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Arquivo Público do Estado de São Paulo Sequência didática: Imigração e Política de Branqueamento Trabalho apresentado como avaliação final do curso O(s) uso(s) de documentos de arquivo na sala de aula, ministrado no Arquivo Público do Estado de São Paulo, Pelo Núcleo de Ação Educativa Elson de Melo Lima São Paulo 2012

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Arquivo Público do Estado de São Paulo

Sequência didática: Imigração e Política de Branqueamento

Trabalho apresentado como avaliação final do curso

O(s) uso(s) de documentos de arquivo na sala de aula,

ministrado no Arquivo Público do Estado de São Paulo,

Pelo Núcleo de Ação Educativa

Elson de Melo Lima

São Paulo

2012

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SUMÁRIO

Introdução.............................................................................................................................................3

Primeira Parte

Justificativa...............................................................................................................................4

Dados da Sequência Didática...................................................................................................4

Segunda Parte

Atividade...................................................................................................................................5

Conclusão...........................................................................................................................................16

Referências.........................................................................................................................................17

Anexo

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Introdução

O presente trabalho foi desenvolvido durante a realização do curso “o(s) uso(s) de

documentos de arquivo na sala de aula”, ministrado no Arquivo Público do Estado de São Paulo,

pelos funcionários do Núcleo de Ação Educativa. A sequência didática aqui apresentada foi

produzida neste contexto, sendo utilizada como avaliação final do curso já mencionado, tendo como

finalidade desenvolver uma atividade que possa ser apresentada em sala de aula, com a utilização de

documentos da administração pública e de outros documentos.

O trabalho está dividido em duas partes, na primeira serão apresentadas algumas

informações básicas da atividade, como a justificativa da escolha do tema, o objetivo, a série (ano)

para qual foi destinada a produção da sequência didática, assim como o tempo previsto, em número

de aulas. Na segunda parte está localizada a sequência em si, com as atividades, os documentos que

devem ser utilizados, juntamente com as explicações destinadas ao professor que porventura deseje

utilizar o material em sala de aula. Há ainda uma última parte, com a conclusão do trabalho e as

referências bibliográficas e também um anexo, contendo as imagens, com os documentos e as

atividades direcionadas aos alunos, de forma resumida. O anexo não é essencial, mas facilita a

apresentação do trabalho para a sala.

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Primeira Parte

Justificativa

Poucos assuntos são tão intrigantes e presentes na história do Brasil, como a questão da

imigração, em boa parte devido a diversidade étnica presente, além da circulação de discursos do

Brasil ser uma “democracia racial”, já que conta com pessoas oriundas de quase todos locais do

globo. Mas mesmo com o quadro apresentado, surpreendentemente o preconceito ainda existe, de

forma velada1, mas mesmo assim não deve ser ignorado, já que o silêncio é a principal arma para a

perpetuação deste tipo de preconceito.

O tema da diversidade cultural e étnica está presente nos Parâmetros Curriculares Nacionais

(PCN's), e os professores de história possuem uma grande responsabilidade nesta formação.

Discutir as transformações sociais, verificar as continuidades e rupturas, problematizar discursos,

que podem visar a justificação da dominação de uma classe ou etnia, sobre as outras, são atribuições

da disciplina escolar história.

Com os exercícios desenvolvidos neste trabalho, o professor tem a possibilidade de

apresentar ao aluno fontes produzidas no fim do século XIX e início do XX, que podem levá-los a

refletir sobre os processos de formação da nação, recuperando informações, interpretando e

refletindo sobre elas.

O ponto interesse em associar a política de branqueamento ao tema da imigração, além do

óbvio de associar o fim da escravidão com a imigração, é pensar em como, mesmo com um projeto

eugênico, ocorreram incursões de outras etnias que não eram desejadas pelas classes dominantes,

como é o caso dos japoneses, sírios e judeus.

