, e

    outra de 1993 ao presente, marcada pela retomada do crescimento. A figura abaixo

    ilustra esta diviso:

    Figura 7 Evoluo do consumo de ao per capita no Brasil (Fonte: IABR)

    Apesar da retomada do crescimento no consumo per capita ocorrida nos ltimos 20

    anos, o Brasil ainda encontra-se em patamar incompatvel com seu almejado status de

    nova nao industrializada. O consumo brasileiro de produtos acabados de ao, de

    Pas PIB per Capita KG per capita PIB per Capita KG per capita PIB per Capita KG per capita Brasil 7.567 101 10.278 123 36% 22% China 524 34 7.404 460 1313% 1248% Coria do Sul 5.544 160 27.541 1.157 397% 623% Chile 5,564 56 15.272 154 174% 173% Espanha 15.368 202 27.063 323 76% 60% Mxico 10.238 120 12.776 158 25% 32%

    1980 2011 Variao %

    14

  • 123 kg por pessoa por ano encontra-se bem abaixo da mdia mundial, de 215 kg por

    ano11

    . Nota-se, tambm, da tabela abaixo, como o consumo brasileiro menor do que de

    pases de nvel de desenvolvimento comparvel.

    Tabela 2: Consumo per capita de produtos acabados de ao em diferentes pases.

    Esta tabela ilustra o PIB per capita de alguns pases em 2011 em taxa correntes de converso (dlares de

    2011), informao do FMI, e seu consumo de ao per capita no mesmo ano, informao da World Steel

    Association.

    Pas PIB per Capita KG per Capita

    Brasil 12.789 123Ir 6.360 284Malsia 9.700 294Mxico 10.153 158Polnia 13.540 287Rssia 12.993 292Tailndia 5.394 202Turquia 10.552 342

    Se, por um lado, o baixo consumo per capita brasileiro sugere considervel espao para

    aumento, por outro h algumas razes para se questionar se o pas vir a alcanar o

    patamar de consumo dos pases acima listados. Dentre estas razes, destacam-se o fato

    de Brasil ter um setor de servios com peso cada vez maior na economia (67% em 2011,

    contra apenas 43% na China12

    ) e de j ser extremamente urbano (83% em 2010,

    comparado a apenas 47% na China13

    ). A figura abaixo ilustra como, ao contrrio da

    China e da Coreia do Sul, o aumento da urbanizao no Brasil no se refletiu em

    aumento exponencial no consumo per capita de ao.

    11 World Steel, 2012.

    12 CIA World Factbook.

    13 IBGE e CIA World Factbook.

    15

  • Figura 8 Consumo de ao e urbanizao no Brasil, China e Coreia (Adaptado de: McKay 2008)

    Cabe ressaltar que entre as taxas de urbanizao de 45% at aproximadamente 67%, o

    Brasil demonstrou, de fato, aprecivel aumento no consumo per capita, mas no na

    escala observada nesses outros pases. A urbanizao continuou bem alm desse

    patamar, mas, ao contrrio do que ocorreu na Coreia do Sul, o consumo de ao per

    capita no a acompanhou.

    Outra maneira de se analisar o consumo de ao de um pas por meio da intensidade do

    uso do metal na economia, isto , quanto ao consumido por unidade do PIB. A tabela

    abaixo, que repete os pases da Tabela II e adiciona China e Coreia do Sul, demonstra

    como, por essa tica, a diferena entre o Brasil e algumas naes comparveis ainda

    maior:

    16

  • Tabela 3: Intensidade do Uso de produtos acabados de ao em diferentes pases.

    Esta tabela ilustra o PIB per capita em 2011 em taxas correntes de converso (dlares de 2011) de alguns

    pases, assim como a intensidade do uso de ao nestes mesmos pases e a proporo desta com a

    intensidade do uso de ao no Brasil (informaes do FMI e World Steel Association).

    A Tabela 3 deixa claro que a economia brasileira muito menos intensiva em ao que a

    de pases comparveis (China e Coreia do Sul no so propriamente comparveis ao

    Brasil, e foram includas apenas para efeito de ilustrao, mas notvel que mesmo o

    Mxico tenha uma economia 62% mais intensiva em ao do que a brasileira).

    Este estudo se valer deste mtodo, a Intensidade do Uso, que ser descrito na prxima

    seo, para buscar responder a esta questo chave do potencial de crescimento do

    consumo de ao no Brasil avaliando as variveis que impactam o consumo.

    Modelo Terico

    Os primeiros modelos de demanda por metais partiam da suposio de que o consumo

    dos mesmos cresce proporcionalmente atividade econmica. Essa suposio foi

    empregada no famoso relatrio do Clube de Roma, que previa aumento exponencial e

    insustentvel da demanda por metais como consequncia do contnuo crescimento

    econmico. A falha na concretizao das previses desse relatrio deixa clara a

    excessiva simplicidade do modelo, que no leva em conta os ajustes de mercado em

    resposta escassez.

    A Hiptese da Intensidade do Uso (aplicvel energia, metlicos em geral, etc., aqui

    focada no ao), primeiramente formulada por Munlenbaum (1973), surgiu como uma

    alternativa aos deficientes modelos tradicionais. Esta sugere que a curva de intensidade

    do uso (definida como uma unidade de consumo do metlico por unidade do PIB) tem a

    forma de um U invertido quando plotada contra o PIB per capita. Um dos problemas

    Pas PIB per Capita KG / Dlar % Brasil

    Brasil 12.789 0,0096 100% China 5.413 0,0849 883% Coria do Sul 23,020 0,0502 522% Ir 6.360 0,0447 464% Malsia 9.700 0,0303 315% Mxico 10.153 0,0156 162% Polnia 13.540 0,0212 220% Rssia 12.993 0,0225 234% Tailndia 5.394 0,0374 389% Turquia 10.552 0,0324 337%

    17

  • bsicos desta hiptese que o PIB per capita tem crescido constantemente com o

    tempo, ento um alto grau de correlao existe entre ambos. Isto levanta a possibilidade

    que o PIB per capita seja apenas um Proxy do tempo e de outros fatores relacionados ao

    tempo.

    Uma variao da Hiptese da Intensidade do Uso, conhecida como Hiptese do Ciclo de

    Vida dos Produtos, postula que a intensidade do uso de um metal avana por quatro

    diferentes estgios medida que o PIB per capita aumenta: introduo, crescimento,

    maturidade e declnio14

    .

    Num pas pr-industrial a intensidade do consumo baixa, pois as atividades

    econmicas concentram-se em setores como agricultura ou manufaturas intensivas em

    trabalho. J nos primeiros estgios da evoluo industrial a intensidade aumenta

    rapidamente, uma vez que o pas se urbaniza (a construo civil sempre um dos

    principais consumidores de ao) e cria indstrias de base, intensivas no metal. medida

    que a economia amadurece, a intensidade do uso entra em estabilizao e lento declnio,

    uma vez que aumenta a participao dos servios na composio do PIB e as

    manufaturas priorizam maior tecnologia, onde o ao substitudo por outros materiais.

    A intensidade do uso de ao definida como a razo entre o consumo de ao e a

    renda nacional, , no ano t (Radetzki e Tilton, 1990). uma funo do PIB per capita:

    (1)

    (2)

    Os dados empricos em geral corroboram a hiptese de que a intensidade do uso de ao

    tem forma de U invertido. Isso pode ser observado tanto em pases individuais como em

    agregados de regies, conforme as figuras abaixo:

    14 McLennan, Magasanik e Pearce (1988).

    18

  • Figura 9 Intensidade de uso do ao na Coreia (Fonte: Warrel e Olsson, 2009)

    Figura 10 Evoluo da Intensidade de Uso do ao em diferentes regies do mundo, Dlares de 1995, em paridade de poder de compra

    (Adaptado de: Laplace Conseil, 2007).

    Uma adio importante Teoria da Intensidade do Uso foi dada por Lohani e Tilton

    (1993). Eles demonstraram que pases de industrializao mais recente no percorrem a

    mesma curva de intensidade j percorrida pelos pases desenvolvidos, mas sim uma

    curva com nveis mais baixos de intensidade. Isto se d porque estes podem importar

    tecnologia dos pases ricos, dando desta forma saltos (leapfrogging) no seu processo de

    industrializao.

