Artigo - BROWN, Ruth Rhynas - Seis canhões do século XVI provenientes do Santíssimo Sacramento...

14
21 Navigator , Rio de Janeiro, V.1 - N.2, pp. 21-34, Dezembro de 2005 Ruth Rhynas Brown (Tradução/ilustrações do Almirante Armando de Senna Bittencourt) Seis canhões do século XVI provenientes do Santíssimo Sacramento: uma reestimativa RESUMO RESUMO RESUMO RESUMO RESUMO A artilharia do Galeão português Santíssimo Sacramento desempenhou um papel importante no estudo do início da moderna fundição de ca- nhões, em particular através das pesquisas de John Guilmartin, que revisitou essa coleção de canhões, atualizando a interpretação à luz de no- vas descobertas. Entretanto, esse trabalho se con- centrou nos aspectos balísticos e tecnológicos dos canhões em lugar de sua importância históri- ca. Pesquisando o suprimento de canhões dos tempos da Rainha Elizabete I, a autora localizou alguns registros que lançam nova luz sobre seis canhões do navio. O Santíssimo Sacramento era um galeão de 60 canhões, a capitânia da Compa- nhia do Brasil que afundou durante uma tempes- tade, perto de Salvador (Bahia), em maio de 1668, vindo de Portugal para o Brasil. Os remanescen- tes do naufrágio foram descobertos na década de 1970 e então investigados por uma equipe de ar- queólogos sob os auspícios da Marinha do Brasil. ABSTRACT ABSTRACT ABSTRACT ABSTRACT ABSTRACT The artillery of the Portuguese galleon, Santissimo Sacramento, has played an important part in the study of early modern gunfounding, in particular through the researches of John Guilmartin who has revisited this collection of cannons, updating the interpretation in the light of new discoveries. However this work has concentrated on the ballistics and technological aspects of the guns rather than in their historic importance. In the course of research into Elizabethan gun supply, the author located a number of records which throw light on the six of the cannons from the vessel. The Santissimo Sacramento was a 60- gun galleon, the flagship of the Company of Brazil, who sank during a storm near Bahia in May 1668 coming from Portugal to Brazil. The wreck was discovered in the 1970s and then investigated by an archaeological team under the auspices of the Brazilian Navy. Foi pesquisadora na Armaria Real da Torre de Londres, leciona em diversos cursos para mergulhadores na Inglaterra e é pesquisadora independente em Artilharia Histórica. Atualmente trabalha em uma publicação que identifica canhões navais ingleses dos séculos XVII e XVIII. PALAVRAS-CHAVE: ARMAMENTO NAVAL, CANHÃO, GALEÃO KEYWORDS: NAVAL ARMAMENT, CANNONS, GALLEON

description

A recuperação de parte da artilharia do naufrágio do galeão Santíssimo Sacramento revelou interessantes informações sobre a procedência das armas a bordo desse navio.

Transcript of Artigo - BROWN, Ruth Rhynas - Seis canhões do século XVI provenientes do Santíssimo Sacramento...

Page 1: Artigo - BROWN, Ruth Rhynas - Seis canhões do século XVI provenientes do Santíssimo Sacramento uma reestimativa

Seis canhões do século XVI provenientes do Santíssimo Sacramento: uma reestimativa

21Navigator , Rio de Janeiro, V.1 - N.2, pp. 21-34, Dezembro de 2005

Ruth Rhynas Brown(Tradução/ilustrações do Almirante Armando de Senna Bittencourt)

Seis canhões do século XVIprovenientes do SantíssimoSacramento: uma reestimativa

RESUMORESUMORESUMORESUMORESUMO

A artilharia do Galeão português Santíssimo

Sacramento desempenhou um papel importante

no estudo do início da moderna fundição de ca-

nhões, em particular através das pesquisas de

John Guilmartin, que revisitou essa coleção de

canhões, atualizando a interpretação à luz de no-

vas descobertas. Entretanto, esse trabalho se con-

centrou nos aspectos balísticos e tecnológicos

dos canhões em lugar de sua importância históri-

ca. Pesquisando o suprimento de canhões dos

tempos da Rainha Elizabete I, a autora localizou

alguns registros que lançam nova luz sobre seis

canhões do navio. O Santíssimo Sacramento era

um galeão de 60 canhões, a capitânia da Compa-

nhia do Brasil que afundou durante uma tempes-

tade, perto de Salvador (Bahia), em maio de 1668,

vindo de Portugal para o Brasil. Os remanescen-

tes do naufrágio foram descobertos na década de

1970 e então investigados por uma equipe de ar-

queólogos sob os auspícios da Marinha do Brasil.

ABSTRACTABSTRACTABSTRACTABSTRACTABSTRACT

The artillery of the Portuguese galleon,

Santissimo Sacramento, has played an

important part in the study of early modern

gunfounding, in particular through the

researches of John Guilmartin who has revisited

this collection of cannons, updating the

interpretation in the light of new discoveries.

