Arte brasileiros
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ESPECIAL PRIMITIVO ERUDITO POPULAR
Agenda Exposições Keith Haring Marcelo Solá Rebecca Horn Max Ernst Pavilhão das Culturas Brasileiras arteBA Raul Córdula
Poteiro Brennand Museu Afro Brasil Emanuel Araújo Galeria Brasiliana Mercado Buenos Aires Berlim Miami julho agosto 2010
número 5 www.brasileiros.com.br
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Casa Cor 2010
Casa do Mirante - Débora Aguiar Armário de correr Italiano | Satyrium
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ARTE!Brasileiros número 5 julho agosto 2010 www.brasileiros.com.br
A Revista Mensal de Reportagens
Diretor Responsável Hélio Campos Mello [email protected]
Diretora de Planejamento Patrícia Rousseaux [email protected]
Diretor Comercial Ricardo Battistini [email protected]
Assistente Comercial Gislaine de Oliveira [email protected]
Atendimento ao Público Thaís Giglio [email protected]
Gerente Administrativa Eliane Massae Yamaguishi [email protected]
Assistente de Marketing Isabel Torello [email protected]
Copeira Irani Estrela Dantas
Diretor Responsável Hélio Campos Mello
Diretora Editorial Patrícia Rousseaux
Editora Leonor Amarante
Coordenadora Editorial Cândida Del Tedesco
Repórteres Ana Cândida Vespucci
Marcelo Pinheiro
Revisora Lilian Brazão
Produtora Fotográfica Magali Giglio
Fotógrafos Luiza Sigulem
Marcos “Coil” Lopes
Chefe de Arte Alan Dainovskas
Designer Davi Caseira
Rua Mourato Coelho, 798 – 8 º andar - Pinheiros05417-001 – São Paulo – SP
Tel.: (55 11) 3817 [email protected]
CONSULTORIA EMPRESARIALCEA, Consultoria Empresarial & Associados
Luiz Antonio Castro
CONSULTORIA CONTÁBIL, FISCAL E TRABALHISTAOliveira & Nogueira Auditoria e Consultoria, Soluções
Contábeis S/C Ltda.
IMPRESSÃOIBEP Gráfica
Avenida Alexandre Mackenzie, 61905322-000 – Jaguaré – SP
DISTRIBUIÇÃOFernando Chinaglia Distribuidora S.A.
Rua Teodoro da Silva, 90720560-900 – Vila Isabel – RJ
Código ISSN 1981-559XTiragem: 23.000 exemplares
A revista ARTE!Brasileiros é uma publicação da Brasileiros Editora Ltda.
ARTE!
CAPA: OBRA DE ANTONIO POTEIRO, A CEIA NO INFERNO,120 X 120 CM, 1989. FOTO: RICARDO RAFAEL
A Revista Bimestral de Arte
BRASILEIROS EDITORA LTDA.
Adélia Borges tem se destacado como
crítica de arte, design e como curadora
de exposições importantes. Já dirigiu o
Museu da Casa Brasileira e atualmente
está à frente do Pavilhão das Culturas
Brasileiras.
Ana Maria Ciccacio é jornalista formada
pela ECA-USP. Trabalhou em veículos como
TV Cultura, jornais O Estado de S. Paulo e
Jornal da Tarde, e revistas. Especialista em
jornalismo cultural responde pela Assesso-
ria de Imprensa da Associação Viva.
Raul Córdula é artista plástico e curador independente,professor de história da arte. Comissário no Brasil do
Conselho Mundial de Artesanato, ONG filiada à UNESCO,
implantou o Salão Mambahia de Artes Plásticas (1994)
e o Museu de Arte Assis Chateaubriand, em Campina
Grande - PB (1967). Juri de Salões de Artes, coordenou
o intercâmbio cultural Lé Hors Là, entre França e Brasil.
Mario Gioia estreia na ARTE!Brasileiros
com uma curiosa matéria sobre o galerista
Roberto Rugiero, um especialista em arte
popular com sotaque erudito. Repórter daFolha de S.Paulo, Gioia tem se destacado
em inúmeras matérias sobre cultura.
Jaimes Prades faz parte de um seleto
grupo de grafiteiros que ajuda a adensar
a história da arte brasileira. Integrante
do grupo Tupinãodá, que atuou inten-
samente na década de 80, Prades é o
artista escolhido para comentar a arte
de Keith Haring, o mais conhecido gra-
fiteiro do circuito internacional.
Matilde Marin é argentina, artista plástica,
fotógrafa, historiadora e professora de arte.
Para esta quinta edição faz um balanço
das melhores exposições em cartaz em
Buenos Aires, que ninguém em visita a
capital deve perder.
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ALEJANDRA von HARTZ GALLERY miami
2010
may – june
the constructive élan
selected works by:
fabián burgos / marta chilindrón / eduardo costa/danilo dueñas / eugenio espinoza jaime gili /
silvana lacarra / susana lescano / artur lescher / adriana minoliti / karina peisajovich / pablo siquier /
horacio zabala
works on paper by:
magdalena atria /inés bancalari / teresa pereda /
ana tiscornia
july
closed for vacation
september – october
matthew deleget / david e. peterson
november – december marta chilindrón / lucio dorr / henrique oliveira
2630 NW 2ND. AVENUE | MIAMI, FL 33127 | WYNWOOD ART DISTRICT | USA | +1 305 438 0220
WWW.ALEJANDRAVONHARTZ.NET | [email protected]
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PRIMITIVO OU ERUDITO?NÃO DÁ PARA RADICALIZAR
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T E R V E N Ç Ã O N A
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D E
C E C Í L I A
A V E N D A Ñ O
POR LEONOR AMARANTE, EDITORA
Arte popular ou arte erudita? Quando se fala de conceitos, por
qualquer ângulo que se analise a questão, não dá para radicalizar.
As duas vertentes, aparentemente distintas, se afastam e se cruzam
constantemente. Nesta quinta edição, a ARTE!Brasileiros levanta
questões que correm por fora do mercado internacional da arte
“erudita”. O assunto da inspiração, recriação ou simples apropriaçãoda arte primitiva é retomada com a exposição do MoMA, Primitivismo
no Século 20. Picasso, Henry Moore, Paul Klee se deslumbraram com
a arte da África, Oceania, Ásia e Américas. Nessa coletiva suas obras
foram colocadas lado a lado, mostrando o quanto a arte primitiva
serviu de estímulo para que eles ousassem.
Os museus brasileiros também costuram suas coleções com a linha
tênue entre o primitivo e o erudito, como confirmam artigos sobre o
Museu Afro Brasil, o Pavilhão das Culturas Brasileiras, ambos em São
Paulo, ou em espaços culturais particulares, como o Inhotim, em Minas
Gerais, e a Oficina Brennand, em Pernambuco. Convidamos críticos
de arte, galeristas, artistas, diretores de museus, pesquisadores para
refletirem sobre o assunto. O resultado é tão caleidoscópico quanto as
questões que o tema suscita. Como comenta em artigo, Adélia Borges,
diretora do Pavilhão das Culturas Brasileiras: “Construir diálogos entre
as culturas letradas e iletradas, ou cultas e populares, é o objetivo do
museu evidenciar como ambas se alimentam”.
Não foi por acaso que um mês antes da morte de Antonio Poteiro, já
o havíamos elegido capa desta edição. Afinal, ele foi um dos artistas
que melhor materializou a alegria visual da pintura primitiva. Seus
personagens e temas são um tributo à mistura genial que compõe a
alma da cultura brasileira.
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São Paulo - SP
Até 17 de julho
Segunda a sexta, das 10 às 18h30
Sábados, das 10 às 16 horas
Galeria Jacques Ardies
Rua Morgado de Mateus, 579,
Vila Mariana
Telefone: (11) 5539-7500
São Paulo - SP
Até 17 de julho
Segunda a sexta, das 10h30 às 19h30
Sábados, das 10h30 às 14h30
Mônica Filgueiras Galeria de Arte
Rua Bela Cintra, 1533, Jardins
Telefone: (11) 3082-5292
Porto Alegre - RS
Até 15 de agosto
Terça a sexta, das 10 às 19 horas
Sábados e domingos das 11 às 19 horas
Santander Cultural-Porto Alegre
Rua Sete de Setembro, 1028, Centro
Telefone: (51) 3287-5500
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MetamorphosisMostra de 30 colagens inéditas
do artista americano radicado
no Brasil, Gene Johnson, cuja
proposta é mostrar a importância
da reciclagem e como objetos
descartáveis podem perfeitamente
ser reutilizados, até para fazer arte.
Ele empregou vários materiais para
criar, por exemplo, a peça Frida
Censurada, em cartaz na exposição.
Horizonte ExpandidoVários trabalhos realizados entre
1960 a 1970 por artistas que
procuraram refletir sobre a arte e
a vida. Reúne, entre outras, obras
de Joseph Beuyes, Ana Mendieta,
Hélio Oiticica e Denis Oppenheim,
seleção proveniente de vários
acervos internacionais, como a
Fundación Cisneros e a Electronic
Arts Intermix.
Mistura FinaMostra de Art Naïf , expõe 60
trabalhos de artistas de todo o
País, como Maria Guadelupe, de
Minas Gerais; Antonio de Olinda,
de Pernambuco; Edson Lima, da
Bahia; e Rodolpho Tamanini Netto,
de São Paulo. A galeria, fundada em
1935, mantém em acervo pinturas
e esculturas de alguns dos mais
conceituados representantes
de Art Naïf .
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AGENDA DESTAQUES
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Curitiba - PA
Até 29 de agosto
Terça a domingo, das 10 às 18 horas
Museu Oscar Niemeyer – Curitiba
Rua Marechal Hermes, 999,
Centro Cívico
Telefone: (41) 3350-4400
São Paulo - SP
Até 10 de outubro
Terça a sexta, das 10 às 21 horas
Sábados, domingos e feriados, das
10 às 18 horas
Centro Universitário Maria Antônia
Rua Maria Antônia, 294, Vila
Buarque, Centro, São Paulo
Telefone: (11) 3255-7182
Piracicaba - SP
De 19 de agosto a 12 de dezembro
Terça a sexta, das 13 às 22 horas,
Sábados e domingos das 9 às 18
horas
SESC Piracicaba
Rua Ipiranga, 155, Centro
Telefone: (19) 3437-9292
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Marcelo GrassmannSombras e Sortilégios é o nome
da exposição que apresenta mais
de 400 trabalhos do artista, um
dos mais renomados desenhistas e
gravadores brasileiros reconhecido
em todo o mundo. Percorre os 70
anos de sua carreira, com obras
recolhidas em diversas coleções
para mostrar as diferentes fases
de uma arte que teve o mal como
tema recorrente.
Bienal Naïfs do BrasilRealizada pelo SESC Piracicaba,
em sua 10a edição, é considerada
uma importante mostra do gênero.
Originada de exposições anuais,
tem o intuito de valorizar essa
vertente da arte popular brasileira.
Entre os artistas, está Euclides
Coimbra, de Ribeirão Preto,
ganhador do Prêmio Incentivo,
entre um dos mais de 350 inscritos.
Bob WolfensonO fotógrafo está expondo
Apreensões, trabalhos que se
inspiram no gênero natureza-morta
para apresentar, em imagens digitais
de grandes dimensões, mercadorias
e animais silvestres confiscados e
armazenados. A coletânea será,
posteriormente, registrada em livro
da editora Cosac Naify.
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KEITH HARING É UM FILHO bastardo da moder-
nidade. Ele recuperou o ímpeto criativo, o fazer
intuitivo e espontâneo. Reconquistou o espaço daexpressão artística direta, sem os freios acadêmicos.
