Arigo Sobre a Cocanha

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PAIS DA COCANHA: UMA TERRA DA LIBERDADE E DA ABUNDÂNCIA Raynara Macau¹ Matheus Coelho¹ Adriana Zierer² RESUMO Esse arigo busca criado para compreender a criação do mito da cocanha, o momento histórico que ele foi criado para a sua influência, as suas continuidades, buscando analisar dois pontos do poema, um dos pontos é o país da cocanha como uma país da liberdade, o porquê da terra ser considerado um país da liberdade, o outro ponto que buscamos analisar foi: o pais da cocanha como uma terra da abundância, sabemos que a fome era algo terrível e temível e temido pelas sociedades pré-industriais. Palavras Chave: Liberdade, Abundância, Prazer. INTRODUÇÃO O poema Fabliau de Cocagne é um poema que se refere a um paìs imaginário, é um curto poema de 188 versos, que subsistiu 3 manuscritos o mais completo (ms A), é do ultimo terço do século XIII e o mais curto (ms C) do inicio do século XIV. Existe também o manuscrito intermediário (ms B), cujo é da mesma época doque o primeiro, cujo o nome é Fabliau de Cocagne. Jaques Le Goff destaca que a etnologia da palavra cocanha é até hoje desconhecida, os filólogos tentaram atribuir uma origem baixo-latina para associa-la a cozinha, ¹ Alunos do curso de História da UEMA, segundo período ² Professora Pós-Doutora da Universidade Estadual do Maranhão

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PAIS DA COCANHA: UMA TERRA DA LIBERDADE E DA ABUNDÂNCIA

Raynara Macau¹

Matheus Coelho¹

Adriana Zierer²

RESUMO

Esse arigo busca criado para compreender a criação do mito da cocanha, o

momento histórico que ele foi criado para a sua influência, as suas continuidades,

buscando analisar dois pontos do poema, um dos pontos é o país da cocanha como uma

país da liberdade, o porquê da terra ser considerado um país da liberdade, o outro ponto

que buscamos analisar foi: o pais da cocanha como uma terra da abundância, sabemos

que a fome era algo terrível e temível e temido pelas sociedades pré-industriais.

Palavras Chave: Liberdade, Abundância, Prazer.

INTRODUÇÃO

O poema Fabliau de Cocagne é um poema que se refere a um paìs imaginário, é

um curto poema de 188 versos, que subsistiu 3 manuscritos o mais completo (ms A), é

do ultimo terço do século XIII e o mais curto (ms C) do inicio do século XIV. Existe

também o manuscrito intermediário (ms B), cujo é da mesma época doque o primeiro,

cujo o nome é Fabliau de Cocagne.

Jaques Le Goff destaca que a etnologia da palavra cocanha é até hoje

desconhecida, os filólogos tentaram atribuir uma origem baixo-latina para associa-la a

cozinha, mas essas tentativas foram em vão, o termo surgiu em francês Cocagne.

O século XIII, período em que o poema é escrito, é um período que é cheio de

regulamentação, de ordenação, é o século que surge a proposta do Estado Moderno, e

por isso ouve práticas religiosas pra que enquadrassem essa nova sociedade, que era

encorajada a trabalhar. O poema da cocanha é um protesto a tudo isso

O poeta conta a história de um jovem que foi para um país maravilhoso devido a

uma penitência, sabemos que a penitências eram comuns, que foi imposta pela igreja

Catolica no século XII, como forma de punição dos pecados, com isso o autor satiriza a

peregrinação.

¹ Alunos do curso de História da UEMA, segundo período² Professora Pós-Doutora da Universidade Estadual do Maranhão

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Nessa terra maravilhosa quem mais dorme mais ganha, o trabalho árduo era

banido dessa terra, visto que o trabalho não era bem visto na Idade Média, lá o sono era

fonte de benefícios. Havia ali também abundancia de alimento, lá a fome não existia

pois na Idade Média a fome era vista como uma ameaça a sobrevivência. A existência

de um riacho que corre o melhor vinho que se pode achar não deixa os cocanianos

preocupados com o consumo imediato do vinho para que ele não viesse a ser estragado.

