Artes cênicas Cia. Teatral Ofit supera os desafios da ...

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C3 Campo Grande-MS |Sexta-feira, 13 de novembro de 2020 ARTES&LAZER Peça que será apresentada em dezembro vai celebrar o centenário de nascimento de Clarice Lispector Cia. Teatral Ofit supera os desafios da atual pandemia com ensaios on-line Empoderamento da mulher negra é tema de ‘Preta Patrícia’ Artes cênicas Lançamento Reprodução Divulgação *Sylvia Cesco O ato de escrever para todos nós, poetas e escritores, sem dúvida, é algo que envolve emo- ções multifacetadas... Uns es- crevem para si mesmos, como um processo de catarse, para expulsar os demônios que lhe corroem as entranhas ou para agradar seus tímidos anjos. Outros, para compartilhar sen- timentos diversos seja lá com quem for. Na motivação para escrever, de um modo geral, a maioria se reconhece tais como construtores de pontes por onde se realiza a travessia entre si e eles próprios; ou entre eles e o outro, como defendia o filósofo russo Mikhail M. Bakhtin. Com estilos variados, o fato é que todo aquele que escreve vai enchendo a vida de magias. Mas, haveria fórmulas mágicas para se escrever bem? Sim e não. Depende do conceito que se tem do que seja “escrever bem”. Seria dominar as regras gramaticais? Conhecer profun- damente as características dos gêneros literários? Fazer-se entender o mais claramente possível pelo seu leitor? O fato é que escrever bem é um conceito muito, muito subjetivo. Se para mim, a leveza de um texto, sua fluidez, seu ritmo, a cor e o sabor das palavras, e a criação de neologismos me levam às nuvens, para ou- tros, pode ser, na poesia, a métrica exata, a rima rebus- cada; na prosa, a objetividade, o realismo acadêmico, a fan- tasia contida, as incógnitas, os suspenses...Há umas quatro décadas, alguém da área lite- rária teve a “brilhante ideia” de parafrasear Thomas Edison (e não Einstein, como muitos imaginam) quando inventou a lâmpada, passando a divulgar que “fazer Literatura é 1% ins- piração e 99% transpiração”. Discordo totalmente de tal afir- mação, bastante fora de moda. Na minha opinião, escrever é tão subjetivo quanto seguir os caminhos do próprio coração. Para muitos, esses caminhos são bucólicas estradinhas, sem porteiras sem trancas, por onde as palavras caminham enquanto observam as belezuras que as cercam. Para outros, no entanto, são perigosas e modernas es- tradas asfaltadas, de mão única ou dupla, por onde a escrita vai passando, vai correndo, vai vo- ando, ora obedecendo às regras de trânsito gramatical, ora pas- sando pelos sinais vermelhos, alguns pela pressa de chegar, outros pela rebeldia com que dirige o seu ato criador, ou ainda por um daltonismo literário. Em todas essas três causas (há outras), nós que escre- vemos, ou pretendemos fazê-lo, temos que ter a maturidade de acolher aquele terceiro olhar, o de fora, o isento das preocupa- ções do autor, aquele que nos ajuda a dar cabos dos “sacis” citados por Monteiro Lobato em sua célebre reflexão: “Durante a revisão os erros se escondem, fazem-se positivamente invisí- veis. Mas, assim que o livro sai, tornam-se visibilíssimos, verda- deiros sacis a nos botar a língua em todas as páginas. Trata-se de um mistério que a ciência ainda não conseguiu decifrar”.Evidentemente que todos nós idealizamos um ce- nário sem sacis em nossos es- critos. Mas não tem jeito. Os gu- rizinhos travessos aprontaram até com nosso impecabilíssimo e elegantérrimo Machado de Assis. Se bem que, no caso do maior escritor da Língua Portuguesa (minha opinião), quem aprontou foi um bisavô do saci, chamado tipógrafo. Em 1901, Machado de Assis fez um agradecimento, ao fim do Pre- fácio da sua obra “Poesias Com- pletas”, às palavras elogiosas de