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    XXIII ENANGRAD

    Teoria Geral da Administrao (TGA)

    A SOCIOLOGIA DE BOURDIEU: APLICAES E POTENCIALIDADES EMPESQUISAS EM ADMINISTRAO

    Anderson de Souza Sant'Anna

    Iago Vincius Avelar Souza

    Bento Gonalves, 2012

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    REA TEMTICA: TEORIA GERAL DA ADMINISTRAO - TGA

    A SOCIOLOGIA DE BOURDIEU: APLICAES E POTENCIALIDADES EM PESQUISAS EMADMINISTRAO

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    A SOCIOLOGIA DE BOURDIEU: APLICAES E POTENCIALIDADES EM PESQUISAS EMADMINISTRAO

    RESUMO

    Este artigo tem como propsito apresentar resultados de pesquisa bibliomtrica desenvolvida juntoaos anais do EnANPAD, no perodo de 2001 a 2011, e do EnEO, entre 2004 a 2012, com vistas aidentificar a adoo do arcabouo terico de Bourdieu em estudos no campo da Administrao.Buscou-se, tambm, detalhar estudo recente, identificado junto aos artigos revisados, a fim de ilustrara aplicao desse referencial e suas potencialidades em caso concreto de aplicao. Comoresultados pode-se constatar nfase ainda reduzida quanto adoo da perspectiva de Bourdieu narea. Do universo dos artigos publicados nos anais dos referidos congressos, 32 utilizaram osocilogo francs como marco terico, sendo 23 publicados nos anais do EnANPAD e 9, nos anaisdo EnEO, nos perodos considerados. A distribuio irregular no tempo, a disperso nas autorias einstituies de origem das produes sugerem a ausncia de tradio, assim como de linhas depesquisa mais consolidadas envolvendo o arcabouo terico bourdieusiano, na rea, no pas. Poroutro lado, descrio de recente artigo envolvendo o referencial terico de Bourdieu ilustra a

    vitalidade, contemporaneidade e riqueza de possibilidades quanto sua aplicao, notadamente, naanlise de temas emergentes, assim como na incorporao de novos olhares e perspectivas deanlise, em particular em estudos de cunho mais exploratrio (exploitation research).

    Palavras-chave: Bourdieu, , Pesquisas em Administrao, Estudos em Administrao, EstudosOrganizacionais, Pesquisa Bibliomtrica

    ABSTRACT

    This paper aims to present the results of bibliometric survey with the propose to identifying theadoption of Bourdieu's theoretical studies in the Business Administration field. We also detailed one ofthe latest study identified in order to illustrate the application of this framework and its potential

    application in the field. The results reveal reduced emphasis on the adoption of the perspective ofBourdieu in the area. From the universe of articles published in the proceedings investigated -EnANPAD, and EnEO - 32 used the French sociologist as theoretical framework - 23 published in theannals of EnANPAD and 9 in the annals of EnEO - in the periods considered. The irregular distributionin time, the dispersion in the authorship and institutions of origin of production suggest the absence oftradition, as well as established lines of research involving the Bourdieus theoretical approach in thefield in the country. Moreover, a recent article involving description of the theoretical framework ofBourdieu illustrates the vitality and richness of contemporary possibilities for its application, especiallyin the analysis of emerging themes, as well as the incorporation of new views, and perspectives ofanalysis, in particular in studies of a more exploratory (exploitation research).

    Keywords: Bourdieu, Business Administration Research, Business Administration Studies,Organizational Studies, Bibliometric Research

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    A SOCIOLOGIA DE BOURDIEU: APLICAES E POTENCIALIDADES EM PESQUISAS EMADMINISTRAO

    Introduo

    Analisar e discutir os estudos e conceitos de Bourdieu no tarefa simples, notadamente, quando seconsidera sua trajetria pessoal, a amplitude e a riqueza de suas contribuies tericas emetodolgicas. No obstante tais desafios, uma revisita aos principais conceitos desse autor que, aolongo de sua obra, abrange temas diversos - arte, cultura, educao, patronato, campesinato,consumo, poltica - sob o enfoque de diferentes disciplinas - sociologia, filosofia, etnologia,antropologia, economia, histria, entre outras - revela-se significativo quanto a novos olhares eperspectivas, capazes de ampliar a compreenso acerca da dinmica da sociedade, dasorganizaes e indivduos que marcam o contemporneo.

    No campo dos estudos em Administrao, conversaes com o arcabouo terico bourdieusianoencontram-se, mesmo considerando as amplas possibilidades que o autor apresenta ainda poucoexplorado, resultando em significativo potencial quanto a novas abordagens terico-metodolgico-conceituais que venham a propiciar investigar as relaes sujeito-trabalho-organizaes-sociedade,

    conforme mencionado, sob novas formas perspectivas.

    Nesse sentido, parece significativo, como ponto de partida, revisitar os principais construtoselaborados por Bourdieu como, por exemplo, as noes de habitus, campo, capital (econmico,cultural, social e simblico). Alm disso, aprofundarmos quanto a implicaes de suas consideraessob temas como a dominao, a distino, a violncia simblica, dentre outros, cuja aplicabilidade nombito dos estudos organizacionais parece-nos intuitiva. Com base nessa reviso, prope-se umlevantamento bibliomtrico da produo no campo dos Estudos em Administrao fundamentados noarcabouo terico desse autor.

    Tendo por base tal levantamento e visando corroborar quanto a possibilidades de maior aplicaodos conceitos e abordagem de Bourdieu, nesse campo, este artigo visa, ainda, ilustr-las, por meioda anlise de estudo recente, produzido, no Brasil, e publicado junto aos anais do ltimo Encontro de

    Estudos Organizacionais (EnEO). Por meio desse exemplo, visa-se retratar a amplitude temtica eatualidade do approch bourdesiano, evidenciando a vitalidade de suas contribuies aos estudosterico-empricos, em Administrao. Cabe salientar que a pesquisa bibliomtrica envolveu, alm doconjunto dos anais dos EnEO, realizados entre 2004 e 2012, reviso dos anais do Encontro Nacionaldos Programas de Ps-graduao em Administrao (EnANPAD), no perodo de 2001 a 2011.

    No caso do artigo selecionado como ilustrao, trata-se de anlise comparativa entre duas pesquisasrealizadas por seus autores com o objetivo de desenvolver - tendo como referncia a perspectivaterica de Bourdieu - e validar tipologia destinada identificao de tipos de empreendedores e suasrelaes entre si e com a comunidade a que se inserem, considerando dinmicas de reconverso desuas funes econmicas.

    Em linhas gerais, a utilizao desse exemplo parece-nos significativo na medida em que, alm de se

    apresentar como ilustrativo da utilizao contempornea do arcabouo terico bourdieusiano, o fazconsiderando novas fronteiras aos Estudos em Administrao e Organizacionais, ao referir-se anlise do construto Empreendedorismo Sociale suas variaes, no Brasil, tendo em vista a literaturainternacional sobre o tema vis--vis dinmicas de reconverso de funes econmicas de cidades,ambas temticas ainda pouco exploradas em estudos mais sistemticos, tanto terica, quantometodologicamente, em particular, no contexto nacional.

    Isto posto e tendo por base os objetivos deste artigo, discorre-se, a seguir, sobre conceitos chave quecompem a base da sociologia de Bourdieu para, na sequncia, analisar estudo selecionado comobase, a partir da pesquisa bibliomtria procedida, para exemplificao de sua aplicao epotencialidades junto aos Estudos em Administrao.

