ARQUEOLOGIA AO LONGO DO RAMAL FERROVIÁRIO S11D · Com uma população estimada em mais de sete...

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R A M A L F E R R O V I Á R I O S11DARQUEOLOGIA AO LONGO DO

Autores

Ana Lucia Herberts

Eneida Malerbi

Felipe Matos

Renato Kipnis

R A M A L F E R R O V I Á R I O S11DARQUEOLOGIA AO LONGO DO

AutoresAna Lucia Herberts

Eneida MalerbiFelipe MatosRenato Kipnis

Revisão OrtográficaTatiane Lima

ApoioVale

RealizaçãoScientia Consultoria Científica

Projeto gráfico, diagramação e ediçãoWallace Felix

CapaWallace Felix

M533

Nome do livro / Autor(es); nome; nome (organizadores); revisão, XXXXX; projeto gráfico, XXXXXXX. – São Paulo:

[s. n.], 201X.

XXX p.: il.; XX cm.

ISBN XXX-XX-XXXXX-XX-X

1. XXXXXXX. 2. XXXXXXXXXXX 3. XXXXXXXXXXXXXXXXXX. 4. XXXXXXXXX. I. Título.

CDD – XXX.XX

É permitida a reprodução total ou parcial desta publicação, desde que citada a fonte. Esta publicação não pode ser vendida. Tiragem: XXXX exemplares. Impresso no Brasil

Com uma população estimada em mais de sete milhões de habitantes espalhados por uma área de 1.247.689,515 km², o Pará é o segundo maior estado do Brasil, possuindo a maior bacia hidrográfica do planeta, reservas minerais importantes, uma formação cultural miscigenada, uma grande área de florestas e uma economia em intenso crescimento.

Embora a sua maior concentração demográfica esteja localizada no entorno da capital paraense – a cidade de Belém –, calcula-se que quase dois milhões de habitantes vivam na mesorregião do Sudeste Paraense, distribuídos em 39 municípios agrupados em sete microrregiões.

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Capítulo 1

Região sudeste do estado do Pará(Scientia, 2016)

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Mesorregião do Sudeste do Pará, microrregiões e municípios.(Scientia, 2016)

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Um fator decisivo para o crescimento demográfico da região foi o início da exploração econômica em grande escala do território de Carajás a partir da década de 1960, sobretudo a atração gerada por sua imensa riqueza mineral: ferro, ouro, estanho, bauxita, manganês, níquel, cobre, entre outros.

Nos anos 1980, a então estatal Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) – atual Vale – assumiu o Programa Grande Carajás, projeto de desenvolvimento do Governo Federal para exploração dos recursos naturais regionais. A infraestrutura necessária para a mineração incluiu: a construção da gigantesca Usina Hidrelétrica de Tucuruí, no rio Tocantins – iniciada em 1974, teve a primeira etapa de instalação inaugurada em 1985 e a conclusão em 2006; a construção da Estrada de Ferro Carajás (entre Pará e Maranhão, para escoamento do minério de ferro até o porto exportador), bem como do terminal portuário Ponta da Madeira (MA).

É importante lembrar de que em meados do século 20, entre os rios Araguaia e Xingu, foram identificadas províncias metalogênicas com mais de 100.000 km², num raio de 60 quilômetros, a partir da Serra dos Carajás. Trata-se de verdadeiro fenômeno geológico no que se refere ao volume e concentração de metais de uso industrial e/ou de valor unitário. Acredita-se que entre as riquezas minerais ali incluídas estejam a maior reserva mundial de ferro, a terceira maior reserva mundial de bauxita, grandes reservas de manganês, níquel, cobre, entre outros minerais metálicos, numa localização relativamente próxima à costa do Atlântico, o que favorece ainda mais a sua valorização (BECKER, 1990, p. 64-65).

Usina Hidrelétrica de Tucuruí – vertedouro.Foto: Sócrates Arantes(http://bit.ly/2kbiZL2)

Trem cargueiro da Estrada de Ferro Carajás. Foto: Fernando Santos Cunha Filho(http://bit.ly/2iUS2rt)

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Os estudos paleoambientais, que buscam compreender como eram o clima e a vegetação do passado, mostraram, para a região de Carajás, uma grande variabilidade climática, alternando-se períodos úmidos, com predominância de floresta tropical úmida, e períodos secos, nos quais áreas de cerrado e áreas de floresta coexistiram.

Já os estudos geomorfológicos, que são aqueles que analisam a formação e a evolução dos relevos, demonstraram que a Serra dos Carajás é um conjunto de platôs associados a colinas alongadas, com relevos que se destacam sobre a topografia regional. Nos platôs, que chegam a 900 metros de altitude, abrem-se clareiras de savana metalófila (ou canga hematítica), que é uma vegetação arbustiva e de gramíneas que cresce sobre as jazidas de ferro e que, na região amazônica, só existe ali. Em algumas bordas destes platôs aparecem paredões de pedras verticais que podem atingir 300 metros de altura.

O que é província metalogenética? Vasta área de uma plataforma ou de uma região dobrada da crosta terrestre, cujo desenvolvimento associa-se à formação e evolução de jazidas de minérios metálicos.

O que são minerais metálicos? Entre os minerais metálicos mais conhecidos na natureza estão o cobre (Cu), o alumínio (Al), o zinco (Zn), o ferro (Fe), o chumbo (Pb), o ouro (Au), o níquel (Ni), a prata (Ag) e o manganês (Mn). Eles são recursos naturais não renováveis, isto é, que não podem ser repostos pela natureza e que servem para a produção de metais puros para uso industrial. Esses minerais viabilizam a expansão de várias produções fabris, desde bens de produção, como equipamentos (agrícolas, industriais e de transporte), a bens de consumo, como os materiais metálicos usados em embalagens de muitos produtos.

A extração de minerais metálicos no Brasil é controlada pela Vale (antiga Companhia Vale do Rio Doce, empresa criada em 1942 por Getúlio Vargas e privatizada em 1997, pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso).

No Brasil, para explorar uma província mineral, as empresas dependem de uma autorização especial, fornecida pelo Ministério das Minas e Energia.

Mina de ferro de Carajás em exploração, 2009.Foto: NASA Earth Observatory

(http://bit.ly/2jqgepo)

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Na maior parte destes platôs, no entanto, predomina uma floresta pluvial coberta por solos parcialmente lateritizados (Teixeira; Beisiegel, 2006, p. 56-57), ou seja, locais onde existiu um longo processo de transformação do solo pelo excesso de chuvas, formando uma crosta constituída, principalmente, por ferro e alumínio, conhecida como laterita.

Assim, as grandes paisagens que caracterizam o rico patrimônio ambiental de Carajás são resultados da combinação de três fatores (Martins et al, 2012, p. 32):

»geomorfológicos: a natureza das rochas e dos mantos superficiais, os valores de declividades e a dinâmica de encostas;

» climáticos: as precipitações, as temperaturas e a umidade;

»hidrológicos: referentes aos níveis freáticos, nascentes, pH das águas e tempos de ressecamento dos solos.

O conjunto das terras de quase toda a região do Sudeste Paraense são áreas onde, principalmente a partir da década de 1970, ocorreram algumas das mais radicais mudanças no uso do solo na Amazônia, convertendo grandes extensões de floresta em pastagens. O principal exemplo é a floresta ombrófila ou pluvial (isto é, áreas de chuvas abundantes e frequentes, com concentração de árvores de copas densas e perenes), que foi drasticamente reduzida, restando remanescentes florestais isolados e pequenos, expostos às pressões derivadas das atividades humanas de diferentes naturezas.

Uma das formas para tentar barrar este desmatamento foi a criação de áreas florestais protegidas. Ao longo da região da Serra dos Carajás existe um conjunto de Unidades de Conservação (UCs) de diferentes categorias de manejo: a Floresta Nacional do Tapirapé-Aquiri, a Reserva Biológica de Tapirapé, a Área de Proteção Ambiental do Igarapé Gelado, a Floresta Nacional de Carajás, a Reserva Indígena Xikrin do Cateté e a Floresta Nacional de Itacaiúnas. Essas Unidades formam um bloco contíguo de 1,31 milhão de hectares, o que possibilita otimizar a conservação da paisagem e da biodiversidade, por meio da proteção mais eficiente contra invasões, caça, garimpagem, retirada ilegal de madeiras e incêndios florestais (ROLIM et al, 2006, p. 108).

Neste contexto, a Floresta Nacional (Flona) de Carajás1, Unidade de Conservação criada em 1998 por decreto presidencial, representa uma importante área de proteção ambiental, tendo sido criada para o uso múltiplo

1 Mais informações a respeito da Flona de Carajás, das Unidades de Conservação e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), ver capítulo 4.

Aspecto da Serra N1 em fevereiro de 2016.Foto: Isabele C(http://bit.ly/2hyj77c)

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sustentável dos seus recursos naturais e de pesquisa científica. Dentre as suas riquezas, destacam-se as extensas serras ferruginosas que abrigam uma das maiores reservas minerais de ferro do planeta, além de vários tipos de vegetação, desde florestas pluviais até campos e savanas, associados a diversos tipos de solos, rochas, elevações, inclinações e microclimas (ARRUDA, 2014, p. 15). A Flona de Carajás se encontra associada a diversos empreendimentos, como o Complexo Minerador Ferro Carajás, a Mina de Manganês do Azul, a já desativada Mina de Ouro Igarapé-Bahia, a Mina de Granito, além de outros projetos.

As serranias de Carajás também exercem uma importante função para a manutenção dos recursos hídricos locais, pois nela se encontram alojados os principais aquíferos regionais e, consequentemente, a origem das mais importantes vazões que regularizam o comportamento hidrológico dos trechos a jusante da Serra dos Carajás, enquanto a porção da bacia que corresponde ao trecho situado a montante da serra exibe um caráter hidrológico que se aproxima aos sazonais domínios tropicais, com expressiva redução das vazões dos cursos de água durante a estiagem (MARTINS et al, 2012, p. 34-35).

Todos esses recursos naturais e as oportunidades de trabalho e de acesso à propriedade da terra atraíram migrantes ao imenso território da região de Carajás, onde se formaram ocupações espontâneas e núcleos urbanos – como Parauapebas (emancipado em 1988) e assentamentos agrícolas, como Canaã dos Carajás (município desde 1994) –, que hoje compõem a microrregião de Parauapebas, área de 23.056,372 km² na qual estão contidos os municípios de Parauapebas, Curionópolis, Eldorado dos Carajás, Água Azul do Norte e Canaã dos Carajás.

Esses novos núcleos urbanos se formaram especialmente no entroncamento entre rodovias, cidades e fluxos de deslocamentos ainda em atividade nos tempos atuais e são espaços de “culturas misturadas”, resultado da história dos encontros de diferentes pessoas, originadas de diferentes lugares, cada uma trazendo consigo a própria cultura.

O que é IDHM? O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDMH) é o resultado de um detalhado estudo econômico e social do país, que busca averiguar a qualidade de vida das populações dos municípios, levando em consideração a sua longevidade, educação e renda. Considerando uma escala numérica de 0 a 1, a análise classificou cada município em cinco esferas: IDHM muito baixo (0 a 0,499), baixo (até 0,599), médio (até 0,699), alto (até 0,799) e muito alto (até 1).

O IDHM brasileiro conta um pouco da história dos municípios, estados e regiões metropolitanas em três importantes dimensões do desenvolvimento humano, além de fornecer para a população e para os gestores municipais ferramentas para o acompanhamento e promoção de melhorias no subsídio ao desenvolvimento de políticas públicas.

Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil.

Os grandes empreendimentos que se instalaram na região de Carajás, a partir dos anos de 1980, promoveram profundas mudanças na paisagem local.

Foto: Rafael Araújo, cedida pela Vale.

Tabela 1. Dados gerais dos municípios da microrregião de Parauapebas.

Município Área da unidade territorial - 2015 (km²) População estimada (2016) Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM 2010)

Água Azul do Norte 7.113,961 26.682 0,564

Canaã dos Carajás 3.146,407 36.027 0,673

Curionópolis 2.369,098 17.453 0,636

Eldorado dos Carajás 2.956,690 32.892 0,560

Parauapebas 6.886,208 202.356 0,715

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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A microrregião de Parauapebas agrega migrantes de toda ordem em inúmeras atividades econômicas de diferentes setores. As áreas urbanas passaram por rápidas e profundas transformações, com as cidades se transformando em canteiros de obras, o surgimento de novos loteamentos e bairros, o asfaltamento de ruas, o início do oferecimento de serviços de saneamento básico e outros melhoramentos urbanos, embora ainda insuficiente para atender à demanda sempre crescente de pessoas atraídas pela oferta de trabalho.

Pelas ruas das cidades multiplicam-se restaurantes, farmácias, lanchonetes, hotéis e pousadas. Nas áreas urbanas o comércio local se expandiu, atraindo desde lojistas de pequeno e médio portes à inauguração de um shopping center. Nas zonas rurais predominam as vilas surgidas pelos assentamentos de colonos, com suas atividades de pecuária e agricultura de subsistência. Pequenos proprietários praticam, sobretudo, a pecuária leiteira, enquanto os grandes fazendeiros ocupam-se, principalmente, com a pecuária de corte.

Nesses núcleos municipais, o uso dos recursos naturais, as atividades desenvolvidas, o tamanho da população e as tendências de crescimento não são homogêneos. De forma geral, elas são assim caracterizadas, segundo dados do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio, 2016, p. 35):

- Vilas ao Norte da Floresta Nacional de Carajás: tendem a apresentar maior dinamismo, tanto em termos de crescimento populacional, melhoria na infraestrutura como intensificação do uso dos recursos naturais. Há o incremento populacional e das atividades agropecuárias. A presença de vários programas/projetos da Vale aplicados na região de Igarapé Gelado, voltados à produção agrícola e criação animal, fortaleceram as atividades agropecuárias e tendem a manter as pessoas no ambiente rural. Em Vila Sansão, decorrente da proximidade com o alojamento do Projeto Salobo houve um incremento populacional. A proximidade com o Projeto alterou o perfil de ocupação dos moradores que passaram a trabalhar de forma assalariada, sem especialização. Situação semelhante é observada na Vila Bom Jesus, com assalariamento de, pelo menos, um integrante da família e redução das atividades agropecuárias.

- Vilas ao Sul da Floresta Nacional de Carajás: passam por um processo de esvaziamento e realocação dos moradores. É o caso da Vila Mozartinópolis, que está sendo desmobilizada, acarretando num esvaziamento populacional e suspensão das atividades produtivas, em função da instalação do Projeto S11D, da Vale, o maior projeto de minério de ferro implantado no Brasil. Já no Assentamento Sol Nascente, a população é estável e mantém as atividades agropecuárias, situação observada também em Onalício Barros, com o incremento da atividade pecuária, especialmente pecuária de leite.

- Vilas ao Leste da Floresta Nacional de Carajás: dá-se o maior incremento populacional em áreas adjacentes aos limites do perímetro urbano de Parauapebas, devido ao processo de inter-relação com a sede do município, influenciado igualmente, pelo movimento migratório pendular no sentido campo/cidade.

De uma forma geral, a tendência é o incremento populacional nas vilas no entorno da Floresta Nacional de Carajás, mesmo com a situação atual de carência de infraestrutura adequada para atender às necessidades básicas da população (ICMBIO, 2016, p. 38-39).

Com a construção de novas rodovias e ferrovias criou-se uma rede de comunicação que se constituiu num

Marabá(1913)

Parauapebas(1988)

Água Azul do Norte(1991)

Canaã dos Carajás(1991)

Eldorado dos Carajás(1991)

Curionópolis(1988)

Divisão territorial dos municípios que compõem a microrregião de Parauapebas (Scientia, 2016).

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importante elo para conectar o Sudeste Paraense às demais regiões do País. Principalmente a partir da década de 1990, as cidades da microrregião de Parauapebas e do seu entorno passaram a funcionar como lugares de passagem para a população rural migrante até seu deslocamento definitivo dentro da região. Todos esses municípios, cada qual a sua maneira, passaram a abrigar uma concentração maior de pessoas, mercadorias, transportes e serviços. Este movimento encontra nas sedes urbanas o ponto principal para a sua realização, sendo Parauapebas um centro de procura imediato.

As duas principais cidades, Canaã dos Carajás e Parauapebas, possuem uma população predominantemente urbana, com domicílios rurais representando 22,41% e 9,86%, respectivamente, segundo o Censo Demográfico de 2010. Nessas cidades, a infraestrutura é precária no que tange ao abastecimento de água (geralmente água de poço) e ao tratamento de esgoto (predominância de fossas negras).

O município de Canaã dos Carajás tem na mineração a grande força motriz da sua economia. Após a implantação em seu território, em 2002, de uma grande mina de cobre – Mineração Serra do Sossego, da companhia Vale –, com investimento superior a R$ 1 bilhão, seu crescimento econômico proporcionou uma intensa urbanização e o aumento do contingente populacional. Em apenas quinze anos, o município obteve uma taxa de crescimento populacional próxima a 200%, gerando uma maior demanda por serviços sociais e por equipamentos urbanos gerais, como serviços de saúde, educação, abastecimento de água, energia elétrica, transporte, entre outros.

Vista geral de Canaã dos Carajás.Foto: Rafael Araújo.

Tabela 2. Evolução populacional.

Ano Água Azul do Norte Canaã dos Carajás Curionópolis Eldorado dos Carajás Parauapebas

1991 - - 38.672 - 53.335

1996 20.536 - 23.715 17.061 73.831

2000 22.084 10.922 19.486 29.608 71.568

2007 28.658 23.757 17.769 28.554 133.298

2010 25.057 26.716 18.288 31.786 153.908

2017* 26.682 36.027 17.453 32.892 202.356

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). (*): População estimada.

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Apesar do exponencial crescimento de Canaã dos Carajás, o município polo regional continua sendo Parauapebas, onde são produzidos aproximadamente 26% do Produto Interno Bruto (PIB) paraense.

A cidade de Parauapebas evoluiu a partir de uma pequena vila criada durante a implantação de um projeto para a extração de ferro no vale do rio homônimo. A notícia da mineração na área provocou um intenso deslocamento de pessoas para a região, fazendo com que a sua população se tornasse composta, majoritariamente, por migrantes, sendo que os maranhenses representam um de cada três moradores. A variedade de situações proporcionou a formação de uma população diversificada, composta por personagens das mais diversas origens, indígenas, paraenses, estrangeiros e migrantes de todas as regiões do país, compondo uma comunidade heterogênea capaz de estabelecer estratégias para vencer as dificuldades de fixar-se ou de transitar num território em constante transformação, vencendo as tensões, os conflitos, as desigualdades e os confrontos de perspectivas de vida e visões de mundo entre grupos e interesses tão distintos.

Hospital Municipal.Foto: Rafael Araújo.

Paisagem na qual foi inserido o Ramal Ferroviário S11D.Foto: Rafael Araújo.

Estação de Tratamento de Esgotos (ETE); construção com apoio da Vale.Foto: Ricardo Teles.

Jovens na biblioteca da Escola Municipal Carmelo Mendes Silva; construção com apoio da Vale.

Foto: Rafael Araújo.

Imagens cedidas pela Vale

Tabela 3. Composição da população município de Parauapebas por região de origem.

Lugar de nascimentoAno

2000 2010 2013

Região Norte 31.177 72.873 84.305

Região Nordeste 32.665 67.906 78.588

Região Sudeste 3.313 5.296 6.125

Região Sul 482 790 908

Região Centro-oeste 3.914 5.657 6.534

Brasil – Sem especificação 8 1.295 0

País estrangeiro 9 92 122

Fonte: IBGE apud Souza, 2014, p. 66.

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Uma situação privilegiada ocorre no Núcleo Urbano de Carajás, inicialmente chamado de Vila N5. Criado a partir de 1984 para abrigar empregados e familiares da Vale e de empresas relacionadas a ela e a órgãos públicos, compreende estruturas residenciais e administrativas, bem como estruturas de apoio, relacionadas à educação e saúde, lazer e cultura, além de hospedagem. Estima-se que, em 2008, o Núcleo Urbano abrigava 3% da população de Parauapebas. Atualmente, o núcleo ocupa uma área de 380 hectares, isolada por uma cerca de arame de 7 quilômetros de extensão e 4 metros de altura, a fim de garantir a segurança dos residentes. O núcleo é dotado de infraestrutura urbana, como abastecimento de água, tratamento de esgoto, coleta de lixo e fornecimento de energia elétrica, bem como os respectivos sistemas de controle ambiental (ICMBIO, 2016, p. 44).

Grandes empreendimentos costumam ocasionar um rápido crescimento demográfico no território onde se instalam, pois proporcionam uma maior oferta de empregos. Esse aumento populacional também produz o surgimento de novos núcleos urbanos, rodovias, ferrovia e outras obras de maior envergadura.

Vista geral de Parauapebas.Foto: Rafael Araújo, cedida pela Vale.

Aspectos dos trabalhos de preservação mantidos no Parque Zoobotânico de Carajás.À esquerda, paisagem. À direita, espécies em risco de extinção.

Fotos: Salviano Machado, cedidas pela Vale.

Centro Mulheres de Barro de Exposição e Educação Patrimonial da Serra dos Carajás – Cooperativa de Artesãos

da Região de Carajás, com sede em Parauapebas.Foto: Lídice Oliveira, cedida pela Vale.

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Em Carajás, natureza e tecnologia dividem o mesmo cenário, sendo necessário um forte comprometimento social e ambiental por parte de entidades públicas e privadas. As atividades mineiras e industriais na região de Carajás nos permitem refletir sobre as interações dos seres humanos com o meio ambiente, a criação de uma nova paisagem, em permanente mutação, e cuidados com a preservação ambiental.

A diversidade de locais de origem dos habitantes fundadores dos municípios, aliada à continuidade dos processos migratórios na atualidade, contribui para que outros aspectos culturais da região sejam tão diversificados, como, por exemplo, a culinária. O tacacá – um dos representantes máximos da culinária típica da Amazônia, herança dos povos indígenas e símbolo da identidade cultural paraense, registrado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como patrimônio cultural imaterial – é servido ao lado de pratos típicos do cerrado, como a galinhada com pequi ou à cabidela. O prato mais apreciado, no entanto, parece ser o churrasco, provavelmente por esta ser uma região em que a pecuária possui bastante destaque e a carne é mais acessível (LIMA, 2003, p. 19).

A música sertaneja, as cavalgadas e as exposições agropecuárias também são elementos bastante presentes, bem como as manifestações socioculturais relacionadas às igrejas católicas e evangélicas. Algumas das principais festas da região estão associadas à religião, como as festas de Folia de Reis, de Nossa Senhora da Imaculada Conceição e as festas juninas (LIMA, 2003, p. 19). Eventos como a Marcha para Jesus, organizada pelo Conselho de Ministros Evangélicos de Parauapebas, acontecem em espaços públicos como a Praça do Mercado Municipal da cidade e costumam atrair um número cada vez maior de participantes. Em Canaã dos Carajás, celebra-se o Dia do Evangélico em 30 de Novembro, dia considerado feriado municipal.

Outro importante meio de sociabilidade são os jogos de futebol, tanto nos campos de várzea, quanto em torno dos campeonatos organizados (amadores e profissionais). Na região de Carajás, existem equipes que participam de copas regionais de futebol amador, como a Copa Sul Pará de Seleções, além da organização de ligas esportivas de futebol amador de campo e futebol society. Um dos grandes expoentes da prática do esporte na região é o Parauapebas Futebol Clube, fundado como clube amador em 1989 e profissionalizado em 2009, atualmente disputando as principais divisões do campeonato profissional do estado. Em 2010, o clube sagrou-se campeão da segunda divisão do campeonato paraense e, em 2015, chegou a ser semifinalista da divisão principal da competição.

Quem circula hoje por cidades como Parauapebas e Canaã dos Carajás percebe uma sociedade em constante movimento, em construção permanente, acumulando as marcas do tempo e da história feita pelos diversos atores que por lá circularam e por aqueles que continuam a habitá-la. Conhecer os processos de formação dos municípios da região, seus variados bens culturais e seu patrimônio é uma forma de reconhecer a existência de múltiplas culturas e identidades, reivindicando o direito à diferença e à alteridade, estabelecendo diálogos e interações com tradições e referências culturais diversas, dos indígenas aos coletores de castanha, dos colonos aos garimpeiros, dos movimentos sociais aos grandes empreendimentos.

2 O Ramal Ferroviário S11D é empreendimento Vale. As pesquisas arqueológicas ao longo desse ramal ferroviário foram realizadas sob o título “Arqueologia preventiva na área de influência do Ramal Ferroviário Sudeste do Pará.

Aspectos do Ramal Ferroviário S11D2 que interliga a área do projeto de mineração Ferro Carajás S11D (Canaã dos Carajás) à Estrada de Ferro Carajás (Parauapebas).

Fotos: Salviano Machado, cedidas pela Vale.

Como se configurou essa realidade? O PASSADO RECENTE em Carajás

Capítulo 2

Nos primeiros séculos da colonização na Amazônia, as populações nativas enfrentaram os colonizadores europeus – espanhóis, ingleses, flamengos, franceses e, também, portugueses, estes últimos de forma dominante a partir do século 17 (1601-1700). Representantes das nações indígenas e dos países europeus participaram do processo violento de conquista comum ao Brasil Colônia. Abrandados os choques iniciais, a população indígena diminuíra drasticamente; parte dos sobreviventes encontrava-se submetida à dominação dos colonos, enquanto outros grupos aborígenes permaneceram isolados ou insistindo na resistência aos colonizadores.

Nesse mesmo período, alguns tradicionais elementos naturais característicos da região – entre eles as madeiras nobres; as famosas drogas do sertão; os couros e as peles de animais; um pouco de ouro –, também se tornaram valiosos recursos econômicos cuja exploração, conduzida por representantes civis, militares, religiosos da Metrópole Portuguesa, tinha seus resultados dirigidos para a Coroa, comerciantes e a elite colonial regional.

Por volta de 1830, isto é, oito anos após a Independência do Brasil, eram pouco mais de 80 mil os habitantes da Província do Grão-Pará1, sem incluir a população indígena não-aldeada2. Para cada 100 pessoas havia uma proporção de 60 “brancos” e 40 escravos – entre estes os indígenas, os negros e os mestiços ou tapuios (PREZIA; HOORNAERT, 2000, p. 173). A vida cotidiana da maioria da população era marcada pela penúria. Ao lado do extrativismo, principalmente relacionado à exploração das drogas do sertão, a economia regional baseava-se numa agricultura rudimentar e, tal como acontecera no período colonial e como permaneceria ainda por muito tempo, privilegiava produção de gêneros e de matérias-primas para atender ao mercado externo. Acrescentava-se a essas condições um grande isolamento da região amazônica, tanto em relação ao governo central do Império, no Rio de Janeiro, quanto às populações das outras regiões brasileiras.

A economia brasileira dos períodos Imperial e Republicano permaneceu voltada para a exportação o que, como se sabe, em geral conduz à concentração da renda em mãos de poucos, à baixa oferta de trabalho e de oportunidades para a maior parte da população, ao alto custo ambiental. Numa perspectiva internacional, até meados do século 20 (1901-2000) predominou esse contexto de subdesenvolvimento econômico do Brasil, ao mesmo tempo em que no país consolidavam-se esforços para tentar superar essa condição. Na região amazônica não foi diferente.

No Sudeste Paraense, desde finais do século 19 (1801-1900), algumas forças econômicas e sociais atuaram especialmente vinculadas à exploração do látex e às tradicionais coletas de castanha-do-pará e de outros produtos sazonais, todos voltados para exportação. Sucessivas ondas migratórias originárias da região Nordeste, sobretudo nos períodos de grandes secas, ampliaram a população regional.

1 A Província do Grão-Pará ocupava, até 1850, cerca de 1/3 do atual território brasileiro. Abrangia, aproximadamente a área compreendida entre o Maranhão e a fronteira com o Peru, entre as Guianas e Goiás e Mato Grosso. Em 1850, foi desmembrado o território para criação da Província do Amazonas.

2 Em relação aos locais de assentamento indígena no Brasil existiu diferença entre o termo “aldeia”, referente ao aglomerado indígena espontâneo, e o termo “aldeamento”, que significa o aglomerado indígena criado e administrado pelos colonizadores (PETRONE, 1995). Essa diferenciação foi real até início do século 19, quando os aldeamentos indígenas foram oficialmente extintos.

Como se configurou essa realidade? O PASSADO RECENTE em Carajás

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Foi em meados do século 20 que essas forças se desenvolveram, ganharam vigor e originaram a atual configuração da região Sudeste do Pará. A descoberta de inúmeras jazidas de minérios de alta qualidade e de uso crescente em países industrializados tornou sua exploração em grande escala o principal foco econômico da região. Paralelamente, interesses econômicos variados foram favorecidos pela consolidação de ações governamentais e projetos desenvolvimentistas. Às populações tradicionais juntaram-se outras, diversas, que para lá convergiram numa intensa movimentação envolvendo muitos conflitos. A região tornou-se um dos polos da economia nacional, chamando a atenção de todo o país e do mundo.

Como se configurou essa realidade?

Recursos naturais, recursos econômicos

A Serra dos Carajás localiza-se na região centro-sul do estado do Pará e se estende por aproximadamente 355 quilômetros em partes dos territórios municipais de Marabá, Canaã dos Carajás, Curionópolis, Parauapebas e São Félix do Xingu. Essa serrania constitui o divisor de águas entre duas importantes redes hidrográficas: a leste, a Bacia do Tocantins, representada pelas sub-bacias dos rios Parauapebas, Vermelho e Itacaiúnas; a oeste, a Bacia do Amazonas, que inclui a sub-bacia do rio Fresco e a bacia do rio Xingu.

O conhecimento dos recursos naturais da região de Carajás pelas sociedades humanas que lá viveram e a aplicação desses recursos à vida cotidiana desses grupos vêm sendo revelados desde o início da colonização europeia. Na atualidade, pode-se conhecer tanto os registros dos cronistas e viajantes europeus a respeito do profundo conhecimento de populações indígenas, quanto os resultados das pesquisas de estudiosos de diversas áreas – História Natural, Botânica, Zoologia, Geologia, Geomorfologia, Geografia, Climatologia, Antropologia, História, Arqueologia e outras.

Quais fatos esses relatos e estudos evidenciam?

Como já mencionado no capítulo 1, primeiramente a região conta com abundância de cursos d’água: o rio Parauapebas é o principal contribuinte do rio Itacaiúnas, este tributário do rio Tocantins. Na área de Carajás, as nascentes dos principais rios situam-se nas encostas das serras (Serra Norte e Serra Sul), dentro dos limites da Floresta Nacional de Carajás; no interior da área florestada, grande parte das drenagens corre em vales encaixados. Em seus percursos, tanto o rio Itacaiúnas quanto o rio Parauapebas são navegáveis por pequenos barcos nos trechos entre as corredeiras e as pequenas cachoeiras.

À esquerda, vista do rio Tocantins tomada da cidade

de Marabá. À direita, imagem do rio Itacaiúnas a partir

da balsa em Marabá. Fotos provavelmente da década de

1950.Arquivo IBGE, reprodução autorizada.

Como se configurou essa realidade? O PASSADO RECENTE em Carajás

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Em termos de relevo, a área de Carajás pertence à porção de terras altas da Amazônia, com presença de picos e serras onde ocorrem cavidades naturais; e ainda colinas, morrotes e platôs. Variados tipos de solos ocorrem, alguns deles propícios às atividades humanas de subsistência.

Num tipo de clima equatorial superúmido predominam florestas nos vales e encostas, nas quais vive uma fauna característica. Mas existem também áreas não florestadas, geralmente nos cimos dos morros ricos em minério de ferro, onde clareiras exibem, na superfície, uma couraça ferruginosa, a canga, na qual cresce vegetação específica de savanas e vivem animais típicos de cerrado.

Tomando-se a região como um todo, e como já mencionado no capítulo 1, hoje restam apenas fragmentos das formações originais, que foram destruídas ou muito modificadas pelas formas de uso adotadas pelos grupos humanos ao longo do tempo. No passado, a diversificada vegetação incluía formações florestais com imensa e importante diversidade de árvores – algumas de até 50 metros de altura, outras mais baixas, com características de sub-bosque –, o que significa variedade de tipos de madeira, incluindo as nobres ou de lei, além das espécies produtoras de resinas, de látex, de óleos e de gorduras; incluía, também, variedade de plantas com propriedades medicinais e odoríferas, e centenas de espécies produtoras de frutos comestíveis.

Entre Parauapebas e Canaã dos Carajás, o rio Parauapebas, os morrotes, as serras florestadas.Fotos acervo Scientia.

Hoje, algumas espécies vegetais isoladas – como castanheira, angelim, angico, gonçalo-alves, sapucaia – são ainda encontradas em ‘ilhas’ em meio a cenários nos quais predominam pastagens, reflorestamento e culturas agrícolas, e ainda vegetação secundária.

Essesexemplares remanescentes testemunham a imponência e a diversidade originais de floresta.

Gonçalo-alves.Foto: Jorge Vallmitjana(http://bit.ly/2k3Uuve).

Sapucaia.Foto: Alex Popovkin

(http://bit.ly/2kpAeoy).

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A fauna associada a essa vegetação era igualmente bastante variada.

A hidrografia, o relevo, o clima, a vegetação e a fauna de Carajás atuam sobre uma base rochosa geologicamente muito antiga, que contém os principais depósitos da província mineral de Carajás, uma das maiores e mais diversificadas em escala mundial.

As pesquisas geológicas na região de Carajás se intensificaram a partir da década de 1960. Por quê? O breve texto, a seguir, mostra como essa questão vincula-se à posição da economia brasileira no contexto econômico internacional da época, à atuação da Companhia Vale do Rio Doce e à criação da empresa Vale.

Imagens mais antigas da região apresentam permanência de formações florestadas diversificadas e de grande porte às margens de estradas – como demonstram as fotos do Arquivo IBGE (reprodução autorizada).

À esquerda, trecho da Rodovia PA-70 em Marabá; autor desconhecido. Trata-se provavelmente de imagem do final da década de 1960; a PA-70 foi inaugurada em 1969 e ligou a área de Marabá à Rodovia Belém-Brasília. Ao centro e à direita: aspectos de estrada não identificada que, de Marabá, demanda o interior. As imagens são de 1960.

Fotos de Tibor Jablonsky e Mauricio Coelho Vieira.

A revelação da província mineral de Carajás: pequeno histórico1.

O conhecimento geológico da Amazônia brasileira ocorreu em várias etapas.

Entre 1865 e o início do século 20, a maioria dos estudos geológicos pioneiros na Amazônia foi liderada por pesquisadores estrangeiros – Louis Agassiz e Charles Frederick Hart, financiados por magnatas norte-americanos; Karl Friedrich Katzer cujas pesquisas forneceram os primeiros exemplares de minerais, rochas e fósseis para o acervo das Ciências da Terra no Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG). Do início aos meados do século 20, as pesquisas foram realizadas por cientistas de instituições governamentais: o Museu Emílio Goeldi; o Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil (SGMB, criado em 1907); o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM, fundado em 1933); o Conselho Nacional do Petróleo (CNP, instituído em 1938); a Petrobras (fundada em 1953); a Superintendência do Plano de Valorização da Amazônia (SPVEA, criada em 1953) e sua substituta, a Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM, criada em 1966).

Na década de 1960, os minérios necessários às grandes indústrias mundiais eram, em grande medida, explorados na África, muitas vezes em áreas ainda submetidas ao sistema colonial e, naquela época, envolvidas em guerras pela independência – o que ameaçava o suprimento de bens minerais para os Estados Unidos e Europa. As atenções de algumas grandes indústrias multinacionais baseadas nos Estados Unidos voltaram-se para o Brasil onde, por meio de empresas subsidiárias, patrocinaram prospecções minerais na Amazônia, sobretudo no sul do Pará: foram, por exemplo, a CODIM, subsidiária da Union Carbide; a Companhia Meridional de Mineração – CMM, subsidiária da United States Steel. A exploração mineral é atividade estratégica para qualquer país; assim, participaram dessas pesquisas instituições e empresas governamentais brasileiras: DNPM; Rio Doce Geologia e Mineração S.A. (DOCEGEO, a partir da Companhia Vale do Rio Doce, CVRD2 ); o Museu Goeldi e o Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental do Pará (IDESP). Todos os pesquisadores enfrentavam severas condições de trabalho devido às dificuldades de acesso, de transporte, de equipamentos, de alimentação para áreas ainda bastante desconhecidas.

Nos anos 1970, essas pesquisas passaram a contar com mais recursos financeiros, a fazer uso rotineiro de helicópteros e de pequenos aviões, de imagens de satélites, do levantamento radarmétrico da Amazônia (Projeto

1 De acordo com Santos, 1986b: 294-361; Teixeira e Lindenmayer, 2006.

2 A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) foi, inicialmente, empresa de economia mista administrada pelo Governo Federal; a DOCEGEO foi uma de suas subsidiárias. A CVRD foi privatizada em 1997, dando origem à Vale.

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RADAM), ou seja, passaram a usar ferramentas eficazes para o levantamento mais rápido de informações, a elaboração de mapas geológicos e o desvelamento de jazidas minerais. Pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA) e da Universidade de São Paulo (USP) frequentemente integraram as equipes de pesquisa. Não se deve esquecer de que alguns filões minerais foram descobertos por garimpeiros, casualmente.

Os resultados dessas pesquisas, resumidos a seguir, revelaram grande riqueza mineral.

Ano Área pesquisada / Minério identificado / Pesquisadores / Instituição ou empresa responsável.

1922 Reconhecimento da região dos rios Xingu e Fresco. Geólogo Avelino Ignacio de Oliveira. SGMB/DNPM.

1933 Reconhecimento da região do rio Itacaiúnas. Engenheiro Luiz Flores de Moraes Rego. SGMB.

1954-66 Pesquisas no Projeto Araguaia. DNPM e Prospec.

1966Prospecção de carvão na região do rio Fresco. Pesquisadores do IDESP/MPEG.Descoberta de manganês no Sereno, próximo a Marabá. Geólogos da CODIM (subsidiária da Union Carbide).

1967

Exploração de manganês/CMM (subsidiária da United States Steel).Potencial de minério de ferro/CMM (U.S. Steel). Geólogo Breno A. dos Santos e piloto José M. de Aguiar.Levantamento aeromagnético e reconhecimentos das clareiras com canga hematítica. Identificação de manganês em Buritama (CMM/U.S. Steel). Geólogos B. Santos; G. Tolbert; J. Ritter, E. de Almeida, engenheiro F. S. Lobato.Requisição da U.S. Steel de 160.000 hectares para pesquisa, abrangendo Serra Norte, Serra Sul, Serra Leste e São Félix do Xingu.

1968Participação da CVRD e do DNPM nas pesquisas: Serras Norte e Sul. Geólogos J. E. Machado e J. M. Albuquerque. Reconhecimento preliminar na Serra Leste, de São Félix do Xingu. Geólogos Breno dos Santos, Peter Rideg, João Ritter, Marcos A. Gomes.

1970Criação da Amazônia Mineração S.A. (AMZA) (51% CVRD; 49% U.S. Steel).Descoberta de cassiterita no local Velho Guilherme (IDESP/grupo PROMIX); de cassiterita em Mocambo (grupo PROMIX).

1971 Descoberta de manganês no Azul (AMZA/CVRD); de cromita em Quatipuru (DOCEGEO/CVRD).

1973 Descoberta de minério de níquel em Onça Puma (Grupo INCO).

1974 Descoberta de cassiterita em Antônio Vicente (DOCEGEO/CVRD); de níquel no Vermelho (AMZA/CVRD); de minério de cobre no Bahia (DOCEGEO/CVRD); de bauxita metalúrgica em N5 (AMZA/CVRD).

1976 Descoberta de minério de cobre no Pojuca (AMZA/CVRD); de ouro na serra das Andorinhas (DOCEGEO/CVRD).

1977 Descoberta de minério de cobre no Salobo (DOCEGEO/CVRD).

1978 Descoberta de ouro no rio Branco (garimpeiros).

1980 Descoberta de ouro em Serra Pelada (garimpeiros); de ouro em Cumaru (garimpeiros); de wolframita em Pedra Preta, Bom Jardim e em Cachoeirinha (garimpeiros).

1982 Descoberta de cromita em Luanga (DOCEGEO/CVRD).

Em 1967, o geólogo Breno Augusto dos Santos, a serviço da CMM S.A., identificou clareiras de piso com canga hematítica, sobre o qual se desenvolvia vegetação arbustiva – locais com grande potencial para minério de ferro: o ferro de Carajás estava descoberto. Para evitar que o controle de exploração do minério ficasse unicamente com empresa multinacional, a estatal CVRD foi convocada pelo governo brasileiro a participar do empreendimento. Em 1970, foi criada a Amazônia Mineração S.A. (AMZA), com 51% do capital pertencentes à CVRD e 49% à U.S. Steel. Essa sociedade se desfez em 1977, mediante pagamento de indenização de US$ 50 milhões à sócia estadunidense, pelos investimentos realizados. No ano seguinte, a CVRD iniciou as obras do Projeto Ferro Carajás: a usina hidrelétrica de Tucuruí, a implantação de minas, a construção da Estrada de Ferro Carajás, com 892 quilômetros, para transporte de minério até o Porto de Ponta da Madeira, em São Luís (MA). Ao mesmo tempo, intensificavam-se pesquisas, as quais identificaram importantes jazidas de outros minerais na mesma província geológica. Revelado, esse potencial provocou, em 1980, a criação do Projeto Grande Carajás3 , com objetivo de promover a exploração dos recursos minerais de modo integrado a empreendimentos florestais, agropecuários e industriais.

Assim, a história da Companhia Vale do Rio Doce/Vale esteve intimamente ligada ao conhecimento geológico da região de Carajás e, também, à intensa ocupação humana que ali se desenvolveu.

3 O Programa Grande Carajás, iniciado em 1982, foi um conjunto integrado de projetos para exploração dos recursos da província mineralógica de Carajás, para expansão agropecuária e para extração florestal.

A empresa Vale tem uma história importante no contexto da história econômica brasileira e, mais especificamente, na área de Carajás.

Para saber mais, consulte: http://www.vale.com/brasil/

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Primeiramente, os produtos do reino vegetal.

Em meio às plantas alimentícias, impressiona, até hoje, a diversidade de frutos – taperebá, piquiá, bacuri, uxi, sapucaia, jutaí, ingá, açaí, muriti, inajá, jenipapo, pitomba, abiu, cupuaçu, cacau, castanha-do-pará e tantos outros. Já os produtos agrícolas mais procurados até o século 19 foram arroz, algodão, tabaco e café.

As madeiras nobres eram muito apreciadas no exterior para produção de portas, janelas e revestimentos, fabrico de móveis finos e de instrumentos musicais; para construção de edifícios e embarcações. Igualmente valorizadas foram outras árvores cujos troncos, cascas, folhas ou flores permitem extração de gomas, de corantes e de essências com múltiplas aplicações nas manufaturas e indústrias, como, por exemplo, o óleo destilado do pau-rosa, matéria-prima importante ainda hoje no fabrico de perfumes de famosas marcas europeias e estadunidenses.

As famosas drogas do sertão, pela sua diversidade, foram os principais produtos exportados pelos portos de São Luís e de Belém desde o período colonial. Entre elas incluíam-se aquelas de uso doméstico, quer dizer, para tempero e conservação de alimentos, como a canela, a pimenta e o cravo. Outras, com propriedades medicinais, antissépticas, efeitos estimulantes ou calmantes, características aromáticas, balsâmicas, resinosas e oleaginosas, foram muito procuradas para aplicação em boticas farmacêuticas e nas manufaturas europeias de perfumaria e cosmética: o guaraná, a ipecacuanha, a japecanga, o bálsamo da sapucaia, o cumaru, a copaíba e centenas mais. Em meio às drogas incluíam-se, ainda, espécies com propriedades corantes, empregadas nas manufaturas de vernizes e tintas, e de tecidos: anil para a cor azul; tatajuba e folhas de ananás para o amarelo; frutos de jenipapo para a cor preta; o pau-brasil, o macucu, o urucu e o carajuru para obtenção da cor vermelha.

Látex e resinas diversas se tornaram ingredientes importantes para manufaturas de remédios e cosméticos. Já os látex extraídos tanto do caucho quanto da seringueira passaram a ser utilizados como componente básico na indústria de objetos de borracha, mais desenvolvida a partir de meados do século 19.

Em todo o mundo, ao longo do tempo, os recursos naturais de cada região foram sendo explorados pelas sociedades humanas que nelas se estabeleceram. E assim foram se tornando recursos econômicos.

A partir da conquista europeia, no século 16, e até meados do século 20, na economia da Amazônia teve papel primordial o extrativismo de produtos de origem vegetal e animal muito valorizados nos mercados europeus. A busca de metais e de pedras preciosos também foi constante nesse período, mas praticamente infrutífera.

Quais foram esses produtos amazônicos tão importantes para a subsistência das populações locais, alguns deles tão procurados pelo mercado internacional?

Açaí.Foto: Lüdenscheidt

(http://bit.ly/2ka3h1b)

Sapucaia.Foto: Nando Cunha

(http://bit.ly/2jLhVbL)

Ipecacuanha.Plantas Medicinais de Köhler

(http://bit.ly/2k3Utau)

Babaçu.Foto: Suzy

(http://bit.ly/2jLt5wV)

Urucu.Foto:Leonardo Ré-Jorge(http://bit.ly/2kZQxLY)

Salsaparrilha.Foto: Hectonichus

(http://bit.ly/O4HoxD)

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A importância das drogas do sertão se manteve (e se mantém), principalmente na Europa. Bastante conhecidas pelos povos indígenas, muitas plantas foram pesquisadas e descritas por estudiosos europeus em obras que divulgaram ainda mais suas qualidades e propriedades. Parte significativa dessas plantas figurava nos livros de medicina e de farmacologia editados naquele continente durante o século 19, geralmente com belas e atraentes ilustrações, utilizadas até hoje por estudiosos de botânica. Admire essa beleza nas imagens a seguir, espécimes vegetais encontrados na Amazônia.

Na região de Carajás, tanto as populações estabelecidas no período anterior à conquista do Brasil pelos europeus3, bem como as populações indígenas que as sucederam, aprenderam a conhecer e a explorar, para

3 Período pré-colonial. A esse respeito, veja os interessantes detalhes apresentados nos capítulos 4 e 5.

Com menor valor na pauta das exportações figuravam alguns produtos de origem animal. Couros de veados eram valorizados para confecção de luvas e carteiras; peles de lontra e de grandes felinos transformavam-se em agasalhos, acessórios de inverno e itens de decoração. A gordura da tartaruga era largamente usada em cosméticos. Cascos de tartaruga, chifres e ossos de outros animais eram transformados em objetos industrializados ou artesanais.

Anil Cânfora Guaraná

Veado-campeiro.Foto: Bart van Dorp

(http://bit.ly/2kpB6K5)

Lontra.Foto: Bernard Landgraf(http://bit.ly/2kabdzd)

A obra Plantas Medicinais de Köhler (Köhler’s Medizinal-Pflanzen) é um guia ilustrado das 300 plantas medicinais mais utilizadas na Europa, originárias de vários continentes. Foi publicada em 1887, na Alemanha, em três volumes.

O médico e farmacologista Hermann Adolph Köhler iniciou o trabalho que, após sua morte, foi complementado por Gustav Pabst e publicado por Franz Eugen Köhler.

Franz Eugen Köhler, Köhler’s Medizinal-Pflanzen - List of Koehler Images (http://bit.ly/2katc8T)

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sua subsistência e utilização, os recursos disponíveis nos ambientes que compõem a região. Nos períodos Colonial, Imperial e no início do Republicano, em relação ao mercado externo, além de alguns produtos de origem animal, alguns elementos vegetais destacaram-se como produtos comerciais de procura constante: o látex do caucho e da seringueira, o óleo de babaçu, o óleo de copaíba, a castanha-do-pará.