However this work has concentrated on the

ballistics and technological aspects of the guns

rather than in their historic importance. In the

course of research into Elizabethan gun supply,

the author located a number of records which

throw light on the six of the cannons from the

vessel. The Santissimo Sacramento was a 60-

gun galleon, the flagship of the Company of

Brazil, who sank during a storm near Bahia in

May 1668 coming from Portugal to Brazil. The

wreck was discovered in the 1970s and then

investigated by an archaeological team under

the auspices of the Brazilian Navy.

Foi pesquisadora na Armaria Real da Torre de Londres, leciona em diversos cursos para mergulhadores naInglaterra e é pesquisadora independente em Artilharia Histórica. Atualmente trabalha em uma publicação queidentifica canhões navais ingleses dos séculos XVII e XVIII.

PALAVRAS-CHAVE: ARMAMENTO NAVAL, CANHÃO,

GALEÃO

KEYWORDS: NAVAL ARMAMENT, CANNONS,

GALLEON

Page 2: Artigo - BROWN, Ruth Rhynas - Seis canhões do século XVI provenientes do Santíssimo Sacramento uma reestimativa

Ruth Rhynas Brown

22Navigator , Rio de Janeiro, V.1 - N.2, pp. 21-34, Dezembro de 2005

DUAS MEIA-COLUBRINAS DO DUAS MEIA-COLUBRINAS DO DUAS MEIA-COLUBRINAS DO DUAS MEIA-COLUBRINAS DO DUAS MEIA-COLUBRINAS DO SANTÍSSIMOSANTÍSSIMOSANTÍSSIMOSANTÍSSIMOSANTÍSSIMOSACRAMENTOSACRAMENTOSACRAMENTOSACRAMENTOSACRAMENTO

Tratarei dos dois canhões mais antigos dosremanescentes do naufrágio. Estes foramidentificados por comentadores anteriorescomo sendo ingleses devido às suas marcasde peso inglesas (Pernambucano de Mello,216; Guilmartin, 41). Isto, no entanto, não é umguia confiável para a origem de canhões, porignorar a prática, comum no tempo, de paísesutilizarem canhões estrangeiros em seus pró-prios navios. Há, também, duas marcas de pesonestes canhões, como existem nos quatro ca-nhões que definitivamente têm origem ingle-sa. Além do mais, estes dois canhões são cla-ramente no estilo português, com arganéis(argolas) de içamento no lugar dos golfinhos.Nesse período, não há evidência de fundiçãoinglesa de bronze para o mercado português,pois a fundição de canhões na Londres dosTudor era uma indústria relativamente peque-na que era somente capaz de satisfazer as de-mandas internas. Isto contrasta com os portu-gueses, que tinham desenvolvido seu próprioe exclusivo sistema (de fabricação) de canhão.Além dos pesos, nada mais conecta estes ca-nhões à Inglaterra e, como nós veremos, háoutra explicação para como os canhões rece-beram essas marcas.

Durante a guerra de Elizabete I comEspanha, os ingleses capturaram e entãoreusaram diversos canhões estrangeiros. Eraum procedimento normal pesar esses canhõese marcá-los com seus novos pesos, os quaiseram então anotados nos Ordnance Office’sDebenture books . O peso era necessário paraqualquer pagamento devido e para prevenirexcessos ao alocar canhões aos navios. Nodia 25 de outubro de 1602, o Ordnance Office’sDebenture book registra o recebimento, nospaióis da Rainha, de 16 canhões de bronze “re-tirados da nau recentemente capturada etrazida para Plymouth por Sir Richard Leveson,cavaleiro”. Entre estes estão listados, juntos,duas meio-colubrinas com os pesos 25-1-25 e25-1-18. Esta era a forma aceita em que osfuncionários do Armamento anotavam pesos– nessa época os próprios canhões teriam sidomarcados 2500-1-25 e 2500-2-18 (PRO-WO 49/28, 199r). A identidade da “Grande Nau” pôde

ser rapidamente estabelecida; no verão de1602, alguns navios de guerra ingleses nave-garam para a costa da Espanha, sob o coman-do de Sir Richard Leveson, e lá interceptaramuma Esquadra espanhola rumando paraFlandres. Incapacitados de efetuar um ataqueà Esquadra, por estarem em inferioridade, osnavios da força de Leveson conseguiram se-parar a São Valentim, uma nau portuguesa, noFundeadouro de Sesimbra e levaram-na(como presa) para Plymouth (Rodger, 292).

Embora o Serviço de Armamento(Ordnance Office) tenha adquirido muitos ca-nhões estrangeiros nessa época, nenhum dosoutros tem esses mesmos pesos e a coinci-dência dos dois estarem juntos nos documen-tos é, ao menos, muito intrigante e difícil deignorar. Isto pode solucionar o mistério decomo os canhões adquiriram seus pesos in-gleses e passaram para o serviço da Inglater-ra, mas não explica como eles retornarampara Portugal.

