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    Oliveira EB, Souza NVMArtigo de PesquisaOriginal ResearchArtculo de Investigacin

    Recebido em: 16.04.2011 Aprovado em: 08.09.2011 Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2012 out/dez; 20(4):457-62. p.457

    INTRODUOA presenatecnolgica na rea da sade, especi-almente a tecnologia dura1, comeou com a revolu-o industrial, ganhando maior impulso aps a Se-gunda Guerra Mundial com a descoberta e utilizaode tubos orotraqueais, ventiladores e eletrocardio-grama na assistncia ao paciente crtico. Nesse pero-

    ESTRESSE E INOVAO TECNOLGICA EM UNIDADE DETERAPIA INTENSIVA DE CARDIOLOGIA: TECNOLOGIA DURASTRESS AND TECHNOLOGICAL INNOVATION IN A CARDIAC INTENSIVECARE UNIT: HARD TECHNOLOGY ESTRS E INNOVACIN TECNOLGICA EN UNIDAD DE TERAPIAINTENSIVA DE CARDIOLOGA: TECNOLOGA DURA

    Elias Barbosa de OliveiraI Natalia Victor Madeira de SouzaII

    IEnfermeiro. Ps-Doutor em lcool e Drogas. Doutor em Enfermagem. Professor Adjunto da Ps Graduao (Mestrado) e Graduao da FacuEnfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: [email protected]. Especialista em Enfermagem do Trabalho. Especialista em Enfermagem Intensivista (Residncia). Enfermeira do Hospital da Poldo Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: [email protected].

    RESUMO: Objetivou-se neste estudo identificar os fatores intervenientes no uso da tecnologia dura pelo enfermeiro emunidade de terapia intensiva (UTI) de cardiologia e analisar as repercusses psicofsicas para a sade do profissional.Mtodo qualitativo, descritivo, tendo como campo uma UTI cardaca de um hospital universitrio situado no municpio doRio de Janeiro (Brasil). Utilizou-se a entrevista semiestruturada com sete enfermeiros, em 2009. Aplicada a anlise decontedo aos depoimentos, chegou-se aos resultados: na viso do enfermeiro, a tecnologia dura essencial na assistnciaao paciente crtico por possibilitar maior controle do quadro clnico, prevenir complicaes e facilitar o trabalho da equipe.Fatores intervenientes como a ausncia de treinamento e de manuteno preventiva dos aparelhos acarretam estresseocupacional devido possibilidade de erros e efeitos adversos ao paciente. Conclui-se que h necessidade de gerenciamentodo risco hospitalar com vistas qualidade do cuidado oferecido, segurana, ao bem-estar e satisfao da equipe.Pa lav ras chave : Enfermagem; unidades de terapia intensiva; riscos ocupacionais; sade do trabalhador.

    ABSTRACT: This study aimed at identifying intervening factors in the use of hard technology by Cardiac Intensive CareUnit nurses, as well as at examining the psycho-physical effects on nursing staff health. The qualitative descriptive methodwas applied at a cardiac intensive care unit in a teaching hospital in Rio de Janeiro, RJ, Brazil. Semi-structured interviewswith seven nurses were conducted in 2009. Content analysis led to the following results: nurses view hard technology asessential to critical patient care for ensuring better control over patients clinical condition, preventing complications andfacilitating the nursing teams work. Intervening factors, such as lack of training and preventive maintenance of apparatus

    and machines, result in occupational stress in face of possible errors and adverse effects on patients. Conclusions show thathospital risk management is required to safeguard quality of care, safety, wellbeing, and team satisfaction.Keywords : Nursing; intensive care units; occupational risks; workers health.