um amigo, também escritor, Caetano Filgueiras. O livro foi publicado por Baptiste-Louis De Sacis e de Nós *Professora, cronista, poeta e presidente da UBE-MS. FALANDO DE Garnier, um francês radicado no Brasil, cuja editora ficava na França, motivo pelo qual “Poe- sias Completas” foi composta e impressa naquele país. Lá, aconteceu a maior ju- diaria com o nosso Machado: na frase “… A afeição do de- funto amigo a tal extremo lhe cegara o juízo que não viria a ponto reproduzir aqui aquela saudação inicial”, texto original de Machado sobre Filgueiras, que já havia falecido à época, a vogal “e” foi trocada por “a” pelo tipógrafo responsável, mudando totalmente seu sentido, além de ser, obviamente, um termo bastante inapropriado para um agradecimento, mesmo que o agraciado já tivesse partido para a outra vida. De modo que, acostumada que sou a ouvir os assobios dos sacis, não faço tragédia quando alguns deles saltam dos textos que escrevo ou dos que leio. E olha que leio bastante. Encontro-os nas obras de professores de Língua Portuguesa, em textos de revi- sores, de advogados... Enfim, eu, tu, ele, nós vós, eles, sem exceção, não estamos a salvo de ser incomodados por um, dois, três ou um monte de sacis a pularem, de modo travesso, de dentro dos textos já publicados, querendo nos constranger com suas línguas irônicas e sem juízo. Quando isso acontecer, lembre-se: se os sacis são um mistério que a Ciência ainda não conseguiu decifrar. Quem somos nós para fazê-lo? Da Redação A pandemia do novo co- ronavírus trouxe mudanças em diversas áreas culturais, inclusive no teatro. Os ensaios presenciais precisaram ceder espaço para as vivências por meio da internet, em reuniões on-line que mostram a capa- cidade que o artista tem de se reinventar. Nos encontros da Cia. Teatral Ofit, quatro atores e o diretor Nill Amaral trocam experiências e emo- ções semanalmente para dar vida ao texto que prestará uma homenagem à escritora Clarice Lispector. No elenco da peça estão os atores Lígia Pietro, Patricia Saravy, Samir Henrique e Ta- mara Prantl, e além desses, o diretor estuda convidar mais uma atriz para uma partici- pação na peça. Para a equipe, da distância física ao eco de uma caixa de som, os desafios dos ensaios on-line são muitos e vão além da tecnologia. “O processo on-line para mim é um desafio, não só em relação ao teatro, mas em todos os aspectos. Eu sou uma pessoa que preza pelo contato, eu gosto de conversar, de abraçar e, por isso, eu tenho muita dificuldade de viver essa ex- periência”, confessa o ator Samir Henrique. Além de ator, Samir também é profissional de saúde e, portanto, o cuidado com as medidas de biossegurança é ainda maior. “Ter essa plata- forma nova é desafiador, mas também muito interessante. São novas possibilidades de sentir a emoção do outro, de trabalhar com esse retorno, com esse jogo que é a atu- ação”, acredita o ator. A atriz Patricia Saravy con- corda com os desafios, mas percebe novas possibilidades no formato. “O desafio é como que a gente consegue dia- logar a partir desse lugar re- moto. Ao mesmo tempo cria-se uma praticidade de tempo, um tempo que nós estamos aproveitando mesmo, concen- tração bastante interessante. Acredito que a gente vá escoar tudo isso quando tivermos um ensaio presencial”, acredita. Readequação A peça é uma remontagem dirigida por Nill Amaral e contemplada pelo Programa Municipal de Fomento ao Te- atro, da Secretaria de Cul- tura e Turismo de Campo Grande (Fomteatro/Sectur). A primeira vez que o grupo ho- menageou Clarice foi em 2007, em memória ao trigésimo ano de falecimento da escritora. Em 2020, a história retorna reformulada aos palcos sul- -mato-grossenses para cele- brar o centenário de nasci- mento de sua inspiração. O texto