    A gnese do habitus

    O habitus pode ser compreendido como um conceito central na sociologia de Pierre Bourdieu,estando presente na base da reproduo da ordem social e se constituindo como mediador entre as

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    instncias do individual e do coletivo. Segundo ele, trata-se de disposies adquiridas pelaexperincia, logo, variveis segundo o lugar e o momento (BOURDIEU, 2004: 21).

    Em termos histricos, o habitus um antigo conceito aristotlico-totemista repensado por Bourdieu,que evolui dentro de suas prprias obras passando de um conceito determinista a um mais aberto,

    que leva em conta a autonomia da ao do agente (BOURDIEU, 2004). Nessa direo, Bourdieu(2009: 87) o define como:

    Os condicionamentos associados a uma classe particular de condies de existnciaproduzem habitus, sistemas de disposies durveis e transponveis, estruturasestruturadas predispostas a funcionar como estruturas estruturantes, ou seja, comoprincpios geradores e organizadores de prticas e de representaes que podem serobjetivamente adaptadas ao seu objetivo sem supor inteno consciente de fins e odomnio expresso das operaes necessrias para alcan-los, objetivamentereguladas e regulares sem em nada ser o produto da obedincia a algumas regrase, sendo tudo isso, coletivamente orquestradas sem ser o produto da aoorganizadora de um maestro.

    Desse modo, o habitus um sistema de disposies que os indivduos adquirem no processo desocializao, ou seja, so modos de agir, fazer, perceber, sentir e pensar, interiorizadas pelosindivduos como resultado das condies de sua existncia. Contudo, no uma imposio, , naverdade, uma disposio de sentido, fornecendo ao agente um sentido de comportamento, a partir desua relao com a sociedade, a estrutura e a ao. Ainda permite a produo de pensamentos,percepes e todas as aes nas condies particulares de sua produo, evidenciando, umaliberdade, porm, controlada (BOURDIEU, 2009; WACQUANT, 2002).

    , nessa direo, um sistema de classificao que limita as escolhas dos indivduos, um sistema declassificao anterior ao, que na forma interiorizada permite ao agente agir sem precisar lembrar,necessariamente, das regras observadas para tal. Alm de sistema de classificao, o habitus, comefeito, princpio gerador de prticas classificveis de um sistema e de sistemas de classificao(BOURDIEU, 2008).

    Em termos estruturais, o habitus composto de duas dimenses, primeiro, pelos princpios devalores morais que de forma interiorizada passam a regular a conduta dos indivduos; e, segundo,pela postura, ou forma de disposio do corpo e suas relaes, sendo essas duas partes, no entanto,indissociveis. Em linhas gerais, o habitus compe a raiz daquilo que define a personalidade dosindivduos. Assim sendo, at mesmo as preferncias e gostos so produtos do habitus(BONNEWITZ,2003).

    Bourdieu ainda trata o habituscomo fator de distino, produto da posio e da trajetria social dosindivduos, assim, cada classe corresponde a um habitusdiferente, que produz prticas distintas e seorganiza por meio de diferentes capitais.

    Apesar de tanto Bourdieu quanto Karl Marx tratarem a realidade social como relaes entre classes

    historicamente em luta, a maneira com que o segundo constri a teoria do espao social pressuperupturas com a teoria marxista (GONALVES, 2010). Para Bourdieu, a posio social no se refereapenas posio nas relaes de produo, mais posio ocupada nos diferentes campos sociais.Bourdieu considera o campo social como um espao multidimensional, o qual no deve ser tratadounicamente pela dimenso econmica, devendo considerar, tambm, as lutas simblicas queocorrem nos diferentes campos (BOURDIEU, 2010).

    Assim sendo, nas palavras do autor, o habitus constitui:

    Estrutura estruturante que organiza as prticas e a percepo das prticas, o habitus tambm estrutura estruturada: o princpio de diviso em classes lgicas queorganiza a percepo do mundo social , por sua vez, o produto da incorporao dadiviso em classes sociais. Cada condio definida, inseparavelmente, por suas

    propriedades intrnsecas e pelas propriedades relacionais inerentes sua posio nosistema das condies que , tambm, um sistema de diferenas, de posiesdiferenciais, ou seja, por tudo o que a distingue de tudo o que ela no e, em

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    particular, de tudo o que lhe oposto: a identidade social define-se e afirma-se nadiferena (BOURDIEU, 2008:164).

    Para a sociologia de Bourdieu, todos os indivduos biolgicos, sendo produto das mesmas condiese de mesmos habitusseriam, a priori, idnticos. Cada indivduo nada mais que uma variante de um

    habitusde posio de classe, sendo o princpio da diferena entre os habitus individuais decorrentesde trajetrias sociais distintas. Ou seja, existe um habitus de classe e dentro desse algumasvariaes, que repercutem as individualidades, produtos das trajetrias individuais. SegundoBourdieu (2009: 100):

    O princpio das diferenas entre o habitus individuais reside na singularidade dastrajetrias sociais, s quais correspondem sries de determinaes cronologicamenteordenadas e irredutveis umas s outras: o habitus que, a todo momento, estruturaem funo das estruturas produzidas pela experincias anteriores as experinciasnovas que afetam essas estruturas nos limites definidos pelo seu poder de seleo,realiza uma integrao nica, dominada pelas primeiras experincias, dasexperincias estatisticamente comuns aos membros de uma mesma classe. Comefeito, o peso particular das experincias primitivas resulta, no essencial, do fato de

    que o habitus tente a garantir sua prpria constncia e sua prpria defesa contra amudana mediante a seleo que ele opera entre as informaes novas, rejeitando,em caso de exposio fortuita ou forada, as informaes capazes de questionar ainformao acumulada e, principalmente, desfavorecendo a exposio a taisinformaes.

    Nesse sentido, o habitus entendido por como forte fator de reproduo social. Os agentes, quandodotados de mesmo habitusno precisariam entrar em acordo para agir de mesma maneira. Cada um,acreditando obedecer a um gosto individual, concordaria, de forma inconsciente, com os outros. Sobtal perspectiva, a prtica coletiva deve sua unidade ao habituscoletivo, que cria a iluso da escolha,quando os agentes esto apenas mobilizando o habitusque os modelaram (BONNEWITZ, 2003).

    Dessa forma, o habitusest diretamente relacionado prtica, ou melhor, ela resultado dela, mas

    no somente. Bourdieu (2008: 97) chega a propor uma frmula para sua compreenso: [(Habitus)(Capital)] + Campo = Prtica. Partindo dessa frmula, o habitus se traduziria em estilos de vida,

    julgamentos morais, polticos e estticos que, tambm, permitem criar estratgias individuais ecoletivas (VASCONCELOS, 2002).

    Em adio, Bourdieu lembra que para compreender a constituio do habitus necessrio conhecersua histria, gnese e estruturas vigentes na sociedade e em um dado campo, em particular. Asfunes sociais seriam, portanto, fices, na medida em que se forjam a partir de uma imagem social- por meio da representao - e, para serem cumpridas, necessitam de adeso dos agentes ao jogosocial. O habitus seria, assim, um fator explicativo da lgica de funcionamento da sociedade(GONALVES, 2010).

    Bourdieu enfatiza, ademais, que o habitus possui caractersticas que se incorporam ao agente,

    levando-o a se tornar o prprio agente que reproduz, internamente, as estruturas externas do mundo.Contribui, ainda, de forma sutil e, no raro, inconsciente, para a reproduo da ordem social(BOURDIEU, 2010).