Embora hoje as castanheiras sobrevivam isoladas em meio a áreas de pastagem e de agricultura, é possível imaginar o esplendor dos castanhais, as características do relevo e da fauna regionais por meio das descrições registradas por viajantes e estudiosos que percorreram a região Sudeste do Pará, anteriormente a essa

A castanheira é espécie vegetal de grande porte – atinge entre 35 e 50 metros de altura e o diâmetro do tronco pode chegar a 3 metros; cada ouriço contém entre 15 e 24 sementes. Encontra-se em agrupamentos quase sempre extensos, em ambientes com clima quente e úmido, terras altas e solo firme, e ocorre em várias áreas da Amazônia. No Pará, as maiores regiões produtoras foram a área do rio Trombetas e a dos rios Itacaiúnas/Tocantins. Apesar de o tronco da castanheira ser empregado como madeira, o produto importante para o comércio eram (e são) as sementes comestíveis mundialmente conhecidas pelo sabor atraente e propriedades

energéticas. Regionalmente, a castanha era utilizada pelas populações indígenas como alimento de coleta sazonal; os colonos empregavam-na como alimento de animais domésticos. A coleta e comercialização da castanha-do-pará fora atividade importante em toda a história regional, mas ganhou relevância e se transformou na principal atividade econômica do Pará entre o início e meado do século 20, isto é, entre o período do declínio da coleta do látex e do advento da mineração em escala industrial. O caráter predatório da exploração extrativa mais a crescente importância da pecuária e, finalmente, da exploração mineral, praticamente destruíram os castanhais.

Castanheira.Foto: Nando Cunha

(http://bit.ly/2k41sQT)

Castanheiras derrubadas. Ao fundo, floresta sendo desmatada.

Foto: Ana Cotta (http://bit.ly/2kpEODp)

Forte presença da pecuária ajudou a definir a derrubada das árvores nativas e a formação de pastos.Fotos: Acervo Scientia.

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transformação ambiental. Destacam-se os relatos realizados por Henri Coudreau, que retrataram a região entre os rios Tocantins, Itacaiúnas e Parauapebas entre 1896 e 1897.

Em menor escala que a castanha, outros produtos vegetais existentes no Sudeste Paraense interessaram ao comércio exterior: cacau, látex de caucho e óleo de copaíba.

Henri Anatole Coudreau (1859, França – 1899, Brasil), professor de História e Geografia na França, transferiu-se para Caiena (Guiana Francesa) onde continuou a exercer o magistério. Nos períodos de férias fazia pesquisas e levantamentos na região, os resultados foram registrados em relatos. Reconhecido seu valor como pesquisador, foi encarregado de levantamentos oficiais pelo governo francês (1877 a 1889). Depois, para o governo paraense, efetuou diversas pesquisas: nos vales dos rios Tapajós (Viagem ao Tapajós, 1895/1896), Xingu (Viagem ao Xingu, 1896) e Tocantins (Viagem ao Tocantins-Araguaia, 1896-1897). Em 1897, foi contratado para percorrer, mapear, levantar flora, fauna e habitantes da região que interessa a esta pesquisa: de Itaboca, no rio Tocantins, e do vale do rio Itacaiúnas.

Nessas longas viagens contava com guias indígenas e caboclos, e delas quase sempre participava sua mulher, Octavie Coudreau; dormiam em barracas e se alimentavam da caça e da pesca. Seus relatórios minuciosos constituem fonte importante para o conhecimento da Amazônia no final do século 19: vegetação, rios, relevo, descrição das espécies botânicas; identificação de populações indígenas e descrição de suas línguas, atividades e costumes; localização de populações caboclas e suas atividades – dados acompanhados por mapas e minuciosos desenhos.

O relato Viagem à Itaboca e ao Itacaiúnas, publicado em 1898, descreve o roteiro pelos rios Tocantins, Itacaiúnas e Parauapebas realizado em três tipos de embarcações: uma igarité ou canoa grande, que comporta mastro, logo substituída por uma ubá – escavada num tronco de samaúma nas proximidades da Cachoeira Grande do Itacaiúnas – e, nos trechos menos profundos dos rios e onde ocorriam ‘secos’, em montarias ou canoas pequenas e leves adequadas à navegação em águas pouco profundas.

No rio Itacaiúnas, o cientista registrou a presença de botos e tartarugas. Já no rio Parauapebas, notou suas águas mais escuras e frias que as do Itacaiúnas e que pareciam provir de uma região de montanhas, abrigando profusão de jacarés, de até 3 metros de comprimento, e de arraias; nas margens, quantidades de mutuns e de antas. Foi digna de nota por Coudreau, ao longo de todo o percurso, a existência de variadas espécies vegetais e, principalmente, de grandes bosques de castanheiros, cuja extensão e esplendor observou repetidas vezes. Atentou, igualmente, para o relevo movimentado próximo do rio Parauapebas, numa alternância de terras baixas e de terras altas, estas caracterizadas por morrotes cobertos por gigantescas castanheiras cujas copas sobressaíam por entre árvores e bambus de altura menor (COUDREAU, 1980, p. 55; 63-72).

Henri Coudreau (http://bit.ly/2jLg5ro)

Octavie Coudreau(http://bit.ly/2jLg5ro)

Fragmento do mapa elaborado à mão por Coudreau. Trecho do rio Itacaiúnas, suas ihas, rápidos e corredeiras. (http://bit.ly/2l565tS)

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O fruto do cacaueiro foi e permanece largamente utilizado e apreciado na Europa e nos Estados Unidos para consumo

como bebida quente; as sementes do cacau são matéria-prima básica para produção de chocolate e de manteiga.

Do caucho, árvore nativa cuja altura pode atingir 35 metros, os frutos vermelhos e doces são comestíveis; a madeira pode ser utilizada na

produção de pasta para fabrico de papel; as sementes oleaginosas têm aplicação industrial; o látex, também denominado caucho, possuía menor valor comercial que o da seringueira porque sua coagulação é mais lenta;

ainda assim, foi matéria-prima empregada na produção industrial de borracha.

A palmeira babaçu, que atinge até 20 metros de altura, também comporta múltiplos usos. Os troncos, como madeira de construção. As

folhas, para alimento de animais, armação e cobertura de moradias, manufatura de cestos, abanos, peneiras, esteiras, cercas, janelas, armadilhas, gaiolas. Os frutos, em cachos, possuem polpa oleosa

envolvendo quatro sementes – essas, sendo os produtos de maior valor comercial, empregados em indústrias cosméticas. Das palmeiras jovens

aproveita-se o palmito como alimento; da seiva produz-se vinho bastante apreciado. O leite extraído das amêndoas verdes, de alto valor nutritivo, tem uso corrente na culinária regional. A casca do coco é transformada

em carvão combustível e em vários derivados.

A copaíba ou copaibeira – cuja altura atinge até 35 metros e cujo tronco pode chegar a 1,5 metro de diâmetro – permite

usos múltiplos. A madeira, para construção civil. O óleo extraído do tronco é um dos mais preciosos da Amazônia: possui importante ação medicamentosa como antibiótico

e anti-inflamatório; é utilizado como combustível para iluminação e seu emprego industrial tem amplo espectro:

fixador na fabricação de vernizes, perfumes, tintas e na revelação de fotografias; componente de cosméticos. As cascas, transformadas em tisanas, têm efeito medicinal.

Cacau.Foto: Claus Bunks

(http://bit.ly/2jLhcXT)

Látex de caucho.Foto: Axel Boldt

(http://bit.ly/2k4170p)

Palmeira Babaçu.Foto: Carlos Silva

(http://bit.ly/2kAyGu6)

Copaíba(http://bit.ly/2l5fxO8)

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Caçadores caboclos especializaram-se na obtenção de peles de onças e de gatos maracajá, valorizados principalmente na Europa onde eram transformados em agasalhos e golas, chapéus, regalos (cilindros, em geral de pele, para aquecimento das mãos), tapetes e objetos decorativos; a demanda comercial transformou a caça a esses animais em atividade regular. Cascos de tracajás e tartarugas tinham também procura para manufatura de objetos de adorno de luxo, como fivelas e bijuteria, pequenas caixas; a gordura da tartaruga tem propriedades hidratantes e era procurada pelas manufaturas cosméticas. Chifres e ossos de veados e de outros animais tinham emprego no fabrico de botões, engastes em caixas e em castões de bengalas, armações de óculos e outros objetos. A caça a esses animais silvestres para atender à demanda externa contribuiu para a drástica diminuição das espécies.

A partir de meados do século 20, esse contexto regional, no qual a população esparsa praticava predominantemente o extrativismo vegetal voltado para a exportação, sofreu modificações consideráveis. O meio ambiente, igualmente, recebeu alterações importantes. Como se verificará nas páginas seguintes, em cerca de trinta anos, na região estabeleceram-se inúmeros projetos desenvolvimentistas com incentivos governamentais; além das populações tradicionais passaram a estabelecer-se na região de Carajás numerosos contingentes de migrantes; desmembramentos territoriais originaram novos municípios; a mineração em grande escala destinada ao mercado externo tornou-se a principal atividade econômica.

Populações tradicionais. Migrações recentes.

Na época da descoberta do minério de ferro [1967], a região localizada entre os rios Xingu e Tocantins constituía uma imensa reserva de floresta úmida equatorial, onde sazonalmente ingressavam os ‘castanheiros’, coletores de castanha-do-pará e os ‘gateiros’, caçadores de peles de onça e gato maracajá, que comercializavam seus produtos nas cidades de Marabá e Altamira. Apenas duas pequenas aldeias de índios Caiapó existiam dentro daquela vasta região: a dos Xikrin, localizada entre os rios Itacaiúnas e Cateté e a dos Gorotire, à margem direita do Rio Fresco.

A possibilidade de acesso oferecida pelas estradas que conduziam às novas jazidas começou a atrair um sem-número de pessoas de fora do Estado, entre estas garimpeiros, pecuaristas, agricultores e madeireiros. Assim como em outras partes do mundo, o ônus ambiental devido à ocupação desordenada tem sido muito elevado. A partir de 1970 a região (...) vem sofrendo com o deslocamento constante desses contingentes (...). Surpreendente é que o grande empreendimento mineiro da Serra dos Carajás seja o único a garantir a sobrevivência de uma parte da floresta, sob proteção de Lei Federal, dentro de suas áreas de proteção ambiental. (...). (GUERREIRO, 2006).

Populações Tradicionais

Os indígenas que hoje habitam o interflúvio entre o rio Xingu e o rio Tocantins são, como outros da Amazônia, remanescentes da imensa diversidade das outrora populosas sociedades autóctones da região. Eles integram o conjunto das populações tradicionais, juntamente com os caboclos, os descendentes de escravos e de migrantes pobres atraídos por diversas frentes de ocupação até as primeiras décadas do século 20, aproximadamente. Todos esses grupos conhecem a floresta, o cerrado, os rios e deles dependem para sua sobrevivência.

Gato maracajá.Foto: Malene Thyssen(http://bit.ly/2k4kmXS)

Onça-pintada.Foto: Bart van Dorp

(http://bit.ly/2k9Xx7m)

Tartaruga da Amazônia.Foto: Whaldener Endo(http://bit.ly/2l4Tc3c)

Como se configurou essa realidade? O PASSADO RECENTE em Carajás

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Populações indígenas.

Nos últimos séculos, a ocupação humana na mesorregião Sudeste do Pará, em especial da microrregião de Parauapebas, está relacionada às populações indígenas que por lá circularam e habitaram. A própria nomenclatura utilizada para se designar o principal município da microrregião remete às suas origens indígenas: Parauapebas significa “rio de águas claras”.

Para se contar a história das populações indígenas que viveram na região no passado mais recente, ou seja, nos últimos séculos, é muito comum se utilizar relatos deixados por padres e viajantes que circularam por este território, descrevendo os seus encontros com inúmeras etnias indígenas nas proximidades de grandes rios como o Tocantins, o Araguaia e o Xingu entre os séculos 16 e 18.

Além destes relatos, há também uma série de mitos, histórias, lendas com ensinamentos que foram transmitidos entre os indígenas de geração em geração e que permanecem na cultura destas populações ainda hoje, nos permitindo conhecer um pouco do seu passado. Embora algumas lendas sejam específicas de cada tribo, o contato dos povos indígenas com comunidades próximas possibilitou também que algumas destas lendas fossem absorvidas por outros grupos, compondo a cultura regional. Narrar as histórias ocorridas com suas tribos gerava a certeza de um pertencimento ao universo em que se vivia. Como, para os índios, a floresta é o seu mundo e habitat, a maioria destas crenças era baseada na observação da natureza e os índios procuravam explicar o que observavam através destas lendas, para compreender e dar sentido aos fatos e eventos da vida.

Ao contrário do que se pode pensar, não havia um grupo único de indígenas que viviam na região, mas diversos grupos, com suas aproximações e distinções culturais, circulando pelo território, ora em harmonia, ora em conflito. Essa variedade abrange povos diferentes entre si do ponto de vista social, cultural e mesmo linguístico. No Estado do Pará destacam-se basicamente três troncos linguísticos: Karib, relacionado aos povos ao norte do rio Amazonas, com exceção dos Arara; Tupi, cujos povos podem ser divididos basicamente em famílias linguísticas Tupi-Guarani, ou simplesmente Tupi; e, Macro-Jê, cuja maioria dos povos filia-se à família linguística Jê.

Veja um antigo mito que alude à divisão entre os indígenas do grupo Jê.

Segundo as informações encontradas nos relatos de portugueses do século 19 e nos mitos indígenas que sobreviveram na memória de tribos atuais, vários grupos Jê habitavam a região entre os rios Araguaia e Tocantins, sendo grande parte deles identificados como grupos Timbira orientais, Apinayé e Kayapó. Nas regiões próximas às margens do rio Tocantins viviam grupos Tupi-guarani que sobreviveram ao período das missões4 , como os Jundiís e Anambé, conforme foi registrado pelo etnólogo alemão Curt Nimuendajú – que, embora sem formação universitária, deixou um legado inestimável de informações e imagens a respeito dos indígenas do Brasil, em meio aos quais viveu por quarenta anos, registrando suas histórias e costumes.

4 O mesmo que aldeamentos indígenas, de acordo com a nota de rodapé 2 deste capítulo.

Nascido Curt Enckel, em Jena (Alemanha), em 17/4/1883, faleceu em Santa Rita (AM) em 10/12/1945. Trabalhava numa fábrica de lentes, na Alemanha, quando, em 1903, Nimuendajú mudou-se para o Brasil, vivendo inicialmente em São Paulo (SP) e, a partir de 1913, em Belém, capital do estado do Pará (IBGE, 1981).

As reproduções das duas imagens que retratam Nimuendajú em trabalhos de campo, na primeira metade do século 20, foram gentilmente cedidas para esta publicação pelo Centro de Documentação de Línguas Indígenas (CELIN) do Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Mito das espigas de milho

Segundo um antigo mito indígena, os ancestrais dos índios do grupo Jê viviam juntos como um só grupo na área entre os rios Araguaia e Tocantins. Certo dia, eles descobriram uma grande árvore nas margens do Tocantins, da qual nasciam espigas de milho. Os indígenas derrubaram a árvore para obter o milho para o

cultivo, mas à medida que recolhiam as sementes, começaram a falar línguas diferentes e se separaram em diversos e distintos grupos Jê (TURNER, 1992, p. 313).

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Em 1944, Nimuendajú elaborou um mapa etno-histórico do Brasil no qual, a partir de um levantamento exaustivo das fontes secundárias existentes, buscou indicar as populações indígenas registradas em todo o território brasileiro (IBGE, 1981).

Esses grupos migraram rumo ao Sudoeste Paraense, atravessando o rio Araguaia, a partir da chegada dos não indígenas na região, que vieram em busca de novas terras que pudessem ser usadas para a expansão agropastoril. A pressão territorial feita pelos não indígenas veio associada a confrontos bélicos, aprisionamentos, escravização e por epidemias que acarretaram um alto grau de mortalidade indígena.

Fugindo dos apresamentos e das guerras, os Apinayé se instalaram na região de Pau D’Arco, possivelmente no início do século 19. Um grupo ancestral dos Xikrin migrou rumo ao norte, para os rios Parauapebas e Itacaiúnas, já no final do século 19. Os Apinayé se dividiram em vários grupos Kayapó, como os Gorotire e Kararaô. Os Pore-Kru também se dividiram, resultando nos Kokorekré, que permaneceram nas imediações do rio Parauapebas; e, dos Put-Karot, que rumaram para o Cateté. Por sua vez, os Kokorekré se dividiram, dando origem aos Djoré. Os Put-Karot, após um tempo no Cateté rumaram para o Bacajá, para se unirem aos Kokorekré. Em seguida, parte deste grupo decidiu retornar para o Cateté. Os remanescentes no Bacajá são os Xikrin do Bacajá, enquanto os dissidentes são os Xikrin do Cateté (CRUZ; PANACHUK, 2014, p. 38-39).

Neste processo, um grupo Kayapó conhecido como Gradaús permaneceu ocupando o cerrado entre o Tocantins e o Araguaia, fazendo contato com religiosos que buscavam catequizar índios, formando uma missão numa aldeia próxima a Conceição do Araguaia. Este grupo estava sendo atacado por um grupo de índios Xikrin Kayapó e Karajá reunidos, que tinham tentado capturar suas crianças. Como os conflitos entre os indígenas continuavam a aumentar, os Gradaús, que chamavam a si mesmo de “Irã´a Mrayre” (“os que viajam em terreno limpo”), cruzaram o rio Araguaia em direção ao oeste, estabelecendo-se entre os rios Arraias e Pau D’Arco (TURNER, 1992, p. 314).

Tribos indígenas na área da microrregião de Parauapebas por ocasião do primeiro contato com o conquistador. Percebe-se a presença de variados grupos de língua Jê e grupos de língua Tupi-guarani.

(Fonte: IBGE, 1981)

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Por sua vez, quando os grupos distintos de Kayapó meridionais (ou seja, aqueles que habitavam uma ampla região do norte do Mato Grosso até as cabeceiras do Xingu) rumaram para oeste, eles foram expulsando os grupos indígenas adversários que encontraram pelo caminho, embora também tenham realizado alianças. Por exemplo, há relatos que apontam para uma aliança entre os Kayapó e os Bakairi para expulsarem os Suyá da região do rio Verde em direção ao Alto Xingu (TURNER, 1992, p. 313).

Quando os primeiros colonizadores, ou seja, os não-indígenas, se estabeleceram na foz do rio Itacaiúnas, por volta de 1895, no atual território da cidade de Marabá, viviam nas vizinhanças da Serra dos Carajás índios das tribos Carajás-mirins e Carajás-pacus (SILVA et al, 1996, p. 18). Os colonizadores invadiram os territórios da floresta à procura de produtos extrativistas que pudessem ser comercializados, especialmente o caucho e a castanha. Essa invasão a territórios tradicionais indígenas ocasionou vários conflitos violentos que foram tornando-se mais intensos através do tempo. No relato do viajante Henri Coudreau sobre sua passagem pela região do Itacaiúnas, é possível perceber como o contato entre indígenas e não-indígenas foi se intensificando a partir do final do século 19, embora continuasse carregado de uma aura de mistério e estranhamento.

“(...) parece-nos incontestável a existência de uma tribo indígena na zona que se estende entre as barras do Itacaiúnas e do Fresco. A fumaça que vi elevando-se dos campos do baixo Rio Fresco, os vestígios da passagem

Angélica, índia Kayapó retratada por Hercule Florence, também autor do registro anotado:

Índia Kayapó moradora em Camapuã desde a idade de 12/14 anos, seu nome na aldeia original era Potété-insi

A imagem original está conservada na Bibliothèque Nationale de France, em Paris.

Hercule Florence nasceu em 1804, em Nice (França). Hábil desenhista, pintor e escritor, com idade de 20 anos desembarcou

no Rio de Janeiro, onde trabalhou numa livraria e tipografia.

Por meio de um anúncio, ficou sabendo que uma expedição científica recrutava desenhistas para documentar a viagem.

Foi assim que Florence passou a percorrer o interior do Brasil integrando a segunda parte da missão científica russa organizada

pelo médico Georg Langsdorff, que realizou um grande levantamento de dados geográficos e etnográficos no país entre

1825 e 1829. Florence registrou em textos e desenhos informações sobre as paisagens, as construções, os hábitos e o cotidiano dos habitantes das florestas por onde passou. A sua produção é um

testemunho importante da situação dos grupos indígenas nas primeiras décadas do século 19 no Brasil. É também considerado o

pioneiro da fotografia no Brasil.

Autorretrato de Hercule Florence, por volta de 1840. Fotografia de original depositado no Centro de Memória da Unicamp

(Campinas). Fundo Arnaldo Machado Florence, Instituto Hercule Florence (São Paulo).

As reproduções das duas imagens foram gentilmente cedidas para esta publicação pelo Instituto Hercule Florence (IHF), de São Paulo.

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de índios na região do Morro Vermelho, as súbitas aparições de indígenas desconhecidos no Igarapé do Bacuri e no lugar denominado Prata, na margem esquerda do Tocantins, pouco acima da embocadura do Itacaiúnas, todos esses fatos reunidos atestam a existência de uma tribo na região indicada. (...) Há uns cinco ou seis anos, a jusante de Prata, num lugar denominado Arara, apareceram de repente cerca de 40 índios desconhecidos, entre homens, mulheres e crianças. Por meio de sinais, deram a entender que estavam viajando há uma grande quantidade de dormidas, e que provinham de uma região de campos. No ano seguinte, esses mesmos índios reapareceram por lá, já mais familiarizados com os locais. Avistando alguns bois, disseram que às vezes encontravam alguns animais daqueles vagando em seus campos. Conjecturou-se que tais índios fossem provenientes das regiões das cabeceiras do Apinajé, ou ainda mais longe, uma vez que, nos anos anteriores, alguns bois de pequenos fazendeiros estabelecidos à margem daquele curso de água haviam desaparecido e nunca mais tinham sido encontrados. Por ocasião dessa segunda viagem, os misteriosos indígenas pareciam estar fatigados e doentes, sendo que alguns ostentavam cicatrizes que indicavam ferimentos recentes. Deviam estar saindo da guerra, não como vencedores, mas antes batendo em retirada. Depois disso, nunca mais foram avistados”. (COUDREAU, 1980, p. 73).

Na virada do século 19 para o 20, aumentou o número de migrantes não-indígenas para o trabalho nos castanhais da região de Marabá. Estes migrantes eram, sobretudo, maranhenses fugindo das condições de extrema pobreza do Maranhão e nordestinos evadindo-se do Ceará e do Piauí devido ao agravamento da seca. Esses trabalhadores, por meio do rio Itacaiúnas, seguiam em caravanas e montavam acampamentos dentro da floresta, acirrando os conflitos entre índios e “brancos” (como eram chamados os colonos, não-indígenas) na disputa em torno da apropriação e domínio do território e de seus recursos (SOUZA, 2014, p. 60-61).

Visando os lucros proporcionados pela economia extrativista, os “brancos” queriam tomar posse das terras ocupadas pelos grupos indígenas, que resistiam com violência à tomada de seu território. Por sua vez, os “brancos” organizavam “expedições punitivas”, visando exterminar ou expulsar os indígenas, além das tentativas de transformar índios em trabalhadores extrativistas. Outra consequência dessas tensões foi a difusão da ideia de que os índios eram uma ameaça ao desenvolvimento econômico regional, reproduzindo antigos estereótipos sobre os indígenas, identificados como “caboclos” sujos, traiçoeiros, perversos e ladrões (LARAIA; DA MATTA, 1967, p. 61-68).

Missões religiosas e o Serviço de Proteção ao Índio (SPI, antecessor da atual FUNAI) atuaram num processo de “pacificação” dos indígenas até a década de 1960. No entanto, até que a paz fosse selada entre índios e “brancos”, os grupos indígenas, em especial os Kayapó, viveram décadas num padrão de hostilidade crescente em relação aos “brancos” e aos outros grupos indígenas. Essa intensificação das inimizades acabou exacerbando as tensões dentro da própria tribo, de modo que, até a “pacificação”, houve contínuas fragmentações de outrora grandes comunidades indígenas em pequenas comunidades mutualmente hostis (TURNER, 1992, p. 328).

No atual território da microrregião de Parauapebas existe uma Terra Indígena (TI) homologada pelo Governo Federal: a TI Xikrin do Rio Cateté, abrangendo um território de 439.151 hectares entre os municípios de Água Azul do Norte, Parauapebas e Marabá, habitada por índios Kayapó Xikrin. O Artigo 231 da Constituição Federal de 1988, § 1º, define que as terras tradicionalmente ocupadas pelos indígenas são destinadas à sua posse permanente e exclusiva:

Art. 231 - São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.

§1º - São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários ao seu bem-estar e as necessárias à sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.

§2º - As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes.

A intenção do Governo Federal ao criar uma Terra Indígena é a de tutelar, ou proteger, o direito dos índios à terra, e garantir que as culturas indígenas, consideradas como patrimônio histórico e cultural do Brasil, sejam preservadas, reconhecendo aos índios a posse dos territórios por eles originalmente e efetivamente habitados. A função social de uma TI é a de proporcionar aos grupos indígenas um espaço e a proteção necessária para o desenvolvimento e a preservação de suas culturas, valores e história.

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Veja agora algumas informações importantes a respeito do grupo Kayapó Xikrin.

Entre 1962 e 1963, o pesquisador Protásio Frikel estudou a situação cultural contemporânea dos Xikrin do Alto Cateté-Itacaiúnas, realizando também pesquisas arqueológicas na região da embocadura do rio Cateté.

O material coletado por Frikel, seus estudos escritos e imagens foram por ele entregues ao Museu Paraense Emílio Goeldi e integram o acervo desta instituição.

A Terra Indígena Xikrin do Cateté possui 439.150,5 hectares, faz parte do município de Parauapebas, tendo pequenas frações adentrando aos municípios de Marabá e Ourilândia do Norte. Em 1974, começaram os estudos para definição dos limites da Terra Indígena, que foi delimitada em 1978, demarcada em 1981 e homologada em 24 de dezembro de 1991.

TI Xikrin do Rio Cateté:Localização: Território entre os municípios de Água Azul do Norte, Parauapebas e Marabá.

Área: 439.151 hectares.

População: 1.056 (FUNASA, 2010).

Grupo indígena: Xikrin (Kayapó).

Status: Regularizada, ou seja, após o decreto de sua homologação, a TI foi registrada em Cartório em nome da União e na Secretaria do Patrimônio da União.

Modalidade: Tradicionalmente ocupada, ou seja, são as terras indígenas de que trata o Artigo 231 da Constituição Federal de 1988, direito originário dos povos indígenas, cujo processo de demarcação é disciplinado pelo Decreto nº 1775/96.

Protásio Frikel – Nasceu em Breslau (Polônia), no dia 24/3/1912 e recebeu o nome de Günther Frikel. Na ordem dos franciscanos deram-lhe, mais tarde, o nome de Protásio. Após concluir os estudos fundamentais na Europa, mudou-se para o Brasil, em 1931, onde estudou Teologia, Filosofia, Sociologia, Psicologia e História, especializando-se em Etnologia Brasileira. Após a sua ordenação, no ano de 1938, foi investido no Baixo Amazonas como sacerdote e manteve-se ligado ao Departamento de Antropologia do Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém do Pará, realizando pesquisas arqueológicas e etnológicas na Amazônia.

Dados e imagem disponíveis em http://www.iai.spk-berlin.de/fileadmin/dokumentenbibliothek/Indiana/Indiana_3/IND_03_Frikel.pdf

Grupo: Kayapó Xikrin.

Outras denominações: Todos os grupos Kayapó autodenominam-se Mebengokré, mas cada grupo possui um nome próprio de algum líder ou localização de aldeia. Os Xikrin costumavam denominar-se Put Karôt, tendo o nome Xikrin surgido do modo como um outro grupo Kayapó, os Irã-ã-mray-re, hoje extintos, o denominavam.

Localização: Atualmente, possuem o seu território localizado entre a Serra de Carajás e a Serra da Seringa; e, entre os rios Itacaiúnas a leste e o rio Cateté e seus tributários da margem esquerda a oeste.

Registro inicial no Sudeste Paraense: A partir do século XVIII.

Língua: Família linguística Jê, tronco linguístico Macro-Jê.

Assentamento: Aldeias perto de rio ou igarapé, mas em terreno seco. O espaço social constitui-se de uma praça central, com um círculo de casas ao redor. Na mata circundante produzem pequenas roças circulares. No centro da aldeia é construída uma Casa dos Homens, espaço masculino, político, jurídico e ritual.

Subsistência: Agricultura (mandioca, batata-doce, banana, milho); caça; pesca; coleta (castanha, cocos, açaí, bacaba, taperebá etc.).

Instrumentos: Instrumentos musicais, artesanatos, bordunas, arcos e flechas.

Adornos: Pintura corporal, ornamentos corporais; adornos plumários.(Fontes: TURNER, 1992; SOCIO AMBIENTAL, 2016; CEDI, 1985).

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Nas últimas duas décadas, os dados demográficos demonstram que os Xikrin têm tido crescimento populacional constante: em 1985, eram 304 indivíduos na área Cateté, número que subiu para 989, em 2008, segundo dados da Funasa/Polo Marabá. Alguns fatores ajudam a compreender esse crescimento, entre eles o grande número de nascimentos, o número reduzido de morte de adultos, a redução da mortalidade infantil e a assistência médica do órgão oficial indigenista. Cabe ressaltar, que a população das aldeias oscila bastante, pois há migrações temporárias (visitas, rituais) ou permanentes, em pequena proporção, entre uma aldeia e outra (ICMBIO, 2016, p. 40).

Uma das atividades realizadas pelos Xikrin no interior da Terra Indígena e também em áreas da Floresta Nacional de Carajás é a coleta anual da castanha-do-pará, comercializada na região de Marabá com o auxílio da FUNAI, que lhes fornece ferramentas como facões para a quebra do ouriço onde se encontram as castanhas, redes, mosquiteiros, roupas, além de cuidar do transporte e da venda, retornando aos índios o lucro. No período da coleta, algumas famílias Xikrin se deslocam de suas aldeias tradicionais vivendo em acampamentos provisórios por cerca de três meses até o término da coleta da castanha. Embora as castanheiras tenham grande distribuição na região, os grandes castanhais estão localizados nas margens dos rios Cateté e Itacaiúnas denominados: Seco, Seco II, Jatobá, Quatro Barracas, Coco, Rocinha, Lagoa, Sumaúma, Bepkaroti e Pé de Cobra. Na margem direita do rio Aquiri, próximo à confluência com o Itacaiúnas, há também um grande castanhal denominado Piü Prodjô (ICMBIO, 2016, p. 41).

Um dos desafios por que passam os indígenas atualmente, é manter suas tradições e não descaracterizar o seu estilo de vida diante da modernidade e das novas atividades e infraestrutura com que eles se defrontam nas aldeias e em seu entorno. Há aldeias com residências construídas de alvenaria, há o acesso a ferramentas de aço para o trabalho nas roças, rifles e munições para a caça, anzóis, tarrafas e “malhadeiras” para pescarias. Os índios já possuem colchões, cobertores e agasalhos, água encanada, além de eletrodomésticos, bens de consumo do lar, gerador de energia elétrica e motor a diesel. Todo esse equipamento proporciona-lhes algum conforto, mas também gera demanda de produtos e serviços industrializados, que exige intenso relacionamento com mercados urbanos locais e crescente uso de moeda (ICMBIO, 2016: 41-42).

O desenho de Greyce Oliveira Guerra (Acervo Scientia) retrata indígenas Xikrin à beira do rio Cateté. Foi inspirado em foto de Protásio Frikel (CEDI, 1985, p. 126), quando de sua chegada à aldeia, em 1962.

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Populações caboclas: castanheiros, seringueiros, quebradeiras de coco babaçu, garimpeiros e pequenos produtores rurais.

Assim como os povos indígenas, as populações caboclas integram o conjunto das populações tradicionais amazônicas. Atualmente, pouco utilizada, a palavra ‘caboclo’ sustentou diferentes significados e a ela foram atribuídas duas possíveis origens, ambas derivadas de palavras em língua tupi: a primeira seria uma derivação de caa-boc, que quer dizer “o que vem da floresta”; a segunda propõe derivação de kari’boka, que significa “filho do homem branco”. Na Amazônia, ‘caboclo’ foi inicialmente usado como sinônimo de ‘tapuio’, termo utilizado por indígenas quando se referiam a indivíduos de outros grupos, configurando desprezo. Em tupi, a palavra ‘tapuio’ significa o hostil, o inimigo, o escravo. No período colonial, o termo foi usado pelos colonos para designar os indígenas e trazia as mesmas conotações de desprezo, desconsideração, que tinha quando usado entre os índios: a expressão ‘tapuio brabo’ designava o indígena não aculturado, não submetido, e a expressão ‘tapuio manso’ referia-se ao indígena aculturado, submetido (LIMA, 2009, p. 9-10).

Historicamente, a categoria social ‘caboclo’ incluiu, além dos indígenas destribalizados (tapuios), os descendentes de escravos (negros e, principalmente, indígenas, uma vez que foi pequena a entrada de escravos negros na região amazônica) e os migrantes pobres atraídos à Amazônia desde o século 19, por diversas frentes de ocupação. Desse modo, do ponto de vista das relações sociais, o termo ‘caboclo’ identifica pessoa de posição social inferior, de origem mestiça e proveniente do meio rural.

Em termos econômicos, políticos e culturais, os caboclos são pequenos produtores familiares da Amazônia, profundos conhecedores dos rios e da floresta, da exploração de cujos recursos dependem para sobrevivência; além desse conhecimento, os hábitos alimentares e os padrões de moradia distinguem os caboclos dos pequenos produtores e de migrantes chegados mais recentemente (ALLI, SAUAYA, 2006; LIMA, 1999). Pesquisadores, desenhistas e pintores retrataram os caboclos em suas lides diárias. Algumas das imagens mais conhecidas, por seus detalhes e sua beleza, são de autoria do desenhista Percy Lau.

No final do século 19, em seu livro ‘Viagem à Itaboca e ao Itacaiúnas’ (Coudreau, 1980), Henri Coudreau retratou seus guias locais, caboclos, em diversas atividades integradas ao cotidiano amazônico: a condução das embarcações, a caça, a pesca, a derrubada de uma gigantesca sumaumeira para fabricar ubá, isto é, tipo de canoa escavada no tronco e que permitiria navegação em trechos mais rasos dos rios, e assim por diante.

O desenhista Percy Lau (1903, Arequipa, Peru – 1972, Rio de Janeiro) pertencia à família peruana emigrada para o Brasil em 1921. Após estudos em Pernambuco e no Rio de Janeiro, Lau trabalhou durante trinta anos como ilustrador de livros publicados pelo Conselho Nacional de Geografia (CNG), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e por diversas editoras; além disso, destacou-se como desenhista, gravador e pintor premiado. Em sua obra, registrou detalhadamente a natureza e os habitantes do Brasil, geralmente em desenhos feitos com tinta nanquim, a bico de pena, como as representações da população cabocla em diversas atividades de subsistência, aproximadamente nas décadas de 1940 e 1950.

As imagens de Lau têm sua reprodução proibida, mas é possível (e vale a pena) conhecê-las nos sites: https://archive.org/stream/aspectos1956br#page/4/mode/2up; http://desenhandoobrasil.blogspot.com.br/; https://blogaquareladobrasil.wordpress.com/ilustradores/classicos/percy-lau/; http://lanopires.blogspot.com.br/2011/04/o-bico-de-pena-magico-de-percy-lau.html.

Derrubada de uma sumaúmaPor Henri Coudreau.

(http://bit.ly/2kxn3EI)

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O mesmo pesquisador, surpreendido, relatou o estado de penúria em que viviam cotidianamente famílias caboclas ou recém-chegadas à região dos rios Itacaiúnas/Parauapebas, arranchadas precariamente na área de exploração do caucho e da castanha nativos:

(...) são tão pouco presas a esse chão que nem mesmo constroem, para seu abrigo, a tradicional barraquinha que se observa por todo lado à beira dos outros rios. Um mero telheiro de folhas de palmeira, de cerca de 2 metros de comprimento, da altura de uma pessoa sentada (...) vivem famílias debaixo desses lamentáveis abrigos; pequenas aglomerações humanas cujos membros estendem suas redes ao rés do chão, sob a meia-dúzia de folhas de palmeira que constituem o teto agreste, a apenas 1 metro de suas cabeças.

Dentre esses “habitantes” do Itacaiúnas (...) ausência de qualquer rudimento de cultura em nada parece indicar uma fixação definitiva. A exploração dessa borracha especial do Itacaiúnas [caucho] ainda se encontra numa fase incipiente de ensaios, não há como negar; mas pelo que se pode observar, parece existir uma enorme dúvida em relação ao seu sucesso (COUDREAU, 1980, p. 55).

O abastecimento dessas pessoas que viviam em áreas distantes e isoladas se fazia pelo comércio de pequena escala, característico do interior amazônico: por mascates ou regatões, tanto viajando por terra, quanto utilizando pequenos barcos; assim levavam a ribeirinhos e a povoados do interior sal, chapéus, roupas e utensílios, produtos manufaturados existentes na capital e em áreas mais povoadas. O pagamento poderia ser em dinheiro ou por troca dos produtos extrativistas.

O termo ‘caboclo’ foi genericamente utilizado para designar os moradores tradicionais não-indígenas da região amazônica, independentemente de sua atividade econômica: extração do látex, coleta da castanha, garimpo, quebra de coco babaçu, pesca, caça e outras. Após o declínio do látex de seringa como produto brasileiro de exportação, na década de 1920, a atividade extrativista voltou-se principalmente para a castanha-do-pará, o óleo de copaíba e o pequeno garimpo.

A região entre o Médio e o Baixo rio Tocantins mais seus afluentes, constitui via de comunicação natural entre o sertão nordestino, o sertão goiano e a bacia do rio Amazonas. Até a segunda metade do século 19, foi predominantemente ocupada por povos indígenas, ao mesmo tempo era local de passagem para raros representantes da sociedade colonial e imperial – missionários; comerciantes de escravos indígenas a caminho de São Luís e Belém; comerciantes de gêneros. Os extensos e exuberantes castanhais nativos localizados entre os rios Tocantins, Itacaiúnas e Parauapebas, este na Serra dos Carajás, foram sazonalmente frequentados para exploração comercial.

Na primeira metade do século 20, aos poucos, às margens desses rios principais formaram-se pequenas fazendas com criação de bovinos, produção de couros e cultura de gêneros; algumas dessas propriedades também atuaram tanto como entrepostos comerciais quanto como pousadas para viajantes; por vezes, deram origem a pequenos núcleos, como o Burgo de Itacaiúnas, colônia agrícola que mais tarde originou Marabá.

Construção de ubá a partir do tronco derrubado.Por Henri Coudreau(http://bit.ly/2kpwbsD)

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Os grupos indígenas ocupantes das margens ou das matas ciliares tinham poucas e pequenas relações com esses habitantes e viageiros. À medida que se consolidou a importância econômica da extração do látex, da copaíba e da castanha, com a busca dos produtos em regiões de mata profunda, os contatos entre indígenas e não-indígenas se intensificaram e tornaram-se, frequentemente, conflituosos (DA MATTA, LARAIA, 1978, p. 120-124).

Castanheiros

A coleta de castanha-do-pará na Amazônia foi atividade tradicional nas regiões de terras altas e solo firme nos estados do Amazonas, Amapá, Acre e Pará e, neste último, as duas maiores áreas produtoras das sementes foram a do rio Trombetas e a dos rios Tocantins-Itacaiúnas. Atividade voltada menos para o mercado interno e mais para o externo, ocorria entre os meses de dezembro e junho e constituiu a principal fonte de renda para famílias que, fora dessa estação, sobreviviam da agricultura de subsistência, da extração da seiva do caucho e da seringa, ou do pequeno garimpo. A castanha tornou-se produto mais valioso à medida que o preço da borracha despencava no mercado externo, nas primeiras décadas do século 20.

Os magníficos castanhais da região Tocantins-Itacaiúnas transformaram Marabá num centro importante de comercialização de castanha: em 1927, a produção regional suplantava a de polos extrativistas tradicionais como Alenquer e Óbidos, no Baixo Amazonas; Marabá se tornou centro de poder econômico e político do Baixo Tocantins (EMMI, 2002, p. 2). Nessa época, a produção era endereçada para a Europa (principalmente a Inglaterra) e Estados Unidos; esse país, após a Segunda Guerra Mundial, passou a predominar como comprador externo.

Aspecto do Porto de Marabá.Foto: Acervo IBGE; uso autorizado.

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Foto: Tibor Jablonsky e Lucio Costa Soares, 1953.Acervo IBGE; uso autorizado.

Embarque de castanha-do-pará em um barco na cidade de Marabá, em 1927.

Foto: Ignacio Baptista de Moura (http://bit.ly/2jLhmhU).

Embora a foto à direita apresente carregamento de castanhas no porto de Alenquer, ela caracteriza o tipo de embarcação e o modo de transporte do produto: os mesmos, na década de 1950, nas diferentes regiões produtoras paraenses.

Os grupos populacionais envolvidos na atividade extrativa abrangiam alguns membros de famílias já estabelecidas na região, geralmente atuando como comerciantes; os pequenos fazendeiros; os caboclos que atuavam como castanheiros durante as safras e, nos intervalos entre elas, ocupavam-se em outras atividades extrativas, geralmente pequenos garimpos. E, em sucessivas frentes fugitivas das secas, chegavam à região muitos migrantes, sobretudo dos estados do Piauí e do Maranhão, atraídos pelas possibilidades de trabalho.

Até os primeiros anos da década de 1920, quando os castanhais ainda se localizavam próximos à cidade de Marabá, predominou na região o sistema de exploração de castanhais livres. Cada trabalhador por si, seu abastecimento realizado a partir da cidade ou das pequenas fazendas, mas não havia produção local suficiente e a maior parte dos produtos era adquirida pelo regatão e transportada ao barracão de mercadorias instalado próximo às barracas dos castanheiros (VELHO, 2009; EMMI, 2002). Quando a exploração passou a acontecer em áreas mais interiores, o abastecimento passou a ser feito em barracões no meio da mata, o que exigia dos comerciantes recursos para abrir caminhos, comprar os gêneros e transportá-los. Alguns desses mascates, enriquecidos, dedicaram-se aos negócios de castanha e aos poucos se transformaram em grupo econômica e politicamente dominante, com controle da produção castanheira e do fornecimento de suprimentos. Muitos passaram a arrendar um castanhal ao Governo Estadual, a título provisório (durante uma safra) – situação que fortaleceu um modo de agir dependente do favor político e de retribuições sob a forma de lealdade política. Aos poucos, os arrendatários, os pecuaristas, os fazendeiros, foram também controlando os ‘castanhais do município’ ou ‘castanhais do povo’, para cuja exploração bastava uma pessoa matricular-se na prefeitura. A predominância dos grandes proprietários e grandes comerciantes no controle da produção e do comércio da castanha permaneceu durante os anos subsequentes à Revolução de 19305 e no período do Estado Novo6, quando aconteceu a regulamentação de todas as atividades extrativas no estado do Pará (VELHO, 2009, p. 52-56).

Embora a extração e comércio da castanha constituíssem a atividade econômica principal do Pará durante a primeira metade do século 20, o Governo Estadual nada realizou para organizar ou melhorar a produção, sequer melhorou os caminhos para o interior ou promoveu a construção de ranchos para os trabalhadores. A exploração manteve-se altamente predatória e as condições de trabalho, péssimas. Os castanheiros passaram a ser o último elo de uma corrente de indivíduos atuantes na extração e comercialização da castanha e os mais prejudicados: sem ranchos; sempre endividados com as compras obrigatórias de sal, açúcar, farinha, fumo, munição e querosene nos barracões e valendo-se da caça e da pesca, da própria castanha, do açaí e de outras frutas nativas para sustento; sujeitos a doenças, a trabalho debaixo das fortes chuvas, a ataques de animais, a ataques indígenas. Muitas vezes, o castanheiro era obrigado, sob ameaças, a prestar serviços ‘sujos’, como vinganças e assassinatos. As formas de resistência dos trabalhadores ao domínio dos ‘patrões’, nunca foram organizadas de modo coletivo, incluíam roubo de castanhas para venda a dono de outro castanhal, fugas,

5 A Revolução de 1930 tirou do poder central do Brasil a predominância dos estados de São Paulo e Minas Gerais; iniciou-se então um longo período de governo (1930-1945) sob a liderança de Getúlio Vargas.

6 Estado Novo: período entre 1937 e 1945, no qual o governo de Getúlio Vargas adquiriu características autoritárias.

Como se configurou essa realidade? O PASSADO RECENTE em Carajás

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enfrentamento direto com capangas (VELHO, 2009, p. 54-59; EMMI, 2002, p. 10).

A área de maior ocorrência dos castanhais na região do Tocantins e Itacaiúnas, o Polígono dos Castanhais (Marabá, São João do Araguaia e Xinguara) passou a foco de disputa entre antigos ocupantes, migrantes e posseiros. Nas décadas de 1970 e 1980, a região de Marabá, já ligada a outras regiões pelas novas estradas, passou a envolver-se, sobretudo, com as proposições do Programa Grande Carajás e a ser uma das áreas conflagradas pelas questões de propriedade da terra (EMMI, 2002, p. 6). A maior parte dos castanhais nativos fora destruída ou estava em vias de o ser.

Pequenos produtores

Muitos dos migrantes que chegaram ao Sudeste Paraense para trabalhar na coleta de látex ou da castanha se estabeleceram na região. Esse grupo populacional, somado à crescente aglomeração urbana em Marabá, formou um mercado consumidor propício à produção de alimentos. Assim, a partir da década de 1930, foi se consolidando pequena agricultura de arroz, milho, feijão, mandioca, em áreas ribeirinhas, em ilhas; essa produção voltava-se para consumo familiar e venda de alguns excedentes nas feiras e no mercado de Marabá. A criação de animais também foi se fortalecendo e, por volta dos anos 1950, alguns invernistas transformaram-se em criadores (VELHO, 2009, p. 61- 62).

Atraídos principalmente pelas políticas de assentamento incentivadas pelo Governo Federal ou fixando-se como posseiros, a partir dos anos 1960, além dos migrantes do Nordeste, chegaram ao Sudeste do Pará ondas migratórias provenientes de Goiás, Tocantins e dos estados do Sul do país. Aconteceram conflitos quase permanentes com fazendeiros, grileiros e madeireiros. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e instituições derivadas de igrejas cristãs, principalmente da Igreja Católica, procederam à organização dessas pessoas em lutas de resistência. A respeito dos conflitos pela posse de terras, apenas como exemplo, lembra-se aqui o episódio do “Massacre de Eldorado de Carajás”, em 19967 . Esses conflitos foram amenizados – porém não extintos – ao longo do tempo por intervenções e ações de órgãos governamentais, e à medida que novos empreendimentos propiciaram alternativas diversificadas de trabalho na região.

Garimpeiros

Na Amazônia, os recursos minerais têm sido explorados de duas formas.

Uma delas constitui a exploração por empresas, em grandes projetos com incentivos governamentais – em geral, esses empreendimentos se desenvolvem de acordo com a legislação de proteção ambiental, são acompanhados por órgãos governamentais e oferecem melhores condições de trabalho e de vida aos trabalhadores.

A outra forma é o garimpo, atividade tradicional que se utiliza de ferramentas manuais ou pequenas máquinas para extração de minerais e pedras preciosas, geralmente em depósitos de aluvião, vertentes de morros, margens e fundos de cursos d’água. Essas ações provocam danos ao ambiente, sobretudo com desmatamento ao longo dos rios, erosão das margens devido ao uso de dragas, assoreamento e poluição das águas por acúmulo de sedimentos e também devido à ação do mercúrio (azougue) utilizado para separar partículas de ouro em meio ao cascalho extraído. O garimpeiro tem modo de vida miserável, além de expor-se ao tempo, a doenças, ao trabalho semiescravo, ao contrabando e ao tráfico de entorpecentes.

Na região dos rios Araguaia e Tocantins, o garimpo foi atividade ocasional historicamente e, no século 20, complementar à extração de castanha. No final da década de 1930, a descoberta de diamantes na área de Marabá atraiu garimpeiros vindos do norte goiano (atualmente estado do Tocantins), bem como indivíduos que chegavam à região para atuar como castanheiros. As duas atividades eram compatíveis: a castanha era apanhada entre dezembro e maio, aproximadamente, na safra, e os diamantes eram buscados no fundo dos rios durante o verão, a partir de julho/agosto, quando as águas baixavam. Assim, nos anos 1950, nos garimpos diamantíferos da região de Marabá, trabalhava número considerável de migrantes goianos, piauienses e maranhenses.

7 Episódio de 17 de abril de 1996, que culminou com violenta repressão do governo paraense a manifestação de lavradores sem-terra. Foram feridos 66 manifestantes e 12 soldados, e mortos 19 sem-terra. Mais informações a respeito no capítulo 3 deste livro.

