Arte Gótica

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ARTE GÓTICA Estilo que dominou a arte européia, especialmente a arquitetura, entre os séculos XII e XV. Com o românico, cronologicamente anterior, é uma das grandes vertentes da arte medieval. Após o despertar do mundo românico, a Europa da baixa Idade Média (das cruzadas até o século XV), conhecida como Europa das catedrais, experimentou excepcional apogeu cultural, político e econômico, cujo expoente artístico manifestou-se no florescimento do gótico. O termo gótico, de início empregado em sentido pejorativo (arte dos godos) pelos artistas do Renascimento, designa um conjunto de manifestações artísticas desenvolvidas entre meados do século XII e início do XV -- em alguns lugares, até o século XVI. Tais manifestações foram possibilitadas pela evolução das técnicas de construção, com o aparecimento do arco ogival, por exemplo, e em conseqüência do surgimento de uma forma de vida e uma cultura urbanas, dominadas pela nova burguesia comercial. Arquitetura Em oposição ao isolamento da abadia românica, a catedral, expressão arquitetônica mais típica do gótico, nasceu no centro das cidades. Para sua edificação contribuíram burgueses e artesãos, aqueles com o financiamento, estes com a arte e a técnica. Tratava-se, portanto, do resultado de um esforço coletivo numa sociedade em mudança, de tal modo que, à medida que a riqueza da cidade crescia, aperfeiçoava-se a técnica construtiva e a decoração da catedral, que se convertia em símbolo de prestígio de seu próprio núcleo urbano. Elementos gerais - A principal característica da arquitetura gótica é a verticalidade, que simboliza o desejo de espiritualidade, evidenciado nas torres vazadas e leves, na sóbria decoração dos portais, na elevação de grandes naves e na multiplicação dos elementos de sustentação externa das estruturas. A verticalidade foi possibilitada pelas inovações técnicas, que consistiam em distribuir o peso das coberturas entre diversos elementos arquitetônicos, como arcos ogivais, pilares, contrafortes e arcobotantes externos. Assim, ao contrário do que sucedia nas igrejas românicas, as paredes quase não suportavam o peso das abóbadas, o que favoreceu a leveza das paredes góticas, às vezes

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Estilo que dominou a arte européia, especialmente a arquitetura, entre os séculos XII e XV. Com o românico, cronologicamente anterior, é uma das grandes vertentes da arte medieval.

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  • ARTE GTICA

    Estilo que dominou a arte europia, especialmente a arquitetura, entre os

    sculos XII e XV. Com o romnico, cronologicamente anterior, uma das

    grandes vertentes da arte medieval.

    Aps o despertar do mundo romnico, a Europa da baixa Idade Mdia (das

    cruzadas at o sculo XV), conhecida como Europa das catedrais,

    experimentou excepcional apogeu cultural, poltico e econmico, cujo expoente

    artstico manifestou-se no florescimento do gtico.

    O termo gtico, de incio empregado em sentido pejorativo (arte dos godos)

    pelos artistas do Renascimento, designa um conjunto de manifestaes

    artsticas desenvolvidas entre meados do sculo XII e incio do XV -- em alguns

    lugares, at o sculo XVI. Tais manifestaes foram possibilitadas pela

    evoluo das tcnicas de construo, com o aparecimento do arco ogival, por

    exemplo, e em conseqncia do surgimento de uma forma de vida e uma

    cultura urbanas, dominadas pela nova burguesia comercial.

    Arquitetura

    Em oposio ao isolamento da abadia romnica, a catedral, expresso

    arquitetnica mais tpica do gtico, nasceu no centro das cidades. Para sua

    edificao contriburam burgueses e artesos, aqueles com o financiamento,

    estes com a arte e a tcnica. Tratava-se, portanto, do resultado de um esforo

    coletivo numa sociedade em mudana, de tal modo que, medida que a

    riqueza da cidade crescia, aperfeioava-se a tcnica construtiva e a decorao

    da catedral, que se convertia em smbolo de prestgio de seu prprio ncleo

    urbano.

    Elementos gerais - A principal caracterstica da arquitetura gtica a

    verticalidade, que simboliza o desejo de espiritualidade, evidenciado nas torres

    vazadas e leves, na sbria decorao dos portais, na elevao de grandes

    naves e na multiplicao dos elementos de sustentao externa das estruturas.

