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A TOMADA DE DECISÃO MAKE-OR-BUY NA
REALIDADE DOS MERCADOS COMPETITIVOS: UMA
ANÁLISE DO SETOR INDUSTRIAL DE LÂMPADAS NO
BRASIL
Laura M. Viyuela
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Rua Itambé, 45 - Prédio 6 – Higienópolis
01239-902 - São Paulo – Brasil
Resumo
Este trabalho tem como objetivo mostrar quais fatores influenciam as empresas na
tomada de decisão make-or-buy. De modo a exemplificar o mercado brasileiro, foi
realizada uma pesquisa analítica, estudando-se o setor industrial de lâmpadas elétricas e
um estudo de caso que demonstrou os efeitos da concorrência no make-or-buy. Existe
uma forte rivalidade entre as empresas rivais, brasileiras e estrangeiras, e também entre
filiais de um grupo empresarial. A busca por menores custos pode levar a matriz a
realizar mudanças estratégicas sobre as filiais, conforme demonstrado no mercado
estudado.
Abstract
This paper aims to analyze what factors are influencing companies in the make-
or-buy decision. In order to exemplify this process, an analytical research methodology
was used in order to analyze the industrial light bulbs sector and a case demonstrating
the effects of competition on the make-or-buy decision. There is an evident strong
competition between foreign and Brazilian competitors, but also occurs within
subsidiaries wholly controlled by a headquarter company. The intention to reduce costs
can lead the headquarter to make changes in the strategic decision on the subsidiaries, as
seen in the market studied.
1 INTRODUÇÃO
No período de 1990 a 1992, com a abertura do mercado brasileiro, o Brasil passou
a ser visto como um país interessante para investimentos estrangeiros, o que
impulsionou as multinacionais a se estabelecerem no país [1].
A globalização produtiva exigiu uma reestruturação da produção, que tornou o
sistema produtivo de dimensão global [2]. A presença chinesa na produção inaugurou
uma nova fase na globalização industrial, que se destacou pelo desenvolvimento
acelerado dos últimos anos. As empresas perceberam que, com o aumento da
concorrência no mercado, deveriam se reestruturar para manterem-se ativas e
competitivas no mercado.
Neste intuito, o presente trabalho visa demonstrar quais alterações já ocorreram
nas tomadas de decisões e quais fatores estão influenciando na decisão make-or-buy.
2 REVISÃO DA LITERATURA
Esta seção explica, através da revisão da literatura, o porquê da intensificação da
concorrência no mercado brasileiro, além de apresentar conceitos sobre o que são
mercados competitivos e como ocorre um processo decisório. Define também a decisão
estratégica e se aprofunda na decisão de make-or-buy, explicando o relacionamento
matriz-filial e o que são as estratégias de verticalização e terceirização.
A década de 90 foi marcada pela abertura do mercado brasileiro, tendo como fatos
principais a liberalização comercial, a desestatização e a desnacionalização das
empresas. Esses fatos levaram a transformações na estrutura e no desempenho da
indústria brasileira que se sucediam devido à internacionalização das economias [3].
Um ponto que foi observado após a abertura do mercado foi o aumento da
utilização de matérias-primas e componentes terceirizados, tanto nacionais como
importados [3]. Esse fato mostra que a tomada de decisão estratégica, de modo a manter
ou expandir o market-share da empresa foi utilizado, sendo a terceirização um exemplo
de uma tomada de decisão do tipo make-or-buy.
Um mercado é caracterizado por compradores e vendedores que têm potencial de
negociação [4]. Os mercados podem ser tanto globais, com vendedores e compradores
espalhados no mundo, ou locais.
O processo decisório é a sequência de etapas que vai desde a identificação da
situação até a escolha e colocação em prática da ação ou solução [5], [6]. E as decisões
estratégicas são decisões de longo prazo, que dão direcionamento a empresa ao
determinar seus objetivos e propósitos, focando a eficácia da organização. São tomadas
à nível de alta administração e são caracterizadas por serem qualitativas e levarem em
conta a missão da empresa.
