ARTIGO carimbó patrimonio de um povo por jeancarlo pontes

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Faculdade Integrada Brasil Amaznia - FIBRA Ps-Graduao Lato Sensu Curso Patrimnio Cultural e Educao Patrimonial

JEANCARLO PONTES CARVALHO

Trabalho de concluso de curso de especializao

Belm Pa. 2011

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JEANCARLO PONTES CARVALHO

Trabalho de concluso de curso de especializao

Trabalho de concluso de curso de especializao apresentado, como exigncia parcial para a

obteno de ttulo de Ps-Graduao do Curso de Patrimnio Cultural e Educao Patrimonial, da Faculdade Integrada Brasil Amaznia, sob a orientao da Professora Llia Maria da Silva Fernandes.

Belm Pa. 2011

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CARIMB: PATRIMNIO DE UM POVO

Jeancarlo Pontes Carvalho1

RESUMO

O presente artigo expe questionamentos e afirmaes da manifestao cultural conhecida como Carimb, uma prtica difundida na regio norte do Brasil, no estado do Par. Evidencia essa prtica cultural como smbolo da cultura brasileira. Faz referncia ao Carimb como fato ou discurso que ainda permeiam entre estudiosos e defensores do Carimb, por meio de analises em obras bibliograficas, mdias eletrnicas, sitos e jornais escritos a aceitao da manifestao cultural brasileiro. Palavras-chave: Carimb, Patrimnio, Educao, Povo, Memria e Identidade.

ABSTRACT

This article presents questions and assertions of cultural event known as stamps, a common practice in northern Brazil, in Par State. Evidence this cultural practice as a symbol of Brazilian culture. Refers to the stamp as fact or speech that still pervade among scholars and advocates Carimb, through analysis of bibliographical works, electronic media, websites and newspapers written acceptance of the Brazilian cultural manifestation. Key-words: Carimb, Heritage, Education, People , Memory and Identity.

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Graduado pela Universidade Estadual do Maranho em Licenciatura em Histria. Especializando em Patrimnio Cultural e Educao Patrimonial. Presidente da Associao dos Agentes de Patrimnio da Amaznia-ASAPAM E-mail: [email protected]

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Carimb: Expresso Como Cultura No Par, na regio norte do Brasil, existe uma manifestao cultural conhecida como Carimb, prtica esta que reuni valores, smbolos e elementos da cultura paraense, e acima de tudo tambm brasileira. E, tem na sua espetacularidade, fatos relevantes para a construo da histria regional e nacional. Mais que uma manifestao cultural paraense, o Carimb, uma expresso cultural representativa da Amaznia brasileira, e na sua essncia formada por trs povos, o Africano, o Portugus e o Silvcola, que demonstra riqueza e diversidade inerente a esta cultura. Sua representao social deve-se principalmente ao modo de transmisso oral e a modo de vida tradicional preservado pelas comunidades, e ainda ao processo cultural globalizado, dentro de seu contexto social, cultural e ambiental. Hoje, os grupos ligados ao Carimb buscam se articular de forma mais harmoniosa, compartilhando compromissos e idias, aprendendo a trabalhar juntos respeitando a diversidade que existe dentro da roda do Carimb. Do ponto de vista social, o Carimb ganha mais notoriedade nas comunidades tradicionais do estado do Par. Todavia, ao mesmo tempo em que esta manifestao valorizada pelos seus mantenedores culturais, os seus detentores que possuem a arte do saber e fazer de uma cultura popular padece pelas transformaes sociais perante a globalizao cultural. Tendncia esta, segundo Comegna; Ziglio (2005) a pea ideolgica de uma estratgia de dominao em escala mundial que resultaria na configurao de um mundo integrado e organizado, nos moldes de um enorme Estado-nao. Ou seja, a absolvio de elementos culturais externos (o que vem de fora melhor) esmia e causa a perda dos processos de transmisso do conhecimento e de experincias nicas de um costume cultural, levando diversas culturas tradicionais existentes em qualquer regio do Brasil ao abismo social. E todas estas possibilidades na viso de Comegna; Ziglio (2005), poderiam ter criado vrias maneiras de integrao e de diferenciao cultural, assim como a atual fase do processo de globalizao. Elas poderiam ser produtoras de uma cultura global.

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Vale revelar que no mundo do Carimb, o avano da globalizao cultural afeta todos que necessitam desta manifestao como meio de vida. E de acordo com Loureiro in Jornal O Liberal (2011) Os mestres do Carimb, especialmente, os que vivem no interior, morrem sem registrar suas obras, com suas tcnicas de confeco e manuseio de instrumentos perdidos no tempo. Muitos desses Mestres de Carimb trabalham como vigias noturnos, so ajudados por suas famlias, e dificilmente conseguem viver do seu artesanato, da pesca, da agricultura entre tantas outras subsistncias sociais, portanto, ocasionando a perda da memria coletiva e dos processos valorativos de registro e inventariado histrico cultural do Carimb. A histria do Carimb como manifestao cultural marcada por eventos de fatos meritrios. Historiadores, pesquisadores, agentes culturais e pessoas ligadas a esta prtica cultural pormenorizam a definio histrica e cultural desta manifestao. Todavia, diversos fatos, como a origem, respeito, valorizao dentre outros ainda permeiam nos discursos de estudiosos e defensores do Carimb, e at mesmo daqueles que no reconhecem esta prtica, e a importncia para a formao histrica da sociedade paraense no contexto social cultural no Brasil. Contudo, esta manifestao est prestes a ser reconhecido pelo governo federal, por meio do MINC 2/IPHAN3 como uma das maiores expresses da cultura imaterial do Brasil, reconhecimento este, que significar o registro oficial como Patrimnio Cultural Brasileiro. E este processo segundo Chagas (2011), ir contemplar o carimb com um carter oficial, de um patrimnio cultural reconhecido pela Federao, a partir da, o poder pblico ter o dever de desenvolver polticas para proteger esse bem. E certamente trar mais2