    A verticalidade foi possibilitada pelas inovaes tcnicas, que consistiam em

    distribuir o peso das coberturas entre diversos elementos arquitetnicos, como

    arcos ogivais, pilares, contrafortes e arcobotantes externos. Assim, ao contrrio

    do que sucedia nas igrejas romnicas, as paredes quase no suportavam o

    peso das abbadas, o que favoreceu a leveza das paredes gticas, s vezes

  • quase inexistentes, vazadas por imensos janeles. O processo de construo

    proporcionava um espao interno de grande altura e luminosidade, quase

    sempre decorado com vitrais, que filtravam a luz e acentuavam a atmosfera de

    recolhimento dos fiis.

    Os dois elementos fundamentais da arquitetura gtica foram o arco ogival e a

    abbada de ogivas entrecruzadas. O arco ogival, formado pelo ngulo de dois

    arcos que se cortam, transmite as presses das abbadas para as laterais, ao

    contrrio do que ocorre no arco de meio ponto, ou de bero, no qual as

    presses incidem inteiramente na vertical e exigem paredes resistentes. A

    abbada de ogivas entrecruzadas baseia-se no cruzamento de dois arcos

    ogivais, que formam quatro elementos triangulares, ou sees de abbada.

    Cada vo quadrado de abbada de ogivas cruzadas delimitado por dois

    arcos de cinta, perpendiculares ao eixo maior da nave, e dois arcos formeiros,

    perpendiculares aos anteriores.

    Com o tempo, a abbada gtica evoluiu e apareceu a abbada sexpartida, de

    forma retangular, mediante o acrscimo de um terceiro arco ogival, paralelo

    aos arcos de cinta. Mais tarde, esse tipo foi reforado com nervuras

    suplementares, chamadas terciares. No fim do gtico surgiram abbadas

    complicadssimas, com formas estreladas, de funo mais decorativa que

    arquitetnica.

    Os elementos sustentadores mais freqentes j no eram as colunas

    cilndricas, mas os pilares com colunetas adossadas, destinadas a suportar a

    presso das diferentes nervuras das abbadas. Por fim surgiram os

    contrafortes, situados do lado de fora do edifcio, que recebiam os pesos das

    zonas superiores e permitiam paredes finas, apenas com finalidades de

    vedao, e assim possibilitavam a abertura de grandes janelas, para colocao

    dos vitrais.

    Frana - O estilo gtico propriamente dito se configurou em torno de Paris, nos

    domnios da monarquia francesa conhecidos como le-de-France. Uma de suas

    primeiras manifestaes, que data da primeira metade do sculo XII, foi a

    abadia de Saint-Denis, transformada em panteo da realeza.

    Durante algum tempo, utilizaram-se elementos gticos sobre estruturas

    romnicas, enquanto eram testados novos sistemas construtivos, que, j na

    segunda metade do sculo XII, puderam ser aplicados nas grandes catedrais

    de Laon, Senlis e Paris, entre outras. Definiu-se ento a tpica fachada gtica,

    composta por um portal triplo com decorao escultrica, uma grande roscea

    central e duas torres laterais arrematadas em terrao ou capitel.

  • No sculo XIII, o gtico francs ganhou maior esplendor. Modificaram-se os

    traados interiores pelo acrscimo dos trifrios, estreitas galerias com arcadas,

    por cima das arquivoltas das naves laterais; deu-se mais importncia abside

    e capela-mor; obteve-se maior altura e proliferaram os janeles com vitrais. A

    catedral de Chartres tornou-se modelo desse chamado "gtico clssico", ao

    lado de outras catedrais clebres, como as de Reims e de Amiens.

    Na segunda metade do sculo XIII, durante o reinado de so Lus (Lus IX), as

    igrejas passaram a caracterizar-se pela leveza e luminosidade. Um exemplo

    excepcional a Sainte-Chapelle de Paris, na qual a parede foi substituda por

    uma estrutura de sustentao totalmente coberta por vitrais.

    Os longos conflitos do sculo XIV impediram o incio de novos grandes

    projetos. A atividade arquitetnica dessa poca limitou-se concluso das

    obras j comeadas. No sculo XV, a arquitetura alcanou um estilo

    exuberante, denominado flamboyant (flamejante), em que os ornatos curvam-

    se e recurvam-se em forma de chamas. Caracteriza-se pela decorao

    excessiva, pelo aparecimento de novos tipos de arcos (cimcio, carpanel,

    escaro), pela simplificao dos suportes e pela complexidade das nervuras

    das abbadas. Alguns de seus melhores exemplos so o mosteiro da ordem de

    Cluny, em Paris, e a igreja da Madeleine de Troyes.