    RESUMEN: Se objetiv en este estudio identificar los factores intervenientes en relacin al uso de la tecnologa dura porel enfermero en la unidad de terapia intensiva (UTI) de cardiologa y analizar las repercusiones psicofsicas para la saluddel profesional. Mtodo cualitativo, descriptivo, teniendo como campo una UTI cardaca de un hospital universitario sitoen el municipio de Rio de Janeiro (Brasil). Se utiliz la tcnica de entrevista semiestructurada con siete enfermeros, en 2009.Aplicado el anlisis de contenido a los testimonios, se lleg a los resultados siguientes: en la visin del enfermero, latecnologa dura es esencial en la asistencia al paciente crtico por posibilitar mayor control del cuadro clnico, prevenircomplicaciones y facilitar el trabajo del equipo. Factores intervenientes como la ausencia de entrenamiento y de manutencinpreventiva de los aparejos acarrean estrs laboral debido a la posibilidad de errores y efectos adversos al paciente. Seconcluye que hay necesidad de gerencia del riesgo hospitalario mirando a la calidad del cuidado ofrecido, a la seguridad,al bienestar y a la satisfaccin del equipo.Palabras clave: Enfermera; unidades de terapia intensiva; riesgos laborales; salud del trabajador.

    Recebido em: 09.01.2012 Aprovado em: 26.06.2012

    do, as cincias aplicadas possibilitaram o advento demquinas e equipamentos que substituram e/ouminimizaram a necessidade da fora humana fsica.A associao entre tecnologia e mquinas/equipa-mentos na sade vem, provavelmente, dessa primei-ra revoluo industrial.

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    Estresse e inovao tecnolgica: tecnologia dura Artigo de PesquisaOriginal Research

    Artculo de Investigacin

    Recebido em: 20/01/2012 Aprovado em: 24/04/2012p.458 Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2012 out/dez; 20(4):457-62.

    tcnica neutra, mas acontece mediada pelas condi-es de trabalho e pelo trabalhador. Condies pre-crias de trabalho influenciam negativamente o de-sempenho dos profissionais e produzem sobrecargafsica e psquica nos trabalhadores. Assim, a introdu-o de uma nova tecnologia, independente de suanatureza, acompanhada de um aumento da intensi-dade do trabalho e da presso por produtividade7.

    Os objetivos do artigo foram: identificar os fato-res intervenientes em relao ao uso da tecnologia durapelo enfermeiro em UTI de Cardiologia e analisar asrepercusses psicofsicas para a sade do profissional.

    R EFERENCIAL TERICOA evoluotecnolgica trouxe notveis contri-buies para o desenvolvimento do homem em seucontexto social, cultural e biolgico; contudo, tam-bm, veio acompanhada de numerosos problemas, in-clusive no trabalho, expondo o trabalhador fragili-dade fsica e emocional8. O trabalho na atualidade um importante fator gerador de estresse; consideradocomo um dos problemas que mais frequentemente in-terfere na homeostase do trabalhador, devido s ten-ses que enfrenta diariamente. mais frequente quandoh muitas responsabilidades, mas poucas possibilida-des de tomada de deciso e de controle.

    No setor sade, os trabalhadores de enfermagemencontram-se expostos a riscos psicossociais que, em

    seu conjunto, causam estresse ocupacional9

    pelas pecu-liaridades do processo de trabalho e exigncias em ter-mos de domnio tecnolgico, de formao, de informa-o e de cuidados dispensados a pacientes em situaocrtica. Os prejuzos acarretados ao grupo mantm rela-o com demandas incompatveis e o pouco controledo profissional sobre o processo de trabalho, principal-mente em situaes que exigem rapidez, esforo fsicodemasiado e utilizao de tecnologias sem o devido trei-namento.

    Portanto, trata-se de uma parcela de trabalha-dores que, pelas caractersticas do trabalho realizado,

    se expe a riscos psicossociais que funcionam comoestressores10, ou seja, implicam em grandes exignci-as no trabalho, combinadas com recursos insuficien-tes para o enfrentamento das mesmas. Tais recursosreferem-se interao entre o trabalhador (percep-o subjetiva) e o ambiente de trabalho, contedo dotrabalho, condies organizacionais e habilidades dotrabalhador que podem, por meio de percepes eexperincias, influenciar a sade, o desempenho notrabalho e a sua satisfao.

    Entre os servios onde os profissionais encontram-se mais expostos aos riscos psicossociais h os ramos dasade, educao, emergncia, segurana e atendimentoao grande pblico que, se no prevenidos pela organiza-o, podem acarretar danos sade fsica e mental11. No

    O uso intensivo de equipamentos de tecnologiade ponta no setor sade tem contribudo para quealguns procedimentos diagnsticos e teraputicos setornem menos invasivos, propiciando uma recupe-rao mais rpida dos usurios e com menos compli-caes. Porm, tem-se registrado poucos avanos noque diz respeito produo de conhecimentos sobreinovaes tecnolgicas no campo da organizao,gesto e relaes de trabalho2.