Dados da Sequência didática

Objetivo: O objetivo do trabalho é abordar as causas da imigração, qual contexto ela surge, e como

se desenvolve, discutindo com os alunos o processo, com a utilização de documentos produzidos

durante o período.

Série: 7ª série / 8º ano

Tempo Previsto: De duas a três aulas

1 SCHWARZ, 1998, (p.180).

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Segunda Parte

Atividade

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Figura 1 - Redenção de Cã

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A sequência didática foi planejada para ser apresentada em duas ou três aulas, mas este

número que pode ser alterado, conforme a disponibilidade do professor, os documentos e atividades

podem ser adaptados para serem apresentados separadamente.

Na primeira aula seria dada uma ênfase na análise do quadro “a redenção de cã”, que

possibilitaria ao professor desenvolver com os alunos o trabalho com fontes iconográficas. Já na

segunda aula seriam apresentados os demais documentos.

O ideal é que a sequência seja apresentada depois de conteúdos, como a abolição da

escravidão e proclamação da república, o que facilitará a compreensão das fontes por parte dos

alunos.

O primeiro passo na atividade seria apresentar a imagem, sendo um dos objetivos desse

trabalho levar os alunos a leitura dos diversos documentos, isso também deve proceder com a parte

iconográfica.

Para auxiliar na leitura da imagem adaptarei o método desenvolvido por Erwin Panofsky2,

usado por ele para fazer o estudo iconográfico de imagens renascentistas.

Em primeiro lugar deve-se fazer uma descrição “pré-iconográfica”, após mostrar a

reprodução do quadro e a data que ele foi pintado,seria adequado fazer uma breve recapitulação dos

assuntos trabalhados até o momento, como lembrar qual foi o ano da abolição da escravidão, de que

forma ela ocorreu, como se deu a proclamação da república, por exemplo. Não é necessário seguir

essas perguntas de forma rígida, esse primeiro passo serve apenas para “situar” os alunos.

Terminada essa introdução, peça para eles descreverem o que observam no quadro, caso

surja dificuldades, auxilie eles com algumas perguntas mais diretas, como: “Quantas pessoas são

representadas no quadro?”, “Como elas estão vestidas?”, “Algum dos personagens do quadro

“chama mais a atenção”, tem algum destaque?”. As perguntas serão tratadas com mais detalhe em

uma parte posterior do trabalho.

Essas perguntas podem ser apresentadas de três maneiras diferentes, uma é apresentar o

quadro no final de uma aula, deixando os alunos observarem com atenção o quadro, para depois

entregar de forma escrita as respostas, se for esse o caso, o professor pode pedir que os alunos

façam uma pesquisa sobre onde foi o local original de exposição do quadro. Se essa primeira

medida for a adotada, na aula seguinte o professor pode, e seria adequado, voltar a exibir a

reprodução da imagem e levar os alunos a falarem em grupos, ou individualmente, (isso depende do

professor e da dinâmica da sala), quando os alunos falarem sobre eugenia, provavelmente falaram

sobre o I Congresso Internacional das Raças, realizado em julho de 1911, onde quadro foi exposto

pela primeira vez, seria interessante acrescentar nas perguntas para pesquisarem o significado da

2 PANOFSKY, 1979.

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palavra Eugenia, caso apresentem algo sobre o I Congresso Brasileiro de Eugenia, para pelo menos

procurarem no dicionário ou na internet seu significado.

Caso os alunos não levantem nada sobre o tema, ou se o professor preferir ele mesmo

apresentar algo sobre, fica a critério do mesmo. Disponibilizo a citação, retirada de uma

enciclopédia para o professor utilizar na aula, que pode esclarecer o que é eugenia:

Estudo e doutrina do aprimoramento biológico de uma população através de reprodução

controlada, isto é, orientada de modo a se obter indivíduos portadores de determinadas

características hereditárias consideradas desejadas ou desejáveis. O conceito de eugenia foi

amplamente discutido na Inglaterra, nos Estados Unidos e na Europa, no final do século 19

e no início do século 20. Os adeptos da eugenia procuram encorajar a procriação de seres

humanos supostamente superiores quanto a determinadas características, e também

quiseram prevenir a a procriação de seres humanos supostamente inferiores. […]3

Essa citação e tema podem ser utilizados em outras aulas, por exemplo quando os alunos

tiverem que estudar a Segunda Guerra e o nazismo.