do espetáculo também foi atualizado pelo drama- turgo Éder Rodrigues (Prêmio Off/Flip 2017 e Prêmio Guaru- lhos de Literatura 2019). “Mantivemos o fio condutor e estamos fazendo ajustes para uma melhor adequação do texto ao formato espeta- cular nesse contexto epidê- mico. Mas mantemos o ar- gumento principal e agora estamos testamos as cenas. É algo muito comum na lida teatral o texto sofrer inúmeras reconfigurações ao longo do processo dos ensaios. É a práxis que efetiva o texto e não o contrário. Por isso o exercício contínuo de cortes, ajustes, inserções, experimen- tações, confrontos”, explica Rodrigues. As apresentações aconte- cerão no mês de dezembro. “A transmissão será feita ao vivo direto do Teatro Sesc Cultura. O projeto foi selecionado no Fomteatro da Sectur e tem o apoio da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS) e do Sesc Cultura, que sempre apoiaram a trajetória artística da Cia. Ofit”, frisa. Marcelo Rezende Racismo, sexismo, autoes- tima, falta de oportunidades, diferenças de classe, sexuali- zação da mulher negra, estere- ótipos e a busca por um lugar ao sol, sendo preta no Brasil, são alguns dos temas relati- vamente polêmicos abordados no livro “Preta Patrícia” de Carolinne Oliveira, que além de escritora é atriz e modelo internacional. O lançamento do livro ocorre no dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra no país. Sobre a definição que inti- tula o livro, “Preta Patrícia”, Carol explica que uma “Preta Patrícia nada mais é do que uma mulher insaciável, que tem sede de ser a melhor versão de si mesma”. A autora ainda comenta sobre o termo “patricinha”. “No Brasil, esse termo veio a se popularizar nos anos 90 e geralmente o termo remete à mulheres que levam uma vida luxuosa, o que obviamente não é a realidade da maioria das mulheres ne- gras”, afirma Carol. Questionada sobre o que gira em torno do termo vol- tado para negras, a autora explica que ser uma Preta Patrícia não é sobre ser uma mulher nascida em família rica, ou seja, herdeira de al- guém, mas, sim, que as mu- lheres ocupantes desse status na vida o conquistaram por seus próprios méritos. Apesar de o Brasil ter 54% da população negra, con- forme um estudo realizado em 2015 pelo IBGE, a reali- dade é que os pretos estão bem longe de ocuparem des- taques na sociedade, sendo que pretos e ricos, nesse mesmo estudo, ocupam 17% da fatia de riqueza no país. “O livro traz verdades que todo mundo pensa, mas nin- guém tem coragem de falar, porque admitir a verdade, muitas vezes vergonhosa em nosso país, é enfrentar todo um sistema que foi projetado para te calar. Isso requer co- ragem e um pouco de loucura, já que eu corro o risco de ser mal interpretada por muitas pessoas, mas alguém precisa ter essa iniciativa e levantar essa bandeira. É necessário!”, afirma Carol. A escritora ainda completa, “Quero que mais pretas tenham acesso a informações valiosas e que mudem suas mentes, porque assim, poderão mudar a realidade de suas vidas. O livro tem uma linguagem direta e universal. Quero que todas as classes compreendam ele de forma clara, não precisa ter doutorado para ler meu livro”, dispara. Para o lançamento do livro, em função do coronavírus, não haverá evento presencial e, por enquanto, o livro estará disponível apenas na versão on-line. Na web, Carol promete agitar o público com surpresas em todos os seus canais e estão previstas participações especiais de influencers em lives, além do lançamento de um clipe com imagens filmadas durante os ensaios fotográficos realizados para esse livro na Europa e no Brasil. “Esse pro- jeto é mais do que um livro é uma filosofia de vida. Para embalar todo esse empodera- mento ainda teremos uma mú- sica própria!”, finaliza. (Com assessoria)