IDENTIFICAÇÃO DOS CANHÕESIDENTIFICAÇÃO DOS CANHÕESIDENTIFICAÇÃO DOS CANHÕESIDENTIFICAÇÃO DOS CANHÕESIDENTIFICAÇÃO DOS CANHÕES

Guilmartin e Pernambucano de Mellosugerem que estes canhões datam da pri-meira metade do século XVI (Guilmartin, 41;Pernambucano de Mello, 211). Em particu-lar os arganéis de içamento foram interpre-tados como acessórios arcaicos. No entan-to, os portugueses continuaram a utilizararganéis de içamento nos seus canhõesmuito depois que outros países começarama utilizar golfinhos fixos; exemplos de ca-nhões datados mostram isso até em 1594(Blackmore, 140). Esses tipos distintos decanhões portugueses parecem que foramabandonados durante o período dosHabsburgos, embora tenham continuado atéum pouco mais tarde nas possessões asiáti-cas. É, também, notável que quando o Rei D.Sebastião encomendou canhões do fundidorde Malines, Remigy de Halut, na década de1550, eles foram fundidos nos moldes nor-mais europeus, como no caso do canhão D1do Museu Militar, Lisboa.

Existem alguns canhões em coleções nomundo, aos quais estes podem ser compara-dos. Isso inclui canhões do Museu Militar deLisboa, tais como B6, B7 e B8 (todos da primei-

Page 3: Artigo - BROWN, Ruth Rhynas - Seis canhões do século XVI provenientes do Santíssimo Sacramento uma reestimativa

Seis canhões do século XVI provenientes do Santíssimo Sacramento: uma reestimativa

23Navigator , Rio de Janeiro, V.1 - N.2, pp. 21-34, Dezembro de 2005

ra metade do século XVI) e D5 e D7 do reinadode D.Sebastião. D5 é mais próximo, com umcascavel muito similar e um comprimento de328 cm; foi fundido por João Diaz (Catálogo doMuseu Militar, 190). Há também uma meio-colubrina nos Açores, de 307 cm. Sara Hoskinsnotou a similaridade entre esta e os dois ca-nhões do Santíssimo Sacramento (Hoskins, 81).Outros exemplos são os de um naufrágio doséculo XVI, agora no Museu Nacional dasSeychelles, e um par de esperas ou meio-colubrinas com cártulas do Rei D. Sebastião,dos restos do naufrágio do Santiago, que afun-dou na África do Sul, que estão atualmente noMuseu de Pietermaritzburg. Um destes, em par-ticular, guarda uma notável semelhança comesses canhões (do Santíssimo Sacramento) etem o mesmo calibre e um comprimento simi-lar, 328 cm. Isso permite atribuir alguns perío-dos possíveis de tempo aos canhões: o do rei-nado de D. Sebastião de 1557 até 1578; o dofundidor de canhões João Diaz, que trabalhou,pelo menos, entre 1545 e 1575 (Kennard, 67); ea perda do Santiago na África do Sul, em 1585.

QUQUQUQUQUAAAAATRO CANHÕES INGLESESTRO CANHÕES INGLESESTRO CANHÕES INGLESESTRO CANHÕES INGLESESTRO CANHÕES INGLESES

Há quatro canhões de fundidores ingleses– duas colubrinas de John and Richard Phillips,datadas de 1590 e 1596, e duas meio-colubrinasfundidas por George Elkin, ambas datadas de1597 (todas também provenientes dos restosdo naufrágio do Santíssimo Sacramento). To-dos esses fundidores trabalharam na fundiçãode Houndsditch na paróquia de St Botolph, dasimediações fora das velhas muralhas da cida-de de Londres. Somente existiam nesse tempoduas fundições de canhão em Londres, a outrase situava nas proximidades da Torre de Lon-dres. No início desse século, Houndsditch eraadministrada pelos irmãos Owen. Elkin é men-cionado pela primeira vez em 1570, no testa-mento do fundidor Robert Owen, que provavel-mente o treinou, e foi também mencionado notestamento de Samuel Owen, filho de Robert.George Elkin se tornou fundidor para a rainhaem 1571. Casou-se em 1593 e morreu dez anosmais tarde.

John e Richard eram provavelmente os fi-lhos de John Phillips, um artilheiro da Torre deLondres. John, o irmão mais velho, foi mencio-

nado no testamento de Thomas Owen, outro dosirmãos fundidores Owen. John Phillips se tor-nou fundidor para a rainha em 1574; Richardnão é mencionado até a década de 1580. Des-se período em diante, John se torna cada vezmais envolvido na indústria do ferro no Weald,no sul da Inglaterra, fornecendo canhões deferro fundido, enquanto Richard parece ter as-sumido a fundição de bronze em Londres.John desaparece dos registros antes de 1600,mas Richard continua por muitos anos como ofundidor sênior utilizado pelo governo. Depoisde 1614, no entanto, ele forneceu poucos ca-nhões e na época de sua morte, em 1633,Houndsditch estava virtualmente “moribunda”e fechou pouco depois.

Desse período, existem alguns registros doServiço de Armamento que supriu as forçasde terra e mar inglesas com munições, inclu-sive um livro de debêntures para 1596, quecontém um pagamento a Richard Phillips portrês canhões de bronze, um dos quais era umacolubrina pesando 35-1-1; Richard assinou orecibo do pagamento (WO 49/20, 74). Isto tam-bém sugere que os outros três canhões foramfundidos para o serviço oficial do governo, pro-vavelmente para armar a Marinha da rainha.