Esse guerreiro libertou novamente o talento do fazer
artístico. Desenhava com todo o seu ser, como se ele
por inteiro fosse um instrumento e a tinta brotasse
pelos seus dedos.
Teve uma obra meteórica, pintava sobre qualquer
coisa e sem parar, como se soubesse o pouco tempo
que teria de vida. Faleceu em 1990, aos 31 anos,
deixando uma obra contundente.
Pioneiro do grafite, com a sua força vital e sua gene-
rosidade, ampliou as fronteiras do universo das artes
tomando as ruas com a sua arte limpa e precisa.
Na paternidade do grafite há duas genéticas quase
concomitantes: uma é a do grafite que nasce como
consequência da tradição iniciada pela aventura
modernista. A outra, periférica e militante, mani-
festa e traz para o mundo a cultura e identidade do
movimento Hip Hop. Hoje, no Brasil, assistimos à
evolução e mescla das duas.
Vale a pena destacar rapidamente a ressonância
das obras de Fernand Léger e Jean Dubuffet nouniverso de Haring.
Dois elementos são fundamentais para entender as
conexões entre Haring e Léger: a força gráfica com
predominância do desenho, e uma atitude artística
com uma clara motivação de incluir e abraçar o outro.
Em 1972, Dubuffet realiza a escultura Groupe de
quatre arbres para o Chase Manhattan Bank de
Nova York. Imagino o impacto dessa obra na alma
do jovem Haring, na época com 14 anos.
Dubuffet, com seus desenhos infinitos, cria obras
públicas monumentais, totalmente esculpidas e
cobertas com as suas tramas gráficas.
Haring surfou nas ondas do seu fluxo de consciência,preenchendo harmonicamente todos os espaços.
Dessa forma, ele atravessa a ponte erguida por
Dubuffet por onde transitam o erudito e o popular,
o público e o privado desbravando e consolidando
o novo território da arte urbana.
Vinte anos após a sua morte, seus tags mais conhe-
cidos continuam sendo estampados sobre os mais
variados produtos, atualizando a sua obra sempre
viva e jovem.
Porém, um olhar mais atento é necessário para conhe-
cer a densidade da sua obra mais madura e visceral.
Michael Stewart – USA for Africa de 1985, Safe Sex de
88 e The Last Rainforest de 1989 são alguns exemplos
que nos revelam um artista a procura do entendimento
das forças da existência e seu engajamento contra
os preconceitos raciais e sexuais. Viva Keith Haring!
OBRA VIVA!
POR JAIME PRADES
DAS RUAS PARA AS GALERIAS, KEITH HARINGINFLUENCIOU E SE DEIXOU INFLUENCIAR
SERIGRAFIA DE 1983, DE KEITH HARING
Caixa Cultural São PauloGaleria Vitrine da Paulista - Conjunto NacionalAv. Paulista, 2083 - Cerqueira César, São Paulo, SP Metro ConsolaçãoTelefone: (11) 3321-4400De 31 de julho a 5 de setembro de 2010De terça a sábado, das 9 às 21 horasDomingos e feriados, das 10 às 21 horas
Caixa Cultural Rio de Janeiro - Galeria 3Av. Almirante Barroso, 25, Centro, Rio de Janeiro, RJMetrô Estação CariocaTelefone: (21) 2544-4080De 28 de setembro a 14 de novembro de 2010.De terça a sábado, das 10 às 22 horasDomingos e feriados, das 10 às 21 horas
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DESTAQUES MOSTRA
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DESENHO-PINTURA, desenho-instalação, pintura-
literatura são algumas das expressões que Marcelo
Solá lança mão para desenvolver sua obra. Ele
articula e desarticula elementos gráficos e pala-vras ressignificando-os. E nos lembra de que, nos
primórdios, a escrita eram símbolos gráficos, como
até hoje acontece em alguns alfabetos. Sua escrita
é carregada de elementos contemporâneos, como
política, religião, sexualidade e urbanidade.
Solá exibe sua última produção em pinturas, serigra-
fias e desenhos em dois espaços no Rio de Janeiro.
Nascido em Goiânia (1971), utiliza técnicas mis-
tas para produzir suas obras, sem se preocupar
em enquadrá-las. Para ele, aliás, tudo vem junto.
“Quando estou escrevendo, estou desenhando.Quando estou desenhando, estou escrevendo”,
costuma dizer. “Na pré-escola, nós somos estimu-
lados a desenhar para nos expressarmos. Depois,
somos alfabetizados e pedem que nos expressem
dessa forma, mas eu nunca parei de desenhar”,
diz o artista, que já teve sua fase de grafiteiro, na
adolescência, e também já fez oficinas com artistas
SEXUALIDADE, POLÍTICA E RELIGIÃO
SE NOS PRIMÓRDIOS OS SÍMBOLOS GRÁFICOS ERAM A ESCRITA, HOJE ELES FAZEM PARTE DO DIÁLOGO VISUALDA PRODUÇÃO CONTEMPORÂNEA, COMO MOSTRAM AS SERIGRAFIAS, PINTURAS E DESENHOS DE MARCELO SOLÁ
POR PALOMA VARÓN
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DESTAQUES MOSTRA
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como Carlos Fajardo, Nina Moraes e José Espaniol.
Solá esteve na 25a Bienal de São Paulo, em 2002,
quando apresentou uma instalação composta por
escultura, desenhos e um mural. Criou um ambiente
sombrio, todo em preto e branco, no qual, ao lado
do mural composto por um enorme plano preto
recortado por camadas de túneis e palavras enter-
radas, havia uma espécie de avião formado porcarrinhos em que se conduzem caixões nos cemi-
térios. Além disso, já expôs em museus e galerias
de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Goiânia, Belo
Horizonte, Recife, Salvador, Nova York, Quebec,
Madri, entre outras.
A pop art, o cinema, os quadrinhos, o rock e a música
eletrônica estão presentes em seus trabalhos e são
suas maiores influências, assim como as cidades
por onde transita. Cita a poeta Ana Cristina Cesar
(1952-1983), que também desenhava, e o artista
Andy Warhol (1928-1987) como referências, mas
não está atrelado a esta ou aquela escola. Segue
seu próprio caminho.
NA PÁGINA AO LADO,LÁPIS E AQUARELA SOBRE
PAPEL, SEM TÍTULO30 X 42 CM. AO LADO,
LÁPIS E AQUARELA SOBREPAPEL, SEM TÍTULO
200 X 170 CM
Casa de Cultura Laura AlvimAv. Vieira Souto, 176 — Ipanema — RJTelefone: (21) 2332-2040Até 1 de agostoTerça a domingo, das 13 às 21 horas
Galeria Arte em DobroRua Dias Ferreira, 417/205 e 206 – Leblon – RJTelefone: (21) 2259-1952Até 7 de agostoSegunda à sexta, das 10 às 18 horasSábados, sob consulta
Paloma Varón é jornalista de Brasília com atuação na área cultural. Foiassessora de curadoria na 10a Bienal Internacional de Curitiba de 2009
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DESDE QUE COMEÇOU a vida artística nos anos1970, suas obras já apresentavam diferenciais,
mesmo para os padrões daqueles tempos de trans-
gressões. São daquela época inusitadas esculturas
que ela elaborou para envolver o próprio corpo,
como se obra e artista não se dissociassem. Pois
a alemã Rebecca Horn, que em 1986 ganhava um
prêmio na Documenta de Kassel, uma das mostras
mais importantes do gênero, está pela primeira
vez apresentando sua obra no Brasil. Trata-se de
uma retrospectiva de 35 anos de carreira em car-
taz no Centro Cultural Banco do Brasil-RJ, em que
figuram alguns dos mais relevantes exemplares de
sua produção.
A mostra chamada Rebelião em Silêncio tem tudo
para surpreender quem nunca entrou em contato
com as criações da artista. Por exemplo: instalada
na rotunda do prédio, a uma altura de mais de
30 m, está O Universo em uma Pérola, uma peça de
dimensões enormes, erigida a partir de diferentes
estruturas. A obra envolve espelhos, funis de ouro
e projetores que lançam para o alto a cor azul emforma de pérola: “É uma obra sobre a energia. Sobre
como algo tão pequeno pode se transformar em um
universo”, ela disse.
Ao todo, são 18 peças que mesclam diversas lin-
guagens, como instalação, escultura, videoarte e
pintura. Além de seis filmes, parte importante de
sua produção artística, basta assistir a O Quarto de
Buster, com Donald Sutherland e Geraldine Chaplin.
O filme evidencia sua ligação com o cinema, já que
ela é fã de Buster Keaton (1985-1966), grande nome
do cinema mudo. Enfim, a exposição em cartaz, além
de mostrar as várias vertentes da arte de Rebecca,
revela sua especial capacidade de inserir objetos
comuns do cotidiano em sua investigação criativa,
ao empregar de penas a facas para criar uma obra.
Nome de prestígio na cena artística contemporânea,ela tem obras em acervos de importantes institui-
ções, como o Museu de Arte Moderna de Nova York.
REBELIÃO EM SILÊNCIO
REBECCA HORN GANHA RETROSPECTIVA COM UM CONJUNTO DE TRABALHOS EM QUE NAVEGA PELA PINTURA,INSTALAÇÃO, VIDEOARTE, ESCULTURA E, EVIDENTEMENTE, PELO CINEMA
POR ANA CÂNDIDA VESPUCCI
Centro Cultural Banco do Brasil – Rio de JaneiroRua 1o de Março, 66, CentroTelefone: (21) 3808-2020Até 18 de julho de 2010De terça a domingo, das 10 às 21 horas
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DESTAQUES INSTALAÇÃO
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M A R A N Z A N
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A CÚPULA DO CENTRO CULTURAL BANCO DO BRASIL EMOLDURA AS PEÇAS DE REBECCA HORN
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B A R R E T O
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MAX ERNST foi um expoente do Dadaísmo. Sua
tela L’Ange du Foyer (1937), um dragão cuja riqueza
de traços lembra uma meticulosa trama de tecido,é um dos ícones do movimento que ele ajudou a
fundar na Europa. Mas ele também foi um artista
que se interessou por envolver objetos do coti-
diano em suas criações. Seus romances-colagens
enquadram-se nessa categoria. São três, dos quais
um, com cinco volumes e reunindo 184 obras, está
em cartaz no Brasil. A Mostra chegou ao Museu de
Arte de São Paulo, depois de passar por algumas
das mais importantes instituições europeias, como
o Museu d’Orsay, de Paris, com muito sucesso.
Trata-se do romance-colagem chamado Uma
Semana de Bondade, que se divide em cinco dias
da semana, cada qual com um volume. No passado,os especialistas classificavam esse tipo de trabalho
de Ernst como uma série de estudos artísticos do
autor alemão (1891-1976), que também era escul-
tor e poeta. Portanto, sem grande importância no
conjunto de sua obra. O fato, contudo, é que esses
trabalhos, exibidos uma única vez, em Madri, em
1934, chocaram o mundo, incomodaram a Igreja e,
assim, passaram 70 anos guardados pelo coleciona-
dor francês Daniel Filipacchi. Qual a razão de tanta
polêmica? Simples: em linhas gerais, ironizavam a
vida cotidiana da classe burguesa, com homens e
mulheres mesclados a animais, ainda porque alguns
deles se referem ao livro bíblico Gênesis.
Hoje, entende-se que tais obras são importantes,
sobretudo para se compreender a técnica de Max
Ernst, além, evidentemente, do movimento dadaísta
que ele defendia e que pregava o nonsense. O que
impressiona o público por onde a mostra tem passado
são as habilidades do artista nas colagens em que ele
usava desenhos de revistas, jornais e livros dos séculos
XVIII e XIX, para criar a ilusão de outra realidade. Elepróprio chegou a dizer que “foi um esforço obsessivo
criar o surreal mais realista jamais visto”.
