Article - Exame Magazine Angola

2

Click here to load reader

Transcript of Article - Exame Magazine Angola

Page 1: Article - Exame Magazine Angola

setembro 2011 | 32 | www.exameangola.com setembro 2011 | 32 | www.exameangola.com

GESTÃO SUSTENTABILIDADE

O lixo produzido pelas sociedades tornou-se uma ameaça à nossa qualidade de vida. Quando não são tratados, os resíduos urbanos contaminam todos os ecossistemas, em especial o ar, o solo e as águas, atingindo os len-

çóis freáticos e tornando estas fontes impróprias para o consumo humano. Estima-se que, em média, cada indivíduo que habite uma nação industrializada produza entre 1 e 1,9 quilos de lixo por dia. Nos países emergentes, esta média é inferior em cerca de 400 a 600 gramas. A título de exemplo, enquanto um cida-dão nova-iorquino pode gerar até 720 quilos de lixo por ano, um brasileiro de São Paulo produz “apenas” 420. Segundo os dados da Elisal, empresa angolana de capital privado responsável pela recolha de resíduos em Luanda, a capital angolana produz 5 mil toneladas de lixo diariamente, o que perfaz a média de 1 quilo de lixo por dia. Este indicador coloca Luanda acima da média dos países emergentes na produção do lixo por habitante. Para mais existe apenas um aterro sanitário no país, o de Mulenvos.

A boa notícia é que através da reciclagem o lixo pode transfor-mar-se numa oportunidade para o desenvolvimento das comuni-dades, atraindo investimentos, gerando novos postos de trabalho e aumentando a preservação dos recursos naturais. Dar uma nova vida para os materiais a partir da reciclagem impede que novos recursos naturais sejam extraídos do meio ambiente. Também aqui vale a conhecida lei de Lavoisier, segundo a qual, “nada se perde, tudo se transforma”. Segundo os especialistas o poten-

cial económico do lixo é superior a 45%. De tudo o que deita-mos fora como algo inútil, 4% são metais, 3% são vidro, 3% são plástico, 25% são papel e o restante é material orgânico, que pode ser compostado e utilizado como fertilizante para a agricultura. Extrair do lixo o seu verdadeiro valor, ao invés de aumentar a sua produção, é uma solução viável para os países em desenvol-vimento. Isso já está a acontecer nalguns países industrializados, os maiores produtores de lixo. No Japão, por exemplo, recicla-se 50% do lixo sólido. Na Europa Ocidental, a reciclagem de resí-duos alcança os 30% e nos Estados Unidos, onde a geração de lixo chega aos 210 milhões de toneladas por ano, cerca de 27% são reciclados. O Brasil é o país que mais reaproveita as garra-fas PET e as latas de alumínio no mundo, produzindo mais de 1 milhão de latas reutilizadas por hora. Importa ressalvar que a

de vilão a galã LIXO

Cássia Ayres, em Los Angeles

Antes de atirar o lixo pela janela, pense duas vezes. Nos Estados Unidos, os resíduos urbanos já valem dinheiro. Conheça o caso da Athens Service, uma empresa familiar que lucra com aquilo que os outros deitam fora

QUANTO VALE O LIXO...Valores médios de venda, por tonelada, em dólares

...E QUAL O TEMPO DE DECOMPOSIÇÃO

PLÁSTICOGarrafas PET, sacos de supermercado, embalagens de produtos, brinquedos, tubulação de drenagem, material de construção.

402,37

METAL Latas, tampas, pregos, matéria-prima para a construção civil, radiadores de veículos, cobertura para baterias e parte de equipamentos eléctricos.

366,66

PAPEL

Papel de jornal, papel de escritório, toalhas de papel, caixas, de papelão ondulado, sacos de supermercado de papel, lenços e papel higiénico, papel de escritório com conteúdo reciclado, papel de computador, isolamento, cobertura morta, misturado produtos de papel, caixas de papelão de pizza, caixas de sapatos, dentre outras embalagens.

164,42

LIXO ORGÂNICO

Compostagem, onde se transforma num rico adubo para a agricultura ou em combustível para caldeiras nas centrais de energia.