    Ilhas britnicas - O estilo gtico das ilhas britnicas teve desenvolvimento muito

    diferente do resto da Europa. Embora as abbadas de ogivas j fossem

    conhecidas no romnico, como atesta a catedral de Durham, s no fim do

    sculo XII desenvolveu-se uma primeira arquitetura gtica, conhecida como

    early English. Apesar da influncia francesa, esse estilo acabou por

    desenvolver formas prprias, especialmente o tipo de fachada maneira de

    anteparo, que no corresponde ao espao interno. Os melhores exemplos

    podem ser encontrados na abside da catedral de Canterbury, do fim do sculo

    XII, e mais tarde em catedrais como as de Worcester e Lincoln. Mais fiel ao

    estilo francs a abadia de Westminster, iniciada em meados do sculo XIII.

    No comeo do sculo XIV dominou o estilo decorado (decorated style), que se

    antecipou ao flamboyant e lanou a abbada em leque, como a do claustro da

    catedral de Gloucester. A partir de meados do sculo XIV houve uma reao

    contra a decorao excessiva e surgiu o chamado estilo perpendicular

    (perpendicular style). Voltou-se ento a acentuar a tendncia verticalizante, as

    janelas decoradas ocuparam as paredes e prosseguiu o uso das abbadas em

    leque. As obras mais representativas desse estilo foram as capelas de

    Henrique VII, em Westminster, e do King's College, em Cambridge, ambas do

    comeo do sculo XVI.

  • Pases Baixos e Alemanha - Nos Pases Baixos, que na poca incluam a

    Blgica, a arquitetura gtica materializou-se tanto em edificaes religiosas

    (Saint-Bavon de Gand e So Salvador de Bruges) como em construes civis

    (bolsa de Ypres, pao municipal de Bruxelas e as famosas atalaias ou torres de

    vigia (beffrois). Nos pases germnicos, a partir da segunda metade do sculo

    XIII difundiu-se a chamada Hallenkirche, igreja em que as naves laterais tm

    aproximadamente a mesma altura da nave central, como as catedrais de

    Magdeburgo e Regensburg. Tambm usou-se muito as fachadas de uma s

    torre, como em Freiburg.

    Espanha - A arquitetura gtica espanhola cristaalizou-se lentamente atravs de

    uma justaposio de elementos romnicos e gticos. Comeou-se a empregar

    a abbada de ogivas na primeira metade do sculo XII, graas ao papel difusor

    da ordem cisterciense, fundadora dos mosteiros das Huelgas, em Castela, e de

    Poblet e Santes Creus, na Catalunha.

    A fase de transio entre o romnico e o gtico denomina-se "protogtica", e a

    ela pertencem obras como a cripta do mestre Mateus de Santiago de

    Compostela e as catedrais de vila e Sigenza, que combinam elementos

    caractersticos dos dois estilos.

    O poder alcanado pela monarquia castelhana com Fernando III o Santo

    impulsionou muitas iniciativas, nas quais a influncia francesa foi dominante. A

    isso acrescentou-se a peregrinao ou caminho de Santiago, que auxiliou a

    expanso do gtico, como antes havia feito com o romnico.

    As catedrais espanholas mais clebres comearam a ser construdas no sculo

    XIII. o caso das de Burgos, Toledo e Len, com altas torres nas fachadas,

    abundante decorao escultrica nos portais e vitrais de grande virtuosismo.

    No sculo XIV destacou-se principalmente a arquitetura catal, caracterizada

    pela austeridade de linhas, pelo predomnio da parede e pela decorao

    escassa. O espao interno era mais amplo e unitrio, com planta regular ou de

    salo e trs espaosas naves no muito altas. Entre outras, devem ser

    assinaladas as catedrais de Barcelona e Palma de Maiorca, assim como a

    igreja de Santa Mara del Mar, na capital catal. Quanto arquitetura civil,

    destacou-se o salo Tinell do palcio Real da mesma cidade.

    A introduo do flamboyant no sculo XV proporcionou um particular esplendor

    construtivo, com edifcios de grandes propores e rica ornamentao, caso da

    catedral de Sevilha. Em meados desse mesmo sculo evoluiu-se para formas

    profusamente decoradas, que originaram um estilo distinto, no qual se

    misturaram formas gticas hispnicas e mudjares com influncias do

    flamboyant. Esse estilo, chamado hispano-flamengo, foi o preldio do

  • Renascimento espanhol. Seu melhor expoente encontra-se na igreja de San

    Juan de los Reyes, em Toledo.