O professor pode optar por trabalhar a imagem em uma aula inteira, isso exigiria mais

exposição de conteúdos por parte do mesmo, mas também pode proporcionar uma análise mais

detalhada. Para adentrar na iconologia, recomendo que o professor faça perguntas com relação ao

título do quadro “ a redenção de Cã”. Mas mesmo que adote a primeira forma é possível e

recomendado que pelo menos passe essas questões, mesmo que seja de forma mais superficiais, se o

professor optar pela primeira abordagem, de exposição em uma aula, seguida de pesquisa, e

discussão na aula seguinte, essa abordagem pode até trazer benefícios, já que as perguntas que serão

colocadas aqui podem ser pesquisadas fora da sala, seguem elas: “O gesto de cada personagem

representa algo?”, “Explique”, “O quadro apresenta algum símbolo?”, “Quem foi Cã?”, “Como o

“mito de Cã” relaciona-se com a pintura?”, “Como o mito de Cã foi apropriado no período que o

quadro foi pintado?”.

Essa parte, da análise iconológica, possui perguntas que podem ser adaptadas conforme a

disponibilidade do professor. Adentrar demais no “mito de Cã”, pode desviar a aula do foco, que é

imigração e política de branqueamento. O importante nesta parte é apontar como o mito bíblico foi

apropriado para justificar diversas políticas racistas, e também qual era a “medida oficial”

apresentada pelo Brasil no período, que estava ligada com o branqueamento através da

3 RASCHLE, 1996.

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miscigenação.

Para auxiliar as explicações sobre o tema o texto de Lilia Moritz Schwartz, “Nem preto nem

branco muito pelo contrário: cor e raça na intimidade” 4é recomendado. Segue uma citação deste

texto que comenta sobre a exposição a imagem aqui trabalhada:

[...] O Brasil fora o único país da América Latina convidado para o evento [ I Congresso

Internacional das Raças], - trazia na abertura a reprodução de um quadro de M. Brocos,

artista da Escola de Belas-Artes do Rio de Janeiro, acompanhado da seguinte legenda: “Le

nègre passant au blanc, à la troisième génération, par l'effet du croisement des races” [O

negro passando para o branco, na terceira geração, por efeito do cruzamento de raças]. 5

Para facilitar o trabalho do professor serão listadas as perguntas acompanhada de respostas,

tenha sempre em mente que não são respostas fechadas, esse ponto serve mais de esclarecimento,

um ponto de partida para o professor, e como apresentação das motivações das escolhas dessas

perguntas no trabalho. Na sequência as perguntas da iconografia e iconologia da Figura 1:

Sugestões de Perguntas e Respostas:

1.Quantas pessoas são representadas no quadro?

R.: Essa pergunta serve para descrever e familiarizar os elementos contidos na pintura,

reconhecendo os objetos nela representados. A pergunta ainda pode levar em conta outros fatores ou

ser modificada, acrescentando: “Como é o ambiente representado?”. Isso fica a critério do professor

e do tempo disponível para a atividade, além dessa pergunta, o professor pode fazer outras

relacionadas as cores e aos objetos, já mencionados.

2.Como elas estão vestidas?/Qual a aparência dos personagens representados?

R.: Provavelmente os alunos notarão a semelhança nas vestimentas das duas mulheres, e

podem comentar sobre o tonalidade da pele e das roupas. Esse é um dos propósitos dessas

perguntas, que os alunos percebam que as tonalidades foram escolhidas pelo pintor, visando um

objetivo, que pode ser o de dar maior destaque a uma figura do que a outra. A localização dos

personagens no quadro também é importante, como pode ser notado pela criança que tem um papel

central no quadro.