    Tambm a forma pela qual as instituies encontram sua realizao. A propriedade se apropria doproprietrio, sob a forma de estruturas geradoras de prticas, conformes a sua lgica e exigncias.(BOURDIEU, 2009). Contudo, o habitus no um destino, sendo um produto da histria est sujeito anovas experincias e a ser por ela afetado. Ele duradouro, porm no imutvel.

    De fato, Bourdieu quando prope o conceito de habituspretende evidenciar que o ser humano umser social, que seus comportamentos e aes, at as que julgamos mais naturais, so produtos daorganizao social. Tambm, visava tratar a lgica das prticas nos diferentes campos e mecanismosda reproduo social (BONNEWITZ, 2003).

    Juntamente com o habitus, o conceito de campo tambm ocupa lugar de destaque na sociologia deBourdieu.

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    A estrutura dos campos sociais

    Bourdieu define a sociedade como um conjunto de campos sociais atravessados por lutas entreclasses. Cada campo , desse modo, marcado por agentes sociais providos de mesmos habitus,

    sendo essa relao entre habitus e campo uma relao de condicionamento: o campo estrutura ohabitus(BONNEWITZ, 2003).

    Em O poder simblico, Bourdieu trata o campo social como:

    [...] um espao multidimensional de posies tal que qualquer posio atual pode serdefinida em funo de um sistema multidimensional de coordenadas cujos valorescorrespondem aos valores das diferentes variveis pertinentes: os agentesdistribuem-se assim nele, na primeira dimenso, segundo o volume global do capitalque possuem e, na segunda dimenso, segundo a composio do seu capital querdizer, segundo o peso relativo das diferentes espcies no conjunto das duas posses(BOURDIEU, 2010:135).

    Ou seja, cada elemento do campo um agente que comunga de interesses e capitais similares. Cadacampo possui suas prprias caractersticas, com suas regras e capitais especficos. Por possuir umaparte que domina e outra que dominada, de acordo com o acumulo de capital que detm, o campotende a ser marcado por conflitos constantes. O campo poderia ser considerado, desse modo, comoum mercado, em que os agentes se comportariam como jogadores (BONNEWITZ, 2003).

    H que se salientar, que no se tratariam, portanto, de espaos com fronteiras delimitadas: oscampos interagem entre si, muito embora, no sejam totalmente autnomos. O limite de um camposeria o limite de seus efeitos, em que tomam parte todos os que so afetados por tais efeitos ou neleos produz.

    Bourdieu denomina essas caractersticas dos campos de leis gerais dos campos, que, conformeBonnewitz (2003: 60):

    Em termos analticos, um campo pode ser definido como uma rede ou umaconfigurao de relaes objetivas entre posies. Essas posies so definidasobjetivamente em sua existncia e nas determinaes que elas impem aos seusocupantes, agentes ou instituies, por sua situao (situs) atual e potencial naestrutura da distribuio das diferentes espcies de poder (ou de capital) cuja possecomanda o acesso aos lucros especficos que esto em jogo no campo e, ao mesmotempo, por suas relaes objetivas com as outras posies (dominao, subornao,homologia etc.). Nas sociedades altamente diferenciadas, o cosmos social constitudo do conjunto destes microcosmos sociais relativamente autnomos,espaos de relaes objetivas que so o lugar de uma lgica e de uma necessidadeespecficas e irredutveis s que regem os outros campos. Por exemplo, o campoartstico, o campo religioso ou o campo econmico obedecem as lgicas diferentes.

    Para Bourdieu (2010), cada campo dotado de lgica e histria prpria, o que permite compreendersua relativa autonomia em relao aos outros. Nessa direo, campos diferentes s poderiamfuncionar na medida em que se vislumbrassem agentes que lhes proporcionassem recursos,contribuindo para manter suas estruturas, ou de forma condicionada, transform-los. A posio dosagentes no campo social dependeria, assim, de sua posio no espao social. A estrutura dosagentes no campo social seria, em decorrncia, reflexo da estrutura social. Apesar de possuremlgicas prprias os campos so atravessados por clivagens idnticas s que opem as classessociais.

    Bourdieu (2010:69) ainda acrescenta que:

    Compreender a gnese social de um campo, e apreender tudo aquilo que faz a

    necessidade especfica da crena que o sustenta, do jogo de linguagem que nele sejoga, das coisas materiais e simblicas em jogo que nele se geram, explicar, tornarnecessrio, subtrair ao absurdo do arbitrrio e do no-motivado os atos dos

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    produtores e as obras pro eles produzidas e no como geralmente se julga, reduzirou destruir.

    Ainda segundo Bonnewitz (2003), e conforme j destacado, Bourdieu compara o campo com omercado, com a relao entre produtores e consumidores. Os produtores, indivduos que detm

    algum capital especfico e lutam entre si a fim de conquistarem capital suficiente para dominarem ocampo. Nesse sentido, o campo um espao de foras opostas, sendo o capital um meio e um fim.Nas palavras de Bonnewitz (2003: 61):

    Efetivamente, podemos comparar o campo a um jogo (embora, ao contrrio de umjogo, ele no seja o produto de uma criao deliberada e obedea a regras, oumelhor, a regularidade que no so explicadas e codificadas). Temos assim mveisde disputa que so, no essencial, produto da competio entre os jogadores; uminvestimento no jogo, illusio(de ludus, jogo): os jogadores se deixam levar pelo jogo,eles se opem apenas, s vezes ferozmente, porque tm em comum dedicar ao jogo,a ao que est em jogo, uma crena (doxa), um reconhecimento que escapa aoquestionamento [...] e essa coluso est no princpio de sua competio e de seusconflitos. Eles dispem de trunfos, isto , de cartas mestra cuja fora varia segundo o

    jogo: assim como a fora relativa das cartas muda conforme os jogos, assim tambma hierarquia das diferentes espcies de capital (econmico, cultural, social, simblico)varia nos diferentes campos.

    O objetivo desse jogo acumular o mximo de capital, desde que respeitadas suas regras. Ademais,as formas de jogar, conforme indicado, seriam relativas quantidade de capital dos jogadores, ouseja, jogadores em posies dominantes tendem a serem conservadores. J jogadores em posiesdominadas tenderiam a ser contestadores, seno subversivos (BONNEWITZ, 2003). Buscandoavanar a caracterizao da noo de capital, discorre-se, no tpico, a seguir, sob o conceito a elaatribuda por Bourdieu.

    O conceito de capital

    Conforme j enunciado, segundo Bourdieu, os campos organizam-se, hierarquicamente, no interiordo espao social e de poder, a partir de capitais (GONALVES, 2010). Em outros termos, asdiferentes formas de capital permitem estruturar o espao social. Desse modo, para compreendercomo se organiza tal espao torna-se relevante uma anlise dos diferentes tipos de capitaismobilizados.

    Sob essa tica, convm, de antemo, salientar que Bourdieu, diferentemente de Karl Marx, no limitao conceito de capital dimenso econmica. Para ele, o capital se acumula por meio de operaesde investimento, transmite-se pela herana e permite extrair lucros segundo a oportunidade que seudetentor tiver de operar as aplicaes mais rentveis (BONNEWITZ, 2003). A partir dessa definio,Bourdieu distingue quatro tipos de capitais: econmico, cultural, social e simblico.

