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ANÁLISE DA SUSCETIBILIDADE À EROSÃO LAMINAR NA BACIA DO RIO MANSO, CHAPADA DOS GUIMARÃES, MT, UTILIZANDO SISTEMAS DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS

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    Revista Brasileira de Geomorfologia - v. 11, n 2 (2010)

    www.ugb.org.br

    Fernanda Vieira XavierGegrafa pela Universidade Federal de Viosa. Mestre em Fsica Ambiental pela Universidade Federal de Mato Grosso

    - Rua Augusta Siqueira, n43/302. Centro, Viosa,MG - CEP 36570-000 - e-mail: [email protected]

    Karoley Lima CunhaGegrafa pela Universidade Federal de Viosa. Mestre em Fsica Ambiental pela Universidade Federal de Mato Grosso

    - Rua Augusta Siqueira, n43/302. Centro, Viosa,MG - CEP 36570-000 - e-mail: [email protected]

    Alexandre Silveira Professor Adjunto da Universidade Federal de Mato Grosso. Departamento de Engenharia Sanitria - DESA.

    Avenida Fernando Correia da Costa, s/n, bairro Coxip, Cuiab,MT - e-mail: [email protected]

    Fernando Ximenes de Tavares SalomoProfessor Adjunto da Universidade Federal de Mato Grosso. Departamento de Geologia - ICET. Avenida Fernando

    Correia da Costa, s/n, bairro Coxip, Cuiab,MT - e-mail: [email protected]

    ANLISE DA SUSCETIBILIDADE EROSO LAMINAR NABACIA DO RIO MANSO, CHAPADA DOS GUIMARES, MT,

    UTILIZANDO SISTEMAS DE INFORMAES GEOGRFICAS

    Resumo

    A eroso tem sido reconhecida como um srio problema global de degradao das terras e uma ameaa ao bem estar dahumanidade. O mau uso e ocupao do solo, sem levar em conta sua capacidade de renovao, tm levado a perdas por erosocada vez maiores causando muitas vezes transtornos de carter irreversveis. O Reservatrio de Manso, localizado na BaciaHidrogrfica do Rio Manso BHRM vem sofrendo com problemas de assoreamento, que, causado pelo transporte de sedi-mentos proveniente das cabeceiras da bacia, representam uma ameaa vida til do reservatrio. Este trabalho teve comoobjetivo estudar a suscetibilidade eroso laminar da Bacia Hidrogrfica do Rio Manso, atravs de tcnicas de geoprocessamento,indicando as reas mais suscetveis eroso, e sua relao com a erodibilidade dos solos, possibilitando alternativas futuras demanejo, recuperao e conservao dos solos da bacia. Foram definidas trs classes principais de graus de suscetibilidade eroso, sendo que aproximadamente 80% da rea da bacia esto localizados na classe de baixo potencial, cerca de 16%, naclasse de mdio potencial e aproximadamente 2% na classe de alto potencial eroso. As classes mdio e alto potencial foramlocalizadas principalmente nas bordas da bacia, ou seja, reas que promovem maior produo de sedimentos, sendo estescarreados at o reservatrio. Estas reas de mdio e alto potencial situam-se geralmente nos relevos mais escarpados encontra-dos dentro da bacia, mais ngremes, com classes de declividade forte e muito fortes (>20%), em solos considerados extrema-mente suscetveis a eroso.

    Palavras-chave: Eroso, Bacia Hidrogrfica, SIGs, Suscetibilidade, sedimentos

    Abstract

    The erosion has been recognized as a serious global problem of land degradation and a threat to the well being of humanity.The misuse and land, without regard to their capacity for renewal, have led to losses by increasing erosion causing disordersoften irreversible character. The Manso Reservoir, located on River Basin Manso - BHRM has suffered from problems of

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    siltation, which, caused by sediment transport from the headwaters of the basin, represent a threat to the life of the container.This work aimed to study the susceptibility to extensive erosion of River Basin Manso through geoprocessing techniquesindicating the areas most susceptible to erosion, and its relationship to erosion of the soils, allowing alternative future management,restoration and conservation land basin. Were defined three main classes of degrees of susceptibility to erosion, and approximately80% of the basin are located in low-potential class, about 16%, the class of potential and average about 2% in the high potentialfor erosion . Classes medium and high potential were located mainly at the edges of the basin, in areas that promote greaterproduction of sediments, which are carried into the reservoir. These areas of medium and high potential are generally moreprecipitous in the reliefs found in the basin, more steep slope classes with strong and very strong (> 20%) in soils consideredextremely susceptible to erosion.