MINC: Ministrio da Cultura do Brasil. Foi criado em 15 de maro de 1985 pelo decreto n 91.144, no governo de Jos Sarney. Antes as atribuies desta pasta eram de autoridade do Ministrio da Educao, que de 1953 a 1985 chamava-se Ministrio da Educao e Cultura (MEC). O MinC responsvel pelas letras, artes, folclore e outras formas de expresso da cultura nacional e pelo patrimnio histrico, arqueolgico, artstico e cultural do Brasil. 3 IPHAN - O Instituto de Patrimnio Histrico e Artstico Nacional foi criado em 13 de janeiro de 1937 pela Lei n 378, no governo de Getlio Vargas. J em 1936, o ento Ministro da Educao e Sade, Gustavo Capanema, preocupado com a preservao do patrimnio cultural brasileiro, pediu a Mrio de Andrade a elaborao de um anteprojeto de Lei para salvaguarda desses bens. Em seguida, confiou a Rodrigo Melo Franco de Andrade a tarefa de implantar o Servio do Patrimnio. Posteriormente, em 30 de novembro de 1937, foi promulgado o Decreto-Lei n 25, que organiza a proteo do patrimnio histrico e artstico nacional. O Iphan est hoje vinculado ao Ministrio da Cultura.

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visibilidades e conseqentemente o reconhecimento devido para os detentores da cultura do Carimb. Os elementos Culturais do Carimb Blanco (2010) afirma que o Carimb uma das manifestaes culturais presentes no Estado do Par. Trata-se de grupo formado por homens e mulheres que danam, cantam, tocam o carimb. Gabbay (2010) tambm sustenta o conceito que o carimb gnero de msica e dana popular da regio Norte do Brasil, tem origem no sincretismo entre as culturas indgena, africana e ibrica. O fato , o Carimb no somente uma msica ou uma dana apresentado por casais danadores4 com roupas e saias coloridas que danam em uma roda, como sempre descrito nos livros, manuais e textos acadmicos, e at mesmo por aqueles que ainda insistem em idealizar projetos culturais em escolas, afirmando que ao final das oficinas, as pessoas que nelas esto inseridas, se autodenominam Mestres, danarinos e detentores da prtica cultural do Carimb. Esta manifestao cultural conhecida como Carimb, bem mais que isso, envolve pessoas, seus saberes e fazeres, o domnio da tcnica (arte) da fabricao de instrumentos rsticos (curimbs, flautas de madeiras, banjos, reco reco dentre outros), o cotidiano, o seu modo de vestir, de cantar, de falar, o relacionamento social, econmico e poltico. Enfim, uma infinidade de

possibilidades que seria impossvel criar um conceito singular para esta prtica cultural e, ainda afirmar que somente uma particularidade regional, sem importncia para a histria da sociedade brasileira. E por ser uma expresso cultural e cultura no imutvel, permanente, estagnada ou um espetculo encenado para uma platia, no teria, portanto a possibilidade de afirmar que esta manifestao seja somente uma dana, msica ou mesmo um instrumento de madeira. Alm do mais, sempre surgir novos elementos, para definir a expresso cultural inerentes ao Carimb. E estas expresses do Carimb, podem ser evidenciadas em vrios municpios e vilarejos paraenses, onde o Carimb difundido. Sendo muito4

Danadores: um termo regional, do mundo carimb, designado as pessoas que danam o Carimb, utilizado principalmente, para identificar os danarinos de grupos culturais artsticos que tem em seus repertrios a msica Carimb.

