Artigo Adubação do Milho safrinha - Revista Agrícola

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48 | IMPORTÂNCIA DO NITROGÊNIO E FORNECIMENTO PELA SOJA O nitrogênio é o nutriente re- querido e exportado em maior quantidade pelo milho (Figuras 1 e 2). Como aproximadamente 1,5% do grão é composto por nitrogênio, são exportados 15 kg de N por tonelada de milho, que corresponde a 75 kg/ha de N quando se produz 5 t/ha de grãos. A maior parte do nitrogênio (60 a 70%) é acumulada na planta antes do florescimento e o potencial produtivo máximo é definido nos estádios iniciais (Figura 3). Como o sistema radicular é pouco desenvolvido em plantas jovens, explorando pouco volume de solo, é ne- cessário o fornecimento de N na seme- adura para suprir esta grande demanda inicial do nutriente. O milho safrinha se beneficia do nitrogênio presente nos restos cultu- rais da soja, mas não se conhece bem ADUBAÇÃO DO MILHO SAFRINHA quanto do nutriente fica disponível para este cereal, o que dificulta o cálculo do crédito de nitrogênio na adubação nitro- genada do milho. Existem variações na própria eficiência do processo simbióti- co e na proporção de grãos na massa total da parte aérea da soja, bem como nas condições para a mineralização da matéria orgânica e liberação do N no solo. Estima-se que ficam para o milho em sucessão cerca de 20 kg de N para cada tonelada de soja, ou seja, 60 kg/ ha de N quando se produz 3,0 t/ha de soja, o que não é suficiente para suprir a exportação deste nutriente na maioria das lavouras de milho safrinha. QUANDO E QUANTO APLICAR NITROGÊNIO E m condições tropicais não é possível prever a resposta das culturas ao nitrogênio a partir da análise de solo. A recomendação de adubação é feita considerando-se o histórico de culturas na área, que no caso do milho safrinha é quase sempre a soja, a demanda de nutrientes pelas plantas, estimada a partir da produtivi- dade, e os resultados de experimentos de resposta da cultura aos fertilizantes. Os primeiros experimentos em rede sobre adubação do milho safrinha fo- ram conduzidos pelo Instituto Agronômi- co (IAC), na região paulista do Médio Pa- ranapanema, no período 1993 a 1995. Verificou-se que o parcelamento do N com 10 kg/ha de N na semeadura e o restante em cobertura, antiga adubação padrão, poderia ser aumentada para 30 kg/ha na semeadura. O emprego de 30 kg/ha na semeadura, juntamente com o fósforo e o potássio no sulco de se- meadura (exemplos: fórmulas NPK 13- 13-13, 16-16-16 e 16-18-14+S) evita as incertezas de haver ou não umidade no solo no momento em que deveria ser feita a cobertura, o que poderia levar a

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48 | revista Agrícola

IMPORTÂNCIA DO NITROGÊNIO E FORNECIMENTO PELA SOJA

Onitrogênio é o nutriente re-

querido e exportado em maior

quantidade pelo milho (Figuras

1 e 2). Como aproximadamente 1,5%

do grão é composto por nitrogênio, são

exportados 15 kg de N por tonelada de

milho, que corresponde a 75 kg/ha de

N quando se produz 5 t/ha de grãos.

A maior parte do nitrogênio (60 a

70%) é acumulada na planta antes do

fl orescimento e o potencial produtivo

máximo é defi nido nos estádios iniciais

(Figura 3). Como o sistema radicular é

pouco desenvolvido em plantas jovens,

explorando pouco volume de solo, é ne-

cessário o fornecimento de N na seme-

adura para suprir esta grande demanda

inicial do nutriente.

O milho safrinha se benefi cia do

nitrogênio presente nos restos cultu-

rais da soja, mas não se conhece bem

O emprego de insumos e práticas culturais típicos de sistemas de alta tecnologia está aumentado no milho safrinha. A adubação tem acompanhado esta tendência, mas é necessário melhorá-la parasuplantar os níveis atuais de produtividade.

ADUBAÇÃO DO MILHO SAFRINHA

quanto do nutriente fi ca disponível para

este cereal, o que difi culta o cálculo do

crédito de nitrogênio na adubação nitro-

genada do milho. Existem variações na

própria efi ciência do processo simbióti-

co e na proporção de grãos na massa

total da parte aérea da soja, bem como

nas condições para a mineralização da

matéria orgânica e liberação do N no

solo. Estima-se que fi cam para o milho

em sucessão cerca de 20 kg de N para

cada tonelada de soja, ou seja, 60 kg/

ha de N quando se produz 3,0 t/ha de

soja, o que não é sufi ciente para suprir

a exportação deste nutriente na maioria

das lavouras de milho safrinha.

QUANDO E QUANTO APLICAR NITROGÊNIO

Em condições tropicais não é

possível prever a resposta das

culturas ao nitrogênio a partir

da análise de solo. A recomendação

de adubação é feita considerando-se

o histórico de culturas na área, que no

caso do milho safrinha é quase sempre

a soja, a demanda de nutrientes pelas

plantas, estimada a partir da produtivi-

dade, e os resultados de experimentos

de resposta da cultura aos fertilizantes.