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C3Campo Grande-MS |Sexta-feira, 13 de novembro de 2020ARTES&LAZER

Peça que será apresentada em dezembro vai celebrar o centenário de nascimento de Clarice Lispector

Cia. Teatral Ofit supera os desafios da atual pandemia com ensaios on-line

Empoderamento da mulher negra é tema de ‘Preta Patrícia’

Artes cênicas

Lançamento

Reprodução

Divulgação*Sylvia Cesco

O ato de escrever para todos nós, poetas e escritores, sem dúvida, é algo que envolve emo-ções multifacetadas... Uns es-crevem para si mesmos, como um processo de catarse, para expulsar os demônios que lhe corroem as entranhas ou para agradar seus tímidos anjos. Outros, para compartilhar sen-timentos diversos seja lá com quem for. Na motivação para escrever, de um modo geral, a maioria se reconhece tais como construtores de pontes por onde se realiza a travessia entre si e eles próprios; ou entre eles e o outro, como defendia o filósofo russo Mikhail M. Bakhtin. Com estilos variados, o fato é que todo aquele que escreve vai enchendo a vida de magias. Mas, haveria fórmulas mágicas para se escrever bem? Sim e não. Depende do conceito que se tem do que seja “escrever bem”. Seria dominar as regras gramaticais? Conhecer profun-damente as características dos gêneros literários? Fazer-se entender o mais claramente possível pelo seu leitor? O fato é que escrever bem é um conceito muito, muito subjetivo.

Se para mim, a leveza de um texto, sua fluidez, seu ritmo, a cor e o sabor das palavras, e a criação de neologismos me levam às nuvens, para ou-tros, pode ser, na poesia, a métrica exata, a rima rebus-cada; na prosa, a objetividade, o realismo acadêmico, a fan-tasia contida, as incógnitas, os suspenses...Há umas quatro décadas, alguém da área lite-rária teve a “brilhante ideia” de parafrasear Thomas Edison (e não Einstein, como muitos imaginam) quando inventou a lâmpada, passando a divulgar que “fazer Literatura é 1% ins-piração e 99% transpiração”. Discordo totalmente de tal afir-mação, bastante fora de moda.

Na minha opinião, escrever é tão subjetivo quanto seguir os caminhos do próprio coração.

Para muitos, esses caminhos são bucólicas estradinhas, sem porteiras sem trancas, por onde as palavras caminham enquanto observam as belezuras que as cercam. Para outros, no entanto, são perigosas e modernas es-tradas asfaltadas, de mão única ou dupla, por onde a escrita vai passando, vai correndo, vai vo-ando, ora obedecendo às regras de trânsito gramatical, ora pas-sando pelos sinais vermelhos, alguns pela pressa de chegar, outros pela rebeldia com que dirige o seu ato criador, ou ainda por um daltonismo literário.

Em todas essas três causas (há outras), nós que escre-vemos, ou pretendemos fazê-lo, temos que ter a maturidade de acolher aquele terceiro olhar, o de fora, o isento das preocupa-ções do autor, aquele que nos ajuda a dar cabos dos “sacis” citados por Monteiro Lobato em sua célebre reflexão: “Durante a revisão os erros se escondem, fazem-se positivamente invisí-veis. Mas, assim que o livro sai, tornam-se visibilíssimos, verda-deiros sacis a nos botar a língua em todas as páginas.

Trata-se de um mistério que a ciência ainda não conseguiu decifrar”.Evidentemente que todos nós idealizamos um ce-nário sem sacis em nossos es-critos. Mas não tem jeito. Os gu-rizinhos travessos aprontaram até com nosso impecabilíssimo e elegantérrimo Machado de Assis. Se bem que, no caso do maior escritor da Língua Portuguesa (minha opinião), quem aprontou foi um bisavô do saci, chamado tipógrafo. Em 1901, Machado de Assis fez um agradecimento, ao fim do Pre-fácio da sua obra “Poesias Com-pletas”, às palavras elogiosas de um amigo, também escritor, Caetano Filgueiras. O livro foi publicado por Baptiste-Louis

De Sacis e de Nós

*Professora, cronista, poeta e presidente da UBE-MS.