O SURREAL MAIS REALISTA JÁ VISTO
NA MOSTRA UMA SEMANA DE BONDADE , O ARTISTA MAX ERNST IRONIZA A BURGUESIA AO MESCLAR HOMENSE ANIMAIS EM AMBIENTES ELEGANTES E NOBRES
POR ANA CÂNDIDA VESPUCCI
MASP – Museu de Arte de São PauloAvenida Paulista, 1578Telefone: (11) 3251-5644Até 18 de julhoTerças, quartas, sextas, sábados, domingos e feriados,das 11 às 18 horas; quintas, das 11 às 20 horas
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DESTAQUES MOSTRA
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Localizada no centro histórico, em frente ao cais,a CASA TURQUESA é um refúgio de paz que oferece conforto, requinte e
atendimento personalizado para seu hóspede
D r . P e r e i r a 5 0C e n t r o H i s t ó r i c oP a r a t y R i o d e J a n e i r o B r a s i l( + 5 5 2 4 ) 3 3 7 1 1 0 3 7c t p a r a t y @ c a s a t u r q u e s a . c o m . b rwww . c a s a t u r q u e s a . c om . b r
U M A C A S A
P A R A B R A S I L E I R O S
D E M U I T O B O M G O S T O
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DESTAQUES EXPOSIÇÃO
PURAS MISTURAS
A EXPOSIÇÃO É O APERITIVO DE UM MUSEU PÚBLICO DE CELEBRAÇÃO DADIVERSIDADE CULTURAL BRASILEIRA
POR ADÉLIA BORGES*
PURAS MISTURAS, exposição em cartaz no Parque do
Ibirapuera, em São Paulo, até o final de outubro,
celebra a riqueza e diversidade da cultura do Brasil,apresentando um contraponto entre variadas for-
mas de criação artística produzidas em diferentes
tempos e lugares. Ao construir diálogos entre as
culturas letradas e iletradas, ou cultas e popula-
res, nosso objetivo foi evidenciar como ambas se
alimentam mutuamente, em um processo perma-
nente de recriação e ressignificação, que acaba
por tornar equívoca a própria oposição entre essas
duas esferas.
Para o título da mostra, tomamos emprestada a
expressão paradoxal e contraditória cunhada pelo
escritor João Guimarães Rosa porque ela expressa
com poesia a trama que, a nosso ver, constitui a
força maior da cultura brasileira. E esse processo
é dinâmico, está sempre se reinventando.
A exposição tem números superlativos: cerca de
1.600 peças expostas, 120 participantes e um pai-
nel de 160 m de comprimento, com uma síntese da
história cultural de nosso País no que diz respeito
às ações voltadas para a valorização das culturas
do povo, tudo em uma área de cerca de 2.500 m2.Totalmente bancada por recursos públicos, da Secre-
taria Municipal de Cultura, ela é um aperitivo do
Pavilhão das Culturas Brasileiras, que vai ser criado
por iniciativa do secretário Carlos Augusto Calil.
No processo de desenvolvimento do projeto museo-
lógico da nova instituição, sendo feito desde o final
de 2007, logo de cara rejeitamos uma expressão
do tipo “Museu de Arte Popular”. A nosso ver, ela
traz o risco de colocar seu conteúdo em um gueto,
levando ao isolamento. Além disso, se não há um
“Museu de Arte Erudita”, por que haveria um de
“Arte Popular”?
Materializar um enunciado conceitual complexo –que foge do maniqueísmo e trabalha justamente
os hibridismos de uma dinâmica cultural em trans-
formação – foi o principal desafio da exposição
que anuncia a criação do Pavilhão das Culturas
Brasileiras.
Procuramos resolvê-lo colocando logo na entrada
a mostra Viva a Diferença, com 75 banquinhos, de
variados formatos e materiais. Ela coloca em pé
de igualdade bancos confeccionados por povos
indígenas, por comunidades artesanais de várias
partes do País, por artesãos contemporâneos e por
designers, como Sérgio Rodrigues, Carlos Motta,
Marcelo Rosenbaum, Michel Arnoult, Lina Bardi,
Nido Campolongo e Claudia Moreira Salles. Ao focar
em um objeto com uma única função – sentar-se –,
mas dezenas de formas, é possível trabalhar a ideia
de que cada forma expressa, em última instância, a
visão de mundo de seu criador. O artesão que recicla
ferro velho e espaguetes de plásticos em Juazeiro do
Norte para fazer um banco perfeitamente adequado
à sua função tem, assim, o mesmo valor que SérgioRodrigues com o seu celebrado Mocho, um dos íco-
nes do design brasileiro, de 1951, que foi projetado
justamente a partir de um tamborete usado para
tirar leite da vaca. O fato de as pessoas poderem
observar os bancos de perto e, mais do que isso,
experimentá-los, usá-los, serve para aproximar o
museu dos visitantes, ajudando-os a reconhecer a
expressão da diversidade.
O enunciado conceitual se aprofunda no módulo
Fragmentos de um Diálogo, em que 12 células F O T O S
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À DIREITA: OBRAS DE MESTRE CUNHA E AO FUNDO, DE LUIZ HERMANO. ABAIXO:VIVA A DIFERENÇA, COM 75 BANQUINHOS, DE VARIADOS FORMATOS E MATERIAIS
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DESTAQUES EXPOSIÇÃO
temáticas se sucedem em um percurso contínuo.
Com caráter assumidamente fragmentário, as célu-
las pontuam conversas entre criações de diferentes
tempos e lugares. Tupi or not tupi, por exemplo,
evidencia como Victor Brecheret bebeu nas tradi-
ções indígenas para compor a escultura moderna
brasileira. Tu me Ensina a Fazer Renda traz louças
projetadas por Marcelo Rosenbaum e cerâmica de
Caroline Harari a partir da rica tradição das ren-
das tecidas por artesãs nordestinas. Avatares do
Alvorada mostra como o traço de Oscar Niemeyer,
nas colunas do Palácio da Alvorada, foi reinter-
pretado por pessoas comuns em portões, muros e
objetos criados em todo o País; o que por sua vez é
reinterpretado por artistas contemporâneos, como
Emmanuel Nassar e Delson Uchôa.
Além dos já citados, participam desse módulo com
obras originais artistas como Alex Flemming, Arthur
Bispo do Rosário, Artur Pereira, Di Cavalcanti, Far-
nese de Andrade, Mestre Guarany, Fulvio Pennacchi,
NA PÁGINA AO LADO BONECAS DA
TRIBO INDÍGENA KARAJÁ E À ESQUERDACONJUNTO DE EX-VOTOS, AMBOS DACOLEÇÃO DO MUSEU DO FOLCLOREROSSINI TAVARES DE LIMA, QUE AGORAPERTENCE AO PAVILHÃO DAS CULTURASBRASILEIRAS. ABAIXO: AVIÕES DO MESTRECUNHA, PERNAMBUCO; BARCO DO ACERVOROSSINI TAVARES DE LIMA; ESCULTURADE PAULO LAENDER, MINAS GERAIS EESCULTURA DE VÉIO, SERGIPE, AO FUNDO
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Gilvan Samico, J. Borges, José Antônio da Silva,
Luiz Hermano, Mauro Fuke, Mestre Vitalino, Paulo
Laender, Rubem Grilo, Rubem Valentim, Samico,
Tarsila do Amaral, Ulisses Pereira Chaves, Vicente
Rego Monteiro e Zé do Chalé. Além dos designers
Irmãos Campana, Lino Villaventura e Ronaldo Fraga.
Obras que não puderam estar ao vivo – como pin-
tura rupestre e manifestações de arte urbana – são
apresentadas em projeção multimídia, recurso nem
sempre utilizado quando se fala de criações do povo.
Homenagear quem veio antes
Não seria possível, a nosso ver, anunciar uma nova
instituição sem fazer uma homenagem a quem
veio antes de nós, abrindo o nosso caminho. Assim,
concebeu-se o módulo Da Missão à Missão, consti-
tuído por uma extensa linha do tempo. O painel tem
início com a Missão de Pesquisas Folclóricas reali-
zada, em 1938, por iniciativa de Mário de Andrade.
À frente do então Departamento de Cultura do
município de São Paulo, Mário determinou que
quatro pesquisadores percorressem o Nordeste e o
Norte do País para registrar as músicas e bailados
populares do Brasil. O acervo coletado pela equipe
naquela ocasião será transferido para o Pavilhão
das Culturas Brasileiras.
Depois dessa ação seminal, destaca-se a atuação
dos intelectuais reunidos em torno do Museu doFolclore Rossini Tavares de Lima, que ocupava o
prédio da Oca até o ano de 2000, e cujo alentado
acervo com cerca de 3.500 peças também ficará
com o Pavilhão. A partir daí, pontuam-se ações
empreendidas por nomes como Gilberto Freyre,
Aloisio Magalhães e Lina Bo Bardi, até chegar à apre-
sentação sintética do projeto do Pavilhão e de sua
missão, que será “pesquisar, registrar, salvaguardar
e difundir a diversidade cultural brasileira, contri-
buindo para o diálogo entre as diferentes culturas
e para o reconhecimento do valor do patrimônio
material e imaterial das culturas do povo”.
O painel abre espaço também para o projeto de
restauração do prédio, que o secretário Carlos
Augusto Calil pretende, se tudo der certo, iniciar
ainda este ano. O projeto do arquiteto Pedro Men-
des da Rocha mantém as virtudes da arquitetura
original, preservando as qualidades do desenho de
Oscar Niemeyer, sobretudo a amplitude de espaço
e a leveza do edifício. Longe de um perfil nostál-
gico ou regressivo, este se pretende um museu dacontemporaneidade, capaz de responder com uma
ação afirmativa a questões do presente e capaz de
contribuir com a transformação social. Queremos
contribuir para que possamos, todos, nos ver como
produtores de cultura, e não apenas consumidores
e espectadores.
FOTO MARIANA CHAMA
*Adélia Borges coordenou a elaboração do projeto do Pavilhão das CulturasBrasileiras e é curadora-geral de Puras Misturas . A equipe curatorial daexposição é integrada também por Cristiana Barreto, José Alberto Nemer eVera Cardim. O projeto museológico foi feito com a colaboração de CristianaBarreto, Marcelo Manzatti e Maria Lúcia Montes, entre outros.
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NEM NAÏF NEM PRIMITIVA. É ARTE POPULAR, SÔ!
AS CASAS DE LEILÃO TÊM DADO ESPAÇO PARA A ARTE POPULAR BRASILEIRA,
LADO A LADO COM A ARTE CONTEMPORÂNEA
TEXTO MARCO AURÉLIO JAFET
ARTE POPULAR é aquela produzida espontanea-
mente por artistas sem treino específico em arte e/
ou educação formal. Diferentemente da arte étnica
que preserva tradições, mitos e é passada de geração
a geração. Os termos naïf e primitivo têm origem na
produção de artesãos, visando criar propositada-
mente quadros e objetos decorativos, com base emum conceito estético que representasse a inocência
pessoal e a habilidade ainda “primitiva” de quem os
executasse e é muito apreciada em alguns países
europeus, principalmente na França.
No século XVIII, eram poucos aqueles que tinham
posses para encomendar imagens eruditas, predomi-
nantemente barrocas. A maioria da população deveria
ter uma imagem do santo – ou santa – de sua devoção
em casa, e para tanto recorria-se ao artista popular. “As
imagens chamadas de ‘paulistinhas’ são um exemplo,
como diz Roberto Rugiero, da Galeria Brasiliana, entre-
vistado nesta edição. O comércio também recorria
aos artistas populares para a produção de painéis
e cartazes que mostrassem através de imagens os
produtos vendidos, uma vez que poucos sabiam ler.