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A exploração de diamantes podia ser realizada individualmente, nos períodos mais secos. Mas, geralmente, exigia a organização de grupo entre 6 a 15 homens que, num barco, percorriam as áreas prováveis e, com escafandros, mergulhavam para examinar o cascalho do fundo dos rios; nesse caso, um patrão fornecia o equipamento (barco, bomba de ar, escafandro) e a alimentação, em troca de 50 a 60% dos lucros. Muitos patrões já eram arrendatários e comerciantes de castanhais. A produção de diamantes era toda negociada para fora da região produtora, e parte dela seguidamente contrabandeada. Nos mesmos padrões aconteceu na região, entre as décadas de 1940 e 1950, o garimpo de cristal de rocha, atividade estimulada pelas necessidades geradas pela Segunda Guerra Mundial8 (VELHO, 2009, p. 63-65).

Ao sul da Serra de Carajás, após divulgação da descoberta de ouro pela DOCEGEO, em 1977, vários focos de garimpo se localizaram ao longo da Rodovia PA-150, e entre os rios Araguaia e Xingu: os garimpos de Serra Pelada e de Cumaru. Nesta corrida do ouro garimpeiros afluíram à região, invadiram terras e trabalharam sem condições mínimas de segurança, além de provocarem proliferação de doenças tropicais, como malária, em áreas antes salubres (BEISIEGEL, 2006, p. 323-325).

O caráter predatório da mineração de diamantes, de cristal de rocha, também do garimpo de ouro, aliado à tecnologia rudimentar utilizada, provocaram rápido esgotamento das fontes e desespero dos trabalhadores que nada conseguiram.

Com o desenvolvimento da mineração por grandes empreendimentos, a partir da década de 1970, o garimpo, tanto de diamantes quanto de cristais de rocha (este último utilizado também na confecção de objetos para venda a turista), permanece em pequena escala e atua como alternativa de trabalho em períodos de crise.

8 Antes da produção industrial de seu sucedâneo sintético, o cristal de rocha foi material de importância estratégica no fabrico de componentes eletrônicos constituintes de sonares, transmissores de rádio, aparelhos para telegrafia e telefonia (MOTTER; ARAGÃO, 2015).

Garimpo de diamantes em Marabá, atividade importante entre as décadas

de 1930 e 1940: rudes condições de trabalho e de vida para os garimpeiros.

Foto: Acervo IBGE; uso autorizado.

Provavelmente em virtude da ampliação do comércio de produtos locais, em 1935 foi inaugurado o Aeroporto de Marabá, situado na localidade de Quindangues, à margem esquerda do rio Itacaiúnas.

Foto: Acervo IBGE; uso autorizado

Pepita de ouro proveniente de Serra Pelada.

Foto: Rob Lavinsky (http://bit.ly/2kxfhKR).

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Quebradeiras de coco babaçu

Nas áreas de ocorrência da palmeira babaçu uma fonte importante e tradicional de renda para famílias moradoras é a coleta e quebra do coco babaçu, para separar a amêndoa da casca. Como já apresentado neste capítulo, o aproveitamento da palmeira babaçu é praticamente total, embora o produto principal seja a semente, rica em óleo utilizado tanto no cotidiano doméstico quanto como matéria-prima, no âmbito das indústrias cosméticas.

As quebradeiras geralmente são provedoras de suas famílias e trabalham coletivamente, numa atividade tradicional passada entre gerações. A grande maioria dos babaçuais encontra-se em grandes fazendas, cujos proprietários proíbem a entrada das quebradeiras ou cobram pela retirada dos cocos. As dificuldades geraram movimentos regionais de resistência posteriormente agregados no Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB), que luta pelo direito de trabalho sob a forma de usufruto dos babaçuais.

Migrações Recentes

Por volta de meados do século 20, a Amazônia tornou-se um dos polos de atenção do Governo Federal devido tanto ao potencial hidrológico, mineral e madeireiro da região, potencial então ainda bastante desconhecido, quanto ao isolamento em que então a região se encontrava face às demais do País.

O conhecimento mais aprofundado dos recursos naturais e das populações humanas dependia de pesquisas sistemáticas, propiciadas pela criação de instituições de pesquisa e produção de conhecimentos científicos.

Como já mencionado neste capítulo, pesquisas geológicas para identificar riquezas minerais se realizaram na Amazônia desde o início do século 20, por profissionais vinculados a instituições governamentais – o Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil, o Departamento Nacional de Produção, o Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental do Pará, o Museu Paraense Emílio Goeldi, o Conselho Nacional do Petróleo, a Petróleo Brasileiro S.A., Companhia Vale do Rio Doce – e, a partir da década de 1960, também por profissionais contratados por subsidiárias brasileiras de empresas estadunidenses – Union Carbide, United States Steel.

Nas décadas de 1950 e 1960, o governo brasileiro incentivou as pesquisas científicas necessárias e estabeleceu uma série de programas para integração e valorização de recursos naturais, bem como para ocupação da região amazônica, como se verifica brevemente a seguir.

Períodos de governo Instituições de pesquisa. Projetos de desenvolvimento.

Governo Eurico Dutra(1946-1951)

1951: fundação do Conselho Nacional de Pesquisas (CNPQ).

Governo Getúlio Vargas (1951-1954)

1952/54: criação e implementação do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), em Manaus, ligado ao CNPQ. Vinculação temporária do Museu Paraense Emílio Goeldi (fundado em Belém, em 1866) ao CNPQ/INPA. Avanços nas pesquisas e ensino de Botânica, Zoologia, Ecologia, Antropologia, Ciências Naturais, Geologia, Arqueologia. Pesquisadores de diversas instituições, altamente especializados, participaram das políticas de desenvolvimento regional e nacional (FAULHABER, 2005).1953: criação do Plano de Valorização Econômica da Amazônia – conjunto de medidas, serviços, empreendimentos, obras e recursos para estimular o extrativismo, a agricultura, a pecuária, a mineração e a indústria da região. À Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA) coube a execução das propostas, coordenação dos projetos e distribuição de recursos.

Governo Juscelino Kubitschek de Oliveira (1956-1961)

Início de projetos de desenvolvimento com incentivos diversos; participação de capitais e de empresas nacionais e internacionais. 1959/1960: construção da Rodovia Belém-Brasília.

Quebradeiras coletando coco da palmeira babaçu.Foto: Fundraising (http://bit.ly/2ka1HvX)

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Períodos de governo Instituições de pesquisa. Projetos de desenvolvimento.

Governos militaresHumberto Castello Branco (1964-1967); Artur da Costa e Silva (1967-1969); Emílio Médici (1969-1974); Ernesto Geisel (1974-1979) e João Batista Figueiredo (1979-

1985).

Desenvolvimento de projetos de integração da Amazônia às demais regiões do país. Objetivos e justificativas: garantir a soberania brasileira e a segurança para o desenvolvimento regional; obter área para expansão de investimentos de empresas nacionais e estrangeiras; estimular migrações para a região amazônica, principalmente de moradores em áreas de conflito pela posse de terra (Nordeste e Sul); formar mercado consumidor para a produção industrial do Centro-Sul brasileiro; garantir a exploração dos recursos minerais de Carajás para aumentar as exportações e facilitar o pagamento da dívida externa brasileira.Intensificação de pesquisas geológicas e ambientais. Levantamentos aéreos de informações acerca de recursos minerais, solos, vegetação, uso da terra e sua localização, bem como dos diferentes ecossistemas, contaram com o projeto Radar da Amazônia (RADAM) a partir de 1970.Multiplicação de instituições e órgãos de planejamento, coordenação e gerenciamento de programas e das ações governamentais: substituição da SPVEA pela Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM); criação do Banco da Amazônia, da Superintendência do Desenvolvimento da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA), do Projeto de Integração Nacional (PIN), do Instituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), do Programa de Redistribuição de Terras e Estímulo à Agroindústria do Norte e Nordeste (PROTERRA), do Programa de Polos Agropecuários e Agrominerais da Amazônia (POLAMAZONIA), do GEBAM – Grupo de Terras do Baixo Amazonas e do GETAT- Grupo de Terras do Araguaia-Tocantins.

1982: início oficial do Programa Grande Carajás (PGC) no Sudeste Paraense, com gestão delegada à Companhia Vale do Rio Doce. O PGC incluiu: implantação da Estrada de Ferro Carajás para transportar minérios e passageiros entre Parauapebas (PA) e São Luís (MA); do Terminal Marítimo Ponta da Madeira, em São Luís, para exportação do minério; da Usina Hidrelétrica de Tucuruí e linhas de transmissão, para geração e transmissão de energia; criação de núcleos urbanos planejados, ao lado dos quais se formaram povoações e cidades de crescimento espontâneo, como Parauapebas e Canaã dos Carajás, Eldorado de Carajás e outras.Recursos nacionais e internacionais foram beneficiados por enormes incentivos e subsídios governamentais. A manutenção dessa burocracia e o custeio de programas geraram imensas despesas para o governo brasileiro.

O complexo de iniciativas entre meados das décadas de 1960 e 1980 transformou a paisagem e a população de várias áreas da Amazônia. Na década de 1970, milhares de investidores envolviam-se em projetos da criação de gado ao longo da via Belém-Brasília, em programas de reflorestamento, de mineração e industriais, ao mesmo tempo em que se iniciavam projetos e obras de outras grandes rodovias. Aproximadamente entre 1970 e 1985, a economia da região Norte teve crescimento anual médio de 11%, com aumento acentuado de participação nas exportações do País, sobretudo decorrentes da produção mineral. Desde a década de 1960, foi constante a atração de grandes fluxos migratórios originários das regiões Sul, Nordeste, Centro-oeste e Sudeste, principalmente para o estado do Pará, em busca de oportunidades de trabalho e de propriedade ou posse de terras. A população de algumas áreas da Amazônia cresceu em ritmo acelerado.

A partir de então, como ficou a situação das populações tradicionalmente estabelecidas na região?

À medida que avançaram os projetos, deles decorreram fortes pressões e constrangimentos em relação às populações tradicionais – ou seja, povos indígenas, pequenos produtores, posseiros, trabalhadores do extrativismo – para abandonar as terras que ocupavam. Em alguns polos regionais, um deles o sul do Pará, aumentou significativamente o volume de conflitos pela terra, envolvendo lutas armadas, repressão por forças militares, repressão por forças particulares de grandes proprietários, perseguições, ameaças, assassinatos.

É preciso lembrar de que desde os anos 1950, em vários estados brasileiros, o deslocamento de pessoas em busca de trabalho, bem como o processo de ocupação de terras novas constituíram um cenário de muita violência: violência pela posse das terras, violência entre brancos, entre brancos e índios, de empresas contra posseiros, indígenas e peões semiescravizados.

Como se configurou essa realidade? O PASSADO RECENTE em Carajás

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Na área de Carajás, por meio de órgãos governamentais, o Estado brasileiro realizou um esforço para incorporar ao mercado as terras devolutas ou ocupadas pelas populações tradicionais, assim atendendo às expectativas de pessoas que se dirigiam para a região – fazendeiros, madeireiros e até grileiros – e de empresas. A definição de direitos de propriedade da terra, de direitos de lavra, de extração madeireira, assegurou às empresas de colonização particular a possibilidade de negociar com vastas áreas legalizadas. Por outro lado, fraudes e irregularidades, no registro de imóveis favoreceram determinados grupos de pessoas ou empresas permitiram a concentração progressiva da propriedade da terra (ALMEIDA, 1986).

Migrações e ininterruptas disputas pela terra envolveram coletores de castanhas, seringueiros, garimpeiros, pequenos produtores e posseiros, cujas terras foram desapropriadas para a construção de obras públicas e a instalação de empreendimentos. Terras Indígenas, tanto as delimitadas, como o Parque Caiapó, quanto as já demarcadas, como a Reserva Xikrin do Cateté, embora protegidas em relação a projetos agropecuários e minerários, sofreram invasões de garimpeiros e foram palcos de conflitos. Ao longo de todas essas lutas ocorreram diferentes tipos de mobilização social, nos quais a violência frequentemente esteve presente (ALMEIDA, 1986). Essas manifestações foram largamente noticiadas e provocaram importantes repercussões tanto em âmbito nacional quanto internacional.

Como já apresentado no capítulo 1, a gênese dos atuais municípios integrantes da mesorregião de Parauapebas, destacando-se Parauapebas e Canaã dos Carajás, se desenvolveu em meio a esses complexos processos de transformação do meio ambiente e da ocupação humana no Sudeste Paraense. A seguir, veja breves históricos da constituição dos municípios da microrregião de Parauapebas.

Municípios Gentílico Histórico

Água Azul do Norte Água-azulenseTerritório originalmente pertencente a Marabá e, posteriormente (1988) a Parauapebas. Área ocupada a partir de 1978 por famílias de agricultores, com o início do loteamento das terras. Elevado à categoria de município em 1991.

Canaã dos Carajás Canaanense

Originado a partir do Projeto de Assentamento Carajás, implantado em 1982 pelo Grupo Executivo das Terras do Araguaia e Tocantins (GETAT), do Governo Federal, que visava atenuar os conflitos pela posse da terra na região, principalmente na área conhecida como Bico do Papagaio. Elevado à categoria de município em 1941, desmembrado de Parauapebas.

Curionópolis Curionopolense

Emancipado de Marabá em 1988, teve o seu núcleo populacional inicial surgido pela atração de pessoas que buscavam trabalho na implantação do Projeto Ferro Carajás, na construção da Estrada de Ferro Carajás – Ponta da Madeira e nos garimpos que proliferaram na região, especialmente na Serra Pelada.

Eldorado dos Carajás EldoradenseMunicípio localizado nas proximidades da Serra dos Carajás, sendo desmembrado de Curionópolis em 1991. Originário da fazenda/gleba Abaeté, que assentava colonos atraídos pela implantação do Projeto Grande Carajás e pelo advento do garimpo de Serra Pelada.

Parauapebas Parauapebense

Origem relacionada à implantação do Projeto Ferro Carajás, quando a partir de 1981, começou a ser construída a Vila de Parauapebas. A notícia do início do projeto provocou um intenso deslocamento de pessoas para a área, formando outros núcleos, como a Comunidade Rio Verde. Elevado à categoria de município em 1988, desmembrado de Marabá.Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

José de Souza Martins (1938), sociólogo e escritor, nos explica que a ocupação das novas terras se configurou como difusão da propriedade privada da terra, ideia que se chocava com as ideias e os costumes dos moradores tradicionais indígenas e não-indígenas (posseiros, seringueiros, ribeirinhos etc.), para os quais ocupar um lugar era apenas um direito de uso privado ou familiar da terra comum, não o estabelecimento de propriedade particular. Essas diversas formas de pensar a apropriação e o uso da terra, principalmente num período de aceleradas mudanças, promovem grande tensão social e atos de violência.

Martins mostrou, também, que existem tipos diferentes de reações e de resistências de grupos tradicionais aos avanços das frentes de expansão: povos indígenas podem recorrer a hostilidades e ataques a fazendas e moradias; posseiros e agricultores pobres sem títulos de propriedade, podem desocupar as áreas de conflito e deslocar-se para “terras livres” ou, então, promover lutas de resistência com a ajuda de organizações civis, políticas ou religiosas. No entanto, é comum que ao final de litígios fundiários ocorra o despejo dos ocupantes tradicionais, situação que se tornou motivo para reflexões:

No período recente, na Amazônia, a fronteira tornou-se cenário e fundamento de uma ampla revisão da consciência social da sociedade brasileira, sobre o modo de vida dos pobres, sobre o seu modo de lutar por causas que não estavam na pauta das concepções dominantes das formas ‘corretas’ e aceitáveis de reivindicação social. (MARTINS, 1998, p. 670-692).

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Municípios Gentílico Histórico

Água Azul do Norte Água-azulenseTerritório originalmente pertencente a Marabá e, posteriormente (1988) a Parauapebas. Área ocupada a partir de 1978 por famílias de agricultores, com o início do loteamento das terras. Elevado à categoria de município em 1991.

Canaã dos Carajás Canaanense

Originado a partir do Projeto de Assentamento Carajás, implantado em 1982 pelo Grupo Executivo das Terras do Araguaia e Tocantins (GETAT), do Governo Federal, que visava atenuar os conflitos pela posse da terra na região, principalmente na área conhecida como Bico do Papagaio. Elevado à categoria de município em 1941, desmembrado de Parauapebas.

Curionópolis Curionopolense

Emancipado de Marabá em 1988, teve o seu núcleo populacional inicial surgido pela atração de pessoas que buscavam trabalho na implantação do Projeto Ferro Carajás, na construção da Estrada de Ferro Carajás – Ponta da Madeira e nos garimpos que proliferaram na região, especialmente na Serra Pelada.

Eldorado dos Carajás EldoradenseMunicípio localizado nas proximidades da Serra dos Carajás, sendo desmembrado de Curionópolis em 1991. Originário da fazenda/gleba Abaeté, que assentava colonos atraídos pela implantação do Projeto Grande Carajás e pelo advento do garimpo de Serra Pelada.

Parauapebas Parauapebense

Origem relacionada à implantação do Projeto Ferro Carajás, quando a partir de 1981, começou a ser construída a Vila de Parauapebas. A notícia do início do projeto provocou um intenso deslocamento de pessoas para a área, formando outros núcleos, como a Comunidade Rio Verde. Elevado à categoria de município em 1988, desmembrado de Marabá.Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Além da farta documentação escrita e iconográfica existente, a memória dessa fase da história da região amazônica e do Brasil encontra-se nas cicatrizes e nos remanescentes protegidos da paisagem. Ela se encontra, igualmente, nas populações tradicionais e nos novos núcleos humanos desde então estabelecidos: nos modos de falar, de cozinhar, de construir; nas histórias pessoais e familiares; na memória dos moradores mais antigos; em fotos, filmes, objetos, edifícios.

Todos esses bens naturais e culturais formam um patrimônio que é preciso conhecer, valorizar e preservar.

Tacacá servido em sua cuia.Foto: Foreade (http://bit.ly/2lEnhut).

Trecho do Ramal Ferroviário S11D na área de Canaã dos Carajás.

Foto: Salviano Machado, cedida pela Vale.

Operação AmazôniaFoto: Ministério da Defesa

(http://bit.ly/2k9Znp0)

Agricultor.Foto: Claudio Talesman(http://bit.ly/2kZYQY6).

Indígenas.Foto: José Hilton

(http://bit.ly/2jGcpfg).

Fauna da região de Carajás.Foto: Acervo Scientia.

Castanheira.Foto: Marcos Nosella(http://bit.ly/2ka1CJ0)

Rio Parauapebas. Ao fundo,Flona de Carajás.Foto: Acervo Scientia.

Do passado recente até hoje: O PATRIMÔNIO NATURAL E CULTURAL na região de Carajás

Capítulo 3

Na região onde moramos também existem bens de valor para todos os que nasceram ou vivem aqui, que compõem os bens de toda a comunidade ou do município, da região.

Todos esses conjuntos de bens – pessoais, familiares, locais, regionais – são conhecidos como patrimônios.

Piões.Foto: David Earle

(http://bit.ly/2kKg6zX)

Livro.Foto:Brenda Starr

(http://bit.ly/2jYymX2)

Família na praia.Foto: Jenny Downing(http://bit.ly/2lgF86R)

Amigos.(http://bit.ly/2lci652)

Rádio Capelinha, 1970.Foto: Amatnecks

(http://bit.ly/2kK92Da)

Computador e telefone celular.

(http://bit.ly/2kKmVRN)

Passeio de bicicleta.(http://bit.ly/2jV7Itl)

Bolas de plástico.(http://bit.ly/1UdDoFg).

Certamente, você tem coisas de seu agrado, como brinquedos, livros, bicicleta, celular, roupas. Em seu lar, possivelmente, estão guardados fotos e objetos antigos, de quando você era criança, ou de seus familiares mais velhos. Talvez, exista um lugar especial que desperte boas lembranças sempre que você o visita ou cuja beleza o encante.

Deve existir, também, uma comida especial feita por familiares ou amigos, que desperta em você lembranças de alguns bons momentos vividos junto a estes entes queridos. Algumas famílias mantêm o hábito de contar “causos” de antigamente, lições de vida de pessoas que já se foram. Outras, costumam se reunir em datas especiais, festas, em que todos se encontram, cantam, dançam, rezam. Talvez, exista algum trabalho ou um artesanato que você faça e também era feito por seus pais ou por seus avós.

Todos os acontecimentos, práticas e objetos que compõem essas memórias especiais fazem parte da sua história, do seu patrimônio familiar, ou seja, são bens, objetos, tradições ou costumes que você herdou de seus pais, de seus antepassados, foram transmitidos de geração em geração.

E no local onde moramos? Existem coisas importantes para a maioria dos habitantes?

Do passado recente até hoje: O PATRIMÔNIO NATURAL E CULTURAL na região de Carajás

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O patrimônio apresenta diferentes escalas de pertencimento territorial. Isso significa que bens valorizados pela coletividade podem ter abrangência local – como as festas juninas em Parauapebas e em Canaã dos Carajás; abrangência regional – como o carimbó, ou as expressões da linguagem ‘égua’, ‘pai d’égua’, entre outras, correntes em todo o estado do Pará; ou, importância nacional – como o futebol, prática esportiva que desperta paixões por todo o Brasil.

Existem, também, os patrimônios mundiais os quais, embora localizados em regiões ou países determinados, são considerados de valor para a humanidade. No Brasil, há vários bens declarados patrimônios da humanidade; entre eles encontram-se, por exemplo, a festa do Círio de Nazaré (no estado do Pará) e o Parque Nacional da Serra da Capivara (no estado do Piauí). Neste Parque Nacional, algumas grutas ou pequenas cavernas contêm figuras rupestres1, testemunhos de uma das mais antigas ocupações humanas da América do Sul. Também são considerados patrimônios da humanidade, entre muitos outros, a Acrópole de Atenas, na Grécia; a Estátua da Liberdade, nos Estados Unidos; as áreas protegidas da Região Floral do Cabo (uma das regiões de maior riqueza florística do mundo), na África do Sul.

1 Figuras rupestres são representações de símbolos, pessoas, animais, plantas, cenas da vida cotidiana, pintadas ou gravadas por populações pré-históricas em bases rochosas: lajeados, pedrais; paredões; interior de cavernas, de abrigos.

O que é patrimônio? A origem vem palavra pater que, em latim*, significa ‘pai’. Ou seja, o patrimônio seria algo que o pai deixa para os filhos, como herança: bens, riquezas, ensinamentos, conhecimentos, ideias, moral.

Esse conceito se modificou ao longo do tempo, ganhou maior abrangência e complexidade. “Patrimônio” passou a significar, também, o conjunto de aspectos ambientais de um local, bem como o conjunto de bens, valores e saberes de uma comunidade. Esse patrimônio coletivo constitui, igualmente, uma herança de gerações anteriores, ele guarda registros da passagem do tempo, registro das relações estabelecidas entre as pessoas e o espaço em que elas viveram.

Pode-se, ainda, considerar como patrimônio um conjunto de locais, objetos, valores e conhecimentos que se pretende conservar porque, além de provirem de nossos antepassados, têm a estima das pessoas, ou porque são belos, ou porque têm valor científico.* O latim foi um dos idiomas falados na região de Roma, na Península Itálica, durante a Antiguidade. Expandiu-se por muitas das regiões conquistadas pelos romanos e também por aquelas que adotaram o Catolicismo Romano como religião. Na Europa, entre os séculos 10 e 19, tornou-se língua predominante entre filósofos e cientistas. De versões populares do latim originaram-se as línguas neolatinas: italiano, português, espanhol, catalão, francês, romeno e outros, além de alguns dialetos.

Acrópole de Atenas, na Grécia.Foto: Christophe Meneboeuf - (http://bit.ly/2lgsllw)

Pedra Furada.Parque Nacional da Serra da Capivara, Piauí, Brasil.

Foto: Artur Warchavchik (http://bit.ly/2kdEzdW)O Parque abriga e protege a caatinga brasileira e centenas de sítios arqueológicos. A preservação é realizada pela Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM), que atualmente discute compartilhar a gestão com o Ministério da Cultura/Iphan; o Ministério do Meio Ambiente/ICMBio e Secretaria de Biodiversidade e Florestas; o Governo do Piauí e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico

e Social (BNDES). Estátua da Liberdade. Nova

Iorque, Estados Unidos da América.

Foto: William Warby(http://bit.ly/2kKbee0)

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Como se pode perceber, a partir desses exemplos, os bens patrimoniais são bastante variados e abrangem tanto bens da natureza quanto bens culturais.

Os bens da natureza

Os bens da natureza – o patrimônio natural – são documentos importantes que apresentam a diversidade biológica da região, mostram registros da história da Terra e de fenômenos naturais como, por exemplo, erupções vulcânicas, mudanças climáticas e das paisagens, alteração do nível dos oceanos e assim por diante. Eles podem também ser áreas de grande beleza ou constituírem o conjunto dos recursos naturais que permitiram a sobrevivência dos grupos humanos num território. De forma geral, os bens patrimoniais naturais são elementos encontrados na natureza e que se relacionam com as pessoas de alguma forma, seja para a sua exploração, para estudos científicos ou para o mero encantamento proporcionado por sua beleza.

Para proteger e conservar os bens naturais terrestres e marítimos, é importantíssimo a definição de áreas que permitam resguardar espécies vegetais e animais, ecossistemas, processos ecológicos e biológicos, bens geológicos, áreas de beleza excepcional2. Essas áreas passam a constituir sítios naturais protegidos.

Na região de Carajás, um exemplo bastante conhecido de bem patrimonial natural é a Floresta Nacional de Carajás (ou Flona de Carajás), integrante do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza.

Criada pelo Decreto nº 2.486/1998, essa Unidade de Conservação (UC) representa uma importante área de proteção ambiental, para o uso múltiplo sustentável dos seus recursos naturais e de pesquisa científica. Trata-se de área com cerca de 411.950 hectares, de domínio público. Essa área atinge percentuais dos territórios municipais de Água Azul do Norte, Canaã dos Carajás e Parauapebas, além de abrigar a maior e mais rica formação florestal pluvial do planeta, tanto em extensão como em variedade, em meio a qual se destacam áreas de campo rupestre ferruginoso: são diversos tipos de solos, rochas, elevações, inclinações e microclimas (Arruda, 2014, p. 15; ICMBio, 2016), praias, rios, igarapés e lagoas, além de grande beleza cênica.

2 UNESCO, 2005.

Para saber mais sobre patrimônios da humanidade, consulte: http://en.unesco.org/

http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/list-of-world-heritage-in-brazil

A natureza pode ser interpretada de várias maneiras: como uma base para empresas comerciais científicas; como um recurso; algo para admirar, experimentar e desfrutar, ou como uma inspiração artística.

Nelson Mandela, outubro de 1994 (UNESCO, 2005).

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As fotos apresentam aspctos da Floresta Nacional de Carajás, uma das mais ricas formações florestais do planeta e um exemplo do Patrimônio Natural da região de Carajás por sua incrível diversidade de fauna e flora, por suas riquezas

minerais e por sua beleza.

Mamíferos, répteis, aves e outras espécies compõem a fauna diversificada da Flona de Carajás.Fotos: Scientia Consultoria.

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Na área da Flona de Carajás também vivem populações tradicionais: 22 comunidades, e três aldeias indígenas – Cateté, Djudjêkô e O-odjã –, totalizando aproximadamente 5 mil habitantes que utilizam de forma tradicional os seus recursos naturais, contribuindo com o sustento ecológico do qual se beneficiam economicamente através da agricultura familiar, da pesca artesanal e do ecoturismo de base comunitária, com visitações à floresta e às praias. Há ainda os festejos tradicionais realizados ao longo do ano nas comunidades tradicionais e indígenas, contribuindo para manter vivas as tradições locais.

Na Floresta Nacional de Carajás, a proteção ambiental se realiza por meio do uso múltiplo sustentável dos seus recursos naturais e da pesquisa científica. Isso quer dizer que: nela permanecem as populações mencionadas; ocorrem atividades de extrativismo vegetal; realizam-se atividades de controle e segurança por sistema específico, bem como ações de combate a incêndios, de recuperação de áreas degradadas, de monitoramento e educação ambiental; visitas aos recursos naturais e aos recursos arqueológicos ocorrem somente organizadas em grupos monitorados (ICMBIO, 2016).

A Flona de Carajás integra um conjunto regional de Unidades de Conservação (UCs) de diferentes categorias de manejo: a Floresta Nacional do Tapirapé-Aquiri, a Reserva Biológica de Tapirapé, a Área de Proteção Ambiental do Igarapé Gelado, a Reserva Indígena Xikrin do Cateté e a Floresta Nacional de Itacaiúnas. Essas Unidades formam um mosaico ou bloco contíguo de 1,31 milhão de hectares, o que possibilita otimizar a conservação da paisagem e da biodiversidade, através da proteção mais eficiente contra invasões, caça, garimpagem, retirada ilegal de madeiras e incêndios florestais (ROLIM et al, 2006, p. 108). Além das cinco UCs, há outra área protegida: a Terra Indígena Xikrin (ICMBIO, 2016).

Veja a composição deste mosaico de Unidades de Conservação na Região de Carajás (ISA, 2016; MARTINS, 2012, p. 209).

Unidade de Conservação Área (Km²)

Floresta Nacional de Carajás 4.119,5

Floresta Nacional do Tapirapé-Aquiri 1.900,0

Floresta Nacional do Itacaiúnas 1.414,0

Reserva Biológica do Tapirapé 1.030,0

Área de Proteção Ambiental do Igarapé do Gelado 216,0

Total 8.679,5

Mosaico de Unidades de Conservação da Região de Carajás (SOMAVILLA, 2010, p. 8).

O que são Unidades de Conservação (UCs)? São áreas legalmente instituídas, com limites defini-dos pelo Governo, com objetivos de proteger e conservar – no presente e para as próximas ge-rações – a flora, a fauna, as nascentes, os rios, os lagos, as cavernas, enfim, todos os componen-tes naturais. Essas áreas têm regime especial de administração. As Unidades de Conservação podem ser de uso indireto quando não envolvem consumo, coleta, dano ou destruição dos re-cursos naturais e de uso direto quando envolvem o uso comercial ou não dos recursos naturais.

Fonte: Ministério do Meio Ambiente.

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A gerência das Unidades de Conservação brasileiras é realizada pelo ICMBio.

Também é importante saber:

Outra importante área que testemunha a riqueza tanto do patrimônio natural quanto do cultural da região foi recentemente incorporada ao Mosaico de Unidades de Conservação de Carajás: criado pelo ICMBio, entre os municípios de Canaã dos Carajás (82,9% da área) e Parauapebas (17,1% da área), o Parque Nacional Campos Ferruginosos de Carajás, cujo estabelecimento ocorreu por Decreto Federal em 5/6/2017, deverá ser um meio de proteger recursos naturais e fomentar a educação ambiental e o turismo.

Com 80 mil hectares, o Parque Nacional Campos Ferruginosos de Carajás abrange uma área formada por dois platôs ferruginosos da Flona de Carajás: o platô Serra da Bocaina ou Serra do Rabo (entre a Rodovia PA-160 e o rio Parauapebas) e o platô Serra do Tarzan (próximo aos projetos Sossego e 118). Trata-se de área de grande importância ambiental, pois, além de abrigar a savana metalófila – um tipo raro de vegetação no Brasil, encontrada apenas em áreas com grande concentração de jazidas de minério de ferro –, mantém o maior número de cavernas em rochas ferríferas do país – cerca de 350 cavidades. A área abriga, também, registros arqueológicos das primeiras ocupações humanas na região, que remontam há, aproximadamente, 11.000 anos.

As consultas públicas promovidas pelo ICMBio para discussão da proposta aconteceram no mês de novembro de 2016, nos dois municípios envolvidos. A criação do parque atende a uma condicionante do Ibama à Vale: uma compensação ambiental pela instalação de projetos de mineração na região. Embora o ICMBio seja a instituição responsável pela manutenção da nova Unidade de Conservação, os recursos, para tanto, provirão tanto do Governo Federal quanto da Vale.

O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) é um órgão ambiental do governo brasileiro, criado pela Lei nº 11.516, de 28 de agosto de 2007. Sua missão é proteger o patrimônio natural e promover o desenvolvimento socioambiental por meio da gestão de Unidades de Conservação Federais, da pesquisa e gestão do conhecimento, da educação ambiental e do fomento ao manejo ecológico.

A Floresta Nacional de Carajás é, atualmente, a Unidade de Conservação Federal com mais pesquisas registradas na Amazônia Brasileira, tanto em atividades científicas quanto didáticas.

Para saber mais, acesse http://www.icmbio.gov.br/.

As extensas serras da Floresta Nacional de Carajás abrigam uma das maiores reservas minerais do planeta, destacando-se a de minério de ferro. Como parte dessa Floresta Nacional, a Serra dos Carajás encontra-se sob proteção legal, o que não impede o fato de a área encontrar-se associada a diversos empreendimentos de exploração mineral, executados, com responsabilidade ambiental, pela empresa Vale: o Complexo Minerador Ferro Carajás, a Mina de Manganês do Azul, a já desativada Mina de Ouro Igarapé-Bahia, a Mina de Granito, além de outros projetos. Paralelamente, a empresa apoia projetos de conservação ambiental.Para mais informações sobre a atuação da Vale em projetos de conservação ambiental, acesse www.vale.com/.

Para mais informações a respeito do Parque Nacional Campos Ferruginosos de Carajás, acesse:www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/Cartilha_baixa__.pdf;

http://www.icmbio.gov.br/portal/ultimas-noticias/20-geral/8960-governo-cria-parque-nacional-e-amplia-tres-ucs

O que é Parque Nacional? Parque Nacional é uma Unidade de Conservação de proteção integral, ou seja, tem como objetivo a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando o desenvolvimento de atividades de educação ambiental, de lazer junto à natureza, de pesquisa científica e de turismo ecológico. Fonte: ICMBio/MMA, Cartilha.

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Os bens culturais

Além dos bens da natureza, o patrimônio de uma região inclui também os bens culturais – o patrimônio cultural – isto é, todas as criações humanas do passado que permanecem, somadas às que valorizamos no presente: objetos, edificações, saberes e modos de fazer, tradições, músicas, festas etc. Quando nos referimos ao patrimônio cultural, estamos falando dos bens que carregam consigo referências aos diferentes grupos sociais que compõem a sociedade.

Em meio aos bens culturais existem aqueles tangíveis, quer dizer, materiais, e outros intangíveis ou imateriais.

A cultura material das sociedades constitui o conjunto de objetos produzidos a partir de diferentes matérias-primas ou apropriados pelas pessoas em sua interação com os aspectos mais concretos da vida humana. O patrimônio cultural material inclui livros, relatos escritos de memórias, fotografias, jornais, casas, edifícios, automóveis, sítios arqueológicos, panelas, móveis, máquinas, enfim, todas as coisas elaboradas pelas pessoas. São objetos, edificações, imagens, portanto, dotados de materialidade, ou seja, são palpáveis, físicos e corpóreos.

O complexo arquitetônico e paisagístico do Mercado Ver-o-Peso, na cidade de Belém, é exemplo marcante de bem cultural regional pertencente ao valioso patrimônio do estado do Pará, com valor reconhecido nacionalmente.

Parque Nacional Campos Ferruginosos de Carajás: aspectos da paisagem e elementos naturais (ICMBio/MMA. Cartilha).

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É importante lembrar de que:

A atuação cuidadosa da Vale em relação ao patrimônio cultural da região em que atua inclui fomento a projetos culturais e apoio a Casas de Cultura municipais. Não obstante, é necessária atenção a um relato do geólogo Vanderlei de Rui Beisiegel – funcionário da CVRD no período pioneiro da implantação do Projeto Carajás – em ‘O Advento da Mineração em Carajás: contribuição à história da Companhia Vale do Rio Doce na Amazônia’3.

Nesse texto, o pesquisador demonstra sua preocupação quanto à ausência de um registro completo a respeito da história do conhecimento geológico da região de Carajás, da intensa ocupação humana que ali se desenvolveu, da própria história da CVRD/Vale, do difícil cotidiano dos profissionais no início da implantação do projeto. Ao mesmo tempo, o relato aborda a existência de um patrimônio cultural específico em potencial, bem como a necessidade de medidas para sua preservação: Beisiegel lembra de que na região de Carajás existe um conjunto de bens relacionados à ocupação da região em virtude da mineração – aqueles referentes ao início das prospecções e ao abrigo dos profissionais, isto é, áreas de antigos acampamentos, de estabelecimentos provisórios, do atual Núcleo Urbano de Carajás, dos trabalhos de instalação dos equipamentos de mineração; as edificações e imagens remanescentes desse período pioneiro; os relatos das memórias das pessoas que lá viveram e trabalharam. Eis um trecho desse depoimento:

3 Trata-se de segmento do livro Carajás: Geologia e Ocupação Humana, organizado por João Batista Guimarães Teixeira e Vanderlei de Rui Bieisiegel, editado em 2006 pelo Museu Paraense Emílio Goeldi.

O complexo arquitetônico e paisagístico do Mercado Ver-o-Peso (baía de Guajará, em Belém) integra o patrimônio cultural material do Pará.

Foto: Mauricio Mercer (http://bit.ly/2kJ62aO).

A região de Carajás detém patrimônio cultural diversificado. Um dos conjuntos de bens mais importante – e também desconhecido dos brasileiros – é o patrimônio arqueológico, como se verificará com mais detalhes adiante e também nos capítulos 4 e 5.

Muitas das informações arqueológicas são decorrentes de pesquisas associadas a estudos de licenciamento ambiental dos projetos minerários empreendidos pela Vale que, assim, demonstra respeito pelo cumprimento da legislação brasileira de proteção ao patrimônio cultural, bem como responsabilidade social.

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Em 20 de julho de 2002, após uma ausência de 11 anos, visitei a clareira N1, juntamente com o geólogo Breno dos Santos e a equipe da TV Zero, que estava produzindo um vídeo para a CVRD. Aproveitando a nossa presença, a equipe da TV resolveu fazer algumas tomadas nos locais significativos das atividades baseadas na clareira, com os protagonistas da época. Ficamos então frustrados pois não conseguimos achar os vestígios do primeiro acampamento e nem do monumento [comemorativo] aos 20 anos da descoberta. Não havia também sinais da casa de hóspedes e outras referências. Os únicos remanescentes eram os banheiros dos alojamentos (na última reforma haviam sido construídos em alvenaria) e da padaria. A clareira N1 continua sendo passagem da estrada de acesso ao projeto Salobo, porém um observador pouco atento (ou que não conheça a história da região) nem notará vestígios do que lá existiu um dia (...) na clareira N1, base principal dos 13 anos iniciais da história de Carajás, nada restou. Depoimento de Vanderlei de Rui Beisiegel (TEIXEIRA e BEISIEGEL, 2006, p. 343).

Certamente, essa memória dos tempos iniciais da mineração na região de Carajás, se organizada, integrar-se-ia à história recente do Pará e à história do Brasil.

Além das imagens e remanescentes das edificações, os depoimentos de antigos profissionais ou de antigos moradores ofereceriam informações importantes e até curiosas dessa história, do cotidiano dos profissionais que lá operaram, como as expressas em outro trecho do depoimento de Vanderlei de Rui Beisiegel, a seguir. Os fatos referem-se ao primeiro semestre de 1970, época em que a câmara frigorífica de Carajás ainda não estava pronta.

O frango nosso de cada dia...

Todo abastecimento de Carajás era feito por via aérea, uma vez que não existiam estradas de acesso. A partir de Belém e Marabá (...) empresas de pequeno porte (...) utilizavam aviões americanos remanescentes da Segunda Guerra Mundial, alguns (...) adaptados para cargueiros e outros (...) para uso misto (carga e passageiros). Tais empresas operavam com grandes limitações (...) problemas com reposição de peças das aeronaves ocasionavam dificuldades e transtornos no abastecimento de suprimentos de Serra Norte. (...)

Várias vezes por semana, em Belém (...) com a informação da empresa transportadora de que o avião estava pronto para a viagem, acionava-se o caminhão (...) para carregar os gêneros perecíveis nos frigoríficos de terceiros e descarregá-los no aeroporto de Val-de-Cães. Essa operação era realizada ainda de madrugada, pois a decolagem normalmente acontecia ao nascer do sol. (...) Às vezes carregado o avião, o piloto não conseguia dar partida nos motores. Voltava-se então com o carregamento de frango e outros perecíveis para o frigorífico ou aguardava-se, tentando reparar a pane ou conseguir um avião substituto. Em outras ocasiões, a tripulação recusava-se a voar, por falta de pagamento dos salários, ou então não conseguiam abastecer o avião porque o cartão de abastecimento estava vencido – recorriam então à CMM [Companhia Meridional de Mineração, subsidiária da United States Steel] para que resolvesse o impasse... e o frango esquentando neste vai-e-vem.

Era comum o avião terminar decolando pelas 11 horas ou meio-dia, pousando em N1 pelas 14 ou 15 horas. (...); além disso, normalmente não havia caminhão disponível para levar a carga de N1 para o acampamento de N4 (o de maior atividade na época). Vai daí que o carregamento de frangos “congelados” era depositado em lonas, ao lado do estacionamento das aeronaves (...). Com tudo isso, os frangos (já fora do frigorífico desde as 5 da manhã) chegavam a N4 pelo final da tarde, para então serem preparados. Por essas e outras, era comum a ocorrência de crises gerais de disenteria e outras perturbações associadas (...). Já a carne bovina vinha normalmente de Marabá ou Imperatriz. Chegando a N1, as grandes peças de carne eram despejadas no chão e depois, para evitar o ataque de moscas, eram simplesmente borrifadas com inseticida!

Depoimento de Vanderlei de Rui Beisiegel (TEIXEIRA e BEISIEGEL, 2006: 185-186)

O patrimônio cultural imaterial ou a cultura imaterial das sociedades abrange itens muito diversos: a execução de uma música, os atos ou cerimônias religiosos, uma forma de plantio, um processo de fabricação de licor, a elaboração de uma receita, um jeito de dançar, os modos de expressão e assim por diante. São práticas ou representações que estão relacionadas aos saberes, às habilidades, às crenças, ao modo de ser das pessoas, como as festas do Divino, do Círio, das Folias de Reis, a festa de Nossa Senhora da Conceição, o Boi-Bumbá, a dança do carimbó, as rodas de capoeira; os ofícios de tacacazeiras, benzedeiras, de produtores de cuia, das quebradeiras de coco, e tantos outros ofícios, saberes e modos de expressão.

É riquíssimo o patrimônio cultural imaterial paraense.

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Carimbó em espetáculo apresentado pelo Grupo Caminhos da Paz, em Eldorado dos Carajás. A dança e a

música são bens culturais imateriais.Foto: Acervo Scientia

Dona Maria, em Xinguara, mostra as cuias utilizadas para servir o tacacá. O modo de fazer o tacacá, sua receita, o

ofício de tacacazeira são bens culturais imateriais. As cuias e cestos são bens culturais materiais.

Foto: Acervo Scientia

A Festa do Círio de Nossa Senhora de Nazaré ocorre em Parauapebas, em Marabá, em Belém

e em diversas outras cidades, sendo uma das maiores manifestações de fé dos católicos do estado do Pará. A imagem, a corda e os

paramentos utilizados na festa são bens de cultura material.

Fotos: Osmar Arouck.À direita: berlinda (http://bit.ly/2lkeUjG);

abaixo: corda (http://bit.ly/2kipdVu).

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Todos esses bens são patrimônios culturais porque são expressões da nossa cultura.

LEI N° 7.548, DE 12 DE SETEMBRO DE 2011

Declara como integrante do patrimônio cultural de natureza imaterial do Estado do Pará, a lin-

guagem regional.

A ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO PARÁ estatui e seu Presidente, nos ter-mos do § 7º do art. 108 da Constituição do Estado do Pará promulga a seguinte Lei:

Art. 1° Fica reconhecido como patrimônio cultural de natureza imaterial para o Estado do Pará a linguagem regional, nos termos do art. 286, da Constituição do Estado do Pará.

Art. 2° Integra-se ao patrimônio cultural imaterial do Estado do Pará a lingua-gem regional com as seguintes palavras: I – pai d’égua - (excelente); II – égua – (vírgula do paraense, demonstra a emoção de cada intenção da frase); III - “é-gu-a” – (poxa vida); IV – levou o farelo – (se deu mal); V - pitiú – (cheiro de característica do peixe); VI – só-te-digo-vai! – (expressão usada pelas mães pra chamar atenção dos filhos, quando não às obedecem); VII – te acoca – (te abaixa); VIII – tuíra – (pele ressecada); IX – mas-como-então? – (explique-me); X – bora logo! – (se apresse). Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

PALÁCIO CABANAGEM, GABINETE DA PRESIDÊNCIA DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO PARÁ, EM 12 DE SETEMBRO DE 2011.

DEPUTADO MANOEL PIONEIRO

Presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Pará

Fonte: Imprensa Oficial do Estado do Pará. Diário Oficial nº 32 008, de 28/09/2011.

Desde 2011, a linguagem regional paraense – modo de expressão – é oficialmente considerada patrimônio cultural imaterial do estado do Pará.

O que é cultura? Cultura é tudo aquilo produzido pela inteligência e pelas mãos humanas.

Ela se faz presente em todas as comunidades humanas, desde a pré-história até a atualidade. Constitui a forma como os grupos humanos se organizam, como se relacionam com o meio e o reconstroem, como vivem; quais seus costumes, língua, crenças, valores, conhecimentos, saberes, expressões artísticas.

Cada população tem características próprias, que a distingue das demais: formas de comunicação e de expressão – a língua, um livro, uma música, as imagens, uma dança; os saberes que possui e utiliza para construir casas, preparar alimentos, rezar, comemorar, e assim por diante.

A cultura é transmitida entre as gerações, e está sempre sendo recriada, em constante mudança: por exemplo, alguns valores que possuíam força no passado podem se enfraquecer com o passar do tempo e deixarem de ser compartilhados pelas novas gerações, sendo substituídos por outros.

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A cultura é um elemento essencial na formação de nossa identidade, ou seja, aquilo que caracteriza cada indivíduo como pessoa e define o comportamento humano influenciado socialmente. Ao longo de nossa vida, construímos e reconstruímos nossa(s) identidade(s) ao nos relacionarmos com as pessoas e os grupos sociais à nossa volta, em diferentes situações. Nesse sentido, a identidade está sempre em movimento, sempre em reconstrução e é o conjunto de papéis desempenhados pelo sujeito, mas bastante influenciada pelo meio social e pelos posicionamentos que tomamos diante das situações do cotidiano.

Uma pessoa cria a sua própria identidade, mas todos nós também compartilhamos características em comum com outros indivíduos, sejam tradições, crenças, preferências. Há vários fatores que são decisivos para que um grupo se identifique ou não com tal cultura, como a história, o local, a raça, a etnia, o idioma, a crença religiosa. Assim, um indivíduo pode possuir várias identidades que surgem quando evocamos uma série de lembranças que nos une ou que nos diferencia de outras pessoas. Isso serve tanto para o indivíduo quanto para os grupos sociais.

Vale lembrar de que não existe uma hierarquia de identidades culturais, quer dizer, algumas culturas sendo consideradas superiores a outras ou mais importantes. Há uma grande variedade de culturas e identidades existentes no mundo, as quais foram surgindo pela interação entre as pessoas e o meio ambiente em que vivem. Os meios de comunicação, a facilidade de transporte, as ondas migratórias, a maior integração entre países, estados e regiões no Brasil e no mundo aproximou culturas e costumes e, logo, identidades diferentes. A convivência com o diferente faz com que as identidades aflorem, sendo o respeito às diferenças de grande importância para a construção da cidadania.

Cada grupo social tem a sua própria história. Essa história é compartilhada por todos aqueles que compõem esse grupo, possuindo uma visão de mundo e uma forma própria de se organizar. Ou seja, cada grupo compartilha entre si uma história e uma memória coletiva, as pessoas estão ligadas entre si por um passado em comum, por uma língua, pelos costumes, pelos saberes que possuem e que são coletivamente partilhados.

“O mundo se move num ritmo tão acelerado que a maioria das pessoas entrou no século XXI esquecendo suas origens. Deveria ser o contrário. Deveríamos valorizar nossas raízes e nossa cultura, e utilizá-las como cimentos para construir nosso futuro.”