    A Figura 9 acima corrobora a hiptese de Lohani e Tilton (1993). Durante o perodo de

    transio (isto , entre o pico de intensidade e a estabilizao em um patamar mais

    baixo), pode-se notar claramente que o Japo apresentou patamares mais baixos de

    intensidade do uso de ao que a Europa Ocidental, que por sua vez apresentou

    Coreia do Sul

    19

  • patamares mais baixos que a Amrica do Norte. Isto consistente com a ordem

    cronolgica em que cada uma destas economias iniciou sua transio para uma fase ps-

    industrial (primeiramente os EUA, seguidos por Europa Ocidental e posteriormente o

    Japo).

    Pode-se testar rapidamente esta hiptese para o caso brasileiro, como na regresso

    abaixo. No caso, se regrediu a intensidade do consumo de ao no pas de 1952 a 2011

    contra o PIB Per capita no mesmo perodo e uma varivel de tempo que vai do valor 1

    para 1952 at 60 em 2011:

    Tabela 4: Intensidade de uso do ao no Brasil.

    Esta tabela contm os resultados da estimao por Mnimos Quadrados Ordinrios da intensidade do uso

    de ao no Brasil no perodo 1952-2011, sendo as variveis explicativas o PIB per capita (em Reais de

    2011, informao do IPEA) e o tempo, proxy do avano tecnolgico, que assume valores de 1 em 1952 a

    60 em 2011.

    *, ** e *** indicam significncia estatstica aos nveis de 1%, 5% e 10%, respectivamente.

    Na tabela acima, Intensidade do Uso o consumo de ao do Brasil por unidade do PIB

    (em Reais de 2011) entre 1952 e 2011, PIB per capita a renda per capita do pas, em

    Reais de 2011, e Tempo a srie de 1 (1952) a 60 (2011) j mencionada. Nota-se que os

    coeficientes de ambas as variveis explicativas assumem o sinal previsto por Lohani e

    Tilton (1993), e so significativos a 1%.

    No Brasil, a curva de intensidade do uso de ao no segue propriamente o formato de U

    invertido observado nas economias industrializadas, possivelmente devido ao carter

    inconstante (e incompleto) de seus ciclos de desenvolvimento:

    Varivel Dependente

    Intensidade do Uso

    Variveis Explicativas Coeficiente

    (Desv. Pad)

    Constante 0,003067*

    0,000316

    PIB per Capita 3,31E-07*

    (5,91E-08)

    Tempo -5,44E-05*

    (1,64E-05)

    R 0,606414 R Ajustado 0,592604

    20

  • Figura 11 Intensidade do Uso de ao (kg/R$) x PIB per capita, Reais de 2011 (Fontes: IABr e Ipea)

    Nota-se que houve um forte incremento da intensidade do uso de ao na economia

    brasileira no perodo em que o PIB per capita da mesma avanou de cerca de R$ 7.000

    para aproximadamente R$ 12.000 anuais. Neste nvel de renda foi atingido o patamar de

    7 gramas consumidos de ao por real do PIB brasileiro. Desde ento a intensidade do

    uso vem oscilando, em geral abaixo deste patamar.

    Este nvel de renda , entretanto, bem abaixo do observado em outros pases quando

    estes atingiram seu nvel mximo de intensidade do uso de ao. Com efeito, analisando

    um painel com 61 pases, Warrel e Olsson (2009) chegaram concluso que a

    intensidade chega ao pico quando a renda per capita do pas de cerca de 28.000

    dlares por ano, mais que o dobro da atual renda brasileira. Naturalmente, cada pas tem

    um pico diferente devido s particularidades de sua economia.

    Como a taxa de aumento do PIB per capita brasileiro ao longo do tempo oscilou muito,

    e houve de fato perodos prolongados de estagnao e mesmo queda, interessante

    tambm analisar a evoluo da intensidade do uso ao longo de tempo, representada na

    figura abaixo:

    21

  • Figura 12 Intensidade do Uso de ao (kg/R$)x Tempo, Reais de 2011 (Fontes: IABr e Ipea)

    A figura acima ilustra, de forma ainda mais clara que o de Consumo per capita (Figura

    06), como o aumento do uso de ao verificado nas ltimas duas dcadas foi

    essencialmente um retorno ao nvel de 1980.

    A atpica curva de intensidade do uso brasileira, que parece contrariar as hipteses

    acima discutidas, ressalta que algumas das deficincias terica e empricas da Hiptese

    da Intensidade do Uso continuam nas suas verses mais sofisticadas que incorporam a

    Hiptese do Ciclo de Vida dos Produtos. Em particular, no incluir preos, ajuste de

    mercado e possibilidades de substituio pode levar a erros significativos.

    O modelo apresentado na seo seguinte sugere, de acordo com seu autor Valdes

    (1988), que a intensidade do uso de ao no inexoravelmente ligada ao nvel de renda

    ou outra medida de desenvolvimento econmico, mas sim a fatores econmicos mais

    fundamentais tais como preo do ao, mudanas tecnolgicas, e o ritmo e direo de

    mudanas estruturais na economia.

    Modelando a Intensidade do Uso

    Algumas variveis normalmente includas na funo de demanda de um metal so o

    preo do prprio metal, o preo de substitutos e complementos, o nvel da atividade

    econmica e possivelmente um proxy para avano tecnolgico. Tilton (1988) sugere

    uma forma de transformar este modelo bsico de demanda para tambm explicar a

    intensidade do uso de um metal, que foi adaptada em modelo por Valdes (1988), num

    trabalho visando antecipar as necessidades energticas da indstria siderrgica

    australiana, servindo de base para este estudo.

    22

  • O modelo indica que o consumo de um metal depende do nvel geral de atividade

    econmica, da quantidade de metal consumida por cada unidade de bem final produzida

    pela economia e da produo de cada bem final. Em termos matemticos, temos:

    (3)

    Onde o consumo de ao durante o perodo t, o PIB real total no

    mesmo perodo, a composio material dos produtos (definida como quantidade

    mdia de ao empregada em todos os produtos que requerem ao) e a

    composio dos produtos da economia, definida como a razo entre o nmero de

    produtos que requerem ao para sua manufatura e o nvel geral de atividade econmica.

    Estas duas ltimas variveis sero explicadas nos subtpicos seguintes. J a Intensidade

    do Uso de Ao, a razo entre o consumo de ao e a atividade econmica total, e

    pode ser expressa como:

    (4)

    Composio de Produtos da Economia

    A composio de produtos da economia importante para este modelo porque alguns

    setores so muito mais intensivos em ao do que outros. Valdes (1988) analisa tanto a

    mudana no peso relativo de cada setor da economia quanto a mudana na natureza dos

    produtos manufaturados (de manufaturas tradicionais intensivas em ao para de alta

    tecnologia, menos intensivas). A intensidade do consumo nacional de ao depender do

    peso relativo dos setores intensivo em ao em relao economia como um todo.

    Valdes (1988) emprega a soma dos PIBs de construo civil e do setor manufatureiro.

    Por no existir a ltima srie no Brasil, neste trabalho ser empregado como proxy o

    PIB do setor de autoveculos. Estes setores combinados responderam por 58,7% do

    consumo de ao no Brasil em 2009 (IABr, 2010).

    Tem-se, portanto:

    (5)

    23

  • Onde (de mudanas intersetoriais) a varivel que representa a evoluo

    relativa dos setores intensivos em ao da economia.

    A figura abaixo ilustra a variao da participao combinada dos setores de construo

    civil e autoveculos no PIB brasileiro, de 1952 ao presente:

    Figura 13 %PIB Construo + Autoveculos (Fontes: Anfavea e Ipea)

    Nota-se um grande aumento na participao destes setores de meados da dcada de

    1950 at o final da dcada de 1980, quando foi atingido o pico histrico de quase 15%

    do PIB. Durante a dcada de 1990 a participao destes setores no PIB caiu

    bruscamente, mantendo-se em nvel historicamente baixo at comear a recuperar-se

    por volta de 2007. notvel certa semelhana com a figura da Figura 4, que representa

    a evoluo do consumo de ao no Brasil.

    O segundo item a ser analisado na composio de produtos da economia diz respeito s

    mudanas intrassetoriais do setor manufatureiro, ou seja, evoluo da porcentagem do

    setor composto por manufaturas tradicionais, intensivas em ao. Em pases

    desenvolvidos, estas foram nas ltimas dcadas dando lugar progressivamente s

    manufaturas de alta tecnologia, que empregam predominantemente outros materiais.

    Como no foi empregada no item acima uma srie de manufaturas e sim de veculos

    automotivos, que so um subgrupo intensivo em ao das manufaturas como um todo,

    este segundo item no precisa ser calculado separadamente.