“Não se tem notícia de exemplares dessa produção
que foi toda perdida no tempo”, diz Rugiero. Ex-votos
e carrancas foram salvos pelos seus aspectos religioso
e místico, respectivamente, além do utilitário.
O interesse do público brasileiro sobre a arte popular
tem sido crescente e o colecionismo despertado emtodo o País. As casas de leilão têm dado espaço para
a arte popular brasileira, lado a lado com a arte con-
temporânea. “Nos últimos dez anos, tem-se formado
um mercado crescente devido a leitura da beleza e
importância da arte popular brasileira por interessados
e colecionadores que decidiram incorporá-la às suas
coleções”, diz o leiloeiro Aloisio Cravo.
Trabalhos de José Antônio da Silva, Heitor dos Praze-
res, Poteiro e Mestre Vitalino, bem como carrancas de
Mestre Guarani, há muito convivem com trabalhos dos
grandes mestres do Modernismo sem acanhamentos nem vergo-
nha. As carrancas, peças esculpidas em madeira com o objetivo de
espantar maus espíritos, se navegadas podem atingir R$150 mil.
Para Vilma Eid, da Galeria Estação, em São Paulo, a arte hoje
engloba o contemporâneo, seja erudito ou popular. E quanto a
investimentos na área, cita seu avô que lhe dizia: “Não tenha
medo de preço. O que é bom sempre será cobiçado!”.
Recentemente, têm sido ofertados no mercado para venda tra-
balhos de artistas considerados importantes pelos estudiosos.Alguns deles como GTO, tem alcançado o valor de R$ 100 mil.
Agostinho Batista de Freitas, R$ 15 mil. Itamar Julião, há quem
diga que uma das suas onças gigantes chega a custar R$ 200 mil.
Arthur Pereira, Miriam, Loco e mais recentemente Veio, variam
entre R$ 3 mil e R$ 15 mil.
Motivada pela possibilidade de trabalhar com o que gosta Edna
Matosinho Pontes inaugurou sua Galeria Pontes, em 2008. Além
de exposições, a programação da galeria inclui mesas redondas,
parcerias com outras instituições e mostra o interesse da galerista
em facilitar o acesso do público à arte popular,
fazendo um paralelo com a arte contem-
porânea. A arte popular brasileira tem se
revelado uma boa aposta, tanto para aqueles
que querem investir, como para aqueles que
querem colecionar.
É uma arte que apela inconscientemente ao
emocional da memória que vem à tona assim
que olhamos para uma obra que, sem que
percebamos, nos fisga o olhar e encanta.
Por isso mesmo, é preciso cautela para não
se enganar e cair em armadilhas. Encante-semas procure informação confiável!
Como diz o ditado popular: “Caldo de galinha
e cautela não fazem mal a ninguém!”.
GERALDO TELES DE OLIVEIRA,1982, SEM TÍTULO, MADEIRA
Marco Aurélio Jafet é administrador de arte com título de MFA(Master of Fine Arts) pela Columbia University de Nova York
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DESTAQUES MERCADO
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SEÇÃO MATÉRIA
arteBA – 19 ANOS
POR LEONOR AMARANTE
O IMPULSO DO MERCADO DE ARTE ARGENTINO SE ESPELHA NA FEIRA DE ARTEMAIS ANTIGA DA AMÉRICA DO SUL
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FEIRA INTERNACIONAL ARTEBA
A ARTEBA COM TODAS AS CRÍTICAS que se possa fazer é,
sem dúvida, a iniciativa de arte mais bem-sucedida
da Argentina. A 19ª edição legitima o evento como
eficiente local para vendas e valioso ponto de encon-
tro de artistas, colecionadores e galeristas. Entre
as mais de 600 feiras do gênero, a arteBA tem seu
lugar na agenda internacional.
Sediada nos pavilhões de La Rural, no bairro de
Palermo, entre 25 e 29 de junho, o evento se integrou
às comemorações do Bicentenário da Independência
da Argentina, unindo-se às de outros países, como
Chile, Colômbia, México e Venezuela, reforçando
politicamente seu caráter continental.
Cada presidente da arteBA coloca seu estilo pessoal
e conhecimento do mercado – financeiro e de marke-
ting – para criar uma vitrine de visibilidade para
os artistas. Este ano, agregando profundo conhe-
cimento de arte contemporânea, o bem-sucedido
AS ESFERAS, EM AÇO E METAL, DE CELINA SAUBIDET SÃO EXCESSÕES NUMA FEIRA ONDE DOMINAM AS PINTURAS
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advogado Facundo Minujin, de 45 anos, coloca
pimenta nesta edição. Afinal, ele é filho de Marta
Minujin, a performática argentina mais conhecida
fora dos limites de seu país. Convidada especial
para a Bienal de São Paulo deste ano, na arteBA ela
deu uma prévia do que vai “aprontar” em setem-
bro, no Ibirapuera. Autora de happenings memorá-
veis, um deles em parceria com Andy Warhol. No
sábado, Marta causou congestionamento com uma
performance na qual era replicada por duas modelos
com biotipos idênticos ao dela. “Em São Paulo vou
mostrar uma série de ‘pinturas’ e ‘esculturas’, com
efeitos especiais de luzes”, explica Marta enquanto
atende aos fãs e aos flashes dos fotógrafos.
O público nos quatro dias de Feira superou os 125
mil do ano passado. Se no dia da inauguração,
o ambiente era altamente elitizado com a forte
presença de endinheirados, já no dia seguinte se
NA ARTEBA, MARTA MINUJIN FAZUMA PRÉVIA DA PERFORMANCE QUEAPRESENTARÁ NA PRÓXIMA BIENALDE SÃO PAULO EM SETEMBRO DESTEANO. ELA É, SEM DÚVIDA, A ARTISTAARGENTINA MAIS CONHECIDA FORA DASFRONTEIRAS DE SEU PAÍS. NA DÉCADA DE1960 ATUOU COM ANDY WARHOL
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FEIRA INTERNACIONAL ARTEBA
podia notar o movimento de gente mais simples que
tentava se atualizar com a produção contemporâ-
nea. Entre eles, havia jovens ávidos para comprar
sua primeira obra. E tinha opção para todos, como
uma pintura sobre cartão da jovem Monica Salas,
que custava U$ 100,00. Esse frescor que passa
pelo mundo da arte impulsiona o deslocamento
de Irene Abujatum, diretora da Feira de Chaco, no
Chile, que há cinco anos luta para projetar a pro-
dução local. “Não temos bienal. A Trienal do Chile,
que teve sua edição inaugural no ano passado, foi
mais um problema para as artes visuais do país que
solução. Foi mal conceituada pelos curadores e mal
formalizada. No Chile, não temos lei de incentivo
para a cultura como há no Brasil. Fernanda Feitosa,
diretora da SP-Arte, disse que criou a feira depois
de constatar que os brasileiros saíam do País para
comprar arte.
A proprietária da galeria Animat, também do Chile,
vê nas feiras oportunidades, tanto no Brasil como na
ACIMA: A INSTALAÇÃO DE CAROLINA ANTONIADIS. UMA CRÍTICAPOP À SOCIEDADE DE CONSUMO. AO LADO: OS JARDINS DE MONETINSPIRARAM A CHILENA MALU STEWART PARA BORDAR SOBREMADEIRA SUA BLUE POND, 2009
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Argentina. De opinião diferente, Estela Totah, dona
da Del Infinito, de Buenos Aires, garante que hoje
não há grandes colecionadores como nas décadas de
1940-50. “Hoje, há compradores, especialmente na
faixa dos 25-35 anos que estão estudando arte para
saber o que estão adquirindo. Esse dado é novo no
mercado. Se antes nós nos considerávamos cultos,hoje tentamos conhecer arte.” Para a controvertida
historiadora argentina de arte, Victoria Verlichak,
pesquisadora e historiadora de arte, autora do livro
Marta Traba, o que falta na Argentina é apoio e
envolvimento institucional. “Aqui falta uma política
cultural, como existe no Brasil. Não há como ter
projetos sem o envolvimento financeiro do governo
nacional. Dentro desse panorama a arteBA ganha
importância”, garante ela. Para Tereza Gazitúa, pes-
quisadora e historiadora chilena de arte, o mesmo
sucede em seu país. Há dinheiro para a cultura,
o que não há é um projeto consistente. Matilde
Marin, artista e também pesquisadora de arte, vai
mais longe. “O Brasil, mesmo quando não tinha o
dinheiro que tem hoje, já incentivava a cultura, basta
lembrar a Bienal de São Paulo de 1951. A Argentina,
nessa época, era um país muito mais rico, mas nãofez nada desse porte para as artes plásticas.” Para
Rosa Maria, uma das importantes críticas argenti-
nas de arte, a existência da arteBA é fundamental
para a escoar a produção nacional. “Aqui estão os
galeristas, artistas, críticos e colecionadores, o que
transforma a Feira em num local essencial.”
O brasileiro Thomas Cohn, dono da galeria de
mesmo nome, se diz satisfeito com a arteBA. “Estive
aqui em 2000 e hoje a feira está bem melhor, mais
organizada e com mais expositores.”
A EDIÇÃO DESTE ANO COLOCOU LADO A LADO ARTISTAS CONSAGRADOS COMO O ARGENTINO JULIO LEPARC, OBRA ACIMA, E JOVENS PROMISSORES COMO A CHILENA MALU STEWART NA PÁGINA AO LADO
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MERGULHO NO PRIMITIVO PARA OUSAR
NA MODERNIDADEO DIVISOR DAS ÁGUAS NO EMBATE ENTRE PRIMITIVOS E ERUDITOS É A EXPOSIÇÃO ORGANIZADA PELO MoMAPRIMITIVISMO NA ARTE DO SÉCULO XX : AFINIDADE DO TRIBAL E DO MODERNO, DE 1984, OBJETO DE REFLEXÃO ATÉ HOJE
POR LEONOR AMARANTE
QUASE NENHUM MOVIMENTO de arte do século
XX escapou da influência da arte primitiva. Grande
parte do estrelado elenco da Escola de Paris bebeu
diretamente na fonte, sem nunca ter colocado os pés
na África, Ásia, Oceania ou Américas. O Surrealismo,
e o Expressionismo mergulharam na chamada arte
“primeira”, para renovar seu discurso visual com
valores e formas diferenciadas.
Muitos dos grandes mestres da pintura e da escul-
tura reinterpretaram traços de artistas anôni-
mos, tribais, de etnias perdidas, especialmente da
África iletrada e atrasada social e intelectualmente,
segundo os padrões culturais do eurocentrismo
vigente. O que se pode dizer do conceito de arte
"primitiva", utilizado desde o início do século XX,
como abrigo semântico, que engloba desde pinturas
pré-históricas a peças criadas pelo homem comum
sem instrução artística?
O termo naïf é mais recorrente nos discursos dos
galeristas que comercializam pinturas coloridas,
realistas, marcadas pela espontaneidade de umfigurativismo livre dos dogmas da composição e da
perspectiva. No Brasil, Heitor dos Prazeres e José
Antônio da Silva, já na década de 1950, abriram o
caminho para uma comunidade muito ativa que se
firmou nas duas décadas seguintes.
O divisor das águas no embate entre primitivos
e eruditos é o MoMA, que, em 1984, idealizou a
exposição Primitivism in 20th Century Art: Affinity
of the Tribal and the Modern. Inteligente e essencial,
a intensa pesquisa teve como curador William Rubin
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CAPA PRIMITIVO ERUDITO
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que contou com uma equipe de especialistas em
arte primitiva para reunir peças raras em museus
etnográficos europeus, em galerias especializadas
e em coleções particulares de vários países. Com
uma montagem instigante, colocou lado a lado obras
de mestres ocidentais modernos, como Picasso,
Giacometti, Brancusi e Henry Moore, com peças
museológicas da Guiné, Oceania e América. Um
dos objetivos era mostrar a semelhança das formas
entre as obras de períodos tão distantes entre si. O
resultado foi muito além e colocou em xeque, mesmo
fora dos domínios do MoMA, o caráter político e
moral das obras celebradas pelo mercado interna-
cional desses intocáveis mestres contemporâneos.