    Keywords: Erosion, Watershed, GIS, susceptibility, sediment

    Introduo

    Em meio aos cenrios de desenvolvimento da agricul-tura, de avanos nas tecnologias agrcolas e da necessidadedo aumento da produo, tem-se um considervel aumentodos processos erosivos. Esse considervel aumento indciodo declnio da fertilidade do solo e/ou destruio, de reasque eram anteriormente frteis.

    Dentre as principais alteraes no uso do solo, a ero-so , provavelmente, a forma mais grave de degradao dapaisagem ao redor do globo, e as atividades antrpicas tmacelerado esses processos de maneira intensa. A degradaoambiental tem se tornado mais evidente e torna-se necess-rio, cada vez mais, no apenas reverter esse processo, mastambm prever danos futuros com base no planejamento e nagesto desses recursos.

    Um dos impactos diretos da acelerao dos processoserosivos o aumento da produo de sedimentos, que, aoatingirem corpos aquticos, se provenientes principalmentede reas agrcolas, podem ocasionar o assoreamento dessessistemas, alm de atuarem diretamente no transporte de ou-tros poluentes. Segundo MINOTI (2006), tendo em vista queo Brasil possui um grande nmero de reservatrios artificiaispara os diversos usos, inclusive gerao de energia eltrica,as cargas de sedimentos podem diminuir o tempo de vida tildas barragens.

    Por esta razo, torna-se necessrio gerar dados sobre asituao inicial de uma determinada rea de estudo, de ambi-entes pouco estudados ou de onde no existam informaes,e quantificar/qualificar os processos, para que sejamdiagnosticadas reas com maior risco ambiental.

    nesse contexto que os Sistemas de Informaes Ge-ogrficas (SIGs) so empregados na criao do banco dedados como ferramentas para esses trabalhos, pois so desti-nados aquisio e ao tratamento de dados georreferenciados(referenciados espacialmente).

    Desta forma, a bacia Hidrogrfica do Rio Manso(BHRM) situada no municpio de Chapada dos Guimares,Mato Grosso, merece ateno especial, pois nesta rea est

    localizado o reservatrio de Aproveitamento Mltiplo deManso, um empreendimento com gerao de energia hidre-ltrica. A rea em estudo apresenta poucas informaesambientais e est localizada em ambiente frgil, de cerrado ede belezas naturais. Soma-se a isto o fato de, o reservatrioestar sofrendo impacto direto da ao dos processos erosivosprovenientes das cabeceiras da bacia, respondendo com oacelerado assoreamento do lago.

    Como objetivos principais, este trabalho apresenta:analisar a suscetibilidade a eroso laminar da baciahidrogrfica do Rio Manso e gerar o mapa de potencial aeroso laminar.

    rea de Estudo

    A BHRM est localizada no estado de Mato Grosso(Figura 1), regio Centro-Oeste do Brasil, e possui uma reade aproximadamente 10.553Km. formada principalmentepelos rios: Manso, Casca, Quilombo e Roncador e pertence bacia do rio Cuiab, que pertence, juntamente com o RioParaguai, So Loureno, Itiquira e Pantanal, grande baciado Prata, ou bacia Platina.

    Distante de Cuiab, cerca de 100km, o lago do rioManso, formado devido construo da barragem APMManso Aproveitamento Mltiplo de Manso, possui aproxi-madamente 427Km de rea alagada para cota mxima e tempassado por problemas de assoreamento, devido erosoproveniente das cabeceiras do rio principal. Foi concebidocom os principais objetivos de regularizar o nvel do rioCuiab (evitar inundaes) e gerar energia eltrica.

    Materiais e Mtodos

    Para a elaborao do trabalho foram necessrios osseguintes sistemas computacionais:

    Software ArcView 3.2, desenvolvido pela ESRI(Environmental Systems Research Institute);

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    Figura 1 - Localizao da rea de estudo

    so mais erodveis que outros, mesmo quando o declive, a pre-cipitao, a cobertura vegetal e as prticas de controle de erososo as mesmas. Essa diferena ocasionada pelas propriedadesinerentes ao solo referida como erodibilidade do solo.(BERTONI & LOMBARDI NETO, 1999). O agrupamento dasclasses de solos em funo dos ndices de erodibilidade seguiu ocritrio aplicado por LOMBARDI NETO & BERTONI (1975),que realizaram um estudo para 66 perfis de solo que ocorrem noEstado de So Paulo. Os autores consideraram os valores obti-dos como uma estimativa do fator de erodibilidade do solo paraos principais solos paulistas apresentados por IPT (1990) apudSALOMO (1999). Tais ndices foram utilizados para a reali-zao do mapa de erodibilidade.