    Ao contrrio do modelo de Valdes (1988), no caso brasileiro uma parte significativa

    (ainda que minoritria) dos setores intensivos em ao no est representada pela

    varivel . Recorreu-se, portanto, incluso de uma nova srie histrica, a da

    24

  • porcentagem da populao urbana. Como j mencionado, pases em processo de

    urbanizao apresentam rpido aumento na sua intensidade do uso de ao e, como fica

    claro neste modelo, este aumento no se limita ao provocado pelo crescimento relativo

    do setor de construo civil.

    A porcentagem da populao urbana do Brasil divulgada pelo IBGE somente a cada

    dez anos, aps os Censos. A maneira adotada para se obter a urbanizao em um ano

    intermedirio foi calcular a taxa mdia anual de urbanizao de cada dcada, e aplic-la

    a cada ano. O resultado deste clculo entre 1952 e 2011 pode ser observado na figura

    abaixo:

    Figura 14 Porcentagem da Populao Urbana (Fonte: IBGE)

    Trata-se naturalmente de uma srie correlacionada com o tempo, mas a taxa com a qual

    a urbanizao se deu, que o dado relevante neste caso, variou bastante. A populao

    brasileira se urbanizava a uma taxa mdia de 2,30% ao ano durante a dcada de 1960

    (que foi a dcada na qual o pas tornou-se predominantemente urbano) contra apenas

    0,30% ao ano na primeira dcada do sculo XXI.

    A equao no caso desta varivel :

    (6)

    25

  • Composio Material dos Produtos

    Mudanas na composio material dos produtos advm principalmente de novas

    tecnologias que permitem economizar recursos e por substituio de materiais, ambos

    os fatores influenciados pelo preo do ao e por evoluo tecnolgica (Tilton, 1988).

    Idealmente deveria ser considerado o preo do ao em relao a todos seus substitutos e

    complementos; dada a grande variedade de substitutos e complementos existentes,

    Valdes (1988) emprega somente o preo real do ao. No caso brasileiro, esta srie

    sozinha mostrou-se inadequada para modelar a composio material dos produtos, e,

    portanto, foram feitas algumas adies ao modelo, como explicado a seguir.

    O preo do ao importante para o modelo porque, num mercado competitivo, a

    quantidade demandada de um insumo inversamente proporcional ao preo do mesmo.

    Desta forma, deve cair com aumento no preo real do ao, ceteris paribus

    (Valdes, 1988). Neste estudo foi empregada para representar o preo real do ao no

    Brasil a srie IPA-OG[32] Ferro, Ao e Derivados, da FGV, e descontada a

    inflao. O preo mdio de 1994 foi tomado pela FGV como 100. Esta srie foi

    descontinuada no final de 2008 e, portanto, para o perodo de 2009 a 2011 foi utilizada

    a variao (descontada da inflao) da srie IPA-Origem OG-DI Produtos

    Industriais Indstria de Transformao Metalurgia Bsica, sugerida pela prpria

    FGV como substituta.

    A variao do preo real do ao no Brasil, com a mdia de 1994 assumindo o valor 100,

    pode ser vista na figura abaixo:

    Figura 15 Evoluo do preo real do ao no Brasil (Fonte: FGV)

    26

  • Nota-se o predomnio de baixos preos durante boa parte da dcada de 1980 (fase onde

    o consumo de ao per capita do Brasil atingiu seus maiores valores). A partir de 2003

    inicia-se uma escalada sem precedentes do preo real do ao que, apesar da substancial

    queda em consequncia da crise de 2008-2009, continua no presente em patamares

    historicamente elevados.

    Como mencionado acima, o controle da composio material dos produtos apenas pelo

    preo real do ao mostrou-se ineficaz no modelo brasileiro, e desta forma buscou-se

    adaptar o modelo com variveis relevantes ao contexto nacional. Dado o grande peso do

    setor de construo civil no consumo de ao nacional, foi acrescida uma srie histrica

    com os preos reais da construo, funcionando como Proxy para o preo dos

    complementos do ao. Espera-se que, ceteris paribus, quanto maiores os preos dos

    materiais de construo, menor a intensidade do consumo de ao. Neste estudo foi

    utilizada para representar o preo real dos materiais de construo no Brasil srie IPA-

    DI materiais de construo, e descontada a inflao. O preo de agosto de 1994 foi

    tomado pela FGV como 100.

    A variao do preo real dos materiais de construo no Brasil, com agosto de 1994

    assumindo o valor 100, pode ser vista na figura abaixo:

    Figura 16 Evoluo do preo real dos materiais de construo no Brasil (Fonte: FGV)

    Nota-se um aumento regular at 1986, seguido de um perodo de rpido aumento at

    1992. Os preos declinam deste ano at 1998, recuperando ento sua trajetria

    ascendente.

    27

  • Uma diferena importante entre o mercado siderrgico brasileiro e o australiano,

    descrito por Valdes (1988), a importncia do mercado externo no caso do Brasil. Ao

    contrrio da Austrlia, cuja indstria voltada quase exclusivamente para o mercado

    interno, no Brasil as exportaes corresponderam em mdia, na ltima dcada, a 35%

    do total produzido. As importaes tambm tm papel mais importante no Brasil do que

    na Austrlia, tanto historicamente quanto no presente. As condies externas, portanto,

    podem ter influncia relevante sobre a intensidade do uso do ao no Brasil.

    Diversas variveis externas podem ter impacto sobre o consumo nacional: a demanda

    externa, a taxa de cmbio entre o Real e as moedas estrangeiras, o preo dos diversos

    produtos siderrgicos no exterior, etc. A dimenso do impacto externo sobre o consumo

    nacional depender tambm do quo aberto o mercado brasileiro, isto , de que tarifas

    se impem aos produtos importados. Nota-se a dificuldade de se controlar para todos

    estes fatores num modelo. O que claro que a dinmica do mercado externo pode

    influenciar fortemente a intensidade do uso de ao no Brasil.

    Uma varivel que demonstrou grande relevncia no modelo, aparentemente controlando

    de forma satisfatria para o mercado externo, foi o percentual de importaes de ao,

    isto , o total de ao importado num dado ano dividido pela produo nacional de ao

    no mesmo ano. Quando o ao externo apresenta baixo custo relativo ao nacional, esta

    varivel tende a aumentar, assim como a intensidade do uso de ao (ceteris paribus), j

    que os consumidores brasileiros tero acesso a ao por um preo menor do que o

    indicado pelos preos nacionais. Temos, portanto:

    (07)

    A figura abaixo ilustra a evoluo do tamanho relativo das importaes face produo

    nacional da dcada de 1950 ao presente:

    28

  • Figura 17 Evoluo do preo real dos materiais de construo no Brasil (Fonte: FGV)

    Nota-se uma tendncia de queda, ainda que interrompida por vrios surtos de

    importao, entre meados da dcada de 1950 at o final da dcada de 1960. Na primeira

    metade da dcada de 1970 h um crescimento vertiginoso do percentual importado, que

    experimenta depois forte queda e se mantm em patamar bastante reduzido at 2006,

    quando se inicia outro ciclo de aumento das importaes.

    Especificao do Modelo

    A Equao 04 demonstra que a intensidade do uso de ao uma funo da composio

    de produtos da economia e da composio material dos produtos. Nos subtpicos acima,

    foi argumentado que:

    (8)

    e

    (9)

    necessrio selecionar funes matemticas para as equaes acima. Seguindo a

    recomendao de Valdes (1988), por facilidade de estimao e pelo fato que os

    elementos do lado direito da Equao 4 esto se multiplicando, optou-se por um modelo

    multiplicativo, resultando em:

    29

  • (10)

    (11)

    Onde os fatores de escala e devem ser positivos, pois

    , e so todos

    definidos como quantidades positivas.

    O prximo passo na especificao do modelo a escolha da proxy para a evoluo

    tecnolgica ( ). Como j mencionado, desde Lohani e Tilton (1993) tornou-se praxe

    incluir alguma varivel de evoluo tecnolgica em modelos de intensidade do uso, uma

    vez que novas tecnologias permitem reduzir a quantidade de ao necessria para

    fabricar os mesmos produtos. comum nestes modelos assumir que uma funo

    linear do tempo, como feito aqui:

    (12)

    Onde definido como o ano em questo menos 1951, assumindo, portanto, no

    intervalo estudado de 1952 a 2011, valores entre 1 e 60. Como j discutido, espera-se

    que esta varivel tenha sinal negativo, pois o avano tecnolgico tende a reduzir a

    quantidade necessria de ao para a manufatura de qualquer dado produto.