    Segundo Bourdieu, o capital cultural apresenta-se sob trs formas: no estgio incorporado, no estgio

    objetivado e no estgio institucionalizado, sendo, em todas essas manifestaes, a priori, resultantedo conjunto de qualidades intelectuais transmitida pela famlia ou adquiridas junto ao sistema escolar(GONALVES, 2010: 57):

    No primeiro caso, pressupe um trabalho de inculcao e assimilao (habitus), nopodendo ser transmitido instantaneamente, necessitando de investimento de tempopelo agente, e no podendo ser acumulado, morre com o agente. No segundo,tratando-se de suportes materiais, estes podem ser transmitidos como propriedade,porm requerem uma condio especfica para serem desfrutados: as disposiesincorporadas que permitem apreci-los. No terceiro caso, remete-se ao certificadoescolar, documento jurdico que comprove a competncia cultural do agente, masque tem relativa autonomia em relao a este, por exemplo, com o reconhecimentosocial deste documento pode variar conforme o perodo histrico, ou quando em

    comparao com outros, concedidos por diferentes instituies.

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    O capital social, por sua vez, envolve a manuteno das relaes sociais que englobam tanto osindivduos quanto o coletivo, acumulando-se pelo processo de socializao, isto , pela rede derelaes mais ou menos institucionalizadas de interconhecimento e interreconhecimento, ou a umconjunto de agentes que no somente so dotados de propriedades comuns [...], mas tambm sounidos por ligaes de permanentes de teis (NOGUEIRA e CATANI, 2005: 67).

    J o capital econmico constitudo pelos diferentes fatores de produo e pelos conjuntos dos benseconmicos, como bens materiais, renda, patrimnio (BONNEWITZ, 2003). importante frisar que,para Bourdieu, a riqueza no necessariamente fator de capital econmico. Para que se comportecomo capital necessrio, segundo esse autor, levar em conta sua relao com o campo: a riquezano pode funcionar como capital seno em relao com o campo propriamente econmico, quesupe um conjunto de instituies econmicas e um corpo de agentes especializados, dotados deinteresses e de modos de pensamento especficos (BOURDIEU, 2009: 205).

    Por ltimo, o capital simblico, que faz referncia aos outros capitais - na medida em que no existesozinho, nem independente dos demais - e a eles se associa, agregando valor. Para Bourdieu(2009: 196):

    O capital simblico esse capital denegado, reconhecido como ilegtimo, isto ,ignorado como capital (o reconhecimento no sentido de gratido suscitado pelosbenefcios que podem se derivar de um dos fundamentos desse reconhecimento),constitui, sem dvida, com o capital religioso, a nica forma possvel de acumulaoquando o capital econmico no reconhecido.

    Por meio desse relato, Bourdieu enfatiza a relao entre capital social e capital econmico, ou seja, ocapital econmico no age seno sob a forma eufemizadado capital simblico (BOURDIEU, 2009).Contudo, essa reconverso no acontece de forma automtica, ela necessita, obrigatoriamente, deum conhecimento da lgica econmica (BOURDIEU, 2009:198):

    [...] o capital simblico traz tudo o que pode ser colocado sob o nome de nesba, isto, a rede de aliados rede relaes que se tem (e que se mantm) por meio do

    conjunto dos engajamentos e das dvidas de honra, dos direitos e dos deveresacumulados ao longo das geraes sucessivas e que pode ser mobilizado nascircunstncias extraordinrias. Capital econmico e capital simblico esto toinextricavelmente mesclados que a exibio da fora mental e simblica representadapelo aliados prestigiosos de natureza e trazer por si benefcios materiais, em umaeconomia da boa-f na qual uma boa reputao constitui a melhor e talvez a nicagarantia econmica.

    Outra caracterstica importante do capital simblico a forma como legitima o poder simblico, querelacionado posio do agente, proporciona a dominao do campo:

    O capital simblico confere poder e legitimidade - poder simblico - ao agente ougrupo que o possui, a partir de seu reconhecimento dentro de determinado campo.

    Essa posse tambm esta relacionada posio do agente dentro do campo, e se dem relao aos demais agentes, pressupondo o desconhecimento da violncia quese exerce atravs dele.

    Nesse contexto, a mobilizao de diferentes capitais, de diferentes formas, em diferentes volumes,em diferentes campos, constitui elemento central distino, tema recorrente nos estudos deBourdieu, notadamente, em seus estudos terico-empricos (BOURDIEU, 1989, 1996, 2008).

    A lgica da distino

    Essa posio dos agentes, a que se refere Bourdieu, apresenta-se dependente do volume e daestrutura do capital que detm, e dentre todos os capitais, o cultural e o econmico estabelecem oscritrios mais significativos de distino entre tais agentes.

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    A posio em relao ao volume de capital contrasta os agentes mais fortemente dotados de capitaldaqueles mais fracamente, ou seja, hierarquiza-os em alta e baixa escala social, tomando comoreferncia a quantidade de capital acumulado.

    J em relao estrutura do capital significativo apontar, tambm, a relevncia da constituio de

    seu volume total, na medida em que os agentes, cujo capital econmico se sobrepe ao capitalcultural, opem-se queles com propriedades contrrias. essa forma de distino que permitediferenci-los em um mesmo espao, na dimenso social (BONNEWITZ, 2003). Como resultado, oespao social somente pode funcionar por meio dessa lgica de distino, em que os agentes, tantoindividuais quando coletivos, interiorizam a vontade de criar identidades sociais prprias que ospermitam coexistir socialmente.

    Bourdieu tambm refora a cultura como outro importante fator de distino. Tal definio de culturaconsiderada no sentido sociolgico como um conjunto de valores e prticas adquiridas ecompartilhadas por uma pluralidade de pessoas. Ademais salienta Bonnewitz (2003: 95), a adoo dotermo cultura ser adotado, no raro, no plural - culturas - o que remete noo de pluralismocultural. Assim, no seio de uma mesma cultura, podem existir grupos que no compartilham asprticas e as representaes dominantes. Todavia, segundo Bourdieu, os membros das diferentes

    classes sociais se distinguem no tanto pelo grau segundo o qual reconhecem a cultura, mas pelograu segundo o qual a conhecem.

    Essa relao com a cultura , na medida em que depende da posio do agente no espao social,diferente de classe para classe. As classes dominantes, por exemplo, tendem a criar um poderdistintivo que tem por funo assegurar suas posies, por meio de uma estratgia de distino(manuteno do status quo). Para melhor compreender essa lgica de manipulao e aplicao dalgica de distino apresenta-se relevante retomar a questo do poder simblico, e para tal tratar deoutro importante conceito na teoria sociologia de Bourdieu: a noo de dominao.

    A noo de dominao em Bourdieu

    Para se abordar a noo de dominao em Bourdieu vale retornar metfora por ele adotada para

    explicar os campos sociais e, no interior dos mesmos, os jogos que se desenrolam e nos quais osjogadores esto em conflito constante, visando acumular capital que lhes permitam domin-lo:

    A classe dominante o lugar de uma luta pela hierarquia dos princpios dehierarquizao: as fraes dominantes, cujo poder assenta no capital econmico, tmem vista impor a legitimidade da sua dominao quer por meio da prpria produosimblica, quer por intermdio dos idelogos conservadores os quaisverdadeiramente servem os interesses dos dominantes por acrscimo, ameaandosempre desviar em seu proveito o poder de definio do mundo social que detm pordelegao; a frao dominada (letrados ou intelectuais e artistas, segundo a poca)tende sempre a colocar o capital especfico a que ela deve a sua posio, no topo dahierarquia dos princpios de hierarquizao (BOURDIEU, 2010:12).