Os primeiros experimentos em rede

sobre adubação do milho safrinha fo-

ram conduzidos pelo Instituto Agronômi-

co (IAC), na região paulista do Médio Pa-

ranapanema, no período 1993 a 1995.

Verifi cou-se que o parcelamento do N

com 10 kg/ha de N na semeadura e o

restante em cobertura, antiga adubação

padrão, poderia ser aumentada para 30

kg/ha na semeadura. O emprego de 30

kg/ha na semeadura, juntamente com

o fósforo e o potássio no sulco de se-

meadura (exemplos: fórmulas NPK 13-

13-13, 16-16-16 e 16-18-14+S) evita

as incertezas de haver ou não umidade

no solo no momento em que deveria ser

feita a cobertura, o que poderia levar a

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defi ciência nas plantas pelo fato de não

fazê-la ou pela sua baixa efi ciência.

Com o aumento da produtividade e

ampliação da área de cultivo do milho

safrinha, implantou-se nova rede de ex-

perimentos em diferentes regiões pro-

dutoras, para atualizar as informações

sobre o manejo da adubação. Verifi cou-

-se, ao aplicar aproximadamente 27 kg/

ha de no sulco de semeadura, em su-

cessão a soja e solos argilosos, que a

frequência de resposta ao N em cober-

tura é muito baixa até produtividades

de 6 t/ha (Figura 4). No entanto, para

suplantar este patamar produtivo é fun-

damental complementar a adubação

de semeadura com N em cobertura em

doses compatíveis com o regime hídrico

regional e a produtividade esperada.

A uréia é preferida para aplicação

em cobertura devido a maior disponi-

bilidade, menor preço e facilidade de

aplicação, mas o nitrato de amônio tam-

bém tem sido utilizado por não apre-

sentar perdas de N quando aplicado na

superfície sem enterrar. A uréia pode ter

grandes perdas de N por volatilização

quando aplicada a lanço, requerendo o

aumento da dose ou o uso de mistura

com inibidores químicos para minimizar

as perdas.

ADUBAÇÃO DE SISTEMA – O CASO DO POTÁSSIO

No planejamento da adubação

não se deve considerar apenas

o milho, mas a sucessão de

culturas de milho e soja (adubação de

sistema). Na região do Médio Parana-

panema, a reposição do potássio pelas

adubações do milho e da soja está mui-

to próxima da exportação deste nutrien-

te. Reposições abaixo das quantidades

de nutrientes removidas podem com-

prometer a fertilidade a médio prazo e

reduzir o potencial de produtividade da

área.

Deve-se evitar o parcelamento da

adubação com potássio para a cultura

do milho safrinha. Geralmente, as quan-

tidades recomendadas nesta época

são menores do que a do milho verão,

reduzindo os riscos de injúrias do siste-

ma radicular devido ao efeito salino do

potássio e nitrogênio aplicados no sulco

de semeadura (a soma de N e K2O não

deve ultrapassar 70-80 kg ha-1). Como

o potássio é o nutriente acumulado em

maior quantidade nos estádios iniciais

de desenvolvimento das plantas de mi-

lho (Figura 1), a sua aplicação a lanço

de maneira isolada ou em fórmulas NPK

como 20-00-20 deve ser feita o mais

cedo possível. Como frequentemente

não há umidade adequada no solo para

que, imediatamente, parte do potássio

aplicado na superfície movimente e seja

absorvido pelas raízes, o efeito desta

adubação sobre a produtividade da cul-

tura pode ser pouco expressivo ou nulo.

Uma das opções é priorizar a aplicação

do potássio na cultura da soja e reduzir

as doses no milho safrinha.

Aildson Pereira DuartePrograma Milho e Sorgo IAC/APTA,

Instituto Agronômico, Campinas (SP),

[email protected]

Extração e Exportação de Nutrientes

Fonte:Duarte et al., 2003 e compilação Cantarella e Duarte, 2004� � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �� � � � � � � � �� � � � � � � �� � � � � � � � � � �� � � � � � � � � � � ! " # $ % & ' ! ( # ) � % " & # ) % # * ) ! * � + , # " - ! ( !# � # " . / ) � & $ 0 1 ! " # * � & � # ) % ! � $ * � � & ) ! 2 � ! � , $ " $ ( ! $ ! � & � !� ! � , # % ! 3 # � # " . / ) � & $ 0 � $ % � " & ( $ ( # 1 & * & ! 4 . & � $ ( ! * . " 5 ! * 6

Fonte: Duarte et al, 2003 (IAC/Apta)

Acúmulo Relativo de Nutrientes no Milho

Resposta ao N em Cobertura7 8 9 : ; < = > ? 9 > 8 @ A 8 B C 8 D E F 8 G < ? 9 H I A A J = I A K I LM N O P Q R S T U V W S X U Y U S T Z [ S \ T ] X U X U Y ^ ] _ U [ ` Z [ S

a b c d e f g c h d i d j d b k l m b c n o i p b q g k r s k t d u v

w e h t b h d u p b o m e d b m c b e p b c n o i p b q x y z l o i { | b s z l } e ~ vw e h t b h d u h e o m e d b m c b e p b c n o i p b� e o m e h t b h d u u b ~ e o p b � e m d j m u