    Estimativa da Suscetibilidade Eroso

    A suscetibilidade eroso laminar, ou em lenol, podeser representada cartograficamente determinada com base naanlise dos fatores naturais influentes no desenvolvimento dosprocessos erosivos (erosividade, erodibilidade, declividade ecomprimento de encosta) (IPT, 1990). Inicialmente, conside-ram-se a erodibilidade dos solos e a declividade das encostascomo fatores determinantes na definio das classes desuscetibilidade. Os fatores como erosividade e comprimento dasencostas tambm podem ser utilizados em complementao avaliao final das classes de suscetibilidade, de acordo comSALOMO (1999). Porm, esses dois ltimos no foram utili-zados neste trabalho, devido falta de dados e pelo fato de se-rem os ndices de erodibilidade e declividade satisfatrios narepresentao cartogrfica da suscetibilidade eroso, segundoSALOMO (1999). A Figura 2 ilustra as etapas do trabalho.

    Extenses ArcView : ArcView Spatial Analyst Verso1.1 e ArcView 3D Analyst Verso 1.0;

    Software ArcGis, desenvolvido pela ESRI Environmental Systems Research Institute, verso 9.2;

    Mapa de Uso e Ocupao do Solo

    Para o mapa de uso e ocupao do solo, foi utilizado oPlano de Informao realizado por LIBOS, (2002), que condu-ziu uma classificao supervisionada das quatro imagens Landsat7 ETM+ (ndices WRS 226/70 e 226/71 de 02 de julho de2000 e ndices WRS 227/70 e 227/71 de 27 de julho de 2000)identificando classes de ocupao do solo referentes a toda Ba-cia do Rio Cuiab, essa classificao foi recortada e ajustadapara se adaptar BHRM, que pertence bacia do Cuiab.

    Mapa Pedolgico

    O Plano de Informao pedolgico foi gerado atravsda unio das cartas pedolgicas SD-21-Z-A; SD-21-Z-B; SD-21-Z-C e SD-21-Z-D, todas do fuso 21, na escala 1:250.000(SEPLAN, 2001). Tais classes representam tipos de associa-es pedolgicas, reunidas pela SEPLAN, e no classes de-talhadas dos solos da regio, sendo esta base de dados, a ni-ca existente para a elaborao do presente trabalho.

    Fator K (Usle_K)

    O fator K de erodibilidade - Universal Soil Loss Equation(USLE_K) representa o potencial erosivo do solo, a maior oumenor facilidade com que o solo pode ser erodido. Alguns solos

    Anlise da suscetibilidade eroso laminar na bacia do rio Manso, Chapada dos Guimares, MT, utilizando sistemas de informaesgeogrficas

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    Figura 2 - Etapas do procedimento metodolgico para a definiodas classes de suscetibilidade eroso laminar.

    Associadas as classes de solos s respectivas clas-ses de erodibilidade, e realizado o mapa de erodibilidade,uma nova tabela para classes de erodibilidade dos solosfoi gerada, baseada na metodologia de SALOMO (1999)e de ROSS (2005), melhor adaptadas aos solos da rea deestudo. As classes destacadas em negrito so as existentesna BHRM.

    Desta forma, na Tabela 1 pode-se observar como ficoua adaptao:

    Tabela 1 - Classes de erodibilidade - importncia dos tiposde solos na ocorrncia de processos erosivos.

    Fonte: Adaptado de SALOMO (1999) e ROSS (2005)

    Definidas as respectivas classes de erodibilidade paraos tipos de solos encontrados na rea de estudo, foram elabo-rados os mapas parciais dos fatores relacionados erosolaminar.