FALANDO DE

*Professora, cronista, poeta e

Garnier, um francês radicado no Brasil, cuja editora ficava na França, motivo pelo qual “Poe-sias Completas” foi composta e impressa naquele país.

Lá, aconteceu a maior ju-diaria com o nosso Machado: na frase “… A afeição do de-funto amigo a tal extremo lhe cegara o juízo que não viria a ponto reproduzir aqui aquela saudação inicial”, texto original de Machado sobre Filgueiras, que já havia falecido à época, a vogal “e” foi trocada por “a” pelo tipógrafo responsável, mudando totalmente seu sentido, além de ser, obviamente, um termo bastante inapropriado para um agradecimento, mesmo que o agraciado já tivesse partido para a outra vida. De modo que, acostumada que sou a ouvir os assobios dos sacis, não faço tragédia quando alguns deles saltam dos textos que escrevo ou dos que leio. E olha que leio bastante. Encontro-os nas obras de professores de Língua Portuguesa, em textos de revi-sores, de advogados... Enfim, eu, tu, ele, nós vós, eles, sem exceção, não estamos a salvo de ser incomodados por um, dois, três ou um monte de sacis a pularem, de modo travesso, de dentro dos textos já publicados, querendo nos constranger com suas línguas irônicas e sem juízo. Quando isso acontecer, lembre-se: se os sacis são um mistério que a Ciência ainda não conseguiu decifrar. Quem somos nós para fazê-lo?

Da Redação

A pandemia do novo co-ronavírus trouxe mudanças em diversas áreas culturais, inclusive no teatro. Os ensaios presenciais precisaram ceder espaço para as vivências por meio da internet, em reuniões on-line que mostram a capa-cidade que o artista tem de se reinventar. Nos encontros da Cia. Teatral Ofit, quatro atores e o diretor Nill Amaral trocam experiências e emo-ções semanalmente para dar vida ao texto que prestará uma homenagem à escritora Clarice Lispector.

No elenco da peça estão os atores Lígia Pietro, Patricia Saravy, Samir Henrique e Ta-mara Prantl, e além desses, o diretor estuda convidar mais uma atriz para uma partici-pação na peça. Para a equipe, da distância física ao eco de uma caixa de som, os desafios dos ensaios on-line são muitos e vão além da tecnologia. “O processo on-line para mim é um desafio, não só em relação ao teatro, mas em todos os aspectos. Eu sou uma pessoa que preza pelo contato, eu gosto de conversar, de abraçar e, por isso, eu tenho muita dificuldade de viver essa ex-periência”, confessa o ator

Samir Henrique.Além de ator, Samir também

é profissional de saúde e, portanto, o cuidado com as medidas de biossegurança é ainda maior. “Ter essa plata-forma nova é desafiador, mas também muito interessante. São novas possibilidades de sentir a emoção do outro, de trabalhar com esse retorno, com esse jogo que é a atu-ação”, acredita o ator.

A atriz Patricia Saravy con-corda com os desafios, mas percebe novas possibilidades no formato. “O desafio é como que a gente consegue dia-logar a partir desse lugar re-moto. Ao mesmo tempo cria-se uma praticidade de tempo, um tempo que nós estamos aproveitando mesmo, concen-tração bastante interessante. Acredito que a gente vá escoar tudo isso quando tivermos um ensaio presencial”, acredita.