Essas peças de armamento são verdadei-ramente muito raras. As duas colubrinas sãoas únicas peças conhecidas com os nomes dosirmãos Phillips juntos; existe um canhão maisrecente fundido por Richard sozinho, após amorte do seu irmão e há alguns poucos canhõesde ferro fundido com as iniciais de John Phillips.Não existem outros canhões de Elkin que sesaiba terem sobrevivido até o presente. A des-peito da fama da Marinha de Elizabete I e dosfeitos brilhantes de seus capitães, pouquíssimoscanhões de bronze desses tempos sobrevive-ram, o que faz esses quatro exemplos particu-larmente preciosos para aqueles interessadosem canhões do período da dinastia Tudor.

DISCUSSÃODISCUSSÃODISCUSSÃODISCUSSÃODISCUSSÃO

O que une esses canhões não é sua ori-gem, mas o fato que eles claramente com-partilham uma mesma história, em parte desuas existências. Eles se diferenciam dosoutros canhões recuperados do SantíssimoSacramento por todos (os seis) terem duas

Page 4: Artigo - BROWN, Ruth Rhynas - Seis canhões do século XVI provenientes do Santíssimo Sacramento uma reestimativa

Ruth Rhynas Brown

24Navigator , Rio de Janeiro, V.1 - N.2, pp. 21-34, Dezembro de 2005

marcas de pesos – uma inglesa, outra quediscutirei adiante e, em todos, foi gravada,mais tarde, a inscrição da Companhia doBrasil e a esfera armilar. Nós vimos que émuito provável que todos eles estivessemjuntos no início do século XVII, a serviço daInglaterra. No entanto, o mistério é comoeles passaram da Marinha da Inglaterra paraa costa do Brasil, cerca de 60 anos depois.Eles desapareceram dos registros ingleses,mas os próprios canhões têm duas pistasadicionais sobre o que aconteceu nessemeio tempo; uma é o segundo conjunto depesos e o outro as inscrições gravadas.

Os seis canhões têm um segundo peso –um número com quatro dígitos seguido poruma letra A. Guilmartin sugere que esse eraum sistema arcaico de pesagem utilizando oequivalente da libra portuguesa, o arratel,mas não fui capaz de localizar qualquer ou-tro canhão português com marca similar –canhões de ambos os séculos XVI e XVII mos-tram o sistema normal de pesagem em trêspartes – quintal, arroba e arratel. No entan-to, esses pesos (Nota do tradutor: da segun-da marca nos seis canhões) se parecemmuito com o sistema utilizado na Holanda,part icularmente aquele usado emAmsterdam, onde havia um mercado muitoativo de armamento velho ou de segundamão, no século XVII. Tais pesos podem servistos mais claramente em canhões de fer-ro importados, como os canhões de ferro doquase contemporâneo do Santíssimo Sacra-mento, o navio da Índia Oriental Holandesa,Vergulde Draeck (Green, 271). O segundo con-junto de inscrições gravadas e emblemasindicam propriedade da Companhia do Bra-sil, uma organização que não existia até1649, depois que Portugal ganhou sua inde-pendência da Espanha dos Habsburgos.

Há uma quantidade de possíveis caminhospelos quais os canhões poderiam ter alcança-do o Sacramento. Se a identificação inicial estácorreta, então as duas meio-colubrinas esta-vam juntas em 1602 e no dia que o SantíssimoSacramento afundou, sugerindo que estiveramjuntas por muito do período de tempo interme-diário. É intrigante que todos (os seis) canhõessobreviveram e estavam em uso até a década

de 1660. Tão cedo quanto em 1611, canhõesespanhóis estavam sendo enviados às usinasde fundição de Londres para serem fundidospara fazer canhões novos e houve campanhassemelhantes nas décadas de 1630 e 1650,quando a artilharia velha ou estrangeira foi aprimeira a ser reusada. No entanto, tais ca-nhões poderiam ser também vendidos a nego-ciantes, se fosse mais lucrativo do que fundi-los. Durante a década de 1620, por exemplo, ogoverno inglês vendeu alguns canhões velhosa mercadores holandeses (embora a maioriadestes fosse de ferro fundido).

Há outras formas, no entanto, em que ca-nhões podem mudar de propriedade; em se-guida à paz com o Rei Felipe, no início dosanos 1600, houve um escândalo quando al-guns canhões foram contrabandeados parafora da Inglaterra e vendidos na Espanha,por volta de 1605. Estes incluíam, pelo me-nos, uma meio-colubrina portuguesa e ca-nhões de George Elkin. Mais tarde, por voltade 1620, houve outro escândalo, quando umembaixador espanhol que saía tentou expor-tar canhões ingleses com documentos fal-sos. Pode-se presumir outras tentativas decontrabandear canhões para fora do paísque tiveram bom êxito e, no entanto, que nãotiveram registro.

Canhões também podem ser enviadoscomo presentes para um chefe de Estadoou governo. Existe ampla evidência de que,nos séculos XVII e XVIII, o governo britânicoenviou armamento que não desejava a alia-dos. Carlos II fez gravar alguns velhos ca-nhões do tempo da Rainha Elizabete, paraos enviar como um presente ao sultão doMarrocos, em 1669 (Brown, 25). Eles pode-riam também ter sido mandados de voltapara Portugal, na “esteira” do casamento deCarlos II com Catarina de Bragança.

