Articulação versus Fragmentação do Conhecimento

4
Articulação versus fragmentação do conhecimento Há muito tempo parece que renunciamos à capacidade de enfrentar e resolver os grandes problemas nacionais de modo sistemático e racional. Este artigo busca apontar algumas razões para esse fato. Ovídio Mendes - CEO da Metodologia.inf.br, Advogado e Professor Universitário O Brasil enfrenta grave crise econômica e política. Soluções são propostas, desfeitas ou logo em seguida abandonadas. Mas raramente as causas das crises são abordadas de modo responsável, na maioria das vezes atribuídas a "fatores externos". Aliás, identificar as causas como "fatores externos" carrega implicitamente o reconhecimento da inabilidade para controlar e influenciar os fatores de risco que desequilibram a manutenção da prosperidade e bem estar econômicos. No Brasil, os problemas são em geral enfrentados de modo reativo. Soluções "ad

description

Há muito tempo parece que renunciamos à capacidade deenfrentar e resolver os grandesproblemas nacionais de modosistemático e racional.Este artigo busca apontar algumasrazões para esse fato.

Transcript of Articulação versus Fragmentação do Conhecimento

Page 1: Articulação versus Fragmentação do Conhecimento

Articulação versus fragmentação do conhecimento

Há muito tempo parece que renunciamos à capacidade deenfrentar e resolver os grandesproblemas nacionais de modosistemático e racional.

Este artigo busca apontar algumasrazões para esse fato.

Ovídio Mendes - CEO da Metodologia.inf.br,Advogado e Professor Universitário

O Brasil enfrenta grave crise econômica e política. Soluções são propostas,

desfeitas ou logo em seguida abandonadas. Mas raramente as causas das crises

são abordadas de modo responsável, na maioria das vezes atribuídas a "fatores

externos". Aliás, identificar as causas como "fatores externos" carrega

implicitamente o reconhecimento da inabilidade para controlar e influenciar os

fatores de risco que desequilibram a manutenção da prosperidade e bem estar

econômicos.

No Brasil, os problemas são em geral enfrentados de modo reativo. Soluções "ad

Page 2: Articulação versus Fragmentação do Conhecimento

hoc" são propostas e, muitas vezes, com elevados custos. Houvesse

comportamento proativo, aqui entendido como capacidade na previsão e adoção

de medidas corretivas, tais situações seriam duradouramente controladas. Mas

como se desenvolve a capacidade de previsão de riscos?

Para além da adoção de tecnologias de ponta como ferramentas na solução de

problemas encontra-se um fator de baixíssimo custo, acessível por todos, mas

que exige aquilo que os inovadores norte-americanos denominam "hard work" e

que não significa apenas "trabalho duro" em uma tradução literal, mas

engajamento, controle, domínio e criatividade. Ou, de forma bastante singela,

habilidade para gerar ideias e ações articuladas.

A noção de ideias e ações logicamente articuladas não é recente. Jean Piaget,

criador da epistemologia genética, um modelo de desenvolvimento cognitivo a

que todas as pessoas estão submetidas, identifica o quarto estágio do

desenvolvimento intelectual com o surgimento da habilidade de execução mental

de operações sobre fatos e objetos voltadas para o alcance de objetivos. Ao

estabelecer que as operações são mentais, portanto sem materialidade física, e

tem por base fatos e objetos empíricos, estamos diante do desenvolvimento da

habilidade de planejamento e previsibilidade de resultados. Pela imaginação, a

experimentação e validação de diferentes possibilidades permitem a visualização

da solução mais adequada.

Oposto à articulação das ideias na solução de problemas temos o modelo de

aprendizagem fragmentado. Este é o modelo, implicitamente, adotado na maioria

das escolas brasileiras. Por ele, o aluno aprende conceitos pela memorização,

mas não desenvolve adequadamente a capacidade de correlacionar conceitos

para a solução de problemas corriqueiros no cotidiano. Piaget identificou a

memorização como estágio de desenvolvimento intelectual, em que problemas

são resolvidos somente pela reprodução de soluções passadas. No Brasil, o

Instituto Paulo Montenegro, na pesquisa e mensuração das habilidades e práticas

de leitura, escrita e cálculos aplicáveis ao cotidiano entre a população brasileira

Page 3: Articulação versus Fragmentação do Conhecimento

na faixa de 15 a 64 anos (INAF - Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional),

aponta que aproximadamente 65% desse contingente não desenvolveu

suficientemente tais habilidades. Ou seja, memoriza conceitos, mas não sabe

contextualizá-los e aplicá-los no cotidiano de suas existências.

Uma demonstração de que predominantemente a escola brasileira incentiva a

memorização pode ser verificado nos métodos avaliativos adotados. As questões

não são interdisciplinares e muitas vezes concentram-se na definição de

conceitos sem explorarem suas aplicabilidades para além do contexto específico

em que são ministradas. Se assim não fosse, os indicadores de alfabetismo

funcional do Instituto Paulo Montenegro recém citados não retratariam uma

realidade tão desanimadora. Se inexiste correlação entre conceitos, a habilidade

de planejamento e previsibilidade de resultados inexiste; se inexiste

planejamento, a capacidade de inventar o futuro e prever riscos, necessários a

proatividade, inexiste; se inexiste proatividade, o pleno desenvolvimento

econômico e social, em contextos de competitividade econômica, inexiste; se

inexiste pleno desenvolvimento econômico e social ... permanecemos estagnados

no padrão de vida já alcançado ou retrocedemos em relação às nações mais

desenvolvidas, com crises quando a razão necessidades materiais / crescimento

econômico rompe determinados limites.

Neste ponto do texto, é esclarecedor retomarmos a ideia de "hard work" acima

exposta: seu sentido é a necessidade de compreensão do contexto competitivo

contemporâneo e aceitar que o incremento nas habilidades cognitivas não

ocorre de modo natural, como supõem muitos profissionais da educação adeptos

do "cognitivismo" inato e que, portanto, possuem responsabilidade nos

indicadores negativos da educação (os dados do MEC expressos na Avaliação

Nacional de Alfabetização 2014 indicam que 56,17% dos estudantes brasileiros no

3º ano do ensino fundamental têm baixo nível de leitura). As formas adequados

para o desenvolvimento cognitivo passam pela análise fria dos dados (e não das

crenças), com a identificação individual das inabilidades e, racionalmente, o

estabelecimento de planejamento para superar tais deficiências . É esse nosso

Page 4: Articulação versus Fragmentação do Conhecimento

objetivo na proposta de abordagem e escrita de estudos acadêmicos conhecidos

como TCC, mas que se adequam perfeitamente no estabelecimento e

planejamento de qualquer meta que envolva habilidades intelectuais, seja a

escrita de um artigo, o delineamento de uma estratégia para recolocação

profissional ou o estabelecimento de um plano de negócios (daí o trocadilho com

a sigla TCC no website http://www.metodologia.inf.br - Trabalho de Conclusão de

Curso ou Treinamento da Cognição e Criatividade).