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Revista Expressão, Mossoró-RN, v. 41, n. 1, p. 79-96, jan./jul. 2010 A GRAMATICALIZAÇÃO DOS GÊNEROS NA ESCOLA: UM OLHAR SOBRE O SCRAP DO ORKUT * Vicente de Lima Neto ** RESUMO: Este trabalho tem o objetivo de analisar o scrap como gênero digital que pode se constituir de misturas de gêneros, e relacioná-lo ao ensino dos gêneros nas escolas, que os veem apenas como formas linguísticas limitadas a uma determinada estrutura composicional. Para tanto, utilizamo-nos dos conceitos de gênero de Bakhtin (1997), Swales (1990) e Marcuschi (2000), os quais focalizam o caráter maleável e dinâmico dos gêneros. Com base em um mapeamento que fizemos dos padrões genéricos que aparecem no espaço destinado à escrita de recados no Orkut, verificamos que o scrap pode se constituir de forma híbrida, o que possibilita mostrar quão maleável ele o é. Além disso, baseamo-nos em dois livros didáticos que trabalham com a disciplina de Redação, os quais serviram como modelo para explanar o que é ensinado na escola sobre gêneros. Os resultados encontrados nos mostram que a realidade empírica dos gêneros difere do que é exposto aos alunos nas escolas, deixando-lhes alheios à riqueza cultural propiciada pelo conhecimento do real funcionamento dos gêneros. Palavras-chave: Scrap. Gênero digital. Ensino de gêneros. Considerações iniciais O ano de 1995 viu a chegada da Internet no Brasil. Desde então, muitos tipos de texto e muitos gêneros passaram a ter novos contornos, já que tiveram de acompanhar as novas tecnologias e se adaptar a elas. O que aconteceu, no nosso entender, é que, a partir daquele ano, uma nova perspectiva da história da análise dos gêneros começou a ser construída. A Web trouxe consigo gêneros diversos, surgidos a partir das necessidades dos internautas de se comunicarem pela rede mundial de * Agradeço a leitura crítica dos colegas doutorandos Kennedy Nobre e Elaine Forte Ferreira, os quais trouxeram muitas contribuições para este trabalho. Assumo toda a responsabilidade por problemas remanescentes. ** Doutorando em Linguística pela UFC. Bolsista CNPq e Membro do grupo de pesquisa Hiperged da UFC. E-mail: [email protected]

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Revista Expressão, Mossoró-RN, v. 41, n. 1, p. 79-96, jan./jul. 2010

A GRAMATICALIZAÇÃO DOS GÊNEROS NA ESCOLA: UM OLHAR SOBRE O SCRAP DO

ORKUT*

Vicente de Lima Neto **

RESUMO: Este trabalho tem o objetivo de analisar o scrap como gênero digital que pode se constituir de misturas de gêneros, e relacioná-lo ao ensino dos gêneros nas escolas, que os veem apenas como formas linguísticas limitadas a uma determinada estrutura composicional. Para tanto, utilizamo-nos dos conceitos de gênero de Bakhtin (1997), Swales (1990) e Marcuschi (2000), os quais focalizam o caráter maleável e dinâmico dos gêneros. Com base em um mapeamento que fizemos dos padrões genéricos que aparecem no espaço destinado à escrita de recados no Orkut, verificamos que o scrap pode se constituir de forma híbrida, o que possibilita mostrar quão maleável ele o é. Além disso, baseamo-nos em dois livros didáticos que trabalham com a disciplina de Redação, os quais serviram como modelo para explanar o que é ensinado na escola sobre gêneros. Os resultados encontrados nos mostram que a realidade empírica dos gêneros difere do que é exposto aos alunos nas escolas, deixando-lhes alheios à riqueza cultural propiciada pelo conhecimento do real funcionamento dos gêneros. Palavras-chave: Scrap. Gênero digital. Ensino de gêneros.

Considerações iniciais

O ano de 1995 viu a chegada da Internet no Brasil. Desde então, muitos tipos de texto e muitos gêneros passaram a ter novos contornos, já que tiveram de acompanhar as novas tecnologias e se adaptar a elas. O que aconteceu, no nosso entender, é que, a partir daquele ano, uma nova perspectiva da história da análise dos gêneros começou a ser construída.