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destes lugares mantenedores de termos como Carimb autntico, tradicional e Pau e Corda. Marapanim, Santarm Novo e Belm, so alguns municpios onde o Carimb praticado, e cada um deles tem o seu meio singular de vivenciar a sua especificidade cultural. Por exemplo, Marapanim defendido pela sua comunidade como o bero do Carimb, se destaca pelas suas atraes naturais, dentre elas, as praias atlnticas de Marud e Crispim, e uma culinria deslumbrante com camares, peixes e a sopa de turu a moda paraense. A histria deste municpio comea no sculo XVII, com a chegada dos padres jesutas que fundaram a fazenda Bom Intento. O seu povo possui como caracterstica a humildade, a simpatia, mostrando-se orgulhosos das riquezas naturais, culturais, histricas e tursticas; J o Municpio de Santarm Novo, possui uma particularidade excepcional. L se dana o Carimb de palet e gravata, as mulheres, so comportadas, os seus rebolados no so to sensuais, como ocorrem em outras regies, onde o Carimb praticado, incomum dos conceitos sempre salientados pela mdia e estudiosos do Carimb. Outra caracterstica marcante a religiosidade, presente na devoo ao So Benedito. Por sua vez, Belm adaptando esta expresso cultural a modernidade, inserindo equipamentos musicais eletrnicos (guitarras e teclados), faz com que os conceitos dados a esta cultura, estejam descontextualizado. Nisto tem-se o conflito do Tradicional e Moderno, que nos ltimos anos recorrente em rodas de conversas de diversos setores sociais, principalmente quando envolve a Cultura Popular, que normalmente, detem os saberes existentes de diversas geraes para com a cultura de massa, que envolve valores econmicos e estruturas miditicas a essncia de manifestaes existente. Tradicional e o Moderno As tenses entre o tradicional e o moderno, so dois campos essenciais para a continuidade de uma manifestao cultural. Nisto, tem-se o processo da Globalizao, que em conformidade com Comegna; Ziglio (2005), vm se manifestando simultaneamente no campo social, econmico, poltico e cultural. Neste contexto, tem a manifestao cultural do Carimb, compartilhado por aqueles, tanto da linha tradicional quanto modernista, que idealizam a vontade

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de conduzir esta prtica cultural as diferentes classes sociais e instituies governamentais, para o reconhecimento e conseqentemente a valorizao pela sociedade como manifestao cultural significativa na formao histrico-social no Brasil. Gabay (2010), compreendendo os aspectos culturais, sobretudo, diante de um modelo sociocultural marcado pela velocidade espao-temporal e pela fugacidade e hibridez das formas identitrias ser moderno uma condio cada vez mais volvel, enquanto que ser tradicional , muitas vezes, uma condio desvantajosa, Carimb no diferente. Apesar de ainda, ser forte o discurso do tradicional e do passado exaltado, esta manifestao ganhou tal importncia, quando elementos tecnolgicos, instrumentos como guitarra e teclado foram inseridos nas apresentaes de grupos Parfolcloricos5, e as letras musicais passaram a fazer partes dos repertrios de bandas artsticas regionais de diferentes ritmos. Contudo, nos mostra Giddens (1990), que:Nas sociedades tradicionais, o passado venerado e os smbolos so valorizados porque contm e perpetuam a experincia de geraes. A tradio um meio de lidar com o tempo e o espao, inserido qualquer atividade ou experincia particular na continuidade do passado, presente e futuro, os quais, por sua vez, so estruturados por prticas sociais recorrentes

Portanto, qualquer cultura, como o caso do Carimb, seja na forma de cultura tradicional ou cultura moderna, pode,(...) ser definido como significados incorporados nas formas simblicas, que inclui aes, manifestaes verbais e objetos significativos de vrios tipos, em virtude dos quais os indivduos comunicam-se entre si e partilham suas experincias, concepes e crenas (Thompson, 1995, p. 176).

importante lembrar que o Carimb, existe h mais de 200 anos, repleto de fatos e de personalidades histricas, em que a sua historicidade marcada por conflitos sociais, polticos e econmicos. Foi proibida por leis governamentais, (gestores municipais de Belm e de Vigia), e ainda, sofreu perseguio religiosa proferida pela igreja catlica nas cidades de Santarm Novo e de Vigia. E ainda mau visto pela cultura dominante no Par, que considerava5

Grupos parafolcloricos, constituem em alternativa para a pratica de ensino e para divulgao das tradies folclricas, tanto para fins educativos como para atendimento e eventos tursticos e culturais.

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de mau gosto qualquer manifestao cultural que no tivesse origem na Europa (Cordeiro, 2010, p. 32). Entretanto, esta manifestao proporcionou e proporciona nomes soberbos para Histria do Par. Mestre Venncio, Mestre Lucindo e o prestigioso Mestre Verequete, que conhecido e reconhecido pela sociedade paraense, e condecorado pelo governo do Par e agraciado pelo governo federal como Comendador da Cultura Brasileira 6, que dignifica a importncia desta

manifestao para a produo cultural do Par e do Brasil. Mestres do Carimb, Os Tesouros Vivos do Par. No Brasil, vrios governos Estaduais e Municipais, destacando, quase que na totalidade, o sul e o nordeste, com apoio do Governo Federal, que, se comparados com estado do Par, esto bem desenvolvidos, quando o assunto envolve a valorizao aos Mestres da Cultura. Estes governos perceberam que por trs de vrias manifestaes culturais, englobando a sociedade como todo existem pessoas que so responsveis pelo surgimento e a continuidade de expresses culturais de suas regies, levando benefcios, no somente cultural assim como econmico e social. Conceituados em editais de fomento como Tesouro Vivos da Cultura 7, pela UNESCO8 como Tesouros Humanos 9 declarando os como indivduos que possuem habilidades e tcnicas necessrias pra criar e produzir6