    Em unidades complexas como terapia intensi-va cardiolgica, aparelhos utilizados na assistnciaao paciente crtico so tecnologias duras3 ou traba-lho morto, por serem recursos materiais obtidos atra-vs do uso de equipamentos como instrumento dotrabalho. De modo complementar, existem tecno-logias leve-duras; expressas no manuseio de equipa-mentos e saberes tecnolgicos para sua utilizao e as

    leves identificadas no mbito das relaes, que se ca-racterizam pelo trabalho vivo em ato, na relao di-reta entre usurio e profissional.

    Nas instituies hospitalares, a unidade de tera-pia intensiva (UTI) um dos espaos onde existe maiorconcentrao de tecnologias duras4 que possibilitam,principalmente as equipes de enfermagem e mdica,manterem o controle do quadro clnico dos pacientes eintervirem prontamente nos casos de alteraesventilatrias e hemodinmicas. Recursos tecnolgicoscomo multiparmetros, respiradores, bombas infusorase oxmetros com seus alarmes visuais e sonoros so

    insumos imprescindveis para o processo de trabalho,pois alertam as equipes para alteraes clnicas do paci-ente e mau funcionamento dos prprios aparelhos.

    Nesse sentido, o processo de trabalho em tera-pia intensiva organizado de maneira que a equipepreste assistncia especializada a pacientes com riscode vida, exigindo assistncia de enfermagem e mdi-ca ininterruptas, o que justifica a introduo detecnologias cada vez mais aprimoradas que buscam,por meio de aparelhos, preservar e manter a vida atra-vs de teraputicas e controles mais eficazes, o queexige profissionais especializados e capacitados5.

    Apesar dos benefcios obtidos com a utilizaoda tecnologia dura pela equipe de enfermagem, a din-mica do trabalho em UTI, frequentemente, conduz osprofissionais de enfermagem a vivenciarem situaesestressantes6, devido necessidade de conhecimentospara o controle do aparato tecnolgico em perfeitofuncionamento, tendo em vista a imprevisibilidade doquadro clnico dos pacientes, que exige intervenoimediata. Portanto, imprescindvel atentarmos paraos riscos a que os profissionais de enfermagem estoexpostos, com vistas sade do grupo e qualidade docuidado que prestam clientela.

    Na perspectiva da tecnologia dura como fatorde risco psicossocial sade, cabe salientar que nose trata da simples aplicao e transferncia de uma

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    Oliveira EB, Souza NVMArtigo de PesquisaOriginal ResearchArtculo de Investigacin

    Recebido em: 16.04.2011 Aprovado em: 08.09.2011 Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2012 out/dez; 20(4):457-62. p.459

    entanto, a diviso entre as condies de trabalho e oambiente de trabalho faz com que os riscos psicossociaissejam difceis de serem identificados. Acrescentam-seproblemas relativos a polticas de desenvolvimento quenem sempre consideram este tipo de risco no ambientelaboral, tornando mais difcil a introduo de prticasefetivas de controle e enfrentamento do mesmo porparte das organizaes.

    A introduo e implementao de novas tecno-logias nas organizaes tm contribudo para o apa-recimento de situaes indutoras de estresseocupacional devido necessidade de adaptao dotrabalhador ao processo de trabalho que exige novosconhecimentos e competncias12. Deste modo, asmudanas introduzidas pela organizao podem pro-duzir experincias negativas e altamente nocivas paraa sade e bem-estar psicolgico dos trabalhadores,

    devendo ser identificadas e analisadas adequadamen-te, para que seja possvel uma interveno eficaz nosentido de minimizar os seus efeitos negativos.

    Profissionais do setor sade, sobretudo da en-fermagem que trabalham nas instituies hospitala-res, vem se defrontando com o desenvolvimentoconstante de tecnologias duras em seu cotidiano detrabalho, principalmente em setores de alta comple-xidade, como as unidades de terapia intensiva. Talsituao requer destes profissionais um processo cons-tante de atualizao13, constituindo em importantedesafio para a prtica profissional.