    Itlia e Portugal - O gtico teve pouca expresso na Itlia, mas adquiriu nesse

    pas caractersticas peculiares: horizontalidade, decorao exterior com

    mrmores coloridos, poucas janelas e coberturas de madeira. Destacaram-se

    as catedrais de Siena e Florena e o palcio dos Doges em Veneza. Em

    Portugal os exemplos mais representativos do gtico so os mosteiros de

    Alcobaa e da Batalha. Na poca final do gtico, em fins do sculo XV, j

    mesclado de influncias renascentistas, surgiu o estilo manuelino, cujos

    exemplos arquitetnicos mais caractersticos so o mosteiro dos Jernimos,

    em Lisboa, e a sala capitular do convento de Tomar.

    Escultura

    As principais caractersticas da escultura gtica so a tendncia ao naturalismo

    e a busca da beleza ideal. Em oposio rigidez e abstrao prprias do

    romnico, os escultores gticos pretenderam imitar a natureza e tanto

    reproduziram pequenos detalhes vegetais como figuras dotadas de certo

    movimento e expressividade.

    O tipo de religiosidade havia mudado em relao ao da alta Idade Mdia, e

    estabeleceu-se uma relao mais direta com a divindade. Ante o todo-

    poderoso Deus romnico, o gtico centrou-se nas figuras de Cristo e da

    Virgem; ante o hieratismo anterior daquele estilo, buscou a humanidade das

    figuras divinas.

    Nos prticos das catedrais narravam-se em escultura, com clara finalidade

    didtica, os principais temas religiosos, como a vida de Cristo e da Virgem, a

    Ressurreio e o Juzo Final, e at alguns profanos, como as estaes do ano

    ou o zodaco. No fim do gtico, a escultura em relevo acabou por invadir

    completamente as fachadas. Paralelamente a estas, o relevo se desenvolveu

    em retbulos, monumentos funerrios e bancadas de coros, lugares em que,

    s vezes, se chegou a empregar a madeira. A escultura em redondo teve

    desenvolvimento menor e em geral se dedicou imagem de culto.

    Durante a evoluo do gtico, a escultura exterior foi-se libertando do limite

    arquitetnico para adquirir volume e movimento prprios. Muitas vezes as

    figuras se relacionavam entre si e expressavam sentimentos. Os panejamentos

    foram ganhando mobilidade e, em muitos casos, deixaram intuir a anatomia,

    representada cada vez melhor. Depois de um perodo de grande

    expressividade, a escultura gtica evoluiu, na fase final, para um patetismo

    excessivo.

  • A escultura gtica se estendeu da zona da le-de-France, seu primeiro foco, a

    outras regies e pases europeus. Destacam-se as fachadas dos cruzeiros da

    catedral de Chartres, assim como o portal dedicado Virgem, na Notre-Dame

    de Paris, e as fachadas de Amiens e Reims, todas do sculo XIII.

    Durante o sculo XIV verificou-se um alongamento das formas e a escultura

    pde ento separar-se do limite arquitetnico. No fim desse mesmo sculo

    criou-se em Dijon, na corte dos duques de Borgonha, uma brilhante oficina

    escultrica, onde trabalhou Claus Sluter, autor do "Poo de Moiss" e do

    sepulcro de Filipe II o Audaz.

    Na Itlia verificou-se um abandono progressivo da esttica bizantina

    dominante, graas chegada do gtico francs e influncia da escultura

    clssica. Os melhores representantes foram Nicola Pisano, com o plpito do

    batistrio de Pisa; Andrea Pisano, que fez a primeira porta do batistrio de

    Florena; e Arnolfo di Cambio.

    Na Espanha, a escultura soube transformar os modelos importados, segundo

    um estilo particular, e tendeu para um misticismo severo e de intenso realismo.

    A escultura de portais seguiu o exemplo francs, como ocorreu com as portas

    do Sarmental e da Coronera, na catedral de Burgos, ou com a "Virgem branca"

    no mainel da fachada principal da catedral de Len.

    No sculo XIV, a escultura exterior das catedrais tornou-se mais minuciosa, por

    influncia das obras em marfim e da arte mudjar. Datam dessa poca a Porta

    do Relgio da catedral de Toledo, o portal da igreja de Santa Maria de Vitria e

    a Porta Preciosa da catedral de Pamplona. O conjunto mais importante da

    escultura gtica do sculo XIV est na Catalunha e formado por sepulcros e

    retbulos de clara influncia italiana, como o tmulo de D. Joo de Arago.

