Artigo: A violência praticada por adolescentes na escola
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A VIOLÊNCIA PRATICADA POR ADOLESCENTES NA ESCOLA
Luiz Carlos Gonçalves Abreu1
.
Orientador (a): Prof. Mestre Paulo Máximo2.
Resumo: O presente artigo tem o objetivo de estimular uma reflexão sobre a
violência praticada por adolescentes dentro da escola. Descrevendo esse
contexto, discutindo causas e as influências dessa prática no ambiente escolar
e nos relacionamentos. Serão descritos os aspectos desses acontecimentos,
as estratégias utilizadas por pedagogos, professores e orientadores
educacionais, para enfrentar esses conflitos, para resgatar valores e promover
a paz. Como referência bibliográfica serão utilizadas as leituras de Baraldi,
Gomes, estatísticas da violência na escola através de tese de doutorado,
artigos, documentos oficiais utilizados pelo MEC e Secretaria da Educação
para orientar educadores quanto a este assunto.
Palavra chave : Violência. Adolescente. Escola. Orientação Educacional.
Pinhais, 2014.
1
Graduado em Ciências Políticas e Licenciatura em Filosofia, pós-graduando em Administração e Orientação Educacional pela Faculdade de Pinhais – FAPI. E-mail: [email protected] 2
Orientador: Prof. Paulo Máximo. E-mail: gê[email protected]
2
INTRODUÇÃO
A violência é um problema social presente em quase todos os lugares: nas
cidades, dentro da casa, no trânsito e quando todos já cansaram de ouvir falar da
violência doméstica, são os latrocínios que assustam os cidadãos, os
contrabandos, os crimes sem motivos entre adolescentes, nas baladas e dentro
das escolas já tem aparecido de forma rotineira.
Não se sabe ao certo se a sociedade e os jovens estão perdendo a noção
de justiça ou se a sociedade não tem dado condições iguais para todos, ou se
simplesmente não há modelos ou exemplos sociais e familiares a serem
seguidos, capazes de coibir atitudes, ações, movimentos ou mesmo incitações à
violência.
A escola é principal lugar onde pode ser possível a manifestação das
diversas formas de promoção da paz. Ali é o local, nas palavras de Paulo Freire
“de se fazer amigos”, é um lugar de formação ética e moral. Porém o que tem se
visto são professores, alunos, direção e coordenação pedagógica cercados por
ações de violência, muitas vezes provocadas pela falta de estrutura familiar,
consumo de drogas, autoritarismo, desorganização e também a falta de valores.
No dia a dia das escolas deveriam ser levantadas questões como o
respeito ao próximo, a amizade, a harmonia, a integração das pessoas em busca
de um objetivo comum, como o de promover o desenvolvimento do sujeito em
condições iguais para todos. Mas atualmente se perde muito tempo tentando
combater a violência: pequenas brigas por motivo nenhum, ou por grandes
motivos; posses materiais de alguns alunos, não de outros; baixa autoestima uso
de drogas, entre tantos outros tantos motivos que deverão ser citados ao longo
desse trabalho.
A escola é o primeiro ambiente social que a criança experimenta, antes disso, ou seja, na socialização primária se restringe a família, igrejas, vizinhos, enfim, um circuito bastante restrito. É na escola, aonde ele vai, realmente, experimentar um ambiente social – lá ele vai aprender a conviver com as diferenças e constituir um ser para si. Esse ser é para a sociedade. (TONCHI, p.6, 2012)
É comum para o professor assistir cenas de desrespeito e acessos de
raiva cometidos por adolescentes e contra eles mesmos, e também contra
trabalhadores da educação. Deboches que se transformam em ações de
indisciplina e que normalmente culminam em atitudes violentas, que até pouco
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tempo, estavam ligados ao período em que estudam esses jovens, no noturno.
Mas atualmente, a violência não é mais exclusividade do período noturno, ela
está presente em todos os períodos de aula.
Não se sabe exatamente aonde a violência, ou a razão dela pode
estar, mas estudiosos além de apontarem a desestrutura familiar, a situação
socioeconômica e o baixa autoestima, dizem também que problemas
psicológicos, depressão e até o abuso de poder promovido por professores, e o
fato de não se ter uma religião podem ser causas da violência.