A instalação de uma subsidiária tem um papel importante na estratégia de uma
empresa, principalmente as com plantas de produção em mais do que um país. As
subsidiárias podem ajudar a realocar recursos e atividades, de modo a atender um
específico mercado e/ou reduzir os custos da empresa. Podem ser aplicadas como uma
estratégia de crescimento, para expandir mercados, ou de redução, quando se decide
acabar com um processo produtivo que não lhe traz mais vantagens.
A escolha de como será organizada a empresa acontece através de decisões
estratégicas empresariais. Partem-se dos principios que os recursos produtivos são
finitos e muitas vezes a tecnologia utilizada nos processos é de alto valor, o que pode
levar à altos custos e algumas vezes à uma produção ineficiente. Esses princípios levam
as indústrias a reflitirem se é melhor deter essa tecnologia dentro da empresa, ou
compartilhar esses custos com os fornecedores. A partir dessa reflexão surge o
questionamento sobre quais atividades ela própria deve executar e quais deve
terceirizar, onde inicia-se a decisão de make-or-buy.
A decisão make-or-buy é definida como decisões que envolvem a escolha de
realizar dentro da empresa processos e atividades particulares ou comprá-las de
fornecedores [7]. As principais medidas tomadas na decisão make-or-buy dentro de uma
empresa são a escolha entre realizar a integração vertical e a terceirização, tanto parcial
como total, de suas atividades. Devido à atual necessidade das empresas serem
competitivas e ágeis, as leva a buscarem meios de se firmarem no mercado, fato que
ocorre através da diferenciação de seus produtos e serviços. A identificação das core
competences faz com que seus esforços sejam usados em atividades que levem à
otimização de seus resultados [8].
As razões que levam os industriais a tomarem decisões de make-or-buy:
o preço, a falta de capacidade produtiva, falta de competências, necessidade de
aumentar a capacidade de resposta, melhorar a qualidade e reduzir o tempo até chegar
ao mercado. Também fatores como o custo de aquisição total, a complexidade das
tecnologias e as competências [9].
3 O SETOR INDUSTRIAL BRASILEIRO DE LÂMPADAS
O setor de lâmpadas no Brasil é bastante restrito, sendo dominado basicamente
por quatro empresas, GE, OSRAM, PHILIPS e SYLVANIA, que possuíam um market-
share de cerca de 90% em 2004 [10].
O mercado de lâmpadas é caracterizado como competitivo imperfeito e
oligopólico, que possui uma alta concentração de oferta por poucas empresas no
mercado que tem o poder de influenciar o preço do produto. Essas poucas empresas que
são estrategicamente interdependentes, ou seja, devem-se prever as futuras ações dos
concorrentes e agir de forma rápida, pois essas possíveis ações podem afetar
potencialmente o negócio da empresa [11].
Barreiras de entrada são percebidas no mercado, através, por exemplo, da
credibilidade percebida e a lealdade dos clientes à marca. A má fama referente à
qualidade dos produtos chineses dificulta a aceitação, apesar dos preços atrativos. As
empresas presentes no mercado possuem redes de suprimentos e distribuição que podem
ser difíceis de obter para os novos entrantes [11].
Um exemplo existente no mercado era a joint-venture entre as empresas OSRAM
e PHILIPS, que resultou na empresa CVL (Companhia de Vidro Ltda.). Essa associação
tinha o objetivo de fornecer bulbos para lâmpadas, já que não havia nenhuma empresa
instalada no Brasil que atendesse nessa necessidade de fornecimento.
Analisando a estratégia de vendas atual do setor de iluminação [12], verificam-se
fatores importantes levados em conta: a entrada de novos concorrentes e de novos
produtos no mercado interno. Outro fator importante é o aumento das tarifas de
matérias-primas, que impactam diretamente no custo final do produto.
Com a mudança de comportamento do consumidor e a invasão de lâmpadas
chinesas no mercado brasileiro, as estratégias das empresas estabelecidas no Brasil
começou a ser alterada. Alguns exemplos que podem ser examinados com os mercados
das empresas GE, PHILIPS e SYLVANIA.