    O mapa de declividade foi realizado, extraindo-se ascurvas de nvel das imagens SRTM Shuttle RadarTopography Mission, e a partir da unio das 4 cartas de cur-vas, SD-21-Z-A; SD-21-Z-B; SD-21-Z-C e SD-21-Z-D, fo-ram gerados o Modelo Digital de Elevao e em seguida, adeclividade. Na Tabela 2, pode-se observar as classes dedeclividade com os respectivos graus de potencialidadeerosiva:

    Tabela 2 - Classes de declividade

    O mapa de classes de erodibilidade (solos) foi integra-do com o mapa de classes de declividade, tomando-se comocritrio de definio das classes de suscetibilidade erosolaminar e sua compatibilizao com a classe de capacidadede uso das terras. A partir desse cruzamento de dados, foigerada uma nova tabela, relacionando-se cinco classes dedeclividade com cinco classes de suscetibilidade erosolaminar. Desse modo, foram definidas cinco classes:

    I - Extremamente suscetvel;

    II - Muito suscetvel;

    III - Moderadamente suscetvel;

    IV - Pouco suscetvel;

    V - Pouco a no suscetvel.

    Aps a definio do mapa de suscetibilidade erosolaminar, foi realizada a integrao do mesmo, com o uso eocupao do solo, e, a partir da, elaborado o mapa final depotencialidade eroso laminar, que reflete a suscetibilidadeatual eroso laminar.

    De acordo com SALOMO (1999), o mapa desuscetibilidade eroso laminar reflete as caractersticas na-turais dos terrenos, em face do desenvolvimento dos proces-sos erosivos. No entanto, a eroso laminar fortemente con-dicionada pela ao do homem, por meio das formas de usoe ocupao do solo. reas com um mesmo nvel desuscetibilidade ocupado de maneira diferente apresentamvariados potenciais ao desenvolvimento da eroso laminar.O potencial eroso laminar pode assim ser definido como oresultado da integrao entre a suscetibilidade dos terrenosem desenvolver eroso e a ocupao atual das terras.

    O mtodo baseia-se no cruzamento matricial do mapade suscetibilidade com o mapa de uso e ocupao do solo,sendo que, este ltimo deve contemplar as diferentes formasde ocupao agrcola, diferenciadas em funo do recobrimentovegetal. O critrio adotado, de acordo com SALOMO (1999),para o estabelecimento das classes de ocupao dever ser oporte da cobertura vegetal e a intensidade da ao antrpicano manejo da terra. O porte da cobertura vegetal reflete, deforma indireta, o nvel de cobertura vegetal sobre o solo e,consequentemente, a proteo deste solo quanto aos proces-sos erosivos. Por outro lado, a atividade antrpica indica dire-tamente as reas mais sujeitas eroso laminar, uma vez que ouso intensivo aumenta o potencial de perdas de solo. Como

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    pode ser visto na Figura 3, o cruzamento matricial para o mapafinal de potencial eroso laminar.

    FIGURA 3: Cruzamento matricial para elaborao domapa final de potencial eroso laminar

    A ocorrncia de processos erosivos a partir das classesde uso e cobertura do solo obedece classificaoestabelecida conforme critrios de ROSS (2005) eSALOMO (1999), e pode ser vista no Quadro 1:

    Quadro 1 - Classes de uso do solo e os respectivos grausde suscetibilidade

    Por meio do cruzamento matricial das classes desuscetibilidade com as classes de uso e ocupao do solo,foram determinadas trs classes de potencial eroso laminar,seguindo a metodologia proposta por IPT (1990), conforme apresentado a seguir:

    I Alto potencial;

    II Mdio potencial;

    III Baixo potencial.

    Definidas as classes finais de potencial eroso laminar narea de estudo, foi elaborado o mapa final de potencial eroso.

    Resultados e Discusso

    Declividade

    Com base no MNT, foram obtidos os valores mximose mdios de declividade da rea de estudo: Declividade m-xima = 29,02% e Declividade mdia = 9,97%.

    Com base no mapa de declividade, foram obtidas asreas e as respectivas porcentagens referentes s classes dedeclividade para a rea de estudo.

    Tabela 3 - reas correspondentes s classes de declividadena BHRM

    A rea de estudo foi dividida ao todo em cinco (5) clas-ses, visto que a regio no varia muito em relao declividade. Nota-se que a maior parte da BHRM est conti-da na primeira classe (Plano/praticamente plano), e apenas0,89% da bacia esta contida na classe Ondulado/Forte on-dulado.

    Na Figura 4 pode-se visualizar a conformao do rele-vo da rea de estudo em funo das classes de declividade, eas subunidades de estudo.