    Por meio de tal metfora percebe-se que os agentes dominantes devem criar e construir suareputao, fazendo com que os dominados acreditem em seus mritos. assim que emerge o podersimblico, o qual permite que uma classe dominante estabelea uma cultura dominante:

    A cultura dominante contribui para a integrao real da classe dominante(assegurando uma comunicao imediata entre todos os seus membros edistinguindo-os das outras classes); para a integrao fictcia da sociedade no seuconjunto, portanto, desmobilizao (falsa conscincia) das classes dominadas; paraa legitimao da ordem estabelecida por meio do estabelecimento das distines(hierarquias) e para a legitimao dessas distines (BOURDIEU, 2010: 10).

    Em suma, a cultura que une (intermedirio de comunicao) a classe dominante a mesma que asepara (instrumento de distino) dos dominados, legitimando as distines entre as culturas

    (designadas como subculturas) e definindo sua distncia em relao cultura dominante.

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    Delineados os principais construtos tericos propostos por Bourdieu sero apresentados, no tpico, aseguir, resultados a pesquisa bibliomtrica visando identificar a produo cientfica ancorada noarcabouo terico desse autor, publicada nos anais de dois importantes congressos brasileirosdirecionados disseminao de estudos desenvolvidos em nvel dos programas de ps-graduaoem Administrao: o EnANPAD e o EnEO, nos perodos de 2001 a 2011 e 2004 a 2012,

    respectivamente.

    A adoo do arcabouo terico de Bourdieu em estudos publicados nos anais do EnANPAD(2001-2011) e EnEO (2004-2012): achados da pesquisa bibliomtrica

    Em termos metodolgicos, a pesquisa bibliomtrica vem sendo utilizada em diversas reas doconhecimento como importante metodologia para obteno de indicadores de avaliao da produocientfica. Em geral, nos trabalhos em que se aplica anlise bibliomtrica se estabelecem relaesentre os artigos mapeados permitindo a constituio de cadeias de referncias, ampliando asanlises sobre o tema (HAYASHY et al.,2007).

    Como resultados, a pesquisa conduzida para fins deste estudo indicou a publicao de 32 artigosutilizando o socilogo francs como marco terico, sendo 23 publicados nos anais do EnANPAD

    (2001-2011) e 9, nos anais do EnEO (2004-2012). Dentre os trabalhos publicados no EnANPAD, 4so referentes rea temtica de Marketing (MKT), 5 a Ensino e Pesquisa (EPQ), 7 a EstudosOrganizacionais (EOR), 4 a Teoria das Organizaes (TEO), 1 a Gesto de Pessoas e Relaes deTrabalho (GPR) e 1 a Administrao de Cincia e Tecnologia (ACT). Evidencia-se, tambm,distribuio irregular dos trabalhos, no tempo, com reduzido nmero de artigos entre 2001 e 2003,aumento do volume no perodo de 2004 a 2008, queda na produo entre 2009 e 2011 e crescimentodo nmero de publicaes, em 2012 (FIGURA 1).

    Figura 1.Distribuio dos artigos publicados, por ano.Fonte:Elaborada pelos autores.

    Quanto ao perfil dos 59 co-autores dos 32 artigos revisados, 2% (1) tem ps-doutorado, 57% (34)doutorado e 41% (24) o ttulo de mestre. Considerando os autores, o maior nmero de artigos foidesenvolvido por Maria Ceci Arajo Misoczky (UFRGS), Suzane Strehlau (UNINOVE e ESPM) e

    Fernando Pontual de Souza Leo Jr. (UFPE), com 2 artigos cada. No conjunto, a instituio commaior volume de produo foi a UFPE (5), seguida pela UFLA (4), UNINOVE (4), UFMG (3) e FGV(3), revelando uma disperso quanto origem das produes, assim como evidenciando a ausnciade tradio e linhas de pesquisa consolidadas envolvendo a perspectiva de Bourdieu. O Quadro 1contempla a relao dos trabalhos revisados.

    Publicao Ano Ttulo Autores InstituiesENANPAD 2001 Campo de Poder e Ao em

    Bourdieu: Implicaes de Seu Usoem Estudos Organizacionais

    Maria CeciAraujo Misoczky

    UFRGS

    ENANPAD 2001 Formao e Estruturao deCampos Organizacionais: UmModelo Para Anlise do CampoCultural

    FernandoPontual de SouzaLeo Jr.

    UFPE

    ENANPAD 2002 Formao e Estruturao doCampo Organizacional dos

    FernandoPontual de Souza

    UFPE

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    trabalhos

    Anos

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    Museus da Regio Metropolitanado Recife

    Leo Jr.

    ENANPAD 2003 Pelo Primado das Relaes nosEstudos Organizacionais:

    Algumas Indicaes a partir de

    Leituras Enamoradas de Marx,Bourdieu e Deleuze

    Maria CeciAraujo Misoczky

    UFRGS

    ENANPAD 2004 Carnaval, Bourdieu e TeoriaInstitucional

    Gustavo Madeiroda Silva e FlviaLopes Pacheco

    UFPE,FASNE

    ENANPAD 2004 Redes de Inovao e CapitalSocial: Apontamentos Conceituais

    Moiss VillamilBalestro

    UNB

    EnEO 2004 Do Lado de C e do Lado de L:os Significados da InteraoUniversidade-Empresa

    Elcemir PaoCunha, IgorSenger, CarineMaria Senger eDaniel Gustavo

    Fleig

    UFLA

    ENANPAD 2005 A Teoria do Gosto de BourdieuAplicada ao Consumo de Marcasde Luxo Falsificadas

    Suzane Strehlau UNINOVE,ESPM

    ENANPAD 2005 Desconstruindo a Colonizao(ops!), ou Melhor, A Globalizao:uma Anlise Crtica com Base emBourdieu

    Michelle HelenaKovacs

    UFPE

    ENANPAD 2006 Consideraes sobre um CampoCientfico em Formao: Bourdieue a "Nova Cincia" do Turismo

    Fbio BittencourtMeira e MnicaBirchler VanzellaMeira

    FGV e PUC-SP

    ENANPAD 2006 Estudos Crticos e PesquisaOrganizacional: uma PropostaTerico-Metodolgica a partir da

    Anlise Crtica do Discurso e daTeoria do Discurso de PierreBourdieu

    Alexandre ReisRosa, CsarTureta e ElcemirPao-Cunha

    UFLA e UFJF

    ENANPAD 2006 Uma Delimitao do Campo daEconomia Social no Brasil:Histria, Correntes e Atores

    Carolina Andione Maurcio Serva

    UFSC, PUC-PR,CIRIEC

    ENANPAD 2007 Alguns Conceitos de Bourdieu ePropostas de Estudos emMarketing

    Suzane Strehlau UNINOVE,ESPM

    ENANPAD 2007 Por uma convivncia (no to)

    harmnica entre paradigmas nosestudos organizacionais

    Weslei Gusmo

    Piau Santana eAlmiralva FerrazGomes

    UESB

    ENANPAD 2007 Apropriaes da Obra de PierreBourdieu no Campo do Marketingno Brasil

    Rodrigo BisogninCastilhos

    UNISINOS

    ENANPAD 2008 Qualidade De Vida No Trabalho &Violncia Simblica Duas FacesDe Uma Mesma Moeda?