Uma das críticas foi a excessiva ênfase dada às
afinidades formais, que evidenciavam as desigual-
dades culturais e sociais. E também o fato de que
os artistas ocidentais eram mostrados geniais, por
terem descoberto e recriado primitivos anônimos
e atemporais.
NA PÁGINA AO LADO: ESCULTURA DA ETNIA ZULU, ORIGINÁRIA DA ÁFRICA DO SUL. COLEÇÃO DO BRITISH MUSEUM. ACIMA: ESCULTURAEM BRONZE DO ARTISTA ITALIANO ALBERTO GIACOMETTI, DE 1929. ACERVO DE RUTH E FRANK STANTON
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IRIAN JAYA. PINTURA SOBREMADEIRA, ORIGINÁRIA DANOVA GUINÉ. COLEÇÃO FRIED,NOVA YORK
O que se levantou é que a ausência de uma icono-
grafia ou de publicações acessíveis a esses objetos
permitiu que fossem apropriados por uma comu-
nidade artística sem qualquer tipo de questiona-
mento. Grande parte deles colecionou raridades que
mantinham em seus ateliês. A tensão provocada
era decorrente do fato de não haver discussão
quanto ao poder de propriedade intelectual dessa
arte "primitiva". Segundo o crítico americano Gill
Perry, o exótico foi recriado por eles, de acordo com
os pressupostos e práticas ocidentais da época – e,
portanto, sob a égide da política colonial europeia.
Ao se observar algumas obras de Emil Nolde, Paul
Gauguin, Henry Moore, Paul Klee, Henri Matisse,
Marc Chagall, Max Ernst, Joan Miró, Amedeo Modi-
gliani, Pablo Picasso, entre muitos outros, não se
pode deixar de refletir sobre o que seriam das artes
plásticas, nos anos 1950, sem essa investida na
arte primitiva.
Depois da iniciativa do MoMA, foi a vez dos
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CAPA PRIMITIVO ERUDITO
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franceses mergulharem fundo nas questões,
organizando uma mostra que foi uma espécie de
resposta à exposição americana. O Beaubourg de
Paris organizou a Les Magiciens de la Terre, em
1989, que se estendeu, na mesma capital, até o
Grande Halle de La Villette. O curador Jean-Hubert
Martin reuniu centenas de obras, levando em con-
sideração a produção periférica do circuito de arte
e, consequentemente, a arte primitiva. O crítico
francês refletiu sobre o significado dos objetos na
passagem de uma cultura a outra e sobre a com-
provação de que existe autoria artística "primitiva".
Política e cultura sempre renderam dividendos aos
políticos de qualquer país. O escritor e intelectual
André Malraux, ex-ministro da cultura da França,
responsável pelo avanço da política cultural daquele
país, na década de 1960, mantinha o bordão de que
era preciso considerar “as artes primordiais”. Com
esse mesmo refrão, o ex-prefeito de Paris, Jacques
Chirac, também deixou marca ao criar o Museu do
INTENTIONS. PINTURA SOBRE TELA DE PAUL KLEE. ACERVO MUSEU DE BERNA
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Quai Branly, que reúne peças importantes de vários
períodos e de alto valor antropológico e etnográfico.Ao entrar no museu ou em qualquer uma des-
sas exposições, pode-se imaginar a avidez desses
artistas sobre a produção da África, Ásia, Oceania
e da América que eram autênticos reservatórios
de formas e valores inovadores. Há pontos em
comum que chamam a atenção dessa produção
“pirata” europeia. Em primeiro lugar, eles tomaram
o elemento primitivo como escudo da moderni-
dade e da filiação às formas autênticas e radicais.
Depois se apropriaram do que eles consideravam
“exótico” para recriar uma arte com as práticas
ocidentais da época — e, como ressaltou Gill Perry,construindo uma arte, “sob a égide da política
colonial europeia”.
Na verdade, a ausência de uma iconografia acessível
desses objetos permitiu que eles fossem facilmente
absorvidos por uma cultura artística moderna.
Essa descontextualização fez com que os artis-
tas modernos fossem acusados de responder de
modo etnocentrista à arte africana e da Oceania,
atribuindo a suas aparências sentidos ocidentais
do século XX.
À ESQUERDA: CABEÇA TROFÉU DA TRIBOBRASILEIRA MUNDURUCU. ACERVO DOMUSEU VOLKERKUNDE, BERLIM. À DIREITA:CABEÇA TROFÉU DE EMIL NOLDE. COLEÇÃODO MUSEU SEEBÜL, DA ALEMANHA
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AO VISITAR EM MARSELHA, no Musée
d’Archéologie Méditerranéenne, em 1993, a exposi-
ção Poèmes de Marbre, não pude deixar de pensarem Brancusi e Max Ernst. Os poemas de mármore
eram esculturas pré-históricas procedentes das
ilhas Cyclades, no Mar Egeu, e de terras como
Turquia, Pérsia, Chipre e Sardenha. O tratamento
do mármore branco, a simetria, a forma sintética
das figuras não realistas — mas que sugeriam ime-
diatamente cabeças e corpos humanos masculinos
e femininos, além das formas perfeitas de alguns
utensílios também expostos —, se confundiriam
com obras dos dois artistas citados, especialmente
Ernst que no conjunto de obras As fases da noite:
Capricórnio, de 1947, parece ter reproduzido deta-
lhes de uma delas.
As esculturas das Cyclades são arte primitiva,
se nos for dado classificá-las como arte. Porém,
criadas antes de qualquer formulação de conceitos
estéticos, elas — e muitas outras manifestações
artísticas primitivas, como as máscaras africanas,
das quais Picasso se apropriou — dão a pessoas
modernas, como somos, a sensação de profunda
beleza e significado. Pensamos então, em um pri-meiro momento, que a arte moderna, ao romper
as barreiras acadêmicas, possibilitou releituras e
inter-relações com a arte primitiva. Os exemplos
são muitos, além dos citados. Mas pensamos tam-
bém em como justificar essas apropriações tão
evidentes, sem referências às fontes. Não quero
me colocar academicamente, como os pesquisa-
dores fazem, mas sim em uma posição ética como
artista que sou.
É bastante evidente que o sistema da arte no qual
existimos, comandado pelo mercado, autorize
atitudes assim. Ao me referir a Brancusi, Marx
Ernst, Picasso, estou apenas citando alguns dosmais ilustres artistas da Terra. Não apenas a arte
primitiva sofre da apropriação sem crédito, esse
comportamento é mais incidente do que imagina-
mos em uma leitura superficial, ele tornou-se uma
prática comum, principalmente nas últimas quatro
décadas, desde a pop art. Vejamos Rauschenberg
e Warhol, somente como exemplo.
No Brasil, temos situações semelhantes. Celeiro
de arte primitiva, nosso País possui um acervo
enorme de sinais e formas arcaicas desde a pré-
história. Como as pinturas e gravuras rupestres
de várias tradições em uma variedade que se
estende por todo nosso território, até as tradições
indígenas presentes em desenhos, cerâmica, arte
plumária de tribos como Kaiowas, Carajás, Caia-
pos, Erikbawas, entre tantas, e a imaginária das
religiões afro-americanas de raiz Yorubá, como
o Candomblé. Mas também temos outra fonte
formal e temática na cerâmica popular que aqui
se confunde com a primitiva, como o que fazem
os descendentes do Mestre Vitalino, no Alto doMoura em Caruaru, e os índios de duas manifesta-
ções isoladas, mas com características temáticas
semelhantes quanto à narrativa do ambiente e da
vida que os cercam.
Sobre arte popular, eu diria que ela é a expres-
são simbólica do povo, marcada pela inteligên-
cia criativa autêntica das populações urbanas,
suburbanas e rurais. Sendo assim, difere da arte
considerada erudita por sua circulação ampla nas
bases populares e por sua compreensão do ponto
ERUDIÇÃO E DOMINAÇÃO
POR RAUL CÓRDULA
NÃO APENAS A ARTE PRIMITIVA SOFRE DA APROPRIAÇÃO SEM CRÉDITO, ESSE COMPORTAMENTOÉ MAIS INCIDENTE DO QUE IMAGINAMOS EM UMA LEITURA SUPERFICIAL
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CAPA PRIMITIVO ERUDITO
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de vista das classes de renda baixa. O sistema de
arte que impera desde o Renascimento, além dos
benefícios materiais que trouxe aos artistas, legou
a eles também sérias contradições sociais. Para
ser considerado artista não basta talento e erudi-
ção, é preciso também status social. Pertencer à
classe dominante é quase que indispensável para
a vida do artista atual, pois sua obra, apelidada
hoje de “produto cultural”, circula no mundo da
economia de mercado. Esta é uma das razões da
dominação de determinadas correntes artísticas,
da negação ou fim da arte, fato admitido a partir
das teorias neoliberais à atualidade e ainda da
anulação do mercado do artista que vive fora
dos eixos de poder. Mas sociologicamente, é uma
mentira sustentada pelos senhores da economia
capitalista, pois nunca se deixou de fazer arte na
periferia do mundo, porque ela é, e sempre foi, uma
necessidade básica da humanidade. Para justificar
esse desequilíbrio e satisfazer o mercado, criou-se
AO LADO: MÁSCARA FANG,PINTURA SOBRE MADEIRA.COLEÇÃO MUSEU DO HOMEMDE PARIS. ACIMA: PORTRAITOF RUSSOLO, 1913. COLEÇÃOPARTICULAR
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CAPA PRIMITIVO ERUDITO
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uma linha divisória entre arte de gente rica e arte
de gente pobre, enunciada em dicotomias, como
“arte erudita e arte popular”, “arte culta e arte
primitiva”, “arte civilizada e arte ingênua, ínsita
ou naïf”. Nesse contexto, um artista do Nordeste
cuja obra foi incorporada à obra de um artista
metropolitano não tem como se defender, pois
seu “produto” não tem repercussão fora de seus
escassos limites, e o artista que se apropriou
da criação periférica é louvado como autêntico
descobridor da cultura brasileira. Na verdade, ao
artista de sucesso é dado o direito de lançar mão
da obra dos humildes.
Exemplos emblemáticos estão em todo o Brasil.
Quem, por exemplo, não encontra Bispo do Rosário
ou dos bordados do Ceará na obra de Leonilson;
Vitalino nas esculturas de Brecheret e nos dese-
nhos de Tarsila do Amaral, Mestre Noza do Jua-zeiro; e detalhes dos entalhes de igrejas barrocas
em Efrain Almeida ou Tota da Paraíba, em Miguel
dos Santos? Há inclusive forte aparato teórico em
defesa dessa forma de apropriação no Movimento
Armorial criado e defendido por Ariano Suassuna,
no qual ele toma posse da cultura do povo nordes-
tino em função de sua valorização e divulgação.
Seus sucessos teatrais têm base na literatura de
cordel. Isso se tornou um hábito nacional, uma
“atitude” moderna e contemporânea.
Parece muito cômodo usar a obra alheia como
ponte para a realização da própria obra. A grande
maioria dos artistas primitivos e toda a gama
de manifestações artísticas do povo não têm
nenhuma projeção, com raríssimas exceções apoia-
das por poucos críticos de arte ou teóricos. O caso
de José Bezerra, escultor do Vale do Catimbau,
sertão pernambucano, é uma dessas exceções a
partir de sua exposição em São Paulo no ano pas-
sado. O conjunto de suas esculturas na exposição
poderia ser atribuído a um artista contemporâneo.Mesmo assim, artistas como ele são vistos como
excepcionais, carentes, dependentes, inferiores.