O tema que se propõe é extremamente complexo e poderia trazer à
discussão, por exemplo: a formação da família, a política, também a banalidade
nos relacionamentos e a sociedade em geral, pois todos tem ligação com a
violência, seus conceitos, suas causas, ou mesmo dentro do contexto,
contribuindo nas discussões que buscam soluções para esses problemas
enfrentados por todos que trabalham na área de educação.
1. CONCEITO DE VIOLÊNCIA
Violência é uma palavra que tem origem no latim “violentia”, significando:
caráter violento, ou bravio ou força, dessa palavra vem o verbo “violare”, que quer
dizer: tratar com violência, transgredir ou profanar. Esses termos podem se referir
a vis, que quer dizer, vigor e potência e mais ainda, porque significa à força
emação, ou seja, o recurso de um corpo para exercer a sua força, poder, valor,
força vital (ABREU Apud GREGORIO, 2000 p.8).
O poder patriarcal coordena o ambiente doméstico a partir do estabelecimento de uma fronteira que equivale aos limites da propriedade privada. Desde há alguns séculos, essa forma de poder tem servido como base para as relações familiares e como modelo político para a organização do Estado. (GREGÓRIO, 2001 p.3)
Segundo ABREU Apud BARALDI, 2009 p.380 a violência é termo amplo e
complexo, porque guarda vários sentidos, segundo a autora se for pedido para
as pessoas que deem exemplos de violência, logo serão citadas guerras,
prostituição infantil, desemprego, fome, corrupção, racismo, tráfico ilícito de
drogas, mau atendimento na saúde, destruição do meio ambiente, abandono de
crianças e adolescentes.
Muitos dos exemplos de violência partem do sentido que cada um tem, do
significado que projeta para cada um a palavra, mas também do contexto em que
cada um vive. Podem surgir diversos exemplos de violência se seguir-se esse
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trajeto, alguns com mais intensidade outros diversos, de acordo com a realidade
de cada um.
O autor Baraldi entende por violência, “o constrangimento físico, ou moral, o
uso da força contra alguém”. Já para Émile Durkheim (2001, p.91) o crime é um
fato social, e que o mesmo só pode ser qualificado como crime em relação a uma
cultura social específica. A autora afirma que a noção de violência urbana tem
relação direta com a cultura onde ela se realiza.
Conforme o dicionário Aurélio, a violência pode ser entendida como
“constrangimento físico ou moral; uso da força, coação”. No âmbito jurídico, o
dicionário Houaiss define o termo como “constrangimento físico ou moral exercido
sobre alguém, para obrigá-lo a submeter-se à vontade de outrem; coação”.
Acredita-se juntamente com esses autores então, que a violência tem o seu
sentido ligado ao contexto, ou a realidade de cada um, sendo então que para o
contexto escolar ela ganha características próprias. De acordo com a
Organização Mundial de Saúde (OMS), violência é a imposição de um grau
significativo de dor ou sofrimento, evitáveis.
Mas a violência consiste em ações humanas de indivíduos, grupos, classes,
de outros seres humanos que afetam a integridade física, moral ou intelectual, ou
ato de brutalidades que pode ser um abuso físico, ou psíquico contra alguém que
caracterizam relações intersubjetivas e sociais definidas pela opressão e
intimidação, ou pelo medo e terror. (MINAYO 1994, p.130.)
A escola é um lugar privilegiado para refletir sobre as questões que envolvem crianças e jovens, pais e filhos, educadores e educandos, bem como as relações que se dão na sociedade. É também nesse universo onde a socialização, a promoção da cidadania, a formação de atitudes, opiniões e o desenvolvimento pessoal podem ser incrementados ou prejudicados. (MARRIELI, ASSIS, AVANCI, OLIVIEIRA, p.6. 2006).
A violência é um problema que se perpetua de indivíduo para indivíduo, ou
por grupo ou por instituição. No caso da instituição, pode se perpetuar nas
relações causando prejuízos, danos físicos, psicológicos, de patrimônio e de
projeção futura para os jovens.