A Web trouxe consigo gêneros diversos, surgidos a partir das necessidades dos internautas de se comunicarem pela rede mundial de

* Agradeço a leitura crítica dos colegas doutorandos Kennedy Nobre e Elaine Forte Ferreira, os quais trouxeram muitas contribuições para este trabalho. Assumo toda a responsabilidade por problemas remanescentes. ** Doutorando em Linguística pela UFC. Bolsista CNPq e Membro do grupo de pesquisa Hiperged da UFC. E-mail: [email protected]

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computadores. Crystal (2005) atribuiu à chegada da internet uma grande revolução na linguagem, pois, ao que parece, ainda não se sabe até onde essas novidades trazidas pela tecnologia poderão mudar a forma de enxergar a língua em uso.

Enquanto 1995 foi um marco pela chegada de novas formas de comunicação no Brasil, 2004 foi outro marco na história da Internet, pois foi quando surgiu o site de relacionamentos Orkut. Desde então, sites dessa natureza se popularizaram rapidamente, convocando internautas de todas as partes do mundo com uma rapidez inimaginável. Naturalmente, a comunicação interna, nesses sites, também se dá por gêneros diversos, os quais foram adaptados de outras realidades externas ao meio virtual e foram se moldando ao novo ambiente. Com o tempo, de mudanças tão profundas que sofreram ao migrar para a Web, gêneros digitais foram considerados novos.

Essa realidade parece não ser compartilhada pela escola. Ainda se ensina como produzir cartas e telegramas de forma que a estrutura desses gêneros é repassada como se eles fossem engessados, levando ao que Bonini (2007) chama de gramaticalização dos gêneros, quando, na verdade, deveríamos também ensinar aos alunos como se produzir um fórum de discussão e um blog pessoal, por exemplo, e mostrar o quão volátil eles são, assim como praticamente o são todos os gêneros discursivos.

No Orkut, sobressai o scrap, que tem um percurso histórico de seis anos e estima-se que este seja o gênero mais utilizado pelos orkuteiros diariamente, para atender aos mais variados propósitos, desde um simples cumprimento até as complexas práticas de noticiar um fato ou divulgar um produto por meio de semioses diversas.

Neste trabalho, temos o objetivo de tratar o scrap como um gênero digital que resguarda em sua constituição a possibilidade de mesclar gêneros diversos, mostrando quão plásticos e maleáveis são os gêneros, fato que, como veremos, parece ir de encontro ao que é ensinado na escola, quando, muitas vezes, eles são enrijecidos, como se fosse impossível, por exemplo, eles se misturarem.

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Dos gêneros Com os estudos do pensador russo Bakhtin (1997), o conceito de

língua passou a girar em torno da prática interacional1. Para ele, a utilização da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos) concretos e únicos, que emanam de uma ou doutra esfera da atividade humana. A partir daí, as reflexões acerca das construções genéricas avançam na medida em que os gêneros passaram a ser conhecidos como formações inerentes ao cotidiano de uma dada sociedade, e não um mecanismo de ornamentação da língua, pertencente somente às áreas da literatura e da retórica, como se acreditava desde a Grécia Antiga. Gênero passa a ser visto como um tipo relativamente estável de enunciado inserido em uma determinada esfera da comunicação humana.

Marcuschi (2008, p. 15) argumenta que parece que para Bakhtin era mais importante frisar o relativamente do que o estável. [...] do ponto de vista enunciativo e do enquadre histórico-social da língua, a noção de relatividade parece sobrepor-se aos aspectos estritamente formais e captar melhor os aspectos históricos e as fronteiras fluidas dos gêneros. (grifos do autor)

Nessa perspectiva, argumentamos que essa relatividade é ainda mais latente na Web. Neste ambiente, para nós, onde as mesclas das mais variadas naturezas são extremamente comuns, ajustamos a lupa para o scrap. Com ele, cai por terra qualquer teoria de gênero que dê mais atenção à forma, pois acreditamos que ele se efetive muito mais em “formas culturais e cognitivas de ação social” (MARCUSCHI, 2008, p. 16), tendo em vista que os padrões estruturais do scrap são ainda difíceis de serem estabelecidos.