A consciência artística de Zé Bezerra, em sua
simplicidade, confunde-se com a compreensão de
todo artista maduro e culto. Exemplo disto foi seu
comentário ao ver outro escultor dar esmerado
acabamento em uma peça: “Não adianta dar muito
acabamento, lixar, polir, porque arte é emoção,
enquanto eu tenho emoção, sei que estou fazendo
arte, quando a emoção acaba a arte está pronta”.
O TRAÇO DA XILOGRAVURA DO MESTRE NOZA CRUZA COM OEXPRESSIONISMO ALEMÃO DA DÉCADA DE 1910. ELE É CONSIDERADOO MAIS EXPRESSIVO ARTISTA BRASILEIRO DE CORDEL, COM OBRASEM ACERVOS DE VÁRIOS PAÍSES
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OÁSIS CRIATIVOFRANCISCO BRENNAND CONSTRÓI UM IMPÉRIO ARTÍSTICO HÁ MAIS DE 5ANOS, EM UMA ANTIGA FÁBRICA DE PORCELANA, NO BAIRRO DA VÁRZELONGE DO CENTRO DA CAPITAL PERNAMBUCANA
POR SILAS MARTÍ F O T O D I V U L G A Ç Ã O
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TEM ALGO DE VISCERAL uma escultura capaz
de fazer o prefeito da cidade invadir armado um
jornal. Irado com insinuações de que tentara cen-
surar a Coluna de Cristal, de Francisco Brennand,
Roberto Magalhães, então chefe do Executivo em
Recife, entrou no Jornal do Commercio de revólver
na cintura, pedindo explicações.
Era um cilindro fálico, de 32 m de altura, revestido
de cerâmica e bronze. Esse mesmo trabalho foi alvo
de vândalos no Réveillon de 2000. Nas palavras de
Brennand, não tinha nada de mais. Fez uma escultura
que representava “o elemento primordial, o começo
da vida, o emblema da eternidade”.
Toda a obra desse artista pernambucano parece
roçar o limite entre o popular e o erudito. Despertareações passionais, com um pé na erudição de um
intelectual recluso e outro na observação da vida
como ela é, em um Recife que exporta arte dita de
verdade e a cerâmica e azulejaria que reveste casas
e prédios de todo o Nordeste.
A ESCULTURA DE BRENNAND SE ENCONTRA NOTÊNUE LIMITE ENTRE O POPULAR E O ERUDITO
Brennand vive em um mundo só dele, uma antiga
fábrica de porcelana, terreno de 10 mil m2, no bairro
da Várzea, longe do centro da capital pernambu-
cana. Lá estão suas mais de 2 mil esculturas espalha-
das pela propriedade, um “templo”, nas palavras do
artista, ou “cidadela messiânica” e “oásis criativo”
para quem já visitou. Na mesma pegada do falo
depredado, um ovo imenso fica pendurado no teto:
“A origem de tudo”.
Mas na origem mesmo, a Oficina Brennand, como é
chamado hoje seu ateliê, era uma fábrica, que che-
gou a ser um gigante industrial da região. Erguida
pelo pai do artista, um irlandês que se radicou por
aquelas bandas, a olaria dos Brennand fez fortuna
em um contrato com a antiga SUDENE, nos anos1970. Antes da fábrica, quatro engenhos de cana-
de-açúcar funcionaram ali por quase 100 anos.
Não é um passado que possa ser descartado na
leitura de seu trabalho. Brennand vem construindo
um império artístico alicerçado em uma herança de
engenho, espremendo bagaços para extrair lucro, e
de fábrica, a usina ceramista para adornar palácios
e repartições. Mesmo sua escultura, todo o barro,
obedece a uma lógica de produção em massa que
beira o popular, extrapola o universo diminuto do
ateliê, para entrar com força na vida.
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CAPA ARTISTA
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“TENHO CERTEZA DE QUEO FANTASMA DE GAUDÍME ACOMPANHA”
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CAPA ARTISTA
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Sem qualquer demérito, nem medo dos rótulos
popular e erudito, Brennand sabe onde pisa. Inven-
tou uma mitologia própria, de seres mutantes que
podem ser qualquer coisa. São pássaros, persona-
gens históricos reais e fictícios, falos e ovos. Se a
repetição é uma marca da obra que aproxima tudo
do artesanato, a receita e fatura manual, o fato de
não usar moldes e nunca repetir uma escultura,
torna cada peça única, fincando raízes na esfera
da criação, ou talvez, da genialidade.
Despachou logo cedo o preconceito pelos mate-
riais que decidiu usar. Alçou à cerâmica, aquela
dos vasos e cuias banidas dos círculos cultos, à
condição de material digno. Nesse ponto, joga luz
sobre uma tradição ofuscada na História da Arte,dos vanguardistas que também adentraram sem
medo nesse terreno.
Quando foi estudar pintura em Paris, ainda jovem,
fez a descoberta que casaria para sempre esses
dois pontos de seu trabalho, uma junção de matéria
popular a conteúdo erudito. “Tinha soberano des-
prezo pela cerâmica”, lembra Brennand. “Mas, em
Paris, vi uma exposição de cerâmica de Picasso e
percebi como eu era provinciano. Todos os grandes
nomes da Escola de Paris — Miró, Picasso, Léger,
Chagall — incursionaram por ela.”
Além da Escola de Paris, todo um repertório eru-
dito serve de lastro para a obra de Brennand. São
constantes as referências a escritores, como Joseph
Conrad e Somerset Maugham, aos pintores Van
Gogh, Gauguin, Cézanne, Léger, ao arquiteto-artesão
Gaudí. “Tenho certeza de que o fantasma de Gaudí
me acompanha”, disse Brennand em entrevista.
“Assim como o fantasma de meu pai me acompa-
nha.” Também lembra como ficou surpreso, em visita
ao ateliê de Léger, com o fato de o artista dar preçosa suas telas pelo tamanho, quanto maior fosse mais
cara custava. Parece levar ao pé da letra a frase de
Gauguin, que dizia: “Um quilo de verde é mais verde
do que meio quilo”.
No fundo, Brennand traduz esse universo para uma
lógica particular, em um meio termo feliz entre
popular e erudito. Quando esteve na Bienal de São
Paulo, foi parar na ala de artistas primitivos, mas
também foi o único capaz de arrancar elogios de
André Malraux, observador das vanguardas, em
visita à cidade. Também foi com seus falos, de alta
carga primitiva, que representou o país na Bienal
de Veneza, em 1990.
“Prefiro me defrontar com uma mitologia própria,
feita com uma sem-cerimônia quase insultuosa,
citações de figuras femininas retiradas da história
que, na verdade, só me atraíram por seu infortú-
nio”, resumiu Brennand certa vez. É uma atitude
que ajuda a explicar seu gosto pessoal por Almeida
Júnior e desprezo por Portinari, José Pancetti.
“Querem que eu fale da seca, mas a seca, os fura-
cões são respostas da natureza ao mal intrínseco
do homem. Interessa-me o indivíduo, não acredito
na coletividade sem face, moldável, caótica.”
E de tão particular que é esse universo, Brennandchegou a ser visto por alguns críticos como o mais
erudito dos artistas brasileiros. Mas isso sem recha-
çar seu estranho e potente apelo popular. “Se Giotto
fosse vivo na época de São Francisco de Assis,
a quem retratou, São Francisco não lhe daria a
mínima”, brinca. “Talvez preferisse um primitivo-
zinho, um borra-botas qualquer da época.”
Silas Martí é jornalista de arte da Folha de S.Paulo e colaborador derevistas de Cultura
O ENIGMÁTICO OVO DA SERPENTE
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CAPA HOMENAGEM
A ALEGRIA DE UM BRASIL INGÊNUO
POTEIRO DEIXA UM LEGADO LIVRE DAS AMARRAS DO CIRCUITO DE ARTE, COM PINCELADAS DE CORESDENSAS E VIBRANTES QUE MESCLAM HUMOR, OUSADIA E INQUIETAÇÃO PERMANENTE
POR PX SILVEIRA
ABAIXO: COMO TODO BRASILEIRO, POTEIRO TAMBÉM AMAVA O FUTEBOLETERNIZADO NA OBRA O JOGO E A PELADA , 90 X 100 CM, 2004.
AO LADO: CINCO ILHAS BRASILEIRAS, 120 X 120 CM, 1996
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Poteiro fez sua arte sem querer dar satisfação a
ninguém. Surgia-lhe a vontade e ele fazia, com tinta
ou com barro. Para se expressar artisticamente,
Poteiro lançava mão de procedimentos narrativos e
formais que ele mesmo inventava e desenvolvia, sem
parar, ao longo de sua extensa obra. Foi um criador
de abecedário. Feitor de seu próprio caminho, que
traçou ao esculpir, primeiramente, e depois ao pintar.
Poteiro não tinha medo do erro. Como pintor, seu
colorido por vezes assusta de tão forte e audacioso
que é, sempre personalíssimo, e sempre certeiro para
os fins almejados. E é assim que o resultado da sua
linguagem inusitada (conteúdo e forma) agrada tam-
bém esteticamente, mesmo sem ele querer ser um
artista de arranjos feitos para o bom gosto vigente.
A arte de Poteiro, como sua personalidade,
UM MÊS ANTES DA MORTE DE ANTONIO POTEIRO, A REVISTA ARTE!Brasileiros JÁ O ELEGERA
CAPA DE SUA QUINTA EDIÇÃO. NO MEIO DO PROCESSO DE FECHAMENTO, FOMOS SURPREENDIDOS
COM SEU FALECIMENTO. PX SILVEIRA, SEU AMIGO DE VÁRIAS DÉCADAS E AUTOR DE POTEIRO NA
PRIMEIRA PESSOA DISPONIBILIZOU, ESPECIALMENTE PARA ESTE NÚMERO, TRECHOS DE SEU LIVRO.
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CAPA HOMENAGEM
repousa no equilíbrio de contrastes imprevistos,
daí a riqueza de ambas. É bem verdade que suas
figuras têm uma aparência quase toscas, parecem
feitas por um principiante nas artes do pincel, a
ponto de seus traços serem frequentemente com-
parados, pelos desavisados, aos de uma criança.
Sim, uma criança com sabedoria octogenária.
Tão espontâneo como uma criança que ia engati-
nhando para os 90 anos de idade, Poteiro viveu em
permanente estado de aprendizado e expressão. Por
isso mesmo o rótulo de artista ingênuo, primitivo — ou
qualquer outro, não lhe cabe. Poteiro será sempre bem
maior que as simples palavras que o tentam enquadrar.
Seu linguajar artístico, original e próprio, é fonte
do patrimônio mundial que passa a fluir inesgo-
tável em algum ponto da eternidade. Mas essa
sua linguagem inaugural nada seria se não fosse
colocada a serviço de um mundo interior em
movimento e, assim, em permanente erupção
do local para o global, interagindo com o pulsar
OS FOLGUEDOS POPULARES MOVIMENTAM ATELA CIRANDAS NAS ESTRELAS –120 X 120 CM - 2008
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da vida em suas dimensões sociais e filosóficas.
Seu abundante universo de criação artística abarca
desde cenas primordiais do mundo até o caos no
trânsito, do mundo animal às sagradas escritu-
ras (a Bíblia era-lhe familiar), das Cavalhadas ao
Fogaréu, das favelas aos coronéis, de Cristo aos
deuses profanos, desde a política mundana até
os pequenos detalhes de sua biografia, sendo
esta o denominador comum de toda sua obra.