A GE teve a única fábrica de lâmpadas em solo brasileiro fechada em julho de
2008, localizada no Rio de Janeiro, devido a um processo de reestruturação mundial. O
fechamento da fábrica foi justificado pelo fato de que o mercado das lâmpadas
incandescentes se encontra em decadência em todo o mundo, sendo que alguns países já
proibiram a fabricação e a comercialização [13].
Segundo o jornal Valor Econômico [14], a fábrica da empresa SYLVANIA,
localizada em Valinhos, interior de São Paulo, foi fechada em 2009, devido à mudança
da estratégia da empresa, que busca a comercialização de lâmpadas com maior valor
agregado e com maior eficiência energética, atendendo um mercado que está em
crescimento. As lâmpadas fluorescentes que eram produzidas na fábrica de Valinhos
passaram a ser importadas de outras filiais, principalmente da China.
No dia 30 de junho de 2010, a fábrica da PHILIPS presente em Mauá, na grande
São Paulo, fechou as portas definitivamente. A fábrica produzia lâmpadas
incandescentes, de alta pressão e fluorescentes. A justificativa dada pela PHILIPS é a
mesma dada pela GE, que as lâmpadas incandescentes estão ultrapassadas e não são
mais comercializadas em diversos lugares no mundo [15].
Segundo o jornal O Estado de São Paulo [16], a empresa trocou a fabricação
nacional pela importação dos produtos para revenda no país, sendo importados das
fábricas presentes na Ásia, Europa e América do Norte, conseguindo preços mais
competitivos para o mercado brasileiro. O fechamento dessa fábrica levou à extinção da
joint-venture da empresa CVL, citada anteriormente.
Segundo o mesmo jornal, o país está atualmente importando cerca de 80 milhões
de lâmpadas fluorescentes no geral, sendo que 70% delas têm origem chinesa.
4 ANÁLISE DE UMA EMPRESA DO SETOR DE LÂMPADAS
Para o desenvolvimento do estudo de caso foi analisada uma empresa do setor de
iluminação, mais especificamente uma filial brasileira de uma multinacional europeia. O
objetivo desse estudo é demonstrar através de uma empresa específica como mudanças
no cenário mundial estão afetando as decisões do tipo make-or-buy.
O estudo aborda uma mudança significativa que ocorreu na subsidiária: o
encerramento de uma linha de produção, devido à agressiva competição mundial. A
empresa estudada não foi capaz de concorrer com os baixos custos asiáticos, levando a
matriz a decidir por substituir a atividade realizada nessa filial pela importação do
produto manufaturado da China.
4.1 A EMPRESA LÂMPADAS LTDA.
A Empresa Lâmpadas Ltda. é uma subsidiária de uma tradicional multinacional
europeia, que atualmente, é uma das principais empresas do setor mundial e brasileiro.
A planta presente no Brasil está sediada no Estado de São Paulo, desde a metade do
século XX.
Poucos anos após a inauguração da fábrica no Brasil, iniciou-se o processo de
verticalização da produção, que ocorreu devido à deficiência por parte do fornecimento
dos componentes para a fabricação das lâmpadas. Ao decorrer de duas décadas e meia, a
empresa conquistou a capacidade de produzir sozinha praticamente todos os
componentes presentes nas lâmpadas produzidas. Entretanto, durante os anos 90 e a
primeira década do século XXI, a produção de componentes foi aos poucos sendo
terceirizada, tornando-se basicamente uma montadora de lâmpadas.
A mais recente extinção de uma linha de produção que aconteceu na empresa
estudada foi em 2010, com a linha de produção dos tubos de descarga das lâmpadas de
alta pressão que utilizam o vapor de mercúrio, que será estudada detalhadamente a
seguir.
4.2 A LÂMPADA DE VAPOR DE MERCÚRIO SOB ALTA PRESSÃO
As lâmpadas de vapor de mercúrio, demonstrada na Figura 1 foram as primeiras a
serem produzidas com vapor de metais em massa para aplicações gerais e ainda são
umas das populares até hoje. Isso se deve ao fato de pertencerem a um sistema de baixo
custo, vida longa e terem cores quentes [17].