    No que concerne s tecnologias duras como fa-tores de risco psicossocial deve-se atentar para pro-blemas8 relativos ao contedo do trabalho e entreeles: confiabilidade dos dados registrados nos apa-relhos, disponibilidade em termos qualitativos equantitativos dos insumos tecnolgicos, conveni-ncia sobre a sua utilizao, manuteno e ao repa-ro de equipamentos. Tais riscos, remetem comple-xidade tecnolgica vivenciada pelos trabalhadores deenfermagem nos hospitais, constituindo-se em car-gas de trabalho psquicas14responsveis pela emer-gncia de doenas emocionais que repercutem expres-sivamente na vida do trabalhador.

    M ETODOLOGIATrata-se de um estudo de carter descritivo comabordagem qualitativa15, que buscou compreender a pro-blemtica na perspectiva dos sujeitos que o vivenciaram,ou seja, partiu de sua vida diria, satisfaes, desaponta-mentos, surpresas e outras emoes. O projeto foi apro-vado pelo Comit de tica em Pesquisa (CEP/HUPE) eprotocolado no Comit Nacional de tica em Pesquisacom o nmero 0098.0.228.000-10.

    Em atendimento Resoluo no 196/96, aps aassinatura do Termo de Consentimento Livre e Escla-recido, participaram do estudo todos os enfermeiros do

    quadro permanente (sete) de um hospital universitriosituado no municpio do Rio de Janeiro. Os critriosadotados na incluso dos sujeitos na amostra foram: serdo quadro efetivo da instituio e atuar no UTI Carda-ca pelo menos h um ano, sendo esses critrios de sumaimportncia no que se referiram aos conhecimentos, ashabilidades e as competncias relacionadas utilizaodas tecnologias duras. Informou-se que a participaodos sujeitos seria voluntria e que teriam o direito de seretirarem da pesquisa em qualquer fase. Garantiu-se osigilo dos dados obtidos e ratificou-se que os resultadosseriam apresentados em eventos e publicados em revis-tas cientficas. Na transcrio dos depoimentos foramadotadas as seguintes convenes: entrevistado (letraE) seguido de um nmero de acordo com a ordem deentrada no texto.

    A coleta de dados ocorreu em 2010, no prprio

    local de trabalho, aps a seleo dos sujeitos e o con-vite, mediante a tcnica de entrevista semiestruturadaque permitiu a interao entre o pesquisador e os su-jeitos, favorecendo a contextualizao de experin-cias, vivncias e sentidos, que contriburam para es-clarecer a problemtica da investigao. Como ins-trumento, foi utilizado um roteiro contendo cincoquestes relacionadas ao ambiente, s condies detrabalho e ao modo como os enfermeiros enfrenta-vam a problemtica da tecnologia dura no ambientelaboral, cujas respostas foram gravadas em mp3.

    Realizada a transcrio, a linguagem foi analisada

    mediante a tcnica de anlise de contedo (anlisetemtica), que se baseou na decodificao do texto emdiversos elementos, os quais foram classificados e for-maram agrupamentos analgicos. Em um ltimo mo-mento, utilizando os critrios de representatividade,homogeneidade, reclassificao e agregao dos elemen-tos do conjunto, chegou-se aos seguintes resultados:tecnologia dura: instrumento essencial de trabalho; ino-vaes tecnolgicas e capacitao em servio; tecnologiadura e estresse ocupacional.

    R ESULTADOS E DISCUSSO

    Tecnologia dura: instrumento essencial de tra-balho

    A Enfermagem, ao receber o paciente na Unida-de de Terapia Intensiva de Cardiologia no ps-opera-trio imediato, realiza uma srie de intervenes cl-nicas no intuito de manter a homeostase respiratriae hemodinmica, o alvio da dor e do desconforto, poisexiste possibilidade de complicaes, principalmentenas primeiras 72 horas. Como o paciente submetido cirurgia cardaca frequentemente mais instvel devi-do aos efeitos da circulao extracorprea, manipu-lao cardaca e ao risco de infeco, ele deve ser man-tido sedado, monitorado, dependente de prtese res-