Recomendações de estudantes no Foro Juvenil de Patrimônio Mundial realizado em Pequim, China (UNESCO, 2005, p. 89).

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) promove, periodicamente, foros juvenis sobre o patrimônio mundial. O objetivo principal é a reunião de jovens representantes de diversos países para trocar ideias, compartilhar experiências, refletir sobre questões do patrimônio, detectar problemas e preocupações comuns e propor projetos diretamente à Conferência Geral da UNESCO.

Para verificar os resultados do Foro Juvenil de 2010 realizado em Brasília, acesse http://portal.iphan.gov.br/uploads/publicacao/EduPat_CatalogoDeResultadosForumJuvenilPatrimonioMundial_m.pdf

O que é identidade? Identidade é a soma de vários aspectos, características ou elementos próprios de uma pessoa, de um grupo ou indivíduos, de uma nação. A nossa identidade é formada por nossa história de vida, pela história da nossa família, pelo lugar de nossa origem, pelos trabalhos que realizamos, pelo jeito que cuidamos de nossos filhos, pela nossa forma de falar, enfim, por tudo aquilo que nos torna iguais aos membros de nosso grupo e ao mesmo tempo nos diferencia dos demais grupos.

O que é memória coletiva? Memória é a capacidade de lembrar, formando imagens que se tornam recordações de algo que já passou. A construção do patrimônio, da cultura, da identidade e da própria história está relacionada com a memória. Todos nós somos seres sociais, que nos relacionamos com outras pessoas na nossa família, na escola, no trabalho, no bairro, na igreja. É pelo convívio social que aprendemos: a falar, a comer, a vestir, a trabalhar, a conhecer, a aprender. Assim, não podemos separar a nossa história individual da história da sociedade em que nascemos e vivemos. As memórias, as lembranças, os ensinamentos que carregamos conosco ao longo da vida estão mergulhados na história do meio social em que crescemos. A memória individual existe sempre a partir de uma memória coletiva, pois todas as lembranças são construídas no interior de um grupo. A origem de várias ideias e valores que atribuímos a nós é inspirada pelos grupos sociais com os quais vivemos.

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A cultura, a identidade e a memória de um grupo social são elementos que se relacionam com os bens – materiais e imateriais – que esse grupo produz. E o conjunto desses bens forma o seu patrimônio cultural. Reconhecer que todos os povos possuem cultura e que cada um tem uma forma diferente de se expressar é aceitar e valorizar a diversidade cultural. A imensa diversidade cultural que o Brasil apresenta mostra que a história, a memória, a identidade e os bens patrimoniais de cada grupo social ou de cada região são reconhecidos, valorizados e integrados ao mosaico do patrimônio cultural do país.

Todos os bens naturais e culturais precisam ser apreciados. Os bens patrimoniais constituem uma riqueza que todos precisamos conservar, pois são únicos, eles guardam em si informações sobre os tempos passados, possuem uma beleza própria, dizem quem somos, nos identificam e formam a herança que deixaremos às futuras gerações. Todos os bens naturais e culturais precisam ter reconhecidos o seu valor, ou os seus valores – histórico, artístico, paisagístico, simbólico, científico (UNESCO, 2005).

Um exemplo do valor plural de um bem cultural é dado pelo monumento ‘As Castanheiras Mortas de Eldorado de Carajás’, a seguir representado em fotografia e em desenho.

Monumento ‘As Castanheiras Mortas de Eldorado de Carajás’.Foto: Maria Silvia Cambraia

(Cambraia, 2007; uso autorizado pela pesquisadora)

‘As Castanheiras Mortas de Eldorado dos Carajás’.Desenho: Greyce Oliveira; Acervo Scientia.

O monumento, situado à margem da Rodovia PA-150, é obra do artista plástico britânico Dan Cohen em parceria com os colonos do Assentamento 17 de Abril, em Eldorado dos Carajás. São 19 troncos de árvores mortas, dispostas como no contorno do mapa do Brasil.

O memorial ‘As Castanheiras Mortas de Eldorado dos Carajás’ é, ao mesmo tempo: um bem de valor histórico porque se refere a um fato histórico importante – o “Massacre de Eldorado de Carajás” – e a um evento ambiental igualmente significativo: a dizimação dos castanhais naturais de Carajás durante a implantação dos grandes projetos agropecuários na região; é um bem de valor cultural porque proporciona o conhecimento, a consciência e a memória do acontecimento e do ambiente em que ocorreu; possui valor simbólico, pois as árvores mortas representam tanto a destruição da paisagem regional, quanto a memória de 19 trabalhadores mortos em 1996* e, ainda, a luta dos colonos sem terras (CAMBRAIA, 2007).

* Em 17 de abril de 1996, cerca de 1.500 sem-terra, entre homens, mulheres e crianças, fizeram uma marcha em direção à cidade de Belém em protesto contra a demora da desapropriação de terras para a reforma agrária, obstruindo a Rodovia PA-150. O governador Almir Gabriel e o secretário estadual da Segurança, Paulo Sette Câmara, acionaram a Polícia Militar. Os policiais removeram suas tarjas de identificação, utilizaram bombas de gás e armas com munição letal. Houve confronto violento e 19 manifestantes mortos. Entre outras irregularidades, todos os corpos foram retirados do local do crime, para dificultar a perícia que, apesar disso, concluiu que ao menos 10 dos 19 mortos sofreram execução sumária. Esses fatos, amplamente divulgados pela imprensa nacional e internacional, transformaram o dia 17 de abril no Dia Internacional de Lutas Camponesas.

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Outro exemplo significativo nos é dado pelo futebol, tão presente na vida dos brasileiros que ultrapassou a condição de esporte, tornou-se uma prática cultural, um ícone de nossa identidade. O futebol foi incorporado por diferentes manifestações culturais, como a literatura, o cinema, a dramaturgia, a música, as artes plásticas, além de ser um importante espaço de sociabilidade.

Em todas as localidades existem lugares importantes para a população. Esses locais também podem ser considerados bens patrimoniais porque se tornam pontos de referência comum, nos quais as pessoas se reúnem para conversar ou para comemorar, ou cujo conhecimento costumam recomendar a visitantes: pode ser uma praia, uma praça, a margem de um rio, um parque, uma floresta; ou simplesmente um local a partir do qual se descortina uma bela paisagem, como um mirante ou belvedere (isto é, uma bela vista).

Em Carajás, um dos expoentes do futebol é o Parauapebas Futebol Clube, fundado em 1989 como equipe amadora, profissionalizado em 2009. Desde então, disputa as principais divisões do Campeonato Paraense e participa de competições nacionais, como a Copa do Brasil.

Nome: Parauapebas Futebol Clube.

Fundação: 24 de Junho de 1989.

Estádio: Estádio José Raimundo Roseno Araújo (Rosenão).

Capacidade: 10.000 pessoas.

Mascote: Trem de Ferro.

Apelidos: Trem de Ferro; Gigante de Aço.

Principal título: Campeão da 2ª Divisão do Campeonato Paraense (2010).

O escudo do Parauapebas Futebol Clube simboliza o clube, suas eventuais vitórias e derrotas. A versão original e a versão reformulada desse escudo podem ser conhecidas emhttp://umgrandeescudeiro.blogspot.com.br/2015/02/brasil-pa-novo-escudo-do-paraua

Vista leste da paisagem a partir do

mirante.

No Morro dos Ventos – local mais elevado do centro urbano de Parauapebas – em 2012 foi instalada a Praça da Bíblia, cujo principal atrativo é constituir um mirante

da paisagem que envolve a cidade.

Fotos: Acervo Scientia.

Vista oeste da paisagem a partir do

mirante.

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Os bens culturais arqueológicos

Algumas palavras mais são necessárias acerca dos bens naturais ou culturais de valor científico.

Todos os bens naturais ou culturais podem ser considerados documentos que, quando cientificamente estudados, nos permitem construir conhecimento sobre seu significado e seu potencial, sobre o grupo social que o produziu, sobre as funções e a importância que tiveram em determinadas culturas.

É o caso dos bens arqueológicos, que são os vestígios da cultura material de populações do passado.

Vale ressaltar, que tão importante quanto estudar o objeto em si é compreender os seus usos, as suas apropriações sociais, as técnicas envolvidas na sua manipulação, a sua importância econômica e a sua necessidade social e cultural, ou seja, estuda-se o objeto material e a cultura que o produziu.

Por exemplo, a partir da variedade de vestígios de habitações que uma sociedade produz, os pesquisadores procurarão descobrir os tipos de materiais construtivos utilizados e as técnicas empregadas; também buscarão extrair uma compreensão da vida familiar, das relações mantidas entre os moradores com seus vizinhos, como o espaço da residência foi configurado, se há algum padrão habitacional na região; enfim, buscarão relacionar o bem material com a imaterialidade e o imaginário dos grupos sociais (BARROS).

Na reprodução de cenas cotidianas a seguir, ficam evidentes alguns objetos da cultura material.

Relembrando: o que é Cultura Material? Cultura material são os objetos ou artefatos, edificações e todos os bens materiais produzidos ou apropriados pelas pessoas em sua interação com os aspectos mais concretos da vida humana. Em meio a eles, encontram-se cachimbos, objetos de adorno e outros itens pessoais, armas, ferramentas; garrafas de vidro, ferraduras; vasilhames e outros utensílios domésticos; restos de alimentação; fogueiras; restos de habitações ou de templos e seus materiais construtivos; marcas de fogueira, cascas de moluscos, sepultamentos, enfim, tudo o que é remanescente de antigas ocupações e que representam os hábitos e costumes de quem viveu sobre aquele solo. Esses vestígios deixados por antigas ocupações humanas são resgatados e estudados pelos arqueólogos. É importante considerar que cada objeto foi produzido num contexto específico e faz parte de determinada época da história.

Inteiros ou em fragmentos, esses vestígios materiais são encontrados isoladamente ou em locais conhecidos como sítios arqueológicos.

Pilão, vasilhames de cerâmica, fuso e cestos de palha trançada são artefatos de uso cotidiano entre grupos indígenas.Desenho: Denis Araújo da Silva; Acervo Scientia.

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No Brasil, os vestígios arqueológicos podem datar do período pré-colonial, ou seja, anterior à conquista europeia (ou anterior ao século 16); quase tudo que sabemos a respeito deles – como e de quais materiais foram produzidos, para que eram utilizados, quem os elaborou –, deve-se às pesquisas arqueológicas. As fotos a seguir, todas do acervo da Scientia Consultoria, exemplificam alguns tipos desses remanescentes que podem ser encontrados em sítios arqueológicos.

A produção de armas e de ferramentas líticas (de pedra) com as técnicas de lascamento e polimento foram ações cotidianas entre populações do período pré-colonial.

Desenho: Denis Araújo da Silva; Acervo Scientia.

Vasilha cerâmica com decoração pintada. Sítio arqueológico Cavalo Branco, Marabá (PA).

Pintura rupestre em forma de animal. Sítio Itaporococo, Conceição de Mato Dentro (MG).

Ponta de projétil de pedra lascada, encravado em corte de estrada. Salto (SP).

Ferramentas de pedra lascada. Sítio SC-AG-24, Anita Garibaldi (SC).

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Já os vestígios arqueológicos que provêm do período histórico, em nosso país são aqueles datados a partir da conquista europeia, isto é, a partir do século 16. Para estudá-los, os arqueólogos contam também com outros tipos de documentos: escritos, mapas, imagens. A seguir, alguns tipos desses remanescentes em fotos do acervo da Scientia Consultoria.

Lâmina de machado de pedra polida. Sítio Grajaú, Vitorino Freire (MA).

Lajedo utilizado para polimento de instrumentos de pedra. Sítio Mutuca, Ourilândia do Norte (PA).

Garrafas de vidro. Sítio Jacareí 2, Jacareí (SP). Tijolos de adobe. Sítio Pedral, município de Guanambi (BA).

Fornilho de cachimbo de cerâmica. Sítio Praça das Artes, São Paulo (SP).

Moedas. Sítio Praça das Artes, São Paulo (SP).

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Outros tipos de vestígios ocorrem de modo menos frequente ou mesmo raramente, principalmente devido à fragilidade dos materiais que ficam enterrados ou expostos às condições climáticas e ambientais. Veja alguns exemplos de remanescentes muito antigos que puderam ser preservados quando as condições ambientais assim o permitiram.

Fundações de edificações enterradas.

Sítio Campos de Goytacazes 2. Campos de

Goytacazes (RJ). Ferraduras.Santos (SP).

Fragmento de prato de porcelana

decorada. Sítio Caçapava 2,

Caçapava (SP).

Estrutura de combustão (fogueira ou fogão, com carvões). Sítio Araputanga, município de Araputanga (MT).

Sepultamento. Lapa do Boquete, Peruaçu (MG).

Osso de mamífero. Sítio Das Palmeiras,São Felipe d’Oeste (RO).

Remanescentes de cesto; fibras preservadas naturalmente. Item integrante de sepultamento. Lapa do

Boquete, Peruaçu (MG).

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O patrimônio arqueológico envolve qualquer vestígio material de grupos humanos do passado, seja ele qual for e esteja onde estiver: em estruturas abandonadas na superfície, enterrados no subsolo ou até mesmo embaixo d’água.

Valendo-se de pesquisas multidisciplinares, os profissionais que trabalham com a Arqueologia – os arqueólogos – estudam esses vestígios das ocupações humanas encontrados nos sítios arqueológicos ou em ocorrências isoladas.

Os sítios arqueológicos não são todos iguais, há uma grande variedade deles. Podem ser remanescentes de acampamentos, sambaquis, estabelecimentos em grutas, oficinas líticas, aldeias, gravuras rupestres, relacionados a sociedades muito antigas. E podem também configurar espaços relativamente mais recentes de ocupação, como igrejas, fortes, engenhos, quilombos, cemitérios, taipas, casarios, caminhos, fábricas etc. Em todos os sítios arqueológicos é possível encontrar testemunhos sobre as pessoas que ali residiram, as atividades que realizavam, os seus modos de viver.

Nem todos os sítios arqueológicos já estão registrados ou estudados. Há muitos deles que ainda sequer foram descobertos e não os conhecemos. Por isso, as pesquisas arqueológicas são tão importantes e devemos sempre colaborar para a preservação dos vestígios. Assim, no futuro, os pesquisadores poderão continuar a realizar o seu trabalho de estudar e escrever histórias sobre o nosso passado.

Tipos de sítios arqueológicos.

Existem vários tipos de sítios arqueológicos em todo o mundo.

Como já mencionado, no Brasil, há sítios do tempo anterior à conquista europeia (período pré-colonial) e sítios datados a partir da conquista. As imagens a seguir, todas do acervo Scientia Consultoria, apresentam alguns exemplos.

Espigas de milho silvestre preservadas naturalmente. Lapa do Boquete, Peruaçu (MG).

Fragmento de raiz de mandioca preservada naturalmente. Lapa do Boquete, Peruaçu (MG).

O que são sítios arqueológicos? Sítios arqueológicos são locais que correspondem a antigos sítios de ocupação humana, onde se encontram os vestígios materiais de culturas do passado. Neles, se realiza parte da pesquisa em Arqueologia: os trabalhos de campo.

O sítio arqueológico é o espaço de investigação do arqueólogo; é o local dotado de objetos intencionalmente produzidos ou rearranjados, que testemunham o comportamento das sociedades do passado.

Do conjunto de estudos do sítio, dos objetos e estruturas nele contidos e da paisagem na qual se insere, resultam várias informações acerca de instrumentos, ferramentas, armas, estruturas, conhecimentos, práticas, valores e estruturas da sociedade ou das sociedades que ali viveram no passado. É importante relacionar vários sítios estudados numa determinada região. Depois de corretamente estudados para que nenhuma informação seja perdida, os vestígios e as informações obtidas precisam ser preservados.

O que é Arqueologia? Arqueologia é o estudo das sociedades humanas por meio dos vestígios materiais encontrados pelos arqueólogos e que contribuem para a compreensão sobre a cultura, os costumes desses grupos do passado, as paisagens em que viviam e os recursos de que se utilizavam para subsistir.

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Em meio aos sítios arqueológicos brasileiros do período pré-colonial, podem-se encontrar:

»Sítios cerâmicos: local onde se encontram vestígios dos objetos produzidos de cerâmica nos seus mais diferentes formatos, decorações e funções, como vasilhas e urnas.

»Sítios líticos: locais onde são encontrados objetos ou fragmentos de objetos produzidos de pedra lascada ou polida. Podem ser, por exemplo, pontas de flechas, utilizadas para a caça; lascas utilizadas como faca durante o preparo dos alimentos; instrumentos de trabalho, como machados, mão de pilão, batedores, furadores; enfeites etc.

»Sítios lito-cerâmicos: sítios em que se encontram vestígios tanto de objetos produzidos de cerâmica quanto de pedra.

Sítio lito-cerâmico a céu aberto Bocaina 1, Parauapebas (PA). Projeto RFSP.

A foto apresenta escavação do sítio lítico/lito-cerâmico em cavidade Níquel do

Vermelho-V, Canaã de Carajás (PA).

Carajás. Sítio Níquel do Vermelho-XIV, cerâmico. Escavação de duas sondagens do setor: os potes cerâmicos

encontravam-se na posição em que foram utilizados.

Detalhe da foto à esquerda: verificação da profundidade do pote para realizar seu

resgate com segurança.

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»Sambaquis: são montes artificiais compostos por conchas de moluscos, onde também são localizados outros vestígios arqueológicos, como esqueletos de animais, ossos humanos, utensílios fabricados de pedra ou de ossos etc. Estes montes não são naturais, pois a sua acumulação de conchas foi produzida através da ação humana, com dimensões e formas variadas.

»Sítios de Arte Rupestre: locais onde são encontradas pinturas ou gravuras feitas em paredões ou blocos de pedra. Essas imagens foram produzidas pelas pessoas que moravam na região destes sítios, e que por algum motivo decidiram representar suas atividades cotidianas, como a caça, a dança, as relações sexuais e outras referências da vida de sua sociedade.

Pedral com gravuras rupestres; observar painel de figuras gravadas à direita.

Detalhamento das figuras humanas, animais e outras gravadas na porção direita do pedral ao lado apresentado.

Painel de pinturas rupestres em paredão rochoso.

Fotos: acervo Scientia

Datalhamento de algumas figuras humanas, de animais e outros simbolos figurantes no painel à

esquerda

Gravuras rupestres em pedrais no rio Madeira (RO)

Pinturas rupestres no vale do rio Peruaçu (MG)

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No Brasil, os sítios arqueológicos do período histórico são locais onde se encontram vestígios materiais oriundos do processo de ocupação do território nacional pós-contato entre índios e não-índios (europeus, africanos, seus descendentes etc.) a partir de 1500. Podem ser fortalezas, caminhos, calçadas, praças, fundações remanescentes das mais diversas edificações, espaços remanescentes de batalhas, antigos cemitérios, quintais, jardins, estruturas remanescentes de antigas fazendas, quilombos, senzalas, engenhos, fábricas, enfim, todos os vestígios, estruturas e outros bens materiais que possam contribuir na compreensão da memória nacional pós-contato, tanto na superfície quanto embaixo da terra e mesmo submersos, como os resquícios de antigas embarcações naufragadas.

Antigo caminho no município de São Brás do Suaçuí (MG): calçamento de pedras, provavelmente do

período colonial.

Olaria. Município de Mogi das Cruzes (SP).Datação provável: século 19.

Sítio arqueológico São João, Mogi das Cruzes (SP). Casa de taipa de pilão e estruturas de madeira, construção datada do período entre final do século 18 e início do século 19*.

* Observe-se o telhado em situação muito precária na foto de 2007. Sem a devida proteção por parte dos proprietários ou do poder público, após a pesquisa arqueológica, histórica e arquitetônica, o edifício ruiu em 2010, devido às fortes chuvas ocorridas na região.

Fotos: acervo Scientia

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Além dos vestígios materiais, os arqueólogos estudam ainda a paisagem alterada e manejada pelos grupos humanos do passado. Essa pesquisa permite obter dados sobre o assentamento dos habitantes, seus deslocamentos, o modo como interagiam, se apropriavam e modificavam a natureza ao seu redor. Portanto, a Arqueologia busca compreender as sociedades humanas por meio dos artefatos que elas confeccionavam e dos demais vestígios remanescentes, bem como pelas modificações que elas produziram no ambiente em que viviam – como é o caso da Terra Preta de Índio ou Terra Preta Antropogênica.

As etapas principais das pesquisas arqueológicas

O estudo dos vestígios arqueológicos permite identificar e produzir informações a respeito da história das populações que viveram em determinada região no passado, de seus modos de vida, e das relações dessas antigas culturas com as comunidades do presente. É importante lembrar de que essas pesquisas contribuem para a discussão sobre a diversidade cultural ao longo do tempo e em diferentes espaços. Nosso modo de viver pode manter influências dos grupos que, no passado, viveram no mesmo local em que moramos hoje.

Ao localizar um sítio arqueológico, o pesquisador utiliza métodos específicos e técnicas de pesquisa, procurando responder perguntas como, por exemplo: Quem eram as pessoas que ali moravam? Como desapareceram? Onde viviam? Como viviam? Do que se alimentavam? Como produziam os seus alimentos? Em que época viveram? Que contatos mantinham com outros grupos humanos?

Para poder responder essas e tantas outras perguntas possíveis de serem feitas, os arqueólogos precisam seguir uma série de procedimentos de pesquisa.

Quando um sítio arqueológico é encontrado, o primeiro passo é fazer o seu registro no Cadastro Nacional dos Sítios Arqueológicos (CNSA), uma espécie de carteira de identidade do sítio, que contém informações gerais sobre ele, para garantir que todos os que forem pesquisar aquele bem cultural encontrem a sua localização e as informações sobre os estudos já realizados. Este registro garante ainda que o Iphan tome conhecimento de sua existência.

O que é Terra Preta? No território da Amazônia, existe uma ampla extensão de solos que resultaram das antigas ocupações indígenas.

Esses solos são muito férteis. Denominados Terra Preta Antropogênica (TPA) ou Terra Preta de Índio (TPI), são caracterizados pela deposição de matéria orgânica, por apresentarem maior espessura dos indícios de ocupação e maior densidade de vestígios cerâmicos.

A existência desses solos indica áreas de atividades constituídas ao longo do tempo por diferentes processos de ocupação humana no passado, especialmente das antigas populações falantes de línguas Tupi-Guarani (GARCIA, COSTA e KERN, 2015).

Superfície ampla de escavação nº 4: TPA, estruturas de combustão (fogões) e fragmentos de cerâmica.

Superfície ampla de escavação nº 3: TPA e um nível com ocorrência de cerâmica.

Terra Preta Antropogênica ou Terra Preta de Índio no sítio arqueológico Palmeiras, município de São Felipe d’Oeste (RO).

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Etapas principais da pesquisa arqueológica

Os estudos arqueológicos são realizados em várias fases e exigem muito tempo para seu planejamento, execução e obtenção dos resultados. Todas essas fases são autorizadas pelo Iphan e exaustivamente documentadas pelos pesquisadores, com registros em GPS4 , fotos, desenhos, fichas, croquis, quadros, tabelas e outros.

Quais são as etapas principais?

»Levantamento de informações iniciais. Primeiro, os pesquisadores buscam informações em livros, textos, mapas, plantas urbanas, fotos e outros documentos. Depois, percorrem a região entrevistando moradores locais, com a intenção de localizar e identificar sítios ou ocorrências arqueológicos.

»Prospecção arqueológica. Os arqueólogos percorrem a região observando o solo, o relevo, os cursos d’água. Nesta fase da pesquisa, sempre que possível, realiza-se a inspeção do solo em subsuperfície: abrem-se pequenas sondagens (furos-teste) para ver se há vestígios enterrados.

4 GPS é a sigla para Global Positioning System, isto é, Sistema de Posicionamento Global. Trata-se de um sistema de localização por satélite a partir de um dispositivo ou aparelho móvel. Disponível desde a década de 1970 para fins militares e de navegação, teve seu uso popularizado mais recentemente.

O que é o Iphan? O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) é um órgão do Governo Federal vinculado ao Ministério da Cultura. Ele é responsável pela gestão e preservação do Patrimônio Cultural Brasileiro, o que significa que cabe ao Iphan proteger e promover os bens culturais do país, assegurar a sua conservação e o seu registro para as gerações presentes e futuras.

A estrutura do Iphan comporta 27 Superintendências Estaduais responsáveis pela coordenação, planejamento, operacionalização e execução das ações do Instituto.

Para atender exclusivamente ao estado do Pará, existe uma Superintendência do Iphan em Belém:

Av. Governador José Malcher, 563 – Nazaré. CEP: 66040-282 - Belém/PA

Tel.: (91) 3224.0699 E-mail: [email protected]

Em 2017, o Iphan comemorou 80 anos de atuação pela identificação, preservação e conservação do patrimônio cultural brasileiro.O logotipo do Iphan identifica sua

presença e atuação. Saiba mais a respeito do Iphan em www.iphan.gov.br

Morador do município de Parnaguá (PI) responde sobre a ocorrência de vestígios arqueológicos

Foto: Acervo Scientia

Raizeira do município de Paranatinga (MT) apresenta ervas medicinais locais tradicionalmente utilizadas.

Foto: Acervo Scientia

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No caminhamento ao longo de rodovias, ferrovias e em áreas pavimentadas de centros urbanos, os arqueólogos verificam vestígios do relevo original, eventuais aterramentos, tipos de arruamento, equipamentos urbanos, edificações mais antigas. Muitas vezes, o monitoramento (acompanhamento) arqueológico durante as obras de engenharia é um dos recursos utilizados para a inspeção do subsolo, em busca de materiais e estruturas do passado.

Na área de estudo, o caminhamento com vistoria visual da superfície permite conhecer os elementos da paisagem e possíveis matérias-primas para confecção de utensílios, armas e ferramentas; no caminhamento também se buscam vestígios arqueológicos na superfície do solo ou em perfis de barrancos. Muitas vezes, é preciso limpar a

vegetação e realizar furos-teste, cujos sedimentos retirados são peneirados.

As fotos são da pesquisa na área de inserção do Ramal Ferroviário S11D (PA).Fotos: Acervo Scientia

Município de Mogi das Cruzes (SP): registro de arruamento e edificações antigas: residência antiga na rua Ricardo Vilela e detalhe do Beco do Sapo.Fotos: Acervo Scientia

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»Escavação arqueológica5. Quando um sítio arqueológico é identificado, tem sua área delimitada. Se o sítio requer o resgate, este é realizado por meio de uma escavação controlada na qual são coletados cuidadosamente os materiais arqueológicos preservados no solo. Na área escavada, buscam-se locais de maior ou menor concentração de materiais, verificam-se as turbações do solo, e outras características apresentadas nos níveis escavados. Nos locais de maior ocorrência de vestígios, abrem-se unidades arqueológicas maiores. Os sedimentos retirados são peneirados para identificação de eventuais vestígios muito pequenos, como microlascas de rocha, pequenos fragmentos de ossos, de cerâmica, pequenos objetos. Ao final dos trabalhos, as unidades arqueológicas voltam a ser recobertas, para preservar as estruturas ainda existentes.

5 As fotos referentes ao item Escavação são da pesquisa na área de inserção do Ramal Ferroviário Sudeste do Pará (PA, 2015) e pertencem ao acervo da Scientia.

Monitoramento arqueológico em área urbana durante a execução de obras, município de Santos (SP).

Execução de furo-teste e análise do sedimento.

Início de escavação de unidade arqueológica de 2 metros x 1 metro.

Todo o processo de escavação ocorre com total controle de níveis e registro minucioso de todo o trabalho por meio de fotos, desenhos, descrições, medidas, gráficos etc

Fotos: acervo Scientia

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O croqui a seguir, é um exemplo de registro que permite visão geral dos resultados dos furos-teste executados num sítio arqueológico.

Levantamento da localização dos materiais arqueológicos com a estação total ou taqueômetro.

Imagem aérea, registro dos furos-teste realizados na área do sítio e indicação da densidade de material arqueológico, indicando possibilidade de ampliação da área de escavação.

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Decapagem de nível arqueológico identificado na unidade.

Desenho do perfil estratigráfico para verificação de camadas arqueológicas e naturais do solo.

Ampliação da área escavada e evidenciação de vasilha cerâmica.

Documentação durante escavação de vasilha cerâmica.

Pesquisadores escavam vasilha cerâmica fragmentada, sítio São Luís 2, município Canaã dos Carajás (PA).

Registro da orientação e ângulo de inclinação das peças arqueológicas cerâmicas.

Peneiramento integral dos sedimentos escavados, a seco.

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Terminada a escavação, o sítio arqueológico é cercado e identificado como patrimônio cultural protegido. A conservação do local é importante também para futuras pesquisas.

»Laboratório6. Todos os registros de campo e todo o material escavado são encaminhados para o laboratório, onde estudos especializados e multidisciplinares serão realizados.

Os pesquisadores limpam, numeram, catalogam, remontam e analisam os materiais arqueológicos coletados em campo, organizam os dados da pesquisa, somando-os aos registros da escavação ou do monitoramento e aos dados iniciais de contextualização da pesquisa.

Seguem-se a interpretação dos dados obtidos na análise, o relacionamento de todas as informações da pesquisa, a elaboração de relatórios.

6 As fotos apresentadas no item Laboratório referem-se aos trabalhos nas unidades de Florianópolis e São Paulo da Scientia e pertencem ao acervo da Scientia Consultoria.

Após as escavações, fechamento da unidade arqueológica.

Cerquite de proteção do sítio São Luiz 4 e sinalização. Sinalização indicando trecho da estrada que não poderá ter obras.

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Higienização do material arqueológico.

Numeração dos fragmentos cerâmicos com uso de tinta nanquim e “bico de pena”.

Medição dos fragmentos e desenho das peças.

Remontagem de fragmentos e recuperação de vasilhames cerâmicos do período pré-colonial.

Processo de triagem de material cerâmico.

Análise de artefato em microscópio.

Remontagem de fragmentos e recuperação de vasilhame de louça do período histórico.

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Os resultados dos trabalhos são encaminhados ao Iphan.

O conjunto de ações realizadas em gabinete, campo e laboratório permite aos pesquisadores identificar e recuperar aspectos da identidade de uma população, entender como viveu em tempos de paz ou de guerra, como utilizou os recursos naturais, se houve comércio com outros grupos, e assim por diante.

Ações educativas7. Por meio de ações de Educação Patrimonial, os resultados das pesquisas são divulgados para os profissionais participantes das obras de engenharia do empreendimento e para moradores da região. Os objetivos dessas atividades – palestras, oficinas, cursos, exposições e outros – são dar a conhecer o patrimônio arqueológico local e regional, apresentar seu valor cultural, provocar reflexões acerca da sua preservação e conservação.

Podem também ocorrer ações mais amplas de divulgação científica ou jornalística.

7 As fotos referentes ao item Ações Educativas pertencem ao acervo da Scientia Consultoria.

Confecção de prancha com registro da decoração do fragmento cerâmico e projeção do perfil do vasilhame.

Sítio Bocaina 1, Projeto RFSP.

Elaboração de relatórios.

Elaboração de prancha ilustrando a localização e a projeção das formas das vasilhas cerâmicas escavadas em cada área do sítio arqueológico.

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Palestra para profissionais técnicos. Esclarecimentos e manuseio de peças arqueológicas para profissionais das obras durante a Semana Interna

de Prevenção de Acidentes no Trabalho (SIPAT).

Ações com profissionais ligados às obras de engenharia. Projeto de Arqueologia preventiva na área do Ramal Ferroviário Sudeste do Pará, Parauapebas (PA).

Ações em comunidades rurais.

Encontros e oficinas com agricultores, professores, alunos – Comunidades de Roça Grande e Altamira, Município de Alto Alegre do Pindaré (MA).

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À esquerda, oficina Gravuras Rupestres na Casa da Scientia, município de Porto Velho (RO). À direita, oficina Diversidade Cultural realizada pela Casa da Scientia, município de Juruti (PA).

Oficina Escavação Arqueológica Simulada; município de Santos (SP).

Exposição de painéis e formação de docentes no Museu de Santo André, município de Santo André (SP).

Ações com alunos de escolas municipais.

Ações em parceria com museus municipais.

Palestras e oficinas com alunos e comunitários – Município de Juruti (PA).À esquerda, Comunidade Tabatinga; à direita, Comunidade Bomquidoi

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Os bens culturais arqueológicos podem ser os únicos testemunhos que ficaram de populações que não existem mais. Eles podem nos contar detalhes da vida de antigamente, como é o caso dos bens arqueológicos já conhecidos na região de Carajás e que remontam a um passado muito remoto, como apresentam os capítulos 4 e 5 deste livro. Quando se destrói um bem arqueológico, perde-se uma informação única, que jamais poderá ser recuperada. Por isso, é preciso agir corretamente no caso de materiais arqueológicos serem encontrados:

»Não retirar os objetos do lugar. A posição em que eles permaneceram é muito importante para o estudo;

»Avisar os achados à Secretaria de Cultura do município, ou a pesquisadores que estejam atuando na região, além de comunicar ao Iphan.

É importante conhecer nosso patrimônio, nossa história e transmiti-los às futuras gerações. Somente assim poderemos garantir a preservação tanto dos bens culturais que já temos, quanto dos que estamos continuamente construindo e por cuja proteção cada um de nós também é responsável.

O patrimônio é a herança que nossos antepassados nos deixaram e que continuamos a produzir, a transformar e que transmitiremos para as novas gerações. Proteger o patrimônio é garantir que estes bens continuem a atuar como testemunha de nossa existência, de nossas experiências, realizações e sonhos.

Exposição no Museu Histórico e Cultural de Jundiaí, município de Jundiaí (SP). A formação de docentes (foto à esquerda) permitiu trabalho com alunos dos cursos de Ensino para Jovens e Adultos (EJA) (foto à direita).

“Só se preserva aquilo que se ama e só se ama aquilo que se conhece”.

Aloísio Magalhães*.Magalhães apud IBRAM. Programa para a Gestão de Riscos ao Patrimônio Musealizado Brasileiro. Brasília: IBRAM: MINISTÉRIO DA

CULTURA, 2013, p. 5.

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Leitura complementar. Datações

A.C., D.C.; A.P.; B.P.; A.D. – o que será tudo isso? 1

A Arqueologia se vale de diferentes formas para datar os vestígios estudados, utilizando-se tanto de cronologias relativas (ou aproximadas) quanto de cronologias absolutas (exatas).

Cronologias relativas. O solo se dispõe em camadas naturais, nas quais o estrato mais antigo é o que está mais profundo, e o estrato mais recente é aquele mais próximo da superfície atual – desde que não tenha havido perturbações (por escavações de animais, por eventos naturais ou por interferência humana). Assim, os vestígios de antigas populações porventura existentes nessas camadas obedeceriam a essa ordem de tempo: sabe-se, portanto, o que é mais antigo, o que é mais recente, mas não é possível elaborar uma linha de tempo com esses dados, apenas uma sequência relativa do tempo mais recente para o tempo mais antigo.

Quando o arqueólogo organiza e classifica o material estudado em tradições arqueológicas também utiliza uma forma de datação relativa, pois cada grupo de materiais apresenta padrões ou características específicas que são localizadas no tempo e no espaço – como os padrões da moda, por exemplo.

A periodização geológica e a histórica também são formas de indicar uma datação relativa: pode-se inserir um conjunto de vestígios num período definido por eventos climáticos ou geológicos (por exemplo: Era do Gelo ou períodos glaciais; marcas de erupções vulcânicas ou de antigos mares nas camadas do solo); por critérios econômicos (por exemplo: período da Revolução Industrial na Europa); ou por uma mudança de modo de vida (por exemplo, o período colonial no Brasil, que trouxe mudanças importantes para os indígenas e também para os europeus que aqui se estabeleceram).

Cronologias absolutas. A utilização de métodos físicos e químicos para datação absoluta dos vestígios arqueológicos não significa, necessariamente, a definição de datas fixas como no nosso calendário. Em geral, essas datações referem-se a períodos de tempo nos quais se podem situar os eventos. Por exemplo, fragmentos de cerâmica podem receber datação de

(...) 1.249 +- 42 A.D., [que situa a data do evento, no caso a fabricação da cerâmica] entre o período de 1.207 e 1.291 de nossa Era e não uma data definida no calendário (agosto de 1.200 d.C.). (CRUZ E PANACHUK, 2014, p. 80).

Quais são os principais métodos utilizados para obtenção de datações absolutas?

Métodos radiométricos: baseiam-se em um fenômeno físico de declínio de determinado isótopo. No caso do método radiocarbônico, do potássio-argônio e das séries de urânio ocorre o decaimento dos seguintes elementos químicos, respectivamente, C14, K40, U235 e U238 (BICHO, 2006, p. 235).

Existem ainda outros métodos radiométricos, que utilizam a exposição à radiação de determinado elemento, como a luminescência: a termoluminescência (TL ou OSL (sigla em inglês, que significa luminescência opticamente estimulada), a ressonância de Spin e rastos de fissão (BICHO, 2006, p; 235).

Aqui nos interessam os dados a respeito de datações por radiocarbono, ou C14, e por termoluminescência ou TL.

Radiocarbono ou C14. É um dos métodos mais conhecidos e mais utilizados entre os profissionais da Arqueologia. Devido a essa descoberta, finalizada na década de 1940, o cientista americano Willard Libby (1908-1980), recebeu o prêmio Nobel de Química em 1960 (BICHO, 2006).

O carbono é um elemento químico encontrado em todos os organismos vivos na forma dos isótopos C12, C13

e C14, sendo que o primeiro é bastante estável e o último radioativo (daí o nome radiocarbono, ou carbono radioativo). A formação do isótopo ocorre na alta atmosfera e o C14 se liga ao nitrogênio formando o dióxido de carbono radioativo (14C02) que se dispersa e atinge a superfície terrestre. A maioria do dióxido de carbono é absorvida pelo oceano e uma pequena parcela é incorporada na biosfera através da fotossíntese. As plantas fotossintéticas estão em equilíbrio com a quantidade de C14 da atmosfera, e devido ao processo metabólico, ao se alimentar destas plantas os organismos vivos irão obter a quantidade de C14 e ficarão estáveis em relação à quantidade de C14 e C12 da atmosfera.

Vale dizer que o C14 é instável, mas seu processo de formação é contínuo, o que permite a estabilidade do

1 Adaptação do texto e reprodução de imagens: CRUZ E PANACHUK, 2014, p. 79-84

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elemento. No organismo vivo este isótopo também é instável, mas é reposto com a dieta alimentar. No entanto, quando o organismo morre, sua taxa de C14 decairá a um ritmo constante, a chamada meia-vida, que no caso do C14 é de 5.730+-30 anos. Para obter a datação, é preciso que os especialistas comparem a taxa de decaimento do isótopo com a taxa inicial, estabelecendo assim o lapso de tempo para o evento, a própria datação.

Em geral, nas pesquisas arqueológicas, a datação é feita com carvões vegetais encontrados nos sítios arqueológicos. Muitos cuidados precisam ser tomados para que a amostra não seja contaminada, e mesmo assim, quando se obtém o resultado físico-químico (a própria data) é necessário interpretar este dado, entender o que ele significa dentro do contexto humano tratado. É importante lembrar de que a duração da meia-vida do carbono não faz desse método de datação o melhor para as datações muito antigas – porque, quanto mais antiga a data que se deseja obter, maior o lapso temporal obtido, e maior o erro padrão. Ou seja, para uma amostra de 500 anos o erro do método será de 50 anos, mas para uma amostra de 50.000 anos o erro será de 2.700 anos (BICHO, 2006, p. 240).

Termoluminescência ou TL. Diferentemente do radiocarbono, é um método que averigua o acúmulo de certo elemento em decorrência da radiação.

O procedimento consiste na exposição da amostra que se quer datar à radiação. Em teoria, este tipo de teste é mais indicado para datação de objetos muito antigos.

Para solicitar uma datação por termoluminescência é preciso obter uma estrutura cristalina, como os elementos minerais dentro de um fragmento cerâmico ou mesmo uma peça lítica feita de rochas cristalinas (como o quartzo). Esta amostra, em laboratório, será exposta à radiação por determinado elemento. Depois, os especialistas medirão a quantidade de elétrons que ficaram presos nas imperfeições da estrutura cristalina, e descobrirão a dose de radioatividade que a amostra recebeu desde a sua formação, chamada paleodose. A exposição do cristal à luz ou à radiação desalojará os elétrons que ficaram presos nas imperfeições cristalinas, fazendo-os operar com um nível mais baixo de energia, próximo ao equilíbrio atômico, e emitirá uma luz ultravioleta (a luminescência). A energia da luz emitida de uma amostra é proporcional ao número de elétrons liberados durante a exposição à radiação pelo cristal, a própria paleodose.

Modos de registrar o tempo.

Os profissionais da Arqueologia utilizam várias maneiras de marcar o tempo e várias delas são usadas como equivalentes, como se explica a seguir.

d.C. = depois de Cristo A.D. = Anno Domini (Ano do Senhor)

As siglas referem-se à Era atual, ao período em que vivemos: o ano de 2017 D.C. ou de 2017 A.D. é o ano corrente.A referência a Cristo ou ao Senhor significa que a contagem do tempo tomou por base o nascimento de Jesus Cristo, calendário adotado universalmente, embora cada religião mantenha uma cronologia diferenciada de

acordo com sua tradição e crenças. Nesta Era Cristã, a contagem do tempo se faz de modo crescente a partir do ano 1 ou +1.

a.C. = antes de Cristo

A sigla refere-se ao período anterior ao nascimento de Jesus Cristo, ou anterior à Era Cristã. A contagem do tempo se faz de modo decrescente, a partir do ano –1. Para esta contagem, não existe o ano zero.

A figura a seguir explica essas questões.

Convenções cronológicas com base no nascimento de Jesus Cristo (CRUZ E PANACHUK, 2014, p 82).

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A.P. = antes do Presente

A sigla refere-se a uma convenção própria dos profissionais da Arqueologia.O presente arqueológico é marcado a partir do ano de 1950 da Era Cristã*, que equivale ao ano zero ou marco inicial. Como fazer a conversão entre as datas do ano-calendário e as datas do calendário arqueológico iniciado no ano de 1950?

- Se a datação estiver no período Depois de Cristo, é preciso subtrair.- Se a datação estiver no período Antes de Cristo, deve-se somar.

* Em 1950, completaram-se dez anos do advento da datação pelo método do Carbono 14 (C14).

As figuras a seguir ajudam a entender essa questão:

Conversões entre unidades cronológicas A.D e A.P. (CRUZ E PANACHUK, 2014, p. 82).

Conversões entre unidades cronológicas, A.C. e A.P. (CRUZ E PANACHUK, 2014, p. 83).

Agora você poderá entender melhor os dados referentes a datações obtidas para sítios arqueológicos que se encontram nos capítulos 4 e 5.

Ministério do Meio Ambiente (Disponível em: http://www.mma.gov.br/. Acessado em: 28/9/2016); ICMBio, 2016)

(http://www.carajasojornal.com.br/noticias/item/3957-conselho-aprova-criacao-do-parque-nacional-campos-ferruginosos-de-carajas.html; http://www.canaadoscarajas.pa.gov.br/noticia/1000/canaa-e-parauapebas-poderao-receber-parque-nacional-em-2017.pmcc. Acesso em 3 de fevereiro de 2017. http://portalcanaa.com.br/site/canaa-dos-carajas/icmbio-promoveu-visita-a-area-proposta-para-criacao-do-parque-nacional-campos-ferruginosos/; http://www.icmbio.gov.br/portal/ultimas-noticias/20-geral/8960-governo-cria-parque-nacional-e-amplia-tres-ucs. Acesso em 9 de outubro de 2017).

O PASSADO MUITO ANTIGO NA REGIÃO de Carajás

Capítulo 4

O passado muito antigo

Há certos dados sobre a nossa história que só podemos ter acesso por meio das pesquisas arqueológicas. Para períodos muito antigos, os vestígios arqueológicos são a única fonte de informação que temos. E, valendo-se de pesquisas multidisciplinares, a Arqueologia obtém cada vez mais e melhores respostas sobre o imenso quebra-cabeça da história das populações que viveram em nossa região bem antes de nós.

Ao contrário do que muitos ainda pensam, a Arqueologia não estuda e nem procura ossos de dinossauros. Quem faz esse trabalho são os paleontólogos e não os arqueólogos. A Arqueologia é uma ciência social como a Antropologia, a História, a Sociologia e tem como objeto de estudo as sociedades humanas do passado. O que ela tem de especial é que a sua principal fonte de informação é a cultura material das sociedades, ou seja, os objetos inteiros ou fragmentados que foram produzidos em diferentes matérias-primas e que, em conjunto, podem auxiliar no entendimento sobre o modo de vida dos diferentes grupos sociais do passado (CRUZ e PANACHUK, 2014, p. 75-76).

Exemplos de cultura material

Imagens: acervo Scientia

Vasilha cerâmica remontada, sítio Fazenda Bocaina 2, projeto RFSP.

Apliques cerâmicos zoomórficos, sítio Fazenda Bocaina 1, projeto RFSP

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Relembrando o que já foi discutido no Capítulo 3, o patrimônio arqueológico abrange todos os vestígios dos povos do passado que nos ajudam a contar a sua história, como os restos de suas casas, os objetos que produziram, os seus instrumentos de trabalho, as armas, os enfeites, as pinturas, enfim, tudo o que é possível encontrar em um sítio arqueológico.

Contextualizando

Para entendermos os processos históricos, culturais, sociológicos, econômicos etc., que ocorreram ao longo dos milhares de anos de ocupação humana na região do Sudeste Paraense, assim como conhecer os modos de vida, particularidades e universalidades das sociedades que ali viveram, é preciso um contexto mais amplo, que começa com a colonização do Continente Americano em um ambiente muito diferente do que conhecemos hoje.

Durante o intervalo de tempo compreendido entre o final da última glaciação (ca. 18.000 AP)1 e o começo do pós-glacial (ca. 10.000 AP) populações humanas colonizaram as Américas, a última região do planeta a ser ocupada pelo Homo sapiens (exceto a Antártica) e estavam habitando uma vasta variedade de sistemas ecológicos ao redor do mundo. Mais notadamente, durante o período entre 13.000 e 8.000 anos atrás, a história da humanidade presenciou mudanças econômicas extraordinárias, de uma economia forrageira universal em direção ao desenvolvimento e à difusão de estratégias de produção alimentar (i.e., domesticação de plantas e animais) (KIPNIS, 2003).

1 Ca. é abreviatura de cerca de, isto é, aproximadamente.

Ponta de projétil, sítio Fazenda Bocaina 1,

projeto RFSP.

Lâmina de machado, sítio Fazenda Bocaina 1,

projeto RFSP.

Fragmento de provável adorno polido, sítio São

Luiz 2, projeto RFSP.

Vasilha cerâmica remontada, sítio Fazenda Bocaina 1, projeto RFSP

Vasilha cerâmica remontada, sítio Fazenda Bocaina 2, projeto RFSP Vasilha cerâmica remontada, sítio

Fazenda Bocaina 1, projeto RFSP.

“(...) a diversidade dos testemunhos históricos é quase infinita. Tudo o que o homem diz ou escreve, tudo o que fabrica, tudo o que toca pode e deve informar-nos sobre ele”.

Marc Bloch (2001, p. 79)

Fotos: acervo Scientia

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Após o final do Último Máximo Glacial, ca. 18.000 anos atrás, grandes áreas do planeta foram colonizadas por populações humanas pela primeira vez, o número de assentamentos humanos aumentou, a mobilidade das sociedades de caçadores-coletores reduziu, o processo inicial da domesticação de plantas e de animais teve início, mudanças significativas no modo de processar e armazenar alimentos ocorreram, e organizações políticas e sociais ficaram mais complexas. Apesar de que algumas destas mudanças terem sido generalizadas, elas tiveram uma temporalidade diferente e variações locais. Por exemplo, no Oriente Médio e na Mesoamérica recursos alimentares provindos de plantas e de animais silvestres que, apesar de estarem disponíveis anteriormente na natureza não eram muito explorados, tornaram-se repentinamente importantes, se não dominantes, elementos da dieta local no final do Pleistoceno e no começo do Holoceno. Na Austrália e nas terras baixas da América do Sul, as mudanças nas estratégias de subsistência em conjunto com o aparecimento de novas tecnologias e mudanças no padrão de assentamento ocorreram mais tardiamente, próximo ao Holoceno Médio, bem depois das primeiras evidências de mudanças similares em outras regiões, e não associadas às grandes mudanças climáticas do Pleistoceno Terminal (KIPNIS, 2003).