Figura 1: Composição de uma lâmpada de vapor de mercúrio. FONTE: Adaptado de THE MERCURY, 2003.
Hoje as lâmpadas de vapor de mercúrio são consideradas ultrapassadas, apesar da
popularidade. A demanda por lâmpadas de vapor de sódio está crescendo,
principalmente por terem uma vida mediana maior, serem mais eficientes e
ecologicamente menos agressivas, comparando-se com o mercúrio presente na lâmpada
estudada. As lâmpadas com vapores metálicos também são mais eficientes e têm uma
reprodução de cores melhor do que a vapor de mercúrio. Já existem lâmpadas
fluorescentes compactas de potência alta, que concorrem com as lâmpadas de alta
pressão.
4.3 A PRODUÇÃO DE TUBOS DE DESCARGA PELA EMPRESA LÂMPADAS LTDA.
A produção dos tubos de descarga utilizados nas lâmpadas de vapor de mercúrio
iniciou-se em 1970 na Empresa Lâmpadas Ltda. A trefilação dos tubos de descarga
ocorreu por exatos 40 anos, extinguindo-se em 2010, com o fechamento da linha de
produção desse componente e o início da importação do produto acabado da filial
chinesa.
Comparando-se os custos de um tubo de descarga de 125W produzido no Brasil e
na filial chinesa, foi encontrada uma grande diferença no custo final do produto. O tubo
de descarga fabricado na China é quase metade do custo final do Brasil, conforme
demonstrado no Gráfico 1, com a abertura dos principais elementos de custos que
compõe a lâmpada (em Euros, considerando um lote de 1.000 tubos de descarga).
Gráfico 1: Custos de produção do tubo de descarga de 125W na China e no Brasil.FONTE: Empresa Lâmpadas Ltda
Existe uma grande diferença em quase todos os elementos de custos do produto
estudado nas filiais brasileira e chinesa. A maior diferença encontrada é nos materiais,
com quase 140,00 euros de diferença. Já percentualmente, os salários apresentam uma
diferença muito superior, de 381% no total. O custo muito inferior de uma filial chinesa
acaba mudando a estratégia de uma empresa, levando ao fechamento de fábricas e
linhas de produção, tanto de filiais dentro do grupo de empresas como empresas locais
que não conseguem concorrer. Os motivos que levaram a esse fenômeno serão
estudadas a seguir, através da abertura dos elementos de custos demonstrados no
Gráfico 1.
4.3.1 Materiais
Através do estudo realizado pela Empresa Lâmpadas Ltda., foi encontrada uma
grande diferença nos custos de materiais, que envolvem matéria-prima e componentes
do tubo de descarga.
Grande parte da diferença encontrada entre os custos de materiais entre a China e
o Brasil pode ser explicada pelo fator logístico. Uma parte dos componentes do tubo de
descarga é comprada pela China por produtores locais, em grande parte, terceiros, outra
parte, da matriz na Europa. No caso do Brasil, a maioria dos componentes e matérias-
primas é comprada da matriz. A China tem custos menores, por possuir fornecedores
locais que não geram muitos custos logísticos. Isso acontece, pois se encontram
estrategicamente perto do cliente, e possuem fornecedores europeus, que têm um menor
frete de envio à China, pela maior proximidade.
Há áreas denominadas “Zonas Econômicas Especiais” que estão localizadas no
litoral da China, sendo as principais próximas de Hong Kong. O objetivo dessas zonas é
atrair investimentos estrangeiros, através de empresas exportadoras, oferecendo em
troca um regime fiscal diferenciado, inclusive como isenções fiscais [18]. Quando uma
produção que acontece na China é dirigida ao mercado externo, existe a isenção de
impostos para a importação de matérias-primas, peças e componentes, que também
acontece na Empresa Lâmpadas Ltda.