Pessoalmente falando, tenho por Antonio Poteiro
uma enorme gratidão. Pois, além de sua importância
no mundo artístico, no qual também atuo, nos últimos
três anos fui seu confidente para a montagem do livro
Poteiro na Primeira Pessoa e pude conviver com ele
momentos sublimes, seja em sua casa, em seu atelier,
em eventos e bares que frequentamos juntos ou
mesmo andando de moto com ele na garupa. Em suas
mais de 200 páginas, o livro traz muitas revelações
inéditas de sua vida. Em breve, será encaminhado a
escolas e bibliotecas de todo o País.
A ESPONTANEIDADE DE POTEIRO NA EMBLEMÁTICAOBRA CARNAVAL – 190 X 210 CM - 2001
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CAPA MUSEU
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Quando perguntado sobre o que melhor define hoje
o Museu Afro Brasil, na resposta prevalece o criador:
“O Afro Brasil não é um museu de etnologia ou de
antropologia, mas de arte e história. É o espaço
do homem afro-brasileiro na perspectiva de sua
ancestralidade africana e, ao mesmo tempo, um
centro de referência dessa contribuição”.
O museu do Ibirapuera tem pouco a ver, de fato, com
o Musèe du Quai Branly, de Paris, surgido da fusão do
Museu do Homem e do Museu Nacional de Artes da
África e da Oceania, em 2006, dois anos depois do
Afro Brasil. “Os franceses inventaram essa história
de fazer um museu das artes primeiras, porque não
cabe mais a definição de arte primitiva”, diz Emanoel
Araújo. O curador-chefe do Afro Brasil admite, con-tudo, ser difícil a catalogação “arte afro-brasileira”,
por força da poderosa influência da cultura europeia,
de origem greco-romana, entre nós.
“A arte africana tem seus próprios dogmas e estes
estão dentro de uma perspectiva peculiar: a forma
de empilhar, a forma totêmica, entre outras”, lembra
Emanoel. “Eu diria que alguns artistas, até por sua
ancestralidade, têm certos conteúdos dentro desses
dogmas, como Agnaldo Manoel dos Santos e Rubem
Valentim. A obra de Valentim, apesar de ter uma
linguagem universal, está toda fundamentada na
origem totêmica, na repetição de símbolos afro-
brasileiros de fundo religioso, ou seja, numa lingua-
gem que não é mais europeia.” Emanoel sugere que
a pesquisa acadêmica avance nesse sentido, isso,
mas não no sentido exclusivamente antropológico.
“O objeto de arte e o artista têm de ser estudados
enquanto tais.”
Ao se apropriar ou se deixar influenciar por elemen-
tos da arte africana, artistas como Picasso e outros,
no século XX, teriam se antecipado. “Aquela expo-sição no MoMA, anos atrás, ‘Arte Moderna e Arte
Primitiva’, foi um levantamento do que havia nesse
sentido no mundo inteiro”, recorda Emanoel. “Outra
tentativa foi os ‘Mágicos da Terra’, no Beaubourg.”
Para Emanoel Araújo, artistas como Picasso, Brake
e Breton se valeram um pouco da arte africana,
assim como os impressionistas se valeram da arte
japonesa. “Havia ali uma densidade plástica como
também uma densidade espiritual. Uma nova visão
de mundo a partir de certas referências que a arte
africana trazia. Essa visão é que é muito importante,
e ela de certa forma se une a uma questão religiosa
católica no Haiti, no Caribe, no Brasil, e continua
sendo uma interpretação e uma agregação. Eles
compreenderam a transcendência que havia. O
movimento surrealista, principalmente. O Breton
era um marchand de arte africana. Ele trouxe para
si e seus pares na época toda a importância da
arte africana.”
Memória e contemporaneidade (portanto, criação
atual) formam o escopo sobre o qual trabalha Ema-
noel Araújo na condução do Museu Afro Brasil. Por
sua curadoria não são ignorados nem o preconceito,
nem a discriminação ou a desigualdade social, mascompreendidos em um novo registro. O curador-
chefe do Afro Brasil ousa e avança. Com a expo-
sição Tempos de Escravidão, Tempos de Abolição:
Iconografias e Textos, ele polemizou diretamente
com movimentos negros que rechaçam o 13 de
Maio. “Mas houve o 13 de Maio, a princesa e outras
pessoas muito importantes lutaram por ele, não
importa se já era o final da escravidão.”
O Museu Afro Brasil já deu suficiente mostra de
não dogmatismo com exposições como a de Raus-
chenberg sobre o mercado das pulgas em Paris, a
do artista espanhol Uiso Alemany, ou O Deserto
Não é Silente — uma seleção das mais importantes
obras do patrimônio arqueológico e da arte con-
temporânea da Líbia. Segundo alguns críticos, as
obras de Emanoel Araújo se inscrevem em geral
no Construtivismo; segundo outros, resistem aos
rótulos e são extremamente singulares, mantendo
ao mesmo tempo relação com elementos afro ao
aliarem formas geométricas a cores fortes e con-
trastantes. “Foi em 1976, quando houve o Festivalda Nigéria de Arte Negra, que eu me dei conta de
como o meu trabalho se aproximava da arte afri-
cana. Naquela época, eram muito geométricos e
com certa tendência à abstração.
Mas, só mais recentemente, consegui aliar a geome-
tria a questões simbólicas da religião afro-brasileira
(o candomblé). A minha grande luta, agora, é tra-
balhar nessa direção: fazer uma escultura geomé-
trica, mas fundamentada em símbolos religiosos,
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CAPA MUSEU
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com base nesse grande leque do panteão africano
através da Bahia. Minha exposição no Instituto
Tomie Ohtake, no ano passado, era um pouco isso.
Uma viagem pela energia e sinergia dos deuses
africanos.”
Em tempos de Copa do Mundo, o curador-chefe do
Afro Brasil abre espaço para um bem-vindo senso de
oportunidade e inclusão estética: exibe a exposiçãoDe Arthur Friedenreich a Edson Arantes do Nasci-
mento. O negro no futebol brasileiro. “Friedenreich,
filho de alemão com negra, representa o começo
da inserção do negro no futebol brasileiro. Essa
exposição é uma homenagem a essa memória, a
esses atletas que fizeram a diferença, que deram
alegria, que inventaram a bicicleta, a folha seca. É
o drible do Garrincha, a genialidade do Pelé, a força
do Djalma Santos, a elegância do Didi.”
Emanoel Araújo é fascinado pela questão da
memória e por personagens que não podemos
deixar morrer, porque podem significar inclusive
autoestima. “Em um País como o nosso, em que a
gente sempre está precisando ser incentivado por
alguma razão, porque o Brasil às vezes é muito
difícil, muito duro, de qualquer lado que a autoes-
tima venha, será importante. Poder entusiasmar
jovens negros, a população mestiça, quem morana periferia, ver seus rostos iluminados de alegria,
isso é o que a gente quer.”
À ESQUERDA: ESTATUETAFEMININA, ATTIE , COSTA DOMARFIM, MADEIRA, ACERVOMUSEU AFRO BRASIL.À DIREITA: EMANOEL
ARAUJO, XANGÔ, 2006,MADEIRA, MIÇANGA ECRISTAL, 220 X 60 X 20 CM
Museu Afro BrasilAvenida Pedro Álvares Cabral, s/ nºParque Ibirapuera - Portão 10São Paulo - SP - BrasilTel. 55 11 5579 0593www.museuafrobrasil.com.brTer. a dom., das 10 às 17 horas (permanência até às 18h)Estacionamento: Portão 3 - Zona Azul
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GALERIA BRASILIANA
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barrocas ainda ficaram. Mas perdeu-se muita coisa
e de qualidade, como a publicidade do comérciopopular de cidades como Olinda. Não sobraram
exemplares desse tipo de arte, até para comparar-
mos com o que foi feito mais recentemente.” Para
ele, a pintura de tom popular ainda é mais difícil de
ser estudada historiograficamente e com variedade,
porque é pouco valorizada e tem menos consumo
nas regiões de origem. “A produção tridimensional
é mais fácil de ser vendida. As pinturas, além da
dificuldade em sua comercialização, necessitam
de muito mais estudo e de vivência para uma real
leitura. Por isso, muitos pintores ditos ingênuos
não têm uma obra de qualidade, que acaba sendoincensada inicialmente, mas que não se sustenta
mais em longo prazo.”
Anos 1940
Depois da Missão de Pesquisas Folclóricas, empre-
endida por Mário de Andrade em regiões menos
conhecidas do Norte e do Nordeste do País, em 1938,
Rugiero observa que a década seguinte terá iniciativas
que colocarão a arte popular novamente em destaque.
“José Claudino da Nóbrega (1909-1995) vai a
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GALERIA BRASILIANA
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NA PÁGINA AO LADO: VISTA GERAL DA GALERIA.EM DESTAQUE AS BONECAS DA ARTISTA
MARLIETE. AO LADO: O REALISMO MANEIRISTADE ZEZINHA COM SUAS FIGURAS FEMININAS
Cuiabá e traz à tona o barroco de Cuiabá, que
não era visto nem estudado àquela época. Depois,
vai à região do São Francisco e descobre Mestre
Guarany (1884-1985), um gênio da escultura, com
suas carrancas. Na mesma década, Mestre Vitalino
(1909-1963) também é descoberto em Caruaru por
Augusto Rodrigues e vira uma celebridade, depois
de matéria na revista O Cruzeiro. E, no interiorde São Paulo, José Antônio da Silva (1909-1996)
também tem sua obra reconhecida.” Segundo o
galerista, os anos 60 serão outro tempo importante
para a arte popular, em especial pela atuação de
Lina Bo Bardi (1914-1992) à frente da criação de
um museu popular no Solar do Unhão, em Salva-
dor, fechado pelo regime militar e que hoje sedia
o MAM baiano.
Para Rugiero, o marco mais recente da valorização
da arte popular é a Mostra do Redescobrimento,
ocorrida em 2000 e que, em segmento organi-
zado por Emanoel Araújo, colocou em primeiro
plano obras feitas por internos de estabelecimentos
psiquiátricos, ex-votos e uma variedade de peças
criadas em diversas fontes menos eruditas e que,
por décadas, passaram à margem do sistema de
arte. “O mercado despertou-se novamente para a
arte popular”, considera ele.O galerista acredita que artistas valorizados na cena
contemporânea, como Efrain Almeida, já confir-
mado para a 29a Bienal de São Paulo, exposição que
começa em setembro, e Farnese de Andrade (1926-
1996), têm um forte lastro no popular, que faz com
que a potência da sua obra seja mais perceptível. “E
há casos mais antigos de artistas estabelecidos na
história da arte brasileira, como Tarsila do Amaral,
Anita Malfatti e Di Cavalcanti, com forte influência
dessa arte espontânea.”
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A BIENAL DE 2010 PROMETE algo há muitoesperado: uma potente discussão sobre a incon-
tornável relação entre arte e política. Sobretudo
depois da experiência ousada e fracassada da Bienal
anterior, a famigerada “Bienal do Vazio” – na qual
a proposição francamente política da curadoria se
esvaziou perante suas atitudes questionáveis, de
debates vazios, de festas sobre o nada, resultando
na imagem de uma cidade devastada (uma “Detroit”,
segundo Luiz Renato Martins), ou de mera “Bienal
Diet” (segundo Paulo Sérgio Duarte) –, é de política
mesmo que se espera tratar agora.