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    Estresse e inovao tecnolgica: tecnologia dura Artigo de PesquisaOriginal Research

    Artculo de Investigacin

    Recebido em: 20/01/2012 Aprovado em: 24/04/2012p.460 Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2012 out/dez; 20(4):457-62.

    piratria e com infuses contnuas de lquidos eaminas16. Diante do nvel de dependncia total do pa-ciente, compete enfermagem a vigilncia e o contro-le do quadro clnico mediante a utilizao de aparatostecnolgicos; recursos indispensveis para o sucessoda teraputica institudo, como evidenciado nos de-poimentos.

    Bem, essa tecnologia presente na nossa unidade fun-damental para a assistncia ao cliente [...] a gente notem como estar com um paciente com essas caracters-ticas sem apoio da tecnologia, dos monitores, bombasinfusoras e ventiladores. (E4) A tecnologia vem ao encontro do nosso trabalho por facilitar alguns cuidados pelo enfermeiro [...] facilitaruma visualizao melhor do paciente [] com issovoc tem uma atuao mais imediata e em alguns as- pectos diminui a execuo de determinadas atividadesque seriam repetitivas. (E1) Nessa un idade (CTI Cardaco) acredi to que atecnologia tenha uma funo importante [...] dedirecionar as intercorrncias, de te mostrar indicadoresque acabam fazendo com que voc melhore o cuidadoque voc t oferecendo ao paciente. A tecnologia deixaa gente mais conectada ao paciente, no sentido de t-lo mais mo. (E7)A substituio do trabalho manual pela auto-

    mao em unidades especializadas est atrelada expertise do profissional, ou seja, a capacidade de avaliaro paciente e confrontar o estado clnico a partir dateraputica instituda e os parmetros estabelecidosnos aparelhos (indicadores), possibilitando controledo estado geral do paciente, minimizao de ativida-des repetitivas e preveno de complicaes no ps-operatrio imediato. Neste sentido, h necessidade defamiliaridade em relao ao aparato tecnolgico, pro-cesso que exige experincia, desenvolvimento de ha-bilidades e a necessidade de ampliao dos conheci-mentos adquiridos na formao atravs de cursos deatualizao e capacitao em servio17.

    Inovaes tecnolgicas e capacitao em ser-vio

    No que concerne utilizao da tecnologia durapelo enfermeiro intensivista, cabe organizao pro-piciar a atualizao dos conhecimentos do grupo atra-vs de treinamento em servio, elaborao de rotinase protocolos, principalmente quando uma novatecnologia incorporada ao processo de trabalho. Noentanto, como afirmam os enfermeiros, a ausncia decapacitao em servio diante das inovaes tecno-lgicas acarreta problemas, como desconhecimentosobre o a operao dos aparelhos, que afetam o desem-penho e geram apreenso pelo fato de o profissionalter que atuar mesmo sem o devido preparo.

    Voc precisa de treinamento e isso a gente no tem. svezes muita gente confunde e acaba sendo um ponto

    negativo, porque muitas pessoas no sabem manipular,eu acho que deveria haver um treinamento para quehouvesse apenas pontos positivos e no negativos. (E5) Ainda tem o funcionrio e a dificuldade que ele encontraem empregar essa tecnologia. Talvez seja isso: a tecnologiasubutilizada aqui na terapia intensiva. A gente no temdisponvel um manual nas mos para descobrir o que estacontecendo com o aparelho. (E2)Muitas vezes a falta de domnio na manipulao do apa-relho, ento isso leva a um estresse, voc aperta, aperta,aperta boto sem conseguir solucionar o problema. Isso porque no houve um treinamento. Isso porque no hou-ve um interesse da instituio. (E1)O enfermeiro, por ser o responsvel pela gern-