É com este cenário como pano de fundo que começamos a dar sentido nos achados arqueológicos da região amazônica em geral, e em específico de Carajás.

Arqueologia em Carajás

A região de Carajás possui um grande potencial arqueológico. Segundo o Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos do Iphan (Iphan, 2016) quase duas centenas de sítios arqueológicos já foram identificados nos municípios de Parauapebas e Canaã dos Carajás. A diversidade de sítios identificada na área inclui: sítios líticos a céu aberto ou em cavidades; sítios lito-cerâmicos a céu aberto ou em cavidades; oficinas líticas de polimento; sítios com gravuras ou pinturas rupestres a céu aberto ou em cavidades; e, históricos, como o sítio Boa Vista, que apresenta uma antiga casa de farinha.

O que é Glaciação? Termo que se refere a um período de resfriamento da temperatura média da Terra, provocando a expansão das geleiras (ou glaciares) nos polos e em zonas montanhosas, e provocando mudanças no relevo continental e no nível do mar. O clima da terra é cíclico, passando por períodos mais frios (glaciais) e períodos mais quentes (interglaciais). Alguns estudos afirmam que, em média, uma fase glacial dura 100 mil anos com temperaturas muito baixas, e uma fase interglacial dura 10 mil anos com temperaturas mais quentes.

O que é Último Máximo Glacial? Designação dada ao último episódio de glaciação da Terra, quando os glaciares estavam em suas máximas extensões, o que ocorreu, aproximadamente, há 18.000 anos.

O que é Pleistoceno? Época geológica que durou entre 2.588.000 a 11.000 anos atrás, abrangendo os últimos períodos glaciais da Terra. O fim do período Pleistocênico corresponde ao fim do último ciclo de glaciação da Terra.

O que é Holoceno? O período Holocênico é o período interglacial, ciclo climático de temperaturas médias da Terra mais quentes, que vivemos hoje, o qual teve início cerca de 11.000 anos atrás.

Sítio a céu aberto NV-XV sendo delimitado, projeto Níquel do Vermelho.

Sítio em cavidade NV-10 sendo escavado, projeto Níquel do Vermelho.

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Apesar da grande quantidade de sítios arqueológicos já conhecidos e do altíssimo potencial arqueológico da região de Carajás, ainda são poucos os sítios arqueológicos escavados extensivamente, bem datados e analisados. Portanto, muitas outras informações precisam ser conhecidas, inúmeras questões ainda carecem de respostas. Daí a importância dos projetos de arqueologia que vêm ocorrendo na região. No entanto, existem informaçãoes suficientes para conhecimento de sociedades distintas como se verifica a seguir.

Arqueologia dos caçadores-coletores

Os sítios de caçadores-coletores - isto é populações que baseavam sua subsistência na caça, na coleta e na pesca - inserem-se na categoria de “sítios líticos” e são de extrema importância científica para elucidar uma problemática que data do final da década de 1960, referente à possibilidade ou não de a floresta amazônica fornecer condições ecológicas favoráveis a uma ocupação humana baseada na caça e na coleta de alimentos.

As hipóteses mais antigas (Lathrap, 1968; Lynch, 1978) advogam contra a possibilidade de a Amazônia ter oferecido sustentabilidade para sociedades caçadoras-coletoras. Esses autores defenderam que a floresta amazônica não oferece condições ecológicas favoráveis para uma ocupação baseada na caça e coleta, pois, segundo eles, os grupos caçadores-coletores ao entrarem na América do Sul, não ocuparam a Amazônia, ou logo se tornaram, ali, agricultores, hipótese que não se limita à Amazônia, mas abrange outras regiões de florestas tropicais (BAILEY, HEAD, et al., 1989; BIRD-DAVID, 1992; HEADLAND e REID, 1989; HEADLAND e BAILEY, 1991; LEE, 1991; SHOTT, 1991; SOLWAY e LEE, 1990; SPETH, 1991; WILMSEN e DENBOW, 1990).

Já as hipóteses mais recentes propõem que as florestas tropicais são, em geral, deficientes em carboidratos (carbohydrate-limited) e, consequentemente, sistemas de subsistência baseados em caça e coleta seriam viáveis somente quando carboidratos, provenientes de sociedades horticultoras, estivessem disponíveis por meio de troca (Bailey, Head, et al., 1989; Bailey, 1991) ou de “saque” (BALÉE, 1994, 1998). Ou seja, segundo essa concepção, a ocupação da Amazônia por grupos humanos caçadores-coletores só seria viável após uma ocupação da região por grupos horticultores, assumindo implicitamente que a vegetação da Amazônia, em torno de 10.000 anos atrás, seria predominantemente uma floresta tropical.

Os autores Piperno e Pearsall (1998) defendem um modelo no qual as primeiras sociedades de caçadores-coletores teriam colonizado a Amazônia, coexistindo com uma megafauna hoje extinta. Essas populações teriam concentrado suas atividades de subsistência na caça desta megafauna, já que sua exploração traria um retorno maior em comparação à exploração de outros recursos e de outras áreas menos favoráveis do ponto de vista econômico. Com a diminuição e a extinção da megafauna, os grupos de caçadores-coletores voltaram-se para áreas menos favoráveis e para recursos com retorno energético menor, processo este que teria resultado na domesticação de plantas e desenvolvimento de uma economia baseada na horticultura há cerca de 7.000 atrás.

Sítio lito-cerâmico, Fazenda Bocaina 1, projeto RFSP. Sítio Cavidade N4WS-17, Área 1. Vista para o Norte no Interior da Cavidade, Salão 2 e Escavação Área 1.

Fotos: Acervo Scientia

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Baseando-se em estudos arqueológicos recentes, Kipnis (2002a, 2002b) tem sugerido que desde os primórdios das ocupações humanas na região, a estratégia de subsistência adotada pelas populações humanas baseava-se na coleta de frutos e tubérculos, complementada por caça e pesca; um padrão presente tanto na Amazônia (Gnecco, 1994, 1999; Gnecco e Mora, 1997; Roosevelt, 1996; Roosevelt, Douglas e Brown, 2002) como no Brasil Central (KIPNIS, 2002a, 2002b).

O que é megafauna? Termo habitualmente utilizado para designar o conjunto de animais de grandes proporções corporais que conviveram com a espécie humana.

A extinção da megafauna ocorreu simultaneamente em diferentes lugares do mundo por uma conjunção de fatores climáticos (como o aquecimento do planeta) e antrópicos (como a coexistência com a espécie humana, que pode ter dizimado diversas espécies através da caça e competição por alimentos).

Na savana africana ainda são encontrados alguns grandes animais remanescentes da megafauna, como o elefante africano (o maior animal terrestre do mundo); a girafa (o mais alto) e o leão (o maior dos felinos). Há remanescentes da megafauna também nos oceanos, como a baleia azul e o tubarão-baleia. Todos eles estão em risco de extinção pela ação humana.

No Brasil, entre os animais mais conhecidos da megafauna já extinta estão os mastodontes, antepassados dos elefantes; as preguiças-gigantes de 5 toneladas; e, os gliptodontes, tatus do tamanho de um carro. Durante milhares de anos, esses animais gigantes fertilizaram a bacia amazônica ao espalhar nitrogênio, fósforo e outros nutrientes contidos em seus excrementos.

Fóssil de uma preguiça-gigante (Eremotherium laurillardi), animal que habitava todo o território brasileiro e que foi extinto há, aproximadamente, 10.000 anos. Poderia pesar até 4 toneladas e atingir 6 metros de comprimento e 4 metros de altura.Foto: Acervo do Houston Museum of Natural Science via Wikimedia Commons.

Fóssil de um tigre-dentes-de-sabre (Smilodon populator), animal que habitava todo o território brasileiro e que foi extinto há, aproximadamente, 4.000 anos. Com 2,5 metros de comprimento e 1,5 metro de altura, ele poderia pesar até 350 quilos.Foto: Acervo do Natural History Museum of New York (Domínio Público).

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Para Kipnis, essas sociedades eram baseadas em redes de interações sociais como estratégias para lidar com a instabilidade ambiental. Em outras palavras: com o aumento populacional, as sociedades intensificaram as suas redes sociais (que facilitariam o movimento dentro e entre territórios) e/ou através da criação de redes de trocas. Essas últimas teriam sido mais eficientes em períodos tardios, quando o meio ambiente se tornou mais estável e quando a agricultura estava sendo praticada em regiões como as margens dos grandes rios.

A arqueologia amazônica, e em específico de Carajás, é crucial para o estudo das hipóteses mencionadas. As pesquisas arqueológicas nas grutas da região de Carajás foram reveladoras de uma grande antiguidade ocupacional para a área de estudo, por populações caçadoras-coletoras, produtoras de artefatos de pedra lascada, que ocuparam intensivamente essas grutas por um longo período de tempo (MAGALHÃES, 1994).

A Gruta do Gavião, em Carajás, foi o primeiro sítio da Amazônia brasileira a apresentar evidências de ocupações humanas na floresta durante todo o Holoceno (ver Quadro 1). As escavações na Gruta do Gavião evidenciaram níveis de ocupação datados entre 8.140 e 2.900 AP (SILVEIRA, 1994; MAGALHÃES, 1994). A importância da Gruta do Gavião não se restringe às datas antigas, mas deve-se, sobretudo, ao material arqueológico associado a essas datas: indústria lítica, estruturas arqueológicas (fogueiras) e restos de alimentação (fauna e flora).

A escavação de uma gruta com evidências similares às da Gruta do Gavião, a Caverna da Pedra Pintada, na região de Santarém, gerou dados que estendem a ocupação da região para um período em torno de 11.000 anos atrás (ROOSEVELT, 1996, 1998; ROOSEVELT, DOUGLAS e BROWN, 2002).

Pesquisas recentes realizadas pela Scientia Consultoria Científica, em conjunto com a CVRD em Carajás (Kipnis, Caldarelli e Oliveira, 2007) têm demonstrado a importância da arqueologia de Carajás para a arqueologia Amazônica e das Américas como um todo. Não só a antiguidade da ocupação humana na região tem sido corroborada, como a presença de um registro arqueológico que abrange todo o período o Holoceno (ver Quadro 1).

Escavações na entrada principal da Gruta do Gavião.Foto: Luiz Braga. Arquivo CVRD.

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Quadro 1. Datações radiocarbônicas em A. P. (Anos Antes do Presente) de amostras coletadas durante escavação realizadas pelo Museu Paraense Emílio Goeldi nas cavidades da região de Grande Carajás.

SÍTIO UNIDADE NÍVEL CAMADA DATAÇÃO A.P. LABORATÓRIO

Gruta do Gavião

T"D" corte 20-30 - 2900±90 Teledyne Isotoptes 1-14,910

T"C" Q2 25-30 - 3605±160 GX 12512

T"C" Q1 15-20 - 4860±100 Teledyne Isotoptes 1-14,911

T"A" Q2 5-10 - 6905±50 GX 12509

T"D" corte 30-40 - 7925±45 GX 12511

T"B" Q1 35-40 - 8065±360 GX 12510

Gruta da Guarita A8 45 2 8260±50 BETA 110703

Gruta do Rato E2 40 3 7040±50 BETA 110705

C4 55 4 8470±50 BETA 110706

Gruta do Pequiá

I8 20 2 8119±50 BETA 110700

M8 25 2 8340±50 BETA 110702

O9 40 3 8520±50 BETA 110701

N5 50 4 9000±50 BETA 110699Fonte: Magalhães (2005) e Silveira (1994).

É interessante notar que as pesquisas na região de Carajás têm se concentrado, desde seu começo, nas cavidades associadas à exploração do minério de Ferro. Até o momento, não foram identificados sítios associados às ocupações pré-ceramistas a céu aberto, vestígios de assentamentos não naturalmente abrigados de caçadores-coletores, o que se explica pela maior dificuldade de identificação desses sítios, provavelmente enterrados em estratos mais profundos do solo.

Contudo, estudos em outras áreas da região amazônica têm evidenciado ocupações do final do Pleistoceno e início do Holoceno, associados a sítios a céu aberto que têm demonstrando uma grande diversidade cultural das primeiras populações que colonizaram a Amazônia (Barse, 2003; Oliver, 2008); em Provincial e Pozo Azul Sur-2, na Venezuela (Caldarelli, Costa e Kern, 2005); em Breu Branco, no estado do Maranhão (Gnecco, 1994, 1999; Gnecco e Mora, 1997, 2003); em San Izidro e Peña Roja, na Colômbia (Oliver e Alexander, 2003) e em El Jobo e Rio Pedegra, na Venezuela.

Quadro 2. Datações radiocarbônicas em A. P. (Anos Antes do Presente) de amostras coletadas durante escavação das cavidades da região de Grande Carajás.

SÍTIO UNIDADE NÍVEL DATAÇÃO A.P. C13/C12 BETA DATAÇÃO CALIBRADA AP

NV-IV

Quadra B3-D 20-25 5490±70 -26.0 210852 6320 a 6270 e 6240 a 6210

Quadra E5-A 40-45 2230±50 -25.5 210854 2330 a 2150

Quadra D5-B 90-100 3180±50 -26.4 210853 3460 a 3360

Quadra E5-B 185-190 5600±40 -25.4 210855 6410 a 6320

NV-V

Quadra H11-A 25-30 1070±40 -25.8 210856 990 a 940

Quadra F11-C 70-75 8680±40 -28.8 210857 9690 a 9560

Quadra D17-A 90-100 8850±40 -26.4 210858 10130 a 10060 e 9950 a 9890

Quadra D17-C 200-210 3650±40 -24.9 210859 4060 a 4050 e 3990 a 3900

N4WS-017

Sondagem 2 20-30 7680±100 -27.3 215051 8560 a 8380

Sondagem 1 20-30 8090±50 -25.9 215049 9030 a 9000

Sondagem 1 40-50 8310±60 -25.2 215050 9430 a 9 260

N4WS-012

Sondagem 1 70-80 6980±70 -26.4 215052 7860 a 7710

Sondagem 2 110-120 7960±60 -24.8 215055 9000 a 8650

Sondagem 2 40-50 7970±70 -26.2 215054 9000 a 8650

Sondagem 1 130-150 8240±90 -25.7 215053 9400 a 9340 e 9320 a 9040

N4WS-005Sondagem 2 30-40 8110±60 -25.6 215056 9100 a 9000

Sondagem 2 50-60 8050±70 -24.6 215057 9020 a 8980 e 8820 a 8800Fonte: Kipnis et al. (2007).

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Quadro 2. Datações radiocarbônicas em A. P. (Anos Antes do Presente) de amostras coletadas durante escavação das cavidades da região de Grande Carajás.

SÍTIO UNIDADE NÍVEL DATAÇÃO A.P. C13/C12 BETA DATAÇÃO CALIBRADA AP

N4WS-010Sondagem 2 20-30 2360±70 -26.4 215058 2450 a 2410 e 2380 a 2330

Sondagem 2 70-80 1070±40 -29.0 215059 990 e 940

N5E-006Trad. 5A1 20-30 4690±130 -26.8 205579 5660 a 5030 e 5010 a 4990*

Trad. 5A2 30-40 1020±40 -24.5 205580 980 a 910*

S11D-012Sondagem 2 20-30 2350±50 -25.5 205573 2470 a 2320*

Sondagem 2 0-10 2380±60 -25.6 205574 2710 a 2560 e 2540 a 2320*

S11D-001Sondagem 2 20-30 5750±40 -23.2 205575 6650 a 6440*

Sondagem 2 70-80 4120±50 -24.6 205576 4830 a 4510 e 4480 a 4440*

S11D-101Sondagem 3 30-40 1580±70 -25.7 205577 1610 a 1320*

Sondagem 3 50-60 3160±50 -29.3 205578 3470 a 3310 e 3300 a 3260* Fonte: Kipnis et al. (2007).

A Arqueologia dos horticultores

A ocupação da bacia do rio Itacaiúnas por sociedades horticultoras – ou seja, que se ocupavam do cultivo de verduras, legumes, plantas, flores e frutas – produtoras de cerâmica é conhecida desde 1965, quando Napoleão Figueiredo (1965) analisou uma coleção cerâmica coletada por Protásio Frikel em antigas aldeias Xikrin, mas não associada a esta etnia. Com traços da Tradição Tupiguarani, pela primeira vez registrada no Sudeste do Pará, a cerâmica analisada foi denominada de fase Itacaiúnas (SIMÕES, 1972). Vasilhames cerâmicos eram utilizados para armazenar alimentos e líquidos, e para cozinhar.

Os estudos realizados pelo Museu Paraense Emílio Goeldi, entre 1983 e 1995, levaram à descoberta de 51 sítios cerâmicos a céu aberto, “sendo quatorze no rio Itacaiúnas, trinta no Parauapebas, seis no rio Novo e um no ‘Igarapé do 30’, em Curionópolis” (Magalhães, 1994, p. 32) e 13 sítios cerâmicos em cavidades (Magalhães, 2005).

Segundo Magalhães (1994), as pesquisas realizadas levaram à coleta de cerca de uma tonelada de material arqueológico, composto predominantemente de material cerâmico, mas também de diversos artefatos líticos.

O material cerâmico correspondia a umas poucas vasilhas completas e a inúmeros fragmentos de vasilhas, compreendendo vasos e assadores. Muitos fragmentos apresentavam decoração, cujas características remetiam à Tradição Tupiguarani (SIMÕES, 1986).

Mais recentemente, novos sítios a céu aberto foram objeto de pesquisas arqueológicas realizadas pela Scientia, sendo sete sítios no Níquel do Vermelho, um no Manganês do Azul, e um na área da Barragem do Gelado, na Serra Norte (SCIENTIA, 2006, 2007b, 2008b, 2008c).

Vasilhas cerâmicas da região

de Carajás, restauradas:

vasos utilitários.Fonte: Magalhães (1994). Fotos: Luiz Braga. Acervo: MPEG. Arquivo: CVRD.

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Quanto aos artefatos líticos, confeccionados em matérias-primas diversificadas (basalto, diabásio, andesito, granito e gnaisse, com predominância da primeira), o artefato mais comum correspondeu a lâminas de machado polidas, utilizadas principalmente para corte de madeira. Embora fora de contexto, também foi encontrado, na região, um machado em formato semilunar, possivelmente um artefato de uso ritual chegado à região através de intercâmbio com outras tribos indígenas.

As escavações arqueológicas no sítio a céu aberto denominado “NV-XVII”, na região do Níquel do Vermelho, evidenciaram uma ponta de projétil apresentando técnica de lascamento bifacial, ou seja, em ambas as faces do projétil, extremamente bem feita. A ponta está associada à ocupação ceramista datada, aproximadamente, entre 300 a 900 anos atrás. Recentemente, outra ponta de projétil foi evidenciada em escavações arqueológicas realizadas na área do projeto Cristalino (Scientia, 2012), também associada a uma ocupação de populações horticultores/ceramistas. 

Vasilhas cerâmicas da região de Carajás, restauradas. Lado esquerdo: urna funerária. Lado direito: assador de beiju.Fonte: Magalhães (1994). Fotos: Luiz Braga. Acervo: MPEG. Arquivo: CVRD.

Fragmentos de cerâmica com decoração plástica, da área de Carajás.Fonte: Magalhães (1994). Fotos: Luiz Braga. Acervo: MPEG. Arquivo: CVRD

Fragmentos de cerâmica com decoração pintada policroma, da área de Carajás.Fonte: Magalhães (1994). Fotos: Luiz Braga. Acervo: MPEG. Arquivo: CVRD.

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A presença de ponta de projétil é extremamente rara na Amazônia (MEGGERS e MILLER, 2003; NEVES, 2006). As poucas pontas conhecidas da região pertencem a colecionadores e seu contexto arqueológico não é conhecido (MEGGERS e MILLER, 2003). Roosevelt (1996), desenterrou fragmentos de pontas na caverna Pedra Pintada, datadas em torno de 9.000 a.C., e Neves e colegas (Neves, 2006) encontraram uma ponta em um barranco de areia, que mais tarde foi caracterizado como um sítio arqueológico, sítio Dona Stella, e datado entre 7.000 e 6.500 a.C. Silveira e Oliveira (2011) relatam sobre uma pequena ponta de projétil apresentando técnica de

Lâmina de machado polida, semilunar.

Lâmina de machado polida, oval. Lâmina de machado polida, fragmentada, em forma de T.

Artefatos líticos de populações ceramistas agricultoras de Carajás.Fonte: Magalhães (1994). Fotos: Luiz Braga. Acervo: MPEG. Arquivo: CVRD.

Ponta da projétil evidenciada na escavação da unidade D0/210 (UTM: 0643740/9290480), nível 0-20 centímetros, sítio Cristalino 2.

Fonte: Acervo Scientia.

Ponta da projétil evidenciada na escavação da unidade N100-W50, nível 10-20

centímetros, sítio NV-XVII.Fonte: Acervo Scientia.

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lascamento bifacial, muito bem lascada em quartzo, encontrada do sítio Mirim na região do Salobo. Segundo Silveira e outros (2008), a ponta estava associada a carvões datados em aproximadamente 6 mil anos.

As pontas evidenciadas nos sítios NV-XVII e Cristalino 2 apresentam forma bem diferente das raras pontas conhecidas da bacia amazônica, e também podem estar associadas a sociedades ceramistas. O fato de as duas pontas com maior antiguidade terem sido confeccionadas em quartzo, e as duas mais recentes em sílex, talvez seja indicativo de diferenças culturais e cronológicas.

É importante ressaltar, no entanto, que os sítios Tupiguarani anteriormente mencionados representam uma ocupação longa na região, entre 280 e 1.510 AD (Magalhães, 1994) e foram todos encontrados a céu aberto.

Paralelamente, pesquisas no Baixo Tocantins (Costa, 1983) também identificaram sítios da Tradição Tupiguarani, mostrando que o território de ocorrência desta tradição arqueológica no Sudeste do Pará era mais amplo do que se supunha. Novas pesquisas na região comprovaram uma ampla presença de sítios Tupiguarani na área (ALMEIDA, 2008; ALMEIDA e GARCIA, 2008; SCIENTIA, 2008b, 2009c). Datações recentes geradas pelas pesquisas da Scientia Consultoria Cientifica colocam esta ocupação na região de Canaã dos Carajás entre 410 e 1.360 AD.

Ponta de projétil do sítio Dona Stella (ca. 7.000 a.C.).Fonte: Neves, 2006.

Ponta de projétil em quartzo, sítio Mirim (Flonata/Salobo, PA).Fonte: Acervo MPEG.Foto: Claudia Rocha. (Silveira e Oliveira 2011).

Pote com pintura branca sob engobo vermelho; sítio arqueológico NV-XIV.

Pote com decoração plástica incisa: sítio arqueológico NV-XIV.

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É importante ressaltar que objetos cerâmicos foram encontrados também em grutas, os quais não apresentavam as mesmas características daqueles anteriormente mencionados.

A cerâmica identificada nas grutas da região serrana de Carajás é possivelmente mais antiga que a cerâmica Tupiguarani dos sítios a céu aberto. Segundo Magalhães (1994, 2005), foi localizado material cerâmico em 13 dos abrigos prospectados na Serra Norte. As pesquisas realizadas pela Scientia Consultoria identificaram 12 sítios arqueológicos com material cerâmico associados a cavidades e abrigos na Serra Norte, um na Mina do Azul e dez no Corpo D da Serra Sul. Na Serra Norte há datações contemporâneas com as datações da cerâmica Tupiguarani, ca. 1000 AD, mas há também datações mais recuadas (ca. 2000 a 4000 BP), assim como na Serra Sul. Todos esses estudos precisam ser mais aprofundados.

Na região do Níquel do Vermelho, cinco sítios arqueológicos em cavidade apresentaram ocupações ceramistas, três delas datadas entre 240 AD a 1.000 AD.

A problemática dos ceramistas que ocuparam os abrigos sob rocha da região de Carajás, uma incógnita até pouco tempo, começa a ser desvendada por pesquisas arqueológicas orientadas especificamente para esses sítios.

Vasilha reconstituída a partir de fragmentos: sítio arqueológico NV-XIV.

Sítio Morada Nova 4: fragmentos de bojo de vasilha com listras vermelhas pintadas (esquerda) e pintura branca

com motivos geométricos sobre engobo vermelho (direita).

Vasilhas cerâmicas de contorno simples, não decoradas. À esquerda, coletada em gruta da Serra Norte. À direita, em gruta na Serra Sul.

Acervo MPEG - Foto: Luiz Braga - Arquivo CVRD - Fonte: esquerda (MAGALHÃES, 1994) e direita (SCIENTIA, 2006).

Fonte: Acervo Scientia.

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Essas pesquisas têm procurado obter mais dados cronológicos que permitam saber se essa ocupação ceramista das grutas pode ter sido ao menos parcialmente contemporânea das ocupações Tupiguarani a céu aberto, ou se podem ter relação com os antigos caçadores-coletores não ceramistas que também ocuparam as cavidades naturais da área.

As pesquisas arqueológicas no Ramal Ferroviário

Uma das ações recentemente realizadas na região de Carajás, no âmbito do Licenciamento Ambiental, foi o Programa de Arqueologia Preventiva nas Áreas de Influência do Ramal Ferroviário Sudeste do Pará – RFSP pela Scientia Consultoria Científica (SCIENTIA, 2013A; SCIENTIA, 2013B; SCIENTIA, 2015A; SCIENTIA, 2015B; SCIENTIA, 2016A; SCIENTIA, 2016B).

Os objetivos desse programa envolveram a prevenção de danos ao patrimônio arqueológico nas áreas atingidas pelas obras de construção do Ramal Ferroviário, com a identificação e delimitação de sítios arqueológicos, o resgate e a análise da cultura material, o registro do ambiente que serviu como assentamento e território de captação de recursos das populações indígenas do passado, a produção de conhecimentos preliminares sobre a ocupação pré-colonial da área e, por fim, o esclarecimento aos profissionais direta e indiretamente ligados ao empreendimento sobre as características e significado do patrimônio arqueológico regional.

O Projeto de Arqueologia Preventiva na área do Ramal Ferroviário Sudeste do Pará (RFS11D) e o passado muito antigo

Capítulo 5

O que é o Ramal Ferroviário Sudeste do Pará ou RFS11D? O Ramal Ferroviário S11D (RFS11D) é um empreendimento construído e operado pela VALE S.A., com extensão total de 101,1 quilômetros e integra o sistema logístico de escoamento de produtos oriundos da Província Mineral de Carajás, ligando o Complexo S11D Eliezer Batista à Estrada de Ferro Carajás (EFC), transportando o minério produzido até o Terminal Portuário Ponta da Madeira, localizado em São Luís, no estado do Maranhão.

O Ramal Ferroviário S11D teve suas atividades construtivas iniciadas em agosto de 2013 e concluídas em julho de 2016, cumprindo com o cronograma planejado. A linha férrea acompanha o limite leste e sudeste da Flona de Carajás, e segue em paralelo ao rio Parauapebas, no município de mesmo nome, e ao rio Sossego, no município de Canaã dos Carajás, até alcançar a área do Complexo S11D Eliezer Batista.

Desmatamento para abertura do Ramal Ferroviário.Foto: Acervo Scientia.

Construção de trecho do Ramal Ferroviário.Foto: Acervo Scientia

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Procurando identificar e registrar qualquer vestígio arqueológico que possa ocorrer na área de impacto direto do projeto, os arqueólogos realizaram caminhamentos e furos-teste ao longo do trajeto por onde passaria o Ramal Ferroviário, seguindo rigorosa metodologia científica. Os “furos-teste” são buracos feitos manualmente com uma cavadeira articulada para se verificar a existência de vestígios arqueológicos embaixo da terra.

Este trabalho identificou 11 sítios arqueológicos, sendo sete no eixo do Ramal Ferroviário e quatro sítios nas estradas que serão utilizadas para acessar o traçado. Em razão de alguns sítios não se encontrarem em áreas diretamente afetadas pelo empreendimento, nem todos precisaram ser escavados. Sendo assim, os resgates consistiram na escavação de nove sítios arqueológicos.

Mapa de localização do empreendimento RFSP, entre os municípios de Canaã dos Carajás e Parauapebas, no estado do Pará

(Acervo Scientia).

Localização dos sítios arqueológicos identificados pela Scientia no projeto do Ramal Ferroviário

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São Luiz 1

O sítio arqueológico São Luiz 1 se caracteriza por ser unicomponencial, lito-cerâmico, a céu aberto e está situado no município de Canaã dos Carajás (PA). Situa-se próximo ao sítio arqueológico São Luiz 4, com limites que atingem a margem direita do rio Parauapebas. A ferrovia interceptou apenas parte do limite sul do sítio, no sentido oeste-leste.

Uma antiga estrada não pavimentada, anterior ao empreendimento, cruzava o sítio no sentido oeste-leste, o que provocou um impacto na parte central do sítio, por meio da remoção das suas camadas superiores, causando a exposição de numerosos materiais arqueológicos ao longo do seu traçado.

O que é sítio unicomponencial? Um sítio arqueológico unicomponencial é aquele que apresenta apenas uma sequência de ocupação, ou seja, que foi ocupado por um ou mais grupos de pessoas que compartilhavam de uma mesma forma de ocupação, cultura material e uso do espaço. Quando há uma sequência de ocupações superpostas como, por exemplo, uma ocupação histórica sobre uma ou mais ocupações pré-históricas, ou uma ocupação de um grupo ceramista sobre uma ou várias ocupações de grupos sem cerâmica ou mesmo outros grupos ceramistas distintos etc., o sítio é classificado como “multicomponencial”.

Mapa da paisagem do sítio arqueológico São Luiz 1.Fonte: Acervo Scientia

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O material arqueológico foi encontrado em níveis superficiais e subsuperficiais. Entre os dez furos-teste positivos, quatro apresentaram material arqueológico no nível 0-20 centímetros e os outros seis apresentaram material no nível 20-40 centímetros. Com isso, pode-se perceber que há pontos isolados e dispersos de material arqueológico, numa quantidade muito pequena, sem apresentar nenhuma estrutura ou densa concentração.

O material cerâmico coletado no sítio arqueológico São Luiz 1, entre as atividades de prospecção e de escavação, contabilizou 3.188 fragmentos cerâmicos com estado de conservação regular, com quase 25% da coleção com processo erosivo e somente um pouco mais de 3% bem preservado, o que acabou por dificultar a análise de alguns critérios. Apesar desta dificuldade, a coleção cerâmica indica a hipótese de que o sítio São Luiz 1 esteja correlacionado a grupos indígenas “não-Tupi”. Este material cerâmico apresenta índice significativo de decorados, principalmente do tipo plástico, com modificação da superfície do vasilhame, majoritariamente de incisos1, seguidos por exemplares únicos da combinação de inciso com modelado2, aplicado3 e corrugado4. Há também fragmentos com decoração pintada e o combinado de decoração pintada e plástica incisa.

1 Inciso: tipo de decoração plástica que apresenta cortes realizados por um instrumento de ponta aguda na superfície cerâmica, por pressão ou arraste (CHMYZ, 1969, p. 15; LA SALVIA E BROCHADO, 1989, p. 36).

2 Modelado: decoração modelada à mão livre, alterando a superfície da parede de uma vasilha, ou formando, por exemplo, um aplique.

3 Aplicado: tipo de decoração plástica em que é colocada uma ou várias tiras ou bolas de argila, na superfície da cerâmica, com formas variadas (RIBEIRO, 1977, p. 50).

4 Corrugado: tipo de decoração plástica em que os roletes são ligados por meio de pressões com as pontas dos dedos na superfície da cerâmica, formando uma crista de forma semilunar como resultado do acúmulo de argila arrastada (BROCHADO, 1989, p. 35).

Decapagem de nível arqueológico, deixando as peças em evidência até o registro completo.

Fonte: Acervo Scientia

Fragmento cerâmico com decoração plástica incisa oblíqua, sítio São Luiz 1.

Fonte: Acervo Scientia.

Registro dos dados em campo.Fonte: Acervo Scientia

Fragmento cerâmico com decoração plástica corrugada, sítio São Luiz 1.

Fonte: Acervo Scientia.

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Já o material lítico analisado do sítio São Luiz 1 corresponde a 256 peças nas mais diversas matérias-primas, tanto em blocos como em seixos. Os detritos ocorreram nas diferentes matérias-primas identificadas e os maiores quantitativos apareceram nos quartzos e andesitos, confirmando o lascamento, isto é, a confecção de instrumentos pela retirada de lascas, na área.

Com relação aos instrumentos encontrados na coleção, foi possível perceber a utilização de uma série de matérias-primas para atividades relacionadas ao polimento, isto é, o alisamento das superfícies das peças após o lascamento. O polimento também foi utilizado para a modificação de suportes, isto é, as pedras originais (Branco, 2016) e produção de instrumentos, como é o caso da lâmina de machado identificada.

Instrumentos em seixos de quartzo; sítio São Luiz 1.Fonte: Acervo Scientia Lâmina de machado fraturada; sítio São Luiz 1.

Fonte: Acervo Scientia

Borda cerâmica com decoração plástica incisa e apliques modelados, sítio São Luiz 1.

Fonte: Acervo Scientia.

Borda cerâmica com aplique com decoração incisa, sítio São Luiz 1.

Fonte: Acervo Scientia.

Fragmentos cerâmicos com decoração pintada e incisa em padrão geométrico na face externa, sítio São Luiz 1.

Fonte: Acervo Scientia.

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São Luiz 2

O sítio arqueológico São Luiz 2 se caracteriza por ser unicomponencial, lito-cerâmico, a céu aberto e está situado na Fazenda São Luiz, no município de Canaã dos Carajás (PA). O sítio é delimitado a sul por um brejo que denuncia a presença de uma linha de água tributária do Parauapebas.

Realização de furo-teste com cavadeira manual.Fonte: Acervo Scientia.

Análise do sedimento do sítio.Fonte: Acervo Scientia.

Mapa da paisagem do sítio arqueológico São Luiz 1.Fonte: Acervo Scientia.

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O material cerâmico coletado no sítio arqueológico São Luiz 2 contabilizou 10.545 fragmentos cerâmicos em estado de conservação bastante prejudicado, com mais da metade da coleção com processo erosivo e menos de 1% bem preservado, o que dificulta a sua análise. Esta cerâmica caracteriza-se por fragmentos associados, majoritariamente, à porção de vasilhas (99,94%), apresentando decoração plástica corrugada, roletada5, espatulada6 e escovada7. Os incisos não apresentam grande variedade de padrões, assim como raros apliques. Há uma predominância de decoração pintada neste sítio em relação à decoração plástica, em ambas as faces, com predomínio de uso de pigmentos vermelhos e pretos, com diversas combinações de motivos, formando padrões geométricos compostos de linhas horizontais e transversais. O sítio apresenta cerâmica com características que permite vincular à Tradição Tupiguarani8.

5 Roletada: tipo de decoração plástica em que o rolete utilizado no processo de confecção do pote permanece aparente, não sendo realizada nenhuma outra atividade decorativa sobre ele (LA SALVIA E BROCHADO, 1989, p. 36).

6 Espatulada: tipo de decoração plástica resultante da ação de uma espátula sobre a superfície cerâmica, através de pressão ou arraste, com a deposição de argila no seu entorno (LA SALVIA E BROCHADO, 1989, p. 36).

7 Escovada: tipo de decoração que consiste em passar, na superfície ainda úmida do vasilhame, um instrumento com múltiplas pontas ou outro objeto que deixa sulcos bem visíveis, com superfície irregular, como, por exemplo, o sabugo de milho.

8 Trata-se da cerâmica produzida pelos falantes de língua relacionada à família Tupi-Gurani: cerâmica roletada, com antiplástico mineral, queima incompleta (a céu aberto), vasos com ângulos (carenas, ombros), decorações plásticas (corrugados, ungulados, digitados, incisos) e pintadas (vermelho, preto e branco) (BARRETO, LIMA, BETANCOURT, 2016, p. 601).

Coleta mapeada de uma vasilha fragmentada.Fonte: Acervo Scientia.

Fragmentos cerâmicos com decoração plástica incisa de linhas horizontais em bojos, sítio São Luiz 2.

Fonte: Acervo Scientia.

Fundo de vasilha escavada no sítio São Luiz 2.Fonte: Acervo Scientia.

Fragmentos cerâmicos com decoração plástica corrugada, sítio São Luiz 2.

Fonte: Acervo Scientia.

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O material lítico analisado do sítio São Luiz 2 totalizou 127 peças. As lascas foram as peças mais numerosas da coleção, produzidas principalmente de quartzo. A respeito dos instrumentos presentes na coleção, identificaram-se peças produzidas tanto por polimento quanto por lascamento.

Fragmentos cerâmicos com decoração pintada de linhas vermelhas e pretas na face interna, sítio São Luiz 2.

Fonte: Acervo Scientia.

Fragmentos cerâmicos com decoração plástica roletada, sítio São Luiz 2.

Fonte: Acervo Scientia.

Aplique cerâmico zoomorfo*.Fonte: Acervo Scientia.

Vasilha remontada em laboratório.Fonte: Acervo Scientia.

*Aplique: peça modelada de cerâmica com representação de fauna fixada na parede de vasilhas

*Núcleo unipolar: bloco de matéria-prima do qual foram retiradas lascas utilizando um percutor.

Instrumentos, sítio São Luiz 2.Fonte: Acervo Scientia.

Núcleos unipolares*, sítio São Luiz 2.Fonte: Acervo Scientia.

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São Luiz 3

O sítio arqueológico São Luiz 3 se caracteriza por ser unicomponencial, lito-cerâmico, a céu aberto e está situado no acesso ao km 58 do Ramal Ferroviário, no município de Canaã dos Carajás (PA). O acesso, anterior ao empreendimento, interceptou o sítio arqueológico, no sentido oeste-leste. Este acesso foi desativado pelo empreendimento. O sítio encontra-se coberto por vegetação secundária em ambas as porções que beiram a estrada. Algumas zonas apresentaram acesso dificultado pela presença de mata mais densa e cipozeiros. Durante as escavações, se notou a presença de tocas de tatu e formigueiros, muitas vezes responsáveis pela dispersão do material arqueológico.

Mapa da paisagem do sítio arqueológico São Luiz 3.Fonte: Acervo Scientia

Concentração de fragmentos cerâmicos na escavação, sítio São Luiz 3.

Fonte: Acervo Scientia.

Fragmento de vasilha em perfil da escavação.Fonte: Acervo Scientia.

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O material cerâmico coletado no sítio arqueológico São Luiz 3 contabilizou 798 fragmentos. Esses apresentam estado de conservação comprometido, com quase a metade da coleção com processo erosivo.

Esta cerâmica caracteriza-se por constituir fragmentos de vasilhas (100%), apresentando um índice significativo de decorados, sendo exclusivamente do tipo plástica na face externa. O tipo de decoração plástica mais popular foi o inciso, seguido da combinação de inciso com nodulado9, modelado ou aplicado. Os gestos decorativos empregados neste material implicam basicamente na execução de incisões na pasta e ao acréscimo de massa na superfície das vasilhas para aplicação e a modelação de apliques. As incisões são rasas e largas, majoritariamente, com linhas horizontais e transversais em composição.

Nesta coleção, há um elemento decorativo que chama bastante a atenção: apliques com representações figurativas aplicados no pescoço e inflexões ou carenas, localizados na borda ou no bojo superior da vasilha. Não foram identificadas feições humanas, apenas apliques zoomorfos representando animais, ou aqueles não identificados, os biomorfos, ou seja, representam organismos vivos, embora não identificados.

A inexistência de padrões decorativos plásticos, como corrugado, ungulado e o inciso fino e pinturas cromáticas associados aos Tupi, levantam a hipótese de que o sítio São Luiz 3 seja correlacionado a grupos “não-Tupi”. Outro elemento decorativo neste sítio associado aos conjuntos “não-Tupi” é o conjunto de modelados zoomorfos.

Os apliques zoomorfos ou biomorfos apesar de ocorrer também na Tradição Tupiguarani, conforme o levantamento dos modelados de argila realizado por Panachuk e Carvalho (2010) e os registrados por Pereira et al. (2008, p. 62-63) em sítios Tupiguarani em Carajás, não têm a mesma aparência e forma dos apêndices registrados na coleção do sítio São Luiz 3. Estes, seja pela técnica, forma e representação se aproximam mais dos registrados associados à Tradição Barrancoide. Apesar da ocorrência de apliques zoomorfos, há ausência

9 Nodulado: tipo de decoração plástica que apresenta pequenas porções de argila aplicadas ou repuxadas da superfície da cerâmica, com a aparência de nódulos (LA SALVIA E BROCHADO, 1989, p. 36).

Execução de furo-teste com cavadeira manual.Fonte: Acervo Scientia.

Desenho técnico de perfil estatigráfico de unidade já escavada.

Fonte: Acervo Scientia.

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completa de bordas com flanges10 no sítio São Luiz 3, as quais são elementos característicos da Tradição Borda Incisa/Barrancoide11.

10 Flange: tipo de apêndice semelhante a uma borda horizontal fixado na parte externa do vasilhame cerâmico (Souza, 1997, p. 56). As flanges são adicionadas em diferentes partes dos potes, podendo compor o lábio (flange labial), ou estar localizadas junto à parte central do vasilhame (flange mesial) ou junto à parte inferior (flange basal) (CHMYZ, 1976, p. 7). No que se refere às coleções estudadas as flanges sempre compõem os lábios (lábios tipo flange) e bordas. A diferença entre os lábios planos e as flanges labiais é que as últimas possuem, no mínimo, o dobro da largura da parede dos vasilhames e aparentam um “anel de saturno” fixado junto ao corpo do pote cerâmico.

11 Tradição Borda Incisa/Barrancoide: caracteriza-se por cerâmicas que apresentam decorações modeladas associadas a incisões e engobo vermelho datadas em torno dos primeiros séculos d.C. (BARRETO et al, 2016, p. 592-593).

Fragmentos cerâmicos com decoração plástica incisa com linhas transversais e

horizontais, sítio São Luiz 3.Fonte: Acervo Scientia.

Fragmentos cerâmicos de bordas com decoração plástica incisa horizontal, sítio São Luiz 3.

Fonte: Acervo Scientia.

Fragmento cerâmico com decoração plástica incisa com linhas horizontais e

transversais, sítio São Luiz 3.Fonte: Acervo Scientia.

Fragmentos cerâmicos com decoração de apliques zoomorfos.

Fonte: Acervo Scientia.

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109

O material lítico do sítio São Luiz 3 totalizou 26 exemplares com a ocorrência de lascamento em todas as matérias-primas presentes no sítio, com predominância do quartzo leitoso.

São Luiz 4

O sítio arqueológico São Luiz 4 se caracteriza por ser unicomponencial, lito-cerâmico, a céu aberto e está situado na Fazenda São Luiz, no município de Canaã dos Carajás (PA). Este sítio encontra-se nas proximidades do sítio arqueológico São Luiz 5, mas seus limites não atingem as margens do rio Parauapebas.

Lascas, sítio São Luiz 3.Fonte: Acervo Scientia.

Núcleos, sítio São Luiz 3.Fonte: Acervo Scientia.

Mapa da paisagem do sítio arqueológico São Luiz 4.Fonte: Acervo Scientia

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110

O material cerâmico coletado no sítio arqueológico São Luiz 4 contabilizou 655 fragmentos em estado de conservação comprometido, com quase a metade da coleção apresentando fatores de degradação danosos à análise da coleção, como erosão, arranhões e raízes. Esta cerâmica caracteriza-se por fragmentos associados à porção de vasilhas (100%), apresentando um índice muito pequeno de decorados, com decoração plástica incisa, acanalada12 e aplicada na face externa e apenas um fragmento pintado. Em geral, a decoração incisa não cobre toda a porção do recipiente, concentrando em uma porção deste, em geral no bojo superior. O padrão recorrente são os elementos retilíneos compostos por uma linha incisa horizontal, mais espessa na porção superior e inferior do pote, delimitando o motivo decorativo, formado por várias linhas incisas oblíquas para a direita e para a esquerda. A única peça pintada apresenta restos de pintura vermelha na face externa na porção de um bojo.

Suas características permitem vinculá-la à Tradição Tupiguarani na Amazônia, mais especificamente na região de Carajás, conforme documentado historicamente pelas pesquisas arqueológicas desde a década de 1960 (PEREIRA, SILVEIRA, et al., 2008).

12 Acanalada: tipo de decoração plástica que apresenta um pequeno sulco de fundo côncavo, por meio do arraste e afundamento da superfície cerâmica.

Escavação de unidade arqueológica em camadas naturais.

Fonte: Acervo Scientia.

Corte estratigráfico com a presença de fragmentos cerâmicos no perfil.Fonte: Acervo Scientia.

Fragmentos cerâmicos com decoração plástica incisa, sítio São Luiz 4: a, d, g) linhas horizontais e oblíquas; b) linhas oblíquas; c) linhas horizontais; e) curvilíneo; f) linhas entrecruzadas.Fonte: Acervo Scientia.

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111

No sítio São Luiz 4 foram coletadas 28 peças líticas, a maior parte confeccionada em quartzo leitoso. A respeito dos instrumentos identificados na coleção, é possível notar que no caso do seixo lascado, o grupo buscava as características desejadas no instrumento que se queria produzir já durante a seleção do suporte e, desta forma, com poucas retiradas de lascas e alguns retoques o instrumento almejado era produzido. Com relação à lâmina de machado, poucas informações se tem devido à sua fratura. Mas a partir desta peça se tem conhecimento de que o grupo utilizava a técnica de polimento para produção de instrumentos e provavelmente fazia uso de instrumentos polidos.

São Luiz 5

O sítio arqueológico São Luiz 5 se caracteriza por ser unicomponencial, lito-cerâmico, a céu aberto e está situado nas proximidades do km 54 do Ramal Ferroviário, no município de Canaã dos Carajás (PA). A ferrovia interceptou apenas a porção do limite sudeste do sítio.

A cobertura vegetal na área do sítio se apresenta como uma vegetação secundária com poucas árvores de médio e grande portes na porção oeste, próximo à estrada. Atividades bióticas em superfície são comuns como, por exemplo, ocorrência de formigueiros e minhocas, além de raízes de grande porte de tubérculos – interferências que remobilizaram vertical e horizontalmente o nível arqueológico identificado durante os trabalhos de escavação.

Instrumento lítico lascado.Fonte: Acervo Scientia.

Lâmina de machado do sítio, São Luiz 4Fonte: Acervo Scientia.

Lascas, sítio São Luiz 4.Fonte: Acervo Scientia.

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Mapa da paisagem do sítio arqueológico São Luiz 5.Fonte: Acervo Scientia

Furo-teste sendo executado na área do sítio.Fonte: Acervo Scientia.

Decapagem de nível arqueológico,sítio São Luiz 5.Fonte: Acervo Scientia.

Levantamento topográfico da área do sítio.Fonte: Acervo Scientia.

Perfil estratigráfico com as camadas arqueológicas.Fonte: Acervo Scientia.

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113

O material cerâmico coletado no sítio arqueológico São Luiz 5 contabilizou 6.713 fragmentos caracterizados por, majoritariamente, fragmentos associados à porção de vasilhas (99,68%), à exceção de uma bolota de argila e dez apliques avulsos.

As decorações plásticas ocorreram principalmente nas faces externas, com maior recorrência de incisos e acanalados, e as decorações pintadas nas faces internas, sendo a maioria correspondente a pinturas vermelhas e somente um caso de linhas pretas. Os incisos apresentaram-se com traços rasos e largos e finos, em composição de elementos retilíneos, repetição de linhas oblíquas, verticais e horizontais, formando padrões geométricos. Além disso, destacou-se na coleção de vasilhas a presença de inúmeros apliques zoomorfos e biomorfos. Acredita-se que o sítio esteja correlacionado a grupos “não-Tupi”.

Do sítio São Luiz 5 foram analisadas 548 peças líticas, com uma grande variedade de matérias-primas, sendo o quartzo do tipo leitoso a mais recorrente. Os instrumentos identificados na coleção demonstraram também uma variedade no modo de produção (presença de lascamento, polimento e picoteamento13) e nas prováveis utilizações (presença de peças que serviriam para polir e outras com gumes cortantes).

13 Picoteamento: produção de retoques ou de pequenas retiradas da pedra, por pressão ou por percussão.

Fragmentos cerâmicos com decoração plástica incisa com motivo de linhas transversais, sítio São Luiz 5

Fonte: Acervo Scientia.