Mesmo analisar o scrap sob a ótica do conceito bakhtiniano de gênero constitui um certo risco, pois não parece que o pensador russo dê vazão a gêneros multimodais (até por razões óbvias, Bakhtin jamais viu, nem previu, a Internet e suas potencialidades enunciativas).

1 É verdade que a obra de Bakhtin ficou alheia à Linguística por muito tempo – tomou-se conhecimento de suas obras apenas na década de 1970 – entretanto, suas ideias questionando a língua como prática interacional remetem a escritos da década de 1920.

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Para aliar essas novas potencialidades enunciativas ao conceito de gênero, chamamos para a discussão a contribuição trazida por Swales (1990, p. 58)2, para quem os gêneros são

Uma classe de eventos comunicativos, cujos exemplares compartilham os mesmos propósitos comunicativos. Esses propósitos são reconhecidos pelos membros mais experientes da comunidade discursiva original e constituem a razão do gênero. [...] Além do propósito, os exemplares do gênero demonstram padrões semelhantes, mas com variações em termos de estrutura, estilo, conteúdo e público-alvo.

Entendemos que essa “classe” diz respeito ao conjunto de todas

as realizações de um enunciado já produzidas e que serão produzidas sob o rótulo de um mesmo gênero. Como pondera o autor, é impossível que esse conjunto seja totalmente homogêneo. É natural que variações aconteçam, tanto na estrutura, quanto no estilo e/ou no conteúdo.

No caso do scrap, tem-se um propósito comunicativo geral, que é transmitir uma mensagem rápida a um interlocutor que não está no mesmo plano físico que o enunciador, mas variados propósitos comunicativos específicos, como convidar, agradecer, flertar, repassar informação, anunciar etc. Para nós, ao contrário de Bhatia (1993), que defende que a mínima mudança no propósito já permita afirmar que se trata de um outro gênero, entendemos que esses diferentes propósitos específicos não têm força suficiente para mudar o gênero, já que, embora os coenunciadores das mensagens reconheçam propósitos comunicativos distintos de um scrap para outro, a enunciação do Orkut também acionará, cognitivamente, os esquemas dos usuários informando que ali se vê um recado digital ou algo que se aproxime dele, embora haja, com as novas tecnologias permitidas pela hipertextualidade, muitas formas de se passar um recado.

2Tradução nossa de “A genre comprises a class of communicative events, the members of which share some set of communicative purposes. These purposes are recognized by the expert members of the parent discourse community, and thereby constitute the rationale for the genre. […] In addition to purpose, exemplars of a genre exhibit various patterns of similarity in terms of structure, style, content and intended audience”. (SWALES, 1990, p. 58).

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Essa característica de reconhecimento cognitivo é defendida por Marcuschi (2000), quando defende o gênero como um constructo sociocognitivo. Eles são entendidos como “modelos cognitivos gerais”, ou seja, há uma representação conceitual que é identificada intuitivamente pelos membros de uma dada comunidade. Diante dessa representação, há o reconhecimento de um dado gênero materializado em um contexto específico. Talvez este ponto de vista sobre o gênero seja o mais interessante para se estudar os gêneros digitais. Dos gêneros digitais

Defendemos que a Internet é um espaço de práticas humanas e

que sua natureza técnica permite ser o lócus das misturas de diferentes linguagens por excelência. A Internet admite, por exemplo, o encontro de vários domínios discursivos, como o jornalístico, o publicitário, o pedagógico, para citarmos apenas estes; a co-ocorrência de diferentes semioses que se mesclam entre escrita, som e imagem nos diversos gêneros internetianos; e a mistura de muitos padrões genéricos, característica esta que nos interessa, por ser um dos traços inerentes ao scrap, ou seja, não que todos os scraps sejam híbridos, mas está em sua natureza a possibilidade de mesclar gêneros.

Há muito se questiona se os gêneros surgidos no ambiente eletrônico trazem, de fato, novidade ou são apenas modificações e adaptações dos já existentes. Para Huckin (2007, p.77), embora os gêneros digitais se pareçam, em certos aspectos, com os de fora da Web, a maneira de interagir com eles é radicalmente distinta devido, entre outros fatores, à velocidade, sendo que

é mais do que apenas a velocidade – embora essa seja a diferença mais fundamental […] – é também a criatividade que seus usuários trazem para produzi-los. Soma-se a isso a natureza mais pública desses gêneros, e a circulação da informação […] Tudo isso, e mais, clama para eles serem considerados novos gêneros, e não apenas novas tecnologias3.