    cia, realizao de procedimentos de maior complexi-dade, treinamento e superviso da equipe, deve estarem permanente processo de aquisio de conheci-mentos e habilidades em relao s tecnologias du-ras, de modo que os saberes obtidos possam reverterpara a segurana, o bem-estar e a satisfao no traba-lho. Isso requer da instituio a responsabilidade ad-ministrativa, tica e legal16 para dimensionar o qua-dro funcional, investir em recursos humanos e mate-riais, a fim de minimizar sua responsabilidade jurdi-ca em face da possibilidade de ocorrncias iatrognicasao paciente. Cabe salientar que o gerenciamento derisco hospitalar (tecnovigilncia) pela organizaopossui papel essencial no que diz respeito sistemati-zao e ao monitoramento de eventos adversos, exe-

    cutando aes para o controle e eliminao de seusdanos17. Como parte dessas aes, a tecnovigilnciaatua nos procedimentos para aquisio, utilizao econtrole da qualidade de produtos e equipamentosna sade, em que a avaliao do risco conferido aodoente ou aos produtos em uso no seu cuidado poderefletir tambm na segurana do trabalhador, minimi-zando o desgaste e a possibilidade de erros.

    Tecnologia dura e as repercusses para a sa-de do enfermeiro

    A UTI de Cardiologia possui uma dinmica de

    trabalho intensa que se caracteriza pela alta rota-tividade de pacientes no ps-operatrio imediato, sen-do os mesmos transferidos para a enfermaria de ori-gem assim que as funes hemodinmicas e venti-latrias estejam estabilizadas. O papel da enfermagemneste servio essencial no que diz respeito monta-gem da unidade, instalao e checagem do funciona-mento de monitores, respiradores, fonte de oxignio ea vcuo, necessitando de insumos tecnolgicos emquantidade e qualidade que possibilitam a qualidade econtinuidade do tratamento institudo. No entanto,os enfermeiros se queixam da ausncia de servios tc-nicos especializados que realizem a superviso e a ma-nuteno preventiva dos aparelhos, como evidencia-do nos depoimentos.

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    Oliveira EB, Souza NVMArtigo de PesquisaOriginal ResearchArtculo de Investigacin

    Recebido em: 16.04.2011 Aprovado em: 08.09.2011 Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2012 out/dez; 20(4):457-62. p.461

    A questo da manuteno muito incerta. Ento aque-les aparelhos que ns precisamos manuteno preventiva no h, s a corretiva. Ento voc instala uma tecnologia no paciente, ela apresenta problema, voc fica s vezes numa situao que no tem como resolver. E tambm

    aquilo: ser que essa tecnologia t oferecendo parmetroscorretos? (E2) A gente fica preocupada pelo paciente e eu acho que no ter pea de reposio acaba causando malefcios,levando efeitos deletrios nesse paciente por conta dis-so. (E3)Voc acredita que aquele sistema totalmente confivele muitas vezes o seu saber no to eficaz e voc deixade estar cuidando realmente do paciente. (E1)O monitor aqui est constantemente com defeito. A gente at previamente monta a unidade, olha que est funcionado e na hora ele no funciona. (E4)

    A descrena em relao aos parmetros estabe-lecidos nos aparelhos devido a problemas tcnicosrepercute na qualidade do cuidado ofertado e expe oprofissional a dilemas ticos, devido ao risco deiatrogenias ao paciente. Na ausncia de uma polticainstitucional de tecnovigilncia em sade que realizeo diagnstico, o monitoramento e as intervenesnecessrias para a melhoria das condies de traba-lho, sobrevm o sofrimento, principalmente dos tra-balhadores de enfermagem que atuam diretamentecom o pacientes e suas necessidades. O sofrimentotico surge em circunstncias onde no esto em ques-

    to a competncia e a habilidade do trabalhador, po-rm a presso para trabalhar mal; quando o trabalha-dor sabe o que deve fazer, mas no pode faz-lo por-que as presses sociais do trabalho o impedem, dealgum modo, de fazer corretamente o seu trabalho18.

    O perfeito funcionamento dos alarmes visuaise sonoros ferramenta essencial do trabalho em uni-dades especializadas, pois propicia ao trabalhador se-gurana quanto vigilncia e informa sobre as alte-raes clnicas do paciente. O sistema de moni-torizao ideal deve possuir alta sensibilidade paracaptar as mudanas tnues dos parmetros observa-

    dos, tima reprodutividade dos dados obtidos, per-mitir uma utilizao fcil e prtica para toda a equipeassistencial e, se possvel, um baixo custo para a ma-nuteno e aquisio de acessrios bsicos19. Noentanto, como evidenciado nos depoimentos, o ru-do decorrente dos disparos de alarmes, nem semprerelacionados ao estado clnico dos pacientes, estressaos trabalhadores, o que levou o grupo a questionar aeficcia deste tipo de dispositivo.