Outro fator que beneficia a China comparando-a com o Brasil é o câmbio. Há
relatos de estudos na empresa Lâmpadas Ltda. que se iniciaram em 2006, no qual a
matriz já demonstrava interesse em fechar a linha de produção brasileira. Mas, na época,
o real estava valorizado, o que ajudava cambialmente o custo brasileiro, de modo que
ainda se conseguiu sustentar a produção por mais quatro anos. Mas, com uma
desvalorização contínua partir do segundo trimestre de 2009, dificultou-se continuidade
da linha de produção brasileira. Consequentemente, em fevereiro de 2010, a produção
própria foi trocada pela importação do tubo de descarga chinês.
4.3.2 Salários diretos e indiretos
Na Empresa Lâmpadas Ltda. os salários diretos, ou seja, custos com salários que
podem ser apropriados diretamente a um produto [19], são referentes aos custos de
operadores e mecânicos. Os custos indiretos de salários são aquelas pessoas que estão
indiretamente envolvidas com a produção. Alguns exemplos são as controladoras, os
coordenadores, os engenheiros, o pessoal da qualidade, do planejamento de produção,
da segurança, do restaurante, da manutenção, entre outros.
Existe uma grande diferença nos salários brasileiros e chineses. A Empresa
Lâmpadas Ltda. realizou um estudo em 2010 com 17 filiais presentes no mundo, para
verificar a diferença salarial entre elas. No Gráfico 2 foram demonstrados os resultados
referentes às subsidiárias no Brasil e na China nas categorias de salários de operadores,
mecânicos e administrativo, em EUR/hora.
Gráfico 2: Comparação salarial entre funcionários das filiais brasileira e chinesa no ano de 2010.FONTE: Empresa Lâmpadas Ltda.
Observando-se o Gráfico 2, verifica-se uma grande diferença salarial entre os
trabalhadores brasileiros e chineses. Na análise de 2010 da Empresa Lâmpadas Ltda., o
salário médio de operadores chineses é quase seis vezes menor do que o brasileiro. Para
mecânicos, a diferença é maior ainda, nove vezes menor que o brasileiro. Já o
administrativo, cinco vezes menor do que o salário brasileiro.
É conhecido que os países asiáticos possuem uma mão-de-obra de baixo custo,
mas nem sempre é mencionado que existe um nível relativamente alto de
qualificação[18]. Muito se diz sobre as condições chinesas de trabalho, mas grande parte
já ficou no passado. Apesar de o salário continuar baixo, as condições de trabalho dos
chineses vêm melhorando cada vez mais. Em 1995, foi editada a nova legislação
trabalhista na China, que em 2008, sofreu modificações, refletindo o processo de
modernização do país [20].
O sistema nacional de registro doméstico (Hukou), que impede as pessoas a terem
acesso a direitos básicos, como alugar apartamentos [21] ou ter acesso serviços públicos,
como saúde e educação [18]. O modo encontrado pelas empresas para atrair trabalhadores
de todo país foi proporcionar moradia e três refeições diárias, justificando o salário tão
baixo.
As instalações em grande parte são em forma de “T”, no qual em um prédio situa-
se a fábrica e noutro os dormitórios. Nos dormitórios há de quatro a oito camas e em
geral o banheiro é compartilhado. Existe uma superlotação, ao ponto que novos
funcionários dormirem no chão. E dificilmente os funcionários saem das dependências
da fábrica, pois os centros urbanos estão afastados das zonas fabris [21].
Apesar do baixo salário, os chineses conseguem guardar praticamente todo o
dinheiro que ganham, pois economizam com moradia e alimentação. O fluxo desse
salário acaba indo rumo ao interior, para sustentar as famílias quando retornam para a
cidade natal, melhorando as condições básicas de vida [21].
4.3.3 Custos de máquina fixos e variáveis
A empresa compõe os elementos de máquina com os seguintes custos: energia,
manutenção, área e depreciação produtiva.
Sobre a energia elétrica, a filial brasileira buscou diferentes alternativas para
reduzir os custos com energia elétrica. Uma foi a instalação de geradores de energia
elétrica, que são utilizados três horas por dia nos horários de ponta (ou horários de pico
de consumo). Uma segunda e terceira medida foi a negociação do custo do gás natural e
dos gases produtivo junto com os fornecedores, gerando uma redução média de 40%
nos custos dos gases produtivos.