    A forma final da expresso matemtica de obtida pela substituio da Equao

    12 na Equao 11, e posteriormente das Equaes 10 e 11 na Equao 04, levando a:

    (13)

    Onde:

    A Equao 13 a base para anlise estatstica de .

    Anlise Emprica

    A Equao 11 no linear em todos os coeficientes exceto . A estimao dos

    parmetros pode ser simplificada ao se tomar o logaritmo natural de ambos os lados da

    equao, obtendo-se:

    30

  • (14)

    Onde :

    Os resultados da estimao da equao acima esto na tabela abaixo:

    31

  • Tabela 5: Tcnica de Intensidade do Uso.

    Esta tabela contm os resultados da estimao por Mnimos Quadrados Ordinrios e matriz de

    covarincia padro. da intensidade do uso de ao no Brasil, SIU (em toneladas por real do PIB), entre

    1952 e 2011, de acordo com modelo baseado na Tcnica de Intensidade do Uso. As variveis

    explicativas, todas com dados entre 1952 e 2011, so INTER, que mede o tamanho relativo do setor

    intensivo em ao na economia, URBANA, a porcentagem urbana da populao brasileira, PRI, o preo

    real do ao no Brasil, com preo de 1994 assumindo o valor 100, PRI_Const, o preo real dos materiais

    para construo civil no Brasil (complemento do ao), com o preo de 1994 assumindo o valor 100,

    PERCENT_IMPORT, a razo entre a quantidade de ao bruto importada e a produo nacional do metal

    e TEMPO, proxy do avano tecnolgico que assume valores de 1 em 1952 a 60 em 2011. Na coluna da

    direita encontram-se os coeficientes das variveis explicativas e abaixo dos mesmos, entre parnteses,

    seus desvios-padres.

    *, ** e *** indicam significncia estatstica aos nveis de 1%, 5% e 10%, respectivamente.

    Varivel Dependente

    SIU

    Variveis Explicativas Coeficiente

    (Desv. Pad)

    C -0,776056

    (0,671335)

    LOG(INTER) 0,251298*

    (0,046945)

    LOG(URBANA) 1,263413*

    (0,182449))

    LOG(PRI) -0,032156

    (0,04316)

    LOG(PRI_CONST) -0,582263*

    (0,120254))

    LOG(PERCENT_IMPORT) 0,09775*

    (0,014653))

    LOG(TEMPO_NORMAL) -0,085347***

    (0,042912))

    R 0,842697

    R Ajustado 0,824889

    Estatstica F 47,3216

    Probabilidade (Est. F) 0 Est. Durbin-Watson 2,078233

    32

  • A estatstica de Durbin-Watson de 2,08 indica que a correlao serial de primeira ordem

    no um problema. J o R ajustado de 0,82 sugere que o modelo capaz de explicar a

    maior parte da variao da intensidade do consumo de ao no Brasil, mas uma parte

    significativa permanece inexplicada. Todos os coeficientes tm os sinais esperados e so

    significativos a 95%, com exceo de (que multiplica o logaritmo do preo de ao) e

    , que multiplica o tempo (este ltimo significativo a 90%).

    Os Testes de White e Breusch-Pagan para heterocedasticidade no foram capazes de

    rejeitar a hiptese da homocedasticidade dos resduos, de forma que no foi empregada

    qualquer matriz de covarincia para efetuar correo.

    Interpretao dos Resultados Empricos

    Os parmetros e (que multiplicam os logaritmos de e ,

    respectivamente) podem ser interpretados como elasticidades, e ambos so

    significativos a 1%. Isto significa que um aumento (diminuio) de 1% na percentagem

    do PIB composta pela construo civil e pelo setor de autoveculos resultar num

    aumento (diminuio) de 0,25% na intensidade do uso de ao no Brasil. J um aumento

    (diminuio) de 1% na proporo urbana da populao brasileira resultar num aumento

    (diminuio) de 1,26% na intensidade do uso de ao, sendo esta a varivel com impacto

    mais forte no modelo.

    tambm de interesse o efeito sobre o consumo de ao da mudana no PIB, mantidas

    todas as variveis do modelo constantes. O primeiro efeito, para um aumento de 1% do

    PIB, uma diminuio na intensidade do uso igual a , ou seja, de 0,25%. Isto se d

    pela diminuio do tamanho relativo dos setores intensivos em ao na economia,

    representados por . J a demanda total por ao, ao contrrio, aumentaria em 1-

    , isto , em 0,75%. Em outras palavras, o aumento no nvel geral da atividade

    econmica mais do que compensa a reduo na intensidade do uso.

    A interpretao de tambm simples, pois se trata da elasticidade-preo da

    demanda. O coeficiente sugere que um aumento de 1% no preo do ao leva a uma

    diminuio de 0,03% na intensidade do uso do metal (ou vice-versa). A estatstica-t

    deste coeficiente, no entanto, sugere que este resultado no significativo, de forma que

    no possvel afirmar que o coeficiente seja estatisticamente diferente de zero. A falta

    33

  • de impacto de mudanas no preo sobre a demanda por ao no inesperada, e j foi

    observada em diversos estudos15

    .

    O coeficiente de , significativo a 1%, indica que um aumento (diminuio) de 1% nos

    preos de materiais de construo leva a uma diminuio (aumento) de 0,58% na

    intensidade do uso de ao. Este resultado esperado, por se tratar do preo de um

    complemento do ao (no Brasil o setor de construo civil o maior consumidor de

    ao). notvel que neste caso o impacto do preo dos complementos seja bem superior

    ao impacto do aumento do preo do produto em si.

    A quinta varivel explicativa, as importaes de ao como percentagem da produo

    total, foi importante para o modelo mais como fator de controle do que varivel

    explicativa propriamente dita. Apesar de ser significativo a 1%, o coeficiente indica

    que um aumento (diminuio) de 1% no porcentual das importaes face produo

    nacional levaria a um aumento (diminuio) de apenas 0,10% na intensidade do uso.

    Finalmente, o coeficiente indica que, conforme o esperado, a passagem do tempo (e,

    consequentemente, o avano tecnolgico) tem impacto negativo sobre a intensidade do

    uso de ao. Este coeficiente significativo apenas a 10%. Para cada 1% de aumento na

    varivel , haver uma diminuio de 0,08% na intensidade do uso (obviamente,

    no cabe neste caso o oposto). Isto significa que o impacto do avana de cada ano vai

    diminuindo, medida que cada ano representa um aumento menor da sempre crescente

    srie . Desta forma, o avano de 2010 para 2011 representou uma diminuio

    de 0,14% na intensidade do uso de ao, mantidas as outras variveis constantes. J

    avano de 2020 para 2021, por exemplo, representar diminuio de pouco mais de

    0,12%.

    Desempenho do Modelo

    Neste tpico ser analisado tanto o desempenho do modelo dentro da amostra, isto ,

    estimando-se o modelo com dados de todo perodo considerado (1952 a 2011) e

    comparando os resultados previstos por este com os observados na realidade; quanto

    fora da amostra, isto , construindo-se o modelo com dados restritos at certo ponto no

    15 Newcomb (1976).

    34

  • passado (neste caso, 2005) e comparando as estimativas do modelo para o restante do

    perodo (2006-2011) com as observadas na realidade.

    Desempenho dentro da Amostra

    A figura abaixo compara a intensidade real do uso de ao no Brasil (SIU) com a

    intensidade prevista pelo modelo (SIU_MODELO), no perodo de 1952 a 2011:

    Figura 18 Comparao dos valores previstos pelo modelo para SIU com a realidade

    O modelo consegue explicar satisfatoriamente as tendncias da intensidade do uso de

    ao no Brasil ao longo dos anos, ainda que no capture as grandes oscilaes bruscas,

    como a observada em 2009, no auge da crise financeira global (houve neste ano uma

    reduo de 22,5% no consumo de ao por unidade do PIB frente a 2008, enquanto o

    modelo previa aumento de 3,6%). De fato, o R ajustado do modelo aumenta para 0,84

    se limitamos o perodo a 2008.