Finalmente, eles podem ter mudado demãos em tempo de guerra, o armamento denavios capturados era muito prezado e pode-ria ser reusado contra seu proprietário origi-nal. Nos 60 anos precedentes, a Grã-Bretanhaesteve em guerra com várias outras potênci-as, incluindo França, Espanha e Holanda, bemcomo foi envolvida por uma guerra civil, nocurso da qual parte da Marinha mudou de lado.

Page 5: Artigo - BROWN, Ruth Rhynas - Seis canhões do século XVI provenientes do Santíssimo Sacramento uma reestimativa

Seis canhões do século XVI provenientes do Santíssimo Sacramento: uma reestimativa

25Navigator , Rio de Janeiro, V.1 - N.2, pp. 21-34, Dezembro de 2005

Concluindo, parece provável que essesseis canhões deixaram o serviço da Inglater-ra juntos, de forma legal ou ilegalmentecontrabandeados, ou mesmo capturados echegaram à Companhia do Brasil através domercado holandês de canhões em

Amsterdam, antes de terminarem suas car-reiras, quando o Santíssimo Sacramento nau-fragou. Possivelmente, pesquisa adicional emdocumentos lançará luz sobre como esses ca-nhões chegaram aos seus túmulossubaquáticos.

FIGURA 1 - Em primeiro plano a meia-colubrina do século XVI, de bronze, marcada 25-1-25, semelhante à25-2-18, ambas do acervo do SDM. Ao fundo, um canhão português do século XVII, também do sítio donaufrágio do Galeão “Santíssimo Sacramento”FONTE: Foto DPHCM.

FIGURA 2 - Armas de Portugal e esfera Armilar da meia-colubrina marcada 25-1-25, igual às da 25-1-18,ambas do acervo SDMFONTE: Foto DPHCM.

Page 6: Artigo - BROWN, Ruth Rhynas - Seis canhões do século XVI provenientes do Santíssimo Sacramento uma reestimativa

Ruth Rhynas Brown

26Navigator , Rio de Janeiro, V.1 - N.2, pp. 21-34, Dezembro de 2005

FIGURA 3 - As inscrições da Companhia do Brasil e as duas marcas de peso da meia-colubrina 2500-2-18 doacervo do SDMFONTE: Foto DPHCM.

FIGURA 4 - Canhão inglês de 1597 feito por George Elkin doacervo do SDM. Está inscrito: “GEOGE ELKINE MADE THIS PEECE– 1597”. Como os outros 4 canhões de bronze inglesesrecuperados do sítio do naufrágio do “Santíssimo Sacramento”estão também gravadas as inscrições da Companhia do Brasil epossuem a marca de peso terminada com a letra AFONTE: Foto DPHCM.

FIGURA 5 - Cascavel da meia-colubrina2500-2-18, igual ao da 2500-1-25 doacervo do SDMFONTE: Foto DPHCM.

Page 7: Artigo - BROWN, Ruth Rhynas - Seis canhões do século XVI provenientes do Santíssimo Sacramento uma reestimativa

Seis canhões do século XVI provenientes do Santíssimo Sacramento: uma reestimativa

27Navigator , Rio de Janeiro, V.1 - N.2, pp. 21-34, Dezembro de 2005

FIGURA 6 - As duas marcas de peso da meia-colubrina 2500-2-25 do acervo do SDMFONTE: Foto DPHCM.

FIGURA 7 - Cascavel do mesmo canhão (acervo do Museu de Pieter Maritzburg – África do Sul)FONTE: Foto Ruth Brown.

Page 8: Artigo - BROWN, Ruth Rhynas - Seis canhões do século XVI provenientes do Santíssimo Sacramento uma reestimativa

Ruth Rhynas Brown

28Navigator , Rio de Janeiro, V.1 - N.2, pp. 21-34, Dezembro de 2005

FIGURA 8 - Cártula do Rei D. Sebastião de um canhão recuperado do sítio do naufrágio do Santiago (Séc. XVI),do acervo do Museu de Pieter Maritzburg (África do Sul)FONTE: Foto Ruth Brown.

FIGURA 9 - Meia-colubrina portuguesa do sítio onde o Santiago naufragou em 1585, do acervo doMuseu de Pieter Maritzburg (África do Sul), que é semelhante às meia-colubrinas do Museu Naval do Riode Janeiro (25-1-25 e 25-2-18)FONTE: Foto Ruth Brown.

Page 9: Artigo - BROWN, Ruth Rhynas - Seis canhões do século XVI provenientes do Santíssimo Sacramento uma reestimativa

Seis canhões do século XVI provenientes do Santíssimo Sacramento: uma reestimativa

29Navigator , Rio de Janeiro, V.1 - N.2, pp. 21-34, Dezembro de 2005

FIGURA 11 - Detalhe da marca de peso de Amsterdãde um canhão holandês, com a letra AFONTE: Foto Ruth Brown.

FIGURA 12 - Detalhe do mesmo canhão holandês commarca de peso de Amsterdã, com a letra A, no finalFONTE: Foto Ruth Brown.