No ambiente escolar o fenômeno tem sido estudado como um problema
para todos das organizações educacionais. Os professores enfrentam esses
casos e não raramente são vítimas, bem como alunos que se evadem do
ambiente, engrossando as estatísticas também por esse motivo.
5Na última década a violência nas escolas tem preocupado o poder público e toda a sociedade, principalmente, pela forma como esta tem se configurado. O conflito e violência sempre existiram e sempre existirão, principalmente, na escola, que é um ambiente social em que os jovens estão experimentando, isto é, estão aprendendo a conviver com as diferenças, a viver em sociedade (TONCHI, 2012 p.1).
A violência não trata apenas dos atos de desrespeito entre alunos e
professores, mas também não constam apenas de assassinatos, tráfico de
drogas, é preciso considerar também a falta de respeito entre alunos, pequenos
furtos em sala de aula, ou atitudes de bullying, assim como assaltos, as brigas de
torcida, os sequestros e tudo que amedronta o dia a dia nas instituições
escolares.
Assim a violência pode ser entendida de várias formas, mas evidentemente
as relações sociais que definem o que é violência e a gravidade de cada ação
violenta. O Brasil, por exemplo, tem o crescimento das taxas de mortes violentas
de crianças e jovens em um ranking de 92 países do mundo, somente em El
Salvador, e Guatemala tem os índices de homicídio maiores que este. (ABREU
Apud BORDINI, 2012p.11)
A violência tem se tornado maior entre os jovens e tem angustiado
professores e preocupado pais, pois não são raras as situações de violência
noticiada pelos jornais que acontecem nas escolas. Jovens depredam o
patrimônio com pichações, quebram ventiladores, brigam entre si, agridem-se no
intervalo física e verbalmente, tudo que é possível destruir, destroem, porém
segundo Tonchi (2012) “Desde que o mundo é mundo, há violência entre os
jovens”.
Todas as pessoas consideradas diferentes, ou deficientes ou negros, ou
qualquer outra pessoa, que não se enquadre, no que se diz normal, para o
contexto, são vítimas em potencial na escola. Entre todos esses exemplos de
violência, o que tem mudado é o grau de crueldade, não se ouvia falar, há um
tempo atrás, que um colega tinha assassinado outro na sala de aula, ou tinha
ateado fogo, ou mesmo gravado uma briga de outros colegas e tornando público
na internet, ganhando dinheiro com isso.
Hoje quando se fala em violência, o termo acaba se confundindo com ato de
indisciplina, ou infração e não se sabe muito bem que atitude tomar, para saná-la,
ou para separá-la dessa confusão. Quando um aluno é malcriado, ou joga uma
bolinha de papel no professor, ou mesmo quando agride um colega, passa o pé
em alguém no corredor, as ações se confundem. È um ato de violência, de
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crueldade, ou apenas indisciplina, ou se faz parte do comportamento do aluno
essas atitudes deve-se respeitá-la? Quem impõe respeito de forma violenta é
quem na sociedade?
Quando se ultrapassa o limite entre a violência e o comportamento normal,
deve-se então buscar a punição imediata? E quando não se sabe distinguir entre
comportamento cruel e violento, comportamental e simplesmente indisciplina?
Neste sentido, cabe à instituição escolar refletir e discutir temas que afligem a humanidade em seu cotidiano, dentre os quais se destacam a violência, suas formas de prevenção e as possíveis repercussões no desenvolvimento da criança e do adolescente. (MARRIELI, ASSIS, AVANCI, OLIVIEIRA. p.6. 2006).
2. ADOLESCENTES E A VIOLÊNCIA NA ESCOLA
O adolescente é considerado o pivô da violência na escola, podendo ser
também vítima, e não é possível mais separar essa situação, pois isso acontece
na maioria das vezes, estudos já revelam que quando praticam violência é
porque já a vivenciaram na prática, ou que não é possível praticar a violência se
já não a vivenciou, ou mesmo se já está em um ambiente propício a isso.