Em 2006, Augusto Gomes Rodrigues ou Verequete recebeu do at ento presidente da Repblica Federativa do Brasil Luis Incio Lula da Silva e do Ministro Gilberto Gil o ttulo de Comendador da Ordem do Mrito Cultural Brasileiro. Uma das mais importantes honrarias do Governo Federal. 7 Alguns estados brasileiros, por exemplo o Cear, criaram leis para a salvaguarda dos mestres de cultura. E, utilizam o termo Tesouros Vivos da Cultura para denominarem os detentores de conhecimento cultural. produo, preservao e transmisso, so indicados no Art.9, da Lei estadual n13.842, de 27.11.2006, representativas de elevado grau de maestria, constituindo importante referencial da Cultura cearense. 8 UNESCO: significa United Nation Educational, Scientific and Cultural Organization (Organizao para a Educao, a Cincia e a Cultura das Naes Unidas), organismo integrado na Organizao das Naes Unidas (ONU), criado, em 1946, a fim de promover a paz mundial, atravs da cultura, educao, comunicao, as cincias naturais e as cincias sociais. 9 Aps a adoo da Conveno para a Proteo do Patrimnio Mundial, Cultural e Natural, em 1972, alguns Estados-membros manifestaram interesse em ver criado um instrumento de proteo do patrimnio imaterial. Assim, a UNESCO viria a adotar, em 1989, a Recomendao para a Salvaguarda da Cultura Tradicional e do Folclore. Na seqncia desta Recomendao, a UNESCO lanou um conjunto de iniciativas dentro deste mbito: Tesouros Humanos Vivos; Lnguas em Perigo no Mundo; Msica Tradicional.

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determinados elementos do patrimnio cultural imaterial e que tenham sido selecionados pelo Estado como testemunho de suas tradies culturais e do talento criativo do grupo, comunidades ou indivduos presente em seu territrio, e pela sociedade, como Mestres e Representantes maior da cultura. Estes smbolos culturais muito das vezes esto na parte de baixo da pirmide social, ou seja, encontramos muito deles, na escala de pobreza, dependentes de governo, da famlia e de prticas de vendas de bombons e churrasquinhos nas vias pblicas. Contudo, criar iniciativas que visam respeitar e valorizar os Mestres culturais, como por exemplo: publicaes de editais pblicos para reconhecer oficialmente e declar-los Tesouros Vivos da Cultura o indivduo que possui habilidades e tcnicas para criar ou produzir determinados elementos, testemunhos de tradies culturais de comunidades como um agente de patrimnio Imaterial, , portanto, a mxima do reconhecimento da sociedade por tudo que tem feito para a prpria essncia cultural brasileira. O mundo do Carimb, tambm possui os Tesouros Vivos. Mestres dignos de reconhecimento pela sociedade brasileira, porm, muitos deles sem quaisquer possibilidades de ganhar o Titulo de Tesouro Vivo da Cultura, jamais sero reconhecidos em vida por instituies governamentais brasileiras. Fato este lamentvel, j que de conhecimento pblico que somente na roda do Carimb, existem dezenas de Mestres

Mestre Venncio Fundador do Grupo Os Baioaras, em 6 de setembro de 1980. Mestre Venncio em entrevista ao jornal O Liberal declarou objetivamente a necessidade de:resgatar, preservar e divulgar as tradies populares brasileiras, em especial as danas paraenses, q so apresentadas num espetculo ue de cores, sons e ritmos onde seus integrantes harmonizam-se para mostrar a beleza da msica e da dana regional (Venncio In O Liberal, 2008).

cone da cultura paraense e com mais de 30 anos de histria, e um repertrio de ritmos e danas da cultura paraense, consegue mesclar em seu grupo musical, apresentaes com caractersticas do Carimb moderno,

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conhecido como Carimb Urbano e o Carimb Tradicional, reunindo neste grupo Parfolclrico, membros de vrias geraes de sua famlia. E que tudo indica, os seus filhos e netos, j abraaram e daro continuidade ao Grupo Os Baioaras. Mestre Lucindo A preocupao em manter o Carimb tradicional era uma constante na vida de Lucindo Rebelo da Costa. cone representativo da cultura paraense denotou em suas msicas a relao com a natureza, e segundo Rocha (2008), tambm a ligao com o imaginrio das comunidades tradicionais da Amaznia, formada basicamente de pescadores, agricultores, coletores de frutos, catadores de caranguejo e outros cidados do Brasil profundo. As composies marcadas por enaltecer a natureza, descreve ndo em 1980 os problemas do meio ambiente em questionamentos por meio de msicas como, por exemplo:Pescador, pescador por que Que no mar no tem jacar? Pescador, pescador, por que foi Que no mar no tem peixe-boi? Eu quero saber a razo 10 Que no mar no tem tubaro?

Eram as menes claras, que o meio ambiente amaznico j estava passando por um processo de degradao.(...) Segundo depoimentos de pescadores da regio, existiam outrora em grande quantidade por toda costa martima. E embora nos parea estranho, peixe-boi e jacar no vivem apenas em gua doce. Vivem tambm no mar. Nos garantiram todos os pescadores - informantes que se manifestaram durante nossa pesquisas, pelas praias do litoral paraense, e que agora se encontravam minguados, por conseqncias da presena das grandes pesqueiras naquela regio, que teriam exterminado de forma indiscriminada aquelas espcies. (Maciel apud Gouveia, 2009, p.5).