3 Nossa tradução de: It´s more than just speed – although that´s the most fundamental difference […] - it´s also the creativity that users bring to bear. Plus the more public

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Em suma, embora haja uma contraparte dos gêneros digitais fora

da Web – resultado de uma transmutação de gêneros, segundo Marcuschi (2005) –, os enunciados que se constituem na interação virtual podem ser considerados novos, já que as mudanças por que passam são de natureza tamanha – incluindo estrutura, conteúdo, propósitos e relações do usuário com o gênero – que não podem receber a mesma nomenclatura que o seu enunciado de origem.

Crowston e Williams (1997), que estão entre os pioneiros nos estudos sobre gêneros digitais, apontam três tipologias para caracterizá-los: gêneros reproduzidos, aqueles já existentes reproduzidos em uma nova situação, como, por exemplo, o artigo científico, que pode ser simplesmente movido para a Internet intacto, ou seja, sem alterações de sua versão impressa; gêneros adaptados, aqueles que foram moldados para se adaptar a um novo meio, como, o mesmo artigo científico, mas com adaptações com links para outras informações, por exemplo; e gêneros emergentes, os pensados e desenvolvidos especificamente para o novo meio, satisfazendo as especificidades da Web, como, a homepage4.

Como o texto data de 1997, até então os gêneros utilizados à época não levavam em conta todos os novos elementos já trazidos pela Web 2.05. Logo, se antes já era difícil apontar os limites entre esses três tipos de gênero, hoje fica ainda mais inviável, pelo fato de as características da hipertextualidade estarem ainda mais latentes em cada enunciado na Internet. O scrap, por exemplo, quando surgiu, era nada mais do que um gênero adaptado (no caso, do bilhete), já que permitia somente textos curtos, sem a possibilidade de nenhum recurso multimodal ou hipertextual. Hoje ele pode se enquadrar perfeitamente

nature of these genres, and the currency of the information […]. All of this, and more, calls for them to be considered new *genres*, not just new technologies. (p. 77) 4 Há autores, como Marcuschi (2005), que não concordam com a genericidade das homepages. Para o autor, elas funcionam muito mais como um serviço do que como um gênero. 5 Entendemos Web 2.0 como uma evolução da plataforma da Internet. Ela chegou em 2004 e propiciou o aumento da largura da banda, ocasionando uma maior velocidade na conexão à Internet e permitindo, dentre outras coisas, recursos antes impossíveis na Web 1.0, como os vídeos do Youtube, o Google Talk, no Orkut, as figuras animadas em muitos sites, inclusive no Orkut etc.

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nos emergentes, ao passo que permite construções enunciativas das mais variadas naturezas.

O interessante é que, ao que parece, a tipologia sugerida pelos linguistas constitui-se, na verdade, de um contínuo, a partir do momento em que os gêneros digitais, quando chegaram à Internet, eram nada mais do que reproduzidos. Com o tempo, passaram a se adaptar ao meio, até chegar à emergência, diante de mudanças profundas, sejam na estrutura, sejam no conteúdo ou no estilo, permitindo o surgimento de um novo gênero. Levantamos a hipótese de que o scrap se enquadra nisso.

Da genericidade do scrap

Todorov (1980, p. 10), teórico da literatura, já se questionava sobre a gênese dos gêneros: “De onde vêm os gêneros? Pois bem, simplesmente de outros gêneros”. Sob essa afirmação, entendemos que o scrap também não surgiu por geração espontânea. Ele tem uma contraparte fora do ambiente digital, que é o gênero bilhete. Há muito poucos trabalhos sobre este último gênero na literatura especializada; então, nossas considerações, aqui, sobre ele partirão de observações pessoais, com a consciência de serem afirmações bastante incipientes.