A prática de violência contra crianças e adolescentes (maus tratos, abandono e negligência, abuso e exploração sexual comercial, trabalho infantil, dentre outras)... 40% das agressões são físicas e 20% são sexuais, mas esses percentuais ainda não refletem a realidade, pois muitas outras sofrem a violência e permanecem caladas ( WAISELFISZ, 2012 p.1 e 2)
Claro que não se pode justificar a violência partindo da negligência da
família, da sociedade como causa principal dela, mas a partir do momento que o
adolescente é também violento, ou faz parte das ações de violência, é possível
acreditar que parte dessas ações podem ser motivadas por negligência familiar,
social e política.
A Constituição Federal assegura que proteger os jovens é dever da família,
da sociedade e do Estado, assegurando à criança, ao adolescente e ao jovem,
com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao
lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária, colocando-os a salvo de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (CF, art.
277).
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A violência tem aumentado nas escolas e mesmo o Estatuto da Criança e
Adolescentes, que é uma questão a se destacar, não é possível coibir a violência,
pois ainda não é possível fiscalizar, mediar, ou mesmo punir, quem a pratica.
Partindo de um exemplo: Um aluno que se sente aferido em seu direito, ou
mesmo ameaçado na escola deve primeiramente procurar a Orientação
educacional, mas depois? Quem deve procurar, quando as ações não terminam
na escola? Se estendendo para a rua, para a sala de aula, onde não há
mediação de conflitos. Ou mesmo procurando a delegacia onde se procura a
punição. Assim as ações de violência na escola passam e tudo continua como
antes, porém para os alunos que continuam convivendo na escola o problema
aumenta e se agrava.
Esse círculo de violência deve ter um olhar mais universal, principalmente, por aqueles que pensam sobre a educação. É necessário ver que a violência contra a instituição escolar, contra colegas e professores e, de certo modo, a violência dos adultos contra as crianças, também, contém elementos de caracterização bem comuns. A não aceitação das diferenças em toda a sua amplitude – se é diferente, é hostilizado, desprezado, humilhado. E quando a vítima reage é violentada. ( TONCHI, 2012 p.1)
TONCHI em seu artigo “Violência na escola e suas consequências” diz que,
é possível classificar inúmeras questões que levam a violência no ambiente
escolar: situações psicológicas, diferenças sociais, culturais, experiências de
frustrações, diferenças de personalidade e competição.
É na escola que competem todas as diferenças e nela perpassa a Inclusão,
que também pode ser considerada uma das causas da violência. Segundo o
autor, ainda a não aceitação das diferenças, também, perpassa pela escola como
instituição, com seus próprios professores, funcionários e com os próprios alunos.
Essa uniformização, isto é, uniformizar o diferente, é feita com violência, em
todos os casos. “Esse comportamento institucional, gera violência”.
O aluno que é diferente, que pergunta demais é admoestado pelo professor e, aquele que pergunta na hora que a aula está acabando é vaiado pelos colegas. Essas são pequenas violências que alimentam as grandes violências. Não se reconhecer nesse processo é o nosso grande problema. Atualmente, vivemos um problema ético de não reconhecimento da nossa incompetência, o problema sempre são os outros, eu não. (TONCHI, p.6, 2012)
A intolerância entre os sujeitos da escola é uma questão para se refletir,
pois professores, alunos, profissionais da educação se encontram todos os dias e
o tempo todo estão em contato com atitudes de agressão, falta de educação, ou
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apenas ações que requer diálogo e atualmente não se pode parar para dialogar,
todos correm contra o tempo.
Atitudes simples poderiam coibir a violência, cada um cedendo um pouco,
ou o professor reconhecendo que cada indivíduo é diferente e necessita de
determinada atenção, ou mesmo cada sujeito da educação se reconhecer no
processo de transformação do ambiente, reconhecer o seu papel na fomentação
da violência e na capacidade de ser agente de transformação.