    Figura 4 - Classes de declividade

    Anlise da suscetibilidade eroso laminar na bacia do rio Manso, Chapada dos Guimares, MT, utilizando sistemas de informaesgeogrficas

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    Solos

    O mapeamento de solos da SEPLAN representoucartograficamente as associaes de solos, e no as clas-ses de solos. Na Tabela 4, podem-se observar as reas erespectivas porcentagens referentes s classes predomi-nantes de solo identificadas na rea de estudo. Nota-sepelo mapa de solos (Figura 5), que a BHRM basicamen-te dividida em dois grupos predominantes de solos: oCambissolo ao norte da bacia e o Neossolo Quartzarnicoao sul. Em seguida, aps estes, os mais representativosdentro da bacia so os Neossolos Litlicos, osPlintossolos e os Latossolos Vermelho-Amarelos respec-tivamente.

    Tabela 4 - Classes de solos na BHRM

    Figura 5 - Solos da BHRM, MT.

    Uso e Ocupao

    Com o levantamento realizado por LIBOS (2002) emclassificao de imagem de satlite, foram identificadas na reade estudo seis classes principais de uso do solo. (Tabela 5).

    Tabela 5 - rea das classes de uso do solo para a BHRM.

    Foi reclassificada como gua a rea do reservatrio,que anteriormente inundao, era representada por cerra-do. As reas urbanas, pouco representativas dentro da bacia,foram reclassificadas como solo nu.

    As maiores percentagens de uso do solo esto entre asclasses: Cerrado, Pastagem, Agricultura e Solo exposto. Esteltimo apresentou grande representatividade tambm graas poca do ano a qual a classificao da imagem foi realiza-da, em julho de 2000. Esse perodo representa um perodo deestiagem no Mato Grosso, onde as culturas ainda no estosendo plantadas e o solo se encontra nu. Ocorrem tambm,faixas de queimada, sobretudo em regies de cerrado, o quediminui ainda mais a vegetao nos locais.

    A classe Cerrado inclui tambm os segmentos representa-dos por vegetao de cerrado em diferentes estgios de desen-

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    volvimento, e, a classe Floresta de Transio, as vegetaes demata ciliar encontradas ao longo dos cursos de gua, alm deoutros tipos de vegetao nativa encontradas na rea de estudo.

    De acordo com BERTONI & LOMBARDI NETO(1990), embora alguns solos sejam mais erodveis que outros, oportuno lembrar que a quantidade de solo perdida pela ero-so, que ocorre em dadas condies, influenciada no so-mente pelo prprio solo, mas pelo tratamento ou manejo querecebe; um solo pode perder, por exemplo, 200 toneladas porHectare e por ano quando usado com culturas anuais planta-das morro abaixo em terreno com grande declividade, enquantoo mesmo solo, com uma pastagem bem manejada, perderia

    somente alguns quilogramas por hectare. A diferena em ero-so por diferentes sistemas de manejo para o mesmo solo muito maior que a diferena de eroso de diferentes solos como mesmo manejo. Realmente, a erodibilidade influenciadamuito mais pelo manejo que por qualquer outro fator.

    Em alguns locais na imagem foram classificadas feiescomo sendo pastagem, porm, geralmente, estas no ocorremem planalto como mostra a Figura 6. Logo, isto pode ter ocor-rido, devido a erros de classificao de imagem.

    As classes referentes ao uso do solo podem ser vistasna Figura 6.

    Figura 6 - Uso e Ocupaao do solo

    Anlise do Potencial Eroso Laminar na BHRM

    De acordo com as classes de erodibilidade estabelecidasna Tabela 1, os solos encontrados na rea de estudo podemser vistos de acordo com suas respectivas classes de grau deerodibilidade, na Tabela 6:

    Tabela 6 - Classes de solos encontradas na BHRM com osrespectivos graus de erodibilidade.

    Realizando o cruzamento matricial, relacionandocinco classes de declividade com cinco classes deerodibilidade, foi gerado o resultado de suscetibilidade eroso laminar, com cinco novas classes, como podeser visto na Tabela 7.

    Tabela 7 - Critrio adotado na definio das classes desuscetibilidade eroso laminar

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    I Extremamente suscetvel: compreende os NeossolosQuartzarnicos e Litlicos em classes de declividade forte emuito forte (entre 12 a 20% e > 20%) e os Cambissolos ePlintossolos em declividade muito forte (>20%);

    II Muito suscetvel: compreende NeossolosQuartzarnicos e Litlicos em declividade mdia de 8 a 12%,Cambissolos e Plintossolos em declividade forte.