O País da Cocanha era o país da liberdade sexual, lá os cocanianos poderiam

fazer amor no meio das ruas, até as mulheres poderiam “pegar” qualquer homem que

desejassem, na cocanha havia igualdade entre os sexos, era o sonho de uma sexualidade

livre. Lá não havia casamentos, pois os cocanianos se preocupavam com o prazer e não

com a procriação.

É provável que o autor do poeta seja um jovem, pois ele mesmo se identifica

como jovem “não tenho muita idade” (F.C vv 9). A aristocracia feudal, os “jovens” não

eram correspondidos a faixa etária alguma, mas essa palavra, designava determinados

elementos de estado aristocrático, independentemente da idade (FRANCO JUNIOR,

Hilário, 1998, p. 113).

Os “jovens” eram integrantes de um grupo que amava o luxo e os costumes e os

costumes livres, assim como os cocanianos, além disso, esse grupo adorava uma

novidade da moda como raspar a barba (FRANCO JUNIOR, Hilário, 1998, p.113), com

isso o autor usa uma forma debochada para se referir aos barbados “Se os barbados

fossem sábios/ Bodes e cabras também o seriam (F.C vv. 13-14).

,

A Cocanha, retratada pelo pintor Pieter Brueghel- 1567

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A cocanha retratada pelo pintor Pieter Brughel, vemos que ele prioriza a

representação em sua tela da abundância, vemos comidas espalhadas por todas as partes,

os tetos das casas são construídos por comida, assim como o poema descreve, vemos

também que o autor prioriza o sono, pois o sono naquela terra era fonte de benefícios.

COCANHA: UM PAÍS DA LIBERDADE

Roberto Lopez ressalta que na Idade Média não se conhecia o direito de

liberdade absoluta, tal como entendida na antiguidade e na atualidade (FRANCO

JUNIOR, Hilário, 1998, p. 139), mas que o sentido da palavra liberdade para os

medievos era de privilégios, e não direito naturais.

O país utópico da cocanha existe uma liberdade religiosa e mesmo quando se o

poeta se refere a termos religiosos, é para torna-los risíveis (FRANCO JUNIOR,

Hilário, 1998, p 140). Além disso, vemos no poema o autor faz questão de referir a terra

da cocanha como uma “terra abençoada”.

Cada um satisfaz o seu prazer/ Como quer e por lazer (F.C vv 112, 113)

Na Idade Média a Igreja, pelo menos no século XIII, acabou que muitas atividades

que eram de interesses pessoais se tornaram a ser estas como de interesse comunitário, e

uma dessas atividade que talvez seja a que foi mais atingida foi o sexo.

A igreja só permitia o sexo debaixo da benção do casamento, mas mesmo que o

casal estivesse legalmente casado, não lhes davam o direito de exercer o sexo de forma

totalmente liberada, pois existiam determinados dias da semana (em especial o

domingo) e certos períodos do ano (festas religiosas, sobretudo a Quaresmas) estava

interditado o sexo (FRANCO JUNIOR, Hilário, 1998, p.130). Além dos dias em que as

mulheres estavam no seu período menstrual, amamentando e no período de gravidez.

Devido a isso, era comum o estrupo e a prostituição, segundo Hilário Franco Jr, a

prostituição era vista pela cultura oficial como um mal necessário, uma válvula de

escape para a energia sexual dos jovens. Para os medievos a prostituição evitava que

homens molestassem moças honestas.

O poema F.C por mais que seja um poema que exprima a liberdade, não existe

prostitutas nessa terra que é abençoada por Deus, ou seja, a existência das prostitutas na

Idade Média ou melhor a tolerância delas era pelo fato de não haver uma liberdade

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sexual, e se não existe prostitutas na cocanha é porque a liberdade sexual elimina a

função delas. (FRANCO JUNIOR, Hilário 1998, p.144)

A questão do sexo era visto como algo extremamente íntimo, e a existência de um

lugar onde ele era bem assimilado, e que seria possível faze-lo diante de todos, seria o

sonho de muitos habitantes da época.