Por isso, a urgência que se tornou essencial hoje – e que muitos não percebem, é tratar a violência na escola como um trabalho de lucidez enquanto ao que estamos fazendo com nosso presente, mas, sobretudo, como o que nele se planta e define o rumo futuro. Para isso, é preciso renovar nossa capacidade de diálogo e propor um novo projeto de sociedade no qual o bem de todos esteja realmente em vista. (TONCHI, p.7, 2012)
3. ASPECTOS QUE FAVORECEM A VIOLÊNCIA NO AMBIENTE E SCOLAR
Desde que se fala em violência na escola entre os professores, pelo menos,
começa uma enorme confusão entre atos de violência e todos os atos de
indisciplina, infração e falta de interesse pelas aulas. Alguns dizem que a
demonstração de insatisfação, ou mesmo o enfadonho entre alguns alunos, que
se refletem nas atitudes irônicas, ou nas agressões verbais, são a própria
violência.
É possível dizer sim que algumas atitudes podem ser consideradas como
violência e até assustar alguns professores, mas dentro do ambiente escolar há
muitas situações que podem favorecer essas atitudes e até mesmo propagar a
violência, apesar de a escola precisar ser um ambiente de propagação de valores
de respeito, é na escola que se interage, se convive e se enfrenta uma série de
conflitos, pois segundo os autores MARRIELI, ASSIS, AVANCI, OLIVIEIRA nos
Cadernos de pesquisa, esclarecem que é a escola o espaço em que os alunos se
desenvolvem de maneira plena, se deparando com experiências de
vulnerabilidade social.
Mas todos dentro do espaço escolar tendem a ser socializados, lapidados
pelas ações da escola, participando como agentes passivos ou ativos na
construção de si próprios.
É reconhecido e noticiado pela mídia que a escola, de modo concomitante e paradoxal, além de se instituir como instância de aprendizagem de conhecimento e de valores, bem como de exercício da
9ética e da razão, tem-se configurado como um espaço de proliferação de violências, incluindo, brigas, invasões, depredações e até mortes. (MARRIELI, ASSIS, AVANCI, OLIVIEIRA. p.6. 2006).
Não é de hoje que se procura explicações para a violência ou para outros
crimes, ou mesmo do porquê não ter repreensão para todo ato de violência, pois
há uma grande diversidade de práticas criminosas em toda a sociedade, não só
dentro da escola e se houvesse uma forma efetiva de punição, quem sabem os
atos de violência diminuíssem.
Diferentes políticas públicas buscam combater roubos praticados por
adolescentes, por crianças abandonadas pelas ruas, envolvidos com drogas, ou
por alunos de comunidades carentes dentro do ambiente escolar, porém nem
sempre se pode dizer que essas são características de todos que praticam
violência. Que são sempre pobres, ou são alunos sem interesse em aprender, ou
os que praticam estão sempre em situação de miséria, nem mesmo pode-se dizer
que é devido a estes problemas que estão envolvidos com o crime.
CAMACHO 2001, apud Paixão, 2008 p.16 suscita uma reflexão dizendo,
que essas situações podem ocorrer “entre jovens de classe média e de
segmentos privilegiados da sociedade, nos seus diferentes espaços de atuação
na família, na escola ou na rua”. Esse autor também aponta duas formas básicas
de violência na escola: a física que são as brigas, agressões físicas e as
depredações e aquelas não físicas que se caracterizam pelas ofensas verbais,
discriminações, segregações, humilhações e desvalorização com palavras e
atitudes de desmerecimento.
Porém essas atitudes não partem somente de alunos, mas o ambiente
escolar é composto por pessoas que estão sujeitas a ser agentes de más atitudes
o tempo todo, essas experiências ocorrem nos diversos níveis de relações,
podendo ter como agentes alunos ou professores, ou mesmo funcionários como
protagonistas. O stress está entre os fatores apontados como causa da violência,
principalmente entre o corpo docente, gerando agressões verbais, segregação e
humilhações. Assim, no espaço onde não é possível o diálogo está sujeito à
violência.
Na concepção da autora Ana Ferreira (2008) a violência, tem ainda outra
direção em que o comportamento de agressão ou de transgressão de um
conjunto de regras, valores, normas, princípios, ‘formas de pensar, sentir e agir’
sentir e agir’, traços culturais, entre, que são impingidos desde a socialização
primária e encontram-se contextualizados em determinada situação social.