Fragmentos cerâmicos com decoração plástica e pintada e decoração pintada em

linhas pretas na face interna, sítio São Luiz 5.Fonte: Acervo Scientia.

Fragmento com decoração plástica incisa com motivo de linhas transversais

intercaladas.Fonte: Acervo Scientia.

Fragmentos com decoração de apliques zoomorfos.

Fonte: Acervo Scientia.

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São Luiz 6

O sítio arqueológico São Luiz 6 se caracteriza por ser unicomponencial, lito-cerâmico, a céu aberto e está situado na estrada do acesso sete ao eixo do RFSP e segue até o km 62 do ramal ferroviário, próximo à margem direita do rio Parauapebas, na Fazenda São Luiz, no município de Canaã dos Carajás (PA). Neste sítio, no entanto, não foi necessário realizar o resgate arqueológico, em consequência da alteração de acesso ao traçado da ferrovia, permanecendo preservado na íntegra.

Na área foi identificado material arqueológico (cerâmico e lítico) em superfície e subsuperfície (até 30 centímetros de profundidade), além de vários fragmentos líticos no barranco do rio Parauapebas.

Exemplos das lascas encontradas, sítio São Luiz 5.Fonte: Acervo Scientia.

Instrumentos produzidos em seixos, sítio São Luiz 5.Fonte: Acervo Scientia.

Material lítico encontrado na superfície do barranco do rio Parauapebas, sítio São Luiz 6.

Fonte: Acervo Scientia.

Material lítico lascado coletado em subsuperfície, nível 60-70 centímetros, sítio São Luiz 6.

Fonte: Acervo Scientia.

Material cerâmico encontrado na superfície do barranco do rio Parauapebas, sítio São Luiz 6.

Fonte: Acervo Scientia.

Furo-teste sendo realizado para delimitação do sítio São Luiz 6.

Fonte: Acervo Scientia.

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115

O material cerâmico coletado no sítio arqueológico São Luiz 6 contabilizou 137 fragmentos associados à porção de vasilhas em estado de conservação parcialmente comprometido. Apresentou decoração plástica em apenas quatro peças, um fragmento é pintado e dois têm decoração plástica e pintada, presentes exclusivamente na face externa dos fragmentos cerâmicos. Entre os tipos de decoração plástica foram identificados somente o inciso e o corrugado. O padrão identificado são os elementos retilíneos compostos por linhas incisas horizontais e transversais. As três peças pintadas apresentaram restos de pintura vermelha, preta e vermelha e amarela na face externa na porção superior. Entre os fragmentos de bases, foi identificada a presença de fragmentos de cuscuzeira14.

Acredita-se que o sítio esteja relacionado à Tradição Tupiguarani, pela presença de fragmentos com decoração corrugada, típica desta tradição.

No sítio, também foram encontrados duas peças líticas, sendo uma lasca e um instrumento produzido sobre lasca.

14 Cuscuzeira: vasilha utilizada para processar o milho e fazer cuscuz, o que indicaria o cultivo de milho na região. Contudo, não se descarta outra finalidade para uma vasilha com a base furada.

Fragmentos cerâmicos com decoração plástica incisa com linhas horizontais, sítio São Luiz 6.

Fonte: Acervo Scientia.

Fragmentos cerâmicos com restos de pintura vermelha e amarela na face externa, sítio São Luiz 6.

Fonte: Acervo Scientia.

Fragmento com restos de pintura preta e decoração plástica incisa na face externa, sítio São Luiz 6.

Fonte: Acervo Scientia.

Fragmentos cerâmicos com decoração plástica corrugada, sítio São Luiz 6

Fonte: Acervo Scientia.

Fragmento cerâmico de base plana de cuscuzeira, sítio São Luiz 6, cat. nº 99.

Fonte: Acervo Scientia.

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Fazenda Bocaina 1

O sítio arqueológico Fazenda Bocaina 1 se caracteriza por ser unicomponencial, lito-cerâmico, a céu aberto e está situado na Fazenda Bocaina, no município de Canaã dos Carajás (PA). O sítio está localizado entre igarapés tributários do rio Parauapebas, em área de planalto, entre um conjunto de serras em todas as direções.

Instrumento produzido sobre lasca, sítio São Luiz 6.Fonte: Acervo Scientia.

Face ventral de lasca, sítio São Luiz 6.Fonte: Acervo Scientia.

Mapa da paisagem do sítio arqueológico Fazenda Bocaina 1.Fonte: Acervo Scientia.

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O material cerâmico coletado no sítio arqueológico Fazenda Bocaina 1 contabilizou 26.930 fragmentos cerâmicos, em estado de conservação regular, com aproximadamente 1/3 da coleção com processo erosivo e 14,92% bem preservado, caracterizado por fragmentos associados, majoritariamente, à porção de vasilhas (99,9%).

A decoração do material cerâmico apresentou um índice significativo de decorados, principalmente do tipo plástica na face externa e em menor escala na face interna. As decorações pintadas tiveram baixa representatividade, sendo utilizados pigmentos vermelho e preto, com alguns poucos associados com decoração plástica incisa. O tipo de decoração plástica mais popular foi o inciso, seguido por exemplares de acanalados, aplicados e modelados; além de diversas combinações entre essas técnicas decorativas. As incisões são, em geral, linha

Furo-teste sendo executado para delimitação do sítio.Fonte: Acervo Scientia.

Decapagem de nível arqueológico com material evidenciado.

Fonte: Acervo Scientia.

Vasilha cerâmica evidenciada durante a escavação in loco.Fonte: Acervo Scientia.

Escavação de área ampliada no sítio Fazenda Bocaina 1.Fonte: Acervo Scientia.

Evidenciação de vasilhas fragmentadas em unidade de escavação.

Fonte: Acervo Scientia.

Perfil estatigráfico sendo executado em unidade já escavada.

Fonte: Acervo Scientia.

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118

com traçado largo e raso ou fino e fundo, majoritariamente em composição de linhas oblíquas tanto à direita quanto à esquerda ou verticais intercaladas com faixas de linhas horizontais.

As decorações, sobretudo as incisas, são zonais formando um friso geométrico com repetição de um tema associado à borda ou à porção superior dos vasilhames, em forma de faixas decorativas compostas de linhas horizontais paralelas intercaladas com séries de linhas oblíquas à direita e à esquerda, formando uma espécie de espinha de peixe.

Há também a presença de elementos decorativos de apliques zoomorfos e biomorfos em composição com outros padrões decorativos, além de apêndices no lábio e alças no corpo de vasilhas. Esta cerâmica apresenta elementos decorativos associados aos conjuntos “não-Tupi”, apresentando além de apliques zoomorfos, bordas com flange, as quais são elementos característicos da Tradição Borda Incisa/Barrancoide.

Fragmentos cerâmicos aplicados com motivo zoomorfo, sítio Fazenda Bocaina 1.Fonte: Acervo Scientia.

Fragmentos cerâmicos com decoração plástica incisa nas bordas com flanges, sítio Fazenda Bocaina 1.Fonte: Acervo Scientia.

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Fragmentos cerâmicos com asas, sítio Fazenda Bocaina 1.Fonte: Acervo Scientia.

Fragmentos cerâmicos com alças, sítio Fazenda Bocaina 1.Fonte: Acervo Scientia.

Fragmento com decoração plástica incisa com motivo quadrangular.

Fonte: Acervo Scientia.

Vasilha remontada com decoração plástica incisa zonal.Fonte: Acervo Scientia.

Vasilha remontada com decoração plástica incisa.Fonte: Acervo Scientia.

Porção superior de vasilha remontada com par de apliques zoomorfos

Fonte: Acervo Scientia.

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120

No sítio Fazenda Bocaina 1 foram analisadas 295 peças líticas. Destas, quatro peças foram recuperadas em coletas de superfície e o restante do material é proveniente de unidades de escavação. A identificação das matérias-primas utilizadas neste sítio demonstrou o uso de uma grande variedade. As matérias-primas com maiores quantitativos foram o andesito e o quartzo leitoso, sendo o andesito a mais recorrente.

Fazenda Bocaina 2

O sítio arqueológico Fazenda Bocaina 2 se caracteriza por ser unicomponencial, lito-cerâmico, a céu aberto e está situado na Fazenda Bocaina, no município de Canaã dos Carajás (PA). O rio Parauapebas encontra-se a norte/noroeste do sítio, cerca de 600 metros do marco central. O igarapé que existe nos limites sul alaga sazonalmente até os dias atuais partes do sítio.

Instrumentos polidos no sítio Fazenda Bocaina 1.Fonte: Acervo Scientia.

Provável adorno lítico polido.Fonte: Acervo Scientia.

Exemplos das lascas encontradas, sítio Fazenda Bocaina 1.Fonte: Acervo Scientia.

Instrumentos polidos no sítio Fazenda Bocaina 1.Fonte: Acervo Scientia.

Coleta mapeada dos artefatos arqueológicos escavados.

Fonte: Acervo Scientia.

Vasilha fragmentada in loco.Fonte: Acervo Scientia.

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O sítio arqueológico Fazenda Bocaina 2 apresentou cerâmica com características que permite vinculação à Tradição Tupiguarani. A coleção foi composta quase que integralmente por fragmentos de vasilhas (99,66%). Contudo, havia sete bolotas de argila nesta coleção. Foram observados ainda fragmentos de base perfurados, o que sugere o uso de cuscuzeiras.

Quanto à decoração, o material cerâmico deste sítio apresentou um índice pouco significativo de decorados, principalmente do tipo plástica na face externa e pintada na face interna. Na pintura foram utilizados pigmentos vermelho e preto, formando principalmente faixas e superfícies, com alguns poucos fragmentos com padrão geométrico associado com decoração plástica incisa. O tipo de decoração plástica mais popular foi o inciso, seguido por exemplares de acanalado e corrugado; poucos roletado, ponteado15 e aplicado; além de alguns exemplos de aplique modelado.

As incisões são bastante finas, majoritariamente com linhas horizontais, tanto sozinhas quanto em composição com linhas oblíquas à direita e à esquerda. Nos exemplares com elemento decorativo compostos de apliques, estes são compostos por bolinhas de argila em composição, além de elementos modelados como apêndice no lábio. As decorações, sobretudo as incisas e pintadas, parecem ser zonais formando um friso geométrico com repetição de um tema associado à borda ou à porção superior dos vasilhames, com a dominância de linhas paralelas oblíquas, com câmbio de direção formando padrões triangulares.

15 Ponteado: tipo de decoração.

Mapa da paisagem do sítio arqueológico Fazenda Bocaina 2.Fonte: Acervo Scientia.

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No material lítico, a identificação das diferentes matérias-primas revelou grande variedade, sendo mais recorrente a utilização de diferentes tipos de quartzo e andesito. Também foi possível identificar a origem dos suportes de diferentes matérias-primas. A categoria das lascas foi a classe tecnológica com mais peças. A respeito dos instrumentos identificados na coleção, pode-se perceber grande variedade de matérias-primas e de utilização. Os instrumentos produzidos a partir de lascas são majoritariamente de quartzo.

Fragmentos cerâmicos com decoração plástica incisa transversal em bordas, sítio Fazenda Bocaina 2.

Fonte: Acervo Scientia.

Fragmentos cerâmicos com decoração plástica corrugada.Fonte: Acervo Scientia.

Fragmentos de vasilha com base perfurada (cuscuzeira).

Fonte: Acervo Scientia.

Fragmentos cerâmicos com aplique modelado com decoração plástica e incisa, sítio Fazenda Bocaina 2.

Fonte: Acervo Scientia.

Vasilha remontada, sem decoração.Fonte: Acervo Scientia.

Fragmento com decoração pintada apresentando restos de pintura vermelha e linhas vermelhas e pretas.

Fonte: Acervo Scientia.

O Projeto de Arqueologia Preventiva na área do Ramal Ferroviário Sudeste do Pará (RFS11D) e o passado muito antigo

123

MST-Palmares 1

O sítio arqueológico MST-Palmares 1 se caracteriza por ser unicomponencial, lito-cerâmico, a céu aberto e está situado nas proximidades do km 2 do RFSP, no município de Parauapebas (PA). Apresentou a prática de pecuária no local, com atividades de pastagem de gado bovino, que tem como consequência a presença de áreas de solo compactadas pelo pisoteamento. No setor leste do sítio foram detectados “buracos” que podem chegar até 50 centímetros de profundidade, com cerca de 1 metro de diâmetro, já completamente cobertos pela vegetação. Estes buracos parecem corresponder a estruturas abandonadas, eventualmente relacionadas com a extração de água em garimpo.

Exemplos das lascas de quartzo, sítio Fazenda Bocaina 2.Fonte: Acervo Scientia.

Núcleos bipolares, sítio Fazenda Bocaina 2.Fonte: Acervo Scientia.

Trabalhos de escavação no sítio MST-Palmares 1.Fonte: Acervo Scientia.

Exemplos das lascas de andesito, calcedônia e jaspelito, sítio Fazenda Bocaina 2.

Fonte: Acervo Scientia.

Instrumentos produzidos a partir de lascas, sítio Fazenda Bocaina 2.

Fonte: Acervo Scientia.

Perfil estratigráfico de unidades arqueológicas escavadas.

Fonte: Acervo Scientia.

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O material cerâmico coletado no sítio arqueológico MST-Palmares 1 contabilizou 5.559 fragmentos em estado de conservação comprometido, com quase a metade da coleção danificada por fatores de degradação, com prejuízo para análise. Esta cerâmica, majoritariamente, caracteriza-se por fragmentos associados à porção de vasilhas.

A decoração do material cerâmico deste sítio apresentou um índice muito pequeno de decorados, com decoração plástica do tipo corrugado e nodulado, em maior recorrência, e aplicado e inciso, têm apenas uma ocorrência cada. A decoração pintada corresponde a ocorrências com pinturas vermelhas, predominante na face interna.

Pontualmente, ocorrem furos de suspensão, relativos, possivelmente, à finalidade da vasilha, e um possível tortual de fuso16. Infelizmente, não foi possível reconstruir graficamente nenhuma das vasilhas deste sítio em decorrência do pequeno tamanho das bordas em relação ao pote. Desta forma, as possibilidades de análises ficaram escassas, não sendo possível aprofundar algumas questões, mas acredita-se que o material cerâmico esteja vinculado à Tradição Tupiguarani.

16 Tortual de fuso: também denominado de rodela de fuso ou peso de fuso, trata-se de peça confeccionada de cerâmica, também podendo ser de lítico e de outros materiais como madeira, utilizada no processo de fiação introduzindo uma vareta no orifício.

Mapa da paisagem do sítio arqueológico MST-Palmares 1.Fonte: Acervo Scientia.

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125

O sítio arqueológico apresentou, também, 43 peças líticas. A presença de instrumentos polidos demonstra a provável utilização desta técnica no sítio, porém a fragmentação das peças dificulta a identificação dos objetivos do grupo ao produzi-las.

RFSP 1

O sítio arqueológico RFSP 1 se caracteriza por ser unicomponencial, lito-cerâmico, a céu aberto e está situado nas proximidades do trecho onde está implantada a Pêra Ferroviária, no município de Canaã dos Carajás (PA). Localiza-se a aproximadamente 100 metros de um igarapé, numa área que sofreu supressão da vegetação natural para atividades agrícolas/pastoris.

Possível tortual de fuso cerâmico em confecção.Fonte: Acervo Scientia.

Fragmento cerâmico com furo de suspensão.Fonte: Acervo Scientia.

Instrumentos polidos presentes na coleção do sítio MST-Palmares 1.

Fonte: Acervo Scientia.

Instrumento lascado presente na coleção no sítio MST-Palmares 1.

Fonte: Acervo Scientia.

Escavação de unidade arqueológica.Fonte: Acervo Scientia.

Desenho de corte estratigráfico de unidade de escavação.Fonte: Acervo Scientia.

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O material cerâmico coletado no sítio arqueológico RFSP 1 contabilizou 760 fragmentos em estado de conservação comprometido e associados, majoritariamente, à porção de vasilhas.

A decoração da cerâmica apresentou um índice baixo, presente exclusivamente na face externa dos fragmentos cerâmicos, sendo, majoritariamente de decorados plásticos, e apenas um com decoração pintada e plástica. Entre os tipos de decoração plástica foram identificados o inciso, o corrugado, o ungulado17, além do beliscado18 e do aplicado.

Em geral, a decoração incisa não cobre toda a porção do recipiente, concentrando em uma porção deste, em geral na porção superior do vasilhame. Em todos os casos, o motivo decorativo inciso identificado é apenas um elemento retilíneo formado por uma única linha horizontal. O corrugado assume um espaço expressivo na coleção deste sítio não apenas pela frequência, mas por sua variedade e distribuição no corpo dos vasilhames cerâmicos. O material possui características que permite vinculá-lo à Tradição Tupiguarani.

17 Ungulado: tipo de decoração plástica composta de incisões produzidas pelas unhas sobre a superfície cerâmica, na forma de um arco (CHMYZ, 1969, p. 20).

18 Beliscado: tipo de decoração plástica resultante da ação de dois dedos em forma de pinça, pressionando a superfície da cerâmica, produzindo a elevação de uma porção da pasta ladeada pelas marcas das unhas (LA SALVIA E BROCHADO, 1989, p. 35).

Mapa da paisagem do sítio arqueológico RFSP 1.Fonte: Acervo Scientia.

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Foram encontradas também 23 peças líticas com baixa variedade de matérias-primas utilizadas, sendo majoritária a utilização do quartzo.

Rio Verde 1

O sítio arqueológico Rio Verde 1 se caracteriza por ser unicomponencial, lito-cerâmico, a céu aberto e situado nas proximidades do km 31 do RFSP, no município de Parauapebas (PA). Neste sítio, no entanto, não foi necessário realizar resgate arqueológico, em consequência da alteração de traçado da ferrovia entre os km 29 e km 36, permanecendo preservado na íntegra, após ser cercado e sinalizado.

Fragmentos cerâmicos com decoração corrugada em faixa associada à linha incisa.

Fonte: Acervo Scientia.

Fragmentos cerâmicos com decoração corrugada.Fonte: Acervo Scientia.

Lascas, sítio RFSP 1.Fonte: Acervo Scientia.

Instrumento, sítio RFSP 1.Fonte: Acervo Scientia.

Material cerâmico encontrado em área de plantio de mandioca, sítio Rio Verde 1.

Fonte: Acervo Scientia.

Material cerâmico encontrado em superfície, sítio Rio Verde 1.

Fonte: Acervo Scientia.

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O material cerâmico coletado no sítio arqueológico Rio Verde 1 contabilizou 89 fragmentos associados à porção de vasilhas, apresentando um índice muito pequeno de decorados, apenas três peças com decoração plástica na face externa: dois fragmentos com inciso e um com acanalado. O inciso apresentou elementos retilíneos compostos por linhas incisas horizontais e transversais em composição, formado por várias linhas incisas oblíquas à direita e à esquerda.

O sítio apresentou apenas uma peça lítica. Trata-se de uma lasca produzida em sílex fragmentada em parte da lateral e porção distal. Não é possível realizar uma abordagem mais profunda sobre o material lítico deste sítio, pois com apenas um fragmento de toda uma cadeia operatória, seria impossível entender as estratégias e escolhas relacionadas à indústria lítica, pelo grupo que ocupou o sítio Rio Verde 1.

Preservação do Patrimônio Arqueológico e Educação Patrimonial

O patrimônio arqueológico brasileiro é protegido pela Constituição Federal e por outras leis específicas. Essa proteção legal estende-se à permissão governamental para execução de obras – como usinas, fábricas, parques eólicos, rodovias, ferrovias, linhas de transmissão, minerações e outras. Geralmente, grandes obras causam profundas transformações nos locais onde são construídas. O governo brasileiro exige das empresas

Fragmentos cerâmicos com decoração plástica incisa, sítio Rio Verde 1.

Fonte: Acervo Scientia.

Face dorsal da lasca, sítio Rio Verde 1.Fonte: Acervo Scientia.

Fragmentos cerâmicos com decoração plástica acanalada no lábio, sítio Rio Verde 1.

Fonte: Acervo Scientia.

Face ventral da lasca, sítio Rio Verde 1.Fonte: Acervo Scientia.

O Projeto de Arqueologia Preventiva na área do Ramal Ferroviário Sudeste do Pará (RFS11D) e o passado muito antigo

129

responsáveis o licenciamento ambiental, isto é, conjunto de estudos que permitem planejar as mudanças, avaliar e diminuir os impactos possíveis ao meio ambiente e ao patrimônio. Os arqueólogos são responsáveis por parte importante dessas pesquisas: evitam ou reduzem danos aos sítios arqueológicos e permitem sua preservação.

Assim, sempre que um empreendimento potencialmente danoso ao patrimônio arqueológico é planejado, é necessário se realizar uma série de estudos sobre a região, o Licenciamento Ambiental, a fim de evitar ou diminuir o impacto.

A preservação do patrimônio arqueológico não se faz apenas registrando sítios e resgatando os artefatos das sociedades antigas, pois é preciso também ensinar a importância de se aprender sobre o passado (CALDARELLI, 2007). É preciso despertar uma curiosidade cidadã e corresponsável acerca do conhecimento de nossa história e sobre o papel que cada um pode desempenhar na proteção do patrimônio (PANACHUK, 2014, p. 31).

Para isso, ao mesmo tempo em que são feitos os trabalhos arqueológicos, são executadas atividades de educação patrimonial que visam o conhecimento, a apropriação e a valorização de nossa herança cultural, num processo contínuo de criação cultural.

As ações de Educação Patrimonial associadas ao Projeto de Arqueologia Preventiva na área de influência do Ramal Ferroviário Sudeste do Pará voltaram-se para dois públicos: os profissionais envolvidos direta e indiretamente nas obras e os educadores de Parauapebas e de Canãa dos Carajás, como multiplicadores junto às suas respectivas comunidades. A eles, por meio de estratégias diversificadas, apresentaram-se os seguintes temas:

»A Arqueologia como ciência; os bens arqueológicos como parte integrante do patrimônio cultural nacional;

»A pesquisa arqueológica no quadro do licenciamento ambiental de empreendimentos, com alertas para as implicações jurídico-legais de danos ao patrimônio arqueológico;

»Os resultados das pesquisas arqueológicas realizadas na região; a importância de divulgar essas informações como meio efetivo de conhecimento, de reconhecimento, de preservação e conservação do patrimônio arqueológico.

Todas essas atividades tiveram a finalidade de conscientizar, esclarecer e sensibilizar os professores e os profissionais ligados às obras do Ramal Ferroviário a respeito da importância dos sítios arqueológicos, da legislação vigente de proteção a esses bens e das consequências do não cumprimento de tais leis. Além disso, as atividades também discutiram o significado do patrimônio arqueológico regional e a importância de sua preservação.

Durante as obras, outras ações importantes visando a preservação dos sítios arqueológicos foram a manutenção da integridade dos sítios ainda não resgatados e daqueles que ficaram totalmente preservados. É possível evitar danos ao patrimônio arqueológico, causados involuntariamente ou por desconhecimento da localização do sítio arqueológico, por meio do monitoramento (acompanhamento) das obras por arqueólogos, do cercamento da área e da sinalização.

Os estudos dos vestígios e dos sítios arqueológicos exigem conhecimentos especializados e muito tempo de dedicação. Os resultados podem surpreender: permitem identificar muitos elementos culturais das sociedades que os produziram, sua vida cotidiana, e responder a muitas questões como quais os recursos ambientais que utilizaram ou quais as modificações que imprimiram aos ambientes em que viveram.

O que é Licenciamento Ambiental? É uma obrigação legal prévia à instalação de qualquer empreendimento ou atividade potencialmente poluidora ou degradadora do meio ambiente. O licenciamento ambiental envolve diversas áreas – a fauna, a flora, o meio socioeconômico - e o patrimônio cultural é uma das dimensões do meio ambiente. No caso do patrimônio cultural, o órgão do Governo Federal que deverá ser consultado preventivamente e que concederá ou não a licença para determinado empreendimento é o Iphan. É ele quem se manifestará sobre se um empreendimento ou atividade em processo de licenciamento irá ou não impactar ou destruir os bens culturais considerados patrimônio dos brasileiros, protegidos por tombamento.

Para saber mais acesse: http://portal.iphan.gov.br/

O Projeto de Arqueologia Preventiva na área do Ramal Ferroviário Sudeste do Pará (RFS11D) e o passado muito antigo

130

Colocação de sinalização para barrar o trânsito no caminho que atravessa o sítio São Luiz 6.

Fonte: Acervo Scientia.

Sinalização de alerta para os funcionários da obra sobre interdição das atividades nas proximidades

do sítio arqueológico.Fonte: Acervo Scientia.

Cerquite de proteção ao sítio São Luiz 4 e sinalização da existência do sítio arqueológico.

Fonte: Acervo Scientia.

Placa de sinalização da existência do sítio São Luiz 1.Fonte: Acervo Scientia.

Conversas com educadores de Parauapebas e de Canaã dos Carajás

Capítulo 6

Prezada educadora, prezado educador,

Este livro se dirige a você e aos seus alunos. Como você verificou durante a leitura, ele propõe uma caminhada que, a partir do presente, siga em direção ao passado recente e ao passado muito antigo nos atuais territórios municipais de Parauapebas e Canaã dos Carajás.

Nesse percurso temporal, os fios condutores são um conjunto diversificado de bens naturais e culturais da região de Carajás, alguns mais conhecidos, outros menos, mas todos colocados em perspectiva histórica – verdadeiros documentos que, à luz de pesquisas científicas, ajudam a construir um mosaico de informações e a responder perguntas como, por exemplo:

»Quais os aspectos do ambiente regional no passado? »Quais transformações ocorreram no ambiente devido a mudanças climáticas? »Quais sociedades humanas ocuparam a região no passado e qual foi o relacionamento delas com o ambiente? »Que vestígios ou marcas dessas alterações ambientais e ações humanas sobreviveram ao tempo? »Quais bens naturais e culturais indicam esse passado? »Como é o ambiente hoje, quais são os vestígios naturais e culturais do passado que neles permanecem? Por quais razões é importante sua conservação?

A sua mediação, docente, é fundamental para que o conteúdo apresentado – aspectos do meio ambiente e das ocupações humanas da região de Carajás, numa perspectiva histórica de longa duração – alcance os alunos de modo eficaz e contribua para sua formação como cidadãos conscientes e atuantes no que se refere à preservação e conservação do patrimônio natural e cultural.

Nesse sentido, para auxiliar esta tarefa, seguem: »Algumas sugestões de leituras e de vídeos para alunos e para professores; »Algumas propostas de atividades multidisciplinares/interdisciplinares para sala de aula, que poderão ser adaptadas aos diferentes conteúdos curriculares, níveis escolares e faixas etárias dos alunos; »Subsídios para incorporar às atividades encontram-se no Anexo deste capítulo.

Bom trabalho!

Equipe de Educação Patrimonial da Scientia Consultoria

Conversas com educadores de Parauapebas e de Canaã dos Carajás

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PARTE 1 – LEITURAS E VÍDEOS RECOMENDADOS PARA ALUNOS E PARA TRABALHOS EM SALA DE AULA.(livros impressos, publicações em mídia digital, sites e vídeos).

Título. Autor. Assunto. Capa. Título. Autor. Assunto. Capa.

Manual da Pré-história do Horácio, de Maurício de Sousa [Editora Globinho].

Conhecimento da Paleontologia e da Arqueologia, integração entre meio ambiente e

cultura. Propostas de atividades.

Manual do Papa-Capim, de Maurício de Sousa [Editora Globinho].

Costumes, mitos, brincadeiras, músicas indígenas. Propostas de atividades

interessantes.

Pindorama, terra das palmeiras, de Marilda Castanha[Editora Cosac-Naify].

Pré-história brasileira, diversidade cultural, conhecimentos, arte indígenas e influências

culturais indígenas na cultura brasileira atual. Belas ilustrações.

Coisas de Índio (versão infantil), de Daniel Munduruku [Editora Callis]

Conhecimento da diversidade cultural indígena e da cultura brasileira, respeito às diferenças

culturais e integração.

Histórias de Índio, de Daniel Munduruku [Editora Cia. Das Letrinhas].

Cultura Munduruku, depoimentos sobre a vida do índio no ‘mundo dos brancos’ e diversidade

étnica do Brasil indígena.

Uma aventura na Amazônia, de Daniel Munduruku [Editora Caramelo].

Passeio de ‘gente da cidade’ na floresta amazônica, guiado pelo indiozinho Koru e seu

macaco Tawé.

Aritana – O Índio que foi à Lua, de Ulisses Tavares [Editora DCL].

Proposta interativa: o autor permite construção de narrativas pelos leitores, a partir de palavras

de origem tupi destacadas no texto.

A criação do mundo, de Edson Guarani e Benedito Prezia [Editora Formato].

Recuperação de histórias sagradas e mitos, reflexões sobre a sabedoria e a poética que

apresentam. Propõe diálogo entre diferentes culturas e formas de conhecimento.

Viagem pelo Brasil em 52 histórias, de Silvana Salerno [Editora Cia. Das Letrinhas].

A cultura popular e a história do país por meio de lendas e contos tradicionais. Estímulo ao

levantamento de histórias locais.

Brasil Lendário, de Fatima Miguez [Editora DCL]

Lendas e mitos brasileiros em representações de autores nacionais, do período colonial aos

dias de hoje.

Amazonas: no coração encantado da floresta, de Thiago de Mello [Editora Cosac Naify].

O poeta Thiago de Mello reconta sete conhecidas lendas amazônicas, com base em

sua experiência pessoal.

História de Bichos Brasileiros – Folclore Brasileiro, de Vera do Val [Editora WMF].

Macacos, onças, jabutis, veados, coelhos, cotias e tartarugas em contos populares brasileiros.

A perigosa vida dos passarinhos pequenos, de Miriam Leitão [Editora Rocco].

Revolta dos passarinhos contra a falta de árvores na região em que vivem e resultados

alcançados.

A história de Chico Rei, de Beatrice Tanaka [Edições SM].

A realidade dos negros no Brasil colonial: diversidade cultural, escravidão, resistências à dominação e a história de Chico Rei. Carnaval, samba, conhecimentos e arte afro-brasileiros.

O Menino Marrom, de Ziraldo [Editora Melhoramentos].

Diálogos entre dois meninos de cores diferentes: suas questões e suas descobertas.

Histórias da preta, de Heloísa Pires de Lima [Editora Cia. Das Letrinhas].

A partir da chegada dos africanos ao Brasil, sua inserção na população e na cultura brasileiras.

Como é ser negro neste país?

História das Invenções, de Monteiro Lobato [Editora Globinho].

Como surgiram as invenções humanas, como extensões do corpo humano e como meios de

aumentar o poder de xx construir cultura*.

Memórias de Emília, de Monteiro Lobato [Editora Loyola].

Com a ajuda do Visconde de Sabugosa, Emília escreve suas aventuras. Foco no

registro das memórias.

Clássico da literatura brasileira infantojuvenil.* Disponível na Internet em: http://sitio.pmvs.pt/wp-content/uploads/2014/06/Hist%C3%B3ria_das_Inven%C3%A7%C3%B5es.pdf

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Título. Autor. Assunto. Capa. Título. Autor. Assunto. Capa.

Crianças como você, de Anabel e Barnabas Kindersley [Editora Ática].

O cotidiano de crianças em variados países, com objetos de cultura material e costumes.

Editado em associação com o UNICEF, Fundo das Nações Unidas para a Infância.

A História das Coisas, de Neal Layton. Tradução: Eduardo Brandão [São Paulo:

Companhia das Letrinhas]

História da criação dos objetos pelos homens, das transformações na vida das populações e

como cada pessoa pode utilizar seu engenho e modificar o mundo.

Giramundo, de Renata Meirelles [Editora Terceiro Nome].

Brincadeiras, cantigas, jogos e brinquedos tradicionais da Amazônia, resgatados com

crianças moradoras. Permite conhecimento das matérias-primas regionais e da construção

de brinquedos.

Vocabulário ambiental infantojuvenil, de Otavio Borges Maia.

Conceitos científicos sobre ambiente de forma lúdica e artística. Livro eletrônico. Disponível na Internet em: <http://unesdoc.unesco.org/

images/0022/002211/221194POR.pdf>

Guilherme Augusto Araujo Fernandes, de Mem Fox [Brinque Book].

Disponível somente como livro usado.

No seu relacionamento com idosos, um garoto entende o que é memória.

Descobrindo os tesouros do Cariri, de Lana Luiza Maia e Alexandre Sales [Fortaleza:

Editora Littere].

Explica as idades geológicas, a constituição dos continentes e a formação dos fósseis encontrados hoje na região do Cariri, no

estado do Ceará.

Caçadores de Fósseis, de Alexander Kellner [Instituto Ciência Hoje].

Seleção de 50 textos originalmente publicados na coluna mensal de mesmo nome na Ciência Hoje On-line (portal de divulgação científica do

Instituto Ciência Hoje).

Coluna ‘Caçadores de Fósseis’, por Alexander Kellner. Publicada mensalmente no site do Instituto Ciência Hoje.

Disponível na Internet em: <http://www.cienciahoje.org.br/coluna/p/id/6/n/cacadores_de_fosseis>. Acesso em 15 de

fevereiro de 2017.

Blog Fóssil Vivo. Informações interessantes sobre Paleontologia. Disponível na Internet em: <http://

fossilvivoufal.blogspot.com.br/>

Revista Ciência Hoje das Crianças.

Coluna De volta à Pré-História. Vários temas. Disponível na Internet em: <http://chc.org.br/>

Título. Direção Capa Título. Direção Capa

Povos Indígenas no Brasil mirim.

Dados, notícias, atividades e jogos. Disponível na Internet em:

<https://mirim.org/>. Acesso em 16 de janeiro de 2017.

CD “Ñande Reko Arandu - Memória Viva Guarani”. Disponível na Internet em: <www.

youtube.com/watch?v=l469uaunv6A>; <https://pt-br.facebook.com/MemoriaVivaGuarani>

DVD – Palavra Cantada – clipes da TV

Sandra Peres e Paulo Tatit

DVD - Dona Cristina Perdeu a Memória. Direção de Ana Luiza Azevedo. 2002.

Disponível na Internet em: <http://www.youtube.com/watch?v=3ZTnC9pcC3U>

CD – Cantigas de Roda – Palavra Cantada

Sandra Peres e Paulo Tatit

Projeto Vídeo nas Aldeias. Coleção Cineastas Indígenas para Jovens e Crianças. Livro-vídeo e seleção de seis filmes.

Patrocínio da Convenção sobre a proteção e promoção da diversidade das expressões culturais da UNESCO. Informações disponíveis em: <http://videonasaldeias.org.br/2009/index.php>

DVD - Pequenas histórias. Direção de Helvécio Ratton

Paisagens e cultura brasileiras em quatro histórias interessantes

DVD - Kirikou e os animais selvagens, de Michel Ocelot

Paisagens e cultura africanas em quatro contos de muito interesse.

SP Pesquisa: A Origem do Homem Americano. O povo de Luzia. Produção TV UNIVESP.

1º bloco: disponível na Internet em: <https://www.youtube.com/watch?v=u-mbnL_6b5k> e 2º bloco:

disponível na Internet em: <https://www.youtube.com/watch?v=MMPyOAAdFx>

Niède Guidon e as Origens do Homem Americano.

Reportagem-documentário de Sergio Brandão, feita para o programa Globo Ciência em 1990, sobre as pesquisas da arqueóloga Niède Guidon, no Piauí. Disponível na Internet em: <https://www.youtube.com/watch?v=oX7oToVioC0>

Serra da Capivara. Unesco. Documentário, 2013. Disponível na Internet em: <https://www.youtube.com/watch?v=9576H-X39J8>

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PARTE 2 - SUGESTÕES DE ATIVIDADES. OFICINAS*.* Em algumas das atividades, os subsídios (textos e imagens) encontram-se nos Anexos a este capítulo

1. Meu Tesouro

Objetivos: reconhecer o patrimônio cultural individual e valorizar o patrimônio coletivo.

Materiais: caixas de fósforo, papel e caneta.

Atividade recomendada para anos iniciais do Ensino Fundamental. Alunos ainda iletrados poderão substituir a escrita por desenhos.

Descrição da atividade:

Cada estudante recebe uma caixinha de fósforo vazia e deverá escrever, em seu interior, o nome de um objeto que tenha alguma importância e significado pessoal. Feito isso, as caixinhas deverão ser entregues ao professor. Na próxima aula, os alunos devem levar o objeto escolhido ou seu desenho para a sala de aula. As caixinhas serão distribuídas aleatoriamente e, após abri-las, os alunos tentarão descobrir a qual dos colegas o objeto pertence. Depois, cada participante apresentará seu objeto para todos e falará da importância de tal objeto em sua vida. O objetivo principal é trabalhar conceitos como patrimônio, identidade, memória individual e coletiva, preservação do patrimônio; estimular a capacidade expressiva e criativa dos alunos; registrar a memória afetiva e estimular exposições orais.

2. Reconhecimento de um objeto

Objetivos: estimular a criatividade dos alunos na compreensão da cultura das diversas sociedades e estimular a compreensão do trabalho do arqueólogo.

Materiais: caneta ou lápis, panela de barro, vestido, fruta, pote de madeira, computador e ficha de observação.

Atividade recomendada para Ensino Fundamental. Pode envolver todos os componentes curriculares.

Procedimentos:1) Observar os objetos e suas respectivas matérias-primas.

2) Descrever cada objeto, de acordo com a ficha cujo modelo segue adiante.

3) Desenhar cada objeto.

Aspectos principais a observar Questões a responder

Aspectos físicos:

O que parece ser este objeto?

O que é este objeto? Qual a sua cor?

De que material é feito?

Quais suas dimensões?

Qual a sua textura? (É liso? É áspero?...)

O material é um produto da natureza ou do trabalho do ser humano?

Construção:

Como foi feito?Foi feito à mão ou à máquina? Com o uso de molde ou modelado à mão?

Função:

Para que foi feito?

Como foi ou é usado?

Quais pessoas utilizam ou utilizaram este objeto?

Valor:

Qual o valor (a importância) deste objeto?

Para as pessoas que o usam (ou usaram)?

Para vocês?

Para suas famílias?

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3. Brincadeiras de antigamente

Objetivos:

A) Estimular o intercâmbio entre as crianças e parentes mais velhos.

B) Promover o reconhecimento e o resgate de brincadeiras tradicionais.

C) Valorizar a preservação de costumes tradicionais.

Atividade recomendada para Ensino Infantil e do 1ª ao 6ª anos do Ensino Fundamental (os educadores dosam a atividade de acordo com faixas etárias dos alunos). Pode envolver todos os componentes curriculares, sobretudo Língua Portuguesa, Artes, Matemática, Ciências, História, Educação Física. Aplicada a atividade aos alunos de Ensino Médio, os resultados podem surpreender!

O livro Giramundo, de Renata Meirelles [Editora Terceiro Nome], pode auxiliar bastante na execução desta proposta.

Procedimentos:Sugere-se realizar a atividade em três momentos (ou dias) diferentes:

1º Numa primeira roda de conversa, propor que os alunos contém o que sabem sobre brincadeiras e brinquedos de pais e avós. Comparar com brinquedos e brincadeiras atuais. Em seguida, organizar, com os alunos, pesquisa familiar a respeito de brinquedos e brincadeiras antigas.

2º Numa segunda roda de conversa, solicitar aos alunos que apresentem os resultados das pesquisas: os brinquedos, as brincadeiras e como se brinca.

No pátio, proposta para iniciar as brincadeiras, por meio de perguntas. Exemplo: Quem já brincou de pula corda? De esconde-esconde? E de roda? Quais as cantigas de roda? Quem já brincou de passa-anel? De lenço-atrás? De amarelinha? De bambolê? De pião? E assim, sucessivamente.

3º Após exercitar as brincadeiras antigas, numa terceira roda de conversa, comparar as diferenças entre as brincadeiras mais antigas e as de hoje; avaliar, por exemplo: os locais de brincar; brinquedos elaborados manualmente e brinquedos industrializados adquiridos no comércio; a movimentação corporal exigida pelas brincadeiras antigas versus a movimentação corporal exigida pelos jogos virtuais.

4. Memória, memórias

Objetivos:

A) Identificar objetos, sons e lugares como ativadores de memórias. B) Identificar relatos de pessoas idosas como fontes históricas e de conhecimentos do cotidiano. C) Identificar bens culturais individuais e familiares como marcos de períodos históricos. D) Desenvolver percepção visual e auditiva. E) Desenvolver formas de representação artísticas. F) Exercitar pesquisa em fontes variadas e observação de imagens. G) Relacionar imagens a textos, elaborar textos e correlacionar dados.

Atividade recomendada para Ensino Fundamental (3ª ao 9ª anos; os educadores dosam objetivos e pré-requisitos de acordo com a faixa etária dos alunos) e Ensino Médio. Pode envolver todos os componentes curriculares, sobretudo Língua Portuguesa, Artes, Ciências/Biologia, História, Educação Física.

Pré-requisitos:A) Exibição do filme Dona Cristina Perdeu a Memória, direção de Ana Luiza Azevedo; ano 2002, gênero ficção, duração 13min. Disponível na Internet em: <http://www.youtube.com/watch?v=3ZTnC9pcC3U>

B) Pesquisa sobre a memória Guarani e audição do CD “Ñande Reko Arandu - Memória Viva Guarani”. Disponível na Internet em: <www.youtube.com/watch?v=l469uaunv6A; https://pt-br.facebook.com/MemoriaVivaGuarani>

C) Leitura dramatizada do texto Guilherme Augusto Araújo Fernandes, de Mem Fox. In: FOX, Mem. Guilherme Augusto Araújo Fernandes. São Paulo: Brinque-Book, 1984. Resumo adaptado disponível nos Anexos a este capítulo.

Procedimentos:A partir do texto, das músicas e do filme:

a) Estimular comentários sobre memória, interação com idosos e interação com objetos importantes para o grupo familiar.

b) Estimular o conhecimento e preservação da memória indígena, a interação entre indígenas e não-indígenas e a preservação de culturas tradicionais.

c) Apresentar exemplos pessoais, contar histórias, levar para a classe algum objeto muito estimado, descrevê-lo e justificar o apego..

d) Convidar familiares ou ex-funcionários para visitar a escola. Caso seja possível, convidar membros de comunidades indígenas para visita e atividades conjuntas. Elaborar roteiro e disponibilizar equipamentos para registro de seus depoimentos.

e) Propor aos alunos a organização de coletâneas de receitas culinárias, de crendices e superstições, de modos de vestir e calçar, de pentear os cabelos, de imagens referentes a determinados períodos históricos, mesclando informações de diversas fontes. Propor aos alunos produção de imagens a respeito dos temas pesquisados.

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5. O Tupi que falamos*

Objetivos: A) Identificar palavras de origem Tupi utilizadas em nosso dia a dia. B) Reconhecer a herança cultural indígena na cultura brasileira.

Atividade recomendada para Ensino Fundamental (3ª ao 9ª anos). Pode envolver todos os componentes curriculares, sobretudo Língua Portuguesa, Artes, Ciências/Biologia, História, Geografia.

Pré-requisitos:A) Pesquisar a respeito dos indígenas Tupi no site <https://mirim.org/> e nos livros indicados.

B) Ler o texto O Tupi que você fala [Claudio Fragata] disponível nos Anexos a este capítulo.

- Quais das palavras realçadas você conhece?

- Muitas são as heranças culturais indígenas incorporadas em nosso cotidiano. Preencha o quadro a seguir com algumas delas.

Na alimentação Utensílios Formas de morar Nomes de lugares

* Atividade adaptada de Cruz e Panachuk (2014, p. 132-133). O livro O Tupi que você fala tem autoria de Claudio Fragata e ilustrações de Maurício Negro [Editora Globinho).

6. Oficina: Pergunte ao lixo*

Objetivos:A) A partir de objetos geradores, refletir sobre a sua importância como fontes de informação. B) A partir dos vestígios encontrados num sítio arqueológico, demonstrar alguns meios possíveis para investigar suas origens, constituição, características e inserção num contexto histórico ou pré-histórico. C) A partir de objetos ou de vestígios, refletir sobre a ação do tempo em matérias-primas e materiais diversos.

Materiais: lixo seco e luvas descartáveis.

Textos impressos e imagens: A) Lixo, de Luís Fernando Veríssimo. Disponível na Internet em: <http://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=10767&cat=Contos>. B) Cavucando o Lixo. Revista Superinteressante. Disponível na Internet em: <http://super.abril.com.br/ecologia/cavucando-lixo-447921.shtml>. C) Quanto tempo leva para que o lixo se decomponha? Disponível na Internet em: <www.cincoerres wordpress.com.bmp>. D) Materiais mais frequentes nos sítios arqueológicos. Estes subsídios encontram-se disponibilizados nos Anexos ao capítulo 6.

Atividade recomendada para alunos do 6º ao 9º anos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. Pode envolver todos os componentes curriculares.

Procedimentos, na sequência correta: A) Leitura dramatizada do texto Lixo, de Luís Fernando Veríssimo.

B) Leitura do texto Cavucando o Lixo [Entre alunos de faixas etárias menores, este texto poderá ser contado resumidamente e explicado pelo professor].

C) Leitura e observação dos quadros: a) Quanto tempo leva para que o lixo se decomponha? b) Materiais mais frequentes nos sítios arqueológicos.

D) Numa atividade externa à sala, passear com a turma pelo pátio ou pelas redondezas da escola. Observar o lixo em superfície: papel amassado, embalagens, recipientes, fios, tampas de garrafa, pedaços de madeira etc.

E) Coleta de lixo: pode ser feita durante o passeio, ou mediante solicitação para os alunos levarem de casa. Naturalmente, para essa coleta devem-se utilizar luvas descartáveis e evitar totalmente itens perecíveis.

F) Questionamentos em grupo: fazer uma breve análise sobre alguns dos objetos coletados, em conjunto com os alunos. Perguntar: o que é? De que material é feito? O material é natural ou industrializado? Qual a matéria-prima? É poluidor? Está completo? Está usado? Quanto tempo levaria para ser destruído? G) Propor que os alunos, em duplas ou trios, escolham um objeto do montante coletado e busquem informações sobre suas matérias-primas, fabricação e usos possíveis. H) Refletir: que tipos de pessoas teriam gerado esse lixo?

Recomenda-se trabalho interdisciplinar: provocar reflexões sobre educação ambiental. Modos de vida em diversas sociedades (exemplos: sociedades indígenas, meio rural e meio urbano), sociedade capitalista, consumo e consumismo, industrialização, desenvolvimento tecnológico, descarte e destinos do lixo, saúde e doenças etc.

G) Apresentação das pesquisas: por meio de cartazes e de exposição oral. É interessante que entre os resultados alcançados estejam: quais informações puderam ser retiradas do material coletado a respeito do modo de vida e dos hábitos das pessoas que geraram o lixo?

*Atividade adaptada e ampliada a partir de: Arnold (2008).

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7. Arqueologia lógica*

Objetivos: Estimular o conhecimento de Geometria, de cálculo de áreas e sua aplicação no cotidiano

Atividade recomendada para Ensino Fundamental (6ª ao 9ª anos) e Ensino Médio, componentes curriculares: Matemática, Artes, Língua Portuguesa, História, Ciências/Biologia.

Procedimentos:A) Observar as figuras 1 e 2, provenientes da escavação do sítio arqueológico Ourilândia 2 (Ourilândia do Norte/PA).

Figura 1 - Vista da área de escavação - Setor 1, Sítio Ourilândia 2

(Foto: Acervo Scientia).

Figura 2 - Vista da área de escavação do Setor 1. Sítio Ourilândia 2

(Figura: Acervo Scientia).

B) Ler com atenção: As figuras 1 e 2 mostram uma forma de escavação arqueológica denominada Superfície Ampla. Nesta escavação, o arqueólogo optou por escavar a área alternadamente, formando um “xadrez arqueológico”.

C) Responder as questões 1, 2 e 3. Considerando que a escavação é constituída por quadrados de 1 metro de lado (1 metro x 1 metro):

1. Calcular a área total escavada.

2. Qual a fração que representa o número de quadrados não escavados?

3. Qual o perímetro da escavação inteira?

D) Conforme você aprendeu no capítulo 4, a escavação arqueológica é um dos métodos de pesquisa utilizados pelo arqueólogo para recuperar os vestígios do passado. Relembre algumas etapas da pesquisa de campo antes de responder as questões 4, 5 e 6.