Também no poema não existe a menção do casamento, ou seja, os cocanianos

estavam preocupados com o prazer e para se saciarem os seus desejos não precisariam

da benção do casamento.

Para os medievos como destaca José Rivair Macedo, o casamento não deveria ser

um estimulo da luxuria, mas pelo desejo de procriação (MACEDO, José Rivair, 2002,

p. 23). Os cocanianos não estavam preocupados com a procriação mas, com a saciedade

dos seus prazeres e por isso o poeta não se refere ao casamento, para ele, o casamento

não seria necessário.

As mulheres dali, tão belas/ Maduras e jovens,/ cada um pega a que lhe convem/

sem descontentar ninguém. (F.C vv 109 a 112)

As mulheres não eram censuradas pelo fato de desejarem um homem e pega-lo no

meio da rua, elas não seriam por isso censuradas (F.C vv111). Franco Jr explica que o

fato das mulheres serem tomadas no meio da rua é pela ausência de proteção de laços

paternos, fraternos ou conjugais. Assim como um homem poderia pegar a mulher que

desejasse a mulher no país maravilhoso também poderia pegar o homem que quisesse,

na cocanha existia igualdade entre homens e mulheres, visto que na Idade Média as

mulheres não podiam expressar o seu desejo sexual (MACEDO, 2002, Jose Rivair p 27)

Quem mais dorme até ao médio-dia/ Ganha cinto soldos e meio (F.c vv. 29-30)

A Cocanha é um país onde as pessoas não dependem do trabalho humano, a

ociosidade é ali a única atividade remunerada. (FRANCO FRANCO, Hilário, 1998, p.

82). o trabalho era algo que não era bem visto pelos medievos, pois a visão que se tinha

do trabalho, é que era uma forma de penitência para a absolvição do pecado original,

pois antes, pensava-se que, antes do pecado, o ser humano estivera encarregado de

cuidar e vigiar o Éden (FRANCO JUNIOR, Hilário, 1998, p. 84). Só depois com a

punição pela desobediência o homem passou a trabalhar para obter seu sustento.

(Gênesis 3; 17).

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No país da Cocanha os habitantes não trabalham e gozam das melhores culinárias,

roupas e calçados. Para a Idade Média o trabalho era visto como um sofrimento, por

isso em um país maravilhoso não poderia existir um trabalho, lá não é o trabalho que

gera riqueza, é a ociosidade festiva que produz abundância. (FRANCO JUNIOR,

Hilário 1998, p. 87), no país não existia festas, pois, ele era a própria festa.

O PAÍS DA ABUNDÂNCIA

O poema não só retrata de uma liberdade, mas também de uma terra que é cheia

de abundância que é “abençoada por Deus”.

Pelas ruas vão se assando/ Gordos gansos que giram/ Sozinhos, regados/ Com

branco molho de alho. (F.C vv 39 à 42)

A abundância nessa terra era grande, não vemos nenhuma menção do autor do

poema em relação a legumes e verduras, talvez seja pelo fato de os legumes e verduras

serem considerados produtos poucos nobres e de difícil digestão, ficavam reservados

para dias de jejum (FRANCO JUNIOR, Hilário, 2002, p 130). Sabemos que o autor do

poema propõe uma liberdade dos dogmas da Igreja Católica, e por isso busca excluir do

pais maravilhoso tudo que lembrava os dogmas da Igreja.

O que se torna interessante é que o autor cita pratos que eram característicos da

cozinha da aristocracia, sobre a alimentação da aristocracia Hilária Franco Jr nos diz:

A base da alimentação aristocrática era, portanto, carnívora. Carne de animais domésticos, vaca, vitela, carneiro e sobretudo porco. Carne de caça, especialmente cervo, javali e lebre. Carne de aves, galinha, pato, ganso, cisne, pombo. Carne de peixe de água doce onde possível, pescados. em rios e lagos ou criados em tanques (carpa, sável, esturjão). Carne de peixe de mar, consumido fresco nas regiões litorâneas (salmão, linguado, pescado) ou seco nas regiões continentais (arenque, bacalhau). Todos esses tipos eram geralmente assados, modo de preparação considerado nobre, ao contrário do cozido, reputado hábito popular por aproveitar o suco da própria carne. Na cozinha aristocrática, os pratos de carne e peixe eram recheados ou cobertos por diferentes molhos, confeccionados com temperos europeus (cebola, alho, salsa, hortelã, manjerona, alecrim etc.) e/ou especiarias orientais (pimenta-do-reino, cravo, canela, noz-moscada etc).(FRANCO JUNIOR, Hilário, 2002, 130-131).