Entendamos, então, que o bilhete é um gênero que tem como propósito comunicativo geral estabelecer uma comunicação simples e rápida com alguém que não se encontra no mesmo plano físico (ou que, pelo menos, dois interlocutores não tenham a possibilidade de se manifestar oralmente num mesmo ambiente, como dois alunos numa sala de aula, por exemplo). Mas é importante salientar que ele pode ter variados propósitos comunicativos específicos, como convidar, agradecer, felicitar, lembrar, cumprimentar, pedir, anunciar, dar uma má notícia etc. Para nós, mesmo diante de múltiplos propósitos, o fato de as condições de enunciação, e até mesmo as fórmulas linguisticamente padronizadas, serem relativamente às mesmas garante ao bilhete, ao recado e ao scrap o status de gênero. Isso se relaciona à proposta de Swales (1990), que entende o gênero como uma “classe de eventos comunicativos”. Obviamente todas essas realizações não constituirão um padrão, afinal, os gêneros são plásticos e maleáveis e, em função disso, apresentam certas variações em sua estrutura, em seu estilo e, no caso de

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notícias, de cartas pessoais, dos bilhetes e dos scraps, no conteúdo e nos propósitos específicos.

O enunciado presente na figura 2, abaixo, se enquadraria perfeitamente em um papelzinho trocado entre alunos numa sala de aula, por exemplo. Então, no exemplo citado, parece ter havido uma transferência do gênero bilhete para o ambiente digital. Diríamos que se encontra num limiar entre um gênero reproduzido e um adaptado, na terminologia de Crowston e Williams (1997).

Figura 2 – O scrap clássico Eis um exemplo do clássico scrap. Como pode ser observado, este

exemplo, coletado em 2007, ainda mantinha as mesmas características de quando ele surgiu, em 2004. É fato que se trata um gênero, como já demonstrado por Martins (2007), por ser um texto de cunho epistolar, no qual se encontra uma mensagem curta, com um traço informativo.

Rotinas comunicativas (SILVA, 2002), como vocativo, saudação e despedida, típicas dos gêneros epistolares, podem aparecer no scrap, entretanto, podem sofrer certa variação em decorrência do meio. A estrutura (mensagem curta, de cunho informal), o conteúdo (que remete a um tema íntimo, dependente da relação de proximidade dos interlocutores) e o propósito comunicativo (convidar) estão entre marcas do gênero bilhete, ou seja, é possível falar em uma transmutação do gênero para o ambiente virtual.

Essa transmutação aponta para uma certa tradição discursiva de epistolaridade do scrap. Nessa direção, um dos argumentos que nos faz levantar a hipótese de tratar o scrap como gênero é sua historicidade. Agora, vejamos um outro exemplo:

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Figura 3 – Felicitação?

O questionamento na legenda da figura é intencional. Um coenunciador qualquer faria a leitura do que há de mais saliente (KRESS e VAN LEUWEEN, 1996) no enunciado, que é a felicitação pela Páscoa. Trata-se de um link de um site especializado em envio de mensagens, que, ao ser transposto para o scrapbook, forma uma figura (no caso, o cartão). Agora, analisando a seta não pontilhada, vemos o enunciado “Netooooooo, comendo muito chocolate????”, que é uma mensagem enviada pelo enunciador. Naturalmente, por ser um exemplo coletado na época da Páscoa, o enunciador faz referências a chocolates, produto tradicional nesta época do ano. Por si, esses dois enunciados (o cartão de felicitação + o recado) já permitiriam uma mescla de gêneros. O enunciado é, naturalmente, relacionado à figura, mas poderia existir sem ela. Além disso, aparecem em planos distintos, pois a figura, na verdade, trata-se de um link, e o enunciado está no scrapbook. Vale também ressaltar o que mostra a seta pontilhada (a marca do site que potencializa o cartão digital) e o que está em destaque no retângulo: “RecadosOnline – As melhores animações para a Páscoa”. Trata-se de um link para o site em questão, com um propósito puramente mercantilista, buscando que o

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coenunciador, ao receber a mensagem, de imediato visite o site que está sendo promovido. É uma característica dos gêneros publicitários.

A questão é que temos, então, resquícios de pelo menos três gêneros: do cartão digital (a felicitação em si), do recado (a mensagem do enunciador para o coenunciador) e do anúncio (por meio dessa promoção que mostramos), o que caracteriza uma mistura de gêneros. Ao que parece, essa mistura é praticamente imperceptível para o usuário do scrap, por já serem extremamente comuns misturas dessa natureza. Entendemos que o usuário deste evento comunicativo enxergará somente uma realização linguística, o scrap, embora ele possa se constituir de forma híbrida. Então, entender o gênero como um constructo sociocognitivo nos permite afirmar que o reconhecimento desse objeto se dá não apenas pelo que aparece visualmente, mas, sobretudo, por representação da prática de linguagem que se vai exercer.