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A escola e suas vivências ainda propiciam a questão da violência gerada
pelo racismo. É comum ver jovens negros serem vítimas da violência e do
bullying, assim como professores e funcionários também. Alguns como vítimas,
outros como agressores. São professores que não se conformam com questões
intelectuais, apenas com aparência, ou alunos que não aceitam ser orientados
por professores negros.
Segundo WAISELFISZ (2014) em entrevista à Revista Carta Escola os
jovens negros são as principais vítimas da violência, não apenas na escola, mas
em toda a sociedade. Sendo assim, dificilmente poder-se-ia escapar da situação
da violência, uma vez que se afastando do ambiente escolar, não se fugiria do
cotidiano da sociedade.
Se na virada do século XXI a taxa de mortes entre os jovens brancos caiu drasticamente, algo entre 20% e 30%, o índice de homicídios de jovens negro aumentou na mesma proporção. Em 2002, morriam, aproximadamente, 60% mais jovens negros que brancos, hoje morrem 200% mais. Isso revela um crescimento do extermínio da população negra brasileira (REVISTA CARTA ESCOLA, p.16, 2014)
Também a violência está ligada as relações de poder. O professor acaba
tendo essa relação com seus alunos, esses acabam fazendo uso de seu porte
físico ou de suas condições financeiras melhores, ou até mesmo de sua
intelectualidade para oprimirem seus pares, ou aqueles que estão em
desvantagem física ou intelectual.
Os autores (MARRIELI, ASSIS, AVANCI, OLIVIEIRA, 2006) dizem que a
violência manifesta uma afirmação de poder sobre o outro e a conquista desse
poder é o que gera as diversas formas de violência e que essas ocorrências são
consequências das práticas cotidianas de discriminação, preconceito, da crise de
autoridade do mundo adulto ou da fraca capacidade demonstrada pelos
profissionais de criar mecanismos justos e democráticos de gestão da vida
escolar.
Esses autores também sinalizam para a ausência de estudos que
investigam as questões individuais que podem estar associadas à violência
escolar.
Quando um professor é agredido verbalmente, ou quando presencia um ato
de violência em sala de aula, então o que fala mais alto são os instintos e muitas
vezes esses instintos impedem as ações de diálogo, de interação e de busca por
estratégias de reversão e não apenas de punição.
1As relações estabelecidas na escola, incluindo a vivência de violência, tem papel relevante, porém pouco conhecido na visão de si do aluno (...) De modo geral, as escolas lidam com esses conflitos valendo-se de um elenco de procedimentos formais e informais, modelados diferentemente, de acordo com as características de cada direção ou projeto político pedagógico. (MARRIELI, ASSIS, AVANCI, OLIVIEIRA. p.101 2006).
Infelizmente dentro do ambiente escolar ainda não se tem o costume de
diagnosticar o porquê da violência, pois sempre está se atendendo a situações
emergenciais e a perspectiva de um trabalho de prevenção o que poderia
favorecer a paz. Mas as medidas adotadas pela escola geralmente são de
repressão o que não traz solução a longo prazo, mas “apaga os incêndios”.
Seria impossível discutir planejamentos para o enfrentamento da violência
neste trabalho, mas é preciso refletir na situação da violência, sobretudo no que
diz respeito aos aspectos que podem ser causas dessa violência, como as
condições socioeconômicas e culturais, as relações interpessoais, também de
afetividade, ou a falta dela, autoestima e até de questões de valores. Assim os
autores Marrieli, Assis, Avanci, Oliveira também destacam como estratégia nesse
enfrentamento a:
necessidade de reconhecer a escola como lugar privilegiado de transformação para uma sociedade menos violenta, pelo seu potencial que vai além da transmissão de conhecimentos. Investir na inserção de valores e conhecimentos paralelamente à das disciplinas exigidas para a formação acadêmica dos alunos é um caminho bastante frutífero (MARRIELI, ASSIS, AVANCI, OLIVIEIRA. p. 100 2006).
4. CONCLUSÃO A questão da violência ainda é assunto pouco discutido dentro das escolas,
principalmente quando se retrata atitudes do professor, colocando-o em foco, ou
como centro das discussões, ainda há muito favoritismo nessa questão, o
professor é visto de certa forma, sempre como o correto, mesmo quando se sabe
que é plausível de erros.