    III Moderadamente suscetvel: compreendem osNeossolos Litlicos e os Quartzarnicos em declividade fra-ca, os Cambissolos, Plintossolos em declividade Mdia (8-12%), Latossolos Vermelho-amarelos em declividade forte(12 a 20%).

    IV Pouco suscetvel: compreende os NeossolosQuartzarnicos e Litlicos, os Cambissolos e os Plintossolosem classe de declividade muito fraco (0-3%), os Cambissolos,Plintossolos e os Latossolos Vermelho amarelos emdeclividade fraca (3-8%) e os latossolos Vermelho escuros eVermelho-amarelos em declividade mdia (8-12%).

    V Pouco a no suscetvel: compreende os LatossolosVermelho amarelos, Vermelho escuros, Organossolos eGleissolos em classe de declividade muito fraca (0-3%), e osLatossolos Vermelho escuros, Organossolos e Gleissolos emdeclividade fraca (3-8%), e Gleissolos e Organossolos emdeclividade mdia.

    Esses dados gerados do cruzamento deram origem aum mapa de suscetibilidade a eroso que foi cruzado posteri-ormente com os dados do uso e ocupao do solo.

    As classes de uso e ocupao do solo da BHRM foramadaptadas s classes de graus de ao erosiva conforme ROSS(2005) e SALOMO (1999), e podem ser visualizadas naTabela 8 a seguir:

    Tabela 8 - Classes de uso e ocupao do solo encontradasna BHRM com os respectivos graus de ao erosiva

    SALOMO (1999) adotou como critrio para o esta-belecimento das classes de uso e ocupao, o porte da co-bertura vegetal e a intensidade da ao antrpica no manejoda terra, e os usos da BHRM foram adaptados a essas classespara melhor representar a rea em estudo. Para o mesmo au-tor, o porte da cobertura vegetal reflete, de forma indireta, onvel de cobertura vegetal sobre o solo e, consequentemente,a proteo deste solo quanto aos processos erosivos.

    Aps a adaptao dos tipos de usos encontrados nabacia em estudo, foi realizado o cruzamento matricial dasclasses de suscetibilidade com as classes de uso e ocupaodefinidas anteriormente, e a partir desse cruzamento, foramdefinidas trs classes de potencial eroso laminar na BHRM,que so expressas no mapa final de potencial eroso laminarna Figura 7.

    Tabela 9 - Matriz de definio das classes de potencial eroso laminar.

    I - Alto potencial: compreende solo exposto (AGRC),agricultura genrica (AGRL) em declividade fraca (3-8%),mdia (8-12%), forte (12-20%) e muito forte (>20%), emtodos os tipos de solos; Pastagem (PAST) em declividadeforte e muito forte, em Neossolos Quartzarnicos e Litlicos,Cambissolos, Plintossolos, Latossolos vermelho amarelos ea classe Cerrado (FRSE) em declividade forte e muito forteem Neossolos Quartzarnicos e Litlicos, Cambissolos ePlintossolos.

    II - Mdio potencial: compreende as classes de Flo-resta de Transio (FRST) e Floresta Tropical (FSRD) emdeclividade forte e muito forte em Neossolos Quartzarnicos,Litlicos, Cambissolos e Plintossolos; a classe Cerrado(FRSE) em declividade fraca, mdia, forte e muito forte so-bre Neossolos Quartzarnicos e Litlicos, Cambissolos,Plintossolos, Latossolos Vermelho; a classe Pastagem (PAST)em declividade fraca, muito fraca e mdia, sobre todos ostipos de solos, e forte e muito forte em todos as classes desolos, exceto Organossolos e Gleissolos. Por fim, o solo ex-posto (AGRC) e agricultura genrica (AGRL), emdeclividades fraca, muito fraca e mdia, sobre todos os tiposde solos.

    III Baixo potencial: Compreende as classes Flo-resta de Transio (FRST) e Floresta Tropical (FRSD) emtodas as classes de declividade e em todos os tipos de so-los; a classe Cerrado (FRSE) em declividade muito fraca,fraca e mdia em todos os tipos de solos, e a classe pasta-gem (PAST), em declividade muito fraca e fraca emlatossolos Vermelho amarelos, Vermelho escuros,Organossolos e Gleissolos.