    Lydia Maria PintoBrito, HadmaMass Lucena deSena Lima, NaraSibelly Medeirosde Paiva

    UNP-Brasil

    ENANPAD 2008 O fazer estratgia na gesto como

    prtica social: articulaes entrerepresentaes sociais,estratgias e tticas cotidianasnas organizaes

    Alexandre de

    Pdua Carrieri,AlfredoRodrigues Leiteda Silva, Gelson

    UFMG, UFES

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    Silva JunquilhoENANPAD 2008 Mulheres Fardadas: Reflexes

    sobre Dominao Masculina eViolncia Simblica naOrganizao Militar

    Alexandre ReisRosa, MozarJos de Brito

    FUCAPE, UFLA

    EnEO 2008 Estratgias de ValorizaoSimblica dos PropsitosOrganizacionais: o Caso doCrediamigo do Banco do Nordestedo Brasil

    Raphael deJesus Camposde Andrade,Rosa CristinaLima Ribeiro,

    Ana Slvia RochaIpiranga, KadmaMarquesRodrigues

    FAMETRO,UECE

    EnEO 2008 Reconfigurao de um Campo dePoder: uma anlise do mercadofonogrfico no Brasil

    LeonardoVasconcelosCavalier Darbilly,Marcelo Milano

    Falco Vieira

    FGV

    ENANPAD 2009 Violncia e Masculinidade nasRelaes de Trabalho: Imagensdo campo em pesquisaetnogrfica

    RafaelAlcadipani, MariaJose Tonelli

    UNINOVE,ESPM

    ENANPAD 2009 Epistemologia e Sociologia daCincia da Administrao: UmaReflexo Inicial Sobre os Estudosdo Campo no Brasil

    Maurcio Serva,Daniel MoraesPinheiro

    CIRIEC, UFSC

    ENANPAD 2010 Autogesto e Poder Simblico:Proposies para uma Agenda dePesquisa

    Aridne ScalfoniRigo

    UFBA

    ENANPAD 2010 Fatores considerados paraescolha de parceiros de pesquisa:uma proposta tericometodolgicapara estudos em redescolaborativas de pesquisa pormeio dos capitais simblicos dePierre Bourdieu

    Juliana CristinaTeixeira UFMG, UFLA

    EnEO 2010 Relendo a VBR a partir deBourdieu: Novas Perspectivas dePesquisas no Campo dos EstudosOrganizacionais e Gesto dePessoas

    Jos Coelho deAndrade Albino,Carlos AlbertoGonalves,Silvana PrataCamargos

    PUC-MG, UFMG,UFOP

    EnEO 2010 A Sociologia Disposicionalista e oHomem de NegciosContemporneo

    Marcio Gomes deS UFPE

    ENANPAD 2011 A gnese da resistncia criativanas idias de agncia de Certeaue de habitus de Bourdieu

    Eliane Braganade Matos

    UFMG

    EnEO 2012 Habitus, Capital e Agncia noFutebol Brasileiro: umaPerspectiva Regional

    Robson Martinsdo Carmo, PauloOtavio Mussi

    Augusto

    PUC-PR

    EnEO 2012 O Simblico em Construes:Estudando a Vila Barrageira daUHE Engenheiro Srgio Motta

    luz de Pierre Bourdieu

    ElisngelaDominguesMichelatto Natt,

    Elisa YoshieIchikawa

    UEM

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    EnEO 2012 A Dominao Masculina nosCampos Profissional e Pessoal:Um Estudo Qualitativo com Micro-Empresrias de Manaus/AM

    Afrnio Soares,Ana Flvia deMoraes Moraes,Mariana MayumiPereira de Souza

    UFAM

    EnEO 2012 Sobre a distncia entre Discurso ePrtica de Ao SocialEmpresarial: uma Anlise daRefinaria Duque de Caxias(REDUC) a partir de PierreBourdieu

    Celina MariaFrias LealMartins, RejanePrevotNascimento

    UFRJ, UFRG,UNIGRANRIO

    EnEO 2012 Tipos de Empreendedores emDinmicas de Reconverso deFunes Econmicas de Cidades:uma Anlise sob s Perspectiva deBourdieu

    Anderson deSouzaSant'Anna,Ftima Bayma deOliveira, ReedElliot Nelson,Daniela Martins

    Diniz

    Fundao DomCabral, FGV,UNINOVE, PUC-MG

    Quadro 1.Artigos publicados nos anais do ENANPAD no perodo 2001 a 2011 e EnEO 2004 a 2012,utilizando o arcabouo terico de Bourdieu.Fonte:Elaborada pelos autores.

    Em conformidade com o propsito deste artigo, detalhamos, no tpico, a seguir, guisa de exemplo,o ltimo trabalho constante do Quadro 1, produzido por SantAnna et al.(2012) e publicado junto aosanais do EnEO (2012). O trabalho relata resultados de anlise comparativa entre duas pesquisas,conduzidas com base no arcabouo terico de Bourdieu, com o propsito de identificar e validartipologia de empreendedores em dinmicas de reconverso de funes econmicas de cidades,considerando os capitais simblicos, econmicos e culturais por eles mobilizados com vistas aodomnio dos respectivos campos.

    Aplicaes e potencialidades do arcabouo terico bourdieusiano em recente estudobrasileiro: guisa de exemplificao

    Orientado a investigar relaes entre os construtos Empreendedorismo Social e Dinmicas deReconverso de Funes Econmicas de Cidades, SantAnna et al.(2012) desenvolvem uma anlisecomparativa entre dois estudos. O primeiro, um levantamento emprico de dados desenvolvido porSantAnna et al. (2011) junto histrica localidade de Tiradentes (MG) e, o segundo, realizado porOliveira et al. (2011), na tambm histrica cidade de Paraty (RJ), ambos envolvendo, portanto,processos de reconverso de funes econmicas na direo do turismo e da indstria criativa.

    Salientando a carncia, no Brasil, de estudos similares envolvendo tais construtos e tendo comopremissa que a adoo de metodologias mais positivistas como surveys ou instrumentospsicomtricos trariam o risco de impor, inicial e indevidamente, lgicas ou categorias cognitivas de umcampo ou contexto social a outro, ocultando observaes que poderiam escapar aos quadros tericos

    j consolidados, SantAnna et al. (2011) optaram por um estudo inspirado metodologia GroundedTheory (GLASER, 1992, 1978; GLASER e STRAUSS, 1967; DEY, 2007) sem, no entanto,negligenciar fontes histricas e documentais sobre a cidade e regio em anlise.

    Como resultados, os autores evidenciaram trs categorias de empreendedores, indutivamente poreles denominadas como: empreendedores tradicionais, modernos e ps-modernos. Nohomogneas, cada uma dessas categorias se subdividiu em duas subcategorias: os empreendedorestradicionais em empreendedores remanescentes e pioneiros; os empreendedores modernos emempreendedoresnegociaise profissionaise os empreendedores ps-modernosem empreendedoresvanguardistase camalees(SANTANNA et al., 2012).

    Muito embora ambas as subcategorias dos empreendedores tradicionaisaparentemente se igualemno que tange ao valor que sugerem atribuir tradio, distinguem-se, todavia, quanto forma demanifestao dessa noo: o empreendedor remanescente, revela enfatizar mais amplamentedimenses associadas sua linhagem familiar, o nome de famlia, a vinculao a um cl especfico.