    A mdia do mdulo dos erros do modelo foi de 5,05%, ou 0,000275 em termos

    absolutos. J a raiz do erro quadrtico mdio foi de 0,000376, ou 6,73% da intensidade

    do uso mdia. Como se pode notar da Figura 15, o erro no foi uniformemente

    distribudo ao longo do tempo. O modelo mostrou-se mais preciso no perodo de 1968-

    1978 (fase de grande industrializao nacional), seguido do perodo de 1989-2006 (fase

    35

  • de retomada do crescimento da intensidade do uso). Por outro lado, mostrou-se mais

    impreciso no perodo 2007-2011 (grandes flutuaes em decorrncia da crise financeira

    e recuperao) e de 1979-1988 (a turbulenta dcada perdida do pas).

    Uma maneira mais clara de observar o desempenho do modelo aplic-lo ao consumo

    de ao, isto , multiplicar a intensidade do uso projetada pelo PIB de cada ano para se

    obter o consumo aparente total. A figura abaixo compara o consumo aparente real de

    ao no Brasil com o previsto pelo modelo, bem como a diferena entre os dois:

    Figura 19 Comparao dos valores previstos pelo modelo para o consumo com a realidade, em milhares de toneladas

    Apesar de ter superestimado o consumo nacional no perodo de 2009-2011 (por no

    antecipar a drstica reduo causada pela crise), a mdia do mdulo dos erros foi de

    apenas 521,3 mil toneladas por ano, ou 4,86% do consumo mdio. A raiz do erro

    quadrtico mdio foi de 898,53 mil toneladas, ou 8,51% do consumo anual mdio.

    Desempenho Fora da Amostra

    Para esta anlise de desempenho, o modelo foi estimado com dados de 1952 a 2005 (em

    2006 inicia-se o perodo de grande importao de ao). A tabela abaixo contm os

    resultados desta regresso em perodo menor:

    36

  • Tabela 6: Tcnica de Intensidade do Uso.

    Esta tabela contm os resultados da estimao por Mnimos Quadrados Ordinrios e matriz de

    covarincia padro da intensidade do uso de ao no Brasil, SIU (em toneladas por real do PIB), entre

    1952 e 2005, de acordo com modelo baseado na Tcnica de Intensidade do Uso. As variveis

    explicativas, todas com dados entre 1952 e 2005, so INTER, que mede o tamanho relativo do setor

    intensivo em ao na economia, URBANA, a porcentagem urbana da populao brasileira, PRI, o preo

    real do ao no Brasil, com preo de 1994 assumindo o valor 100, PRI_Const, o preo real dos materiais

    para construo civil no Brasil (complemento do ao), com o preo de 1994 assumindo o valor 100,

    PERCENT_IMPORT, a razo entre a quantidade de ao bruto importada e a produo nacional do metal

    e TEMPO, proxy do avano tecnolgico que assume valores de 1 em 1952 a 54 em 2005. Na coluna da

    direita encontram-se os coeficientes das variveis explicativas e abaixo dos mesmos, entre parnteses,

    seus desvios-padres.

    *, ** e *** indicam significncia estatstica aos nveis de 1%, 5% e 10%, respectivamente.

    Como esperado, os resultados so semelhantes aos exibidos na Tabela 5, uma vez que

    foram suprimidos apenas 6 anos de um total de 60. A no incluso dos anos da crise

    Varivel Dependente

    SIU

    Variveis Explicativas Coeficiente

    (Desv. Pad) C -0,892565

    (0,712944)

    LOG(INTER) 0,250439*

    (0,046462)

    LOG(URBANA) 1,257477*

    (0,175744)

    LOG(PRI) -0,031577

    (0,048581)

    LOG(PRI_CONST) -0,556384*

    (0,122372)

    LOG(PERCENT_IMPORT) 0,101283*

    (0,014646)

    LOG(TEMPO_NORMAL) -0,082982***

    (0,041296)

    R 0,84975

    R Ajustado 0,830569

    Estatstica F 44,30192

    Probabilidade (Est. F) 0 Est. Durbin-Watson 1,978517

    37

  • financeira mundial, entretanto, elevou ligeiramente o R Ajustado, de 0,82 para 0,83. A

    estatstica de Durbin-Watson continua a no indicar presena de correlao serial.

    A figura abaixo, anlogo ao da Figura 18, compara a intensidade real do uso de ao no

    Brasil (SIU) com a intensidade prevista pelo modelo (SIU_MODELO), no perodo

    fora da amostra, ou seja, de 2006 a 2011:

    Figura 20 Comparao dos valores previstos pelo modelo para SIU com a realidade, no perodo fora da amostra (2006-2011)

    Assim como no caso dentro da amostra, o modelo apresentou a maior deficincia

    durante crises (neste caso, na de 2009). O modelo no previu um crescimento to

    intenso da intensidade do uso em 2007 e 2008 (apesar de ter previsto crescimento), nem

    a queda brusca de 2009. Em 2006, 2010 e 2011 as estimativas obtidas se aproximaram

    muito dos valores reais observados. A mdia do mdulo dos erros foi para este perodo

    de 6,74%. A raiz do erro quadrtico mdio foi de 0,000581, ou 8,83% da intensidade do

    uso mdia do perodo.

    Assim como na anlise de desempenho dentro da amostra, interessante realizar a

    anlise utilizando os estimativas de intensidade para se obter a projeo do modelo para

    consumo de ao no perodo, e compar-la com o que de fato ocorreu. Isto feito pela

    figura abaixo:

    38

  • Figura 21 Comparao dos valores previstos pelo modelo para o consumo com a realidade, em milhares de toneladas, para o perodo fora da amostra (2005-2011)

    Como esta anlise est focada num perodo particularmente turbulento para o setor

    siderrgico, o erro mdio do modelo foi consideravelmente superior ao do perodo

    completo (dentro da amostra), sendo aqui de 271 mil toneladas por ano (a mais), ou

    1,08% do consumo mdio. J a mdia do mdulo dos erros foi de 1,67 milho de

    toneladas por ano, ou 6,63% do consumo mdio. O erro quadrtico mdio foi de 2,17

    milhes de toneladas, ou 8,71% do consumo anual mdio.

    Aplicao do Modelo

    Os resultados permitem algumas constataes sobre o consumo de ao passado do

    Brasil e especulaes sobre o consumo futuro. necessrio cautela ao analisar estas

    aplicaes, que sempre partem de premissas fortes.

    Passado Recente

    Na ltima dcada (2002-2011), o consumo aparente de ao bruto no pas avanou quase

    52%, de 18,32 milhes de toneladas para 27,81 milhes. Neste mesmo perodo, a

    intensidade do uso de ao no Brasil aumentou apenas 7,78%. Em outras palavras, o

    aumento do consumo resultou primariamente do crescimento do PIB, e no de

    alteraes estruturais na economia que elevaram a intensidade do uso de ao da mesma.

    Mantido o PIB e a populao constantes entre 2002 e 2011, o consumo de ao nacional

    seria de 19,743 milhes de toneladas, e o consumo per capita de 112,99 toneladas, ao

    39

  • invs das 144,44 verificadas. Ou seja, o crescimento do PIB foi responsvel por um

    aumento de 8,07 milhes de toneladas, contra apenas 1,43 milhes decorrentes do

    aumento da intensidade.

    O modelo permite uma anlise mais detalhada destas 1,43 milhes de toneladas que

    foram consumidas em 2011 em decorrncia do aumento da intensidade do uso de ao no

    Brasil na ltima dcada. O setor intensivo em ao da economia (representado aqui pelos

    setores de construo civil e autoveculos) aumentou sua participao no PIB em 25%,

    atingindo 10,79% do total. De acordo com o modelo, tal variao resultou num aumento

    do consumo de 522 mil toneladas.

    Outro fator que impacta a intensidade do uso de ao no modelo a taxa de urbanizao.

    Nesta ltima dcada, a populao do Brasil continuou a se tornar mais urbana, ainda que

    num ritmo bem menor do que nas dcadas anteriores. A taxa de urbanizao aumentou

    2,59% no perodo, com um impacto de 298 mil toneladas adicionais consumidas.

    J o preo do ao aumentou 251% no perodo, levando a uma diminuio do consumo

    de 264 mil toneladas. necessrio frisar, no entanto, que o impacto do ao sobre a

    intensidade no foi considerado estatisticamente significativo, e, portanto, no se deve

    considerar esta reduo como real. O preo dos materiais de construo tambm

    registrou avano, ainda que bastante inferior, aumentando 10%. Apesar de bem mais

    modesto, o modelo indica um impacto muito superior sobre o consumo de ao,

    causando uma reduo de 491 mil toneladas.