4 SCHWARCZ, 1998.5 Apud, 1998 p.177

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3.Algum dos personagens no quadro “chama mais a atenção”, tem algum destaque? Explique o

porque.

R.: Este pergunta é ligada as anteriores, a intenção é proporcionar aos alunos perceberem

como é possível numa imagem dar centralidade a um objeto ou personagem, através da posição, do

enquadramento, e do “foco de luz”. Provavelmente os alunos notarão e podem descrever a criança

como elemento central, seja pelo posicionamento no quadro seja pela tonalidade mais clara da

roupa e de sua pele, que contrasta com o restante da pintura.

Para desenvolver uma análise como esta é importante a orientação do professor, para que os

alunos consigam perceber esses elementos. “Perder tempo” em uma atividade como essa é

importante, pois possibilitaria análises de outras imagens pelos alunos em outras ocasiões, já que

são pressupostos básicos de uma análise iconográfica. Minha recomendação, sendo essa a primeira

experiência da turma com esse tipo de material e análise, que não seja uma atividade classificatória,

mesmo utilizando as perguntas diretas, aqui colocadas, apesar de ser um tipo de análise complexa,

pode ser divertida e útil para os alunos, tendo em vista o número de imagens que os rodeiam. Eles

podem aprender conceitos importantes com a análise da imagem, já que ao desnaturalizar ela, o

conceito de imagem como uma “representação da realidade” é quebrado, entrando no lugar a

imagem como um construto, feito a partir de objetivos e intenções que seu criador visa causar em

outros, não que todas as imagens estejam reduzidas a esse conceito, mas permite problematizar o

amplo uso de imagens, em diversos meios, na sociedade contemporânea.

4.O gesto de cada personagem representa algo? Explique.

É capaz que os alunos percebam que a mulher que está de pé, estende as mãos para o alto,

com o olhar direcionado para a mesma direção, gesto ligado com o agradecimento, normalmente

dirigido a uma divindade ou santo. A mulher sentada aponta o dedo em direção da outra, que está a

esquerda do observador. Já a criança estende a mão para a mulher que está de pé, como num sinão

de benção.

5.O quadro apresenta algum símbolo?

Está pergunta talvez não seja adequada para ser direcionada aos alunos, mas o professor

pode usar em sua explanação do conteúdo. Um dos objetos no quadro, que pode carregar um certo

simbolismo são as folhas de palmeira, que como o nome do quadro tem referências bíblicas. Citar o

texto de João 12:13.

6.Quem foi Cã?

Aqui fica a critério do professor novamente, ele pode apresentar a resposta, ou pedir para

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que os alunos pesquisem a informação. Segundo a tradição judaico cristã, Cã era um dos três filhos

de Noé, ao lado de Jafé e Sem, que foi amaldiçoado pelo pai, após expor sua nudez, nesta maldição

Noé diz que Cã deveria ser servo de Sem e de Jafé (Gênesis 9:21-27). O mito foi reinterpretado

mais de uma vez, sendo comum os filhos de Noé serem representados como ancestrais de

determinados povos, Cã foi considerado ancestral dos povos canaanitas, que habitavam a região de

Canaã (Gênesis 9:18), atual Palestina, região da Cisjordânia e estado de Israel, o que teria

legitimado posteriormente a invasão dos israelitas, que se julgavam descendentes de Sem, por isso

também são chamados de semitas. Mas os europeus, já cristianizados, reinterpretaram o mito,

colocando os povos africanos como descendentes de Cã, eles próprios se viam como descendentes

de Jafé.

7.Como o “mito de Cã” relaciona-se com a pintura?/Como o mito de Cã foi apropriado no período

que o quadro foi pintado?/ O que é a redenção de Cã?