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    distintivo, nessa subcategoria, a fidelidade a laos de sangue, terra, ao solo, histria e tradio. Esses empreendedores so representados, em sua maioria, por pequenos comerciantes eempreendedores individuais nascidos na cidade e regio, que em sua maioria estabeleceram ouherdaram negcios na cidade bem antes do boomdo turismo, quando a mesma encontrava-se aindaesquecida e povoada, basicamente, por idosos, crianas e famlias tradicionais da agricultura,

    pecuria ou do que ainda restava de um breve surto de desenvolvimento advindo da extrao daprata e sua manufatura.

    J o empreendedor pioneiro parece dar mais nfase sua bagagem cultural e humanista,evidenciada na valorizao de aspectos tais como o bom gosto e o belo, aspectos que procuraassociar, de forma direta, ao DNA de seus empreendimentos. Comumente fixados no centrohistrico, so pioneirosna implantao de empreendimentos direcionados ao que mais tarde viria ase configurar na base do processo de reconverso de funes econmicas de Tiradentes: o turismo.Embora alguns dos representantes dessa subcategoria tenha vnculos familiares com nativos dacidade ou regio, a linhagem familiarou o nome de famliaparecem no constituir seu principal fatorde distino. Ao contrrio dos empreendedores remanescentes, os pioneiros parecem evidenciar,como elementos centrais de diferenciao, o fato de serem estrangeirosou, apesar de nascidos nacidade ou regio, terem vivenciado experincias em outros pases ou grandes centros urbanos,

    nacionais e internacionais. Outro trao distintivo desse grupo o nvel cultural, de erudioque, demodo geral, atribuem s suas vivncias externas, permitindo novos olhares e perspectivas. Valereiterar relatos desses empreendedores associando a estrita ligao entre seus empreendimentos eseus projetos pessoais e de vida, sendo os mesmos, comumente, apresentados no como negcios,mas como extenso de suas existncias.

    Relevante, ainda, registrar que ambas as subcategorias de empreendedores tradicionais revelam,no raro, preocupaes quanto sobrevivncia, a longo-prazo, de seus negcios. Muito embora, osempreendedores pioneirospaream dispor de dispositivos que lhes permitem maior backgroundparaajustes e mudanas de rumo em seus modelos de negcios e gesto, aspectos, como o processosucessrio, transparece como elemento crtico para a perpetuidade de seus empreendimentos, isso,na medida em que a transio de modelos de gesto mais singulares, carismticos e fortementecentrados na identidade e projeto de vida do fundador, pode apresentar-se desafiador. Quanto aos

    empreendedores remanescentes, uma vez que o processo de reconverso econmica foi levado acabo, majoritariamente, por empreendimentos externos, os mesmos se apresentam, atualmente,pouco representativos em termos econmicos, exceto, em alguns casos, pela posse de imveis nocentro histrico. O menor nvel de escolaridade e a prpria dimenso de seus negcios os levam asofrer o peso da concorrncia por parte de empreendimentos mais modernos.

    Aos empreendedores tradicionais - remanescentes e pioneiros - contrapem-se e disputam, entre si,por espao, poder e status, uma outra categoria de empreendedores, a qual poderamos denominar,portanto, de empreendedores modernos. Muito embora, esse conjunto de empreendedores pareaigualar-se no que se refere valorizao de atributos como a gesto profissionalizada, e adisseminao de valores que visam extrapolar a dimenso da tradio (do nome de famlia, doconservadorismo, do patrimonialismo), seus representantes encontram-se distantes de seapresentarem como categoria homognea, podendo-se identificar, segundo SantAnna et al. (2012),

    duas subcategorias: os empreendedores negociais e os empreendedores profissionais.

    Os empreendedores negociais, j em bom nmero com empreendimentos localizados,geograficamente, fora do centro histrico da cidade, habitualmente, so associados busca frenticae incansvel por resultados e pela adoo de uma lgica de negcio, centrada em dispositivos domanagement, de base norte americana. Diferentemente dos empreendedores pioneiros, que buscamforjar uma imagem de seus empreendimentos associada a valores mais humanistas, visando aodesenvolvimento da sociedade e das pessoas, e de um projeto tico e esttico, alicerado em umafilosofia que enfatiza uma maior valorizao do humano e do local, os empreendedores negociaiscomumente so descritos como focados no curto-prazo, no lucro imediato, no marketing e noentretenimento.

    Outra subcategoria de modernoscompreenderia os empreendedores denominados por SantAnna etal. (2012) de empreendedores profissionais. Essa subcategoria constituda, na grande maioria, porindivduos que justificam sua presena em Tiradentes pelo desejo de sarem dos grandes centrosurbanos. Muitos so descritos como profissionais liberais ou ex-executivos de grandes empresas,

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    nacionais e multinacionais, que, em especial, em fins dos anos 1980 ou 1990, decidiram proceder atransies profissionais, realizando antigos sonhos de terem seus prprios negcios, quer peloestresse, por desligamentos involuntrios ou desejo de construrem a vida de outra forma. So, nogeral, psiclogos, mdicos, advogados, engenheiros, executivos que, alm verem na cidade encantosnaturais e potencial econmico vislumbram ter ali melhor qualidade de vida e de criarem seus filhos,

    de forma mais livre e saudvel.

    A grande parte dos representantes dessa subcategoria destaca, no entanto, o processo de transiopara Tiradentes como gradativo, com a manuteno, durante bom perodo, de uma atividadeprofissional nos grandes centros e em suas profisses originais. Segundo diversos relatos, somente apartir desse perodo de experincia e aclimatao, aliado consolidao da cidade como ploturstico e de seus prprios empreendimentos, foram, aos poucos ali se fixando, integralmente. Paragrande parte deles, todavia, o processo de integrao tem sido lento e nem sempre amistoso - aprpria caracterizao desse novo grupo como ETs d o tom do processo e do jogo de foras emao. Alia-se a isso, dificuldades quanto integrao entre os prprios ETs (SANTANNA et al.,2012).

    Como atributos dos empreendedores profissionais, alm do carter urbano e cosmopolita, destaca-se

    a valorizao da instruo em nvel superior, em especial em gesto e de experincias prvias ecompetncias em modernas prticas de gerenciamento. Nessa direo, constata-se nfase emdiscursos e posturas gerenciais associados a noes como as de: qualidade, responsabilidade socialempresarial, preservao do meio-ambiental, respeito ecologia, cidadania empresarial, dentreoutras que procuram vincular a imagem de seus empreendimentos a noes de sustentabilidade edesenvolvimento sustentvel.

    Nessa direo, de acordo com SantAnna et al. (2012), os empreendedores profissionais tendem ademonstrar maior preocupao com o futuro da cidade, incluindo aspectos como os riscos de umcrescimento desordenado, alertando para a necessidade de se preservar o patrimnio histrico locale, mais que inchar, prosperar. Tambm chamam ateno para problemas relacionados aosaneamento bsico, abastecimento de gua, tratamento de lixo, esgoto, dentre outros.

    Finalmente, alm dos empreendedores tradicionais, dos empreendedores modernos e suasvariaes, uma ltima categoria de empreendedores pde ser identificada pelos autores: osempreendedores ps-modernos,que, de forma similar, parecem se distinguir em duas subcategorias,as quais denominam de empreendedores bricolerse empreendedores vanguardistas.