    No sculo XV a influncia da Borgonha e de Flandres tornou-se dominante e

    muitos mestres dessas nacionalidades chegaram pennsula ibrica. Em

    Castela destacaram-se os trabalhos de Simo de Colnia (So Paulo de

    Valladolid), Egas Cueman (portal dos Lees da catedral de Toledo), Juan Guas

    (San Juan de los Reyes de Toledo) e Gil de Silo (sepulcros de Joo II e Isabel

    de Portugal na cartuxa de Miraflores). Em Sevilha, a influncia flamenga

    mostra-se na obra de Lorenzo Mercadante, autor do sepulcro do cardeal

    Cervantes. Em Arago, a esttica borgonhesa se fez sentir na obra de

    Guillermo Sagrera.

    Pintura

  • Com a reduo da extenso da parede nas igrejas, restringiu-se a pintura

    mural, que ficou relegada principalmente a salas capitulares e edifcios civis.

    Em seu lugar, as igrejas gticas se encheram de vitrais, que transformaram os

    efeitos luminosos em jogos pictricos. Os mais destacados esto nas catedrais

    francesas de Chartres e Notre-Dame de Paris, e na de Len, na Espanha.

    Tambm aumentou a produo de tapearias, que decoravam as paredes de

    palcios e casas senhoriais, e ganharam especial expanso a arte da miniatura

    e a pintura de cavalete sobre madeira, mais fcil de transportar e destinada

    composio de retbulos.

    Durante os sculos XIII e XIV, a pintura era linear, muito estilizada, de ritmo

    sinuoso e dominada pelo desenho e pela elegncia formal. Pouco a pouco, a

    plenitude do romnico cedeu lugar a figuras com algum sentido do volume,

    colocadas sobre fundos planos, quase sempre dourados, e, mais tarde, com

    certa sugesto de paisagem. Os temas pictricos procediam das hagiografias,

    das Sagradas Escrituras e dos relatos cavalheirescos. Tal como sucedeu com

    a arquitetura e a escultura, esse primeiro estilo da pintura gtica tambm se

    originou na Frana, motivo pelo qual foi chamado franco-gtico. Suas melhores

    manifestaes so vitrais e miniaturas.

    O refinado mundo corteso, que concedia uma singular importncia mulher,

    produziu no sculo XV um novo estilo, conhecido como internacional, que unia

    a esttica franco-gtica s influncias dos mestres de Siena. Entre outras

    obras, destacaram-se as miniaturas do livro As riqussimas horas do duque de

    Berry, de autoria dos irmos Limbourg.

    Com o desenvolvimento das escolas florentina e de Siena nos sculos XIII e

    XIV, a Itlia encaminhou-se para o Renascimento, com seus novos postulados

    de busca de volume e de preocupao com a natureza. Entre seus principais

    representantes devem ser mencionados Cimabue e Giotto, em Florena, e

    Duccio di Buoninsegna e Simone Martini, em Siena.

    A minuciosa pintura flamenga a leo chegou a ser o estilo mais apreciado no

    mundo gtico. A utilizao do leo possibilitou cores mais vivas e brilhantes e

    maior detalhismo. Os iniciadores dessa escola foram os irmos Hubert e Jan

    van Eyck, que pintaram o "Polptico da adorao do Cordeiro mstico". Outros

    artistas destacados foram Roger van der Weyden, Hans Memling e Grard

    David.

    Neogtico

  • A cpia acadmica do gtico medieval, estilo aplicado decorao e

    principalmente arquitetura, que floresceu no sculo XIX, teve como base

    esttica o romantismo e suas tendncias medievalistas. Mas na Inglaterra, o

    neogtico, ou pseudogtico, j aparece por volta de 1755, adotado pelo escritor

    Horace Walpole, criador do chamado romance gtico, em sua famosa

    residncia de Strawberry Hill, onde mandou at mesmo construir rplicas de

    autnticas runas gticas.

    O mais importante monumento neogtico na Inglaterra o Parlamento, em

    Londres, construdo entre 1837 e 1843 por Charles Berry e Augustus Pugin. Na

    Frana, a igreja da Notre Dame de Bonsecour, de Viollet-le-Duc, concluda em

    1842. Nos Estados Unidos os arquitetos do neogtico so Ralph Adams Cram,

    autor do projeto da igreja de Saint John the Divine, e James Renwick, da

    catedral de Saint Patrick, ambas em Nova York. Na Alemanha, a catedral de

    Colnia, embora baseada em planos do sculo XIII e em fundaes medievais,

    foi construda em estilo neogtico, em 1872, pretendendo ser um exemplo

    perfeito do gtico ideal.

    Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicaes Ltda.