52,55

VIDRO Garrafas de bebidas, frascos de medicamentos e também produtos e destino artístico. 42,69

VIDRO 4000 anosFRALDA DESCARTÁVEL 600 anosALUMÍNIO 200 a 500 anosPLÁSTICO 450 anosMETAIS Mais de 100 anosLATA DE CONSERVA 100 anosCOPO DE PLÁSTICO 50 anosSACO DE PLÁSTICO 30 a 40 anosMADEIRA 14 anosPASTILHA ELÁSTICA 5 anosCAIXA DE PAPELÃO 3 anosCIGARROS 1 a 2 anosJORNAL 6 mesesCORDA 3 a 4 mesesPAPEL 3 meses

FONTE: UNICEF.

Luanda produz 5 mil toneladas de lixo por dia, um valor acima da média dos países emergentes. Para mais existe apenas um aterro sanitário: o de Mulenvos

FONTE: www.letsrecycle.com/prices

Page 2: Article - Exame Magazine Angola

setembro 2011 | 54 | www.exameangola.com

GESTÃO SUSTENTABILIDADE

cada tonelada de alumínio reciclada, evita-se a extracção de 5 toneladas de minério.

Reciclagem na terra do cinema Dentro dos Estados Unidos, o estado da Califórnia é conhecido pelas suas (boas) práticas ambientais. Uma das empresas pionei-ras do sector nasceu em Los Angeles, capital da indústria cine-matográ! ca mundial. Quando a Athens Service fez a sua estreia, há 50 anos, ainda se viam ! lmes a preto e branco em Hollywood e o tema da reciclagem era uma moda recente. No entanto, esta empresa de base familiar resolveu apostar o seu futuro na mudança de comportamento da sociedade em relação ao tratamento dos resíduos urbanos. A aposta deu frutos. Hoje, a Athens Service oferece serviços de recolha selectiva do lixo (a base de clientes é composta por 40 contratos exclusivos que compreendem empre-sas privadas e administrações públicas), reciclagem e programas de educação ambiental para 20 cidades na região sudoeste do estado da Califórnia. A fábrica recicla 4 mil toneladas de lixo por dia, gerando 300 empregos directos (1200 no total) e está entre as quatro maiores fábricas de reciclagem da Cidade dos Anjos.

Entre os materiais transformados pela empresa destacam-se o vidro, metais, papel, plásticos, inertes da construção civil, lixo electrónico e orgânico (em parceria com os restaurantes da cidade cujo restos de comida são destinados à compostagem para enri-quecimento dos solos). A empresa conta com um sistema infor-matizado para tornar o método de tratamento de resíduos sólidos mais e! ciente. Como quem assiste a um story board, o director de marketing descreveu-nos a operação na sua fábrica. Os resí-duos provenientes de áreas urbanas de Los Angeles são colecta-dos por camiões da empresa. Chegados à fábrica são transferidos para esteiras especiais e separados de forma automática e mecâ-nica, de acordo com características como a cor, textura e densi-

dade. Neste estágio são descartados os não recicláveis. Uma vez separados, os materiais são movidos para uma prensa e a seguir embalados e encaminhados para as unidades de transformação e ao sector de transporte para venda às outras empresas proces-sadoras. “Orgulhamo-nos de termos sido os precursores na Cali-fórnia e de termos apoiado toda uma cadeia produtiva que hoje vive das receitas do lixo”, sintetiza Tommy Ouzoonian.

É que no estado da Califórnia o lixo tem preço. O plástico, o metal e o papel são os que têm maior valor de mercado (veja quadro “Quanto vale o lixo…”). Segundo Tommy Ouzoonian, o cenário da reciclagem na Califórnia é animador. Cerca de 150 empresas actuam na cadeia da reciclagem, mas 12 delas comple-tam o ciclo que vai desde a recolha até à transformação completa dos materiais para revenda”, a! rma. A própria Athens Service está em fase acelerada de expansão tendo construído duas novas unidades de recuperação de materiais de demolição provenien-tes da construção civil, uma em Irwindale e outra em Sun Val-ley. A Athens Service parece ter conquistado o seu lugar ao sol e imprimido a sua marca na calçada da fama. Um bom exemplo para as empresas angolanas que queiram seguir o seu exemplo e transformar o lixo de vilão em galã. b

O QUE SÃO OS TRÊS “R”

1 REDUZA Segundo o Instituto Akatu de Consumo Consciente, 40% do que compramos são lixo. Antes de comprar um novo bem, reflicta sobre se ele é mesmo necessário. Se decidir comprar, prefira produtos certificados e com selos verdes, fabricados segundo os métodos sustentáveis (produtos recicláveis, que privilegiam os recursos naturais ou de empresas socialmente responsáveis).

