Arquitetura Neoclássica e Eclética No Brasil

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Arquitetura neoclássica e eclética no Brasil A arquitetura da época firmou-se em duas versões: o neoclássico oficial, da Corte, quase todo feito de importações, e a versão provinciana, simplificada, feita por escravos, exteriorizando nos detalhes as ligações dos proprietários com o poder central. O neoclássico oficial se desenvolveu nos centros maiores do litoral, como Rio de Janeiro, Belém e Recife, que tinham contato direto com a Europa, e que desenvolveram um nível mais complexo de arte e arquitetura e se integraram nos moldes internacionais da sua época. As residências urbanas utilizavam-se ainda das mesmas soluções de implantação dos tempos coloniais: sobre o alinhamento das ruas e sobre os limites laterais dos lotes. A parte da frente das residências destinava-se aos salões e a área social da casa, para dentro ficam as alcovas, quartos e salas de jantar, e aos fundos, o serviço. Os porões, que aparecem sob o térreo, marcado pela fileira de óculos alinhados sob as janelas dos salões, são utilizados ora como locais de serviço, ora como depósito de lenha, liberando o térreo para utilização com cômodos de permanência diurna. Na arquitetura urbana prevaleceu clareza construtiva. Era caracterizada pela simplicidade formal, com cornijas e platibandas como recurso formal. As paredes, de pedra ou tijolo, eram revestidas e pintadas de cores suaves, como o branco, rosa, amarelo e azul-pastel, apresentavam corpo de entrada salientes, com escadarias, colunatas e frontões e valorizavam a decoração dos interiores com revestimentos e pinturas. Em geral as linhas básicas da composição eram marcadas por pilastras, sobre as quais, nas platibandas, dispunham-se objetos de louça do Porto, como compoteiras ou figuras representando as quatro estações do ano, os continentes, as virtudes, etc. Janelas e portas se destacavam enquadradas em pedra aparelhada e arrematadas em arco pleno, em cujas bandeiras dispunham-se rosáceas mais ou menos complicadas, com vidros coloridos.

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Resumo sobre a Arquitetura neoclássica e eclética do livro Quadro da arquitetura no Brasil

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Arquitetura neoclássica e eclética no Brasil

A arquitetura da época firmou-se em duas versões: o neoclássico oficial, da Corte, quase todo feito de importações, e a versão provinciana, simplificada, feita por escravos, exteriorizando nos detalhes as ligações dos proprietários com o poder central. O neoclássico oficial se desenvolveu nos centros maiores do litoral, como Rio de Janeiro, Belém e Recife, que tinham contato direto com a Europa, e que desenvolveram um nível mais complexo de arte e arquitetura e se integraram nos moldes internacionais da sua época.

As residências urbanas utilizavam-se ainda das mesmas soluções de implantação dos tempos coloniais: sobre o alinhamento das ruas e sobre os limites laterais dos lotes. A parte da frente das residências destinava-se aos salões e a área social da casa, para dentro ficam as alcovas, quartos e salas de jantar, e aos fundos, o serviço. Os porões, que aparecem sob o térreo, marcado pela fileira de óculos alinhados sob as janelas dos salões, são utilizados ora como locais de serviço, ora como depósito de lenha, liberando o térreo para utilização com cômodos de permanência diurna.

Na arquitetura urbana prevaleceu clareza construtiva. Era caracterizada pela simplicidade formal, com cornijas e platibandas como recurso formal. As paredes, de pedra ou tijolo, eram revestidas e pintadas de cores suaves, como o branco, rosa, amarelo e azul-pastel, apresentavam corpo de entrada salientes, com escadarias, colunatas e frontões e valorizavam a decoração dos interiores com revestimentos e pinturas. Em geral as linhas básicas da composição eram marcadas por pilastras, sobre as quais, nas platibandas, dispunham-se objetos de louça do Porto, como compoteiras ou figuras representando as quatro estações do ano, os continentes, as virtudes, etc. Janelas e portas se destacavam enquadradas em pedra aparelhada e arrematadas em arco pleno, em cujas bandeiras dispunham-se rosáceas mais ou menos complicadas, com vidros coloridos.

As casas rurais obedeciam aos padrões da arquitetura residencial urbana mais modesta, era nos interiores que mais se aproximava dos padrões da Corte, onde graças à cultura do Café se desenvolvia uma intensa vida social. As transformações arquitetônicas mais uma vez se limitavam as superfícies, com papéis decorativos ou pinturas sobre as paredes de terra criando a ilusão de um espaço novo.

É interessante observar que, mesmo considerados todas as adaptações sofridas no Brasil pelo Neoclassicismo ou por outros movimentos artísticos, verifica-se uma tendência justamente nas camadas consumidoras. Com uma arquitetura que estava na dependência de importação de materiais e mão-de-obra especializada ou que apenas disfarça com aplicações superficiais a precariedade da mão-de-obra escrava, o neoclássico não chegou a corresponder a o aperfeiçoamento maior da construção no Brasil.

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Ecletismo = Uso ou mistura de estilos do passado ocorrido na segunda metade do século XIX, é a linguagem eufórica da liberdade calcada na nova tecnologia. A nosso ver, hoje, devemos entender Ecletismo como sendo toda a somatória de produções arquitetônicas aparecidas a partir do final do primeiro quartel do século passado. Além do uso e mistura de estilos estéticos históricos, a arquitetura eclética de maneira geral se caracterizou pela simetria, busca de grandiosidade, rigorosa hierarquização dos espaços internos e riqueza decorativa

A arquitetura eclética tem para a história grande valor porque relata momentos de profundos paradoxos na vida do homem moderno.

A casa urbana brasileira passa a ter uma tipologia de construção nova para a época. Acontecia um crescimento rápido de muitas cidades brasileiras, de maneira que no início do séc. XX, a casa passa a ter sua fachada principal alinhada à testada do lote, ganha um acesso e varanda laterais e comumente é geminada com sua vizinha. Os portões e gradis são de ferro e essa casa pode receber ainda uma profusão de influências de períodos distintos do passado.

A presença do porão é comum na época. Balaustrada na platibanda e cornija logo abaixo, clássicas. Padieira em forma de cornija acima das janelas também é clássica, mas o elemento ornamental rebuscado quebra a formalidade comum ao clássico. Os caixilhos das janelas e a cor da casa denotam a presença do art décor. Esse ecletismo, mesmo que discreto, acompanha a arquitetura brasileira até a década de trinta do séc. XX.

O uso de cores fortes é uma influência da proposta contemporânea do art décor, que por usa vez ganhava inspiração no uso de cores mais agressivas do movimento fovista da pintura moderna. Os gradis de ferro são presença quase obrigatória nos prédios da época.

A platibanda escalonada (tipo escada) e simétrica, coroando a fachada é um traço típico do art deco. Mas há a presença de guarda-corpo com balaústres clássicos, colunas coríntias e do arco romano. A riqueza de misturas e efeitos que se pode conseguir com associações desse tipo só o ecletismo consegue explicar. Há quem diga que existe um certo rendilhado gótico e um ar oriental na volumetria desse prédio, sede de um clube em Curitiba, mas a unanimidade é que o aspecto final resulta fantástico.