Se estes questionamentos foram concretizados em msicas, onde o prprio compositor Lucindo afirmava: o banco da minha canoa foi a minha escola. Quer dizer, uma pessoa que no tem conhecimento acadmico, j teria percebido que algo estaria errado, impossvel no reconhecermos o desequilbrio ecolgico que esta regio (Amaznia) est sofrendo. Sua vida e obra so muito estudadas por diversos pesquisadores e historiadores. Entretanto,10

Msica: Pescador Pescador. Composio: Mestre Lucindo.

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apesar de ser por muitas vezes salientado por diversos estudiosos da rea cultural, mesmo aps a sua morte em 1988 aos 80 anos de idade, em nada na relevncia histrico cultural dignificado pelos governantes do estado do Par. Mestre Verequete. Augusto Gomes Rodrigues, simplesmente Verequete. Nascido na localidade denominada Careca, prxima antiga Vila de Quatipuru, no municpio de Bragana, no Par, em 26 de agosto de 1916. Filho de Antnio Jose Rodrigues e de Maximiana Gomes Rodrigues, o Mestre Vereque, pessoa simples e extraordinria, junto com outros mestres de carimb, tornou-se, uma das maiores representaes culturais e ainda, a maior expresso do Carimb paraense, sendo fonte inspiradora para muitos msicos jovens, pesquisadores e estudantes. A histria deste, que pode ser chamado de Tesouro Vivo da Cultura, contribuiu para a formao da historicidade cultural paraense. A histria de Verequete sem duvida, merecedor de apreciaes. A vida dele nunca foi fcil. Quando tinha 3 anos de idade, sua me morreu. Aps, a ausncia maternal, mudou-se para o municpio de Ourm. Aos 17 anos, foi morar sozinho no municpio de Capanema, onde trabalhou como foguista na Usina de Luz por mais de uma dcada. Em 1940, trabalhou como ajudante de capataz na Base Area de Belm, sendo ajudante de agrimensor. Foi tambm, arremate, aougueiro, marchante de porco dentre outros. Na mesma poca, a sua vida mudaria completamente, pois passou a ser chamado de Verequete e, segundo suas declaraes, isto aconteceu porque,(...) gostava de uma moa; ento ela me convidou para ir ao b atuque (cerimnia de candombl) que eu nunca tinha visto. Certas horas da madrugada o Pai de Santo cantou o ponto chama Verequete (... ) cheguei na hora do almoo e contei a histria do batuque. Quando acabei de contar, comearam a me chamar de Verequete (...) Vereque In Personalidades Histricas (2010).

Embora sua contribuio tenha sido relevante para o Carimb, marcada por fatos meritrios, deixando um legado musical extraordinrio, teve nos seus ltimos anos de vida, o descaso do poder pblico; a penria e extrema pobreza. Para os Mestres do Carimb, o no reconhecimento e o descaso do poder pblico uma realidade rdua. Entretanto, na contramo deste fato, alguns

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setores da sociedade, representados por historiadores, agentes culturais e pesquisadores por meio de Jornais, documentrios, revistas, stios eletrnicos, artigos dentre tantos outros relatam a (s) especificidade (s) do Carimb, e tentam elevar os nomes destes Mestres para reconhecimento da sociedade. O Povo, e a compreenso de sua formao cultural. O Par tem um povo, cuja histria e cultura so extraordinrias. Contudo, na sua maioria, depreciadora da prpria identidade. Vale ressaltar que a cultura de um povo um tesouro inesgotvel e o seu processo tem o dever de permanecer como um elemento fundamental da identidade cultural (Loureiro apud Gabbay, 2010, p. 8) e, acima de tudo, deve ser entendido como sua prpria histria, lngua, costumes tradies comuns e interesses semelhantes. Claude Lvi-Strauss define cultura como um sistema simblico que uma criao acumulativa da mente humana. Defini-se tambm a cultura como a manifestao, atividades e aes que identificam e caracterizam uma sociedade, grupo e pessoas. Portanto, um saber local, um conhecimento, uma manifestao que identifica e caracteriza, como nico(s) num grupo social, na relao humana . No Brasil, o processo cultural, especialmente no Par, tem a idia de muitas das vezes trazerem a modernidade para a continuidade da e para a formao histrica cultural, j que em todo o Brasil, na viso de Magald (1992) as:Idias de progresso e modernidade tm levado a uma sistemtica destruio das marcas do passado. A sintomtica ausncia de preocupao com o problema e a virtual fragilidade dos rgos pblicos de preservao (...) criado uma situao de extrema gravidade no que diz respeito necessria convivncia entre o antigo e o novo.