Uma advertência que faço antes do uso deste material, e no caso das últimas perguntas em

particular, é a utilização do termo “mito”, principalmente no caso de colégios confessionais. Muitas

vezes a palavra “mito” é vista como sinônimo de “mentira”, no caso desta sequência didática, que

faz alusões a narrativas bíblicas, isso pode causar sérios problemas, tanto com alunos, como com

diretores ou pais de alunos que sejam cristãos ou professem outra fé. Recomendo a leitura do livro

“O Poder do Mito” de Joseph Campbell, que foi escrito com base numa entrevista que ele cedeu,

também disponível em vídeo, que pode ser interessante exibir para a sala, em outra ocasião, quando

o professor desejar adentrar na temática dos mitos.

Caso os alunos tenham dificuldades em chegar em alguma conclusão, explique que a

apropriação que foi feita do mito, servia como justificativa para os europeus escravizarem os

africanos, no quadro a maldição está ligada a cor da pele, que seria “redimida” ou cancelada,

através da miscigenação ou do “branqueamento”.

8.Faça uma redação com os elementos que foram discutidos sobre o quadro com o que vocês

estudaram sobre o período.

Com o fim desta primeira parte os alunos já teriam conhecimento sobre uma política de

branqueamento, com a análise do quadro e dos conteúdo apresentado pelo professor, ele pode

prosseguir para a próxima parte, que segundo o planejamento inicial seria apresentado numa

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segunda aula, ou terceira, caso o quadro já tenha sido trabalhado no final de outra aula, como

também foi sugerido.

Nessa segunda parte seria interessante o professor questionar os alunos sobre o trabalho no

Brasil no período, isso depende muito de como o professor abordou o tema anteriormente, ou de

como deseja trabalhar com ele, assim esta discussão pode ser alongada ou diminuída. O importante

é lembrá-los que até este período o trabalho no Brasil é majoritariamente rural, sendo a principal

atividade exercida pela maioria da população. Esse adendo foi posto para questionar alguns pontos,

como, “Quem iria trabalhar no campo com a abolição da escravidão?” “Como será que foi a vida

dos antigos escravos após a abolição?”.

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Figura 2 - Relatorio da Agricultura - 1908 ( Quadro 3)

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Figura 3 - O Immigrante, jan. 1908, n.1, ano 1, São Paulo. Apesp.

A Figura 3 apresenta a primeira página do jornal “O Immigrante” que é do mesmo ano do

documento da Figura 2. O ideal para o uso de documentos da imprensa seria seguir todos os

conselhos contidos no texto de Heloísa Cruz e Maria do Rosário da Cunha Peixoto, “Na oficina do

historiador: conversas sobre história e imprensa”6, mas assim como o trabalho com imagens em sala

6 CRUZ, 2007.

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de limita a abordagem mais aprofundada do documento, se achar interessante apresente a imagem e

peça para os alunos dizerem se encontram alguma relação com os dados levantados no gráfico com

a Figura 3, como já foi colocado essa não é a forma adequada, o ideal seria levar séries do jornal,

buscar que financiava o mesmo, quem era seu público, sua tiragem, etc. Mas assim o tempo para

outros conteúdos seria ceifado.

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Figura 5 - Lista de embarque Kasato Maru - 1908 (p.3). Acervo APESP.

Figura 4 - Lista de embarque - Kasato Maru 1908 p.2. Acervo APESP.

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Agora seguem as demais atividades que para serem desenvolvidas no segundo dia de aula.

Sugestões de perguntas:

1.Como os japoneses são descritos nos recortes da Lista de embarque do navio Kasato Maru, nas

Figuras 4 e 5?

Esta pergunta não deve representar muitas dificuldades, já que boa parte do recorte

selecionado nas Figuras 4 e 5 concentra-se na descrição dos japoneses. Além de fazer uma questão

onde os alunos puramente retiram a informação do documento, neste caso eles podem observar o

tom pejorativo contido nas descrições.

2.Nas fontes apresentadas existe a menção de um contrato que possibilita a entrada de imigrantes

japoneses no Brasil, por quem ele é assinado segundo os documentos?