O scrap, no nosso entender, reflete as práticas culturais, que transbordam misturas e flexibilidades nos mais variados âmbitos. Ele é só um exemplo do quão maleável são os gêneros discursivos, característica esta que parece fugir ao controle dos professores de Redação. Como ocorre a transposição de gêneros para o ambiente escolar? E os gêneros na escola?

Enquanto teóricos analistas de gêneros mostram pesquisas enfatizando o caráter plástico desses artefatos sociais, a escola parece ir pelo caminho contrário. Estudiosos como Bonini (2007) e Barros e Nascimento (2007) já realizaram estudos convocando para o problema da transposição didática dos gêneros. O que se questiona é o fato de geralmente não se levar em conta eventos comunicativos como o scrap, que ignora, muitas vezes, limites estruturais e se constitui de mesclas, mostrando que os gêneros discursivos são extremamente dinâmicos e maleáveis e assumem variações a depender de elementos como o propósito comunicativo, os interlocutores envolvidos na interação, o contexto, o suporte etc.

Na opinião de Schneuwly e Dolz (2004, p. 81), o que acontece é que “o gênero trabalhado em sala de aula é sempre uma variação do gênero de referência”, ou seja, embora haja um esforço por parte da

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escola para a criação de um contexto que se aproxime da realidade de uso de um determinado gênero, do que os alunos terão, no máximo, uma realidade paralela, fictícia, o que não permitirá que se produza essa ferramenta de comunicação para circular socialmente. A partir daí corre-se o risco de haver a gramaticalização do gênero, pois, na sala de aula, “ao não contemplar as práticas sociais, principalmente a prática inovadora e significativa do aluno, o gênero tende a se tornar uma repetição automatizada e desancorada da subjetividade de quem o utiliza” (BONINI, 2007, p. 70). Logo, pelo fato de se privilegiar a produção textual nas escolas, parece que o propósito do ensino de gêneros é voltado para o reconhecimento de suas características. Nestes termos, embora os alunos utilizem muitos gêneros digitais, como o scrap, é pouco provável que os gêneros sejam ensinados na escola com outros propósitos, além dos voltados para o ensino/aprendizagem dos discentes.

Para ilustrar nosso posicionamento, trazemos a análise de um excerto da obra de Cereja e Magalhães (2004a, p. 47)6, que traz o seguinte texto para explicar gênero:

Quando interagimos com outras pessoas por meio da linguagem, seja a linguagem oral, seja a linguagem escrita, produzimos certos tipos de textos que, com poucas variações, se repetem no conteúdo, no tipo de linguagem e na estrutura. Esses tipos de texto constituem os chamados gêneros textuais e foram historicamente criados pelo ser humano a fim de atender a determinadas necessidades de interação verbal [...]

O conceito trazido pelos autores tem bases epistemológicas

bakhtinianas, as quais entendem o gênero como um artefato social, produzidos historicamente com a finalidade de atender às necessidades enunciativas dos sujeitos. Entretanto, ao aplicar este conceito na explicação de um dado gênero, os autores tendem a se trair, a partir do

6 A opção desta obra para análise parte de sua escolha como uma das opções do Programa Nacional do Livro para o Ensino Médio (BRASIL, 2004), programa que prevê a distribuição de livros didáticos para alunos do ensino médio brasileiro. Informação disponível em http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/EnsMed/port_1818.pdf. Acesso em: 23 mar. 2010.

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momento em que amarram o gênero a uma determinada estrutura composicional e a um determinado propósito. Vejamos:

[A crônica] é um texto que narra de forma artística e pessoal fatos colhidos no noticiário jornalístico ou no cotidiano; geralmente é curto e leve, escrito com o objetivo de divertir o leitor e/ou levá-lo a refletir criticamente sobre a vida e os comportamentos humanos [...] emprega-se geralmente a variedade padrão informal e apresenta linguagem simples e direta, próxima do leitor. (CEREJA E MAGALHÃES, 2004b, p. 81)