No mundo globalizado, a construo de uma memria, identidade ou a salvaguarda dos patrimnios culturais, sendo o ultimo o meio institucional, para a valorizao e a proteo das diversidades culturais existentes, so fundamentais para manter viva a histria cultural de um povo. Sobretudo, onde no mundo moderno, as culturas nacionais em que nascemos se constituem em uma das principais fontes de identidade cultural (Hall, 2001, p.47). Mas do que tudo, tambm importante ressaltar, que Povo que no tem memria, no tem identidade e por sua vez no tem cultura. E

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Diante da relevncia do tema para a compreenso do mundo em que vivemos, a questo que se apresenta a de como devemos pensar as prximas perspectivas para a cultura local ou nacional diante da globalizao, ou melhor, a globalizao enquanto um processo cultural. (Comegna; Ziglio, 2005, p.92)

E essencial que o Povo segundo Silva in Brasil Escola (2010), conhea o:marco inicial dos elementos de sua cultura, pois os elementos culturais se apresentam inicialmente de uma forma bem definida, (...) e com o tempo e devido ao desenvolvimento e evoluo da cultura, esses elementos sofrem modificaes.

Nesta tendncia, oCarimb como movimento musical que identifica o Par depende de uma articulao entre tradio e a modernidade, traduzida na idia do seu reprocessamento, ou seja, enquanto a primeira lhe confere, em qualquer tempo, a autoridade de pertencer ao povo, a ltima o re-adapta s condies da atualidade. (Amaral, 2005, p.81)

A memria fundamental ao sentimento de identidade e que identidade e memria so os atributos de uma pessoa, ou seja, suas atitudes, estilo e costumes, que identificam um indivduo dentro de uma sociedade. E, por meio destes conceitos, facultado de certa forma dizer que identidade , portanto como ns somos, de onde pertencemos, os que nos diferenciam dos outros, como nos identificamos, enfim, La identidad, por tanto, es una construccin discursiva () (Arias, 2002, p. 103). E como construo positiva, nesta linha, tem como exemplo, o Carimb, que uma manifestao bem representativa da identidade cultural do Povo paraense, e hoje, esta prtica cultural, segundo Silva in Brasil Escola (2010), bem diferente, sofreu modificaes com o tempo, evoluindo para um Carimb mais moderno, com novas roupas, com mais passos de dana (...) acrescentados novas batidas e instrumentos musicais. Todavia, as

transformaes ocorridas no carimb, Silva in Brasil Escola (2010), tambm ressalta que so salutares e benficas, porque demonstra que a cultura do Par no est inerte, pelo contrrio, tem evoludo e se desenvolvido, paralelamente ao desenvolvimento social e histrico do Estado. Nisto, tem dois termos relevantes para entendermos o processo cultural, que so a Identidade Cultural e Memria Cultural, dando significado para

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a compreenso e o entendimento para as transformaes que as culturas vm sofrendo, sobretudo no processo da Globalizao. E,O suporte fundamental da identidade a memria, mecanismo de reteno de informao, conhecimento, experincias, quer em nvel individual, quer social, e por isso mesmo, eixo de atribuies, que articula, categoriza os aspectos multiformes de realidade, (...), A construo da memria, por sua vez, est diretamente relacionada ao sentimento de identidade (...). (Haigert apud Rouston 2005, p. 102)

Rouston apud Silva (2011), afirmando a idia que sem memria, no h identidade, desaparece a cultura e destri-se a conscincia coletiva. esta memria e esta identidade que constituem o patrimnio de uma coletividade. Portanto, identidade e memria esto essencialmente ligadas, um depende do outro para a continuao e evoluo da cultura. Tem-se a idia que identidade de um individuo, que guarda todas as informaes pessoais, sociais e coletivas relacionados suas razes. Ainda, a memria o elemento legitimador da identidade cultural de um Povo. E segundo Borges; Jnior (2010) um referencial norteador na construo de identidades. Portanto, a memria um elemento constituinte do sentimento de identidade, na medida em que ela tambm um fator importante do sentimento de continuidade e de coerncia do grupo em sua reconstruo em si (Pollak, 1992, p. 204). E tudo isto, deve ser entendido e compreendido como bem cultural de um povo. Por fim, conhecer a prpria cultura, compreendendo a importncia de mant-la viva na memria, valorizando a sua identidade e a sua histria, que podemos ento, consolidar a noo de patrimnio de um povo, que implica uma conscincia de todos perante costume, hbitos, conhecimentos, religio (Pinheiro, 2000, p. 25), sendo este um elemento essencial e definidor para o entendimento de nossa identidade. A Educao Patrimonial, ferramenta para o conhecimento e valorizao da diversidade cultural amaznica A educao patrimonial fundamental para a proteo da cultura de um povo. E, esta ao complementaria todos os esforos de uma comunidade educacional, no que diz a respeito o reconhecimento da prpria identidade cultural. No Par, por exemplo, o seu patrimnio, que riqussimo, com tantas

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diversidades nas suas danas, msicas, histrias, crenas, personalidades, monumentos dentre tantos outros, enfim, tudo isto, faz com que torne real a possibilidade de criar instrumentos metodolgicos para inserir na educao paraense a Educao Patrimonial nas instituies de ensino. Afinal,(...) qualquer coisa que possa ser lida como um texto cultural e que contenha em si mesma um significado simblico scio-histrico capaz de acionar formaes discursivas, pode se converter em um legtimo objeto de estudo: desde a arte e a literatura, as leis e os manuais de conduta, os esportes, a msica e a televiso, at as atuaes sociais e as estruturas do sentir. (Ros, 2002, p. 247).