    Os empreendedores bricolers, no geral, so caracterizadas como advindos de grandes centros, mastambm por cidados da cidade. Com poucos recursos financeiros, comparativamente aosempreendedores modernos e pioneiros, constituem seus empreendimentos na base do jeitinho, dagambiarrae da improvisao, copiando o estilo de pousadas, o cardpio de restaurantes e artigos deateliers de arte, voltados a pblicos de maior poder aquisitivo. Distinguem-se, ademais, pelaflexibilidade, adaptabilidade, capacidade em assumir riscos e elevado senso de oportunidade.Freqentemente encontram-se inseridos na economia informal.

    Por ltimo, SantAnna et al. (2012) fazem meno aos empreendedores vanguardistas constitudos,em essncia, por proprietrios de ateliers de arte, produtores artsticos, pintores e outros artistas. Aeles so vinculados atributos tais como: criao, novo, sensibilidade, independncia, autonomia,liberdade, negao da tradio e do status quo, polmica, transgresso de regras, desconstruo,

    provocao, contestao, desprendimento, resistncia e estilo de vida singular. De modo geral,segundo os autores, parecem estimular, por seu carter questionador da prpria arte, doscomportamentos, da ecologia e da poltica, a insero na comunidade de novos temas como o papeldo homem e da mulher, o lugar do corpo e da sexualidade na sociedade, o uso dos objetos nocotidiano, da cultura de massa e o desperdcio da sociedade de consumo.

    Esses tipos de empreendedores, quando no outros, revelam capital, identidade pessoal, valores einteresses que os distinguem (BORDIEU, 2008, 2003, 1996), bem como preconizam diferentesmodelos de negcios e estilos de liderana. Juntos parecem concorrer para definir a comunidade de

    Tiradentes e dispor dos seu recursos culturais, naturais, humanos, econmicos e polticos. Emrelao a esse ltimo aspecto, quem quer formular ou executar uma poltica de turismo, planejamentourbano ou mesmo sair vitorioso em um pleito poltico nesta comunidade deveria entender e saber

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    lidar, pelo menos instintivamente, com as diferenas entre esses mltiplos atores (SANTANNA,2012).

    Adotando como referncia a tipologia desenvolvida, indutivamente, por SantAnna et al. (2011), apartir da Grounded Theory, Oliveira et al. (2011) procede a novo estudo, igualmente de natureza

    qualitativa, junto tambm histrica cidade de Paraty (RJ), identificando convergncias em relaoaos tipos de empreendedores identificados por aqueles autores.

    Os resultados, tambm analisados por SantAnna et al. (2012), evidenciam que os empreendedorespossuem variaes entre si - em termos de papis desempenhados, atributos pessoais e modelos degesto - e convivem em constante inter-relao, conflito e alianas no seio dos processos detransformaes das cidades. So achados relevantes, visto que a literatura clssica sobreempreendedorismo ainda no est atenta dinmica de coexistncia e tenso entre tipos deempreendedores distintos. E, uma vez mais, se evidencia a relevncia da perspectiva terica deBourdieu a tais estudos.

    Outro importante resultado desses estudos, segundo SantAnna et al. (2012) que os sujeitospersonificados nos diferentes tipos de empreendedores identificados no surgem, nem atuam em um

    vcuo social, nem so independentes uns das outros, especialmente em contextos em quecompartilham do mesmo patrimnio histrico ou cultural. Eles fazem parte de uma ecologia socialcomunitria (HANNAN e FREEMAN, 1984), repleta de competio, colaborao, assim comosinergias intencionais e inconscientes (SANTANNA et al., 2012; SANTANNA et al., 2011;SANTANNA, NELSON e OLIVEIRA, 2011). Ao mesmo tempo em que cada tipo de empreendedoridentificado tem seu papel, seus objetivos e produz seus impactos, os mesmos coexistem em umestado de tenso dinmica (SANTANNA et al., 2012).

    Ademais, os achados e resultados sugerem que, embora os tipos de empreendedores encontradosna literatura internacional possam ser reconhecidas em Tiradentes (MG) e Paraty (RJ), as trajetriase origens sociais das pessoas que representam tais tipos podem ser bastante diferentes. Isso indicaque mesmo que os tipos de empreendedores acabem tendo um perfil universal tpico, o caminho queesse percorre para ocupar determinado papel de empreendedor em seu campo pode variar de forma

    significativa, em funo do contexto, reforando, uma vez mais, a pertinncia, riqueza e vitalidade doarcabouo bourdeusiano na anlise dos fenmenos discutidos por SantAnna et al.(2012).

    Consideraes Finais

    Embora Bourdieu assim como Giddens e Elias sejam considerados e reconhecidos como importantestericos da agncia, alterando a forma de se tratar a teoria da ao, tema que tambm teve grandeimportncia em autores anteriores a deles, como Parsons e mesmo Weber (MONTAGNER, 2007), ateoria proposta por Bourdieu no tem estado imune a criticas por parte de diversos socilogos, taiscomo Mendras e Touraine (BONNEWITZ, 2003) e Boudon (BOUDON e BOURRICAUD, 1993).

    Para Mendras apud Bonnewitz (2003), Bourdieu ficou por demais preso noo tradicional deestrutura social, dividida em classes em luta. Outra crtica, endereada por Alain Touraine que ele

    estudou a sociedade industrial, j coexistindo uma sociedade ps-industrial, com caractersticaspeculiares, tanto na abordagem dos conflitos, quanto dos agentes (BONNEWITZ, 2003).

    Alm disso, a sociologia de Bourdieu considerada por demais estatstica, a-histrica e por mais queele tenha tentado explicar que o habitus conceda um certo tipo de liberdade ao agente, muitos oacusam de determinista, de desconsiderar a autonomia dos atores sociais (BOUDON eBOURRICAUD, 1993).

    Independentemente de tais crticas, a perspectiva de Bourdieu tem assumido lugar de prestgio junto comunidade cientfica. A sua abordagem de campo fez dele um cone nas Cincias Sociaisfrancesa. Sua trajetria diversa, tanto poltica, quanto intelectual, possibilitou ser um dos cientistassociais mais engajados e mundialmente lidos (BONNEWITZ, 2003). Alm disso, o enfoque amplo quepropiciou sociologia da educao e sociologia da sociologia, assim como enfoque cientfico que

    proporcionou s cincias sociais, como um todo, so base de referncia em diversas pesquisas eteorias contemporneas.

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    No obstante, a distribuio irregular no tempo, a disperso nas autorias e instituies de origem dasprodues constantes de dois dos mais importantes congressos brasileiros, em nvel de ps-graduao, sugerem a ausncia de tradio, assim como de linhas de pesquisa mais consolidadasenvolvendo o arcabouo terico bourdieusiano, na rea, no pas. Por outro lado, suas aplicaes e,notadamente, suas potencialidades no mbito dos Estudos Organizacionais e em Administrao se

    nos apresentam promissoras, em particular quanto a novos avanos e pesquisas, em especialaquelas de natureza mais exploratria (exploitation research). Exemplos disso so trabalhosidentificados na pesquisa bibliomtrica conduzida neste estudo e, em particular, o caso de aplicaorelatado, indicativo da vitalidade e contemporaneidade de conversaes entre o arcabouo tericobourdieusiano e os Estudos Organizacionais e em Administrao, os quais nos parece estimulantequanto amplitude desse arcabouo, quer na insero e anlise de novos temas, quer nodelineamento de novas agendas de pesquisa, quer desbravamento de novas fronteiras para osestudos no campo.

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