Antes da intervenção, o sítio arqueológico é medido detalhadamente, dividido em unidades ou quadrículas, algumas escolhidas para serem escavadas.Foto: Medição do sítio, para verificação dos limites e da extensão da malha de quadrículas.

Todos os procedimentos são registrados por fotos, filmagens e desenhos. Todo material encontrado deve ser identificado, registrado com desenho e fotografia e depois embalado para ir a laboratório.Foto: Registro da escavação, dos vestígios e de tudo que se possa observar no solo e no perfil

Ao final dos trabalhos de escavação, o buraco é coberto por uma lona e sobre esta se joga a terra de volta – assim, os futuros arqueólogos saberão que ali já houve uma escavação. O local recebe uma placa de identificação, que deve ficar em local visível para indicar que ali se encontra um patrimônio cultural de todos os brasileiros.Foto: escavação de quadrícula.

Foto: escavação do sítio arqueológico São Luiz 2, Canaã dos Carajás (PA).

4) Qual a ação dos arqueólogos na foto?

5) Que tipo de vestígio foi encontrado? De que material é feito?

6) Esse tipo de vestígio indica objetos com funções específicas para a sociedade que ali viveu. Indique duas dessas funções..

*Atividade adaptada de Cruz e Panachuk (2014, p. 133-135).

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8. Natureza e Meio Ambiente

Objetivos:1) Estimular o conhecimento da natureza e do meio ambiente na região de Carajás.

2) Estimular ações para proteger e conservar o habitat.

Atividade recomendada para 8º e 9º anos do Ensino Fundamental e para Ensino Médio. Pode envolver todos os componentes curriculares. A utilização dos textos ou a facilitação deles por meio de explicações deve estar de acordo com os conhecimentos e com as habilidades já alcançados pelos alunos.

Pré-requisitos:

A) Releitura, no capítulo 4 deste livro, dos seguintes itens: conceito de Unidades de Conservação e relação de Unidades de Conservação da região de Carajás.

B) Leitura dos textos Natureza; Meio Ambiente; Recursos naturais da região de Carajás, disponíveis nos Anexos a este capítulo.

C) Observação das imagens também disponíveis nos Anexos a este capítulo.

D) Após as leituras e a observação das fotos: formar grupos, refletir e propor questões para discussão em plenário da classe. Sugerir encaminhamentos para as questões colocadas.

Como uma pessoa pode mudar o que está acontecendo em seu meio ambiente*? Ações individuais podem parecer pequenas, mas o poder de uma pessoa já mudou muito a história do mundo.

* Atividades adaptadas a partir de Legan (2009b, p. 36-37; 43).

Nome: Data:

Detalhes da planta:

Nome botânico: Nome popular:

Descrição:

Por que você escolheu esta planta?

Características do local de plantio da árvore:

( ) sombreado

( ) ensolarado

( ) ventoso

( ) solo seco

( ) solo úmido

Tipo de solo:

( ) arenoso

( ) argiloso

( ) orgânico

Procedimentos para plantar:

( ) estaca

( ) cobertura vegetal

( ) rega

( ) etiqueta

( ) composto

( ) água

Razões do plantio:

( ) sombra

( ) controle de erosão

( ) comida

( ) embelezamento

( ) quebra-ventos

( ) habitat

Para o registro

Desenhe como sua árvore ficará quando crescida!

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Você vai precisar de uma mudinha de árvore, uma pá, três estacas e barbante.

1. Limpe uma área de aproximadamente 1 metro de diâmetro no local escolhido para se certificar de que não existem ervas invasoras que podem competir com as árvores jovens pelos nutrientes. Retire todas as ervas daninhas.

2. Cave um buraco que seja aproximadamente duas vezes mais largo que a muda. Fure a área em volta do buraco com um galho, isso areja o solo e permite que a umidade penetre.

3. Misture o solo do buraco com um pouco de composto, assim a planta receberá mais nutrientes. Não remova as pedras pequenas e médias, elas são valiosas para arejar e adicionar nutrientes ao solo.

4. Coloque um pouco de mistura de solo e composto no fundo do buraco.

5. Molhe a muda da árvore, retire-a do saco plástico e coloque-a no buraco. Depois, encha o buraco com a mistura de solo.

6. Se ventar muito, coloque uma estaca para dar sustentação à sua árvore. Tome cuidado para não cortar a parte vital das raízes! Coloque cobertura vegetal no solo para manter a umidade.

7. Se você possui animais de pasto na área, proteja a árvore com algumas estacas ou tela de galinheiro.

8. Não se esqueça de regar a árvore durante a seca e mantenha sempre a cobertura vegetal!

Utilizando árvores mortas para fazer um habitat vivo

Só porque uma árvore deixa de viver não significa que deixa de ser útil para o habitat. Pelo contrário: uma árvore morta tem uma importante função, longa e produtiva. Ela é um verdadeiro ecossistema de miniaturas! Alimenta e abriga milhares de pequenos seres importantíssimos para a cadeia alimentar e para a qualidade do solo.

Você vai precisar de um tronco de árvore, pedrinhas, pequenas plantas florescendo e jornal.

A jardinagem deve sempre ser amiga da vida selvagem, ou seja, facilitar os processos naturais e não os impedir. Árvores mortas fazem parte do plano da natureza. Por isso, devemos abrir espaço para elas em nossas paisagens.

1. Ache um tronco de árvore (ou parte dele) e coloque-o no jardim.

2.Coloque algumas pedras ao redor de suas extremidades.

3.Plante algumas flores pequenas.

Agora, espere pacientemente! Logo você terá pássaros, abelhas e borboletas passeando por ali!

A árvore morta provê segurança para pequenos animais procriarem, descansarem e se alimentarem. Ao mesmo tempo, as formigas, os besouros e muitos micro-organismos que vivem ali servem de alimento para pássaros e outros animais. Assim funciona o ecossitema.

Agora, pode ser feito um desenho coletivo do novo jardim!

9. O tempo muito antigo na região de Carajás

Objetivos: A) Exercitar pesquisa em fontes variadas. B) Relacionar dados.

Atividade recomendada para alunos do 7ª ao 9ª anos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio – os educadores dosam objetivos, pré-requisitos e destaques, de acordo com os conhecimentos e habilidades já alcançados pelos alunos. Pode envolver todos os componentes curriculares, notadamente Matemática, História, Geografia, Ciências/Biologia, Física, Química, Língua Portuguesa.

Pré-requisitos:1) Reler o texto Datações, ao final do capítulo 4 deste livro.

2) Pesquisar, na Internet, quadros das eras geológicas e identificar as épocas do Período Quaternário. (Sugestões de sites: <http://luizcgavanski.blogspot.com.br/2012/08/caracteristicas-das-eras-geologicas.html>; <https://educacao.uol.com.br/disciplinas/geografia/eras-geologicas-tabela-mostra-transformacoes-na-terra.htm>; <http://ciencias-geologia.blogspot.com.br/2013/05/eras-geologica.html>).

3) Ler atentamente o texto disponível nos Anexos a este capítulo. Para concluir, responder as questões a seguir:1) Quantos anos formam um século?2) Quantos séculos formam um milênio?3) Converter 8140 AP e 2900 AP em anos AC.4) Converter 10000 AP e 940 AP em anos AC.5) Elaborar um gráfico demonstrando, para o Brasil:

a) O período aproximado das ocupações humanas anteriores ao contato com os colonizadores europeus (contato = século 16);b) O período entre o início do contato com os colonizadores europeus (século 16) e o

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10. Expressões de arte nos vestígios arqueológicos*

Objetivos:A) Desenvolver a observação e a percepção de objetos arqueológicos.

B) Conhecer alguns tipos de representações artísticas frequentes em vestígios arqueológicos.

Atividade recomendada para todos os anos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. Os subsídios e as atividades devem ser dosados de acordo com as faixas etárias dos alunos e seus conhecimentos. Pode envolver todos os componentes curriculares, notadamente Artes, História e Matemática.

Pré-requisitos:Observar atentamente as figuras (acervo Scientia), suas legendas e os textos a seguir.

Figura 1. Sítio São Luiz 6, em Canaã dos Carajás. Esquerda: fragmentos de vasilha cerâmica com decoração pintada em vermelho e amarelo na face externa. Direita: reprodução dos motivos da pintura e da forma da vasilha.

As tintas utilizadas na decoração pintada de vasilhames cerâmicos eram produzidas a partir de minerais e de plantas.

Já a decoração plástica incisa era realizada por marcas (ou incisões) na superfície da cerâmica com instrumentos variados. Há inúmeros padrões para os desenhos.

Figura 2. Sítio Fazenda Bocaina 1, em Canaã dos Carajás. Esquerda: vasilha remontada com decoração plástica incisa. Direita: reprodução em desenho.

Figura 3. Sítio Fazenda Bocaina 1, em Canaã dos Carajás. Esquerda: vasilha remontada com decoração plástica incisa. Direita: reprodução em desenho.

Muitas vezes as ceramistas utilizavam várias técnicas decorativas no mesmo pote.

Figura 4. Sítio São Luiz 6, em Canaã dos Carajás. Esquerda: fragmento de vasilha cerâmica com restos de pintura preta e decoração incisa na face externa. Direita: reprodução dos motivos da pintura e das incisões.

Outro tipo de decoração cerâmica é o modelado, feito diretamente na vasilha ou a ela aplicado.

Representações de animais ou zoomorfas – apliques em vasilhas de cerâmica. Sítio arqueológico Onça Puma 3 (divisa entre Água Azul do Norte e Ourilândia do Norte/PA).

Fotos: Acervo Scientia.

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Vestígios arqueológicos, muitas vezes, são os únicos documentos sobreviventes de grupos humanos do passado. Por meio do estudo desses remanescentes, pode-se chegar a informações surpreendentes. A arte rupestre, a arte presente na decoração de vasilhas cerâmicas, bem como em objetos de pedra nos permitem identificar padrões estéticos, reconhecer dados do ambiente

(flora, fauna, vegetação), costumes, rituais, estabelecer elementos de identidade cultural.

Procedimentos:Propor aos alunos:a) A criação de tipos diversos de decoração incisa, pintada e modelada.b) A ornamentação das figuras de potes a seguir.

* Atividade adaptada e ampliada a partir de Cruz e Panachuk (2014, p. 136-137).

11. Patrimônio cultural

Objetivos:

A) Exercitar pesquisa em fontes variadas.

B) Reconhecer bens culturais materiais e bens culturais imateriais.

C) Reconhecer os tipos de proteção oficial aos bens culturais.

D) Reconhecer ações individuais e coletivas para proteção de bens culturais como exercícios de cidadania.

E) Elaborar textos e relacionar dados.

Atividade recomendada para 5ª ao 9ª anos do Ensino Fundamental e Ensino Médio – os educadores dosam objetivos, pré-requisitos e destaques, de acordo com os conhecimentos e habilidades já alcançados pelos alunos. Pode envolver todos os componentes curriculares.

Pré-requisitos:

1) Observar as imagens disponíveis nos Anexos a este capítulo.

2) Ler os textos Receita de Bolo de Macaxeira e O patrimônio cultural e o Iphan, disponibilizados nos mesmos Anexos.

Para concluir:As imagens apresentam alguns exemplos do patrimônio cultural. Notar a diversidade deles: um sítio arqueológico, uma vasilha muito antiga, um prato atual da culinária regional e sua receita, uma obra de engenharia num logradouro público, e paisagens: todos são considerados patrimônio cultural. Agora, é só responder as questões a seguir:

a) Por que é importante preservar o patrimônio cultural?

b) Qual o papel da comunidade para a preservação desses bens? As ações da comunidade são importantes ou basta que as leis protejam o patrimônio?

c) Quais sugestões o grupo tem para inserir na lista de bens culturais de sua cidade ou região? É importante organizar uma lista e não se esquecer de justificar as escolhas.

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12. Representações cartográficas da região de Carajás: no final do século 19 e na atualidade

Objetivos: A) Exercitar pesquisa em fontes variadas. B) Elaborar textos e relacionar dados. C) Ler e elaborar mapas. D) Identificar impactos no meio ambiente devido às ações humanas

Atividade recomendada para alunos do 8ª ao 9ª anos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio – os educadores dosam objetivos, pré-requisitos e destaques, de acordo com os conhecimentos e habilidades já alcançados pelos alunos. Pode envolver todos os componentes curriculares.

Pré-requisitos:

A. Ler o texto e observar o mapa designado por A nos Anexos a este capítulo.

B. No capítulo 2 deste livro, reler o texto A revelação da província mineral de Carajás: pequeno histórico.

C. Sob a orientação do(a) docente de Geografia, efetuar pesquisas a respeito da evolução da Cartografia entre o final do século 19 e o início do século 21. O site http://atlasescolar.ibge.gov.br/conceitos-gerais/conceitos-e-tecnicas.html pode auxiliar nesse estudo. Da mesma forma, os textos designados por C, disponibilizados nos Anexos a este capítulo.

D. Observar com atenção os mapas da Mesorregião Sudeste do Pará, no capítulo 2 deste livro.

E. Observar o mapa a seguir. Ele indica o traçado do Ramal Ferroviário Sudeste do Pará, em territórios dos municípios de Canaã dos Carajás e Parauapebas, e os sítios arqueológicos identificados durante a fase de prospecção ao longo do empreendimento RFSP.

Localização dos sítios arqueológicos identificados durante a fase de prospecção ao longo do

empreendimento RFSP, sobre imagem Google Earth (Scientia, 2013).

Para concluir:Retomar os dados sobre a paisagem atual dos territórios municipais de Canaã dos Carajás e Parauapebas. Este livro traz informações importantes, mas a pesquisa pode ser ampliada, inclusive com observações de campo feitas pelos próprios alunos.

Reunir todos os resultados obtidos, relacionar dados, refletir e discutir os fatos marcantes em grupo. Em seguida, responder as solicitações a seguir:

- Comparar os dados contemporâneos com a descrição de Henri Coudreau. Em seguida: a) Identificar as diferenças na paisagem: o que mudou e o que permanece. b) Verificar a manutenção ou alteração de topônimos. c) Identificar as áreas preservadas existentes. d) Projetar a Educação Ambiental como estratégia de conservação do meio e como exercício de cidadania.

- Comparar a forma de elaboração do mapa de Coudreau e a forma de elaboração do mapa da Scientia Consultoria. Identificar alguns dos avanços científicos e tecnológicos responsáveis pelas diferenças.

- Elaborar, de modo coletivo, mapa da região do Sudeste Paraense, destacando: hidrografia, relevo e vegetação associada, municípios.

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13. Nossas memórias, memória coletiva

Objetivos:

A) Identificar depoimentos e monumentos como elementos representativos de memórias coletivas.

B) Identificar memórias individuais/familiares como constituintes de memória coletiva.

C) Desenvolver percepção visual e auditiva.

D) Desenvolver formas de representações artísticas.

E) Exercitar pesquisa em fontes variadas.

F) Elaborar textos e relacionar dados.

Atividade recomendada para alunos do 8ª e 9ª anos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio – os educadores dosam objetivos, pré-requisitos e destaques, de acordo com os conhecimentos e habilidades já alcançados pelos alunos. Pode envolver todos os componentes curriculares.

Pré-requisitos:

A. Rever os capítulos 3 e 4 do livro.

B. Ler os textos: O que é memória coletiva?; Das coisas memoráveis; Depoimento do Sr. Antônio Japão Gomes da Silva; O monumento As castanheiras mortas de Eldorado de Carajás; Mineração e Campesinato em Canaã dos Carajás e quadro. Todos encontram-se disponibilizados nos anexos a este capítulo.

C. Observar as imagens apresentadas nos Anexos a este capítulo.

D. Em trabalho integrado com alunos, elaborar roteiro para que cada jovem pesquise sua história familiar no bairro ou na cidade. Sugerem-se as seguintes questões:

1) Quem veio para cá?

2) De onde veio?

3) Por que veio?

4) Tinha parentes ou amigos na cidade ou na comunidade?

5) Que estruturas de moradia, saúde, educação, encontrou aqui?

6) Que atividades passou a exercer?

7) Qual a importância do rio Parauapebas para essas atividades?

8) Tem participado de movimentos por melhorias? Quais?

9) Quais são os bens culturais que a família guarda?

10) Quais os bens culturais característicos da comunidade?

A partir dos resultados apresentados e discutidos pelo grupo, identificar elementos familiares/locais representativos de memórias coletivas.

Para concluir:Reunir todos os resultados obtidos, relacionar dados, refletir e discutir em grupo. Em seguida, responder/destacar dos textos as solicitações a seguir.

- Na história regional do período 1960/1990, contextualizar: a) as migrações; b) a velocidade do estabelecimento das pessoas e dos empreendimentos; c) o ônus para o meio ambiente e as ações para proteção/preservação; d) as dificuldades dos moradores e suas demandas; e) as razões do fracasso da agricultura; f) as condições do garimpo; g) a repercussão internacional das transformações na região de Carajás.

- Relacionar o comércio de armazém descrito por Antonio Japão ao comércio de aviamento ou barracões no período áureo da exploração dos castanhais (mencionado no capítulo 3 deste livro).

- Relacionar as histórias familiares/locais aos dados já levantados para a história regional.

- Diferenciar memória individual de memória coletiva.

- Reconhecer a importância das memórias individuais para formação da memória coletiva.

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14. Oficina: Escavação arqueológica simulada

Objetivos:

A) Conhecer aspectos da metodologia de trabalho na escavação arqueológica.

B) Conhecer os tipos de vestígios arqueológicos e identificar suas prováveis temporalidades.

C) Conscientizar o público escolar para a importância de preservação do patrimônio arqueológico.

Atividade recomendada para 3ª ao 6ª anos do Ensino Fundamental – os educadores dosam objetivos, pré-requisitos e destaques, de acordo com os conhecimentos e habilidades já alcançados pelos alunos. Pode envolver todos os componentes curriculares.

Pré-requisitos:1) Espaço para dispor mesas (pode ser a sala de aula ou o pátio da escola).

2) Caixas. A referência aqui utilizada é de plástico transparente e tem as seguintes dimensões: 50 centímetros de comprimento por 35 centímetros de largura, altura entre 10 e 15 centímetros. Outros tipos de materiais podem ser utilizados, mas as dimensões aproximadas devem ser mantidas.

3) Organização dos alunos em grupos de quatro elementos, no máximo. Cada grupo deve ser colocado ao redor de uma caixa.

4) Preparo do ‘sítio arqueológico’, que deve apresentar dois contextos: um muito antigo (com uso do esqueleto) e um mais recente.

Materiais necessários: (As imagens são meramente ilustrativas)

- Caixas. Deverá haver uma caixa para cada quatro alunos.

- Esqueletos em miniatura, de plástico (de brinquedo ou utilizado em estudos de anatomia). Deverá haver um exemplar em cada caixa.

- 1 jogo Pequeno Engenheiro, Pequeno Construtor ou similar. Devem ser peças de madeira ou de plástico, para evitar danos às crianças.

- Miniaturas de brinquedos, de ferramentas, de pratos, talheres, copos, xícaras etc.; de adornos de casa; de bijuterias. Podem ser itens utilizados, como lembrancinhas, em festas infantis. Devem ser de plástico para evitar danos às crianças.

- Vegetação: galhos, folhas e flores (verdes, secos ou artificiais).

- Areia e argila (bem secas).

- Pincéis; espátulas; lápis; borrachas; pranchetas.

- Luvas descartáveis; sacos plásticos de tamanhos diversos; palitos de sorvete ou de churrasco.

- 1 Ficha de Registro para preenchimento (modelo disponível nos Anexos a este capítulo).

- Imagens de material arqueológico (Pode ser utilizado o quadro Materiais frequentes em sítios arqueológicos, integrante da sugestão de atividade nº 8, ou o quadro referente a esta oficina. Ambos se encontram disponibilizados nos Anexos a este capítulo).

Preparo do “sítio arqueológico”

Dividir a caixa ao meio, utilizando um pedaço de barbante fixado em palitos de sorvete ou de churrasco, ou tira larga de cartolina (Foto 1). Dessa forma, teremos: a “quadra A”, em que será montado um cenário de sepultamento pré-histórico; e a “quadra B”, na qual haverá cenário mais recente, indicando um antigo local de moradia ou de ofício (Foto 1).

Quadra A. Dispor a miniatura de esqueleto. Cercá-la com bolotas de argila ou pequenas pedras. Se houver possibilidade, incluir miniaturas de adorno pessoal.

Foto 1 - Divisão das quadras. À esquerda, disposição do esqueleto em meio a bolas de argila. À direita: peças de O

pequeno engenheiro, miniaturas de objetos domésticos.

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Quadra B. Organizar peças do jogo Pequeno engenheiro ou similar, simulando ruínas de uma moradia; juntar miniaturas de brinquedos e de objetos domésticos. Ou então: distribuir peças do jogo Pequeno engenheiro ou similar, simulando ruínas de uma construção, e dispor miniaturas de ferramentas junto a elas.

Foto 2 – Simulação de paisagem atual.Cobrir as duas quadras com areia. Espalhar a vegetação na superfície (Foto 2), compondo paisagem atual.

Os “sítios” devem estar prontos antes da chegada dos alunos ao local da oficina.

Procedimentos durante a oficinaO professor começará com uma breve exposição sobre o ofício do arqueólogo, com apresentação das fotos de materiais arqueológicos que podem ser encontrados, e explicará as disposições da atividade.

Cada aluno receberá um par de luvas descartáveis. Os alunos serão divididos em grupos de quatro pessoas; cada grupo receberá um jogo de espátulas e pincéis e deverá situar-se ao redor de um “sítio arqueológico”. A escavação deve ser realizada lenta e cuidadosamente (Fotos 3 e 4).

Fotos 3 e 4 – Escavação cuidadosa, sem deslocar as peças do lugar até o registro e a retirada.

Os integrantes de cada grupo terão as seguintes funções: 2 escavadores, 1 registrador e 1 supervisor.

Os escavadores, utilizando luvas, espátulas e pincéis, escavarão, de maneira delicada e por camadas, a quadra A, tomando cuidado para que não se remova nenhum objeto antes de ser registrado (Fotos 3 e 4). O registrador, utilizando o verso da ficha “Dados de Campo”, desenhará um croqui da quadra, todo material encontrado e sua localização na quadra.

Cabe ao supervisor o papel de maior responsabilidade teórica: ele fiscalizará a escavação, orientando a retirada dos materiais e procurando evitar a descontextualização dos objetos; auxiliará, também, no preenchimento da ficha junto com o registrador.

Cada objeto, depois de retirado, deverá ser colocado num saco plástico e identificado.

Para a escavação da quadra B haverá a rotatividade das funções, de tal forma que escavarão os dois alunos que não o fizeram na rodada anterior.

Após a escavação das duas quadras, do registro de todo material encontrado, da embalagem de cada objeto, todos os integrantes se juntam para responder as questões da ficha de “Dados de Campo”, com o intuito de levantar o máximo de informações possíveis e fazer as inferências iniciais sobre o local e a comunidade que ali viveu e produziu os vestígios recuperados.

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PARTE 3 – LEITURAS E VÍDEOS RECOMENDADOS PARA EDUCADORES.

Sobre Amazônia/região de Carajás

Livros e artigosAB’SABER, Aziz Nacib. A Amazônia: do Discurso à Práxis. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo. 2ª edição, 2004.

AB’SABER, Aziz Nacib. Geomorfologia da região. In: ALMEIDA Jr. (Org.), José Maria Gonçalves de. Carajás: desafio político, ecologia e desenvolvimento. São Paulo: Brasiliense; Brasília, DF: CNPq. 1986.

AB’SABER, Aziz Nacib. Aziz Ab’Sáber: problemas da Amazônia Brasileira. Entrevista a Dario Luís Borelli et al. Dossiê Amazônia Brasileira I. Estudos Avançados, vol. 19, nº 53, 2005. Disponível na Internet em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0103-40142005000100002>.

ALLI, Sergio; SAUAYA, Thais. Amazônia: povos da floresta. São Paulo: Editora Salesiana, 2006.

ALMEIDA Jr. (Org.), José Maria Gonçalves de. Carajás: desafio político, ecologia e desenvolvimento. São Paulo: Brasiliense; Brasília, DF: CNPq. 1986.

CALDARELLI, Solange Bezerra; COSTA, Fernanda de Araújo; KERN, Dirce Clara. Assentamentos a céu aberto de caçadores-coletores datados da transição Pleistoceno final/Holoceno inicial no Sudeste do Pará. In: Revista de Arqueologia, 18: 95-108, 2005. Disponível na Internet em <http://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/ra/article/view/1540/1195>.

CAMBRAIA, Maria Sílvia. Lugares de memória: o monumento do massacre de Eldorado dos Carajás. In: Fórum Patrimônio. v. 1, n. 1, 2007. Resumo disponível na Internet em: <http://www.forumpatrimonio.com.br/seer/index.php/forum_patrimonio/article/view/33/0>.

COUDREAU, Henri. Viagem a Itaboca e ao Itacaiúnas. Tradução: Eugênio Amado. Belo Horizonte: Editora Itatiaia; São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1980.

COSTA, Marcondes L. et al. Evolução contemporânea entre a paisagem aluvial e a ocupação humana pré-histórica no grande vale do Rio Amazonas-Solimões. Disponível na Internet em: <http://www.abequa.org.br/trabalhos/2007_marcondes_lima_oral_terra.pdf>.

CRUZ, Daniel Gabriel da; PANACHUK, Lilian. Saga e persistência: a histórica formação do Sudeste do Pará desde os tempos (mais) antigos. São Paulo, [s.n.], 2014. Versão eletrônica disponível na Internet em: <https://www.academia.edu/9678008/Cruz_and_Panachuk._2014._Saga_e_persistencia_a_hist%C3%B3rica_forma%C3%A7%C3%A3o_do_Sudeste_do_Par%C3%A1_desde_os_tempos_mais_antigos>.

EMMI, Marília Ferreira. Os castanhais do Tocantins e a indústria extrativa no Pará até a década de 60. Paper do NAEA 166, outubro de 2002. Disponível na Internet em: < www.naea.ufpa.br/pdf.php?id=78>.

FAULHABER, Priscila. A história dos institutos de pesquisa na Amazônia. Dossiê Amazônia Brasileira II. Estudos Avançados, vol. 19, nº 54, 2005. Disponível na Internet em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142005000200014 >.

GARCIA, L.; COSTA, J. A.; KERN, D. C.; F. F. J. Caracterização de solos com terra preta: estudo de caso em um sítio tupi-guarani pré-colonial da Amazônia oriental. Revista de Arqueologia. Sociedade Brasileira de Arqueologia, v. 28, 2015. Disponível na Internet em: <http://revista.sabnet.com.br/index.php/revista-de-arqueologia/article/view/480>.

INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE (ICMBio). Vários autores. Arara Azul, Carajás. Disponível na Internet em: <http://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/comunicacao/publicacoes/publicacoes-diversas/DCOM_livro_arara_azul_carajas.pdf >.

INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE (ICMBio). Proposta de criação do Parque Nacional Campos Ferruginosos de Carajás: aspectos da paisagem e elementos naturais (ICMBio/MMA. Cartilha). Disponível na Internet em: <http://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/Cartilha_baixa__.pdf >.

INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE (ICMBio). Audiências para criação de novo Parque no Pará. Disponível na Internet em: <http://www.icmbio.gov.br/portal/ultimas-noticias/20-geral/8539-audiencias-publicas-para-criar-parque-no-para>.

INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE (ICMBio). Plano de Manejo da Floresta Nacional de Carajás. Volume I – Diagnóstico. Março de 2016. Disponível na Internet em: <http://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/biodiversidade/UC-RPPN/DCOM_ICMBio_plano_de_manejo_Flona_Carajas_volume_I.pdf>.

INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL (ISA). Kayapó Xikrin. Disponível na Internet em: <https://pib.socioambiental.org/pt/povo/kayapo-xikrin>.

KIPNIS, Renato; CALDARELLI, Solange Bezerra; OLIVEIRA, Wesley Charles de. Contribuição para a cronologia da colonização amazônica e suas implicações teóricas. In: Revista de Arqueologia. 18: 81-93, 2005. Disponível na Internet em: <http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/ra/article/view/1539/1194>.

KIPNIS, Renato; SCHEEL-YBERT, R. Arqueologia e paleoambientes. In: Quaternário do Brasil. Ribeirão Preto: Holos, 2005. Disponível

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LARAIA, Roque de Barros; DA MATTA, Roberto. Índios e castanheiros: a empresa extrativa e os índios no Médio Tocantins. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1967.

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Scientia Consultoria Científica. A fertilidade da terra. Uma experiência de educação patrimonial no sudeste do Pará. Disponibilizado mediante contato com a Scientia Consultoria Científica.

Scientia Consultoria Científica. UHE Belo Monte – Arqueologia. Vídeo. Disponibilizado mediante contato com a Scientia Consultoria Científica.

Scientia Consultoria Científica. Histórias, Comunidades e o Rio. Um breve panorama do patrimônio cultural do Xingu. Disponibilizado mediante contato com a Scientia Consultoria Científica.

Scientia Consultoria Científica. Encontro de comunidades do Xingu. Comunidade Santo Antônio. Disponibilizado mediante contato com a Scientia Consultoria Científica.

Scientia Consultoria Científica. Encontro de comunidades do Xingu. Comunidades Santa Luzia, São Pedro, São Francisco das Chagas, Ilha do João Grande e Paial. Disponibilizado mediante contato com a Scientia Consultoria Científica.

Sobre outros temas gerais e/ou de interesse para educadores.

Livros e artigos. Mapa etno-histórico de Curt Nimuendajú. Revistas e sites especializados.AMORIM, Lilian Bayma de. Cerâmica marajoara, a Comunicação do Silêncio. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi, 2010. Disponível na Internet em: <http://www.museu-goeldi.br/portal/sites/default/files/Downloads/Cat%C3%A1logo%20Cer%C3%A2mica%20Marajoara.pdf>.

ANTUNES, Celso. Jogos para a estimulação das múltiplas inteligências. Petrópolis: Editora Vozes, 6ª edição, 2000.

ANTUNES, Celso. Na sala de aula. Petrópolis: Editora Vozes, 2012.

BARROS, J. D. História da Cultura Material: notas sobre um campo histórico em suas relações intradisciplinares e interdisciplinares”. In: Disponível em Patrimoniuss: <http://ning.it/gIFy65>.

BERNARDO, Danilo V.; NEVES, Walter A. Arqueologia em sala de aula. Revista Carta Fundamental, n. 59, junho de 2014.

BONITO, J.; MARQUES, L; MORGADO, M.; REBELO, D; MEDINA, J; McDADE, G. M.; MARTINS, L. A importância do tempo geológico percebida pelos alunos de 12-13 anos: um estudo realizado em escolas nas zonas centro e norte de Portugal. In: Congresso Brasileiro e Geologia, 45. (2010), Belém, 2010. Anais..., Belém, UFPA. Disponível na Internet em: <http://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/td/article/view/8637309>.

CALDARELLI, Solange Bezerra. Pesquisa arqueológica em projetos de infra-estrutura: a opção pela preservação. Revista do Patrimônio, Rio de Janeiro, v. 33, n. xx Iphan-Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 153-174, 2007. ISSN número especial sobre Arqueologia e Preservação.

CUEVA DE LAS MANOS. Manual. INAPL/Secretaría de Cultura de la Nación Argentina. Disponível na Internet em: http://www.inapl.gov.ar/invest/arte%20rupestre%20argentino/Manual_En_tus_manos_Cueva_de_las_Manos.pdf.

FAUSTO, Carlos. Os índios antes do Brasil. Rio de Janeiro, Zahar, 2000 (data da 1ª edição).

FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. (Coleção Leitura).

GASPAR, Madu. Arte rupestre no Brasil. Rio de Janeiro, Zahar, 2000 (data da 1ª edição).

GURGEL, T. Quando o aluno ajusta os ponteiros e descobre o tempo. Revista Nova Escola, n. 225, 2009. Disponível na Internet em: <acervo.novaescola.org.br/formacao/quando-aluno-ajusta-ponteiros-497827.shtml>.

GRUNBERG, Evelina. Manual de atividades práticas de Educação Patrimonial. Brasília, DF, IPHAN, 2007. Disponível na Internet em: <http://portal.iphan.gov.br/uploads/publicacao/EduPat_ManualAtividadesPraticas_m.pdf>.

GUARINELLO, Norberto. Os primeiros habitantes do Brasil. São Paulo: Editora Atual, 1994 (data da 1ª edição).

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Mapa etno-histórico de Curt Nimuendajú. Rio de Janeiro: IBGE, 1981. Disponível para download em: <http://biblioteca.ibge.gov.br/biblioteca-catalogo?id=214278&view=detalhes>.

INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE (ICMBio). Parceiros da Natureza. Disponível na Internet em: <http://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/comunicacao/publicacoes/folder_parceiros_da_natureza_2016.pdf>.

INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE (ICMBio). NASCIMENTO, Jorge L. do; CAMPOS, Ivan B. (Org.). Atlas da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção em Unidades de Conservação Federais. Brasília, 2011. Disponível na Internet em: <http://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/documentos/Atlas-ICMBio-web.pdf>.

INSTITUTO CIÊNCIA HOJE. Coluna Caçadores de Fósseis, publicada mensalmente pelo paleontólogo Alexander Kellner. Disponível na Internet em: <http://www.cienciahoje.org.br/coluna/p/id/6/n/cacadores_de_fosseis>.

INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL (Iphan). Publicações de Educação Patrimonial. Relação disponível na Internet em: <http://portal.iphan.gov.br/publicacoes/lista?categoria=30&busca=&pagina=2>.

INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL (Iphan)/vários autores. Série Patrimônio Cultural Imaterial: Para

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saber mais. Cartilhas 1(2009), 2 e 3 (2017). Brasília: IPHAN. Disponíveis em versão física e digital. Download gratuito pelo portal do Iphan: <http://portal.iphan.gov.br/uploads/publicacao/cartilha_web.pdf>

INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL (Iphan). Educação Patrimonial: histórico, conceitos e processos. Brasília, DF, IPHAN, 2014. Disponível na Internet em: <http://portal.iphan.gov.br/uploads/publicacao/EduPat_EducacaoPatrimonial_m.pdf>.

INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL (Iphan). Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos CNSA/SGPA. Sistema de Gerenciamento do Patrimônio Arqueológico (SGPA), 2016. Disponivel na Internet em: <http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/236/>.

INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL. Povos Indígenas no Brasil. Dados apresentados em: <https://www.socioambiental.org/pt-br/o-isa/programas/povos-indigenas-no-brasil>.

INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL. Povos Indígenas no Brasil mirim. Dados apresentados em: <https://mirim.org/>.

INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL (ISA). Unidades de Conservação do Brasil. Disponível na Internet em: <https://uc.socioambiental.org/>.

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (MMA). Conceitos: Projeto Corredores Ecológicos. Disponível na Internet em: <http://www.mma.gov.br/areas-protegidas/programas-e-projetos/projeto-corredores-ecologicos/conceitos?tmpl=component&print=1.>

MELLO, T. F. de; MELLO, C. H. L. de; TORELLO, F. B. M. de. A Paleontologia na Educação Infantil: alfabetizando e construindo o conhecimento. Ciência e Educação, vol. 11, n. 3, p. 395-410, 2005. Textos Científicos. Disponível na Internet em <http://www.scielo.br/pdf/ciedu/v11n3/04.pdf>.

MENESES, Ulpiano T. B. de. Identidade cultural e Arqueologia. Revista do IPHAN, n. 20: 34-36, 1984. Disponível na Internet em: <http://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=reviphan&pagfis=7554&pesq=>.

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO/Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. Terceiro e Quarto Ciclos do Ensino Fundamental. Temas transversais. Brasília, 1998. Disponível na Internet em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/ttransversais.pdf>.

NEVES, Walter; BERNARDO, Danilo V.; OKUMURA, Maria Mercedes M. A origem do homem americano vista a partir da América do Sul: uma ou duas migrações? Revista de Antropologia, volume 50, n. 1. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2007: 9-44. Disponível na Internet em: <http://www.scielo.br/pdf/ra/v50n1/a01v50n1.pdf>.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA (UNESCO). Kit de Educação Patrimonial para Jovens. Versão em português. UNESCO, 2012. Disponível na Internet em: <http://whc.unesco.org/uploads/activities/documents/activity-54-30.pdf>.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA (UNESCO). Brasil: novos marcos de ação. Brasília: 2001. Disponível na Internet em: <http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/pol/unesco_brasil3_port.pdf>.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA (UNESCO). Patrimônio Mundial no Brasil. Lista disponível na Internet em: <http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/list-of-world-heritage-in-brazil/>.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA (UNESCO). Lista Representativa del Patrimonio Cultural Inmaterial de la Humanidad. 2009. Disponível na Internet em: <http://www.unesco.org/culture/ich/doc/src/06859-ES.pdf>.

PEREZ, Cassiana P.; RODRIGUES, Morgania F.; SANTOS, Tirla T. dos; ANDRADE, Luana C. de. O túnel do tempo geológico: ferramenta didática para o ensino de Geociências no Ensino Fundamental e Médio. Disponível na Internet em: <https://www.academia.edu/5372344/O_T%C3%9ANEL_DO_TEMPO_GEOL%C3%93GICO_FERRAMENTA_DID%C3%81TICA_PARA_O_ENSINO_DE_GEOCI%C3%8ANCIAS_NO_ENSINO_FUNDAMENTAL_E_M%C3%89DIO_THE_GEOLOGICAL_TIME_TUNNEL_A_TOOL_FOR_THE_TEACHING_OF_EARTH_SCIENCE_IN_ELEMENTARY_AND_HIGH_SCHOOL_1>.

PREZIA, Benedito; HOORNAERT, Eduardo. Brasil Indígena: 500 anos de resistência. São Paulo: FTD, 2000.

PROUS, André. Arqueologia Brasileira. Brasília: Ed. da UnB, 1992 (1ª edição).

PROUS, André. O Brasil Antes Dos Brasileiros: A Pré-História do Nosso País. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor Ltda., 2006. A 2ª edição, revista, está disponível na Internet em: <https://leaarqueologia.files.wordpress.com/2013/11/o-brasil-antes-dos-brasileiros-andre-prous.pdf>.

REVISTA CIÊNCIA HOJE DAS CRIANÇAS. Consulte temas de interesse em: http://chc.cienciahoje.uol.com.br/.

SOARES, Marina B (org.). A Paleontologia na sala de aula. Livro Digital. Disponível na Internet em: <https://www.paleontologianasaladeaula.com/>.

Vale em Canaã dos Carajás. Disponível na Internet em: <http://www.vale.com/pt/aboutvale/sustainability/links/linksdownloadsdocuments/relatorio-vale-canaa-carajas-2014.pdf>.

Vale em Parauapebas. Disponível na Internet em: <http://www.vale.com/brasil/PT/initiatives/environmental-social/iniciativas-sociais-para/Documents/Relatorio_Vale_em_Parauapebas_2016.pdf>.

VARINE, Hughes de. As raízes do futuro: patrimônio a serviço do desenvolvimento local. Tradução: Maria de Lourdes Parreiras Horta. Porto Alegre: Editora Medianiz, 2012.

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Vídeos. Palestras gravadas.INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE (ICMBio). Biodiversidade Brasileira (vídeo). Disponível na Internet em: <https://www.youtube.com/watch?v=SEFwGcJYbbg>.

INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL (Iphan). Vídeos. Relação disponível na Internet em: <http://portal.iphan.gov.br/videos>.

INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL (Iphan). Diversidade cultural constrói rico patrimônio (vídeo). Disponível na Internet em: <https://www.youtube.com/watch?v=_rFJmXjQ8mc>.

RTV UNICAMP. Programa Diálogo sem Fronteira/História. Os Estudos sobre os Indígenas no Brasil: entrevista com John Manuel Monteiro (parte I). Disponível na Internet em: <https://www.youtube.com/watch?v=oXf_1pjB3mc>.

RTV UNICAMP. Programa Diálogo sem Fronteira/História. Os Estudos sobre os Indígenas no Brasil: entrevista com John Manuel Monteiro (parte II). Disponível na Internet em: <https://www.youtube.com/watch?v=g9ZkEV1i0SY>.

Scientia Consultoria Científica. Arqueologia na Usina Hidrelétrica Barra Grande. Disponível na Internet em: <www.scientiaconsultoria.com.br>.

TV Globo. A Jornada da Vida mostra como era o Brasil antes do descobrimento. Documentário apresentado no Programa Fantástico de 14/12/2014. Disponível na Internet em: <https://www.youtube.com/watch?v=AOFWs7iEJiI>.

UNIVESP. SP Pesquisa. A Origem do Homem Americano. 1º bloco. Disponível na Internet em: <https://www.youtube.com/watch?v=u-mbnL_6b5k>. 2º bloco. Disponível na Internet em: <https://www.youtube.com/watch?v=MMPyOAAdFxs>.

Sobre outros temas gerais e/ou de interesse para educadores.

Objetivos. Conhecer:

- A região de Carajás no contexto da Amazônia brasileira: aspectos físicos (história da terra, componentes da flora e da fauna). As transformações ambientais, seus fatores e consequências.

- A região de Carajás: as ocupações populacionais ao longo do tempo.

- A Pré-história brasileira e a importância da Arqueologia para esse conhecimento.

- A diversidade cultural, os conhecimentos e a arte indígenas. O cotidiano indígena desde o Brasil colonial: escravidão e resistência à dominação, aculturamento. As influências culturais indígenas na cultura brasileira.

- A diversidade cultural dos africanos trazidos para o Brasil. O cotidiano negro no Brasil, desde o período colônia: escravidão, resistências à dominação. Heranças e influências culturais na cultura brasileira atual.

- O respeito às diferenças culturais.

- O conhecimento popular e a história do país, estímulo ao levantamento dos conhecimentos da natureza, das histórias locais e da diversidade cultural regional.

Estratégias sugeridas. Propor aos alunos:

- Pesquisas em fontes diversas: livros, vídeos e filmes, dados disponíveis na Internet; informações orais de membros da comunidade etc.

- Integração de dados pesquisados em textos, mapas, quadros e tabelas.

- Elaboração de mapas locais e regionais, mapas comparativos entre culturas, mapas de biodiversidade.

- Construção de problemas matemáticos e de quadros e tabelas envolvendo temas do meio ambiente e/ou práticas arqueológicas de campo e de laboratório;

- Reescritura e ilustração de mitos, lendas, contos e causos tradicionais. Redação e ilustração de contos;

- Dramatização de mitos, lendas, contos tradicionais, elaboração de pequenas peças teatrais acerca desses temas, com produção de cenários, costumes etc. e

- Organizar atividades artísticas relacionadas às artes plásticas, ao teatro, à dança e à música, festivais de música, mostras comparativas entre obras de artes plásticas de diversas culturas, no tempo (ex.: culturas pré-históricas/culturas atuais) e no espaço (ex.: cultura urbana e cultura rural, cultura urbana e cultura indígena).

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Anexos

4. Memória, memórias.

GUILHERME AUGUSTO ARAÚJO FERNANDES

Autor: Mem Fox. Ilustrações: Julie Vivas. Tradução: Gilda de Aquino. Edição Brinque-Book Editora de Livros Ltda.

Era uma vez um menino chamado Guilherme Augusto Araújo Fernandes. Sua casa era ao lado de um asilo de velhos e ele conhecia todo mundo que vivia lá.

Ele gostava da Sra. Silvano, que tocava piano.

Ele ouvia as histórias arrepiantes que lhe contava o Sr. Cervantes.

Ele brincava com o Sr. Valdemar, que adorava remar.

Ajudava a Sra. Mandala, que andava com uma bengala.

E admirava o Sr. Possante, que tinha voz de gigante.

Mas a pessoa de que ele mais gostava era a Sra. Antônia Maria Diniz Cordeiro, porque ela também tinha quatro nomes, como ele. Ele a chamava de Dona Antônia e lhe contava todos os seus segredos.

Guilherme Augusto vivia fazendo perguntas. Um dia, escutou sua mãe e seu pai conversando sobre Dona Antônia.

- Coitada da velhinha - disse sua mãe.

- Por que ela é coitada? – perguntou Guilherme Augusto.

- Porque ela perdeu a memória - respondeu o pai.

- Também não é para menos – disse a mãe. – Afinal, ela já tem 96 anos.

- O que é memória? – perguntou Guilherme Augusto.

- É algo de que você se lembra – respondeu o pai.

Mas Guilherme Augusto tinha de saber mais. Então, procurou a Sra. Silvano, que tocava piano.

- O que é memória? – perguntou.

- Algo quente, meu filho, algo quente.

Ele procurou o Sr. Cervantes, que lhe contava histórias arrepiantes.

- O que é memória? – perguntou.

- Algo bem antigo, meu caro, algo bem antigo.

Ele procurou o Sr. Valdemar, que adorava remar.

- O que é memória? – perguntou.

- Algo que faz chorar, meu menino, algo que faz chorar.

Ele procurou a Sra. Mandala, que andava com uma bengala.

- O que é memória? – perguntou.

- Algo que o faz rir, meu querido, algo que o faz rir.

Ele procurou o Sr. Possante, que tinha voz de gigante.

- O que é memória? – perguntou.

- Algo que vale ouro, meu jovem, algo que vale ouro.

Então, Guilherme Augusto voltou para casa, para procurar memórias para Dona Antônia, já que ela perdera as suas.

Ele procurou uma antiga caixa de sapatos cheia de conchas, guardadas há muito tempo, e colocou-as com cuidado numa cesta.

Ele achou a marionete, que sempre fizera todo mundo rir, e colocou-a na cesta, também.

Ele lembrou-se, com tristeza, da medalha que seu avô havia lhe dado e colocou-a delicadamente ao lado das conchas.

Depois achou sua bola de futebol, que para ele valia ouro; por fim, entrou no galinheiro e pegou um ovo fresquinho, ainda quente, debaixo da galinha.

Aí, Guilherme Augusto foi visitar Dona Antônia e deu a ela, uma a uma, cada coisa de sua cesta.

“Que criança adorável que me traz essas coisas maravilhosas”, pensou Dona Antônia.

E então ela começou a lembrar-se.

Ela segurou o ovo ainda quente e contou a Guilherme Augusto sobre um ovinho azul, todo pintado, que havia encontrado uma vez, dentro de um ninho, no jardim da casa de sua tia.

Ela encostou uma das conchas em seu ouvido e se lembrou da vez que tinha ido à praia de bonce, há muito tempo, e como sentira calor com suas botas de amarrar.

Ela pegou a medalha e lembrou, com tristeza, de seu irmão mais velho que fora para a guerra e nunca mais voltara.

Ela sorriu para a marionete e lembrou da vez em que mostrara uma para sua irmãzinha, que rira às gargalhadas, com a boca cheia de mingau.

Ela jogou a bola de futebol para Guilherme Augusto e se lembrou do dia em que se conheceram e de todos os segredos que haviam compartilhado.

E os dois sorriram e sorriram, pois, toda a memória perdida de Dona Antônia havia sido encontrada por um menino que nem era tão velho assim.

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5. O Tupi que falamos

Quando os europeus chegaram ao Brasil, vários povos indígenas falavam diversas línguas. Muitas palavras indígenas foram incorporadas à Língua Portuguesa falada no País – como as de origem Tupi em destaque na poesia a seguir, de autoria de

Claudio Fragata.

O Tupi que você fala [Claudio Fragata]Você sabe falar tupi?Pois acho que sabe

e eu provo aqui.

Você entendequando dizem guri,

jabuticaba ou jabuti?

Sabe que bicho équando falam sagui,tamanduá ou siri?

E jiboia, jacaré,capivara, arara, urubu,tucano, paca ou tatu?

Sabe que fruta é se falam caju, guaraná,pitanga ou maracujá?

Sabe o significadoda palavra abacaxi?

Então, isso é tupi.

Também é tupisamambaia, mandioca,

sabiá e paçoca.

E piranha,taquara, perereca,taturana e peteca.

Você entendequando falam pororocaou faz cara de boboca?

Se falam sacivocê sente um arrepioe procura um desvio?

Viu como você entende tudo, sim senhor,sem precisar de tradutor?

Você já falava tupie nem percebia

mesmo falando todo dia.

Comendo pipocaou amendoim você é um pouco

curumim.