Tanto professor quanto aluno são alvos a serem destacados nessa relação
de causa de violência, observando e dando destaque ao stress natural da
profissão e também a condição de baixa autoestima do aluno, também ao fato de
o professor ser visto como o forte e o aluno como fraco, em certas situações,
precisa ser destacada.
1
Quando em sala de aula, durante a prática pedagógica, essa situação é
real, pois a escola ainda mantém esse aspecto tradicionalista. Não se tem por
hábito investir no diálogo e sim perpetuar, em muitas ações, aspectos de
obediência cega e repressão, em que não há voz para o adolescente, apenas
propagação de uma hierarquia militar, que não faz mais sentido para o jovem,
que assiste a modelos de libertação o tempo todo na mídia, em suas casas, nas
manifestações culturais e políticas que produzem cada vez mais exemplos de
intolerância.
Também não há mais lugar para as confusões entre violência e indisciplina,
em que muitos ainda não sabem os significados, e essas definições implicam na
forma de resolver situações conflitosas. Não apenas uma, quanto as duas podem
ser causas da violência.
A indisciplina pode ser apenas comportamento de desordem por falta de
limites ou regras, mas também pode ser um princípio de violência provocada por
rebeldia, falta de conhecimento, oposição, exclusão social, entre tantos outros,
mas pode também ser um momento de construção do conhecimento, ocasião
para o diálogo e, sobretudo, descoberta de estratégias para romper a barreira
através do diálogo e buscar respostas e soluções para a violência.
Há de se ter em mente que a causa pela paz está garantida na discussão
sobre a violência, principalmente na escola. É a escola o ambiente onde se
encontra toda a motivação para a discussão, para o diálogo, para os testes que
podem levar ao sucesso. Afinal é na escola que se aprende, que se erra, que se
encontram pessoas e que se pode encontrar possibilidades. O local da
propagação da ética, dos valores, segundo Paulo Freire da amizade, precisa ser
o local de propagação da paz.
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REFERÊNCIAS
BARALDI, Tereza Cristina Albieri. Políticas Públicas e Direitos Humanos. Gestão em Segurança Pública. Mod.II, Aula 6. Fundação João Mangabeira. Brasília: 2008 BORDINI, Eliana B. T. LIMA, Renato Sérgio de. O adolescente e as Mudanças na Criminalidade Urbana. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo. php?pid=S0102-Acesso em Jun.2014 BRASIL. Ministério da Justiça. Constituição da República Federativa do Brasil . Alterações das emendas constitucionais nº 1/1992 a 52/2006 DURKHEIM, Émile. As Regras do Método Sociológico. São Paulo: Marin Claret, 2001. FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade . Rio de Janeiro: Paz e Terra A. Disponível em http://www.uel.br/revistas/ssrevista/c-v10n2_francieli.htm. Acesso em Jul.2014 MARRIELI, Lucimar Câmara; ASSIS, Simone G; AVANCI, Joviana Q, OLIVEIRA; Raquel C. Violência escolar e autoestima de adolescentes. Cadernos de Pesquisa. Vol.36 nº 127. São Paulo. Jan.2006 MINAYO, Maria Cecília de Souza. Pesquisa Social. Petropolis: Vozes, 1994 PAIXÃO, Divaneide Lira Lima. Direitos Humanos e Adolescência no Contexto de uma Sociedade. Violência Urbana, 2014. Disponível em http://pt.slideshare.net/falecomabreu/violencia-urbana Um estudo de representações sociais. Tese de Doutorado. Brasília, 2008 REVISTA CARTA NA ESCOLA. Atualidade em sala de aula. Ed. Confiança: São Paulo. 2014 TONCHI, Luiz Claudio. Violência na escola e suas consequências. Fev.2012 Disponível em http://jornalggn.com.br/blog/luiz-claudiotonchi/violência-na-escola-e-suas-consequencias. Acesso em Jul. de 2014 WAISELFISZ, Julio Jacobo. Mapa da Violência, 2012. Crianças e Adolescentes do Brasil. 1ªed. Rio de Janeiro 2012