Os estudos culturais, por meio da educao patrimonial, de fato, no so uma via de mo nica, pois esta ferramenta, possivelmente proporcionaria um lugar de encontro entre diferentes experincias culturais, buscando levar sociedade a leitura do mundo que o rodeia, levando a compreenso do universo scio-cultural em que est inserido, e possibilitando ainda, o fortalecimento dos sentimentos de identidade e cidadania, abrangendo todos aqueles que esto inseridos neste contexto, significando, portanto, um importante passo para a valorizao e o reconhecimento da sociedade. E segundo o artigo publicado pela COMPHAP (2003) 11, aeducao patrimonial pode ser aplicada a qualquer evidncia material ou manifestao da cultura, seja um objeto ou conjunto de bens, um monumento ou um stio histrico ou arqueolgico, uma paisagem natural, um parque ou uma rea de proteo ambiental, um centro histrico urbano ou uma comunidade da rea rural, uma manifestao popular de carter folclrico ou ritual, um processo de produo industrial ou artesanal, tecnologias e saberes populares, e qualquer outra expresso resultante da relao entre os indivduos e seu meio ambiente.

Por fim, salvaguardar a identidade cultural de um povo, difundindo e sensibilizando a importncia da herana cultural. E ainda, possibilitando o conhecimento, o acesso informao dos bens culturais, para que a sociedade possa compreender e valorizar a sua importncia cultural e educacional, podendo escolher do passado e no presente os objetos, signos, tradies e lugares possibilitariam a continuidade dos elementos e valores culturais do Povo.

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Conselho Municipal de Preservao do Patrimnio Histrico, Cultural, Artstico e paisagstico de Mogi das Cruzes - COMPHAP.

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O Par e a herana cultural A percepo de cultura pelo Povo, da prpria identidade cultural, sejam elas os bens materiais, imateriais e naturais como monumentos arquitetnicos, danas, msicas, artesanato dentre tantos outros, que se percebe a importncia de valorizar: os elementos da herana cultural, os sentimentos de identidade, memria e a percepo de pertencimento da sua cultura, deixando para trs a idia do individuo de no ser mais um Homem no meio da multido, e o entendimento e a compreenso que cada manifestao possui sua peculiaridade e a sua singularidade. O povo paraense, por exemplo, na sua formao histrica, determinada pela juno de trs povos (europeu, africano e silvcola), possui uma herana cultural extraordinrio, percebido por sua diversidade cultural. E ao analisarmos a diversidade cultural do Par, so notrias as percepes dos elementos dos trs povos no contexto social. Traos da cultura europia, alm dos valores institucionais, as obras arquitetnicas dentre tantos outros, tambm so encontrados na essncia cultura do Par, a religio, que est profundamente impregnado pela igreja catlica, cujo Crio de Nazar o smbolo maior desta expresso, e os elementos da dana portuguesa. A cultura africana, que por meio do processo de escravido negreiro no perodo colonial brasileiro, tambm contribuiu para a formao do povo paraense, deles temos os elementos da dana, msica, culinria, mo de obra, a arte do saber e fazer, assim como a participao na economia, em conflitos sociais dentre outros. Por ltimo, o povo da floresta 12, os Silvcolas, primeiros habitantes desta terra, que tinham hbitos culturais como a pesca, msica, religiosidade e tambm leis (ordem social) prpria. E, acima de tudo foram fundamentais para a colonizao portuguesa, afinal contriburam para a conquista europia aqui na Amaznia. Vale ressaltar que a contribuio cultural dos Silvcolas, no foi somente para a dana do Carimb. A lngua portuguesa no Brasil emprestou12

SILVCOLA: Povos que nasce ou vive na floresta. Segundo art. 3, I, do Estatuto do ndio (Lei n. 6.001/73): "ndio ou Silvcola - todo indivduo de origem e ascendncia pr-colombiana que se identifica e intensificado como pertencente a um grupo tnico cujas caractersticas culturais o distinguem da sociedade nacional.