No que diz respeito à forma, a definição acima, para o gênero

crônica, é limitada aos padrões da sequência narrativa. No que diz respeito ao conteúdo, o assunto tem de ser de cunho jornalístico ou cotidiano; já quanto ao estilo, a linguagem deve ser simples, mais próxima do leitor, característica que deve ser atribuída ao seu meio de veiculação, geralmente jornais. Ao que parece, o advérbio geralmente, empregado por duas ocasiões, surge como uma espécie de estratégia por parte dos autores de se eximirem da responsabilidade de serem radicais ao engaiolar o gênero somente a uma determinada forma, o que permite a aceitação de uma crônica que não siga os padrões elencados por eles, pelo menos teoricamente. O problema é que, por ser um discurso pedagógico, e por este conteúdo estar numa gramática, é natural que os alunos só produzam crônicas amarrando o seu texto a essas características, como se fugas a essa formatação fossem uma quebra das expectativas do leitor que se depara com este gênero. É provável que, na escola, textos que fujam aos traços apresentados pelo livro didático sejam punidos.

Trazemos para a análise também duas propostas de produção textual para alunos do ensino médio brasileiro:

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Figura 4: Proposta de redação do Enem 2008 Fonte: www.mundodovestibular.com.br/articles/4846/1/Prova-ENEM-2008/Paacutegina1.html

Figura 5: Proposta de redação do Enem 2009 Fonte: http://educaterra.terra.com.br/vestibular/correcao/enem2009/redacao/lista_noticias.htm

Os dois textos acima são as propostas de redação do Exame

Nacional do Ensino Médio (ENEM)7 de 2008 e de 2009, respectivamente. O fato de ser uma prova aplicada como requisito para ingresso em muitas universidades brasileiras nos autoriza a analisar as propostas de produção textual, as quais exigem do candidato a competência de desenvolver um “texto dissertativo”, em 2008, e um

7 O Enem é um exame criado pelo Ministério da Educação com o fim de avaliar a qualidade do ensino médio no Brasil. Aplicado desde 1998, a partir de 2009 pôde ser utilizado como a forma exclusiva de ingressar em mais de vinte universidades federais do país. Informações disponíveis em: http://pt.wikipedia.org/wiki/ENEM. Acesso em: 28 mar. 2010.

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“texto dissertativo-argumentativo” em 2009 acerca de um determinado tema8.

Embora seja uma prova elaborada pelo Ministério da Educação, a formatação das propostas de produção textual do Enem, ao que parece, vai de encontro aos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1999), que, no que diz respeito ao ensino de língua, sugere que o gênero textual (ou discursivo) seja colocado como questão central. Exigir que um aluno produza um “texto dissertativo” não leva em conta toda a base que deveria ter sido construída, nos ensinos fundamental e médio, acerca da noção de gênero, mas, sim, o conhecimento, na verdade, de uma sequência textual, a saber, a argumentativa, que, nas escolas, muitas vezes é substituída por “dissertativa”, ainda resquício de práticas escolares de mais de duas décadas, que consideravam como gêneros apenas a “dissertação, a descrição e a narração”. Esses conhecimentos não dizem respeito a um gênero, mas, sim, a uma habilidade de organizar o seu texto, podendo ser o narrar, o descrever, o instruir, o expor ou o argumentar, como é o caso em específico.

Ao que tudo indica, o Enem serve como uma espécie de termômetro para avaliar como se dá a transposição da teoria dos gêneros para a escola. Como ele é um exame elaborado pelo Governo Federal, isso nos autoriza a construir a hipótese de que o Enem é um espelho do que acontece no ensino de língua no país, um exemplo mais próximo do que se chama a atenção há certo tempo: a gramaticalização dos gêneros na escola, que decorre “da adoção de uma postura prescritivista” (BONINI, 2007, p. 58).

Como o Enem, agora, será utilizado, por mais de vinte universidades federais, como nova forma de seleção9, substituindo o vestibular, é provável que as escolas moldem o seu material didático para atender às propostas do exame. Corre-se o risco, então, de o ensino de gêneros ficar ainda mais gramaticalizado, a partir do momento em que só se exige a produção de uma dissertação, deixando à margem outros gêneros que já vinham sendo ensinados no âmbito escolar.