FIGURA 10 - Tubo alma da meia-colubrina 2500-2-18, mostrando a redução de diâmetroFONTE: Foto DPHCM.

Page 10: Artigo - BROWN, Ruth Rhynas - Seis canhões do século XVI provenientes do Santíssimo Sacramento uma reestimativa

Ruth Rhynas Brown

30Navigator , Rio de Janeiro, V.1 - N.2, pp. 21-34, Dezembro de 2005

FIGURA 13 - Cópia da página do manuscrito de cerca de 1650 de Simão Ferreira Paes, das “Famosas Armadasque para a Índia foram desde o anno em que se principou sua gloriosa conquista” (1496-1650). Manuscritoque pertencia à Biblioteca Real, que D. João levou para o Brasil em 1807. Texto do último parágrafo:“A nau São Valentim foi por fora a Cochim e dali partiu e invernou em Moçambique e veio de invernada surgira Sesimbra a 8 de junho de 602 - donde foi tomada de uma armada inglesa e levada à Inglaterra, a 13 do ditomês de junho, vinha nele por capitão D. Júlio de Noronha”FONTE: CASTRO, 1997, p.280.

Page 11: Artigo - BROWN, Ruth Rhynas - Seis canhões do século XVI provenientes do Santíssimo Sacramento uma reestimativa

Seis canhões do século XVI provenientes do Santíssimo Sacramento: uma reestimativa

31Navigator , Rio de Janeiro, V.1 - N.2, pp. 21-34, Dezembro de 2005

FONTESFONTESFONTESFONTESFONTES

DOCUMENTDOCUMENTDOCUMENTDOCUMENTDOCUMENTAISAISAISAISAIS

PRO - Public Record Office, Kew, London

BIBLIOGRÁFICASBIBLIOGRÁFICASBIBLIOGRÁFICASBIBLIOGRÁFICASBIBLIOGRÁFICAS

BLACKMORE, H L. The Armouries of the Tower of London. I Ordnance. HMSO, 1976.

BROWN, R. R. A gift for the Sultan of Morocco. Journal of the Ordnance Society, vol 12.

Catalogo do Museu Militar. Lisboa: 2000.CASTRO, Nuno de. De Bastolomeu Dias a Vasco da Gama; as famosas Armadas da Índia,

1496-1650, por Simão Ferreira Paes, Porto: Civilização, 1997.GREEN, J. The A VOC Jacht Vergulde Draeck wrecked Western Australia 1656. Oxford: 1977.

GUILMARTIN, J. F. Exploiting the guns of the Santissimo Sacramento: an analysis of early modernnaval ordnance, gunnery and gunfounding. In Materializing the Military. Londres: BernardFinn and Bart Hacker, 2005.

HOSKINS, S. 16th Century Cast-Bronze Ordnance at the Museu de Angra do Heroismo. MAThesis, Texas A&M university, 2003.

KENNARD, A. N. Gunfounding & Gunfounders. Londres: 1986.Pernambucano de Mello, Ulysses. The shipwreck of the galleon Sacramento- 1668 off Brazil. In

International Journal of Nautical Archaeology, vol 8, 1979.

RODGER, N. A. M. The Safeguard of the Sea. Londres: 1997.

Six 16th century cannon from the SantissimoSacramento: A Reappraisal

TWO PORTUGUESE DEMI-TWO PORTUGUESE DEMI-TWO PORTUGUESE DEMI-TWO PORTUGUESE DEMI-TWO PORTUGUESE DEMI-CULCULCULCULCULVERINSVERINSVERINSVERINSVERINSFROM THE FROM THE FROM THE FROM THE FROM THE SANTISSIMO SACRAMENTOSANTISSIMO SACRAMENTOSANTISSIMO SACRAMENTOSANTISSIMO SACRAMENTOSANTISSIMO SACRAMENTO

I will deal with the two oldest cannons onthe wreck. These have been identified by pastcommentators as being from Englishbecause of their English weight marks(Pernambucano de Mello, 216; Guilmartin,41). However this is not a reliable guide tothe origin of cannons as it ignores thecommon practise of the time of countriesusing foreign guns in their own ships. Alsothere are two sets of weight marks on thesecannons, as there are on the four guns whichdefinitely do have English origins. Moreoverthese two guns are clearly in the Portuguesestyle with lifting rings instead of dolphins. Atthis period there is no evidence of the Englishcasting bronze guns for the Portuguesemarket, as gunfounding in Tudor London wasa relatively small industry that was only able

to satisfy the demands of its own needs. Thiscontrasts with the Portuguese who haddeveloped their own unique gun system.Apart from the weights, there is nothing elseto connect these guns to England and as weshall see, there is another explanation forhow the guns became so marked.