6. Oficina: Pergunte ao lixo

Imagens:Quanto tempo leva para que o lixo se decomponha? (Fonte: http://cincoerres.wordpress.com/page/2)

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Materiais frequentes em sítios arqueológicos

Cerâmica Carvão Rocha

Conhas Vidro Tijolo

Metais Louças

TextoCavucando o lixo

(Adaptação da matéria de Flávia Ribeiro e Fábio Varsano. Revista Superinteressante, Edição Verde - 12/2008).Segundo o Dicionário Houaiss, arqueologia é a ciência que [...] estuda costumes e culturas dos povos antigos através do material (fósseis, artefatos, monumentos etc.) que restou da vida desses povos. Um pequeno grupo de pesquisadores procurou desvendar o comportamento de uma comunidade atual analisando os restos por ela descartados: eles fuçaram latas de lixo e grandes aterros sanitários.

Ao assim proceder, criaram um ramo da arqueologia, em inglês denominado garbology (garbage, “lixo”+ archeology, “arqueologia”). Essa especialidade desenvolveu-se a partir de 1973, quando o norte-americano William L. Rathje, estudioso da Pré-história, fundou o Garbage Project, na Universidade do Arizona. “A história de nossa civilização é contada a partir de potes e panelas quebradas. Tudo o que sabemos vem do que os antigos jogavam fora”, diz Rathje, que criou o projeto após assistir, na TV, entrevista de um catador de latas da cidade de Kenwood (Califórnia), que era também um cronista do estilo de vida, desperdício e reciclagem na vizinhança onde trabalhava. Rathje e seus alunos coletaram objetos em latas de lixo domésticas e classificando-os, analisaram hábitos alimentares e de consumo. A partir de 1987, com uma equipe multidisciplinar que incluiu microbiólogos, químicos, engenheiros e antropólogos, Rathje enfrentou um desafio maior e mais mau-cheiroso: em doze anos cataram e analisaram dejetos de 15 aterros dos EUA, Canadá e México. As conclusões dos estudos originaram o livro Rubbish: The Archeology of Garbage (Refugo: A Arqueologia do Lixo) e indicaram, entre outros dados: 15% da comida comprada pelas famílias acabava no lixo; fraldas e recipientes térmicos de cadeias de fast food representaram menos de 2% do lixo acumulado nos aterros – assim, as mães não precisam se sentir culpadas por cobrir os bumbuns de seus bebês com fraldas descartáveis; sacolas plásticas ocupavam um espaço 80% menor do que as de papel; e os papéis representavam mais de 40% do total do lixo. Tais descobertas ajudaram a orientar campanhas de reciclagem.

O engenheiro e arqueólogo André Wagner Oliani Andrade, pioneiro na arqueologia do lixo no Brasil, pesquisou com sua equipe, durante três anos, o aterro desativado de Volta Fria, em Mogi das Cruzes (SP). Observou que, dependendo das condições de umidade, temperatura e iluminação de determinado ponto da montanha de lixo, materiais orgânicos não se degradam rapidamente. Exemplo: enterrado a 6 metros de profundidade, estava preservado um pedaço de bisteca, de pelo menos 5 anos antes, que se decompôs rapidamente quando chegou ao laboratório. Analisados, os grupos de alimentos mais comuns no aterro ofereceram dados importantes sobre os hábitos e a saúde dos moradores: em 1º lugar, ficaram os açúcares (chocolate, bala, refrigerante), com 27% do total, seguidos de farináceos (pão, bolo, biscoito), com 21%, e de lácteos (leite, queijo, iogurte), com 14%. O item que apresentou maior incidência foi de refrigerantes, com 3,3% do total.

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TextoLixo

Luís Fernando VeríssimoEncontram-se na área de serviço. Cada um com o seu pacote de lixo. É a primeira vez que se falam.

- Bom dia.

- Bom dia.

- A senhora é do 610.

- E o senhor do 612.

- Eu ainda não lhe conhecia pessoalmente...

- Pois é... - Desculpe a minha indiscrição, mas tenho visto o seu lixo...

- O meu quê?

- O seu lixo.

- Ah...

- Reparei que nunca é muito. Sua família deve ser pequena.

- Na verdade sou só eu.

- Humm. Notei também que o senhor usa muito comida em lata.

- É que eu tenho que fazer minha própria comida. E como não sei cozinhar.

- Entendo.

- A senhora também.

- Me chama de você.

- Você também perdoe a minha indiscrição, mas tenho visto alguns restos de comida em seu lixo. Champignons, coisas assim.

- É que eu gosto muito de cozinhar. Fazer pratos diferentes. Mas como moro sozinha, às vezes sobra.

- A senhora... Você não tem família?

- Tenho, mas não aqui.

- No Espírito Santo.

- Como é que você sabe?

- Vejo uns envelopes no seu lixo. Do Espírito Santo.

- É. Mamãe escreve todas as semanas.

- Ela é professora?

- Isso é incrível! Como você adivinhou?

- Pela letra no envelope. Achei que era letra de professora.

- O senhor não recebe muitas cartas. A julgar pelo seu lixo.

- Pois é.

- No outro dia, tinha um envelope de telegrama amassado.

- É.

- Más notícias?

- Meu pai. Morreu.

- Sinto muito.

- Ele já estava bem velhinho. Lá no Sul. Há tempos não nos víamos.

- Foi por isso que você recomeçou a fumar?

- Como é que você sabe?

- De um dia para o outro começaram a aparecer carteiras de cigarro amassadas no seu lixo.

- É verdade. Mas consegui parar outra vez.

- Eu, graças a Deus, nunca fumei.

- Eu sei, mas tenho visto uns vidrinhos de comprimidos no seu lixo...

- Tranquilizantes. Foi uma fase. Já passou.

- Você brigou com o namorado, certo?

- Isso você também descobriu no lixo?

- Primeiro o buquê de flores, com o cartãozinho, jogado fora. Depois, muito lenço de papel.

- É, chorei bastante, mas já passou.

- Mas hoje ainda tem uns lencinhos.

- É que estou com um pouco de coriza.

- Ah.

- Vejo muita revista de palavras cruzadas no seu lixo.

- É. Sim. Bem. Eu fico muito em casa. Não saio muito. Sabe como é.

- Namorada?

- Não.

- Mas há uns dias tinha uma fotografia de mulher no seu lixo. Até bonitinha.

- Eu estava limpando umas gavetas. Coisa antiga.

- Você não rasgou a fotografia. Isso significa que, no fundo, você quer que ela volte.

- Você está analisando o meu lixo!

- Não posso negar que o seu lixo me interessou.

- Engraçado. Quando examinei o seu lixo, decidi que gostaria de conhecê-la. Acho que foi a poesia.

- Não! Você viu meus poemas?

- Vi e gostei muito.

- Mas são muito ruins!

- Se você achasse eles ruins, mesmo, teria rasgado. Eles só estavam dobrados.

- Se eu soubesse que você ia ler...

- Só não fiquei com ele porque, afinal, estaria roubando. Se bem que, não sei: o lixo da pessoa ainda é propriedade dela?

- Acho que não. Lixo é domínio público.

- Você tem razão. Através do lixo, o particular se torna público. O que sobra da nossa vida privada se integra com a sobra dos outros. O lixo é comunitário. É a nossa parte mais social. Será isso?

- Bom, aí você já está indo fundo demais no lixo. Acho que...

- Ontem, no seu lixo.

- O quê?

- Me enganei, ou eram cascas de camarão?

- Acertou. Comprei uns camarões graúdos e descasquei.

- Eu adoro camarão.

- Descasquei, mas ainda não comi. Quem sabe a gente pode... Jantar juntos?

- É. Não quero dar trabalho.

- Trabalho nenhum.

- Vai sujar a sua cozinha.

- Nada. Num instante se limpa tudo e põe os restos fora.

- No seu lixo ou no meu? ...

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8. Natureza e Meio Ambiente

TextosNatureza Meio Ambiente

Não foi a gente que fez? É natureza!

Tudo que existe no planeta Terra, que não tenha sido feito pelo ser humano. Os seres vivos do planeta (as plantas, os animais, os micróbios) e os lugares onde eles vivem (no ar, na terra e na água) são elementos da natureza (MAIA, 2013, p. 19).

Olhe ao redor. Respire fundo. Sinta a temperatura. Ouça o som... Tudo isso que você sente pertence ao meio ambiente.

Tudo que está em volta de um ser vivo (gente, planta, bicho ou micróbio) influencia o crescimento e a saúde desse ser e da comunidade onde ele vive. Diz a Constituição da República Federativa do Brasil que o Poder Público (os governos federal, estaduais e municipais) e todos os cidadãos têm o dever de defender o meio ambiente e preservá-lo para as presentes e as futuras gerações (MAIA, 2013, p. 19).

Recursos naturais da região de Carajás

Em Carajás, existem cursos d’água em abundância. O rio Parauapebas é o principal contribuinte do rio Itacaiúnas. Em língua tupi, tacá ou tucá, significa “castanha” (Coudreau, 1980, p. 55); assim, a denominação Itacaiúnas, provavelmente, relaciona-se aos extensos castanhais outrora existentes nas margens desse rio. O Itacaiúnas nasce da junção do ribeirão do Caracol com o igarapé da Onça, na Serra Arqueada; segue em direção sul-norte e tem como afluentes da margem esquerda o córrego da Goiaba, o rio Sossego, os igarapés Taboca, Jacaré e Cigano (ou Mombuca, ou Gelado); pela margem direita recebe os rios Piaquê, Caboclo, Verde, Novo, Caracol, e os igarapés Araras, Serra Dourada, Bocaina, Ilha de Coco e Lajeado. Após receber as águas do Parauapebas, o Itacaiúnas segue em direção ao rio Tocantins, onde deságua perto de Marabá, a montante da barragem de Tucuruí.

As nascentes dos principais rios situam-se nas encostas das serras (Serra Norte e Serra Sul), dentro dos limites da Floresta Nacional de Carajás. No interior da área florestada, grande parte das drenagens corre em vales encaixados. Em seus percursos, tanto o rio Itacaiúnas quanto o rio Parauapebas são navegáveis, por pequenos barcos, nos trechos entre as corredeiras e as pequenas cachoeiras. Estão submetidos ao ciclo hidrológico na Região Hidrográfica do Tocantins-Araguaia, isto é, períodos de enchente (novembro a janeiro), cheia (fevereiro a abril), vazante (maio a julho) e estiagem (agosto a outubro).

Predomina na região o clima equatorial superúmido, com temperatura média de 26 ˚C, umidade relativa alta, com média de 75% (98% na estação chuvosa, entre fevereiro a abril; 52% no ápice da estação seca, de junho a agosto).

Em termos de relevo, a área de Carajás pertence à porção de terras altas que circundam, ao norte, oeste e sul, a parte central da Amazônia Brasileira, isto é, a planície amazônica (cuja altitude média permanece abaixo da cota de 100 metros). Essas terras altas, com altitude média de 700 metros acima do nível do mar, apresentam relevo movimentado: existem picos e serras de topos aplainados, onde ocorrem cavidades naturais; e ainda colinas alongadas, morrotes e platôs. A Serra de Carajás, propriamente dita, e suas ramificações a leste – a Serra do Buriti ou do Rabo e a Serra da Estrela – formam um conjunto de morros tabulares recobertos por carapaças ferruginosas. Em algumas bordas dos platôs aparecem penhascos que podem atingir até 300 metros de altura. No alto das serras, a retenção da água da chuva em depressões circulares de terreno forma lagos rasos.

A rica hidrografia, as condições de relevo e clima, os solos propícios a atividades humanas, as características de vegetação e de fauna, permitem à região de Carajás permanecer numa zona de transição entre dois Domínios Geoecológicos: o da Floresta Amazônica e o dos Cerrados. Isso quer dizer que, apesar de predominantemente florestada por matas de tipo amazônico nos vales e encostas, também existem áreas não florestadas, geralmente nos cimos dos morros ricos em minério de ferro, onde clareiras exibem uma couraça ferruginosa, a canga, e vegetação específica de savanas.

A fauna regional é própria dos dois ecossistemas existentes. Nas áreas de mata existe variedade de aves, de borboletas, de anfíbios (sobretudo sapos, rãs, pererecas), de répteis (jacarés; anfisbenas ou minhocões), de quelônios, lagartos, serpentes, roedores. Já nas áreas abertas de canga ocorrem aves características dos cerrados e outras típicas das formações abertas da Amazônia, bem como aves de larga distribuição na América do Sul.

A vegetação apresenta imensa e importante diversidade de árvores – algumas de até 50 metros de altura, outras mais baixas, com características de sub-bosque –, o que também significa variedade de tipos de madeiras, incluindo as de lei, e espécies produtoras de resinas, látex, óleos e gorduras. Essa variedade estende-se às inúmeras plantas com propriedades medicinais e odoríferas, e também às centenas de espécies produtoras de frutos comestíveis.

É importante lembrar-se de que: originalmente, as formações florestais e a fauna a elas associada apresentavam elevada diversidade de espécies. No presente, restam apenas fragmentos dessas formações originais, que foram destruídas ou muito modificadas pelas formas de uso utilizadas pelos grupos humanos que foram se instalando na região. Nessas pequenas ‘ilhas’, encontram-se algumas espécies vegetais isoladas, como castanheira, angelim, angico e gonçalo-alves, que testemunham a imponência e a diversidade originais dessa floresta cujo território hoje está ocupado predominantemente por pastagens, reflorestamento e culturas agrícolas.

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Texto

Gonçalo-alves. Foto: Jorge Vallmitjana (http://bit.ly/2k3Uuve).

Sapucaia. Foto: Alex Popovkin (http://bit.ly/2kpAeoy).

Copaíba (http://bit.ly/2l5fxO8)

Desflorestamento para formação de pastos. Foto: Acervo Scientia. Castanheira. Foto: Nando Cunha (http://

bit.ly/2k41sQT).

Castanheiras derrubadas. Ao fundo, floresta sendo desmatada. Foto: Ana

Cotta (http://bit.ly/2kpEODp)

9. O tempo muito antigo na região de Carajás.

Estudos paleoambientais e estudos arqueológicos na região de CarajásOs estudos arqueológicos buscam respostas para questões como: que grupos humanos habitaram certa região no passado? Quando viveram? Como viveram? Quais os conhecimentos que adquiriram e que nos deixaram como herança? Para períodos muito antigos, vestígios arqueológicos são as únicas fontes de informação que temos para conhecer antigas populações. A Arqueologia, valendo-se de estudos interdisciplinares e associados a estudos paleoambientais (reconstituições de ambientes antigos), obtém cada vez mais e melhores respostas. Pesquisas arqueológicas associadas ao licenciamento ambiental de empreendimentos da Vale têm permitido conhecer dados importantes sobre a região de Carajás.

Na escala do tempo geológico, o período Holoceno situa-se entre 11.500 anos atrás, aproximadamente – período final da última glaciação (Era do Gelo) –, e o presente. Esse período corresponde a uma fase quente e úmida na Terra, na qual os ambientes sofreram grandes mudanças e a humanidade, que já se encontrava em quase todos os continentes, expandiu-se para a América e depois para a Antártida.

Na região de Carajás, estudos paleoambientais mostraram grande variabilidade climática, com alternância de períodos úmidos, com predominância de floresta tropical úmida, e de períodos secos, nos quais áreas de cerrado e áreas de floresta coexistiram. As pesquisas arqueológicas já realizadas demonstraram um povoamento muito antigo, as primeiras ocupações datadas do início do período Holoceno (11.500 anos atrás) e talvez de ainda antes, do final do período Pleistoceno, época da última glaciação. A relação entre estudos paleoambientais e estudos arqueológicos indica que essas populações desenvolveram, principalmente, duas formas de organização social e econômica, ambas demonstrando adaptações culturais às frequentes mudanças ambientais.

Populações de caçadores-coletores viveram em Carajás entre 2.500 e 11.500 anos atrás, aproximadamente. Instrumentos e armas de pedra lascada, restos de fogueiras e de alimentação identificados em cavidades rochosas da região de Carajás, pelas pesquisas arqueológicas, revelaram que em dezenas delas houveram intensas ocupações humanas muito antigas; é possível que, no futuro, vestígios dessas populações sejam localizados também em áreas a céu aberto, próximas a rios e igarapés.

Estudos dos restos de alimentação indicaram que, vivendo em ambientes de floresta tropical ou de cerrado, esses grupos, provavelmente pequenos e relativamente nômades, tinham uma dieta baseada, sobretudo, na coleta de frutos e tubérculos, complementada pela caça e pesca de animais silvestres. Os vestígios de alimentos permitiram, também, conhecer animais e plantas que integravam o meio ambiente na época.

O carvão das fogueiras permitiu efetuar as datações. Em alguns desses sítios arqueológicos existem também elementos de cerâmica cuja antiguidade precisa ser comprovada por novas pesquisas. A Gruta do Gavião, por exemplo, pesquisada por

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equipes do Museu Paraense Emílio Goeldi, evidenciou ocupações datadas entre 8.140 e 2.900 anos AP. Foi o primeiro sítio da Amazônia brasileira a apresentar evidências de ocupações humanas na floresta durante todo o Holoceno (MAGALHÃES, 1994). As pesquisas realizadas pela Scientia Consultoria na região de Carajás reforçaram a antiguidade das ocupações humanas e também demonstraram que elas ocorreram durante todo o período Holoceno, com datações entre 10.000 e 940 AP, aproximadamente (KIPNIS et al., 2007).

Populações de horticultores ceramistas viveram em Carajás entre 500 e 2.500 anos atrás, aproximadamente. Essas datas podem recuar até 4.000 anos, se os dados das últimas pesquisas foram confirmados. A ocupação da bacia do rio Itacaiúnas por sociedades horticultoras1 produtoras de cerâmica é conhecida desde 1965, quando o antropólogo Napoleão Figueiredo analisou uma coleção cerâmica com semelhanças à Tradição Tupiguarani, embora tivesse sido coletada em antigas aldeias Xikrin pelo pesquisador Protásio Frikel.

Entre 1983 e 1995, arqueólogos do Museu Paraense Emílio Goeldi identificaram dezenas de sítios cerâmicos a céu aberto na região compreendida entre os rios Itacaiúnas, Parauapebas, Novo e ‘igarapé do 30’. Neles estavam objetos líticos, principalmente lâminas de machado e, de modo predominante, material cerâmico, parte com traços associados à Tradição Tupiguarani. Os sítios Tupiguarani, a céu aberto, representam uma ocupação longa, entre 280 e 1.510 AD. Nas décadas de 1980 e 1990, pesquisas no Baixo Tocantins ampliaram o quadro de ocorrência de material de Tradição Tupiguarani no Sudeste do Pará. Mais recentemente muitos outros sítios foram identificados e analisados pelos arqueólogos da Scientia Consultoria no Níquel do Vermelho, no Manganês do Azul e na área da Barragem do Gelado (Serra Norte).

Os resultados de todas essas pesquisas indicam, para a região de Carajás:

a) uma ampla presença de sítios Tupiguarani no território de Canaã dos Carajás, datações recentes colocam esta ocupação entre 410 e 1.360 AD. Essas sociedades horticultoras habitavam nas proximidades de cursos d’água, em aldeias de grandes dimensões. Os solos muito orgânicos, ricos em elementos químicos importantes para a agricultura como fosfato, carbono, manganês, conhecidos como Terra Preta de índio ou Terra Preta Antropogênica permitiram agricultura para suportar populações densas, constantes. A pesca era prática regular. A caça e a coleta, provavelmente, eram atividades complementares. Nessas aldeias, o espaço se dividia para áreas específicas de atividades: habitação, praça, de descarte de lixo – inclusive ossos da fauna que serviram para alimentação das pessoas que ali viveram. Pequenos grupos dessas sociedades incursionavam pela Serra dos Carajás e ali acampavam por alguns dias, abrigando-se em algumas das milhares cavidades existentes na região. Alguns grupos se instalaram permanentemente na região serrana, como aconteceu na atual área da Mina de Manganês do Azul.

b) Com características diversas daquelas presentes na tradição Tupiguarani, objetos e fragmentos cerâmicos foram encontrados em grutas da região serrana de Carajás. A cerâmica identificada, possivelmente, é mais antiga: as datações realizadas indicaram, na Serra Norte, tanto datas contemporâneas às datações da cerâmica Tupiguarani, cerca de 1.000 AD, quanto datas mais recuadas – entre 2.000 e 4.000 BP, aproximadamente. Na região do Níquel do Vermelho, cinco sítios arqueológicos em cavidade apresentaram ocupações ceramistas, três delas datadas entre 240 AD a 1.000 AD, mas todas essas datações ainda precisam ser confirmadas por novos estudos. Uma incógnita até pouco tempo, a problemática das ocupações ceramistas nos abrigos sob rocha da região de Carajás começa a ser desvendada por pesquisas arqueológicas orientadas especificamente para esses sítios: elas foram, em parte, contemporâneas às ocupações Tupiguarani a céu aberto? Elas se relacionaram com os antigos caçadores-coletores que também ocuparam as cavidades naturais?

1 As sociedades horticultoras conheciam e desenvolviam práticas agrícolas e cultivavam verduras, legumes, plantas, flores e frutas. Em geral, essas populações também produziam vasilhames e outros objetos de cerâmica.

11. Patrimônio cultural

Imagens

Escavação do sítio lito-cerâmico Fazenda Bocaina 1, Projeto RFSP. Fonte: Acervo Scientia. Vasilha cerâmica reconstituída; sítio arqueológico NV-XIV. Fonte:

Acervo Scientia.

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Placa de identificação de sítio arqueológico. Bolo de Macaxeira. Fonte: Acervo Scientia.

Praça da Biblia, Parauapebas: mirante. Fonte: Acervo Scientia. Paisagem: Flona de Carajás. Fonte: Acervo Scientia.

Paisagem a partir da Praça da Bíblia.Fonte: Acervo Scientia.

TextosReceita: Bolo de Macaxeira

Ingredientes:3 kg de macaxeira

500 g de Margarina ½ kg de açúcar1 litro de leite

2 pacotes de erva-doce2 pacotes de cravos

2 cocos frescos1 colher de chá de sal

5 ovos caipiras

Modo de preparar:

Ralar a macaxeira, colocar um pouco de água na massa e espremer em um pano de prato para tirar o tucupi (a goma). Colocar o cravo e a erva doce (pilados e separados), o açúcar e a margarina, misturando tudo. Acrescentar o leite fervido (ainda quente), os ovos caipiras, o coco fresco ralado e o sal (a gosto). Agora, é só misturar bem (com uma colher de pau é melhor), untar a forma com margarina, despejar a massa e levar para assar durante cerca de 20 minutos.

TextosVocê sabia que o órgão responsável pela proteção de todo nosso patrimônio cultural é o Instituto Patrimônio e Artístico Nacional – Iphan (pronuncia-se IFAM)? Esse órgão foi criado em 13 de janeiro de 1937, pela Lei nº 378, no governo de Getúlio Vargas, e traduziu a preocupação do Brasil com a preservação de seu patrimônio cultural.

O patrimônio cultural de um país inclui bens materiais, concretos – os bens imóveis (como os núcleos urbanos, sítios arqueológicos e paisagísticos e propriedades individuais, as edificações históricas) e os bens móveis (como os bens arqueológicos, os acervos dos museus, os documentos escritos, os livros, os registros em imagens e em sons), – e os bens imateriais ou intangíveis, quer dizer, as expressões musicais, as danças, as festas, as lendas, os costumes que caracterizam um povo ou local. Transmitido de geração em geração, esse patrimônio é constantemente recriado pelas comunidades, em função das mudanças ocorridas no meio.

Esse conjunto é nosso legado do passado, nosso equipamento do presente e a herança que deixaremos às futuras gerações, para que elas possam aprender, maravilhar-se e desfrutar dele. O patrimônio é o conjunto de lugares, objetos, conhecimentos, crenças, que queremos conservar; nós os valorizamos porque provêm de nossos ancestrais, ou porque são bonitos, ou por terem valor científico, ou porque são nossos pontos de referência, nossa identidade (UNESCO, 2005; www.iphan.gov.br).

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12. Representações cartográficas da região de Carajás: no final do século 19 e na atualidade

Henri Coudreau na região de CarajásNa última década do século 19, o geógrafo e professor francês Henri Coudreau, a serviço do governo do Pará, realizou o reconhecimento e o mapeamento de regiões da Província. Seus relatórios detalhados constituem fonte importante para o conhecimento da Amazônia na época: vegetação, rios, relevo, descrição das espécies botânicas, identificação de populações indígenas e descrição de suas línguas, atividades e costumes, localização de populações caboclas e suas atividades – dados acompanhados por mapas e minuciosos desenhos. Num desses levantamentos, com guias indígenas e caboclos, percorreu a região situada entre os vales dos rios Tocantins e Itacaiúnas, entre julho e outubro de 1897. Leia trechos do relatório publicado em 1898. Fonte: Coudreau (1980 [1898]: 61-67)

Trechos do Relatório de Henri CoudreauA uma pequena distância a montante da ilha [Ilha da Confluência, próxima à cachoeira da Tapioca] divide-se o Itacaiúnas em dois braços: o Alto Itacaiúnas, sempre muito largo, que se estende à nossa direita, e o Parauapebas, dissimulado por detrás das ilhas, à nossa esquerda. Este último constitui um afluente do primeiro, que é o rio principal.

Resolvemos prosseguir inicialmente pelo Parauapebas, onde talvez tivéssemos mais sorte em encontrar os tais campos que [conforme informações colhidas no Araguaia] existem na região onde ambos os formadores do Rio Itacaiúnas têm suas cabeceiras.

O Parauapebas, que na sua barra é mais estreito, porém mais profundo do que o Alto Itacaiúnas, tem as águas mais escuras e frias que as do rio principal. Enquanto o Parauapebas parece provir de uma região de montanhas, o Alto Itacaiúnas deve descer de uma área de altos planaltos.

(...) a partir (...) do curso inferior do Parauapebas, (...) passa a constituir a característica deste rio: poços profundos entre os “secos” ou entre as cachoeiras, margens recobertas por castanheiros, e, nas águas imóveis e escuras, jacarés em profusão, cruzando o rio para cima e para baixo. (...) Passamos um primeiro travessão – médio – e depois nos instalamos para passar a noite, escolhendo uma colina baixa fora do alcance dos jacarés.

Na fresca da manhã, os mutuns vagueiam junto ao rio (...). As margens apresentam uma alternância de terras altas e baixas: aquelas, constituídas por morrotes cobertos de castanheiros; essas, de trechos alagados, revestidos pelos compactos rebentos rasteiros da vegetação dos pântanos.

A largura média do Parauapebas mantém-se por volta de uns 50 metros. Em determinado ponto, uma grande piranheira está atravessada perpendicularmente ao sentido da correnteza. (...) o tronco, assim como os galhos grossos da copa, permanece a salvo da deterioração (...). Logo após dessa árvore caída, transpomos a primeira cachoeira do Parauapebas, a CACHOEIRA DA PIRANHEIRA. No momento, essa cachoeira não apresenta nível suficiente senão na brecha central, um sulco escavado na pequena barragem rochosa. (...) Abaixo (...) a CACHOEIRA DAS ILHAS é formada de quatro travessões (...).

Acampamos junto ao sangradouro de um lago, a fim de pernoitar. Este lago, na realidade, é povoado, parecendo até possuir uma considerável população... de jacarés. (...) Durante toda a noite, os sáurios, deixando seu lago, vinham cruzar diante de nosso acampamento. (...) Em vista disso, prendemos nossas redes a alguma distância da margem (...).

Aqui, a vegetação apresenta singulares contrastes. Ao lado das gigantescas castanheiras existem touceiras do bambuzinho denominado ‘taboca’ (...) que é uma cana delgada de colmo oco, vêem-se algumas touceiras de ‘taquara’, cujo colmo é compacto (...). Por fim, mesclando-se num todo denso e estranho, bosquetes formados de gigantescas árvores e de bambus, ora brotando do chão em feixes enormes (...) esparsos por entre a mirrada e feia vegetação dos pântanos (...).

Nossas montarias, decididamente, estão fazendo muita água. A coisa chegou a um ponto tal, que é necessário manter uma pessoa esvaziando a embarcação sem parar (...). Essas montarias parecem seminovas, mas sua madeira é de má qualidade. A princípio pensei que tivessem sido feitas de ‘sapucaia’ (‘cumbuca-de-macaco’), madeira dura e das menos putrescíveis; contudo, sua madeira parece tratar-se de castanheira, que se apodrece tão rapidamente quanto a samaumeira (...).

Passamos três pequenos ‘rápidos’ consecutivos, depois um quarto, em seguida um quinto, médio, depois do quê chegamos à Cachoeira da Praia. (...) A CACHOEIRA DA PRAIA compõe-se de três travessões médios, formando uma corredeira ininterrupta, de cerca de 1 metro de desnivelamento total (...). Em seguida, atravessamos estirões de 25 a 30 metros de largura, orlados de castanhais relativamente consideráveis.

Ao entardecer, enquanto estamos escolhendo um local para acampar, os homens conseguem caçar um casal de antas, reserva alimentar (...) [A carne dos animais seria defumada para durar vários dias] (...).

A bruma da manhã permite-nos apenas distinguir na margem as silhuetas gigantescas dos castanheiros. Nessa semi-obscuridade, seguimos pelo lado esquerdo do rio, transpondo primeiramente um travessão bem a pique, de cerca de meio metro de altura. Depois, quando a cerração por fim se dissipa (...) transpomos a CACHOEIRA DAS TRÊS BOCAS, assim denominada pelos homens porque o primeiro dos três travessões que a compõem apresenta ‘três bocas’ ou canais, seccionando o pedral da queda. (...) O desnivelamento total é de cerca de 1,5 m. A cachoeira é transposta pelo canal que fica junto à margem direita (...).

Além da cachoeira, o rio passa a apresentar uma profundidade modesta, de cerca de 50 centímetros. As raias não são raras no fundo arenoso, onde jazem imóveis (...) até que o movimento da água produzido pelas canoas as assuste, fazendo-as saltar subitamente, num só impulso automático, retilíneo e silencioso.

Raias e jacarés nas águas, ciganos nas moitas, castanheiros nas colinas das vertentes, travessões e cachoeiras: eis o Parauapebas.

Vocabulário:

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A montante: a parte onde nasce o rio. Seu contrário é a expressão a jusante = lado para onde se dirige a correnteza.

Cabeceiras do rio: parte superior do rio, próxima às nascentes.

Travessão: pedras que, no leito de um rio encachoeiram a corrente. Linha de pedras ou recifes que corta o leito do rio e cria canais navegáveis por canoas.

Rápido: trecho de rio com acentuado declive do leito, com forte correnteza.

Montaria: embarcações de fabricação manual.

Piranheira (Piranhea trifoliolata) árvore nativa da Amazônia. A madeira é própria para estacas e dormentes.

Sangradouro: canal.

Trecho do rio Itacaiúnas com ilhas, rápidos e corredeiras (http://bit.ly/2l565tS). Fragmento do mapa elaborado à mão por Henri Coudreau, à medida que a navegação em canoa prosseguia.

Alguns dados sobre a História da Cartografia. Texto adaptado. Fonte: Carvalho e Araújo (2008: 11, 13-14).A história da Cartografia no século XX está profundamente vinculada ao desenvolvimento científico e técnico das áreas do saber ligadas ao Estado, especialmente à geopolítica. As duas guerras mundiais e os seus desdobramentos geopolíticos, como a Guerra Fria e a corrida espacial, acabaram por incrementar as pesquisas destinadas ao mapeamento sistemático de todo o planeta, com o uso de tecnologias como a aerofotogrametria, as imagens de satélite e radar, o computador e todos os avanços a ele vinculados, como a Internet e os Sistemas de Informação Geográfica (SIG ou GIS). Desde o século XX, o Brasil e muitas nações emergentes têm conseguido uma boa aproximação científica e tecnológica com o mundo mais desenvolvido; na área da Cartografia, mais especificamente da Cartografia Sistemática, a disseminação dos conhecimentos se realiza, sobretudo, nos encontros científicos nacionais e internacionais promovidos pelas instituições de pesquisa e também pelas publicações dos estudos mais recentes.

No período pós-guerra, vários avanços foram obtidos. Em 1957, o lançamento do satélite Sputnik, pela União Soviética, iniciou a chamada Corrida Espacial. Outro fato marcante para a Cartografia mundial foi a estruturação do primeiro Sistema de Informação Geográfica, no Canadá, o que viria a mudar inteiramente o paradigma da Cartografia mundial, direcionando-a rumo à Cartografia Digital. A partir da década de 1970, ocorrem os mais importantes avanços na Cartografia mundial, apoiados, sobretudo, na introdução do que mais tarde chamaríamos de Geotecnologias. Em 1972, no Brasil, foi criado o Projeto Radam - Radar da Amazônia – com o uso de sensores radargramétricos aerotransportados. Nesse mesmo ano foi lançado, pela NASA, o primeiro satélite da série ERTS-A. Em 1973, foi lançada a estação orbital Skylab e os Estados Unidos realizam os primeiros estudos para a criação do sistema GPS - em inglês, Global Positioning System (Sistema de Posicionamento Global). Em 1986, foi lançado o primeiro satélite da série SPOT, o qual traria grandes avanços na área do Sensoriamento Remoto, nos anos seguintes.

Atualmente, a Cartografia caracteriza-se pela crescente utilização das geotecnologias no fazer cartográfico. O mapa analógico é substituído pelo mapa digital, que muitas vezes, é o produto final do Geoprocessamento que se faz com o uso de fotografias aéreas digitais, com imagens de satélite cada vez mais precisas e detalhadas. Com isso, o interesse pela área é cada vez maior. Além de os governos dos países continuarem investindo no conhecimento do espaço e na sua representação, é cada vez maior o número de empresas privadas que atuam num mercado em expansão, o da produção de mapas e outras formas cartográficas de expressão.

Na década de 1970, o Projeto Radam - Radar da Amazônia utilizou sensores de radar para priorizar a coleta de dados sobre recursos minerais, solos, vegetação, uso da terra, além de obter informações mais precisas para elaboração de nova cartografia do território nacional. Desse esforço gerou-se uma coleção de imagens e de relatórios que permitiram tanto a elaboração de coletânea de mapas temáticos, quanto de diretrizes para a transformação futura de 35.200.000 de hectares do território brasileiro em unidades de conservação de proteção integral, e de mais 71.500.000 hectares em unidades de conservação de uso sustentável.

No Brasil e no mundo, atualmente, a Cartografia se caracteriza pela crescente utilização das geotecnologias na produção de mapas digitais, que muitas vezes são produtos finais do Geoprocessamento elaborado com fotografias aéreas digitais e imagens de satélites.

Diferentemente dos mapas analógicos - que representavam a extensão do território – os mapas digitais baseados nas ‘imagens’ de satélites, armazenam em números digitais a refletância dos objetos, isto é, a energia que os alvos terrestres emitem. Esses fatos permitem obter informações cada vez mais precisas e detalhadas acerca, por exemplo, da quantidade de água no solo, da energia de uma plantação em fase de colheita, de indícios mineralógicos etc. Mas, por outro lado, esses incríveis avanços apresentam um importante aspecto negativo: a possibilidade de manipulação dessas informações de acordo com interesses específicos.

Sobre mapas digitais (Colaboração: geógrafa Patrícia Cassemiro).

Vocabulário. Refletância é a proporção entre o fluxo de radiação eletromagnética incidente numa superfície e o fluxo que refletido. Frequentemente é apresentada sob forma de percentagens (<https://pt.wikipedia.org/wiki/>).

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13. Nossas memórias, memória coletiva

Textos:O QUE É MEMÓRIA COLETIVA?

Memória é a capacidade de se lembrar, formando imagens que se tornam recordações de algo que já passou. A construção do patrimônio, da cultura, da identidade e da própria história está relacionada com a memória. Todos nós somos seres sociais, que nos relacionamos com outras pessoas na nossa família, na escola, no trabalho, no bairro, na igreja. É pelo convívio social que aprendemos a como se comportar ao longo da vida: aprendemos a falar, a comer, a se vestir, a trabalhar. Assim, não podemos separar a nossa história individual da história da sociedade em que nascemos e vivemos. (Fonte: trecho do cap. 4 deste livro).

Trechos de depoimento: Sr. Antônio Japão Gomes da Silva, um dos moradores pioneiros de Canaã dos Carajás

Fonte: Lima, 2003, p. 29-30).O Sr. Antônio nasceu no estado do Maranhão e lá viveu até os 32 anos. Chegou a Rio Maria (PA), em 1975. Trabalhou primeiro numa fazenda; depois, atuou vários anos como gerente de armazém em Água Fria, região de Sapucaia; posteriormente, tornou-se proprietário do estabelecimento, e, ainda, atuou no transporte de garimpeiros. Seu depoimento refere-se ao período entre as décadas de 1970 e 1980.

Quando foi um dia, meu irmão me falou que o GETAT estava vindo para cá colonizar (...). Quando foi na semana seguinte, voltando à casa dele, já tinha esta estradona descendo por cima da serra (...) Muitas máquinas... Já existia o Cedere I funcionando. Aí, iam fazer o Cedere II e o III. (...) Na semana seguinte já estava tudo limpo, marcado, etiquetado, e cada colono que eles tinham trazido para assentar já era dono de um lote. As pessoas particulares não tinham oportunidade de nada, até para entrar aqui [área da futura Canaã] (...) de vez em quando, a gente ouvia falar no Sossego, mas não como garimpo, ainda não existia nada. Começou ali onde é a Tercam, um garimpinho que foi descendo, atravessou o rio, aí foi quando se descobriu e deram o nome de Sossego (...). Bem, passados uns quinze dias, o meu irmão sugeriu que eu pedisse um lote para colocar meu armazém. [Obtive] um lote bem em frente ao refeitório do GETAT (...).

No outro dia, carreguei um caminhão com mogno e mandei para Sapucaia. Pedi ao Valdemar Furtado para serrar (...). No outro dia, à tarde, chegou um caminhão de tábuas. Fiz logo uma banda da casa provisória, para eu poder instalar o comércio. A casa media 7 m x 3 m. Com seis dias já estava com piso e mercadoria dentro. Depois aumentei, terminei o corpo da casa. Tem foto dessa casa em quase todo o mundo: Japão, Alemanha, Estados Unidos. Todo mundo vem aqui me entrevistar e tirar foto. Eu cheguei aqui em 13 de junho de 1984.

Então, comecei numa situação muito dura, era um assentamento muito grande, muita gente carente. Eu, minha esposa e nossa filha de criação, vivíamos mais fazendo comida para aquelas pessoas (...) que choravam de fome (...) e vendíamos para eles a crédito. Dinheiro eles só tinham no dia em que recebiam o salário (...). Eles recebiam seis salários do Governo Federal (...). Mas esses seis salários eles só receberam durante dois meses (...) aí mudou também a diretoria do GETAT. (...)

Fui muito bem de vida, mas quebrei várias vezes aqui (...), mas sempre ajudando, para que o Cedere II tivesse oportunidade de crescer, pois tem uma terra muito fértil. Isto aqui já foi campeão em produção de grãos: feijão, arroz, milho. Hoje não tem mais nada disso.

(...) em 1986, começou o garimpo de Serra Dourada (...) junto ao Sossego e ao Sequeirinho (...) montei um armazém grande lá. Tinha dia em que eu britava de três a quatro quilos de ouro (...) que não era meu. Eu tinha as máquinas e ganhava porcentagem. Tinha dia que ganhava meio quilo de ouro. Mas foi indo, foi indo, baixou (...).

Poema: Das coisas memoráveis.Poema do artista plástico, poeta e professor Antônio Brasileiro (<http://www.algumapoesia.com.br/poesia3/poesianet293.htm>).

Um dia o mundo inteiro será memória.

Tudo será memória.

As pessoas que vemos transitar naquela rua, as gentis ou as sábias, ou as más, todas, todas.

E o mendigo que passa sem o cão, o ginasta, a mãe, o lobo, o ético, a turista,

Deus, inclusive, regendo o fim das coisas memoráveis, também será memória.

Deus e os pardais.

E os grandes esqueletos do Museu Britânico.

Todo sofrimento serão memória.

Eu, sentado aqui, serei só estes versos que dizem haver um eu sentado aqui. Consulte <https://www.youtube.com/watch?v=eIAqPpTVpYE> (acesso em 7 de abril de 2017) e assista à declamação do poema por Antônio Abujamra - Programa Provocações (TV -Cultura/Fundação Padre Anchieta)/Um dia....

Conversas com educadores de Parauapebas e de Canaã dos Carajás

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O monumento “As Castanheiras Mortas de Eldorado de Carajás”.Fonte: Cambraia (2012).

Em 17 de abril de 1996, no contexto da ocupação da região de Carajás por migrantes atraídos tanto pelos grandes projetos de desenvolvimento quanto pelas atividades tradicionais de garimpo e coleta de frutos, cerca de 1.500 sem-terra caminhavam pela Rodovia PA-150 num protesto contra a demora na desapropriação de terras para a Reforma Agrária; dirigiam-se à cidade de Belém, num percurso de mais de 600 quilômetros. Depois de 40 quilômetros de marcha, avaliaram a impossibilidade de a maioria completar o trajeto a pé, sobretudo as crianças e os idosos; os agricultores interromperam a caminhada e solicitaram ao governo do Estado ônibus ou caminhões para transportá-los. A via ficou bloqueada.

O então governador, Almir Gabriel, e o secretário de segurança, Paulo Sette Câmara, autorizaram a Polícia Militar a desobstruir a estrada, mesmo com uso da força e de armas. Deu-se confronto entre policiais e agricultores, repleto de irregularidades: policiais, com tarjas de identificação removidas, utilizaram bombas de gás e armas com munição letal, além de retirarem os corpos dos mortos do local, assim dificultando a perícia. No entanto, as autópsias e perícias médicas comprovaram as mortes de 19 pessoas, das quais dez lideranças, por execução sumária; o espancamento e/ou a mutilação de outros 69 manifestantes. Esses fatos tiveram grande repercussão negativa pela imprensa nacional e internacional. Mas, no Brasil, seguiu-se grande silêncio a respeito.

Para relembrar o episódio e também levantar questionamentos e responsabilidades, em 1999, algumas lideranças do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) propuseram ao artista plástico, escritor e ator britânico Dan Baron Cohen* a realização de um monumento. Cohen, definiu parceria com os colonos do Assentamento 17 de Abril, em Eldorado dos Carajás, entre os quais figuravam cerca de 800 sobreviventes do massacre de 1996, alguns com suas cicatrizes, outros com balas ainda alojadas nos corpos. Juntos, definiram como seria o monumento e passaram à sua construção. A castanheira, árvore típica da região e dizimada durante o estabelecimento dos grandes projetos agropecuários e minerários, foi escolhida para simbolizar também a luta dos pequenos colonos sem acesso à propriedade da terra.*Dan Baron Cohen, graduado em Literatura Inglesa e pós-graduado em Teatro pela Universidade de Oxford (Inglaterra) vivia então no Brasil, colaborando com as comunidades indígena, sindical, universitária e sem-terra na formação de educadores comunitários e arte-educadores. Em seus projetos busca sempre (...) “liberar o conhecimento de todos seus obstáculos, do medo, da falta de autoestima e do preconceito.” (CAMBRAIA, 2012).

Memorial “As Castanheiras Mortas de Eldorado dos Carajás”, à margem da Rodovia PA-150: à esquerda, em foto da professora Maria Silvia Cambraia (uso autorizado pela autora) e, à direita, reprodução em desenho assinado pela arquiteta Greyce Oliveira (Acervo Scientia).

O monumento se compõe de 19 troncos de castanheiras mortas, representando os trabalhadores mortos em 17 de abril de 1996; foram dispostos como num contorno do mapa do Brasil. No centro, um pedaço de tronco lembra um altar; numa placa, os nomes dos falecidos; 69 pedras pintadas de vermelho lembram os feridos.

Os ecos desse ato ressoaram principalmente no exterior – tanto que o dia 17 de abril passou a Dia Internacional de Lutas Camponesas.

Trechos de: Mineração e Campesinato em Canaã dos Carajás.Fonte: Cruz (2015, p. 16; 29-30).

De modo geral, [o Sudeste do Pará] experimentou diversas frentes de expansão (...) que datam do início do século 20 e se deram em períodos diferentes, ou concomitantes, na exploração de diamante, borracha, castanha, gado e minérios. Porém, a movimentação na região se intensifica a partir da década de 80, com a implantação do Programa Grande Carajás, hidrelétrica de Tucuruí e descoberta do garimpo de Serra Pelada (...). A região (...) é conhecida internacionalmente pela violência contra os movimentos populares e trabalhadores rurais que disputam a posse da terra e a permanência nela. (...)

Segundo dados da Comissão Pastoral da Terra – CPT, entre 1964 e 2010 [das 914 mortes de pessoas por questões relacionadas à terra no estado do Pará, 654 foram no sul e sudeste do estado, correspondendo a 71,55% do total]. (...) Apesar da repressão, exercida por fazendeiros com apoio do Estado, a região conta com o maior número de Projetos de Assentamentos de Reforma Agrária, que somam um pouco mais de 500.

(...) após o episódio conhecido como Massacre de Eldorado de Carajás, (...) iniciou-se um processo de pressão nacional e internacional sobre o Estado Brasileiro que reagiu, reconhecendo inúmeras áreas ocupadas por trabalhadores rurais e transformando-as em projetos de assentamento. Canaã dos Carajás se insere nesse universo de conflitos gerados pela disputa do solo e subsolo. O município tem vivenciado transformações profundas tanto no campo, como na cidade (...). E os maiores investimentos da Mineradora (Vale), na região, têm sido direcionados para implantação do Projeto Ferro Carajás S11D.

No quadro a seguir, (... os projetos de mineração e) o número de projetos de assentamentos por município, em dados de 2015.

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Quadro: Principais projetos de Mineração no sul e sudeste paraense.Fonte: Cruz (2015, p. 16; 29-30).

Município Projeto/Minério explorado Empresa/Fase do projeto Nº de projetos de assentamento

MarabáBuritirama/ Manganês Mineração Buritirama/operação

78Projeto Salobo/ Cobre Vale/operação

Curionópolis

Projeto Cristalino/ Cobre Vale/paralisado

3Serra Pelada/Ouro Colossus/paralisado

Projeto Serra Leste/ Ferro Vale/operação

ParauapebasProjeto Manganês do Azul/ Ferro Vale/operação

7Projeto Ferro/ Ferro Vale/operação

Canaã dos Carajás

Projeto Sossego/ Vale/operação

3Projeto 118/ Cobre Vale/paralisado

Projeto Níquel do Vermelho/Níquel Vale/paralisado

Projeto Ferro S11D/ Ferro Vale/implantação

Ourilândia do NorteProjeto Onça/ Níquel Vale/operação

4Projeto Puma/ Níquel Vale/implantação

Floresta do Araguaia Projeto Ferro / Ferro SIDEPAR/operação 8

Imagens

Carimbó em Eldorado dos Carajás, pelo Grupo Caminhos da Paz. Foto: Acervo Scientia.

Corda durante o Círio de Nossa Senhora de Nazaré (http://bit.ly/2kipdVu)

Vista geral de Parauapebas.

Foto: Rafael Araújo, cedida pela Vale.

Vista geral de Canaã dos Carajás. Foto: Rafael Araújo

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14. Oficina: Escavação arqueológica simulada

Ficha de registro/ frente

Ficha de registro – Unidade de escavação arqueológica

Projeto:

Integrantes da Equipe:

Nome do sítio: Município/Localidade:

Data: Horário: início da escavação: Final da escavação:

Vegetação:

Condições climáticas: ( ) tempo aberto ( ) tempo nublado ( ) chuva

Condições da superfície do solo: existem interferências? ( ) buracos ( ) sinais de corte de vegetação ( ) restos de construção

1) Quais vestígios foram encontrados?

Quadra A Quadra B

2) Como estavam dispostos esses vestígios? Faça desenhos no verso da ficha.

3) Quais informações iniciais esses objetos podem nos contar, a respeito dos antigos moradores do “sítio arqueológico”?

Ficha de registro/ verso (desenhos)Quadra A

Quadra B

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Alguns dos tipos de materiais encontrados em sítios arqueológicos

Estrutura de tijolos Louça industrializada

Objetos em metal: ferraduras, talheres (fotos); moedas, botões etc.

Objetos em vidro: garrafas de bebidas (foto); frascos de

medicamentos etc.

Urna funerária em cerâmica com restos ósseos humanos. Ponta de projétil de pedra.

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