    O boom das importaes de ao na ltima dcada teve, de acordo com o modelo,

    substancial impacto sobre o consumo. Em 2002 o Brasil importou uma quantidade de

    ao equivalente a 2,27% da produo domstica, valor que subiu para 10,76% em 2011

    (um aumento relativo de 374%). Apesar do baixo coeficiente que o modelo atribui

    varivel percentual de importaes, este grande crescimento resultou num aumento do

    consumo de 1,49 milho de toneladas, o maior dentre todas variveis neste perodo.

    razovel supor que a valorizao do real na ltima dcada tornou o ao importado

    atrativo, possibilitando um aumento da intensidade do uso que no seria verificado caso

    o pas consumisse exclusivamente ao nacional. Ainda que muito significativo frente ao

    aumento de consumo decorrente da variao na intensidade do uso de ao, cabe ressaltar

    que um aumento modesto em relao ao causado pelo aumento do PIB.

    40

  • Finalmente, o avano tecnolgico (atravs de sua proxy, a passagem do tempo) resultou

    num decrscimo do consumo de ao brasileiro de 125 mil toneladas em 2011 quando

    comparado a 2002, um valor irrisrio frente ao ocasionado pelo crescimento econmico.

    A figura abaixo ilustra o impacto de cada varivel, de acordo com o modelo, no

    aumento consumo de ao do Brasil entre 2002 e 2011:

    Figura 22 Contribuio de cada varivel para o aumento do consumo de ao entre 2002 e 2011, em milhes de toneladas.

    Cabe ressaltar que nem sempre houve o predomnio do crescimento do PIB sobre o

    aumento do consumo de ao no Brasil. De fato, na dcada anterior ltima (1992-2001)

    foi o aumento da intensidade do uso de ao quem ocasionou o maior aumento do

    consumo, sendo responsvel por um aumento de 4,47 milhes de toneladas contra 4,23

    milhes decorrentes do crescimento do PIB (Neste perodo, a intensidade do uso de ao

    no pas avanou 46%, comparado a um avano de 29% do PIB, em termos reais).

    Prximos Anos

    Ao contrrio dos pases desenvolvidos, no h no Brasil tendncia de diminuio do

    peso relativo dos setores intensivos em ao. De fato, aps um longo perodo de declnio

    e estagnao, a ltima dcada viu substancial aumento destes setores, com o efeito

    positivo sobre o consumo de ao descrito no tpico anterior. Naturalmente, no h

    qualquer garantia que este crescimento se mantenha.

    Da mesma forma, impossvel prever o comportamento futuro do preo do ao e dos

    materiais para construo civil no pas. interessante traar alguns cenrios analisando

    41

  • o impacto de mudanas nestas variveis sobre o consumo futuro, mas no se pode

    determinar qual cenrio ocorrer.

    O efeito da urbanizao residual que ainda ocorre no Brasil mais simples de antecipar.

    Durante a ltima dcada, o Brasil urbanizou-se a uma taxa mdia de 0,28% ao ano, e a

    cada ano esta taxa recuou em mdia 9,84%. Supondo que taxa de urbanizao continue

    a declinar nesta mesma velocidade, entre 2012 e 2021 a proporo urbana da populao

    brasileira aumentar em 1,44%, numa mdia de 0,14% ao ano. De acordo com as

    estimativas obtidas, este pequeno acrscimo resultar num aumento de 2,15% da

    intensidade do uso de ao no Brasil, cujo impacto no consumo de ao depender

    naturalmente de quanto o PIB crescer no perodo (caso o crescimento seja zero, o

    impacto no consumo seria de 611 mil toneladas por ano).

    Ao contrrio do caso da urbanizao, o modelo supe que o contnuo avano

    tecnolgico ter impacto negativo sobre a intensidade do uso de ao, ainda que

    decrescente. Nos 10 anos entre 2012 e 2021, as estimativas obtidas apontam que este

    impacto causar um decrscimo da intensidade do uso de ao de 1,31%, o que

    representaria uma reduo no consumo de 372 mil toneladas por ano em 2021, supondo

    nenhuma variao do PIB.

    Nota-se que o efeito negativo do avano tecnolgico sobre a intensidade do uso na

    prxima dcada ser mais do que compensado pela pequena urbanizao que deve

    ocorrer no perodo. De fato, o efeito combinado destas duas variveis antecipveis

    deve ser positivo at 2021, a partir de quando a urbanizao em andamento ser

    praticamente zero e portanto incapaz de compensar o efeito negativo da passagem do

    tempo. Mantendo-se todas outras variveis constantes e avanando apenas a

    urbanizao e o tempo, estima-se que em 2021 a intensidade do uso de ao seria 0,81%

    superior registrada em 2011, o que representaria um aumento de consumo de 231 mil

    toneladas com o PIB de 2011.

    Estimativas mais realistas do consumo de ao do Brasil no futuro prximo envolvem

    necessariamente o uso de projees sobre o crescimento do PIB. Uma das mais

    utilizadas a da Pardee Center for International Futures, que projeta um crescimento

    real do PIB brasileiro de 37,58% entre 2012 e 2021 (mdia de 3,24% ao ano). Este

    crescimento econmico, combinado a um avano na intensidade do uso de ao de

    0,80% descrito no cenrio neutro do pargrafo acima resultaria num consumo total de

    39,42 milhes de toneladas em 2021 (43% a mais que em 2011). Considerando no

    42

  • mesmo um perodo um crescimento populacional de 5,83%16

    , o pas alcanaria 193 kg

    per capita de consumo de ao bruto (34% a mais que em 2011).

    Obviamente, o cenrio neutro descrito acima puramente especulativo, pois no h

    qualquer garantia que a composio da economia se manter constante, de forma que

    variaes na intensidade do uso de ao podem resultar num consumo muito maior ou

    menor (alm da possibilidade do PIB ter um crescimento distinto da projeo).

    Um cenrio otimista para a intensidade do consumo de ao no Brasil na prxima

    dcada pode ser construdo como um em que a participao dos setores intensivos em

    ao na economia continue a se expandir no mesmo ritmo verificado na ltima dcada,

    enquanto os preos do ao e dos materiais para construo civil recuam gradualmente

    para os patamares registrados no em 2002. Neste cenrio, o percentual de ao importado

    mantido no elevado nvel de 2011. J um cenrio pessimista pode ser construdo

    como um em que a participao dos setores intensivos em ao na economia e o

    percentual de ao importado recuam gradualmente para o nvel de 2002, enquanto os

    preos de ao e dos materiais de construo se mantm no seu atual patamar elevado.

    Em ambos os cenrios descritos acima a taxa de urbanizao a mesma do cenrio

    neutro, j que altamente improvvel que haja uma divergncia significativa neste

    indicador. As mudanas descritas nos trs cenrios tm efeito somente sobre a

    intensidade do uso de ao; a determinao do consumo final depende ainda da variao

    do PIB. Na figura abaixo, mantm-se nos trs cenrios a mesma projeo para taxa de

    crescimento do PIB (obtida da Pardee Center for International Futures) e para o

    crescimento populacional (obtida do IBGE). A figura abaixo ilustra a evoluo da

    intensidade do uso de ao nos trs cenrios descritos:

    16 IBGE, Projeo da Populao do Brasil, 2008

    43

  • Figura 23 Trs cenrios para a intensidade do uso de ao no Brasil na prxima dcada, em kg / unidade do PIB (R$ de 2011)

    Como j mencionado, no cenrio neutro a intensidade do uso do ao praticamente

    permanece constante, avanando 0,80% na dcada. J no cenrio otimista o avano

    bem mais expressivo, totalizando 17,72% no mesmo perodo. Este aumento

    substancialmente maior que o verificado na ltima dcada (2002-2011). Por outro lado,

    no cenrio pessimista h um recuo da intensidade do uso de 18,14%, comparvel ao

    verificado na dcada de 1980.

    A variao da trajetria do consumo de ao bruto per capita dos trs cenrios resulta

    unicamente das mudanas na intensidade do uso causadas pelas alteraes estruturais na

    economia supostas nos pargrafos anteriores. Estas trajetrias esto expostas na figura

    abaixo:

    44

  • Figura 24 Trs cenrios para o consumo de ao bruto per capita do Brasil na prxima dcada, em kg

    Como se pode notar da figura acima, o crescimento do PIB de 3,24% ao ano se

    confirmado deve garantir no mnimo um modesto aumento no consumo per capita de

    ao bruto do Brasil, que no cenrio pessimista atinge em 2021 pouco menos de 157

    kg, ou 8,60% a mais que em 2011. No extremo oposto, se a intensidade do uso de ao

    aumentar como no cenrio otimista, o consumo per capita atingiria 226 kg, um

    aumento de 56% em relao a 2011. J no cenrio neutro, o consumo per capita

    alcanaria os j mencionados 193 kg em 2021, um aumento de mais de 33% na dcada.