8 As propostas do Enem geralmente trazem textos-suporte sobre o tema em questão, para auxiliar os candidatos em sua produção. Não os colocamos nesta análise por ocuparem um espaço desnecessário, já que não serão levados em consideração. 9 Este artigo foi desenvolvido nos meses de fevereiro e março de 2010, quando estava em voga a proposta de as universidades aderirem ao Enem como processo seletivo.

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Considerações finais

O objetivo deste trabalho foi descrever o scrap como um gênero

que pode se constituir de forma híbrida, relacionando este fato à transposição dos gêneros para a escola, que os gramaticaliza, muitas vezes. Embora encontremos obras, como a de Cereja e Magalhães (2004), que seguem a proposta dos PCN no que diz respeito ao ensino de língua materna a partir de gêneros, vê-se que ainda se encontram problemas na metodologia apresentada para isso, a partir do momento em que se criam camisas de força para eles.

Além disso, exames como o Enem, voltados para o público que deseja ingressar numa universidade, parecem ir de encontro à proposta do conhecimento de gêneros, a partir do momento em que mostra práticas que exigem do aluno apenas o domínio de uma determinada sequência textual. Este fato apenas espelha o ensino de língua materna nas escolas, uma prova do quão gramaticalizados os gêneros se encontram naquele ambiente.

Em suma, é necessário que os muros que são impostos aos alunos no ensino/aprendizagem de gêneros sejam derrubados, permitindo que a escola seja uma expansão das práticas de linguagem que ocorrem fora dela. É fulcral que os alunos tenham conhecimento da realidade empírica dos gêneros e compreendam como eles funcionam e quão maleáveis são, de forma que gêneros como o scrap, por exemplo, que praticamente ignora fronteiras estruturais, sejam-lhes apresentados na escola.

As mesclas de gêneros são, na verdade, reflexos de práticas culturais. Negá-las é privar o aluno de uma riqueza cultural grandiosa e de uma reflexão bastante crítica no que diz respeito ao real funcionamento dos gêneros numa dada sociedade. Referências BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, [1953] 1997.

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Recebido em 13/12/09. Aprovado em 14/04/10.

ABSTRACT: THE GRAMMATICALIZATION OF GENRES AT SCHOOL: A LOOK AT THE SCRAP OF ORKUT This paper aims to analyze the scrap as digital genre can be a mixture of genres, and relate it to the teaching of genres in schools, that they see just how linguistic forms limited to a particular compositional structure. Therefore, was used the concepts of genre from Bakhtin (1997), Swales (1990) and Marcuschi (2000), which focus on flexible and dynamic character of genres. Based on a mapping that we have the generic standards that appear in the space reserved for writing messages on Orkut, we find that the scrap can be a hybrid form, which enables show how malleable he is. In addition, we rely on two books teaching working with the discipline of Writing, which served as a model to explain what is taught in school about genres. The results show that the empirical reality of gender differs from what is exposed to students in schools, leaving them outside the cultural wealth brought about by the knowledge of the actual operation of genres.. Keywords: Scrap. Digital genre. Learning genres.

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RESUMEN: LA GRAMATICALIZACIÓN DE OS GÉNEROS DISCURSIVOS EN LA ESCUELA: UNA MIRADA EN LO SCRAP DEL ORKUT Este trabajo tiene como objetivo analizar el scrap en el digital de gênero puede ser una mezcla de géneros, y e refieren a la enseñanza de la de género en las escuelas, que ven cómo las formas linguísticas limitada a una estructura de composición particular. Por tanto, se utilizó, en los conceptos de género Bakhtin (1997), Swales (1990) y Marcuschi (2000), que se centran en el carácter flexible y dinámico de géneros. Sobre la base de uma recopilación de datos que enemos los estándares genéricos que aparecen en el espacio reservado para la escritura de mensajes de Orkut, nos encontramos con que la chatarra puede ser una forma híbrida, que permite a mostrar cómo maleable que es. Además, contamos con dos libros de trabajo con la enseñanza de la asignatura de la escritura, que sirvió de como un modelo para explicar lo que se enseña en la escuela acerca de los géneros. Los resultados muestran que la realidad empírica de gênero difiere de lo que se expone a los estudiantes en las escuelas, dejándolas fuera de la riqueza cultural provocada por el conocimiento del funcionamiento real de los géneros. Palabras-clave: Scrap. Géneros digitales. Enseñanza de géneros.