    O monitor requer muita ateno, ele solicita muito doenfermeiro, que trabalha muitas vezes em funo do equi- pamento [...] ento o rudo dos alarmes afetam dessa forma a equipe, que muitas vezes por no saber lidar, ficairritada mesmo [...] o que cansativo, estressante, irri-tante. (E6)

    A questo dos alarmes sonoros pra mim me irritam muito, principalmente as bombas infusoras! No sbombas adequadas! Ento a gente fica num estresse, n preocupao se aquela droga est sendo infundida coretamente dentro daquele volume programado. (E4)

    Os alarmes o tempo inteiro, esses alarmes tocando, uestresse muito grande, no s para o enfermeiro quan para os prprios pacientes. (E3)Nestas condies de trabalho, o rudo provocado

    por aparelhos em terapia intensiva gera incmodo edesgaste psicofsico ao trabalhador de enfermagem de-vido necessidade de checagens peridicas do pacientee maquinrio20. A ansiedade exacerbada, h sobrecar-ga psquica e o trabalhador passa a conviver com aimprevisibilidade devido perda do controle das condi-es do paciente e do prprio aparelho.

    Condies de trabalho deficitrias, tais como in-suficincia de recursos materiais e falta de manutenoadequada dos aparelhos e equipamentos, concorrem parafrequentes perdas dos mesmos ou improvisaes inade-quadas, gerando falhas srias que comprometem o aten-dimento aos pacientes. Esses fatores causam estresse nopessoal de enfermagem, frustrando suas expectativasquanto adequada prestao de cuidados21.

    CONCLUSESA tecnologia dura (trabalho morto) na viso doenfermeiro remete ao prazer no trabalho na medida emque fatores intervenientes, como os conhecimentos e ashabilidades adquiridas pelos trabalhadores no sistemaformal de ensino e no prprio ambiente de trabalho, con-tribuem para a utilizao eficaz do aparato tecnolgico,controle do quadro clinico dos pacientes, minimizam arealizao de tarefas repetitivas e mantm a equipe maisatenta ao paciente.

    Apesar da indiscutvel relevncia do aparatotecnolgico como instrumento de trabalho em tera-pia intensiva e da competncia do profissional aoutilizar os conhecimentos com vistas assistncialivre de riscos, a no observncia da organizao no

    que se refere tecnovigilncia e a capacitao emservio acarretam sobrecarga psicofsica nos profissi-onais. H perda da confiana nos parmetros estabe-lecidos nos aparelhos e necessidade de intervenesjunto ao paciente e maquina, acarretando insatisfa-o e desgaste. Os trabalhadores recorrem improvi-sao, tendo como consequncias possibilidade deerros, efeitos adversos ao paciente e queda da quali-dade do trabalho. Neste contexto de trabalho, atecnologia dura um fator de risco psicossocial comrepercusses para a sade do grupo, na medida emque os desejos do trabalhador vo de encontro orga-nizao do trabalho, sendo identificado o sofrimentono trabalho a partir de queixas como preocupao,estresse, fadiga e desgaste.

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    Estresse e inovao tecnolgica: tecnologia dura Artigo de PesquisaOriginal Research

    Artculo de Investigacin

    Recebido em: 20/01/2012 Aprovado em: 24/04/2012p.462 Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2012 out/dez; 20(4):457-62.

    O trabalho em terapia intensiva, por sua com-plexidade, requer recursos tecnolgicos em qualida-de e quantidade, assim como o investimento na capa-citao do enfermeiro de modo a promover o exerc-cio profissional livre de riscos. Trabalho que envolveos trabalhadores e a organizao, com vistas inter-locuo com o servio de sade ocupacional e o in-vestimento em uma poltica voltada para o diagns-tico, monitoramento e intervenes no ambiente detrabalho com vistas a preveno de riscos e promo-o da sade do grupo.

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