    Finalmente, a figura abaixo ilustra a evoluo do consumo absoluto de ao no Brasil em

    cada um dos trs cenrios traados, isto , multiplica os consumos per capita da figura

    acima pela projeo populacional de cada ano:

    45

  • Figura 25 Trs cenrios para o consumo de ao bruto do Brasil na prxima dcada, em toneladas

    Como a populao brasileira deve continuar a expandir-se na prxima dcada (ainda

    que em ritmo muito mais lento do que no passado), a expanso relativa no consumo

    total de ao deve ser maior que a do consumo per capita. Desta forma, os aumentos

    estimados frente a 2011 variam de 16,18% no cenrio pessimista, onde o consumo

    atingiria 32 milhes de toneladas por ano em 2021, at 67,07% no cenrio otimista,

    onde o consumo atingiria 46 milhes de toneladas por ano. Por sua vez, no cenrio

    neutro h aumento de 43,08%, atingindo em 2021 39,4 milhes de toneladas.

    Anlises de Robustez

    Com o objetivo de analisar a robustez dos resultados descritos nos seos anteriores, foi

    construdo um modelo alternativo, mais prximo do originalmente concebido por Tilton

    (1988) e Valdes (1988). Alm disso, para algumas das variveis explicativas deste

    modelo, foram empregadas proxies diferentes das do modelo principal.

    Numa outra anlise de robustez, o modelo original foi estimado novamente com a

    adio de uma varivel dummy para o ano de 2009, no qual a crise financeira global

    atingiu fortemente a indstria siderrgica e onde o modelo original apresentou o maior

    desvio em relao realidade, tanto na projeo dentro da amostra quanto fora.

    Finalmente, tanto o modelo linear original quanto o modelo alternativo foram estimados

    pelo mtodo de Mnimos Quadrados em Dois Estgios (GMM no caso do modelo no

    linear), empregando variveis instrumentais para o caso de algumas das variveis

    explicativas originais serem endgenas.

    46

  • Modelo No Linear

    Este modelo emprega proxies distintas das do modelo principal, e representa o avano

    tecnolgico com uma Curva de Gompertz, sendo portanto estimado por Mnimos

    Quadrados No Lineares.

    Composio de Produtos da Economia

    A composio de produtos da economia, isto , da percentagem de produtos que levam

    ao em sua fabricao, ser afetada tanto por mudanas inter-setoriais (de setores mais

    intensivos em ao para setores menos intensivos) quanto intra-setoriais (dentro do setor

    intensivo, de manufaturas tradicionais mais intensivas em ao para manufaturas

    avanadas menos intensivas). Neste modelo alternativo, ser utilizada como proxy do

    setor intensivo em ao da economia uma sria com o PIB Industrial como percentagem

    do PIB total. Espera-se que, tudo mais constante, quanto maior o peso do setor

    industrial na economia maior a intensidade do uso de ao. Temos, portanto:

    (15)

    A Figura 24 abaixo ilustra a variao da participao do setor industrial na economia

    brasileira de 1952 a 2011:

    Figura 26 %PIB Industrial (Fonte: Ipea)

    47

  • Nota-se um aumento praticamente constante do incio da srie at a metade da dcada

    de 1980, quando a participao do setor industrial entra em acentuado declnio, at

    estabilizar-se entre 1997 e o presente.

    Para representar as mudanas internas do setor intensivo em ao, Valdes (1988) utiliza

    uma srie com o valor agregado das manufaturas tradicionais sobre o valor agregado de

    todas as manufaturas. Infelizmente, ambas as sries no esto disponveis para o caso

    brasileiro. Optou-se, portanto, por empregar uma srie com o PIB do setor de

    autoveculos, importante manufatura tradicional, sobre o PIB Industrial total. Espera-se,

    ceteris paribus, que quanto maior o peso do setor de autoveculos (proxy das

    manufaturas tradicionais) no PIB Industrial, maior a intensidade do uso de ao. A

    formulao matemtica como abaixo:

    (16)

    A Figura 25 abaixo ilustra a variao da participao do setor industrial na economia

    brasileira de 1952 a 2011:

    Figura 27 %PIB Industrial (Fonte: Anfavea e Ipea)

    Nota-se acelerado aumento do final da dcada de 1950 at meados da dcada de 1970,

    quando se iniciou um declnio da participao dos autoveculos na indstria nacional.

    Em 1990 comea outro ciclo de aumento no peso relativo, que perdura at o presente,

    ultrapassando a marca de 1975.

    48

  • Composio Material dos Produtos

    Para estimar composio material dos produtos, isto , a quantidade de ao mdia

    presente nos produtos que levam ao em sua fabricao, Valdes (1988) emprega

    somente o preo real do ao e o nvel de avano tecnolgico. No modelo principal,

    foram incorporadas sries relativas ao preo de complementos do ao (materiais de

    construo) e ao efeito do mercado externo. Nesta anlise de robustez, eliminou-se a

    srie de preos da construo civil, para que haja maior coincidncia com o modelo

    original.

    Dada a grande importncia tanto das exportaes quanto importaes de ao no Brasil,

    entretanto, no possvel deixar de incluir alguma varivel relativa ao mercado externo.

    No modelo principal, optou-se pela percentagem de ao importado em relao ao

    produzido como proxy. Neste, ser empregada uma sria de preos reais do ao nos

    Estados Unidos, de 1952 a 2011, obtida do US Geological Survey, atribuindo-se ao

    preo de 1994 o valor de 100.

    Espera-se que, ceteris paribus, quanto maior o preo do ao nos EUA (e,

    consequentemente, no mercado global), menor a intensidade do uso de ao no Brasil.

    Isto porque preos mais altos no mercado internacional encarecem o preo do ao no

    Brasil de duas maneiras: se o preo externo mais barato que o interno (j incluindo

    impostos, frete, etc.), as importaes so vantajosas. Caso o preo externo suba, as

    importaes tornam-se menos vantajosas. Se o preo externo superior ao brasileiro,

    um aumento no primeiro leva os produtores nacionais a aumentarem o segundo, j que

    importar no economicamente vivel neste cenrio. De fato, os preos nacionais so

    muito correlacionados com os preos internacionais, de forma que no h sentido em

    empregar ambos na mesma regresso. Neste modelo, usa-se apenas a srie de preos

    internacionais (americanos), para analisar a hiptese que estes explicam a intensidade

    do uso de ao no Brasil melhor que os preos nacionais, includos no modelo principal.

    Esta srie pode ser vista na figura abaixo:

    49

  • Figura 28 Evoluo do Preo do Ao nos EUA (Fonte: USGS)

    Nota-se um aumento lento e gradual do incio da srie (1952) at os primeiros anos da

    dcada de 1970, na qual o preo de ao nos EUA subiu cerca de 150%. Da dcada de

    1980 at 2002 o preo do ao manteve-se estvel, oscilando em torno da mesma mdia,

    at que nesta ltima data iniciou um movimento sem precedente de subida, que

    culminou em 2008. Nos anos entre 2002 e 2008, o preo subiu mais de 110%. Este

    movimento foi bruscamente interrompido pela crise mundial de 2008/2009, onde houve

    reduo de 25% em apenas um ano. Em 2010 inicia-se recuperao do preo do ao nos

    EUA, que ao fim desta srie encontra-se novamente em trajetria ascendente.