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inmeras palavras que hoje fazem parte do vocabulrio oficial da lngua portuguesa falada pelos brasileiros, por exemplo, o jirau, aai, abacaxi, pipoca. Tambm foram incorporados objetos essenciais para o meio de vida dos brasileiros, e no s fazem parte do dia a dia de vrias pessoas como tambm so mercadorias que ativam a cadeia criativa. o caso dos vasos, miangas, colares, dente tantos outros. A culinria (tucupi, manioba, farinha de mandioca, aa, urucum...) est inegavelmente impregnado na cultura de diversas regies do Brasil. e ainda a mo de obra, que foi utilizado em diversos monumentos arquitetnicos urbansticos nas cidades histricas e foi crucial para a formao da sociedade brasileira. O Carimb e seu Reconhecimento como Patrimnio Cultural Nacional: A Campanha Popular O Povo paraense tem uma diversidade cultural expressa nos muitos saberes e fazeres, frutos da interao de matrizes tnicas que formaram a cultura amaznica, logo as inmeras obras culturais, e o desejo de promov -las so imensurveis. Dentre as manifestaes encontradas no Par, o Carimb tem se destacado por sua grandiosidade cultural, com elementos que absorvem os valores ambiental, histrico e social. Afinal, diversas obras so encontradas com referencia a esta cultura, descrevendo toda a importncia e a relevncia para o reconhecimento de sua expresso como bem patrimonial brasileiro. Sabendo da importncia, que poder trazer maior notoriedade e respeito para os mantenedores do saber e fazer do Carimb, foi que surgiu em 2006 no municpio de Santarm Novo, coordenado pelo Isaac Loureiro, a Campanha Carimb Patrimnio Cultural Brasileiro, promovida pela Irmandade de So Benedito, no Festival de Carimb daquele municpio. A campanha teve a causa abraada pelo IPHAN e a SECULT13, por meio de sua Diretoria de Patrimnio e Departamento de Patrimnio Histrico do DPHAC. Para os coordenadores da campanha fundamental o

reconhecimento do Carimb como patrimnio da cultura brasileira, e para isso buscam sensibilizar, por meios de mobilizaes da sociedade em torno da valorizao para o reconhecimento do Carimb como Patrimnio Imaterial da13

SECULT: Secretaria de Cultura do Estado do Par.

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Cultura Brasileira, defendendo a importncia que esta manifestaes tradicional seja um elemento fundamental da identidade cultural do povo paraense, amaznida e brasileiro. Trabalho este, que bem difundido no blog 14 oficial da campanha, onde declarado: este registro se faz necessrio, onde as culturas nativas e tradicionais que vem sendo velozmente atropeladas pelos produtos culturais da modernidade capitalista, o que ameaa a diversidade e as identidades prprias. Diversos debates so promovidos com o propsito de orientar a sociedade todo o processo que envolve este trabalho. O fato que registrar o Carimb um processo rduo, pois precisa mobilizar amplamente a sociedade, as instituies e os atores sociais envolvidos nesta manifestao. Afinal, segundo Loureiro in Revista Raiz (2008), o registro do Carimb como bem cultural de natureza imaterial significa um importante passo para garantir sua preservao e seu reconhecimento como patrimnio de nossa cultura, elemento essencial e definidor de nossa identidade. Para acontecer todo o processo de registro e finalmente o reconhecimento por parte do IPHAN como Patrimnio Cultural Imaterial Brasileiro, foi necessrio o pedido oficial por meio de um ofcio com assinaturas da comunidade local. No qual plausivelmente foi articulado pela Irmandade de Carimb de So Benedito e subscrito pela Prefeitura Municipal de Santarm Novo e associaes culturais de Marapanim ligadas a esta manifestao cultural, assessorado 2 regional Norte do IPHAN, sediada em Belm do Par. No momento o processo est em fase de levantamento documental e pesquisa usando a metodologia do INRC 15, visando a elaborao do Dossi e a produo de laudo antropolgico. Com a finalizao dessa etapa, o dossi encaminhado Braslia para ser apreciado e deferido pelo Conselho Nacional de Patrimnio.

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www.campanhacarimbo.blogspot.com. O Inventrio Nacional de Referncias Culturais - INRC uma metodologia de pesquisa desenvolvida pelo Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional - IPHAN, que objetiva auxili-lo na produo de conhecimentos e diagnsticos sobre os domnios da vida social aos quais so atribudos sentido e valores que constituem referncias de identidade para os grupos sociais. Criado pelo Decreto n 3.551, de 04 de agosto de 2000, o INRC j possibilitou o registro de diversas manifestaes e ofcios em todo o Brasil.

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CONSIDERAES FINAIS possvel refletir que o Carimb seja considerado uma arte popular, smbolo da cultura amaznica brasileira, rica na sua manifestao cultural e repleta de elementos histricos, e por certo, de valor excepcional. A sua importncia possibilita a condio real de complementar-se como sustentculos educacionais por educadores, agentes culturais e profissionais atrelados ao campo cultural. Apesar da plena campanha para o registro desta manifestao cultural, constatado que so inmeras as vises conceituais e de referencias equivocadas para a contextualizao, assim como tambm as evidencias que apesar de ter elementos considerveis para o registro como Patrimnio Cultural Brasileiro, a participao da sociedade paraense quase inexpressvel. E com o processo da globalizao inegvel que os portadores das manifestaes culturais tradicionais, que so os detentores do saber e fazer, principalmente de comunidades interioranas em especial no Brasil, so os que mais sentem os efeitos da assimilao de valores cultural externos e a desvalorizao pela sociedade. Ainda notrio que a oralidade externada como imagem-lembrana pelo individuo, assim como o saber e o fazer, so elementos vastos nesta cultura. No entanto, poucos ainda explorados, apesar de um bem cultural de suma importncia. O registro do Carimb, de fato meritrio, a expresso excepcional, a continuidade desta expresso fundamental e a produo desta manifestao cultural deve ser cuidadosamente analisada por toda a sociedade para a continuidade deste bem imaterial.

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