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Vemos que a alimentação que é descrita pelo autor do poema é uma alimentação

nos moldes da aristocracia, desde os elementos até a forma de preparo. “pelas ruas vão

se assando/ Gordos gansos que giram” (F.C vv 39-40)

No país existia também um riacho que banhava essas terras “Esse riacho do qual

falo/ É metade de vinho tinto” (F.C vv 65-66). Na Idade Média as técnicas de

estocagem do vinho eram precárias, por isso o vinho tinha que ser consumido no mesmo

ano de estocagem, os medievos eram impossibilitados de adiarem o consumo, caso

contrário perderiam o vinho. os cocanianos não tinham essa preocupação, pois havia um

riacho que havia um riacho que corria constantemente do “melhor vinho que se poderia

achar”.

Sabemos que a fome era vista pelas sociedades pré-industriais como uma das

maiores ameaças da sobrevivência. Qualquer motivo que possibilitasse uma má colheita

era motivo de desespero para os medievos, isso devido a decadência de importações de

gêneros alimentícios isso fazia com que cada região produzisse tudo o que era

necessário, bastava uma má colheita que a mortalidade aumentava naquele lugar

(FRANCO FRANCO, Hilário, 2002, p. 19)

A fome pelo fato de ser algo ruim é excluída do país maravilhoso, onde existia

apenas coisas, boas e o melhor de tudo sem a proibição, na cocanha a comida está ao

alcance de todos, qualquer pessoa pode pegar gratuitamente o que quiser de comida e

bebida.

CONCLUSÃO

O país da cocanha é o país do sonho de qualquer época, pois nele não há

diferença entre sexos, fome ou pobreza. Talvez seja dai o sucesso do poema, pois toda

sociedade sonha em um país com as características da Cocanha.

O poema francês do século XIII influenciou outros poemas de várias épocas e

um desses poemas podemos destacar o poema Viagem a São Saruê, poesia popular de

Manuel Camilo dos Santos de 1947, cujo também é um país maravilhoso, sem mal e

repleto de prazeres como a cocanha.

A Cocanha é um país onde a ociosidade impera e quem mais dorme mais ganha,

onde não há trabalho, onde o pais é uma festa, onde se pode gozar de uma plena

liberdade.

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O País tinha um lema: aqui ninguém ousa proibir, o pais tinha a ausência de uma

instituição religiosa, mas isso não significa que o autor quis se afastar totalmente de

Deus, mas o autor propõe uma sociedade livres dos dogmas da Igreja.

A cocanha é um mito, a expressão de um sonho de uma utopia da sociedade

daquela época um país repleto de maravilhas, uma verdadeira criação Medieval, a

cocanha com certeza faz parte do que o historiador Jaques Le Goff diz, a Idade Média

boa.

REFERÊNCIAS

FRANCO JUNIOR, Hilário. Cocanha: a história de um país imaginário. São Paulo:

Companhia das Letras, 1998.

FRANCO JUNIOR, Hilário. A Idade Média, nascimento do ocidente. São Paulo:

Brasiliense, 2006.

MACEDO, José Rivair. A Mulher na Idade Média. São Paulo, Contexto, 1999.

CONSTANÇA, Júlia. PAÍS DE SÃO SARUÊ: a cocanha nordestina. In ZIERER,

Adriana, BOMFIM, Ana Livia, FEITOSA, Márcia Manir M. História Antiga e

Medieval: Simbologias, Influências e Continuidade: Cultura e Poder. São Luís. ed

Uema, 2011.

LE GOFF, Jaques. Heróis e Maravilhas da Idade Média. ed. Vozes. 2009.