    Como j mencionado, outro aspecto que afeta a composio material dos produtos o

    avano tecnolgico. Espera-se que, ceteris paribus, quanto maior o nvel tecnolgico

    menor a quantidade de ao empregada num produto semelhante. Isto porque novas

    tecnologias permitem economia de recursos, e novos materiais substitutos esto sempre

    sendo desenvolvidos ou viabilizados economicamente. Existem vrias proxies que

    podem ser usadas para representar o avano tecnolgico, todas ligadas ao tempo. No

    modelo principal, utilizou-se o mtodo mais simples de assumir que o nvel tecnolgico

    uma funo linear do tempo (conforme a Equao 12). Com o objetivo de analisar a

    validade desta escolha, e para se construir um modelo mais prximo do de Valdes

    (1988), emprega-se neste modelo uma Curva de Gompertz para representar o avano

    tecnolgico, que permite uma representao mais elaborada das mudanas tecnolgicas,

    sendo caracterizada por uma taxa de mudana inicialmente crescente, que atinge um

    50

  • mximo e depois declina assintoticamente at zero. Esta curva pode ser formulada como

    abaixo:

    (17)

    Neste caso, definido como o ano menos 2011, ou seja, assume valores entre -

    59 (1952) at 0 (2011). Na Equao 17, representa o valor limitante de ,

    reflete a escolha do zero do tempo e a constante da taxa que determina o

    espalhamento da curva ao longo do eixo de tempo. deve ser positivo porque

    definida como uma quantidade positiva. Ao menos um entre e deve ser negativo

    para que no haja crescimento infinito. A varivel sobre o impacto do nvel tecnolgico

    crescer com o tempo se ambos forem negativos, caso contrrio decrescer.

    Estimao dos Parmetros

    Adotando mais uma vez um modelo multiplicativo, nesta anlise de robustez foi

    sugerido que:

    (18)

    e

    (19)

    Combinando as equaes acima com a Equao 4, obtm-se:

    (20)

    Onde: e

    Mais uma vez, para simplificar a estimao dos parmetros toma-se o logaritmo natural

    de ambos os lados da equao, obtendo-se:

    +

    (19)

    Esta equao no linear no termo , o que exige estimao pelo mtodo dos Mnimos

    Quadrados No Lineares, descrito em detalhes no Apndice A deste trabalho. Os

    resultados da estimao da equao acima esto na tabela abaixo. Como apresentaram

    51

  • evidncia de correlao serial positiva de primeira ordem, empregou-se a Matriz de

    Covarincia de Newey-West, robusta tanto em relao correlao serial quanto

    heterocedasticidade (os Testes de White e Breusch-Pagan, entretanto, no rejeitaram a

    hiptese de homocedasticidade dos resduos).

    Tabela 7: Tcnica da Intensidade de Uso do Modelo Alternativo, com Matriz de

    Covarincia de Newey-West

    Esta tabela ilustra os resultados da estimao da intensidade do uso de ao no Brasil entre 1952 e 2011

    por Mnimos Quadrados No Lineares e matriz de covarincia de Newey-West. As variveis explicativas,

    com dados para o mesmo perodo, so PIB IDUSTRIAL, que mede a participao do setor industrial na

    economia brasileira, INTRA, que mede a percentagem do PIB Industrial representado pelo setor de

    autoveculos (proxy da participao das manufaturas tradicionais no setor manufatureiro como um todo),

    PRI_USA, que o preo real do ao nos EUA, com o preo de 1994 assumindo o valor 100, o avano

    tecnolgico modelado atravs de uma Curva de Gompertz. . Na coluna da direita encontram-se os

    coeficientes das variveis explicativas e abaixo dos mesmos, entre parnteses, seus desvios-padres.

    *, ** e *** indicam significncia estatstica aos nveis de 1%, 5% e 10%, respectivamente.

    Uma primeira anlise da tabela acima j revela algumas deficincias deste modelo

    alternativo. A nica varivel significativa a um nvel de confiana de 90% INTRA,

    isto , a percentagem do PIB Industrial representada pelo setor de autoveculos. O R

    Ajustado indica que pouco mais da metade da variabilidade da intensidade do uso de

    Varivel Dependente

    SIU

    Variveis Explicativas Coeficiente

    (Desv. Pad)

    LOG(CONSTANTE) 375,3116

    (710381,1)

    LOG(PIB INDUSTRIAL) -0.,47604

    (0,161794)

    LOG(INTRA) 0,164906***

    (0,097851)

    LOG(PRI_USA) 0,140155

    (0.,162265)

    K(5) -12,02747

    (1893,141)

    K(6) 0,000355

    (0,056071)

    R 0,527088

    R Ajustado 0,4833

    Est. Durbin-Watson 0,865252

    52

  • ao no Brasil no explicada pelo modelo (para efeito de comparao, o R Ajustado do

    modelo principal foi de 0,82). Os coeficientes de PIB Industrial e do preo do ao nos

    EUA no tm os sinais esperados, nem so significativos. Os coeficientes da varivel de

    avano tecnolgico tm, como esperado, sinais opostos, mas tampouco so

    estatisticamente significativos.

    Como a anlise de robustez demonstra, este modelo parece confirmar a influncia do

    setor de autoveculos nacional sobre a intensidade do uso de ao no pas.

    Desempenho do Modelo No Linear

    A figura abaixo compara a intensidade real do uso de ao no Brasil (SIU) com a

    intensidade prevista pelo modelo alternativo no linear (SIU_MODELO_ALT), no

    perodo de 1952 a 2011 (ou seja, dentro da amostra):

    Figura 29 Comparao dos valores previstos pelo modelo alternativo para SIU com a realidade

    Nota-se da figura acima que o modelo alternativo consegue, de forma geral, apenas

    acompanhar a tendncia da intensidade do uso de ao real, no prevendo os aumentos

    ou quedas abruptos, ainda que estes venham a durar vrios anos. A anlise visual j

    aponta para menor adequao deste modelo em relao ao original, o que comprovado

    pela mdia do mdulo dos erros relativos de 9,86%, comparado a 5,05% do modelo

    original, tambm no caso dentro da amostra. J a raiz do erro quadrtico mdio foi de

    53

  • 0,000650, ou 11,63% da intensidade do uso mdia entre 1952 e 2011, comparada a

    6,73% no modelo original, confirmando a menor preciso das estimativas do modelo

    alternativo no linear.

    O desempenho fora da amostra do modelo alternativo (com dados de 1952 a 2005), para

    o perodo de 2006 a 2011, pode ser observado na figura abaixo:

    Figura 30 Comparao dos valores previstos pelo modelo alternativo para SIU com a realidade

    Nota-se da figura da Figura 30 acima que no perodo fora da amostra (2006-2011) o

    modelo alternativo subestimou consistentemente a intensidade do uso de ao no Brasil,

    exceto no ano de crise de 2009, que no foi prevista pelo mesmo. A mdia do mdulo

    dos erros foi de 9,65%, bem superior aos 6,74% verificados no modelo original. A raiz

    do erro quadrtico mdio foi de 0,000695, ou 10,56% da intensidade do uso de ao

    mdia do perodo fora da amostra (comparada a 8,83% no modelo original, para o

    mesmo perodo).

    Modelo Linear com Dummy

    A anlise de robustez aqui proposta consiste to somente em acrescentar uma varivel

    dummy, com valor 1 para o ano de 2009 e zero para todos os demais, ao modelo linear

    original. O ano de 2009 foi o que apresentou maior erro na comparao da projeo do

    modelo original com a realidade observada, tanto no perodo dentro quanto fora da

    amostra. Deseja-se, portanto, testar se a introduo desta varivel ao modelo melhorar

    de forma perceptvel seu desempenho. A equao a ser resolvida :

    54

  • (20)

    Os resultados da regresso so os apresentados na tabela abaixo:

    Tabela 8:Tcnica de Intensidade do Uso

    Esta tabela contm os resultados da estimao por Mnimos Quadrados Ordinrios e matriz de

    covarincia padro. da intensidade do uso de ao no Brasil, SIU (em toneladas por real do PIB), entre

    1952 e 2011, de acordo com modelo baseado na Tcnica de Intensidade do Uso. As variveis

    explicativas, todas com dados entre 1952 e 2011, so INTER, que mede o tamanho relativo do setor

    intensivo em ao na economia, URBANA, a porcentagem urbana da populao brasileira, PRI, o preo

    real do ao no Brasil, com preo de 1994 assumindo o valor 100, PRI_Const, o preo real dos materiais

    para construo civil no Brasil (complemento do ao), com o preo de 1994 assumindo o valor 100,

    PERCENT_IMPORT, a razo entre a quantidade de ao bruto importada e a produo nacional do metal,

    TEMPO, proxy do avano tecnolgico que assume valores de 1 em 1952 a 60 em 2011 e Dummy_2009,

    que assume valor 1 para o ano 2009 e zero para todos os demais.

    Varivel Dependente SIU

    Variveis Explicativas Coeficiente (Desv. Pad)

    C -1,009143 (0,637998)

    LOG(INTER) 0,245364* 0,044278

    LOG(URBANA) 1,24901* (0,171961)

    LOG(PRI) -0,0