ReadequaçãoA peça é uma remontagem

dirigida por Nill Amaral e contemplada pelo Programa Municipal de Fomento ao Te-atro, da Secretaria de Cul-tura e Turismo de Campo Grande (Fomteatro/Sectur). A primeira vez que o grupo ho-menageou Clarice foi em 2007, em memória ao trigésimo ano

de falecimento da escritora. Em 2020, a história retorna

reformulada aos palcos sul--mato-grossenses para cele-brar o centenário de nasci-mento de sua inspiração. O texto do espetáculo também foi atualizado pelo drama-turgo Éder Rodrigues (Prêmio Off/Flip 2017 e Prêmio Guaru-

lhos de Literatura 2019).“Mantivemos o fio condutor

e estamos fazendo ajustes para uma melhor adequação do texto ao formato espeta-cular nesse contexto epidê-mico. Mas mantemos o ar-gumento principal e agora estamos testamos as cenas. É algo muito comum na lida

teatral o texto sofrer inúmeras reconfigurações ao longo do processo dos ensaios. É a práxis que efetiva o texto e não o contrário. Por isso o exercício contínuo de cortes, ajustes, inserções, experimen-tações, confrontos”, explica Rodrigues.

As apresentações aconte-

cerão no mês de dezembro. “A transmissão será feita ao vivo direto do Teatro Sesc Cultura. O projeto foi selecionado no Fomteatro da Sectur e tem o apoio da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS) e do Sesc Cultura, que sempre apoiaram a trajetória artística da Cia. Ofit”, frisa.

Marcelo Rezende

Racismo, sexismo, autoes-tima, falta de oportunidades, diferenças de classe, sexuali-zação da mulher negra, estere-ótipos e a busca por um lugar ao sol, sendo preta no Brasil, são alguns dos temas relati-vamente polêmicos abordados no livro “Preta Patrícia” de Carolinne Oliveira, que além de escritora é atriz e modelo internacional. O lançamento do livro ocorre no dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra no país.

Sobre a definição que inti-tula o livro, “Preta Patrícia”, Carol explica que uma “Preta Patrícia nada mais é do que uma mulher insaciável, que tem sede de ser a melhor versão de si mesma”. A autora ainda comenta sobre o termo “patricinha”. “No Brasil, esse termo veio a se popularizar nos anos 90 e geralmente o termo remete à mulheres que levam uma vida luxuosa, o que obviamente não é a realidade da maioria das mulheres ne-gras”, afirma Carol.

Questionada sobre o que gira em torno do termo vol-tado para negras, a autora explica que ser uma Preta Patrícia não é sobre ser uma mulher nascida em família rica, ou seja, herdeira de al-guém, mas, sim, que as mu-lheres ocupantes desse status na vida o conquistaram por seus próprios méritos.

Apesar de o Brasil ter 54% da população negra, con-forme um estudo realizado em 2015 pelo IBGE, a reali-dade é que os pretos estão bem longe de ocuparem des-taques na sociedade, sendo que pretos e ricos, nesse mesmo estudo, ocupam 17% da fatia de riqueza no país.

“O livro traz verdades que todo mundo pensa, mas nin-

guém tem coragem de falar, porque admitir a verdade, muitas vezes vergonhosa em nosso país, é enfrentar todo um sistema que foi projetado para te calar. Isso requer co-ragem e um pouco de loucura, já que eu corro o risco de ser mal interpretada por muitas pessoas, mas alguém precisa ter essa iniciativa e levantar essa bandeira. É necessário!”, afirma Carol.

A escritora ainda completa, “Quero que mais pretas tenham acesso a informações valiosas e que mudem suas mentes, porque assim, poderão mudar a realidade de suas vidas. O livro tem uma linguagem direta e universal. Quero que todas as classes compreendam ele de forma clara, não precisa ter

doutorado para ler meu livro”, dispara.

Para o lançamento do livro, em função do coronavírus, não haverá evento presencial e, por enquanto, o livro estará disponível apenas na versão on-line. Na web, Carol promete agitar o público com surpresas em todos os seus canais e estão previstas participações especiais de influencers em lives, além do lançamento de um clipe com imagens filmadas durante os ensaios fotográficos realizados para esse livro na Europa e no Brasil. “Esse pro-jeto é mais do que um livro é uma filosofia de vida. Para embalar todo esse empodera-mento ainda teremos uma mú-sica própria!”, finaliza. (Com assessoria)