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    Figura 7 - Mapa de potencial a eroso laminar

    De acordo com os resultados gerados no cruzamentomatricial das classes de declividade, solos (erodibilidade) edos tipos de uso e ocupao do solo, pode-se fazer algumasconsideraes acerca da rea de estudo.

    Pelo mapa final, pode-se notar que grande parte da reaclassificada como sendo de baixo potencial eroso est lo-calizada na poro norte e central da bacia, onde se apresen-tam tambm, valores baixos de declividade. Aproximadamen-te 80,81% da rea total da bacia, esto situadas nesta classede baixo potencial, e isto pode ser explicado, alm das bai-xas declividades encontradas nessas regies, o fato de que obaixo potencial coincide em algumas partes dessa rea, coma vegetao nativa e reas remanescentes naturais.

    O percentual aproximado para as reas com mdio po-tencial eroso gira em torno de 16,68%, e apresentam osegundo maior valor. Essa classe coincide com reas princi-palmente ocupadas por agricultura em bordas da bacia, emclasses mdia, forte e muito fortes de declividades em solosconsiderados muito suscetveis e extremamente suscetveis.Pode-se observar pela Figura 7, que as reas mais suscetveisa eroso, esto localizadas prximo s nascentes, nas bordasda bacia, o que gera uma preocupao ainda maior. Este fatopode ser levado em considerao no estudo do aporte de se-dimentos no Reservatrio do Rio Manso, j que este passapor um processo contnuo de assoreamento.

    Aproximadamente 2,51% da rea da bacia, apresen-tam alto potencial eroso. Observando a Figura 7 e a Figu-ra 4 (mapa declividade), nota-se que essas reas, situam-se

    geralmente nos relevos mais escarpados encontrados dentroda bacia, mais ngremes, com classes de declividade forte emuito fortes (>20%), em solos considerados extremamentesuscetveis a eroso. Concentra-se basicamente na poro sulda bacia, principalmente nas bordas, onde as encostas somais ngremes.

    Concluses

    Aps a realizao da anlise de suscetibilidade foi pos-svel verificar a influncia que cada solo exerce sobre os pro-cessos erosivos. A eroso no a mesma em todos os solos.Para BERTONI & LOMBARDI NETO (1990), as proprie-dades fsicas, principalmente estrutura, textura,permeabilidade e densidade, assim como as caractersticasqumicas e biolgicas do solo exercem diferentes influnciasna eroso.

    Portanto pode-se concluir que esta bacia no consi-derada adequada para o cultivo intensivo, por apresentar so-los considerados frgeis com alto ndice de erodibilidade, oque futuramente poder causar dficit de produo,assoreamento dos rios entre outros. A vegetao nativa seriaa cobertura do solo ideal do ponto de vista hidrolgico.

    Este trabalho fornece indicaes de reas que devemmerecer especial ateno por serem mais vulnerveis aos pro-cessos erosivos, e pode ser objeto de uso/validao para po-tenciais usurios da informao, na expectativa de subsidiar/orientar aes de conservao no Estado do Mato Grosso,

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    Xavier, F. V. et al

    Revista Brasileira de Geomorfologia, v.11, n.2, p.51-60, 2010

    com uma abordagem por sub-bacias hidrogrficas, onde sepode avaliar a vulnerabilidade destes compartimentos natu-rais. Integrada a outras anlises, este trabalho detm o pro-psito e a orientao para estratgias e aes para recupera-o/conservao do bioma Cerrado considerando fatoresambientais e scio econmicos.

    Foram identificadas reas com vulnerabilidadeambiental em funo da combinao de elementos de tiposde solos, diferentes usos do solo, altimetria e declividade, epode-se concluir, atravs da anlise de suscetibilidade, a exis-tncia de ambientes mais suscetveis eroso encontradoscom declividades mdia e alta associadas a classes de solosconsideradas suscetveis a eroso, como NeossolosQuartzarnicos e Litlicos e a usos do solo como solos nu,agricultura, e pastagem.

    Foi possvel gerar o mapa final de potencial eroso,atravs dos cruzamentos matriciais e verificar que oassoreamento do reservatrio de Manso, pode ter esse fatocomo um dos causadores desses problemas.

    Os resultados obtidos possibilitaram observar a ne-cessidade de reconhecer nas bacias hidrogrficas as re-as sensveis aos processos erosivos, onde so necessri-as prticas de controle a eroso, ou mudana na cobertu-ra do solo.

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