2 REUTILIZE Quase 50% do lixo doméstico são lixo. Se tem espaço em casa, aprenda a fazer compostagem que servirá de adubo para as plantas. No escritório, evite imprimir desnecessariamente os documentos que recebe ou utilize sempre o verso do papel.

3 RECICLE Separe os materiais consoante o tipo (metal, plástico, papel, vidro) em sacos distintos e informe-se com as autoridades municipais sobre a melhor destino para as pilhas, baterias e outros materiais compostos por mercúrio e metais pesados. Encoraje as escolas a implementar programas de educação ambiental e os seus filhos a utilizar materiais recicláveis.

Há uma verdadeira tropa de profissionais verdes que está a ser formada em academias especializadas em todo o mundo. Eles são os novos arquitectos, engenheiros, advogados, professo-res e jornalistas cuja missão é “limpar a casa”, gerir melhor os recursos esgotáveis dos ecossistemas e criar negócios susten-táveis que obedeçam ao equilíbrio dos três “P”: people (pessoas), planet (planeta) e profit (lucro). Alguns dos profissionais mais requisitados deste sector provêm da Universidade da Califórnia Los Angeles — UCLA, que lançou, em 2009, o curso de pós-gra-duação em Sustentabilidade Global. O programa, de nove meses de duração, abrange as áreas da arquitectura, construção civil, design, negócios, direito, marketing, políticas públicas, ciência e tecnologia e envolve a discussão de casos, a visita a empresas e as palestras de profissionais do sector. “A intenção é tratar dos tópicos da sustentabilidade a partir de uma abordagem holística, que relaciona as grandes áreas do conhecimento”, afirma Nurit Katz a coordenadora do programa. O investimento (para os alu-nos internacionais) fica em torno dos 35 mil dólares, incluindo os gastos com estada, alimentação e transporte.

Ao que tudo indica, esse investimento compensa. O estado da Califórnia é o líder americano na procura de “profissionais ver-des”. Segundo a Green Collar Association, mais de 124 mil vagas foram disponibilizadas para especialistas nas áreas de design e construção, consultoria em projectos de energias renová-veis e gestão sustentável de negócios. “Este é o grande factor que motiva os estudantes dado que a pro-cura é superior à oferta”, afirma Nurit Katz.

Para mais, segundo as empresas de recursos humanos, os salá-rios são 25% superiores aos das outras licenciaturas.

FAZER OS TRABALHOS DE CASAA UCLA procura praticar o que ensina. Em 2008, a universidade iniciou um programa de práticas sustentáveis dentro das suas próprias instalações e que integra outros dez campus do estado da Califórnia. O programa cobre as áreas de construções verdes, energias limpas, clima, alimentos e resíduos sólidos, cujo objec-tivo é promover a maior eficiência energética e a reciclagem de materiais. A política estabelece metas como a certificação para construção civil sustentável de todas as obras do campus, o aumento em 30% do consumo de papel reciclável nas universi-dades e de 20% nas compras de alimentos sustentáveis até 2020. A UCLA também criou um programa de eficiência energética atra-vés do qual conseguiu reduzir em 26% as suas emissões de car-bono, o uso da água também tem diminuído e menos lixo tem sido levado para os aterros. Como resultado, a instituição figura entre as dez melhores escolas verdes (Top 10 Green Schools) distinção concedida pelo Sierra Club, a mais influente organização ambien-talista do país.

OS NOVOS DOUTORES E ENGENHEIROS VERDES

A Athens Service celebrou uma parceria com os restaurantes através do qual os restos de comida vão para a compostagem e enriquecimento dos solos

GESTÃO SUSTENTABILIDADE

O QUE SÃO OS TRÊS “R”

123

VÍVI

AN S

UARE

Z

(*) Licenciatura, pós-graduação, mestrado, doutoramento.

(**) Academic Ranking of World Universities.

A ESCOLA DOS ANJOS NOME UCLA — Universidade da Califórnia Los AngelesDATA DE FUNDAÇÃO 1919NÚMERO TOTAL DE ALUNOS 39 593 INVESTIMENTO EM BOLSAS DE INVESTIGAÇÃO !2010" 1000 milhões de dólares CUSTO MÉDIO DE ESTUDANTE/ANO 52,6 mil dólaresALUNOS LICENCIADOS !EM 2010" !*" 11 583RANKING ENTRE AS UNIVERSIDADES AMERICANAS !**" 10.ª posiçãoPRÉMIOS NOBEL 5