In the course of Elizabeth’s war with Spain,the English captured and then re-used anumber of foreign cannons. It was normalprocedure for these cannon to be weighed andmarked with their new weights which were thennoted in Ordnance Office’s Debenture books.The weight was needed both for any paymentdue and also for allocating guns to ships toprevent overloading. On the 25 October 1602the Ordnance Office’s Debenture book recordsthe reception into the Queen’s stores of 16 bron-

Page 12: Artigo - BROWN, Ruth Rhynas - Seis canhões do século XVI provenientes do Santíssimo Sacramento uma reestimativa

Ruth Rhynas Brown

32Navigator , Rio de Janeiro, V.1 - N.2, pp. 21-34, Dezembro de 2005

ze guns “out of the Carrack lately taken andbrought into Plymouth by Sir Richard Levesonknight”. Amongst these are listed together twodemi-culverins with the weights 25-1-25 and 25-2-18. This is the accepted way the Ordnanceclerks wrote weights – at this period the gunsthemselves would have been marked 2500-1-25 and 2500- 2- 18 (PRO-WO 49/ 28, 199r). Theidentity of the “Great Carrack” is quicklyestablished; in the summer of 1602 a few ofthe Queen’s ships sailed to the coast of Spainunder Sir Richard Leveson where theyintercepted a Spanish fleet en route toFlanders. Unable to attack the fleet becauseof their own small numbers, Leveson’s forcesinstead cut out the Saõ Valentinho, aPortuguese carrack, in the Cezimbra Roads andtook her back to Plymouth (Rodger, 292).

While the Ordnance Office acquirednumbers of foreign guns in this period, no othershave these particular weights and thecoincidence of these two being together in thedocuments is, to say the least, very intriguingand difficult to ignore. This may solve themystery of how the guns acquired their Englishweights and came into English service, but doesnot explain how they returned to Portugal.

IDENTIFICAIDENTIFICAIDENTIFICAIDENTIFICAIDENTIFICATION OF THE CANNONSTION OF THE CANNONSTION OF THE CANNONSTION OF THE CANNONSTION OF THE CANNONS

Guilmartin and Pernambucano de Melloboth suggest these guns date from the firsthalf of the 16th century (Guilmartin, 41;Pernambucano de Mello, 211). In particularthe lifting rings have been interpreted asarchaic features. However the Portuguesecontinued to use lifting rings on their cannonlong after other countries had begun usingfixed dolphins; examples of dated guns showthis as late as 1594 (Blackmore, 140). Thesedistinctive Portuguese types of guns seemonly to have been abandoned during theHapsburg rule, although they continued a littlelater in the Asian possessions. It is also notablethat when King Sebastian ordered guns fromthe Malines gun founder Remigy de Halut inthe 1550s, these were cast in the normalEuropean patterns as in cannon D1 in theMuseu Militar, Lisbon.

There are a number of guns in collectionsaround the world to which these can be

compared. These include a number ofcannons in the Museu Militar in Lisbon, suchas B6, B7 and B8 (all first half of the 16th

century) and D5 and D7 from the reign ofSebastian. D5 is closest with a very similarcascable and length, 328 cm and was castby João Diaz (Catalogo do Museu Militar,190). There is also an undated demi-culverinin the Azores of 307 cm. Sara Hoskins notedthe similarity between this and the two gunsfrom the Santissimo Sacramento (Hoskins,81). Other examples are from a 16th centurywreck, now at the National Museum of theSeychelles and a pair of esperas or demi-culverins with cartouches of King Sebastianfrom the wreck of the Santiago, lost off SouthAfrica and currently in the PietermaritzburgMuseum. One of these in particular bears astriking resemblance to these guns and hasthe same calibre and a similar length, 328cm. This puts a number of date ranges onthe guns - the reign of Sebastian from 1557until 1578; the gunfounder João Diaz whoworked at least between 1545 and 1575(Kennard 67) and the loss of the Santiago offSouth Africa in 1585.

FOUR ENGLISH CANNONSFOUR ENGLISH CANNONSFOUR ENGLISH CANNONSFOUR ENGLISH CANNONSFOUR ENGLISH CANNONS

There are four guns by English founders-two culverins by John and Richard Phillips,dated 1590 and 1596 and two demi-culverinscast by George Elkin, both dated 1597. All ofthese founders worked at the Houndsditchfoundry in the parish of St Botolph, justoutside the old city walls of London. Therewere at this time only two gun foundries inLondon, the other situated near the Tower ofLondon. Earlier in the century Houndsditchhad been run by the Owen brothers. Elkin isfirst mentioned in 1570 in the will of thegunfounder Robert Owen who probablytrained him and he was also mentioned inthe will of Samuel Owen, Robert’s son.George Elkin became gunfounder to theQueen in 1571. He married in 1593 and diedten years later.

John and Richard were probably the sonsof John Phillips, a gunner in the Tower ofLondon. John, the elder brother, was mentionedin the will of Thomas Owen, another of the Owen

Page 13: Artigo - BROWN, Ruth Rhynas - Seis canhões do século XVI provenientes do Santíssimo Sacramento uma reestimativa

Seis canhões do século XVI provenientes do Santíssimo Sacramento: uma reestimativa

33Navigator , Rio de Janeiro, V.1 - N.2, pp. 21-34, Dezembro de 2005

gunfounder brothers. John Phillips becamegunfounder to the Queen in 1574; Richard isnot mentioned until the 1580s. From this periodon, John becomes increasingly involved in theiron industry in the Weald in the south ofEngland, supplying cast-iron guns whileRichard appears to have taken over the bron-ze foundry in London. John disappears fromrecords before 1600, but Richard continuedfor many years as the senior gunfounder usedby the government. However after 1614 hesupplied few guns and by the time of his deathin 1633, Houndsditch was virtually moribundand closed down shortly afterwards.