O que se deseja hoje, realmente, é que a nova Bienal
retome o que a anterior não arriscou: uma reflexão
consistente sobre o lugar da arte na nova configu-
ração mundial e, ao mesmo tempo, sobre a própria
instituição Fundação Bienal, esse glorioso resquício
do desenvolvimentismo, que há muito frequenta mais
as páginas policiais que as culturais. Salvo engano,
foi justamente esse desejo, e essa urgência, que
motivou os curadores atuais, Moacir dos Anjos e
Agnaldo Farias (ambos brilhantes pensadores da artecontemporânea brasileira), a elaborar a proposta.
Mas “política” pode significar muita coisa. Pode ser
a prática da “polis”, pode ser a relação institucio-
nal própria ao campo artístico, pode ser a relação
com o Estado ou com o capital. O que os curadores
entenderão sobre o conceito só poderá ser avaliado
a partir das obras escolhidas e da maneira com que
elas se relacionarão ou não entre si e com a proposta
geral. Seja como for, essas escolhas serão duras e
politicamente questionadas.
O QUE SE ESPERA É QUE APRÓXIMA BIENAL ARRISQUE
DOS CERCA DE 150 ARTISTAS ANUNCIADOS, 50 DELES SÃO BRASILEIROS.O QUE ISSO SIGNIFICA POLITICAMENTE?
POR FRANCISCO ALAMBERT
Um desses questionamentos, certamente, virá emfunção da escolha de um número enorme de artistas
nacionais. Dos cerca de 150 artistas anunciados,
50 deles são brasileiros. O que isso significa politi-
camente? Uma supervalorização da arte brasileira
(para gosto dos colecionadores)? Uma demonstra-
ção de que aqui, no campo da produção artística,
o vazio foi um engano? Um surto neonacionalista,
que acompanha o otimismo do acordo político que
sustenta o “lulismo” e a crença, tanto interna quanto
externa, de que o Brasil é o país do futuro? O palco do
Ibirapuera será o lugar dessas e de outras questões.
O que se pode apreender das escolhas anunciadas é
que elas são rigorosas do ponto de vista da qualidade
artística. Corretas, talvez até demais. Basicamente,
não há surpresas ou apostas surpreendentes.
Oiticica está lá, novamente. Espero que dessa vez
apresentado a partir daquilo que ele realmente foi:
um dos pensadores mais importantes da política das
artes (e não meramente um artista que “antecipou”
procedimentos da arte contemporânea). Estão lá
também os “Antônios” (Dias e Manuel), Flavio deCarvalho, Paulo Bruscky (espero que dessa vez seja
mostrado o seu trabalho mais radical e não apenas
o seu peculiar e delicioso ateliê), Artur Barrio, Cildo
Meireles, Lygia Pape (que merece disputar com a
outra Lygia mais famosa seu lugar nos desdobra-
mentos radicais do neoconcretismo), Amélia Toledo,
Nelson Leirner.
Jovens e brilhantes artistas já estabelecidos também
serão expostos à nova política da Bienal: Tatiana
Blass, Matheus Rocha Pitta, Graziela Kunsh (que têm
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OPINIÃO BIENAL SÃO PAULO 2010
7/21/2019 Arte brasileiros
http://slidepdf.com/reader/full/arte-brasileiros 63/68
desenvolvido uma consequente reflexão sobre aarte e a cidade e a inter-relação entre coletivos de
artistas), além de Sara Ramo, Cinthia Marcelle e
Marilá Dardot, que já expuseram juntas na Galeria
Vermelho, em São Paulo.
Mas, certamente, a aposta mais ousada é a que
envolve a participação do coletivo Pixação, talvez
como um acerto de contas com os problemas da
Bienal passada. Não só por isso, é a mais “política”
(ou seja, a mais tensa) das apostas dos curadores,
uma vez que trazer o “pixo” para a Bienal pode ter
significações incontroláveis. A ira reacionária, porexemplo. Recentemente, a revista Veja anunciou
que a “Bienal abre as portas para o vandalismo
que pretende ser arte”. É de política bruta que
eles estão falando.
Francisco Alambert
Professor de História Social da Arte do Departamento de História daUSP. Escreveu, com Polyana Canhête, Bienais de São Paulo: daEra do Museu à Era dos Curadores (Editora Boitempo).
LYGIA PAPET TÉIA (DETALHE)FIO METALIZADO
DIMENSÕES VARIADAS [1979/2005]
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7/21/2019 Arte brasileiros
http://slidepdf.com/reader/full/arte-brasileiros 64/68
www.berlinbiennial.de
www.me-berlin.com
www.berlinerfestspiele.de
6ª BIENAL DE BERLIM
Inaugurada no dia 11 de junho, a Bienal de Berlim se
estende até 8 de agosto, apresentando uma mostra
compacta e incisiva sustentada por um claro fio con-
dutor de caráter sócio-político. A curadora Kathrin
Rhomberg reuniu 43 artistas internacionais em seis
locais distintos. A maior concentração das obras
pode ser vista no KW Institute for Contemporary
Art, no bairro de Mitte e no prédio abandonado
da Oranienplatz, 17 — local rodeado originalmente
por passeatas e manifestações, a exemplo dos usu-
ais protestos de 1o de maio. Esse palco subversivo
contracena com a Alte Nationalgalerie, onde estãoexpostos os desenhos de Adolph Menzel como parte
oficial da Bienal, enfatizando assim o seu traço
autêntico e contemporâneo, independentemente
do distanciamento temporal.
ME COLLECTORS ROOM BERLIN
Por iniciativa do colecionador Thomas Olbricht, foi inau-
gurado no dia 1o de maio um novo espaço de arte perma-
nente dedicado principalmente à apresentação de sua
coleção privada. Localizado na Auguststrasse, bairro de
Mitte, ao lado do KW – Kunst Werke, oferece aos visitantes
uma logística com livraria e cafeteria comparável a de
museus interna-
cionais. Colecio-
nador compulsivo
desde a infância,
Olbricht apre-
senta na primeira
mostra de sua
coleção, Passion
Fruits, até o dia
12 de setembro,
uma variedadeque parte de um
gabinete de curio-
sidades, composto
de diversas vitrines com objetos milenares distribuídos
em diversas categorias –exóticos, científicos, médicos,
entre outros. O vistoso cubo branco abriga uma seleção
única e subjetiva de obras de arte, incluindo mobiliário
dos irmãos Campana.
MARTIN GROPIUS BAU
Essa instituição se consagrou nos últimos anos pela
apresentação de mostras internacionais para ela
concebidas. Aqui, pode ser visto até o dia 9 de agosto
duas exposições imperdíveis.
Uma delas é a primeira mostra em uma instituição
berlinense de Olafur Eliasson, artista dinamarquês
que aqui reside há muitos anos. Sob curadoria deDaniel Birnbaum, o evento abriga obras que criam
um diálogo entre a cidade e o espaço interno. Para-
lelamente, ocorre também a retrospectiva de Frida
Kahlo, composta por 150 obras, incluindo pintura e
desenho, sob a curadoria de Helga Prignitz-Poda,
a mostra mais completa sobre a artista até então
realizada, unindo obras do México e Estados Unidos.
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ARTE! BERLIM
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Fundación Federico Jorge KlemmM. T. de Alvear, 626Buenos Aires – Argentinawww.fundacionfjklemm.org/contacto
Galeria Jorge Mara La rucheParaná, 1133Buenos Aires – [email protected]
Carla Rey Arte ContemporaneoHumbolt, 1478Buenos Aires-Argentinawww.carlarey-artecontemporaneo.blogspot.com
Fundación Proa Av. Pedro de Mendoza, 1929Buenos Aires – Argentinawww.proa.org
“SIN TITULO”
EDUARDO STUPIA
Stupia é um dos artistas de maior destaque no cená-
rio da arte argentina atual. Desenhos, grafismos,
pinturas em branco e preto, nos quais o traço do
artista percorre o branco da superfície, deixando
marcas de grande riqueza e que circulam na estética
da galeria de Jorge Mara.
SUJETO Y PALABRA
JULIO ALAN LEPEZ
Excelente realização com
olhar irônico. O homem
retratado por Lepez é um
jovem urbano nas nossas
cidades globalizadas. É
uma obra inquietante, com
referências ambientais e
temporais. Na exposição, o
artista brinca com as entreli-nhas que o espectador pode
desfrutar.
EL UNIVERSO FUTURISTA: 1909 – 1936
Uma exposição histórica com quase 200 obras da Cole-
ção do Museu de Arte Moderno e Contemporâneo de
Trento e curadoria de Gabriella Belli. Esta exibição toma
quatro salas, cada uma com identidade própria e com
a capacidade criativa das vanguardas.
MIRADAS NÓMADES
CURADORA PILAR ALTILIO
Três olhares: Michel Riehl, Nicolás Ferrando, Sergio
Guerrero. Três fotógrafos que viajam e se apro-
ximam do mundo que os surpreende. Culturas e
projetos diferentes que se associam nesta exposição
para criar redes de cumplicidade entre o artista e o
observador. Como diz a curadora em seu texto de
apresentação: “Um percurso fugaz pelo universo
em constante construção”.
ARTE! BUENOS AIRES
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Disposable: nostalgia for the still imageDina Mitrani Gallery
Até 28.82620 NW 2nd. Ave. - Miami, Fl 33127
Small wonders (art) salon - Summer FundraisingProject
Artformz Alternative Até 20.8171 NW 23rd Street - Miami, FL 33127
Volf Roitman: From MADI to The Ludic RevolutionFrost Art Museum
Até 29.810975 SW 17th Street - Miami, FL 33199
Claire Fontaine: EconomiesMuseum os Contemporary Art, North Miami
Até 22.8 Joan Lehman Building / 770 NE 125th Street -North Miami, Florida 33161
DISPOSABLE: NOSTALGIA FOR THE STILL IMAGE
A mostra faz uma conexão entre o filme de câmera
à qualidade descartável agora associada ao trata-
mento digital. Oito fotógrafos apresentam trabalhos
que trazem a relação entre memória e fotografia
com a digitalização de imagens – e suas conseqüên-
cias. A exposição conta com pontos de vista que
analisam a chegada da revolução digital: a perda
da nostalgia associada à documentação visual de
lugares, pessoas e objetos. Integram o time: Danielle
Bender, Luis Lazo, Abner Nolan, Samantha Salzinger,
Humberto Torres, Colleen Plumb e Kyle Ford.
PEQUENAS MARAVILHAS
Sessenta e dois artistas locais
recheiam o espaço da Galeria
Artformz Alternative com peque-
nas obras de arte. A mostra trata-
se de um evento experimental,
onde artistas das mais diversas
áreas expõem seus mais recentes
trabalhos. Serão explorados os
mais variados meios, incluindo pin-tura, desenho, colagem, escultura,
cerâmica e gravura. Uma instala-
ção cobrirá toda a parede da Gale-
ria, dando à exposição expressões
diversas.
VOLF ROITMAN
A comemoração dos 60 anos de carreira do artista uru-
guaio Volf Roitman traz a Miami a exposição From MADI
to The Ludic Revolution. Roitman mostra versatilidade
no mundo das artes, passando por pintura, escultura,
arquitetura, humor etc. - e tudo pode ser conferido na
mostra, que reúne peças do artista dos anos 50 até os
dias de hoje.
CLAIRE FONTAINE: ECONOMIES
Claire Fontaine apresenta anti-
gos trabalhos, incluindo escul-
turas, peças de luz, vídeos e tex-
tos, além de suas novas inter-
venções. A exposição conta com
uma sala de projeção de vídeos
e filmes que influenciaram o trabalho da artista.Claire Fontaine é ligada nos modos colaborativos
de trabalho e questionamento das possibilidades
para a mudança social, explora políticas, teorias e
artistas da década de 1960 da Europa e dos Estados
Unidos, brincando com esse legado.
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ARTE! MIAMI
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Uma vida extraordinária.Um homem extraordinário.
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