Apesar de todas essas medidas tomadas, é verificado um valor um pouco superior
ao da filial chinesa. Já quesito depreciação foi muito próximo do brasileiro.
No caso da manutenção, o custo dela é quase metade do custo brasileiro, e para
áreas, quatro vezes e meia. Uma parte disso deve-se a custos com pessoal na área de
manutenção, segurança e limpeza, além de impostos sobre a propriedade, como o IPTU
(Imposto Predial e Territorial Urbano). Segundo o jornal Valor Econômico [22], esse
imposto inexiste na China. Xangai pretende ser uma das primeiras cidades a adotar esse
tipo de imposto sobre a propriedade.
Logo, no requisito máquina não houve uma diferença considerável entre os dois
países, sendo apenas 8,3% menor para a China.
4.4 CONSEQUÊNCIAS PARA A EMPRESA LÂMPADAS LTDA.
Não houve interesse por parte da matriz em melhorar as condições da linha, para
contribuir de alguma forma com a redução do custo. E uma das razões encontradas é
que o tubo de descarga pertence a um tipo de lâmpada que é considerada ultrapassada.
Uma razão é que a matriz está mudando o foco do negócio. A empresa está
investindo em lâmpadas inovadoras e de alta tecnologia, como as lâmpadas LEDs. Na
visão da matriz, porque investir em uma linha de produção de uma lâmpada que está
ultrapassada e tem altos custos? Não há motivos. Principalmente, a partir do momento
que outra subsidiária tem a capacidade de te fornecer o mesmo produto por um custo
muito inferior, o que ajudaria a filial fornecedora a reduzir a ociosidade das linhas.
Internamente, o fechamento dessa linha trouxe impactos negativos para as demais
linhas que continuaram produzindo. Isso pode se explicar através dos custos fixos, que
não se alteram com o fechamento dessa linha, mas as demais linhas absorveram os
custos fixos que antes eram da linha de tubo de descarga.
Também se devem considerar as demissões realizadas. Foram demitidos oito
operadores, um mecânico, um engenheiro e um controlador. A empresa estimou um
custo com demissões em torno de 220 mil reais, considerando o pagamento de 50% de
FGTS e de aviso prévio.
Outro impacto que aconteceu foi o aumento do estoque. Antes, havia um estoque
em casa para suprir 70% da necessidade de um mês. Hoje, o estoque duplicou. Há
estoque para um mês e meio de produção de lâmpadas de vapor de mercúrio. Esse
aumento aconteceu devido às incertezas de suprimento. Estima-se um custo adicional de
estoque de nove mil reais a mais por ano para manter um maior estoque em casa.
Segundo informações da produção, após a mudança para o tubo de descarga da
China, a produção ocorreu normalmente nos primeiros meses. Mas, oito meses após o
inicio da utilização desse componente, notou-se problemas com a depreciação do fluxo
luminoso das lâmpadas. O tubo de descarga começou a demonstrar enegrecimento, além
de uma acelerada depreciação do fluxo luminoso. Portanto, a qualidade do tubo de
descarga é inferior àquele que era produzido no Brasil.
Houve uma boa aceitação das máquinas com a utilização do tubo de descarga da
China. Inclusive, as linhas de montagem de lâmpadas demostraram uma pequena
redução no refugo e uma consequente melhora de eficiência após a implantação do tubo
chinês.
Na visão global empresarial, houve uma realocação de atividades. A matriz
deixou de produzir em um determinado lugar que não era tão rentável, e transferiu essa
produção para uma subsidiária que já o produzia, reduzindo a capacidade ociosa de uma
linha mais rentável, que ainda, por economia de escala, provavelmente teve ter sofrido
uma pequena queda no custo final do tubo de descarga. Localmente, a fábrica brasileira
perde com as demissões de funcionários, com os custos fixos, além de perder uma
atividade manufatureira e ter que manter em casa estoques maiores. Mas
financeiramente trouxe vantagens, pois o custo final da lâmpada foi reduzido, devido ao
menor custo do componente estudado, aumentando assim a margem de lucro.
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