From this period there are a number ofrecords from the Ordnance Office whichsupplied the English land and sea serviceswith munitions, including a debenture bookfor 1596 which contains a payment toRichard Phillips for three bronze guns, oneof which was a culverin weighing 35 -1-1;Richard signed his name against thepayment (WO 49/20, 74). This stronglysuggests this and, by implication, the otherthree guns were cast for official governmentservice, probably to arm the Queen’s Navy.

These pieces of ordnance are very rareindeed. The two culverins are the only knownguns to bear both names of the Phillipsbrothers; there is a later bronze gun cast byRichard alone after his brother’s death andthere are a few cast-iron cannons with JohnPhillips’ initials. There are no other guns byElkin known to survive at present. Despitethe fame of Elizabeth’s navy and the exploitsof her captains, very few Elizabethan bronzecannons have survived, which makes thesefour examples particularly precious for thoseinterested in Tudor gunnery.

DISCUSSIONDISCUSSIONDISCUSSIONDISCUSSIONDISCUSSION

What unites these guns is not their origins,but that they clearly shared a common historyfor part of their life. They are set apart fromthe other guns recovered from theSantissimo Sacramento, as they all bear twosets of weights - one English, and one otherwhich I shall discuss below, and all have beenengraved at a later period with the inscriptionof the Company of Brazil and the armillary

sphere. We have seen that it is very likelythat all these guns were together in the early17th century in English service. However themystery is how they got from the English Navyto the coast of Brazil some 60 years later.They disappear from the English records, butthe guns themselves bear two further cluesto what happened in between; one is thesecond set of weights and the other are theengraved inscriptions.

The six guns bear a second weight - a fourdigit number followed by an A. Guilmartinsuggests these are an archaic weighing systemusing the equivalent of the Portuguese poundthe arratel, but I have not been able to locateany other Portuguese cannons bearing similarmarks - both 16th and 17th century guns bearthe normal three part weighing system - quin-tal, arroba, and arratel. However these weightsdo closely resemble the system used in theNetherlands, particularly that used inAmsterdam, where there was a very activemarket in old or second-hand ordnance in the17th century. Such weights can be most clearlyseen on imported iron guns, such as the ironguns from Santissimo Sacramento’‘s nearcontemporary, the Dutch East India ship,Vergulde Draeck (Green, 271). The second setof engraved inscriptions and emblems indicateownership of the Company of Brazil, anorganization which did not come into existenceuntil 1649, after Portugal had regained itsindependence from Hapsburg Spain.

There are a number of possible routesby which the guns could have reached theSacramento.

If the initial identification is correct, then itappears the two Portuguese demi-culverinswere together in 1602 and on the day theSantissimo Sacramento sank, suggesting theywere together for much of the interveningperiod. It is intriguing that all the guns survivedand were in use up to the 1660s. As early as1611 Spanish guns were being sent to theLondon founders for melting into new guns andthere were similar campaigns in the 1630s and1650s when old or foreign artillery were the firstto be re-used. However such cannons could alsobe sold off to dealers if that was more profitablethan melting them down. During the 1620s for

Page 14: Artigo - BROWN, Ruth Rhynas - Seis canhões do século XVI provenientes do Santíssimo Sacramento uma reestimativa

Ruth Rhynas Brown

34Navigator , Rio de Janeiro, V.1 - N.2, pp. 21-34, Dezembro de 2005

example the English government sold a numberof old guns to Dutch merchants (although thesewere mainly cast iron).

However there were other ways in whichguns could change ownership; following thepeace with King Philip in the early 1600s, therewas a scandal when a number of guns weresmuggled out of England and sold in Spain inabout 1605. These included at least onePortuguese demi-culverin and guns by GeorgeElkin. Later in about 1620 there was anotherscandal when a retiring Spanish ambassadortried to export English guns with falsedocuments. There were presumably othersuccessful and therefore undocumentedattempts to smuggle guns out of the country.

Guns could also be sent as gifts to aforeign ruler or government. There is ampleevidence that in the 17th and 18th century theBritish government sent unwanted ordnanceto allies. Charles II had some old Elizabethanguns re-engraved to send as a present to the

Sultan of Morocco in 1669 (Brown, 25). Theymight also have been sent back to Portugalin the wake of Charles II’s marriage toCatherine of Braganza.

Finally they could have changed hands intime of war; captured ships’ ordnance was verymuch prized and might be re-used against itsoriginal owners. In the preceding 60 yearsBritain was at war with a number of otherpowers, including France, Spain and theNetherlands, as well as being involved in a CivilWar, in the course of which part of the navyswitched sides.

On the balance, it seems likely that thesesix guns left English service together, eitherlegally, or illegally smuggled out or capturedand reached the Company of Brazil throughthe Dutch gun market in Amsterdam, beforeending their career when the Santissimo Sa-cramento was wrecked. Possibly furtherresearch in documents will throw light on howthese guns came to their watery grave.