Outro exercício simples, que destina-se encontrar a informação no documento. Na Figura 6

fica claro que houve um contrato fechado entre o Governo do Estado de São Paulo e a Companhia

Imperial de Emigração de Tokio, com essa pergunta o professor pode conduzir a sala para uma

discussão sobre as passagens subsidiadas e até onde o Estado era responsável pelas imigrações no

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Figura 6 - Relatoria da Agricultura - 1908 (p.29). Acervo APESP.

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período. Uma discussão sobre as motivações pessoais dos imigrantes pode ser de grande valia,

apenas com as perguntas o processo pode parecer um tanto impessoal, ou tirar o protagonismo dos

indivíduos nessas viagens.

3.Para que tipo de trabalho os japoneses foram destinados ao chegarem ao Brasil? Eles receberiam o

mesmo pagamento que os colonos brancos?

Existe a menção do trabalho no campo nos dois documentos, mas não aparece de forma tão

explicita, seria interessante discutir as condições de trabalho, e o que era esperado desses

imigrantes.

4.Existe algum conflito entre a imagem dos japoneses descrita nas Figuras 4 e 5 com relação a

descrita na Figura 6? Em caso positivo, descreve esse conflito.

Essa questão pode ser bem interessante para discutir que nem sempre o que está em um

documento oficial é a realidade. Isso pode ser claro para os historiadores, mas para uma criança que

está saindo do ensino fundamental não, mostrar a contradição na descrição da lista de embarque

com a do relatório ser um bom exercício para aguçar esse tipo de percepção.

5.Faça uma redação escolhendo um dos seguintes temas:

a) Abolição e imigração

b) Imigração e preconceito

c)Preconceito hoje e sua relação com o passado.

A ideia nessa última parte, além do treino da escrita, é a reflexão em primeiro lugar. Minha

sugestão em deixar vários temas, que podem ser abrangidos pelo professor, é que o aluno tenha a

liberdade de escolher um que tenha mais afinidade, dentro do conteúdo apresentado.

Conclusão

Com esta sequência didática é possível, além de apresentar os conteúdos sobre imigração,

problematizar o processo, mostrando o papel que o Estado teve na seleção dos povos que

imigravam para o Brasil, com a utilização de documentos produzidos durante o período relatado,

final do século XIX início do XX. As leituras documentais feitas nesse trabalho podem ser

abrangidas para outros conteúdos, ou pode ser aprofundada, conforme for diagnosticado o avanço

dos alunos nesse tipo de leitura.

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Referências

CRUZ, Heloísa; PEIXOTO, Maria do Rosário da Cunha. Na oficina do historiador: conversas sobre

história e imprensa. Projeto História, São Paulo, n.35, p.253-270, dez. 2007.

DEZEM, Rogério. Shindô-Renmei: terrorismo e repressão- Módulo III. São Paulo : Arquivo do

Estado, Imprensa Oficia, 2000.

FAUSTO, Boris. Historiografia da imigração para São Paulo. São Paulo : Editora Sumaré: Fapesp,

1991.

PANOFSKY, Erwin. Iconografia e iconologia: uma introdução ao estudo da arte da renascença.

In__ Significado nas artes visuais. São Paulo: Editora Perspectiva, 1979, p.47-87.

RASCHELE, Jenny, SANTOS, José Félix dos (Coord.). Nova Enciclopédia Ilustrada Folha. São

Paulo: Empresa Folha da Manhã S.A, 1996.

SAKURAI, Celia. Romanceiro da imigração japonesa. São Paulo : Editora Sumaré, 1993.

SCHWARCZ, LILIA MORITZ. Nem preto nem branco, muito pelo contrário: cor e raça na

intimidade. In: ___ História da vida privada no Brasil. Contrastes da intimidade contemporânea.

São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p.173-243.

TAKEUCHI, Marcia Yumi. O perigo Amarelo: imagens do mito, realidade do preconceito (1925-

1945) São Paulo: Humanitas, 2008.

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